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REVISÃO REVIEW 1653

Consumo de aditivos alimentares e efeitos à


saúde: desafios para a saúde pública brasileira

Food additive intake and health effects:


public health challenges in Brazil

Maria Lúcia Teixeira Polônio 1,2

Frederico Peres 2

Abstract Introdução

1 Escola de Nutrição, This study uses a systematic literature review to A mudança no hábito alimentar da população
Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro,
contextualize the risks associated with food ad- brasileira, ocorrida nas últimas décadas, tem
Rio de Janeiro, Brasil. ditive intake. Studies comparing food additive atraído a atenção dos órgãos reguladores e da
2 Escola Nacional de Saúde
intake and cancer showed that adverse health comunidade científica como um todo, pois a
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz, effects appeared when Acceptable Daily Intake substituição de alimentos in natura por alimen-
Rio de Janeiro, Brasil. (ADI) was exceeded. The review also detected a tos processados vem contribuindo de forma
lack of studies on attention deficit-hyperactivity contundente para o empobrecimento da dieta.
Correspondência
M. L. T. Polônio disorder. There were more studies on non-specific Conseqüentemente, tal fato contribui, também,
Escola de Nutrição, hypersensitivity, highlighting such clinical mani- para o aparecimento de doenças crônicas não-
Universidade Federal do
festations as rhinitis, urticaria, and angioedema, transmissíveis, responsáveis, principalmente,
Estado do Rio de Janeiro.
Av. Pasteur 296, Rio de all associated with food additives, particularly pelas doenças do aparelho circulatório, diabetes
Janeiro, RJ artificial colorants. Children are a vulnerable e neoplasias, resultado das modificações no pa-
22290-180, Brasil.
lpolonio@terra.com.br
group as potential consumers of food additives, drão de adoecimento global na segunda metade
particularly artificial colorants. Studies on food do século XX. As doenças crônicas não-transmis-
additive intake should provide the basis for effec- síveis apresentam etiologia multifatorial e estão
tive food and nutritional surveillance strategies, associadas a fatores de riscos ambientais e com-
aiming to promote healthy eating habits. portamentais, como a alimentação inadequada,
a obesidade, as dislipidemias, o tabagismo e a
Food Additives; Nutritional Surveillance; Chron- inatividade física 1.
ic Disease; Food Habits Além de a dieta ter sofrido modificações ao
longo do tempo, a tecnologia aplicada pela in-
dústria de alimentos com o intuito de aumentar
o tempo de vida útil desses produtos tem gerado
questionamentos quanto à segurança do empre-
go de aditivos alimentares, fundamentalmente
quando se trata de corantes artificiais 2.
A avaliação dos aditivos alimentares no âm-
bito mundial é baseada no controle das IDAs
(Ingestão Diária Aceitável), desenvolvida pelo
Comitê de Expertos em Aditivos Alimentares

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da Organização Mundial da Saúde (OMS)/Or- Metodologia


