Nos dias que correm, ninguém poderia dizer que nós os cristãos estamos
espiritualmente famintos. Graças ao cuidado e fidelidade dos servos de Deus, somos
generosamente alimentados, instruídos, encorajados, animados, estimulados, apoiados e rodeados de cuidados. Circunda-nos um mundo religioso de sermões, discussões, artigos de revistas, hinos, mensagens, livros, reuniões e conferências, visando a nossa participação e crescimento. E, contudo, sabemos muito bem, se quisermos ser honestos, que todas estas coisas têm um efeito muito diminuto nas nossas vidas. Qual a razão disso? Se meditarmos um pouco sobre o assunto, verificaremos que muitos de nós estamos a viver em "dois mundos". Dividimos as nossas convicções, atividades e alvos em duas categorias. Em primeiro lugar, as nossas experiências religiosas: o que cremos, aquilo que cantamos, os assuntos pelos quais oramos, e o que defendemos com argumentos. A segunda categoria contém o nosso mundo de valores e ações seculares: o nosso uso do tempo livre; as ações que realizamos para impressionar as pessoas; a nossa atitude para com colegas que são melhores ou piores do que nós no trabalho; e como conseguimos e usamos o nosso dinheiro. Mantemos estes dois mundos rigorosamente separados e, embora possamos sentir vagamente que algo está errado, não suspeitamos de que sofremos duma grande desordem — uma espécie de esquizofrenia espiritual. Na igreja, e ocasionalmente entre amigos cristãos, falamos sobre dedicação, entrega, rendição, avivamento, uma vida em fogo para Deus e outras expressões de lealdade e amor a Deus. Mas tanto estas palavras como os atos que lhes correspondem têm pouco relevo fora das paredes da igreja. Esta dicotomia evangélica tem tido resultados mais sérios do que supomos. Têm produzido homens com quem é difícil lidar, mulheres que se classificam a si mesmas pelo mobiliário das suas casas e pelo estilo dos seus vestidos, e famílias inteiras que acompanham com faces risonhas as suas roupas domingueiras, durante algumas horas que passam na igreja. O falecido A.W. Tozer comentou esta situação no seu livro De Deus e o Homem, (Edit. Mundo Cristão): "As correntes evangélicas, bíblicas, como as conhecemos, produzem de fato alguns cristãos de verdade. Mas o clima espiritual em que muitos cristãos modernos nascem não favorece crescimento espiritual vigoroso. Na verdade, todo o mundo evangélico é, em grande extensão, desfavorável ao cristianismo sadio. E não estou pensando no modernismo, de modo nenhum. Tenho em vista antes a multidão de crentes na Bíblia, e crentes que usam o nome da ortodoxia. O fato é que não estamos produzindo santos hoje. Estamos conseguindo conversos a um tipo de cristianismo impotente, que tem pouca semelhança com o do Novo Testamento. O cristão bíblico, assim chamado, em seu tipo comum em nossos tempos, não passa de uma infeliz paródia da verdadeira santidade. “Contudo, colocamos milhões de dólares atrás de movimentos para perpetuar esta degenerada forma de religião, e atacamos o homem que se atreve a desafiar a sabedoria dela.” Por onde quer que passe, encontro jovens cônscios desta separação entre os valores cristãos e os valores seculares. Muitos se têm tornado ateístas ou agnósticos por causa disso, enquanto outros têm resvalado para os abismos da indiferença. Muitos cristãos — inclusive líderes — têm admitido na minha presença que as suas crenças não controlam o seu viver diário. Todavia, muitos têm fome de autenticidade e genuinidade na vida cristã. Encontrei num seminário evangélico um estudante que era o primeiro da sua turma, no que toca ao aspecto acadêmico, presidente do grupo missionário da escola e capelão do corpo discente. Ao falar comigo, ele admitiu que tivesse pouco conhecimento experimental de Deus, mas ansiava por uma experiência cristã que o satisfizesse. Poderá esta dicotomia acabar e esta esquizofrenia ser curada? Poderá Cristo realmente revolucionar a sua vida de modo a torná-la consistente e produtiva? A resposta é sim. Não ofereço uma fórmula para conseguir esse resultado, mas posso oferecer o Cristo autêntico. Tenho-O visto revolucionando as vidas de pessoas em todo o mundo. Esses cristãos haviam vivido em esterilidade espiritual, mas então enfrentaram honestamente a Cristo e confessaram o pecado arraigado que se mantinha ligado à velha vida. Jesus transformou-os e pode transformá-lo. Não se trata duma vida de perfeição, mas duma vida de autenticidade. Não significa uma vida fácil, mas uma vida de alegria. Se você