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O Portal de Notícias da Globo

06/02/10 - 07h00 - Atualizado em 06/02/10 - 07h00

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Medo de calote por parte de países da UE se abateu sobre as bolsas.


Nações passam por dificuldades, mas devem pagar dívida, dizem analistas.

Do G1, em São Paulo

Temores sobre a saúde financeira da economia europeia espalharam pessimismo nos principais centros financeiros do mundo nesta
semana. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a queda semanal foi de mais de 4%, enquanto os principais mercados da
Europa perderam, em média, 3,7%.

      




O motivo de tanta preocupação é a dificuldade que alguns países europeus vêm enfrentando para conseguir empréstimospara
refinanciar suas crescentes dívidas públicas. Isso acontece porque os países passam por um desequilíbrio fiscal devido à crise: com a
arrecadação em baixa e os gastos em alta, eles gastam mais do que arrecadam.

Para analistas consultados pelo , no entanto, o risco de ´caloteµ por parte desses países é pequeno. Na avaliação deles, embora
o crédito restrito possa resultar em juros cada vez mais altos e tempos difíceis para a economia, as nações não devem parar de
pagar suas dívidas.

O maior temor dos mercados é que os problemas desses países sejam um indicativo de que a recuperação da economia global
depois da crise tenha formato de ´Wµ, ou seja, uma ligeira melhora seguida por nova queda e posterior recuperação definitiva.

Para Miguel Daoud, diretor da consultoria Global Financial Advisor, ´não existe calote na Itália, muito menos na Espanha e em
Portugal. O que existe é uma dificuldade desses países na rolagem de suas dívidasµ.

Ele explica que esses países estão enfrentando dificuldades com a relação entre dívida e PIB, considerada alta, mas há países em
que ela é ainda maior, como no Japão, onde chega a 160%.

´O impacto que isso pode ter é encarecer o custo da divida. Isso aumenta o desemprego, encarece os investimentos e o país passa
por um período difícilµ, explica Daoud. O especialista se diz mais preocupado com a situação econômica da Argentina e da
Venezuela e com a questão do controle sobre os bancos nos Estados Unidos.

 

A Grécia é o caso mais emblemático e mais preocupante do grupo: o país tem a maior dívida da zona do euro, que deve atingir
120% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.

Nesta sexta (5), a União Europeia aprovou com ressalvas o plano fiscal de três anos da Grécia para reduzir seu déficit fiscal. O euro,
moeda do bloco, poderia ter grande desvalorização se a Grécia der um calote, mas o país e a UE disseram que isso não acontecerá
e que o país não precisará de ajuda financeira.

O plano da Grécia prevê que o déficit fiscal do país volte a menos de 3% do PIB em 2012. No ano passado, o déficit ficou em cerca
de 13%. O déficit fiscal é a diferença entre a receita do país com tributos e outras fontes de arrecadação e os gastos. Sem dinheiro
sobrando, o país tem mais dificuldades para pagar suas dívidas.




No ano passado, Portugal registrou um déficit fiscal de 9,3% do PIB, maior do que o esperado. Enfrentando pressão para reparar suas
finanças, o governo português prometeu reduzir o déficit para 8,3% do PIB neste ano. A União Europeia deu a Portugal até 2013 para
reduzir o déficit para menos de 3% do PIB, o limite máximo aceito pelas regras do bloco.

O governo português disse que o déficit maior do que o esperado no ano passado resultou de um declínio da arrecadação. Em 2010,
o governo tentará limitar os gastos por meio do congelamento de salários de empregados do setor público e da tentativa de reduzir
a folha de pagamento do governo.

Em dezembro, as agências de classificação de risco Moody's e a Standard &Poor's alertaram para possíveis rebaixamentos na
avaliação da dívida de Portugal. "Todo mundo tem se concentrado na Grécia, mas agora as pessoas estão acordando para o fato
de que não se trata apenas da Grécia", disse o analista de câmbio Ian Stannard, do BNP Paribas.

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Outros dois países que preocupam os investidores são Espanha e Itália, econo

mias bem maiores que a Grécia e Portugal, mas que também enfrentam dívidas altas e crescimento econômico fraco, que deixa
pouca margem para os governos saírem da situação fiscal desfavorável.

A Espanha ainda não saiu da recessão, já que foi anunciado nesta sexta que o PIB do país se contraiu 0,1% no quarto trimestre. A
preocupação dos analistas é de que a UE até poderia resgatar a Grécia e Portugal, mas não a Espanha e Itália, países bem maiores.

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04/02 - 13:45 - Agência Estado

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Outros, como o primeiro-ministro grego, George Papandreou, veem os problemas do país como difíceis, mas administráveis, e se
queixam da interferência de especuladores mal-intencionados.

Evitar a inadimplência pode ser possível, mas não será fácil. Basta olhar os dados oficiais, incluindo a dívida externa da Grécia, que
equivale a 170% da renda nacional, ou o enorme déficit orçamentário do governo (quase 13% do PIB).

Mas o problema não está apenas nos números; está na credibilidade. Depois de décadas de baixo investimento em capacidade
estatística, ninguém confia nos números do governo. O histórico de inadimplência tampouco inspira confiança.

Como fica demonstrado em meu livro recente com Carmen Reinhart, This Time isDifferent: EightCenturiesof Financial Folly (Desta vez é
diferente: oito séculos de loucura financeira), a Grécia tem ficado inadimplente, em média, a cada dois anos desde que conquistou
a independência no século 19. A perda de credibilidade, se ocorrer, poderá repercutir dura e rapidamente. Aliás, as evidências
históricas nos mostram o fato de que, enquanto a dívida pública pode crescer lenta e inexoravelmente durante anos, o fim é em
geral abrupto.

E ele pode ocorrer a qualquer país, embora os países avançados geralmente possam endurecer sua política fiscal com suficiente
velocidade e credibilidade para que as aflições venham sobretudo na forma de um crescimento mais lento. Infelizmente, para
mercados emergentes, o ajuste é em geral impossível sem ajuda externa. Esse é o precipício em cuja beira a Grécia se encontra.

Uma crise da dívida não é inevitável. Mas o governo precisa executar com urgência um ajuste fiscal crível, concentrando-se não só
no aumento da tributação, mas também na desaceleração do aumento dos gastos públicos - de 45% do PIB a 52% do PIB - que
ocorreu entre 2007 e 2009. O governo precisa evitar a extrema dependência de propostas de aumentos de impostos que, em última
instância, repercutem negativamente no crescimento e na sustentabilidade. Seria preferível equilibrar os aumentos de impostos com
uma certa reversão da disparada dos gastos públicos.

Tenho amigos gregos que dizem que a Grécia não está sozinha. E estão certos. Alguns países quase inevitavelmente enfrentarão
salvamentos e inadimplências. Uma das regularidades mais chocantes que Carmen e eu detectamos é que, após uma onda de
crises bancárias, ocorre uma onda de inadimplências e reestruturações de dívidas soberanas poucos anos depois. Essa correlação
não deveria surpreender quando se considera a acumulação massiva de dívidas públicas que os países experimentam após uma
crise bancária. Com certeza vimos isso dessa vez, e a dívida de países em crise já cresceu mais de 75% desde 2007.

Mas, enquanto provavelmente veremos também uma onda de inadimplências e programas do FMI desta vez, o derretimento fiscal
não precisará atingir cada país altamente endividado. Aliás, o que um país como a Grécia devia estar fazendo é usar os meios
possíveis para ficar longe dos programas do FMI e de reestruturações de primeira e segunda onda. Se conseguir, talvez a observação
das aflições de outros países ajude a convencer a elite política local a aceitar um ajuste. Senão a Grécia terá menos controle sobre
seu ajuste e experimentará um trauma maior, talvez a inadimplência pura e simples.

Há uma velha piada sobre dois homens que são encurralados por um leão na selva. Quando o primeiro começa a calçar seus tênis,
o outro pergunta por quê. O primeiro responde: "Estou me preparando para correr para me salvar". Mas você não poderá vencer um
leão na corrida, diz o outro homem, ao que o primeiro responde: "Eu não preciso correr mais que o leão. Só preciso correr mais que
você".

A Grécia ainda precisa calçar os tênis, enquanto outros países em dificuldade, como a Irlanda, saíram na frente com pesados ajustes
fiscais. O novo governo socialista da Grécia está manietado por promessas de campanha que sugeriam haver dinheiro para resolver
os problemas, quando na verdade as coisas se mostraram muito piores do que se imaginava. Agora, sindicatos e grupos agrícolas
bloqueiam o tráfego com protestos todos os dias.

A maioria dos gregos está fazendo o que pode para evitar a sede aparentemente insaciável do governo para aumentar a
arrecadação fiscal, com indivíduos ricos enviando dinheiro ao exterior e pessoas comuns migrando para a economia informal. A
economia informal grega, estimada em 30% do PIB, já é uma das maiores da Europa, e está crescendo a cada dia.

No caso da Argentina, um par de empréstimos do FMI em 2000 e 2001 só retardou o duro ajuste inevitável e tornou a inadimplência
final do país ainda mais traumática. Como a Argentina, a Grécia tem taxa de câmbio fixa, uma longa história de déficits fiscais e uma
história ainda mais longa de inadimplências da dívida soberana. Porém, a Grécia pode evitar um derretimento ao estilo da
Argentina, mas precisa se engajar num ajuste bem mais determinado. Chegou a hora de calçar os tênis de corrida.

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O Estado de S. Paulo - 16/12/2009

O governo da Irlanda se prepara para aumentar para 50% sua participação nos dois principais bancos do país. Segundo Patrick
Honohan, presidente do banco central irlandês, o aumento da intervenção estatal no AlliedIrish Bank e no Bank ofIreland é "bastante
possível". Honohan afirmou a um comitê parlamentar que provavelmente esses bancos vão precisar de significativo capital adicional.

"Como o capital necessário não pode ser obtido pelos bancos sozinhos, o governo indicou que estará preparado para fazer os
investimentos necessários", disse Honohan. O governo da Irlanda já possui 25% de participação nos dois bancos, depois de ter
injetado 3,5 bilhões (US$ 5,1 bilhões) em cada.

Os bancos estão participando da transferência de empréstimos para a futura Agência Nacional de Gerenciamento de Ativos, o
chamado "banco ruim". A agência vai comprar dos bancos propriedades e empréstimos com um valor de registro de 77 bilhões, mas
pagará 54 bilhões. Cerca de 16 bilhões em empréstimos do Bank ofIreland e 24,2 bilhões do AlliedIrish Banks serão comprados.

Sobre o atual estado do sistema bancário, Honohan afirmou que o crédito não está crescendo e que os spreads dos juros se
ampliaram. O presidente do banco central também sugeriu que a tecnologia para avaliação de empréstimos no sistema bancário
irlandês pode ser melhorado. Segundo Honohan, deveria haver uma investigação profunda e ampla sobre as causas da crise
financeira.

Em resposta a repetidas perguntas, Honohan disse que a economia da Irlandapode sobreviver sem o já nacionalizado Anglo Irish
Bank, mas destacou que não estava sugerindo que o banco deve ser desativado. Os bancos irlandeses foram particularmente
prejudicados pela crise financeira e pelo colapso do mercado imobiliário. As instituições fizeram grandes empréstimos para
construtoras e muitos provavelmente não serão pagos.

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O governo austríaco vai estatizar o problemático HypoGroup Alpe Adria, segundo informou ontem o jornal local Die Presse. E a quarta
maior instituição financeira da Áustria, OesterreichischeVolksbanken, teria sido posta em uma lista de alerta do banco central e da
agência regulatória do mercado financeiro local. O banco central austríaco nega a informação.

"As pessoas devem sentir que não existe fumaça sem fogo particularmente no fim do ano, quando estão sentados sobre gordos
lucros e querem vender", disse Nigel Rendall, estrategista sênior do RBC Capital Markets.

As notícias sobre a Áustria e Irlanda ocorrem na sequência de alertas e rebaixamento de ratings de alguns países europeus, incluindo
Grécia, Espanha e Portugal. Na segunda-feira, a Grécia traçou um plano com objetivo de colocar suas finanças em ordem.
Contudo, os mercados não ficaram impressionados e, na Bolsa de Atenas, o índice ASE Composite caiu 2,1% e fechou com 2.169,98
pontos.

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Leandro Modé

O crescente temor sobre a situação fiscal de vários países europeus - que voltou a castigar os mercados globais ontem -, aliado à
melhora das condições macroeconômicas brasileiras nos últimos anos, transformou em realidade algo impensável há não muito
tempo: os investidores temem mais um calote de Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e Grécia do que do Brasil.

É o que revelam os dados da medida de risco mais usada no mercado global atualmente. Trata-se do prêmio expresso nas
negociações de um instrumento derivativo chamado de CDS (do inglês, credit default swap). Em uma definição coloquial, o CDS
pode ser traduzido como um seguro anticalote.

Exemplo prático: um banco empresta dinheiro para um país e, ao mesmo tempo, compra um CDS de um investidor. Se o tal país não
honrar seu compromisso, o banco vai ao investidor cobrar o prejuízo.

No auge da crise global, em outubro de 2008, o prêmio do Brasil chegou a 355 pontos - ou seja, o investidor que comprava seguro
contra eventual inadimplência brasileira pagava 3,55 pontos porcentuais a mais de juros sobre o CDS dos EUA, referência do
mercado.