ganização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO) [The Joint FAO/WHO Ex- O presente estudo compreende uma revisão sis-
pert Committee on Food Additives – JECFA]. Esse temática da literatura sobre o tema “consumo de
comitê define aditivo alimentar como qualquer aditivos alimentares e saúde”. Segundo Mulrow 11,
substância que enquanto tal não se consome a revisão sistemática é uma abordagem metodo-
normalmente como alimento, nem tampouco lógica através da qual o conhecimento científico
se utiliza como ingrediente básico em alimen- disponível é organizado e integrado, com o intui-
tos, tendo ou não valor nutritivo, e cuja adição to de fornecer dados para o processo de tomada
intencional ao alimento com fins tecnológicos de decisões. Estabelece a consistência do conhe-
(incluindo os organolépticos) em suas fases de cimento cientifico, apontando quando determi-
fabricação, elaboração, preparação, tratamento, nado fenômeno observado pode ser generaliza-
envasamento, empacotamento, transporte ou do para um grupo ou população em geral.
armazenamento, resulte ou possa preservar ra- De acordo com Mulrow 11, os pressupostos
zoavelmente por si, ou seus subprodutos, em um metodológicos que sustentam essa abordagem
componente do alimento ou um elemento que são:
afete suas características 3. 1) Abundância de informação disponível leva à
Diversos estudos apontam reações adver- necessidade de se organizar e resumir os dados.
sas aos aditivos, quer seja aguda ou crônica, tais Por meio de uma exploração crítica e sintética, é
como reações tóxicas no metabolismo desenca- possível separar dados insignificantes e abran-
deantes de alergias, de alterações no comporta- gentes demais do objeto do trabalho em ques-
mento, em geral, e carcinogenicidade, esta últi- tão;
ma observada a longo prazo 4,5,6,7,8,9. 2) No processo de tomada de decisão há a ne-
Nesses, destacamos aqueles relacionados à cessidade de se integrar uma série de dados,
saúde infantil, preocupação que encontra respal- consolidando um foco no objeto do trabalho em
do no fato de ser esta categoria uma das mais, questão. Assim, é possível identificar, justificar e
senão, a maior consumidora desses produtos. refinar hipóteses, reconhecer os limites e barrei-
Nesse sentido, vale ressaltar que as crianças ras dos trabalhos prévios, estimar o tamanho de
apresentam maior suscetibilidade às reações amostras e reformular guias e legislação disponí-
adversas provocadas pelos aditivos alimentares. veis;
Inegavelmente, o uso dessas substâncias e seus 3) A revisão sistemática é um método eficiente,
efeitos deletérios devem considerar também a freqüentemente mais rápido e menos custoso
freqüência com que os aditivos são consumidos, que um estudo empírico novo;
assim como sua quantidade por kg/peso. 4) A revisão sistemática consegue identificar as
Outro fator que merece destaque é o da ima- generalizações dos dados e dos achados cientí-
turidade fisiológica, que prejudica o metabolis- ficos, provendo um contexto interpretativo dos
mo e a excreção dessas substâncias. Além dis- múltiplos estudos revisados, impossível de se ob-
so, a criança não tem capacidade cognitiva para ter com a análise de um único estudo ou estudos
controlar um consumo regular tal como deveria isolados; e
fazer um adulto. 5) A revisão sistemática permite avaliar a consis-
Ainda considerando aspectos da saúde infan- tência das relações. Consegue identificar consis-
til, o JECFA 10 recomenda que não sejam utiliza- tência entre estudos realizados com a mesma ou
dos aditivos intencionais em alimentos destina- diferentes intervenções. Por corolário, permite
dos a crianças menores de um ano, respeitando, identificar inconsistências e conflitos entre os di-
assim, o Codex Alimentarius. Apesar dessa orien- ferentes dados disponíveis.
tação, existem vários produtos no mercado, co- Para a elaboração da referida revisão foram
mo iogurtes, gelatinas, refrigerantes, biscoitos, consultadas bases de dados MEDLINE, LILACS
balas, dentre outros, que são consumidos tanto e SciELO, no período de 1988 a 2007. Ao todo fo-
por crianças como por adultos, e que não estão ram identificados 224 artigos. Destes, 57 foram
sujeitos à referida normatização, o que torna a selecionados, sendo a maioria na língua ingle-
criança mais vulnerável. sa. Os descritores utilizados, em línguas inglesa,
Nesse sentido, este estudo visa a contextu- espanhola e portuguesa, foram: (a) aditivos ali-
alizar, por meio de uma revisão sistemática da mentares; (b) aditivos alimentares + tartrazina;
literatura, os riscos acarretados pelo consumo de (c) corantes alimentares; (d) corantes alimenta-
aditivos alimentares como um dos grandes de- res + riscos + saúde; e (e) aditivos alimentares +
safios da Saúde Pública, evidenciando possíveis riscos + saúde.
indicativos de vulnerabilidade para grupos po-
pulacionais específicos, como as crianças.

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CONSUMO DE ADITIVOS ALIMENTARES E EFEITOS À SAÚDE 1655

Os critérios de inclusão de artigos foram: (a) Usando-se a técnica da cromatografia líquida de


