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Diagnóstico diferencial dos transtornos de leitura e de escrita: casos clínicos de

Dislexia e Disortografia
Sonia Loreto de Miranda, fonoaudióloga, especialista em linguagem, mestre em
Psicologia Cognitiva, professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda.
Quando não ocorre a apropriação esperada da comunicação escrita, compromete-se
o aprendizado escolar do aluno, necessitando-se de uma investigação precisa para
analisar e identificar seu processo singular de aquisição, quanto as suas
possibilidades de comunicação. Enfim, funções neuropsicológicas complexas são
acionadas, de natureza social, emocional, cognitiva e lingüística. Profissionais
estudiosos do desenvolvimento humano investigam sobre os comprometimentos e
intervem no processo de aprendizagem. O fonoaudiólogo é o profissional
especialista de linguagem, cuja atuação em âmbito educacional e clínico, pode
favorecer investigação adequada sobre possíveis alterações ao longo da
aprendizagem da língua escrita e promover intervenções eficazes para o
desenvolvimento da comunicação escrita. A proposta do curso teórico-práticao
enfoca os distúrbios de leitura, denominado Dislexia, bem como o de escrita,
nomeado Disortografia. Apresenta como objetivo principal: identificar os sintomas
característicos de dislexia e de disortografia para um adequado diagnóstico
diferencial na prática clínica fonoaudiológica. Para tanto, serão descritos os
sintomas respectivos, realizando estudos de casos clínicos, através de análises de
resultados, considerando as diferenças e semelhanças entre Dislexia e Disortografia.
Como o curso será teórico-prático, vivências de debates e discussão de casos
clínicos ocorrerão, através de vídeos e slides, que apresentarão exemplos de leituras
e escritas de crianças, utilizando fundamentação teórica atualizada. A teoria sobre o
assunto explica que os transtornos de leitura e escrita ou distúrbios são
comprometimentos de origem neurológica funcional, sem alterações lesionais ou
morfológicas de cérebro (Ciasca, Capellini e Tonelotto, 2003). Através de
avaliações fonoaudiológicas, investigam-se os componentes da linguagem
envolvidos e quais estariam alterados, observando-se os comportamentos do
indivíduo em atividades lingüísticas e cognitivas (Cappelini e Salgado, 2003). O
processo de avaliação e diagnóstico, nesses casos, envolve tarefas de codificação,
decodificação de palavras e pseudo-palavras isoladas, leitura, interpretação e
produção escrita de textos, comparando os desempenhos ao grupo classe (Capellini
et al., 2009). Quanto ao diagnóstico dessa natureza, exige-se o envolvimento
interdisciplinar, principalmente, avaliações de psicologia, neuropsicologia,
psicopedagogia e fonoaudiologia, bem como, as complementares na área médica:
neurologia, psiquiatria, otorrinolaringologia, entre outras, indicadas de acordo com a
necessidade de cada caso. Assim, pode-se contemplar aspectos emocionais, sociais,
psicomotores, cognitivos, lingüísticos, escolares, e a saúde em geral. Quanto às
alterações nomeadas Dislexia, ao serem analisados os conceitos de dislexia, em
Santos e Navas, 2002; Ciasca, Capellini e Tonelotto, 2003; Capellini et al., 2009,
Capovilla e Capovilla, 2007, constata-se um consenso: é um transtorno básico de
leitura, relacionado com distúrbio no processamento fonológico, prejudicando a
adequada relação fonema/grafema, afetando o desenvolvimento da linguagem,
quanto às habilidades morfossintáticas, capacidade narrativa expressiva e
processamento de informações auditivas e visuais; consequentemente, o
aprendizado da Escrita torna-se lento e a decodificação laboriosa, mas a
compreensão apresenta-se adequada, uma vez que as palavras sejam captadas
(input) para sua elaboração. A Dislexia é um distúrbio de natureza neurofuncional,
por isso pode estar associado a outras dificuldades de desenvolvimento, como:
dificuldades psicomotoras, definição da lateralidade, coordenação ampla e manual;
dificuldades na linguagem oral, como pobre reconhecimento de rima, de identificar
sons semelhantes, problemas em memorizar e nomear e; quanto às dificuldades na
linguagem escrita, verificam-se problemas ao manusear mapas, dicionários, lista
telefônica; ao ler confunde sílabas com semelhanças (ra/ar, sa/as, por/pro), bem
como grafemas semelhantes (b/d, p/q, m/n e vogais, a/e, o/a) e fonemas
auditivamente semelhantes (modo articulatório- b/d, p/t e os traços de sonoridade:
t/d, p/b, s/z etc); o que afeta diretamente a habilidade de decodificação das sílabas,
especialmente as complexas (trans/ quem/ quan) (Santos e Navas, 2002). Com o
desenvolvimento, a memória lexical é determinante para a melhoria do
reconhecimento das palavras, mas diante de palavras novas e pseudopalavras, a
dificuldade se apresenta, percebendo-se a necessidade de redecodificação para cada
grafema (Cardoso-Martins, 2008). Como conseqüência, a dificuldade de aquisição
das regras ortográficas está presente também na sintomatologia de Dislexia. No
entanto, problemática na escrita das palavras não é necessariamente um quadro de
Dislexia. Desvios de escrita podem se referir à Disortografia, cuja sintomatologia
restringe-se ao desenvolvimento da linguagem expressiva, quanto a aprender a
marcar os grafemas ortograficamente de acordo com a norma culta do Português. Na
aquisição da Escrita, a criança aprende sobre o sistema alfabético, na relação
fonema/grafema, levando-a inicialmente a escrever como a sua oralidade
(transcrição); mas em seguida, é importante compreender que a Escrita tem
representações próprias: há um sistema de signos escritos arbitrários com regras a
serem adquiridas e suas exceções, para apreender e usá-lo na produção de sua
comunicação escrita. Zorzi (2009), assim, lista os principais equívocos ortográficos:
substituições de letras devido a confusões nas representações múltiplas (“carrossa”-
carroça, “depresa”- depressa); Apoio na oralidade (“iscola” - escola, “lixu”- lixo);
omissões (nigue- ninguém); junção – separação de palavras (“derepente”- de
repente, “com migo”- comigo), confusão AM/ ÃO ( “estam”- estão), generalizações
(“vil”- viu), trocas envolvendo substituições entre letras que representam fonemas
surdos e sonoros (“estafa”- estava, “peti’- pede); acréscimo de letras (“carata- carta);
confusões entre letras parecidas, inversões (há confusão entre letras semelhantes à
posição no espaço, direita/esquerda (b/d) ou posição na palavra (estava- “setava”).
Pode-se verificar que analisando-se a produção escrita de uma criança com
Disortografia, constatam-se erros semelhantes numa criança com dislexia. Para
diferenciar os quadros clínicos, necessita-se de investigação pormenorizada das
histórias dos sujeitos sobre seu desenvolvimento global e verificação dos seus
desempenhos nas atividades de linguagem oral e escrita, exame de consciência
fonológica, discriminação e memória auditiva. Na prática, serão analisados
desempenhos de crianças realizando atividades de leitura e escrita, evidenciando as
dificuldades e os transtornos, para discutir como diferenciar e definir os diagnósticos
na clínica fonoaudiológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Capellini, SA, Salgado, CA. Avaliação fonoaudiológica do distúrbio específico de leitura e