Na mesma época, o CDS de Portugal era de 85 pontos, da Espanha, 82, da Irlanda, 113, da Itália, 117, e da Grécia, 134 pontos.
Ontem, esses valores eram, respectivamente, de 150 (Brasil), 227, 165, 169, 155 e 415 pontos (ver gráfico na pág. B4).

"Há duas explicações para a melhora do risco brasileiro em comparação com o desses países: de um lado, o Brasil saiu fortalecido da
crise e tem boas perspectivas de crescimento; de outro, essas nações europeias enfrentam enorme desafio fiscal", explicou a
economista-chefe do banco ING, Zeina Latif.

Um dos efeitos da mudança é que as empresas e o governo do Brasil podem pagar menos para se financiar no exterior do que esse
grupo de países, que, pelos critérios do Fundo Monetário Internacional (FMI), constituem economias avançadas.

"Isso já ocorre na prática", disse Eduardo Nascimento, diretor do BB Securities em Londres. Segundo ele, um papel emitido pelo
governo da Grécia na semana passada pagava ontem ao investidor, nas negociações de mercado secundário, juro de 7% ao ano.
"Um título do Banco do Brasil com vencimento em 10 anos está pagando 6%." Quanto maior o retorno, maior o risco da aplicação.

Em janeiro, a área do BB em que trabalha Nascimento liderou o ranking das instituições financeiras responsáveis por estruturar
captações de empresas e do governo brasileiro no exterior, com US$ 3 bilhões. O especialista afirma que as perspectivas para o resto
do ano são positivas, mas podem mudar se a situação na Europa continuar a se deteriorar.

Ontem, por exemplo, as bolsas mantiveram a tendência de baixa. O Ibovespa caiu 1,83%, a Bolsa de Madri perdeu 1,53%, a de Paris,
3,40% e a de Londres, 1,53%. O dólar subiu 0,37%, para R$ 1,890.

Aparentemente, o desempenho do risco brasileiro expresso nas negociações de CDS é contraditório com o que tem ocorrido na
Bovespa e no mercado de câmbio. "O CDS reflete mais os fundamentos do País, enquanto a bolsa e o câmbio sofrem com a
volatilidade do momento", ponderou a professora do Instituto de Economia da Unicamp Daniela Magalhães Prates.

O economista Ricardo Amorim, da Ricam Consultoria Empresarial, não se mostra surpreso com a alteração do status relativo do Brasil
frente a algumas nações europeias. "Enquanto a China e a Índia estiverem em um processo de migração das pessoas do campo
para a cidade (o que deve levar mais 20 ou 30 anos), os países frágeis serão eles (ricos), não nós (emergentes)", afirmou.

Isso porque a demanda desses dois países é por produtos exportados pelos emergentes (commodities), não pelos desenvolvidos
(serviços e bens industrializados). Além disso, os produtos chineses reduziram a inflação global, o que diminuiu as taxas de juros e o
custo do dinheiro (os maiores demandantes de empréstimos são os emergentes).

Nem todos são tão otimistas. O professor do Insper Marcelo Moura pondera que as contas públicas brasileiras também são frágeis e
lembra que o País terá déficits crescentes na conta corrente. "O Brasil melhorou porque não sofre tanto quando há uma crise, mas
ainda paga mais para rolar sua dívida interna do que esses países europeus", disse. "Discordo desse ufanismo com o País."

TENSÃO GLOBAL
150 pontos era o risco brasileiro ontem, expresso nas negociações do instrumento financeiro CDS.
O risco Grécia estava em 415 pontos, o de Portugal, em 227, e o da Espanha, em 165
4,03% foi a queda do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) na semana

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Investidores já consideram mais arriscado investir em títulos de governos europeus do que em empresas americanas

Jamil Chade, correspondente em Genebra

Investir em papéis soberanos europeus se torna mais arriscado que em ações de empresas americanas. Ontem, pela primeira vez
desde a eclosão da crise em setembro de 2008, a balança mudou de lado do Atlântico e o foco definitivamente passou para a
situação europeia.

As bolsas caíram pelo terceiro dia consecutivo diante da tensão cada vez maior em relação à dívida de alguns países europeus.A
semana foi a pior desde março de 2009 e o euro atingiu seu ponto mais baixo em quase nove meses, enquanto o Parlamento
português rejeitou o plano de austeridade do governo.

SOLUÇÃO POLÍTICA

Em Bruxelas, cresce a pressão por uma solução política. O principal temor de investidores é quanto a capacidade de Grécia,
Espanha, Portugal e Irlanda em financiar suas dívidas. Uma cúpula na próxima semana tratará da situação do continente e do euro.

Nos principais mercados europeus, as bolsas voltaram a cair. Em Londres, a queda foi de 1,53%, 1,79% em Frankfurt e 3,4% em Paris.
Em Milão, 2,75%. Já nos países mais afetados pelas dívidas, as quedas foram menores: 1,35% para Madri e 1,36% em Lisboa. Na quinta-
feira, esses mercados haviam caído mais de 5%.

O índice FTSEurofirst 300 fechou o dia em queda de 1,9%, o nível mais baixo em três meses. Somadas as perdas da semana, a queda
foi de 3,7%, o pior resultado para a Europa desde março de 2009. As garantias dadas por políticos não deram resultado e o mercado
manteve a tendência de abandonar títulos de dívidas dos governos europeus em busca de papéis mais estáveis.

RISCO

Ontem, o mercado passou a considerar os papéis dos governos europeus como mais arriscados que os de empresas americanas. A
constatação foi registrada depois que o índice Markit ITraxx - relacionado às emissões de governos - atingiu nível superior ao das 125
maiores empresas dos EUA. Para analistas, o fenômeno sinaliza que o risco passou do setor empresarial para o soberano (de
governo). Seguindo essa tendência, o risco Portugal (índice que mede as taxas exigidas por investidores para rolar a dívida do país) e
os juros das dívidas da Espanha, Irlanda e Grécia apresentaram altas importantes ontem.

A situação ficou ainda mais tensa depois que o Parlamento português rejeitou o projeto do governo garantindo um plano de
austeridade fiscal e corte de gastos. O Parlamento optou por aprovar um plano que ainda permite acumulação de dívidas nas
províncias. Para o governo português, a nova lei é irresponsável e acrescentará US$ 550 milhões ao déficit, nos próximos quatro anos.
O governo tentará anular o plano, aprovado pela oposição que controla o Legislativo, sob a ameaça de que a crise financeira se
torne política.

Para o mercado, a sinalização não contribuiu. Na Grécia, o governo já havia prometido reduzir o déficit fiscal de 12,9% para apenas
3% em 2012. Em 2010, porém, a dívida chegará a 135% do PIB. Na Espanha, a promessa é de cortes de US$ 70 bilhões. Na Irlanda,
depois de uma queda de 7,5% do PIB em 2009, o governo promete reduzir o déficit de 11%. O máximo permitido pela UE é de 3%.

A Itália insiste que não faz parte do bloco de países endividados. Mas um estudo publicado pelo instituto Nomisma de Bologna
apontou que 30% dos italianos enfrentam dificuldades para pagar suas hipotecas.

MOEDA

Com a queda nos mercados, o euro voltou a ter sua integridade abalada. A moeda vive a pior crise desde seu lançamento em 2001,
e ontem perdeu mais 0,6%. O euro está em seu ponto mais baixo desde maio de 2009.

Nas capitais europeias, cresce a perspectiva de que a crise terá de buscar uma solução política. No dia 11, a UE realiza uma cúpula
para avaliar a situação e analisar um pacote de resgate para os países altamente endividados. A reunião já havia sido convocada
no início do ano, mas a nova turbulência e a queda do euro dominarão a agenda.

Investidores dizem que vão querer ouvir dos líderes políticos compromissos de solidez, solidariedade e soluções para a dívida, mesmo
que dolorosas. Grande parte desses déficits foi acumulado com pacotes para manter empregos e relançar setores críticos da
economia.

A presidência do Conselho da Europa já alertou que não quer na sala nem ministros nem assessores. Apenas chefes de Estado e de
governo.

Portugal e Grécia representam apenas 5% do PIB da Europa. Para analistas, o plano de socorro aos dois governos custaria bem
menos que um pacote para a Espanha, que representa quase 12% do PIB europeu. Se os países endividados representam economias
pequenas, líderes europeus não deixam de lembrar que a crise na Ásia, em 1997, começou na Tailândia.

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03/02 - 13:02 - Agência Estado

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Numa coisa os economistas concordam: os incentivos pesam. A menos que os incentivos e restrições sejam mudados pela
regulamentação, é improvável que o comportamento em Wall Street mude. E, mais uma vez, nosso sistema financeiro, nossa
economia e o contribuinte estarão sob risco.

Bancos "grandes demais para falir" têm um forte incentivo para especular: se ganham, saem com os lucros; se perdem, o contribuinte
paga a conta. Os resgates salvaram cegamente os bancos grandes, enquanto os menores foram à bancarrota 140 só em 2009 ,
concentrando ainda mais o sistema bancário.

As regras que o governo está propondo não visam a punir os bancos grandes, mas a criar um sistema financeiro mais sólido. Como os
bancos grandes são, de fato, garantidos pelo governo, eles tiveram uma vantagem competitiva que não tem base na maior
eficácia, mas em subsídios implícitos e conexões políticas. Eles não são só grandes demais para falir, são grandes demais para serem
administrados. São, aliás, grandes demais para existir.

Há duas semanas, Obama propôs um novo imposto para as 50 maiores instituições. A ideia é desestimular operações muito
arriscadas, reequilibrar um jogo desigual e gerar uma necessária receita. Mas, mesmo que o Congresso aprove, isso não será
suficiente. Os executivos que gerem essas instituições provavelmente obrigarão os acionistas a arcarem com o ônus do imposto,
enquanto eles ficam como antes.

Os acionistas já foram prejudicados quando os executivos realizaram fusões, pagaram bônus e fizeram outras ações que diminuíram o
valor para os acionistas. Na verdade, um novo imposto daria aos banqueiros mais uma desculpa para não recomeçar a emprestar.

Na quinta-feira, Obama fez uma segunda proposta mais direta: limitar a maneira como os bancos comerciais grandes operam, para
reduzir seu tamanho, os riscos que assumem, seus conflitos de interesse e sua capacidade de abusar dos privilégios concedidos pelo
acesso a garantias e recursos do governo via o Federal Reserve (Fed). Por essa proposta, os bancos não poderiam ter fundos hedge
ou se envolver em trading em causa própria, o que significa não poder usar recursos para transacionar em seu próprio interesse.
Nunca houve uma boa justificativa para a mistura dessas atividades. Reafirmar essas restrições não diminuirá a capacidade do
sistema de fornecer serviços financeiros fundamentais, ainda que sem o subsídio implícito do governo seus custos subirão. Como
sempre ocorre com regulamentos, porém, o diabo está nos detalhes.

Mal escritos ou impropriamente aplicados, os regulamentos não podem poupar o contribuinte ou a economia de riscos. Igualmente
importante é que essas iniciativas são apenas o começo. Elas não solucionam o problema dos derivativos que causaram a implosão
do AIG e custaram US$ 180 bilhões dos fundos de salvamento do contribuinte. O governo diz que pretende encorajar o movimento
para uma mercado de derivativos padronizado, negociado em bolsa, para melhorar a competição e a transparência.

Mas será que esses esforços, por mais bem intencionados que sejam, funcionarão? Se não funcionarem se persistir o trading não
transparente, complexo, de balcão, por instituições "grandes demais para falir" o perigo de criar outra situação entrelaçada demais
para falir continuará. Maior competição e transparência reduzirá os riscos. Os bancos grandes não deveriam poder negociar com
esses produtos, e os que participam no mercado de derivativos devem pagar a conta pelos prejuízos resultantes de suas operações,
sem a opção de recorrer ao governo. O mercado de derivativos certamente encolh eria; ele hoje prospera, em parte, com o base no
subsídio público implícito.

Se permitirmos que os bancos grandes continuem operando como antes, eles poderiam mais uma vez deixar o país refém num
tempo de crise, combinando sua arma predileta o medo com sua influência política para tirar nosso dinheiro.

Uma regulamentação bem escrita, aplicável, combinada com a obrigação de o setor financeiro pagar as suas contas, traz a
perspectiva de redirecionar as energias criativas de Wall Street. Talvez ela trabalhe melhor então em suas funções centrais de
administrar risco, alocar capital e gerir um sistema de pagamentos sólido e eficiente.

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OEstado de S. Paulo - 28/01/2010

Recessãoe risco financeiro ainda são temas de importância imediata nas discussões do Fórum Econômico Mundial. A última reunião
do Fórum, em janeiro do ano passado, ocorreu durante a pior fase da recessão, quando a crise já se havia espalhado por todoo
globoe não havia no horizonte sinal de reação. Oencontro deste ano, em Davos, foi abertoontem num ambiente de
moderadootimismo, ainda marcado por muita insegurança. Os emergentes tomaram a dianteira na recuperação, mas a economia
do mundo industrializado continua a patinar. O risco de uma recaída não foi totalmente descartado. Além disso, já se fala da
formação de uma nova bolha de preços, estimulada pelos juros ainda muito baixos. Essa advertência foi repetida ontem pelo
megainvestidor George Soros.