interesse para a saúde pública; (b) efeitos à saú- alta eficiência foi determinado o teor de corantes
de; e (c) efeitos à saúde infantil. em 344 itens consumidos. Compararam-se com
Foram avaliados estudos descritivos, trans- as IDAs recomendadas pela FAO/OMS no sen-
versais e experimentais. Os critérios de exclusão tido de avaliar o potencial de risco associado ao
foram: (a) estudos sobre a estrutura química dos consumo de corantes artificiais. Os resultados in-
aditivos; (b) dosagem de resíduos de aditivos em dicaram que dos nove corantes permitidos, qua-
alimentos; e (c) aplicação de aditivos em produ- tro (tartrazina, amarelo crepúsculo, carmosina, e
tos alimentícios. vermelho brilhante) excederam as IDAs para as
Os limites deste estudo se referem às diferen- crianças de 5 a 8 anos.
ças entre metodologias empregadas e o desenho Observou-se nos estudos de Husain et al. 13
dos estudos avaliados – dificultando análises e Rao et al. 12 que o consumo de determinados
comparativas mais aprofundadas, bem como corantes excedeu a IDA. Tal fato é relevante, prin-
controvérsias nos resultados. Outro aspecto im- cipalmente para a saúde infantil, uma vez que a
portante é a escassez de estudos sobre outros IDA é uma medida relacionada à massa corpórea
aditivos alimentares que não os corantes (como e os principais limites hoje conhecidos são deter-
os conservadores e os antioxidantes, entre ou- minados, apenas, para populações adultas.
tros), principalmente a tartrazina. Através do QFA, Nogueira 14 avaliou o consu-
mo de alimentos com corantes por pré-escolares
de creches públicas e particulares do Município
Implicações do consumo de aditivos do Rio de Janeiro. Os produtos mais consumidos
alimentares e seus riscos à saúde foram: balas, doces, gelatinas com sabor, refri-
gerantes, iogurtes, biscoitos e refrescos, respec-
O consumo de aditivos alimentares tivamente. Observaram-se diferenças entre as
na população infantil creches quanto ao tipo de alimentos consumi-
dos. Nas creches particulares, as gelatinas, refri-
Ainda são poucos os estudos de consumo de gerantes, iogurtes e biscoitos recheados foram
aditivos alimentares, fato de grande importância os alimentos que mais se destacaram. Enquanto
para avaliação da ingestão e dos possíveis efeitos nas creches públicas, a prevalência de consumo
deletérios que essas substâncias possam causar. foi maior para refresco em pó, suco em garrafa,
Apresentamos em seguida, alguns estudos sobre balas e doces. Os corantes encontrados nos ró-
consumo de aditivos alimentares que utilizaram tulos desses produtos foram: amarelo crepúsculo
como método o Questionário de Freqüência Ali- (28%), amarelo tartrazina (27%), vermelho borde-
mentar (QFA) ou Recordatório 24 Horas. aux (17%), azul brilhante (16%) e corante natural
Na Índia, Rao et al. 12 avaliaram a exposição carmin de cochonilha (12%), respectivamente.
aos corantes sintéticos em indivíduos de 1 a 5 A diferença encontrada no estudo de Noguei-
anos e 6 a 18 anos de idade, de classes sócio- ra 14 em relação ao consumo de alimentos com
econômicas distintas utilizando QFA. As crianças aditivos entre as creches (públicas e particulares)
apresentaram uma ingestão de alimentos sólidos provavelmente ocorreu pelo baixo custo destes
entre 2 e 465g/dia e de 25 a 840mL/dia de alimen- alimentos, pois pó para refresco, doces, balas e
tos líquidos com adição de corantes. Entre os oito suco em garrafa são produtos mais baratos do
corantes permitidos no país, seis foram consumi- que os alimentos que constituem o grupo das
dos pela população estudada. Para alguns indiví- creches particulares.
duos a ingestão excedeu a IDA para os corantes Foi analisada a qualidade dos doces em mas-
tartrazina, amarelo crepúsculo e eritrosina que sa do tipo junino quanto à identidade, por meio
é de 7,5, 2,5 e 0,1mg/kg de peso corporal, res- da pesquisa de elementos histológicos e corantes
pectivamente. A ingestão média de corantes por orgânicos artificiais, presença de matérias estra-
pessoa foi de 17,2mg/dia, sendo a mesma menor nhas e rotulagem. Das 15 amostras coletadas no
do que a observada nos Estados Unidos, onde o comércio, nove (60%) foram condenadas devido
consumo foi de 77,1mg. Os autores atribuíram à presença de corantes orgânicos artificiais, e du-
a menor ingestão de corantes na Índia ao baixo as por rotulagem incompatível com a legislação
consumo de alimentos processados. vigente. O corante amarelo crepúsculo foi en-
No estudo realizado no Kuwait por Husain contrado em 23,3% da amostra, seguido do pon-
et al. 13, foi analisada a ingestão de corantes ar- ceau 4R (13,3%) e do amarelo tartrazina (10%).
tificiais por crianças de 5 a 14 anos, com base Segundo os autores, a legislação brasileira não
em um inquérito dietético (Recordatório 24 Ho- permite a adição de corantes em doce em pasta
ras). A amostra foi constituída por 3.141 alunos (Resolução Normativa nº. 09/78). Dessa forma, o
de ambos os sexos, distribuídos em 58 escolas. emprego de corantes configurou fraude 15.