distúrbio de aprendizagem: critérios diagnósticos, diagnóstico diferencial e manifestações
clínicas. In Ciasca, SM (org.). Distúrbio de Aprendizagem: proposta de avaliação
interdisciplinar. São Paulo: Casa do psicólogo, 2003.

Capellini, AS et al. Avaliação e diagnóstico fonoaudiológico nos distúrbios de


aprendizagem e dislexia. In Zorzi, JL, Capellini, SA. Dislexia e outros distúrbios de leitura-
escrita: letras desafiando a aprendizagem. São José dos Campos: Pulso, 2009.

Capovilla, AGS, Capovilla, FC. Problemas de Leitura e escrita. Como identificar, prevenir e
remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Mennon, 2007.

Cardoso-Martins, C. Desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. In Fuentes, D. et


al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Ciasca, SM, Capellini, AS, Tonelotto, JMF. Distúrbios específicos de aprendizagem. In


Ciasca, SM (org.). Distúrbio de Aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São
Paulo: Casa do psicólogo, 2003.

Santos, MTM, Navas, ALGP. Distúrbio de leitura e escrita. In Santos, MTM, Navas, ALGP.
Distúrbio de leitura e escrita: teoria e prática. São Paulo: Manole, 2002.

Zorzi, JL. Problemas de aprendizagem e ortografia. Crianças escrevendo errado: o que


fazer? In Zorzi, JL, Capellini, SA. Dislexia e outros distúrbios de leitura-escrita: letras
desafiando a aprendizagem. São José dos Campos: Pulso, 2009.

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