A grande novidade, já perceptível no ano passadoe agora muito clara, é a avaliação positiva das economias emergentes. Uma
pesquisa da PriceWaterhouseCoopers deixou clara a diferença entreo mundo ricoeo mundoem desenvolvimento, quando se trata
doestado deespírito dos dirigentes deempresas. Os mais otimistas estão na Ásia e na América Latina, incluídoo Brasil. Analistas de
grande reputação congregados pelo Fórum concordam com essa avaliação.

Mas as grandes dúvidas não se referem só às perspectivas de reativaçãoem 2010 e ao ritmo de crescimento nos próximos anos.
Ainda nãoestá claro seo mundo pós-crise será mais seguroe seos governos nacionais e instituições multilaterais terão meios de prever
e deevitar desastres comoo de 2008. Também há duvidas ?e temores ? quanto ao grau de intervençãoestatal na economia, a partir
da crise.

Na maior parte do mundoo setor públicoexpandiu sua presença nos mercados, controlando indústrias afetadas pela crise,
investindoem bancos e, em alguns casos, estatizando instituições financeiras a um passo da falência.

Boa parte dos economistas, políticos eempresários cobra maior supervisão do sistema financeiroe uma regulamentação mais estrita
de suas operações. A indignação popular com os desmandos praticados pelos banqueiros, principalmente nos EUA, estimula as
autoridades a tratar com mão pesada os senhores das finanças. Mas há incerteza quanto à capacidade dos governos, a começar
do americano, de impor aos bancos uma disciplina mais severa eeficaz do que a existente antes da crise.

O presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS), JaimeCaruana, mostra-se confiante: "Haverá reforma", disseele,
apontandoo plano apresentado há duas semanas pelo presidente Barack Obama como um sinal positivo. Mas faz uma ressalva:
regras melhores são apenas parte da solução. A segurança dependerá de fatores como a qualidade das políticas econômicas
eoempenho do setor financeiro na busca de melhores padrões de administração. Além disso, como lembrou o dirigente de um
grande banco inglês, a eficácia de qualquer reforma dependerá da cooperação internacional, por causa do caráter global das
operações financeiras.

Soros declarou-se favorável, de modo geral, às propostas de regulaçãofinanceira apresentadas pelo presidente Barack Obama, mas
classificou como prematura a ideia de tributação dos bancos. Também expressou dúvidas quanto à mudança de política em
relação aos "bancos grandes demais para quebrar". Serão necessários alguns anos deexperiência, com o governo mostrando na
prática a disposição de não socorrer as grandes instituições, para esse tipo de discurso ganhar credibilidade.

A reunião deste ano do Fórum Econômico Mundial foi planejada com base numa ideia ambiciosa: congregar especialistas, políticos
e ativistas para refletir sobre a construção do mundo pós-crise. Não valeria a pena juntar tanta gente para discutir as causas eo
mecanismo da crise. Ainda há divergências interessantes a respeito desses pontos, mas também há um acordo amplo sobre as
questões centrais, como as falhas da regulaçãoeos estímulos à especulação irresponsável. As discussões iniciadas ontem, noentanto,
revelam muita incerteza a respeito de como se poderá disciplinar o mercado financeiro, eliminar o problema das instituições "grandes
demais para quebrar" e criar condições para um crescimento seguro.

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O Estado de S. Paulo - 28/01/2010

As ditaduras não costumam consolidar-se desrespeitando as leis, as liberdades, as garantias e os valores das pessoas em apenas um
campo. Mas no conjunto da quebra de direitos, traçada por esses regimes, a intolerância à livre expressão é sempre uma prioridade.
Por isso não surpreende, na Venezuela de Hugo Chávez, a retirada do ar ?junto com mais cinco emissoras a cabo ? da popular RCTV,
por não transmitir em cadeia um discurso do caudilho.

Em 16 de julho de 2007 o caudilho venezuelano já retirara o sinal aberto da RCTV, que nunca se enquadrou nos padrões de
comunicação exigidos pelo autoritarismo bolivariano. Atualmente, a RCTV só transmite sinal a cabo. Também não se enquadraram
as 34 emissoras de rádio retiradas do ar pelo esbirro de Chávez, o tenente DiosdadoCabello, diretor da Comissão Nacional de
Telecomunicações (Conatel), com base em leis aprovadas sob medida pela Assembleia Nacional, totalmente dominada pelo
chavismo. A Conatel também aplicara multa equivalente a US$ 2 milhões à Globovisión por ter difundido a notícia de um tremor de
terra em Caracas.

O autoritarismo bolivariano nada tem de original. O truculento cerceamento da liberdade e da independência dos veículos de
comunicação é um dos instrumentos que os governos ditatoriais usam para sufocar a reação popular a outras truculências. No dia 8,
Chávez alterou a cotação da moeda venezuelana e criou um câmbio duplo ?isso num país que importa 80% do que consome. O
governo combate a escassez e a carestia, expropriando supermercados, como fez com o do grupo francês Exito. Mas o governo
Chávez dá sinais de cisão, como indicam as renúncias do vice-presidente e ministro da Defesa, Ramón Garrizalez; de sua mulher,
ministra do Meio Ambiente; do ministro da Ciência e Tecnologia, Jesse Chacon; do ministro da Energia Elétrica, Angelo Rodrigues; e
do presidente do Banco Central, Vasquez Orellana.

É evidente que Chávez aumentou a violência contra a liberdade de imprensa na inútil tentativa de ocultar a situação cada vez mais
deteriorada da economia e da administração pública bolivarianas. Só que não há como esconder do público a carestia, a escassez
de produtos essenciais e os apagões frequentes. Apesar de ameaçada de ser fechada pelo governo, a emissora Globovisión ainda
ecoa os protestos e manifestações populares contra a arbitrariedade do regime. Foi essa emissora, por exemplo, que divulgou a
convocação do prefeito de Caracas, AntonioLedezma, para um panelaço de protesto contra o fechamento da RCTV.

Cresce entre a população venezuelana a reação aos desmandos chavistas. No sábado, milhares de pessoas foram às ruas protestar
contra as políticas que levaram ao colapso do setor elétrico, à crise de abastecimento e a uma inflação acima de 25%. A Igreja, por
meio do cardeal-arcebispo de Caracas, Jorge UrosaSavino, deplorou o fechamento da RCTV. "Não podemos assistir passivamente a
essas coisas. Temos de lutar para que respeitem nosso direito. Calar um meio de comunicação não contribui em nada para a
manutenção do Estado de Direito, mas sim enfraquece as garantias constitucionais."

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou com veemência o fechamento da RCTV e de outros canais pelo governo
Chávez. Como disse o presidente da organização, Alejandro Aguirre, "a SIP continuará criticando e condenando as ações de um
governo que há muitos anos está se apoiando em leis intolerantes para atacar a liberdade de imprensa e fechar meios de
comunicação independentes".

O avanço de Chávez no cerceamento à liberdade de expressão não é um fenômeno isolado no continente latino-americano. Em
outros países, como a Bolívia de Evo Morales, o Equador, de Rafael Correa, e a Argentina do casal Kirchner, quem já está no poder
adota medidas concretas para encilhar a imprensa. No Brasil, os autoritários incrustados no governo democrático divulgam projetos
que outro propósito não têm, a não ser impedir a livre manifestação do pensamento e das opiniões com assinatura do presidente
Lula.

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Autor(es): Renée Pereira, Raquel Landim

O Estado de S. Paulo - 04/02/2010

O etanolbrasileiro conquistou ontem a maior vitória dos últimos tempos: a chancela para entrar nos Estados Unidos e, posteriormente,
no mercado global. A Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol feito de cana-de-açúcar como um
combustível avançado, que reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 61% comparado à gasolina.

A decisão abre um mercado para o biocombustível brasileiro nos EUA entre 15 bilhões e 40 bilhões de litros nos próximos 12 anos.

"O impacto de médio e longo prazos dessa decisão é mais importante até que uma eventual redução da tarifa de importação de
etanoldos Estados Unidos", avaliou o representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em Washington, Joel
Velasco. As usinas nacionais trabalham há dois anos para convencer o órgão americano do benefício doetanol para reduzir a
emissão de gases de efeito estufa.

A nova legislação americana estabelece um consumo mínimo de biocombustíveis superior a 45 bilhões de litros este ano. A previsão
é elevar esse volume para até 136 bilhões de litros em 2022. Uma fatia de 80 bilhões de litros será reservada para os biocombustíveis
avançados, que são celulósico, diesel de biomassa e outros. O etanolbrasileiro tem agora uma fatia garantida de 15 bilhões de litros
?um volume três vezes maior que todo o etanol exportado pelo Brasil em 2008.

Para ser considerado um biocombustível avançado, é preciso reduzir a emissão de CO2 em pelo menos 40% em relação à gasolina.
Além de ocupar o espaço reservado para os "outros avançados", os usineiros brasileiros querem convencer os Estados Unidos de que
o etanol de cana-de-açúcar pode ser usado também no lugar do celulósico, que ainda não tem produção comercial e deve
chegar ao mercado com um custo bastante elevado.

A classificação de "avançado" é uma grande vitória para o combustível brasileiro. Antes dessa decisão, a agência americana já
havia soltado uma minuta em que sinalizava que o etanol de cana reduzia em apenas 26% as emissões de CO2. O cálculo
considerava outros fatores, como o uso da terra, ou seja, o aumento da área plantada de cana deslocaria outras culturas rumo a
Amazônia.

O porcentual de 61% estabelecido pela EPA veio próximo do pleito da Unica, que dizia que o etanol reduz em 72% as emissões de
CO2. O etanol de milho, por sua vez, diminui em 20% comparado à gasolina. Os produtores de milho fazem forte lobby no Congresso
dosEUApor seu combustível.

Para combater esse protecionismo, a Unica montou uma estrutura, em Washington e no Brasil, com cientistas, professores e
especialistas de lobby. "Boa parte da decisão dosEUA foi resultado do estudo técnico que enviamos à EPA", disse o diretor executivo
do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar.

O próximo passo da Unicaé derrubar a tarifa de importação do etanol nos EUA, que está em US$ 0,54 por galão, e expira no fim do
ano.

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02/02 - 12:46 - Agência Estado

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Afinal, temos um sistema que se decompôs na mais séria crise em 75 anos. O custo foi enorme em termos de desemprego e perda de
produção. As repercussões foram internacionais.

Foi necessária uma ação agressiva por governos e bancos centrais - realmente sem precedente tanto em magnitude como em
alcance - para reviver e sustentar o funcionamento do mercado. Parte desse amparo continua até hoje. Tanto aqui nos Estados
Unidos como alhures, algumas das maiores e mais orgulhosas instituições financeiras - incluindo tanto bancos comerciais como de
investimentos - foram resgatadas ou se fundiram com a ajuda de vultosos recursos oficiais. Essas ações foram empreendidas pelo bem
justificado temor de que sua completa falência arruinaria irreparavelmente o funcionamento do mercado e prejudicaria ainda mais
a economia real, que já estava em recessão.

Agora, a economia está se recuperando, ainda que num ritmo modesto. Os recursos estão fluindo com maior agilidade pelos
mercados financeiros, mas isso ainda está longe da normalidade. Discute-se aqui e no exterior sobre reformas específicas, muitas das
quais foram expostas pela administração americana: requisitos apropriados de capital e liquidez dos bancos; melhor supervisão
oficial de um lado e, de outro, aperfeiçoamento da administração de risco e supervisão de conselhos diretores de instituições
privadas; e outras.

Como o presidente Obama enfatizou, algumas questões estruturais centrais ainda não foram satisfatoriamente tratadas.

Uma grande preocupação é o resíduo de risco mortal dos esforços extensos e bem-sucedidos de bancos centrais e governos para
salvar grandes instituições financeiras quebradas ou potencialmente falimentares. A antiga "rede de segurança" que asseguravaa
estabilidade de bancos comerciais - garantia de depósitos e instituições emprestadoras em último recurso - foi tanto reforçada como
estendida numa série de decisões específicas para apoiar bancos de investimento, provedores de empréstimos hipotecários, e a
maior companhia de seguros do mundo. No processo, administrações, credores e, em certa medida, acionistas dessas instituições
não bancárias foram protegidos.

A expressão "grande demais para falir" entrou no vocabulário do dia a dia. Ela carrega a implicação de que instituições financeiras
realmente grandes, complexas e altamente interconectadas podem contar com o amparo público em momentos críticos. O
sentimento de ultraje público sobre o tratamento aparentemente injusto é palpável. Para além da emoção, o resultado é conceder
a essas instituições uma vantagem competitiva no seu financiamento, no seu tamanho e na sua capacidade de assumir e absorver
riscos.

Do jeito que as coisas estão, a consequência será aumentar os incentivos a assumir riscos e a alavancagem, com a implicação de
um sistema financeiro ainda mais frágil. Precisamos encontrar arranjos mais eficazes para o risco de quebras.

Para tratar desse desafio, precisamos reconhecer que as operações básicas dos bancos comerciais são parte integrante do bom
funcionamento de um sistema financeiro privado. São essas instituições que administram e protegem, afinal, os sistemas básicos de
pagamentos dos quais todos nós dependemos. Mais amplamente, elas fornecem a função intermediadora fundamental de
combinar a necessidade de depósitos seguros e prontamente acessíveis de recursos líquidos com a necessidade de fontes confiáveis
de crédito para empresas, indivíduos e governos.