está cansado duma vida dividida, peça a Jesus que o torne uma pessoa inteira. Senhor Jesus Cristo foi um revolucionário! Considere, por exemplo, alguns dos Seus mais básicos ensinos: "Amai os vossos inimigos"; "Fazei o bem aos que voz odeiam;" "Abençoai aos que vos perseguem"; "Quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos"; "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra"; "Todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo". Você supõe que todas estas idéias se harmonizavam com os padrões culturais do tempo de Cristo? Claro que não! As pessoas do Seu tempo estavam tão escravizadas pelo aspecto material da vida, como as do século vinte. Mas o Senhor Jesus rompeu com qualquer padrão cultural que interferia com a vida de amor sacrificial que Ele veio dar! Na história do cristianismo tem havido poucos, comparativamente, que tenham vivido de acordo com os ensinos literais de Cristo. Claro que os primitivos apóstolos fizeram-no. E para eles, os resultados foram sofrimento, perseguição, prisão, exílio e morte! Parecerá isto estranho? Não! Estes são os resultados normais de qualquer vida baseada nos princípios apresentados por Cristo. Por que é que será isso? A resposta é simples: o indivíduo que quiser viver este tipo de vida é necessariamente um revolucionário, um não-conformista cultural, um "fanático", se você preferir! A adesão literal aos princípios estabelecidos por Jesus Cristo resultaria, sem dúvida, uma revolução a nível mundial — uma revolução motivada pelo amor, uma revolução executada pelo amor, e uma revolução culminando em amor! E nós somos revolucionários! Somos apenas um pequeno grupo de jovens cristãos na Operação Mobilização, todavia decidimos, pela graça de Deus, viver as nossas vidas de acordo com os ensinos revolucionários do nosso Mestre. Dentro da esfera duma obediência absoluta e literal aos Seus mandamentos jaz o poder que evangelizará o mundo. Fora dessa esfera, encontra-se o cristianismo nauseabundo e insípido dos nossos dias. Temo-nos entregado a nós próprios em abandono total às reivindicações de Cristo sobre as nossas vidas compradas pelo Seu sangue. Não possuímos direitos! Qualquer desejo pessoal, por mais insignificante, deve ser subordinado à suprema tarefa de alcançar o mundo para Cristo. Somos devedores. Não devemos permitir a nós mesmos o sermos arrastados pela maldição, que acorrenta as almas, do pensamento e da vida materialista dos tempos modernos. Os cristãos há muito tempo que estão "dispostos" a abandonar tudo — chegou a hora (e está passando) em que temos de abandonar tudo! Cristo deve possuir o controle absoluto sobre o nosso tempo e dinheiro. Temos de entregar bens, conforto, alimento e sono; temos de viver com o estritamente indispensável, a fim de que a Sua causa possa ser alargada. A propagação da fé é o nosso alvo supremo! Cristo é digno de tudo quanto é nosso! Temos de estar prontos a sofrer por Ele, considerando isso gozo; a morrer por Ele, considerando isso ganho. A luz da presente batalha espiritual, algo inferior à dedicação absoluta tem de ser considerada insubordinação ao nosso Mestre e escárnio da Sua causa! É este o nosso compromisso, e prosseguiremos até que cada pessoa tenha ouvido o Evangelho. Em breve estaremos em muitos e diferentes países, envolvidos em combate com todas as forças das trevas. Olhamos além dos milhares, para os milhões; além das cidades, para os países. O mundo é o nosso objetivo! O nosso primeiro alvo são as áreas aparen- temente impenetráveis dos países comunistas e muçulmanos, que só podem receber a liberdade na medida em que tiverem oportunidade de receber a. Verdade. Estes países serão alcançados para Cristo, custe o que custar. A vitória final é nossa! Temos que dizer-lhe, companheiro cristão, que ressuscitamos com Cristo; buscando as coisas que são de cima, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Já colocamos os nossos afetos nas coisas de cima, não nas coisas da terra, pois estamos mortos, e a nossa vida está escondida com Cristo em Deus. Que esperança bendita! Que verdade impulsionadora para nos levar a um total abandono do eu e à rendição a Cristo! Sem isso, há vitória é certa para o inimigo, e derrota para o nosso Senhor Jesus Cristo que Se deu a Si mesmo por nós, a fim de que Ele pudesse ser tudo para nós! (Este manifesto para a evangelização do mundo, com leves alterações aqui, foi feito por vinte e cinco estudantes, em 1961, data do início da Operação Mobilização, que o autor agora coordena.)