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A HIPÓTESE DE RIEMANN

A invenção do Cálculo Diferencial e Integral provocou um dos maiores avanços no


pensamento ocidental. O trabalho monumental realizado por Newton e Leibniz
propiciou o avanço da ciência em todas as suas áreas. O matemático suíço Leonhard
Euler (1707-1783) foi um dos pioneiros em aplicar os métodos do Cálculo a problemas
de Teoria dos Números dando origem à Teoria Analítica dos Números. Entretanto, o
matemático alemão G. F. B. Riemann (1826-1866) é reconhecido como o verdadeiro
fundador da Teoria Analítica dos Números e como possuidor de uma das mentes
brilhantes mais originais e profundas do século XIX.
Riemann revolucionou a Análise Matemática, a Geometria e a Física
Matemática. Em Teoria Analítica dos Números, bem como em outras áreas da
Matemática, suas idéias fundamentais ainda exercem uma profunda influência.
Variedades Riemannianas, Superfícies de Riemann, Equações de Cauchy – Riemann,
Hipótese de Riemann, e muitos outros assuntos encontram-se entre seus trabalhos.
Riemann possuía uma intuição poderosa e precisa, mas apesar de sua genialidade
e criatividade, sua vida foi extremamente modesta. Riemann morreu prematuramente de
tuberculose. A sua timidez, a sua falta de habilidade como orador, e seu talento nato
para a Matemática, fizeram com que ele não seguisse a carreira de teólogo, contrariando
a vontade paterna. O matemático alemão Lejeune Dirichlet (1805-1859) foi seu
professor e exerceu grande influência em seu trabalho.
Em 1851, Riemann completou o doutorado sob orientação do grande
matemático alemão K. F. Gauss (1777-1855) que afirmou: “Riemann é possuidor de
uma originalidade gloriosamente fértil”. Um fato peculiar é que a chave para alguns dos
problemas contemporâneos mais essenciais reside em uma conjectura feita por
Riemann.
Denominada de Hipótese de Riemann, essa conjectura representa um dos problemas
mais importantes da Matemática.
Tudo começou quando Euler definiu em 1740 uma função denotada pela letra
grega ς ( lê-se “zeta”). A função zeta de Euler associa a todo número real maior que 1
um novo número real

É interessante notar que, substituindo s pelo número 2, Euler descobriu que


2
(2) = π /6. Ele observou que essa função daria informações sobre o padrão dos números
primos e, assim, nascia a Teoria Analítica dos Números, ou seja, o estudo dos números
primos por meio do Cálculo aplicado à investigação de propriedades de algumas
funções complexas.
Funções complexas são funções definidas no conjunto dos números complexos
que assumem valores complexos. Não dá para enxergar um gráfico de uma função
dessas porque ele tem dimensão quatro. Porém, é possível com a ajuda de um bom
software obter os gráficos das partes real e imaginária de uma tal função.
Convém observar que existem inúmeras funções zeta e alguns matemáticos costumam
dizer que Teoria dos Números é o estudo de funções zeta. Entretanto, qual é a relação
entre os números primos e a função zeta de Euler?
Euler demonstrou o impressionante teorema que afirma que para qualquer
número real s maior que 1, a função zeta se expressa como um produto infinito de
fatores da forma

qualquer que seja o número primo p, ou seja,

.
Essa função foi investigada por Riemann, detalhadamente, quando ele
substituiu o número real s por um número complexo, o que tornou a função zeta uma
função complexa. Ou seja , ς(s) é o número complexo:

, para Re(s) > 1.


[Re(s) significa a parte real do número complexo.]
A função zeta não está definida para todos os números complexos. Entretanto,
Riemann percebeu, utilizando uma técnica da Teoria das Funções Complexas, que era
possível estender a função zeta para todos os números complexos, exceto para o número
z = 1. Assim, a função zeta passou a ser chamada de função zeta de Riemann.
Em 1859, Riemann publicou um artigo brilhante de oito páginas, seu único
artigo em Teoria dos Números, onde usava a função zeta para investigar o padrão dos
primos. Seu objetivo era demonstrar a Conjectura de Gauss, hoje conhecida como
Teorema do Número Primo, que afirmava que a quantidade de números de primos entre
1 e x, quando x é muito grande, é aproximadamente x dividido pelo logaritmo natural de
x, isto é,
x / ln x.
Embora Riemann não tenha obtido sucesso, o seu trabalho foi
importantíssimo para o desenvolvimento da Teoria Analítica dos Números. Vários
resultados foram obtidos por ele quando da investigação das propriedades dessa função.
Riemann mostrou que propriedades dessa função estão intimamente ligadas à
distribuição dos números primos, ou seja, à seqüência natural dos números primos no
conjunto dos números inteiros positivos.
Riemann esquematizou o caminho de futuros progressos dessa investigação em uma
série de conjecturas bem fundamentadas dentre as quais a famosa “Hipótese de
Riemann”. Em 1896, o matemático francês J. Hadamard e o matemático belga C. J. de
la Vallée – Poussin demonstraram, independentemente, o Teorema do Número Primo
utilizando as idéias desenvolvidas por Riemann.
Consideremos a equação ς(s) = 0. Então, qualquer número complexo s que
resolva essa equação é denominado um “zero” da equação.
Riemann observou, primeiramente, que os inteiros negativos pares –2, -4 –
6, ... são zeros da função. Depois observou que deveriam existir infinitos zeros
complexos e, então, estabeleceu de forma audaciosa a conjectura de que qualquer outro
zero complexo da função zeta possui parte real igual a ½, ou seja, têm a forma s = ½ +
b i.
Portanto, todos os zeros da função zeta que não são números reais estarão na
reta vertical x = ½. Essa reta é geralmente chamada de reta crítica.
A primeira coisa a observar é que os zeros da reta crítica não são reais,
colocam-se simetricamente em relação ao eixo real e também em relação à própria reta
crítica. Essa é a célebre hipótese de Riemann. É sem dúvida, um problema muito
importante, pois o conhecimento dos zeros da função zeta se traduz por um
conhecimento mais profundo da distribuição dos números primos.
No primeiro semestre de 2004 a demonstração dessa conjectura foi anunciada
pelo matemático francês Louis de Branges de Bourcia e se encontra sob exame por
especialistas. Esse matemático já anunciara outras vezes ter demonstrado essa famosa
conjectura, mas erros foram encontrados em suas demonstrações.
A Matemática exerce grande fascínio nos homens e alguns milionários,
apesar de não serem matemáticos, estimulam a pesquisa matemática. Esse é o caso do
norte-americano, magnata de fundos de investimentos e amante da matemática, Landon
Clay, que criou em Cambridge, Massachussets, uma organização sem fins lucrativos
destinada a promover e financiar a pesquisa em Matemática: o Clay Mathematics
Institute (CMI).
Em um encontro realizado no Collège de France em Paris, em maio de 2000, o CMI
anunciou uma oferta de sete prêmios, cada um no valor de um milhão de dólares, pela
descoberta de soluções para cada um dos sete problemas considerados os mais
importantes, mais difíceis e mais desafiadores da Matemática. Um pequeno comitê
formado pelos matemáticos mais importantes da atualidade escolheu esses problemas
que passaram a se chamar os “Problemas do Milênio”.
A Hipótese de Riemann foi considerada um dos problemas do milênio, pois
é o problema mais importante da Matemática ainda não resolvido que tem
conseqüências em Física e profundas repercussões na Teoria da Informação como, por
exemplo, na questão da segurança na Internet. Essas conseqüências, que representam
um componente essencial da vida atual, serão o tema de nossa próxima coluna.

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