Combinar essas funções essenciais inevitavelmente traz riscos, às vezes, substanciais. Foi por isso que Adam Smith defendeu, há mais
de 200 anos, a manutenção de bancos pequenos. Assim, uma falência individual não seria destrutiva para a economia. Essa
abordagem não parece realmente factível nos dias de hoje por causa do tamanho das empresas, do investimento substancial
necessário em tecnologia e do alcance nacional e internacional requerido.

Em vez disso, os governos há muito proporcionaram uma "rede de segurança" a bancos comerciais. O risco moral implícito teve o
contrapeso de uma regulação e supervisão mais estritas. Requisitos bancários melhorados e restrições à alavancagem também estão
sendo analisados em fóruns internacionais como elementos fundamentais de uma reforma.

A outra proposta apresentada recentemente pelo presidente para limitar as atividades aceitas dos bancos aborda o problema de
uma direção complementar. O ponto de partida é que acrescentar novas camadas de risco aos riscos inerentes das funções
essenciais dos bancos comerciais não faz sentido, não quando esses riscos decorrem de atividades mais especulativas muito mais
adequadas a outras áreas dos mercados financeiros.

Os pontos específicos em questão são a propriedade ou o patrocínio de fundos hedge e fundos de privateequity, e o trading
proprietário - isto é, colocar capital do banco em risco na busca de lucros especulativos, em vez de colocá-lo para atender às
necessidades dos clientes. Essas atividades são ativamente empreendidas por apenas um punhado de megabancos comerciais
americanos, talvez quatro ou cinco. Somente 25 ou 30 devem ser significativos em escala internacional.

Afora os riscos inerentes dessas atividades, elas também representam conflitos de interesses virtualmente insolúveis na relação com os
clientes, conflitos que simplesmente não podem ser contornados pela elaboração das chamadas muralhas chinesas entre diferentes
divisões de uma instituição.

O outro ponto é que as três atividades em questão - que em si são partes legítimas e úteis de nossos mercados de capitais - não são
de maneira nenhuma dependentes da propriedade de bancos comerciais. Hoje em dia, há, literalmente, milhares de fundos hedge
e fundos de privateequity independentes de tamanhos muito variados perfeitamente capazes de manter mercados competitivos
inovadores. Individualmente, essas instituições independentes do mercado de capitais, em geral financiadas privadamente, são
muito dependentes, como outras empresas, dos serviços bancários comerciais, incluindo, no seu caso, a corretagem preferencial. A
propriedade de banco comercial só faz inclinar um "campo de jogo nivelado" sem um claro valor agregado.

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Pouquíssimas dessas instituições do mercado de capitais, tanto por seu tamanho tipicamente mais limitado como por suas fontes mais
estáveis de financiamento, poderiam apresentar uma pretensão crível a ser "grande demais" ou "interconectada demais" para falir.
Aliás, um número considerável dessas instituições quebra ou sai voluntariamente do negócio em tempos problemáticos sem nenhuma
consequência adversa para a viabilidade dos mercados.

O que precisamos é de uma proteção contra os grandes que se desviam da norma. Há um número limitado de bancos de
investimento (ou, talvez, de companhias de seguros e outras empresas) cuja falência seria perturbadora a ponto de suscitar
preocupações com uma ruptura mais ampla do mercado. Nesses casos, a autoridade de uma agência supervisora poderosa para
limitar seu capital e sua alavancagem seria importante, como o presidente propôs.

Para cobrir a possibilidade de que a falência dessas instituições possa ainda assim ameaçar o sistema, as propostas de reforma da
administração Obama e de outros governos apontam para a necessidade de uma nova "autoridade de resolução".
Especificamente, a agência apropriadamente designada deveria ser autorizada a intervir na eventualidade de uma instituição
sistemicamente crítica do mercado de capitais ficar à beira da falência. A agência assumiria seu controle para o exclusivo propósito
de organizar uma liquidação ou fusão ordenada. Recursos limitados seria colocados à disposição para manter a continuidade das
operações enquanto se prepara o encerramento da organização.

Para facilitar esse processo, o conceito de um atestado de aceitação de riscos foi estabelecido por alguns governos. Acionistas e
administração não seriam protegidos. Credores estariam em risco e sofreriam na medida em que o valor de liquidação final da
empresa ficaria aquém de suas dívidas.

Em suma, em nenhum sentindo essas instituições do mercado de capitais seriam julgadas "grandes demais para falir". O que estariam
livres para fazer é inovar, comercializar, especular, gerir pools de capital privado e, como as empresas comuns numa economia
capitalista, para falir.

Não estou tratando aqui de outras questões-chaves da reforma estrutural. Evidentemente, como parte do presente programa de
reforma, seria preciso acertar acordos efetivos para compensações e entendimentos e outras restrições no hoje imenso mercado de
derivativos. O mesmo deveria ser necessário para uma agência designada - de preferência o Federal Reserve (Fed, o banco central
dos EUA) - encarregada de acompanhar e avaliar os desdobramentos do mercado, identificando pontos de fraqueza e
recomendando medidas para lidar com os problemas emergentes. Esses e outros assuntos são parte da proposta da administração e
estão agora sob avaliação internacional.

Neste país, acredito que a regulação das grandes companhias de seguros que operam em muitos Estados precisa ser revista.
Enfrentamos também um grande desafio na reconstrução de um mercado hipotecário privado eficiente e competitivo, uma área
em que é necessária a participação de bancos comerciais. Essas são questões que ficam para um outro dia.

O que é fundamental agora é que trabalhemos com outras nações que tenham grandes mercados financeiros para chegarmos a
um consenso amplo num esboço para as necessárias reformas estruturais, certamente incluindo as que o presidente expôs
recentemente. Espero, sinceramente, que autoridades internacionais e estrangeiras importantes estejam preparadas para se engajar
nesse esforço. No processo, pontos importantes de detalhes operacionais terão de ser resolvidos, incluindo o esclarecimento do leque
de atividades de trading apropriadas para os bancos comerciais e o apoio às relações com os consumidores.

Estou perfeitamente ciente de que há partes interessadas que anseiam por uma volta das coisas como elas eram, enquanto
conservam o conforto de permanecer protegidas pela rede de segurança oficial. Argumentarão que elas próprias e reguladores e
supervisores inteligentes, armados com as experiências recentes, podem manter a necessária vigilância, antecipar os perigos e lidar
com os riscos.

Da minha parte, eu lhes digo que não há nenhum substituto a uma mudança estrutural, ponto em que o presidente insistiu com muita
ênfase.

Eu estive lá - como regulador, como presidente do banco central, como funcionário e diretor de banco comercial - por quase 60
anos. Observei como as memórias se apagam. Indivíduos mudam. As pressões institucionais e políticas para "dispensar" regulamentos
duros persistirão, mais notadamente no bom tempo que inevitavelmente antecede a tempestade.

A implicação é clara. Precisamos enfrentar as mudanças estruturais necessárias e colocá-las em lei. Fazer menos significará um
fracasso final - fracasso em aceitar a responsabilidade de aprender com as liç ões do passado e antecipar as necessidades do futuro.

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Autor(es): Por Yvo de Boer

Valor Econômico - 04/02/2010

O acordoobtido em Copenhague deve ser usado para sanar as áreas de divergência que existem nas conversações em curso

Em dezembro, a maioria dos dirigentes de países do mundo reuniram-se em Copenhague para chegar a um acordo sobre ações
imediatas no combate às mudanças climáticas. Não chegamos a um acordo como se pretendia. A tarefa tornou-se, portanto, mais
urgente. Quanto mais tempoos países demorarem a agir em conjunto, menor será a oportunidade de resolver o problema do clima.

Copenhague conseguiu, porém, colocar o desafio no mais alto nível das políticas governamentais, nível que, em última análise, terá
de ser resolvido. Além disso, produziu um consenso entre os líderes sobre uma resposta coletiva de longo prazo para as mudanças
climáticas, bem como um conjunto de medidas para a execução de ações mundiais destinadas a combatê-las, que ficou quase
concluído. Esses dois elementos mostram o caminhoque devemos seguir.

O Acordo de Copenhague foi forjado por um grupo de países entre os quais se incluíram os maiores, os mais ricos, os mais pobres e os
menores e englobou os que são responsáveis por 80% das emissões mundiais. Representa uma carta de intenções políticas que visa
limitar o aumento da temperatura mundial, pede aos países que registrem os compromissos nacionais de redução das emissões e
promete financiamentos concretos em curto e longo prazo para os países em desenvolvimento. O Acordo não foi aceito como uma
decisão formal nos termos da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. No entanto, os seus objetivos apoiam-se
firmemente nos da Convenção. Qualquer país pode neste momento aderir a esses objetivos. Muitos países prometeram ações antes
de Copenhague e o mundo espera agora que honrem essas promessas.

Os contatos que tenho mantido com as nações que aceitaram o Acordo revelam uma mensagem vigorosa: eles acreditam queo
acordo não deve conduzir a uma nova via de negociação e que deve ser utilizado para sanar as áreas de divergência que existem
nas conversações em curso.

Além disso, em Copenhague, os negociadores se aproximaram de decisões sobre um conjunto de medidas para viabilizar a ação
em longo prazo: um quadro destinado a ajudar os países pobres a se adaptarem, um mecanismo para acelerar a transferência de
tecnologias, um programa para reforçar as capacidades e acordos em matéria de redução das emissões causadas pelo
desmatamento e pela agricultura.

Os países vão levar algum tempo para assimilar essas ações. É bom que seja assim, pois têm que superar o desafioqueos espera.
Agora, os países industrializados podem retomar as conversações sobre suas metas, com vista a reduzir suas emissões entre 25% e 40%,
nível queos cientistas consideram necessário para evitar os piores impactos das alterações climáticas. A não consecução desse
objetivo exigirá forçosamente um grau de ambição maior, mais tarde.

É necessárioqueos países discutam a forma como vão assegurar os financiamentos em longo prazo. Não esqueçamos, por outro
lado, que em Copenhague os países prometeram US$ 28 bilhões em curto prazo para financiar ações imediatas, e que esse dinheiro
se encontra parado nos orçamentos nacionais. Os países têm que encontrar formas de mobilizar esses fundos o mais rapidamente
possível para que ações imediatas possam ser tomadas.

Devem enfrentar também a questão de saber se as mudanças geopolíticas estarão dificultando a consecução de acordos
multilaterais. A minha resposta é queos acordos multilaterais são a única ferramenta queo mundo dispõe para estabelecer leis,
regulamentos, normas de contabilidade e mecanismos de mercado para consolidar e catalisar a ação mundial e garantir sua
integridade. É cada vez mais difícil para os países agirem confiantemente sem esses pontos de referência, num mundoque não está
às ordens de nenhum bloco.

Todas as ferramentas de que dispomos para combater as mudanças climáticas em escala mundial têm que passar por um processo
multilateral: o Protocolo de Kyoto, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o Fundo para Adaptação destinado aos países em
desenvolvimento, e o componente financeiro da Convenção - o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) -, que garantemo
acesso a financiamentos por parte dos mais pobres e mais vulneráveis. Reinventar essas estruturas implicaria em perda de tempo e
dinheiroqueo mundo nãotem.

Copenhague propôs-se a produzir um acordo em quatro áreas essenciais: as reduções das emissões em médio prazo pelos países
industrializados; as medidas a adotar pelos países em desenvolvimento para limitar as emissões; fundos para realizar as ações
necessárias; e uma governança equitativa do regime adotado para combater as mudanças climáticas. Essas questões são mais
pertinentes doque nunca. Se os países seguirem calmamente os resultados acordados em Copenhague, pensando no interesse
coletivo, então terão toda a probabilidade de honrar essa promessa.

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Martin Wolf (2010) Como a balança de poder global continua se deslocando ano a ano, olha-se o vigor das economias emergentes
com admiração, inveja e até com medo. , 03.02.2010

Então que conclusões tirei do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos? Eu me senti como se estivesse sentado na
cabeceira de alguém que tivesse sobrevivido a um ataque cardíaco, mas que não estivesse certo de quanto tempo precisaria para
recuperar o pleno vigor, se é que poderia recuperá-lo. O clima dos "homens de Davos" (sim, a maioria ainda é composta de homens)
foi, como observou o meu colega GideonRachman, de ansiedade. Enquanto isso, os participantes no encontro ainda
predominantemente ocidental olhavam para o vigor jovem das economias emergentes com admiração, inveja e até medo.

Para mim, o destaque do programa foi a sessão da perspectiva econômica, no sábado. Não afirmo isso apenas por eu ter sido o
moderador. O ponto de partida para a discussão foi óbvio: as intervenções políticas no fim de 2008 e 2009 foram um sucesso
retumbante. O resultado foi uma recessão muito mais breve e superficial do que a maioria dos participantes havia imaginado um ano
atrás.

Isso é evidente em função dos sucessivos consensos de projeções para 2010. Para quase toda economia importante, a projeção
para crescimento neste ano é mais elevada do que foi um ano ou até seis meses atrás. A economia mundial sobreviveu ao ataque
cardíaco no sistema financeiro.

