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De Olho na Pesquisa

É proibido proibir…

Fabio Beltrão (fabio@gsmd.com.br), sócio-diretor da GS&MD –


Gouvêa de Souza

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)


colocou em pauta uma consulta pública para a revisão de uma de
suas normas que trata da regulamentação “das embalagens, dos
materiais de propaganda e dos pontos de venda dos produtos
fumígenos derivados do tabaco”. Uma consulta pública que
pretende a proibição de “abordagem promocional com intuito de
divulgar, promover, propagar, disseminar, persuadir, vender ou
incentivar o consumo de produtos fumígenos derivados do tabaco,
ou ainda, realizar pesquisa de mercado junto à população”.

A essa última frase, quase perdida em meio ao emaranhado de


verbos restritivos, é que gostaria de remeter todas as atenções
deste artigo, pois trata-se de um tema bastante espinhoso e
delicado: a proibição de realizar pesquisa de mercado para as
empresas de tabaco.

As medidas que vêm sendo tomadas pelo governo ano após ano
restringindo o uso do tabaco em lugares públicos e, principalmente,
em ambientes fechados, é bem razoável por questões de saúde
pública e tem se tornado senso comum mesmo entre os fumantes.
Mas quando essas restrições chegam a níveis mais elevados há que
se tomar bastante cuidado.

Se a comercialização dos produtos ligados ao tabaco é


perfeitamente legal dentro de suas regras mais rígidas, é de se
esperar que possam usufruir também de certos benefícios como
outras indústrias, já que pagam seus impostos e seguem as regras
estabelecidas. Portanto, restringir a pesquisa de mercado com
consumidores fere alguns dos princípios básicos de uma democracia
e, especialmente, a constituição brasileira nos termos do parágrafo
único do artigo 170.

Por esse e outros tantos motivos, a Associação Brasileira das


Empresas de Pesquisa (Abep) recomenda a todos os seus
associados, entre eles a GS&MD – Gouvêa de Souza, que se
manifeste contra essa consulta pública e para que essa proibição
não se concretize. Vale ressaltar que o mercado de pesquisa não
está sujeito a regulamentação da Anvisa, pois tem suas próprias
regulações e, principalmente, porque a atividade de pesquisa é
essencial à configuração de um Estado democrático de direito,
garantindo o acesso à informação para quem segue suas normas e
regras.

Esse raciocínio de restrição é completamente contraditório, já que


eventuais restrições à propaganda e distribuição de produtos não
restringem a pesquisa de mercado para outros segmentos, como
ocorre com produtos piratas ou drogas, tornando-se ferramenta
importante, nos últimos anos, para o desenvolvimento de políticas
públicas e de saúde.

Devemos lembrar sempre que o direito à informação é garantia


constitucional e não pode ser limitada por simples medida
administrativa, ainda mais nos tempos atuais, em que o clamor por
mais liberdade de expressão, comunicação e informação vem
ganhando força em lugares nunca antes imaginados. Portanto,
fiquemos atentos para que esse direito à informação não se
transforme em um exemplo negativo para a nossa democracia já
um tanto madura e estabelecida.

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