Ela conseguiu isso como resultado de estímulos fiscais e monetários sem precedentes em tempos de paz. Essas ações foram essenciais
e bem-sucedidas. Foi inevitável, em particular, que os maiores aumentos nos déficits fiscais ocorreram onde a bolha de crédito do
setor privado foi maior: EUA, Reino Unido e Espanha, acima de tudo.

A China também articulou um programa de estímulo maciço, como assinalou Zhu Min, o vice-presidente do Banco do Povo da
China, na discussão.

As grandes questões para este ano são com que agilidade se deve retirar os estímulos fiscais e monetários e qual deve ser retirado
antes. No mundo mais amplo, há enorme pressão para começar o aperto agora. Alguns, especialmente no Partido Republicano nos
EUA, argumentam que, já que a economia não retornou ao emprego pleno, o estímulo fracassou e deve ser retirado imediatamente.
Existe um argumento muito mais plausível de que teria sido inadequado. Mas a política evita posturas contrafatuais: "salvamos você
de uma depressão" não é um lema vencedor de eleições.

Na consideração da estratégia da saída, citei um ideograma inventado por Sir Martin Sorrell, da WPP: "LUV", que descreve o formato
das recuperações das economias europeia, norte-americana e emergentes, respectivamente. O que precisa ser feito depende do
estado das várias economias, com o argumento em prol do estímulo continuado mais forte na Europa e mais fraco nas economias
emergentes em recuperação. Essa ideia foi apresentada por Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI. Ele também apresentou
outro: se sairmos tarde demais desperdiçaremos recursos em déficits e dívidas públicas excessivos se sairmos cedo demais, corremos
o risco de sofrer um choque devastador na confiança, devido a uma "recaída recessiva". Dada essa assimetria, não deveríamos
retirar o estímulo precocemente.

Considerando que Strauss-Kahn representa o FMI "predominantemente fiscal", suas palavras têm muito peso. Não há muita evidência
de uma sólida elevação na demanda final do setor privado em países de alta renda. Enquanto essa situação se mantiver, existirá
perigo numa retirada prematura do apoio fiscal. São necessários planos confiáveis de médio prazo para a consolidação fiscal, mas
aqueles cuja implantação dependa das condições econômicas. Enquanto isso, a política monetária deve continuar sendo a de dar
apoio.

No entanto, a saída é meramente o desafio mais iminente. Duas tarefas de prazo relativamente mais longo se aproximam: a reforma
do setor financeiro e o reequilíbrio duradouro da demanda na economia mundial. Em nenhum dos dois pontos é possível sair otimista
de Davos. Sejam quais forem os seus méritos, o anúncio unilateral do presidente Barack Obama da "regra Volcker" sobre operações
de tesouraria foi um choque, apesar de alguns terem saudado o ímpeto político renovado. Mais uma vez, é questionável se o
"programa de avaliação mútua" lançado pelos chefes de governo do G-20 em Pittsburgh em setembro obterá o apoio necessário.
Mas um número excessivamente grande de países está dependendo de crescimento puxado por exportações como forma de
equilibrar sua retirada de estímulo doméstico. Essa é uma receita para a estagnação. A Terra não pode, afinal, esperar manter
superávits em conta corrente com o povo de Marte.

Isso nos deixa com uma grande questão: será possível sustentar uma economia mundial aberta? Representantes das economias
emergentes continuaram solidamente a favor. No entanto, como Nicolas Sarkozy, o presidente da França, teve o prazer de observar
no seu discurso de abertura, a crise financeira afetou a legitimidade da economia de mercado global perantemuitos olhos
ocidentais. Realmente, algumas vezes ele simplesmente soava como qualquer outro manifestante antiglobalização. Lawrence
Summers, o principal assessor econômico de Obama, também destacou que "o que estamos vendo nos EUA e possivelmente em
outros lugares é uma recuperação estatística e uma recessão humana". Na opinião dele, a combinação de desemprego elevado
com "políticas mercantilistas" em partes do mundo dificulta a defesa do comércio liberal politicamente, ou, talvez, até
intelectualmente. A menos que a recuperação comprove ser muito mais sólida do que o esperado, a alta taxa de desemprego
persistirá nos países ocidentais, com todos os perigos políticos que isso acarreta.

Os maiores desafios, portanto, são políticos. Os líderes do mundo demonstraram uma capacidade impressionante de lidar com a
crise. A vontade de cooperar, vista especialmente na ascensão do G-20, foi notável. Mas esse tipo de cooperação se torna muito
mais difícil à medida que retornamos à política costumeira, especialmente considerando o alto desemprego e as profundas divisões
políticas dentro dos EUA, ainda a potência hegemônica do mundo. A União Europeia continua ineficaz. De fato, a incapacidade da

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zona do euro de lidar com o fato de que a periferia não pode escapar da sua cilada fiscal sem sólida expansão na demanda no
centro é prova disso. A China, igualmente, é introspectiva. Zhu prometeu reequilíbrio. Mas o que acontecerá após as medidas de
estímulo atuais forem retiradas?

Temos um mundo globalizado, mas a política continua local. Em épocas de crise, a pressão para cuidar do primeiro domina o último.
Mas agora enfrentamos uma missão diferente: a missão da convalescença e da sua associada volta às políticas de sempre. Ninguém
pode imaginar que administrar essa transição comprovará ser fácil. Mas, como a balança de poder global continua se deslocando
ano a ano, o desafio deve ser enfrentado. Se não for, a economia global e a cooperação global ainda poderão ir a pique. Estaé
principal lição que aprendi em Davos.

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Autor(es): Javier Santiso

Valor Econômico - 01/02/2010

O eixoAtlânticoaos poucos deixa de ser o centro das relações econômicas e financeiras

O deslocamento dos centros econômicos em direção à Ásia foi uma das principais novidades econômicas da década. O
eixoAtlântico está deixando de ser o centro de gravidade das relações econômicas e financeiras, dando lugar a um maior papel do
eixo Pacífico. Essa estrutura geológica das relações internacionais ficou refletida, em particular, pela maior relevância que aChina
passou a representar para uma região comoaAmérica Latina. A crise de 2008, não só ficou longe de frear essas tendências como, ao
contrário, as acelerou.

Dessa forma, em 2008, aChina transformou-se em um dos principais parceiros comerciais daAmérica Latina. Nesse ano, o comércio
entre as duas regiões superou os US$ 140 bilhões. Em 2009, aChina tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, a principal
economia latino-americana. Isso, obviamente, não é uma tendência única da região: em 2009, aChina também se tornou a maior
parceira comercial da África do Sul e Índia, apenas para mencionar outros continentes e países.

O consumo chinês voltou a pressionar para cimaos preços das matérias-primas exportadas pelos países daAmérica Latina. Enquanto
nos Estados Unidos as vendas de carros despencam, impactandoas exportações de autopeças do México; naChina, elas disparam,
alimentando mais e mais importações de matérias energéticas, petróleo, cobre e outros minerais. Nos próximos dez anos, de acordo
com estimativas do Deutsche Bank, as importações chinesas de petróleo deverão crescer 21%; as de cobre, 16%; as de madeira, 13%;
e as de carne de porco, 11%; matérias-primas e agrícolas produzidas e exportadas por vários países americanos, como Brasil,
Argentina, Peru e Chile.

A essa esfera comercial também se deve somar a dimensão financeira. Hoje em dia, o estoque de investimentos externos diretos
chineses no mundo chegaaapenas US$ 170 bilhões, uma quantia de certa relevância, mas muito distante das magnitudes
alcançadas por suas reservas, que superaram os US$ 2 trilhões em 2009. A projeções do JP Morgan sinalizam que essa poupança
chinesa chegará a mais de US$ 16 trilhões em 2020. Uma parte dessa liquidez terá que sair do país, em particular, via investimentos
externos diretos, participações minoritárias ou outras formas de investimento fora do país.

Os países e regiões que saibam captar esse potencial sairão ganhando com oapogeu chinês. AAmérica Latina, com sua forte
capacidade agrícola e de produção de matérias-primas é, sem dúvida, uma região que pode sair ganhando.

Na próxima década, aChina representará uma grande sorte, mas também um desafioparaa região. Tudoo que ocorrer, ou deixar de
acontecer no país terá repercussões maiúsculas naAmérica Latina. Em 2009 já vimos isso (nesse caso, de maneira positiva):
enquantoo México vive um declínio histórico de seu Produto Interno Bruto (PIB), em grande parte influenciado por sua proximidade
com os Estados Unidos, o epicentro daatual crise mundial, o Brasil, por sua vez, sofreu apenas um ajuste e, em 2010, já crescerá nos
limites de seu potencial, de quase 5%, de acordo com as estimativas daOrganizaçãopara Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE).

Isso significa dizer que esse último país, também em parte pela maior diversificação de suas exportações à Ásia e, em particular, à
China, e pela recuperação do preço de matérias-primas, como petróleo, minério de ferro e soja, aproveitaa sorte de ser puxada, em
parte, pela demanda chinesa. Empresas comoa Vale, uma das maiores produtoras de minerais do mundo, que obteve quase 45% do
lucro e receitas no mercado chinês, e a Petrobras, que acaba de concluir acordo gigantesco de US$ 10 bilhões com seus sócios
chineses, são simbólicas daaproximação entre Brasil e China.

No futuro, os movimentos de baixaou alta do PIB daChina não passarão indiferentes na região. A máxima tão utilizada que dizia
"quandoos Estados Unidos espirram, aAmérica Latina fica resfriada" também passará a valer paraaChina: quando Pequim acelerar
ou desacelerar seu ritmo de crescimento, a região também sentirá os ventos e marés do ExtremoOriente.

Economia Global
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Autor(es): Agências internacionais

Valor Econômico - 03/02/2010

O aumento da tensão diplomática entre a China e osEUA ameaça gerar repercussões econômicas. Pequim reiterou ontem sua
intenção de levar adiante sanções contra empresas americanas que vendam armas a Taiwan. Além disso, fez ameaças veladas
contra Washington ao dizer que o estremecimento das relações entre as duas maiores potências mundiais poderia prejudicar a
recuperação econômica dosEUA - a China é o maior detentor de títulos americanos.

No último de uma série de casos antagonizando os dois países, Pequim disse que um possível encontro do presidente dosEUA, Barack
Obama, com o líder tibetano Dalai Lama vai abalar ainda mais as relações sino-americanas. O regime chinês está cada vez mais
assertivo na sua oposição aos encontros do Dalai Lama com dignitários estrangeiros.

O tema se soma a outros entraves nas relações entre Pequim e Washington. Já há atritos por causa de assuntos como política
cambial, comércio, medidas para evitar as mudanças climáticas, controle da internet e Taiwan.

Há especulações deque Obama se encontraria com o Dalai Lama durante uma visita do líder espiritual budista aosEUA, nos próximos
meses. O secretário de Imprensa da Casa Branca, Bill Burton, disse que o presidente americano pretende se encontrar com o líder
tibetano, mas não há ainda data para o evento.

A China considera o Dalai Lama como um ativista separatista. O dirigente comunista Zhu Weiqun disse que o regime vai se opor
veementemente ao eventual encontro. "Se isso vier a ocorrer, então a China terá forte oposição", disse Zhu, que chefia um
departamento responsável por questões religiosas e étnicas.

A China elevou o tom das suas críticas ao Dalai Lama desde a repressão violenta do regime a uma série de manifestações de
tibetanos em março de 2008. Presidentes anteriores a Obama encontraram-se com o Dalai Lama.

Segundo Zhu Weiqun, o eventual encontro "seria totalmente contrário às práticas internacionais aceitas e iria abalar seriamente a
base política das relações sino-americanas".

Zhu foi além e lançou uma ameaça velada. "Se o líder dosEUA escolhe este momento para encontrar o Dalai Lama, isso iria danificar
a confiança e a cooperação entre os nossos dois países, e como isso iria ajudar osEUA a superar a atual crise econômica?"

Huang Jing, professor da Universidade Nacional de Cingapura, diz que uma escalada na tensão entre os dois países poderia fazer
com que a China se tornasse menos propensa a cooperar em assuntos financeiros, assim como nos esforços para mitigar os efeitos da
crise global de crédito. Para ele, "os chineses podem adotar uma visão míope em relação aosEUA e os americanos podem adotar
medidas protecionistas em relação à China", caso a tensão se estenda.

Indústrias americanas estão na linha de fogo. Ontem, MaZhaoxu, porta-voz da Chancelaria chinesa, reiterou que a China pretende
impor sanções a empresas americanas envolvidas na venda de armas a Taiwan. Pequim considera a ilha uma sua Província rebelde.

Há considerações políticas nos dois países que podem tornar mais difícil que qualquer parte ceda. A elite comunista chinesa vem
lutando por mais influência num momento em que já prepara a sucessão dos principais cargos do país, em 2012. Enquanto isso,
Obama enfrentará eleições legislativas em novembro e já vem recebendo pressão dedeputados e Senadores para forçar a China a
valorizar sua moeda e equilibrar seu comércio.

Economia Global
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Autor(es): GideonRachman, Financial Times

Valor Econômico - 03/02/2010

O caso do Google com a China envolve bem mais do que o destino de uma poderosa empresa individual. A decisão da companhia
de sair da China, a menos que o governo chinês não mude suas políticas sobre censura, é um prenúncio de relações cada vez mais
tempestuosas entre os EUA e a China.

A razão pela qual o caso do Google é tão significativo é que sugere que os pressupostos nos quais se baseia a política americana
para a China desde o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, podem estar totalmente errados. Os EUA aceitaram e até
comemoraram a ascensão da China a potência económica pois as autoridades americanas se convenceram de que a abertura
econômica resultaria em liberalização política na China.

Se essa premissa mudar, a política americana para a China pode também mudar. Receber de braços abertos a ascensão de uma
economia asiática gigantesca que está se transformando numa democracia liberal é uma coisa. Patrocinar a ascensão de um
Estado de partido leninista único, único rival geopolítico plausível dos EUA, é outra coisa bem distinta. Combine esta desilusão política
com o desemprego de dois dígitos nos EUA, amplamente atribuído à manipulação do câmbio chinês, e teremos a fórmula para uma
reação anti-China.

Tanto Bill Clinton como George W. Bush acreditavam firmemente que o livre comércio e, em especial, a era da informação, tornariam
irresistíveis mudanças políticas na China. Em visita aos chineses, em 1998, Clinton proclamou: "Nesta era de informação mundial,
quando o sucesso econômico é construído sobre ideias, a liberdade pessoal é essencial para a grandeza de uma nação". Um ano
mais tarde, Bush fez uma observação semelhante: "A liberdade econômica cria hábitos de liberdade. E hábitos de liberdade criam
expectativas dedemocracia... Comercializemos livremente com os chineses e o tempo estará do nosso lado."

Os dois presidentes refletiam a visão consensual entre os especialistas americanos mais influentes. Tom Friedman, colunista do "The
New York Times" e autor de best-sellers sobre globalização, certa vez disse sem rodeios: "A China terá uma imprensa livre. A
globalização a imporá." Robert Wright, um dos pensadores preferidos de Clinton, argumentou que, se a China optar por impedir o
acesso gratuito à internet, "o preço seria um frustrante fracasso econômico".

Até agora, os fatos se recusam a obedecer à teoria. A China continua a censurar meios de comunicação novos e antigos, mas isso
não a condenou a "sombrio fracasso económico". Ao contrário, o país é hoje a segunda maior economia e o maior exportador do
mundo, com reservas internacionais acima de US$ 2 trilhões. Mas todo esse crescimento econômico mostra poucos sinais de provocar
as mudanças políticas previstas por Bush e Clinton. Na verdade, o governo parece estar ficando cada vez mais repressivo. Liu Xiaobo,
um importante dissidente chinês, foi recentemente condenado a 11 anos de prisão por envolvimento no movimento Carta 08, que
defende reformas democráticas.

A decisão do Google de confrontar o governo chinês é um sinal precursor de que os americanos estão ficando fartos de lidar com o
autoritarismo chinês. Mas as maiores pressões provavelmente virão dos políticos, e não de empresas. O Google é uma empresa
incomum num setor extraordinariamente politizado. Se o Google realmente sair da China, é improvável que seja seguido por
debandada de outras multinacionais. Para a maioria das grandes empresas, o mercado chinês é muito grande e tentador para ser
ignorado. As empresas dos EUA provavelmente continuarão a ser o grupo de pressão que mais defenderá um envolvimento
continuado com a China.

As pressões em favor de um desengajamento virão de grupos de ativistas defensores direitos de trabalhadores, dos falcões no setor
de segurança e de políticos, especialmente no Congresso. Até agora, o governo Obama baseou sua política firmemente nas
premissas que têm regido a abordagem americana para a China há uma geração. O recente discurso padrão de Obama sobre a
Ásia foi uma declaração clássica das justificativas para o engajamento dos EUA com a China, sem faltar a afirmação ritualística de
que os americanos saúdam a ascensão chinesa. Mas, após ser censurado pela TV chinesa em Xangai e ter de "ouvir uma lição" dada
um funcionário subalterno chinês na cúpula climática de Copenhague, Obama pode ter menos simpatia por Pequim. Um sinal de
que a Casa Branca está endurecendo sua política poderá vir nos próximos meses, com uma decisão oficial no sentido de qualificar a
China com país que "manipula o câmbio".

Mesmo que o próprio governo não tome a iniciativa, as vozes pedindo políticas mais duras contra a China provavelmente
começarão a falar mais alto no Congresso. A decisão do Google de chamar a atenção para os perigos de ataque cibernético da
China fomentarão os crescentes temores quanto à segurança americana. O desenvolvimento de sistemas de mísseis chineses que
ameaçam o predomínio naval americano no Pacífico também está causando preocupação em Washington. A venda de armas
americanas a Taiwan já está provocando uma crise entre os países.

Enquanto isso, o protecionismo parece estar se tornando intelectualmente respeitável nos EUA, o que deveria preocupar a China.

Uma guerra comercial entre EUA e China seria sombria. Poderia lançar o mundo de volta à recessão e injetar perigosas tensões na
política internacional. Se ocorrer, a culpa será de ambos os lados. Os EUA foram quase intencionalmente ingênuos sobre o nexo entre
comércio livre e democracia. Os chineses têm agido de modo provocador nas esferas cambial e de direitos humanos.

Economia Global
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Autor(es): Marcos de Moura e Souza, de São Paulo

Valor Econômico - 03/02/2010

No momento em que a economia americana está em crise, a China vem se mostrando mais assertiva e adotando um tom mais duro
com os EUA. Isso possivelmente não é coincidência. Analistas ouvidos pelo Valor dizem que a disparada do déficit público e da
dívida americana vai contribuir para reduzir o poderia global dos EUA.

No projeto de Orçamento enviado esta semana pelo presidente Barack Obama ao Congresso americano, a projeção é que o déficit
fiscal aumenteem US$ 100 bilhões este ano e atinja o valor recorde de US$ 1,56 bilhão.

"O desequilíbrio entre as obrigações financeiras e os recursos disponíveis leva não apenas a um sistema político disfuncional, mas
também corrói a posição militar eeconômica dos EUA no mundo", diz Michael Shifter, vice-presidente da área de polícia do Inter-
American Dialogue.

Para ele, a situação atual é "simplesmente insustentável" e faz com que o país "não possa ampliar seus compromissos internacionais
enquanto se vê afundando cada vez mais fundo em dívidas".

O endividamento crescente tende a fazer com que ações militares de grande alcance percam espaço no rol de opções da
geopolítica americana. É o que diz outro analista, Willis Sparks, da divisão Global Macro da consultoria EurasiaGroup, em Nova York.

"Somente um ataque terrorista ou outra emergência inesperada poderia convencer Washington a seenvolver em outro Afeganistão
ou outro Iraque no futuro previsível. O custo é muito alto, particularmente num momento em que muito das atenções políticas está
concentrado no déficit federal e na dívida nacional", diz Sparks.

Ontem, em entrevista ao canal de TV MSNBC, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, relacionou o endividamento à capacidade do
país de garantir a capacidade de defesa. Segundo ele, a dívida pública e o déficitorçamentário recordes ainda não se
transformaram num problema para a segurança. Mas, em seguida, advertiu: "Se não fizermos nada em relação a isso, [o déficite a
dívida] poderão e deverão se converter numa questão de segurança nacional."

Para Sparks, a menos que um forte movimento de correção de rota seja feito, "a dívida federal americana vai limitar a capacidade
de futuros presidentes e parlamentares de projetarem o poder dos EUA pelo mundo".

Quando se referia ao alto endividamento americano - e a dependência que os EUA têm de outros países em financiar sua
dívidaLawerence Summers - atual chefe dos conselheiros econômicos da Casa Branca - costumava perguntar antes de ingressar no
governo: "Por quanto tempo o maior tomador deempréstimo do mundo continuará a ser a maior potência mundial?"

A China é o maior detentor de títulos da dívida americana. E se para alguns analistas issovulnerabilizar a posição americana, Joseph
Nye, da Universidade Harvard, oferece uma visão distinta. "O déficit americano é um problema, mas não vai acabar com o poder
militar ou com o 'soft power' americano", disse. "O modelos de crescimento da China depende do acesso ao mercado dos EUA, assim
como os EUA dependem da China para ajudar a financiar sua dívida. Se a China descarta seus dólares, isso poderia por a economia
americana no chão, mas ao mesmo tempo derrubaria a economia chinesa."

Economia Global
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fev 2, 2010

O Brasil recusou as primeiras propostas feitas pelos Estados Unidos, e também por setores da indústria, para suspender a retaliação de
quase US$ 900 milhões que planeja impor sobre produtos americanos no caso do conflito do algodão. Brasília espera agora novas
propostas de Washington para solução pacífica da disputa, que demorou anos para ser julgada na Organização Mundial do
Comércio (OMC). A entidade condenou subsídios ilegais dados aos cotonicultores americanos, que até hoje não foram totalmente
eliminados.

O Brasil está aprontando a lista de produtos a serem retaliados. O governo admite aplicar as sanções inicialmente só contra
mercadorias, e mais tarde estendê-las sobre patentes farmacêuticas e direitos autorais, entre outras. Para a segunda parte, precisa
que a Casa Civil decida por um projeto de lei ou medida provisória que possibilite retaliação na área de propriedade intelectual.
Somente há cerca de dez dias é que o texto chegou ao Palácio do Planalto, no longo processo burocrático de assinatura porvários
ministros, férias de fim de ano etc.

A pressão interna aumenta sobre o governo de Barack Obama para buscar uma solução pacífica com o Brasil. Cinco grandes
associações, incluindo a Associação Nacional de Manufaturas (NAM) e o Conselho Empresarial americano, escreveram carta ao
negociador comercial, Ron Kirk, conclamando os EUA a negociar com o Brasil para evitar a retaliação.

Eles alertaram a Casa Branca para o fato de que a retaliação brasileira pode ter efeitos prolongados, ameaçando empregos e
negócios difíceis a serem recuperados. É que os importadores brasileiros rapidamente mudarão de fornecedor. Outro temor é de que
a retaliação cruzada brasileira, atingindo tanto mercadorias como serviços e propriedade intelectual, resultem numa bola de neve,
com outros países, incluindo a China, tomando o mesmo rumo contra produtos americanos.

Os sinais brasileiros de que o país vai realmente aplicar a retaliação se multiplicam. O governo recusou, inclusive, demandas do setor
privado brasileiro para ter mais tempo para comentar a lista de produtos americanos submetidos a eventual sanção.

O embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, tem dado a mesma mensagem: ´O Brasil quer o fim dos subsídios americanos ao
algodão para ontemµ. Ou seja, uma mudança na legislação deve vir logo e não embutida numa futura Farm Bill, a lei agrícola
americana, que ninguém sabe quando e como será aprovada.

A expectativa é que Washington poderá agir, porque a pressão da indústria, e não especificamente do setor de algodão, vem
aumentando. A indústria farmacêutica não quer correr o risco de ter patentes quebradas no Brasil, um dos mercados mais
promissores do mundo.

´O Brasil não precisa esperar mudanças que os Estados Unidos estão cogitando na Farm Bill para retaliarµ, tem afirmado Azevedo. ´Se
o Brasil retaliar e os EUA retirarem os subsídios, as sanções então podem ser também retiradas.µ

Os EUA têm insistido, por sua vez, em alguma solução que atenda o Brasil, mas que também seja depois incluída no acordo da
Rodada Doha. Ou seja, não quer reduzir duas vezes os subsídios para um setor politicamente poderoso.

O problema é que a Rodada Doha está prostrada. Em Davos, no fim de semana, pela primeira vez um ministro, o australiano Simon
Crean, se declarou disposto a ´tirar a tomadaµ da negociação, se o bloqueio persistir. Foi o único a dizer isso, entre os mais de 20
países presentes.

Por sua vez, os trabalhos técnicos no Brasil avançam para abrir uma denúncia contra a União Europeia por apreensão a produtos
genéricos em seus portos. Só falta a Índia aprontar também sua parte. Enquanto isso, o Parlamento Europeu discute medidas para
rever apreensões de genéricos.
Fonte: Valor Econômico

Economia Global
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Brasil - Antonio Delfim Netto

Valor Econômico - 02/02/2010

A enorme discussão a respeito do aumento estacional do preço doetanol revela a sua importância na substituição dos derivados do
petróleo no setor de transporte (leve e pesado) e, muito em breve, na produção de energia elétrica. Estima-se que quase 2/3
daqueles derivados são utilizados no transporte de pessoas e mercadorias. As importações de petróleo são responsáveis por 61% do
formidável déficit comercial dos EUA em 2009, o que mostra que aquele país perdeu a sua autonomia energética que caracteriza,
junto com as autonomias alimentar e militar, o poder do Império.

Não foi à toa, ou por acaso, que no lançamento do seu programa energético (5 de maio de 2009), o então recém-eleito presidente
Barack Obama disse: "Devemos investir numa economia de energia limpa, que criará novos empregos, novos negócios e reduzirá
nossa dependência da importação de petróleo. As medidas que estamos anunciando levam-nos para perto desse objetivo. Se
desejarmos liderar a economia global do século XXI, devemos liderar a tecnologia da produção de energia limpa. Com a
engenhosidade e determinação dos americanos, podemos e vamos ser bem-sucedidos".

Seu competente e eficiente secretário de Energia, Steven Chu anunciou, ao lançar o programa de quase US$ 800 bilhões (metade
do PIB anual do Brasil!): "O desenvolvimento da tecnologia de próxima geração de biocombustíveis é a chave para terminar nossa
dependência da importação de petróleo e amenizar a crise climática. Ao mesmo tempo criará milhões de empregos que não
podem ser transferidos para o exterior (outsourced)", e acrescentou: "Com os investimentos e a engenhosidade dos americanos - e
recursos criados aqui mesmo no país -poderemos liderar o desenvolvimento da nova economia verde".

Atualmente ,o Brasil, graças às pesquisas de organismos privados, da Embrapa e da Petrobras, lidera a produção de etanol e
caminha na produção mais eficiente do biodiesel. Como demonstrou em excelente artigo no  o competente ministro de
Ciência e Tecnologia, Sérgio Machado Rezende, o Brasil está antenado para tentar conservar essa liderança. A prova disso é a
inauguração, em Campinas, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia doBioetanol (CTBE). Este é um investimento
fundamental.

As novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas nos laboratórios e na academia dos EUA (graças à dotação dos US$ 800
bilhões!) devem trazer, num futuro não muito distante, surpresas insuspeitadas em matéria de produção de energia verde. Um dos
caminhos promissores (e privilegiados pelo programa americano) é a tecnologia da produção de etanol derivado de algas. Tudo
indica que quando ela for economicamente factível (as pesquisas já têm mais de 50 anos) haverá uma verdadeira revolução na
substituição do petróleo.

O uso doetanol como combustível líquido no setor de transporte (terrestre e aéreo), no setor de energia elétrica (turbinas a etanol) e
nos derivados doálcool-químicasão visíveis a olho nu. Dentro de alguns anos será fator determinante na formação dos preços dos
combustíveis fósseis. Isso sem falar nas outras fontes de energia (solar, geotérmica, eólica, atômica etc.), cujas tecnologias se
desenvolvem celeremente.

A energia fóssil (carvão e petróleo), que produziu a revolução industrial e o desenvolvimento dos séculos XVIII a XX, vai perder a sua
hegemonia no século XXI. Trará, como subproduto, uma redução da produção de CO2 (e outros gases de efeito estufa) por unidade
do PIB, o que amenizará os efeitos da atividade humana sobre a evolução do clima do planeta.

Essa perspectiva sugere que devemos tentar fazer do limão (o tremendo aumento estacional doetanol na safra 2009/2010) uma
limonada: trabalhar para tornar, efetivamente, o etanol uma commodity, com preços regulados por contratos bem construídos nas
bolsas internacionais. Isso exige uma ação preliminar do Brasil e dos Estados Unidos. O primeiro, eliminando a tarifa alfandegária de
20% sobre a importação doetanol; o segundo, aproveitando a oportunidade para eliminar seu abusivo imposto sobre a unidade do
produto (2,5% "ad valorem", mais US$ 0,54 por galão) sobre sua importação.

Esse é o único caminho para amenizar (não eliminar) a natural variação estacional dos preços de um produto agrícola (com safras
diferentes dependendo da latitude dos países) que é produzido num curto período (menos de seis meses) e consumido de forma
quase uniforme ao longo de 12 meses. Exatamente por causa das "incertezas do tempo" é necessário, também, manter um estoque
de reserva de dois a três meses de consumo. A estocagem da reserva de passagem e do produto ao longo do ano tem um custo
respeitável. Com parâmetros razoáveis: reserva de passagem de dois meses e meio, taxa de juros da ordem de 10% a 20% ao ano e
custo de armazenagem de 1%, os preços doetanol são onerados entre 9% e 15%.

Esse custo poderia ser significativamente reduzido e seus preços menos influenciados pelas variações estacionais, com o etanol como
uma commodity internacional. É preciso não ser tentado pela solução aparentemente fácil que tal objetivo possa ser intermediado
pela construção de um estoqueregulador nacional controlado pelo governo. Esse filme nós já produzimos em preto e branco e não
teve um final feliz...

Economia Global
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Valor Econômico - 04/02/2010

É indisfarçável o preconceito embutido na sigla Piigs, formada pelas iniciais em inglês de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha,
grupode países da zona do euro.

Os Piigs (porco em inglês) estão em péssima situação fiscal e ameaçamo futuroda União Europeia (UE), blocode 27 membros
lançado em 1999. Eles se contrapõem aos Bric (que lembra "brick", tijolo), das economias mais ascendentes da atualidade, Brasil,
Rússia, Índia e China.

A Grécia, que entrou para a UE em 2001, é a bola da vez. No ano passado, o déficit público grego chegou a 12,7% do Produto
Interno Bruto (PIB), mais de quatro vezes a meta da União Europeia de 3%. Mas sua situação não é única. Para enfrentar a crise, salvar
bancos, irrigar o mercado e bombear recursos para ativar a economia, os mais diversos governos tiveram que se endividar. Outro
membro dos Piigs, a Itália, tem um déficit de 12,2%; a Espanha, de 11,4%; e Portugal, de 9,3%.

Mas alguns países têm uma situação mais vulnerável por depender mais do financiamento externo para bancar sua dívida. A taxa
média de poupança dentroda União Europeia é de 20% do PIB. Espanha e Irlanda estão pertodessa faixa. Já a Grécia, com uma
poupança de apenas 7,2% do PIB, e Portugal, com 10,2%, contam mais com o investidor estrangeiro, que se retraiu e passou a exigir
juros mais elevados para comprar os títulos da dívidadesses países.

Os governos da zona do euro tomaram ½110 bilhões dos mercados até agora neste ano, volume recorde, pressionando mais as taxas.
Na semana passada, os bônus gregos atingiram a taxa mais elevada em 10 anos, chegando a 7,25% ao ano; a taxa recuou depois
para 6,2%, 3,44 pontos acima do juro pago pela Alemanha. O bônus português chegou a 4,21%. O "creditdefault swap" (CDS) da
Grécia, que sinaliza a possibilidadede calote do país, atingiu 400 pontos. Alguns desses países passaram a ser considerados mais
arriscados do que mercados emergentes. A taxa do CDS do Brasil, por exemplo, está abaixode 150 pontos.

A União Europeia chegou a discutir um planode salvamentoda Grécia, no estilo do resgate de Abu Dhabi pelos demais emirados
árabes. Uma voz relutante é a da Alemanha. Há dúvidas jurídicas se o Tratadode Maastricht, que estabeleceu as bases da UE,
permite o salvamentodeum membro pelos demais. Uma alternativa da Grécia seria recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI),
que tem mecanismos de condicionalidades e supervisão.

A situação pode melhorar agora que a Grécia apresentou um planode ajuste fiscal considerado mais consistente, que recebeu
apoioda Comissão Europeia, ontem. A Grécia promete reduzir o déficit para 2% em 2012, abaixo dos 3% exigidos por Maastricht. Mas
terá que fazer um ajuste forte, combinando corte de salários do setor público e aumentoda arrecadação, o que dependeda
confirmaçãode expectativas consideradas otimistas demais de recuperação econômica. Esse ponto não caiu bem uma vez que a
Grécia está com a reputação comprometida por ter recentemente maquiado grosseiramente informações de suas contas públicas.

Outros Piigs também prometeram ajustes recentemente, mas não tão fortes quantoa Grécia. A Espanha anunciou que vai reduzir o
déficit para a meta de 3% do PIB em 2013. O governo português quer cortar o déficit para 8,3% neste ano e levá-lo abaixode 3% em
2013. Os planos podem ser dificultados pela desaceleração econômica. A previsão é que a economia portuguesa deve crescer 0,7%
neste depois de ter encolhido 2,7% em 2009. A França tem um programa de estabilização que promete reduzir o déficit a 3% do PIB a
partir de 2013, passando por 8,2% neste ano; 6% em 2011 e 4,6% em 2012. A pr ojeção embute a expectativa de crescimentode 2,5%.

Um final feliz para a tragédiagrega não parece fácil uma vez que os investidores estão retraídos e demandam garantias dos outros
membros da UE. A própria UE precisa armar-se para administrar crises internas. Até porque os países não estão isolados. Reino Unido e
Irlanda têm em carteira 23% da dívidagrega; a França, 11%; a Itália 6%; a Alemanha, Áustria e Suíça concentram cerca de 9%; e os
três países do Benelux, mais 6%. Daí a preocupação com um efeito dominó. Não é por outro motivo que o mercado voltou-se contra
os títulos portugueses ontem, enquantoos juros dos papéis gregos cediam.

Economia Global
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Valor Econômico - 22/01/2010

A desigualdade parece ter aumentado nas décadas recentes, no nível internacional e na maioria dos países

No ano passado, a Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação anunciou que o número de pessoas famintas no
mundo aumentou ao longo da década passada. Em 2008, o Banco Mundial haviaanunciado uma queda substancial no número de
pessoas pobres até o ano de 2005. Mas se a pobreza é definida principalmente em termos da renda em dinheiro necessária para
evitar a fome, como podem anúncios dessa natureza ser conciliados?

De acordo com a muito citada linha de pobreza internacional de "um dólar por dia" do Banco Mundial, que foi corrigida em 2005
para US$ 1,25 por diaa preços de 2005, ainda há 1,4 bilhão de pessoas vivendo na pobreza, numa quedaante 1,9 bilhão em 1981. No
entanto, considerando que a China respondeu pela maioria dessa queda, havia pelo menos 100 milhões de pessoas a mais vivendo
na pobreza fora da China em 2005 do que em 1981.

Na África subsaariana e em partes da Ásia, a pobreza e a fome continuam obstinadamente elevadas. Agências internacionais
estimam que mais de 100 milhões de pessoas se tornaram pobres como resultado dos preços mais altos dos alimentos durante a crise
de 2007-2008, e que a crise econômica e financeira global de 2008-2009 foi responsável por um aumento de outros 200 milhões.
Aadiada recuperação dos postos de trabalho da recessão global continuará sendo um desafio de grandes proporções
paraaredução da pobreza nos próximos anos.

Enquanto isso, controvérsias de medição continuam lançando suspeitas sobre o progresso atual. Com aadoção, na Cúpula Social de
2005, de uma definição mais ampla de pobreza, que inclui pobrezaabsoluta, exclusão social e falta de participação, a situação hoje
pode estar ainda pior do que é indicado por uma linha de pobreza baseada em receita em dinheiro.

A desigualdade parece ter aumentado nas décadas recentes, no nível internacional e na maioria dos países. Mais de 80% da
população mundial vive em países onde os diferenciais de renda estão se ampliando. Os 40% mais pobres na população mundial
respondem por apenas 5% da renda mundial, enquanto os 20% mais ricos representam 75%.

O histórico ambíguo daredução da pobreza coloca em dúvidaa eficácia das abordagens convencionais. Países foram
aconselhados aabandonar suas estratégias de desenvolvimento nacional em prol da globalização, liberalização de mercados e
privatização. Em vez de gerar crescimento veloz sustentado e estabilidade econômica, essas políticas tornaram os países mais
vulneráveis ao poder dos ricos e aos caprichos das finanças internacionais e da instabilidade global, que se tornaram mais frequentes
e graves devido à desregulamentação.

A lição mais importante é a necessidade de crescimento veloz sustentado e de transformação econômica estrutural. Os governos
precisam desempenhar um papel desenvolvimentista, com a implantação de políticas concebidas paraapoiar a produção inclusiva
e a expansão do emprego, bem como para reduzir a desigualdade e promover a justiça social.

Esse tipo de abordagem precisa ser complementado por investimento industrial e políticas tecnológicas apropriadas, e por linhas
financeiras inclusivas projetadas paraapoiá-las. Além disso, capacidades de produção novas e potencialmente viáveis precisam ser
promovidas por meio de políticas desenvolvimentistas complementares.

Por outro lado, a insistência num governo mínimo e na dependência no mercado provocou quedas abruptas no investimento em
infraestrutura pública, especialmente naagricultura. Isso não só prejudicou o crescimento de longo prazo como também aumentou a
insegurançaalimentar.

Defensores das políticas de liberalização econômica citaram o sucesso das economias do Leste Asiático que atravessam veloz
processo de industrialização. Mas nenhuma dessas economias buscou a liberalização econômica indiscriminada. Em vez disso, os
governos desempenharam um papel desenvolvimentistaao apoiarem a industrialização, agricultura e serviços de maior valor
agregado e aperfeiçoamento das capacidades humanas e tecnológicas.

As transformações estruturais deverão promover emprego pleno e produtivo, bem como trabalho decente, ao passo que os
governos deverão ter espaço fiscal e político suficiente para permitir que desempenhem um papel positivo e para oferecer proteção
social universal adequada.

As três décadas passadas também testemunharam o divórcio das políticas sociais das estratégias de desenvolvimento global como
consequência da campanha por governos com autoridade mais limitada. As estratégias de desenvolvimento econômico nacional
foram substituídas por programas de redução de pobreza preferidos dos doadores, como concessão de títulos de posse de terra,
microcrédito, e marketing "na base da pirâmide", dirigido aos pobres.

Esses modismos não conseguiram reduzir a pobreza substancialmente. Isso não significa negar algumas consequências positivas. Por
exemplo, o microcrédito capacitou milhões de mulheres, ao passo que lições importantes foram aprendidas com a concepção e
implantação desses programas.

Enquanto isso, os programas sociais universais melhoraram muito mais o bem-estar humano que os programas condicionais e
dirigidos. No entanto, programas de transferência condicional de renda têm sido muito bem-sucedidos na melhoria de vários
indicadores de desenvolvimento humano.

Economia Global
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Lamentavelmente, a pobreza continua endêmica, com mais de um bilhão de pessoas passando fome a cada dia. É necessária uma
iniciativa urgente, à medida que a recente crise econômica e financeira, que se seguiu duramente à crise nos preços dos alimentos,
teriaatrasado ainda mais o progresso paraaredução da pobreza. Crescem também os temores de que a mudança climática
possaameaçar as vidas dos pobres de formaainda mais adversa.

O relatório bianual sobre a Situação Social do Mundo (RWSS 2010) das Nações Unidas, intitulado "Repensandoa Pobreza", apresenta
um argumento convincente para repensar a medição da pobreza e as iniciativas de redução da pobreza. Para os pobres do mundo,
o lema "negócios como sempre" jamais foi uma opção aceitável. As tendências populares das décadas recentes tampouco se
revelaram muito melhores. Não acontecerá nenhuma erradicação da pobreza sem desenvolvimento econômico justo e sustentável,
que os mercados desregulados comprovaram ser incapazes de produzir por conta própria.

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Danilo Fariello, de Tóquio

DivulgaçãoConstrução da linha do trem-bala em Jöetsu, com a cidade ao fundo: planejamento urbano em curso prevê uma nova
rua, um estacionamento, uma área residencial e um parque na cidade

O Japão, que criou o primeiro trem-bala do mundo há 45 anos, conseguiu espalhar pelos trilhos do país o desenvolvimento
econômico obtido em Tóquio no pós-guerra. Com 2176 quilômetros de linhas prontas e 589 quilômetros em construção, a meta do
governo é conectar todo o país. Enquanto isso, no Brasil, terminou na sexta-feira a consulta pública da Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT) para a criação do primeiro Trem de Alta Velocidade (TAV) do país com uma audiência em Barra Mansa
(RJ). No evento, a prefeitura de Volta Redonda (RJ), que pretende "roubar" da cidade vizinha uma estação prevista no edital,
apresentou um projeto de desenvolvimento municipal.

A experiência japonesa explica muito bem o porquê da disputa entre as cidades por uma estação. Seja em Tóquio, de onde partiuo
primeiro trem de alta velocidade, ou em cidades onde as estações são mais recentes, como Kyoto e Hiroshima, e até mesmo
naquelas onde as linhas estão em construção, o trem-bala altera a dinâmica e a história do município. O impacto é principalmente
forte nas cidades menores porque ele provoca um aumento na migração de pessoas e também porque cria empregos.

O ministro do Território, Infraestrutura e Transporte do Japão, SeijiMaehara, disse aoque também no Japão houve muita disputa
entre as cidades para abrigar as estações do trem-bala porque naquelas onde ele passa o desenvolvimento econômico é mais
acelerado. A estratégia japonesa para criar um número maior de estações foi criar três tipos de trens, conta. Um deles é expresso
entre grandes cidades. Outro trem para em mais estações e um terceiro para em todas elas, para atender a migração diária de
trabalhadores que usam o meio de transporte para ir ao trabalho e voltar. O projeto da ANTT para o eixo Rio-São Paulo-Campinas
tem previsão similar no edital.

A mudança nas cidades é visível. A histórica Kyoto, por exemplo, tem cerca de 1200 templos budistas e xintoísta e foi rasgada por um
arranha-céu em 1997, depois que o trem-bala passou a incorporar a antiga estação de trem. O prédio é um imenso complexo
comercial, que inclui hotel, shopping center, loja de departamentos, cinema e inúmeros restaurantes e estabelecimentos públicos.
Um plebiscito foi feito na cidade para ouvir a população sobre a criação do edifício. O povo aprovou oprojeto de desenvolvimento,
desde que fosse mantida e preservada a parte mais histórica da cidade.

Uma característica unânime em todas as cidades por onde passa o trem-bala - ou shinkansen, como é conhecido - é um
planejamento em níveis federal e municipal para que a cidade receba de forma controlada o impacto da estação. Em Shin-
Yokohama, uma das primeiras estações criadas em 1964, a 30 quilômetros de Tóquio, o terreno por onde o trem-bala passava passou
décadas subocupado. Desde 1985, quando a estação se conectou ao metrô e à linha convencional de trem, o número de
passageiros saltou de cerca de 10 mil para chegar os 60 mil atuais. O número de edificações em Shin-Yokohama passou de cinco
para mais de 100 depois da interconexão, incluindo a criação do estádio que abrigou uma das sedes da Copa do Mundo de 2002.

Sakudaria fica a caminho da cidade turística de Nagano, partindo de Tóquio pelo trem-bala. A região da estação era um grande
arrozal até os anos 80. Desde o início das obras do trem e da criação da estação, em 1991, até 2004, o número de moradores nos
arredores da estação cresceu 20% - no mesmo período, a população do Japão aumentou 3%.

Jöetsu é uma cidade litorânea do Japão onde neva muito em janeiro. Seus habitantes esperam receber as benesses
desenvolvimentistas do shinkansen em breve. A economia de Jöetsu, que parece uma grande vila, tem base na agricultura, indústria
eletrônica e no porto.

Do chão da cidade, vê-se os pilares onde correrão os trilhos, a cerca de 20 metros de altura. Ao longe, estão os túneis que cortam a
região montanhosa do país. Antes da construção, foi feita a desapropriação do terreno onde o trem passará. No entanto, como no
Brasil, os desapropriados e indenizados são apenas aqueles com terrenos exatamente onde a linha passa, deixando os vizinhoscom o
incômodo de ter um trem passando a mais de 250 quilômetros por hora perto da janela. Mas as linhas japonesas são protegidas com
barreiras antirruído onde há moradores nas redondezas.

Em Jöetsu, o planejamento urbano para receber a nova estação já está em curso. Será feita uma nova rua, um estacionamento,
uma área residencial e um parque, onde serão colocados os restos arqueológicos achados em outras obras de infraestrutura pelo
país. Atenta ao impacto que a estação trará à cidade, a prefeitura resolveu também investir e adequar o traçado do trem local ao
do shinkansen, para que eles compartilhem a mesma estação e seja facilitado o acesso dos moradores ao trem-bala.

Segundo HarutoshiHayasaka, da área de assuntos internacionais da Agência de Construção, Tecnologia e Transporte Ferroviário do
Japão (JRTT), apesar da disputa política, a escolha da cidade onde será instalada a estação do shinkansen é ponderada,
primeiramente, pela distância mínima para as estações vizinhas, depois pela demanda. "Em primeiro lugar está a rota por onde ele
passa; em segundo, o espaço entre as estações e, em terceiro, empecilhos ou estímulos políticos", diz ele.

No Brasil, a escolha da localização das estações - afora as obrigatórias em Campinas, Viracopos, São Paulo, Guarulhos, Aparecida
do Norte, Rio e Galeão - deverá ser feita pelo consórcio que for o vencedor do edital.

Aparecida do Norte (SP) ganhou o direito a uma estação por receber turistas em períodos de menor fluxo no trem. Jundiaí, entre
Campinas e São Paulo, torce para ter uma parada. No Vale do Paraíba, em São Paulo e Rio, a disputa é grande, como mostra o
embate entre as vizinhas Barra Mansa, Volta Redonda e Resende na seção fluminense, e São José dos Campos, Jacareí e Taubaté,
na parte paulista. Volta Redonda e Resende criaram projetos complexos de desenvolvimento para receber a estação e convencer

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os empresários. Jacareí, no interior paulista, pede que ao menos os centros de controle e tecnológico fiquem no seu território.

Segundo Hélio Mauro França, superintendente-executivo da ANTT, foram mais de 500 as contribuições ao edital do TAV na audiência
pública encerrada na sexta-feira. Nas sete sessões públicas, houve 1355 pessoas.

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Autor(es): Antonio DelfimNetto

ValorEconômico - 26/01/2010

Talvez a prova mais convincente de que não existe uma verdadeira "ciência monetária" é verificar que a regulação do sistema
financeiro é um movimentopendular: segue o "espírito do tempo" e os interesses dos banqueiros. Não o bem-estar da sociedade. O
Federal Reserve System (o banco central dos EUA, conhecido como Fed) foi criado em 1913 para corrigir a alta frequência de
quebras bancárias no país, que espoliavam os depositantes. Tinha como objetivo prover o fornecimento de "uma moeda elástica"
para dar socorro aos bancos comerciais em condições de emergência. Devia provê-los dos fundos necessários para evitar sua
insolvência e a consequente falência. Essa função de "moeda elástica" é hoje conhecida como "emprestador de última instância".

Que o objetivo dos legisladores não foi atendido é prova o fato que entre 1930 e 1933, durante a fase mais aguda da Grande
Depressão, faliram mais de 8.000 bancos nos EUA! Quando Roosevelt assumiu, em 1933, sua resposta imediata foi um feriado bancário
de um mês durante o qual o Congresso aprovou o famoso Glass-SteagallAct (GSA) e criou-se, provisoriamente, a Federal
InsuranceDepositCompany (FDCI), destinada a oferecer seguro a todo pequeno depositante, o que evitaria uma corrida na
reabertura dos bancos. Em 1935 o Banking Act tornou a FDCI permanente. A lei Glass-Steagall separou claramente os bancos
comerciais dos bancos de investimento e estabeleceu limites para as taxas de juros (a famosa Regulation Q) e eliminou os juros pagos
aos depósitos à vista.

No fim dos anos 70 do século passado, o sistema bancário americano foi submetido a um enorme estresse, criado pelos petrodólares,
pela maior liberdade de movimento de capitais, pelas "inovações" financeiras e, principalmente, pela maior flexibilidade do sistema
bancário inglês. Iniciou-se, então, a desregulação do sistema com o DepositoryInstitutionsDesregulationandMonetaryControlAct
(DIDMCA), de 1980. Eliminou-se o monopólio dos bancos comerciais nos depósitos sacáveis com cheques, acabou-se com a
separação entre bancos comerciais e de investimentos, estabeleceu-se a eliminação progressiva dos controles das taxas de juros
(Regulation Q), estabeleceu-se depósitos compulsórios uniformes, eliminou-se as leis de usura e aumentou-se os seguros dos depósitos
bancários para US$ 100.000.

Depois da lenta desmontagem dos controles e limites estabelecidos na lei Glass-Steagall foi editado, em 1999, o Gramm-Leach-
BlileyAct (GLBA) que, finalmente, sepultou os últimos resíduos que ainda restavam do velho GSA de 1933. Em 2005 o seguro dos
depósitos foi aumentado para US$ 250.000. Hoje é corrigido quinquenalmente pela taxa acumulada de inflação. O fim glorioso da
desregulação foi o quase inacreditável EmergencyEconomicandStabilizationAct (EESA), de 2008, que autorizou o Tesouro Americano
a colocar quase US$ 800 bilhões para comprar os ativos "tóxicos" criados pela liberação geral de 1999...

Essa breve e precária história dos eventos de quase um século (de 1913 a 2008) promovidos pelo movimentopendular "regulação" x
"desregulação" deve levar até os espíritos mais crentes à dúvida sobre a existência da tal "ciência" de que se supõem portadores os
Bancos Centrais. Ela não sugere, entretanto, a extinção dessas instituições. A política monetária seria certamente muito pior se fosse
entregue à sanha dos políticos e burocratas gulosos que infestam todos os governos do mundo.

Ela sugere, apenas, que a sociedade precisa de um Banco Central operacionalmente autônomo que construa a sua credibilidade. É
preciso aceitar que sua ação, às vezes, requer manobras arriscadas que podem ter custo social significativo no curto prazo (e no
limite no longo) que será pago nas urnas pelo poder incumbente. É por isso que a "autonomia operacional" deve ser condicionada à
mais completa transparência e ao uso das poucas coisas que se conhece com relativa certeza sobre a resposta da economia às
variações da taxa de juros real. Não se deve esquecer a lei de Goodhart: quando não se sabe bem o que se está fazendo, é melhor
fazer devagar!

Os efeitos da política monetária são mesmo duvidosos exatamente porque não são resultado de um conhecimento realmente
científico. Aliás, nem sequer é possível afirmar que um dia isso será possível, dada à natureza do comportamento humano e sua
resposta às instituições que tentam normatizá-lo. O assunto é muito controverso. O "The Wall Street Journal" fez a poucos dias uma
"pesquisa" que ouviu a opinião de 27 economistas "especializados" em problemas monetários. A pergunta foi: "A política monetária
excessivamente frouxa do Fed na segunda parte da primeira década deste século ajudou a criar uma bolha nos preços das
habitações?" As respostas foram: "sim" para 13 deles (52%) e "não" para 12 (48%). Como não parece plausível atribuir qualquer
interesse escuso à Academia, o resultado revela a precariedade da "pseudociência" que informa a política monetária dos Bancos
Centrais.

O fato interessante é que a mesma pesquisa foi feita junto a 54 economistas (todos trabalham em Wall Street) que respondem a um
inquérito mensal do mesmo jornal. As respostas foram 42 (78%) "sim" e 12 (22%) "não". É provável que as respostas do "mercado "
tenham um viés que é seu interesse de eximir-se da tragédia que provocaram e despejam toda a culpa no próprio governo (que os
salvou!) isto é, no Fed.

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