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Como as crianças são consumidores em po- contradas na dieta humana e o desenvolvimento


tencial dessas guloseimas, é imprescindível maior de câncer específico, tais como o de estômago,
vigilância sobre esses produtos. Além disso, os esôfago, cólon, reto, mama e ovário 23,24,25,26.
corantes identificados nesses doces pertencem É pertinente a constante preocupação com
ao grupo Azo, um derivado nitroso reconhecido as substâncias químicas sintéticas, pois estas
como uma substância capaz de causar reações podem desencadear o câncer, estando presen-
alérgicas como asma e urticária, e tem sido alvo tes nos alimentos como aditivos ou contami-
de estudos de mutagênese e carcinogênese por nantes ambientais de uso na agricultura como,
produzir amina aromática, e ácido sulfanílico por exemplo, os agrotóxicos. Também novas
após ser metabolizado pela microflora intestinal. substâncias podem ser formadas durante a coc-
São também denominados compostos azóicos, ção ou através do processo de conservação de
azoderivados ou azocompostos 16,17. alimentos a partir do emprego de técnicas como
É inegável sob o ponto de vista tecnológico a defumação e a salmoura. A capacidade que
que os aditivos assumem papel importante na essas substâncias apresentam de induzir danos
produção de alimentos em larga escala. Porém, celulares e mutação no DNA podem ser mini-
deve haver maior preocupação quanto aos ris- mizadas pelo sistema de defesa natural, tanto
cos toxicológicos provocados pela ingestão diária quanto por um eficiente sistema de desintoxi-
dessas substâncias. cação celular e reparação do DNA produzidos
No Município do Rio de Janeiro, foram coleta- pelos organismos animal e humano, em condi-
das 43 amostras de bebidas não alcoólicas e não ções favoráveis 2.
gaseificadas (bebidas isotônicas, preparados só- O interesse na identificação de substâncias
lidos para refresco, guaraná natural e xaropes de dietéticas específicas responsáveis pelo desen-
groselha). Usando-se a técnica de cromatografia volvimento do câncer é compreensível, porém,
líquida de alta eficiência identificaram-se a pre- não deve ser visto de forma isolada, pois há que
sença e o tipo de corantes. Foram encontrados considerar a multiplicidade de fatores interve-
os corantes: amaranto (37%), amarelo crepúscu- nientes no processo de mutações, hiperplasias,
lo (33%) e tartrazina (28%), respectivamente. O inibição da integração celular, ativação oncogêni-
amaranto esteve presente em 50% das amostras ca, desativação dos genes supressores de tumor,
do xarope de groselha em concentração acima expansão clonal e progressão do tumor 25,26,27.
do teor permitido pela legislação, caracterizando As nitrosaminas e os antioxidantes BHA (an-
fraude 16,17. Os autores alertaram para o fato da tioxidante butil hidroxianisol) podem provocar
quantificação do teor de corante ter sido realiza- danos e mutações no DNA, provavelmente de-
da na amostra diluída como indicado no rótulo, sencadeando, desta forma, a neoplasia. Também
porém, alguns consumidores, principalmente as alguns corantes artificiais, nomeadamente a
crianças, fazem uso desse produto muitas vezes eritrosina e a tartrazina, apresentam potencial
na forma concentrada, como em coberturas para carcinogênico 25,26. Essas substâncias alteram o
sorvetes e bolos 18. “turn-over” das células durante o seu crescimen-
No estudo de Alves et al. 18, a situação é bas- to normal ou no processo de hiperplasia regene-
tante preocupante, pois as bebidas não alcoó- rativa e, deste modo, contribuem para a incidên-
licas apresentaram concentrações de corantes cia de câncer 26.
artificiais acima do permitido por lei. Além de se A identificação de agentes antimutagêni-
configurar uma fraude, ainda há o risco dessas cos e/ou anticarcinogênicos em alimentos é de
substâncias provocarem reações adversas como grande relevância na busca de estratégias para
alergia, devendo ser controlado o seu uso. a prevenção do câncer. Atualmente, os corantes
mais investigados são os do grupo Azo (amarelo
A relação entre aditivos alimentares tartrazina, amarelo crepúsculo e vermelho 40).
e neoplasias Isso se deve aos possíveis efeitos mutagênicos e
carcinogênicos desses corantes 27.
As neoplasias malignas representam um grave Na França, avaliou-se a segurança do consu-
problema de Saúde Pública e diversos estudos mo do corante tartrazina a partir de uma revisão
têm associado o aparecimento do câncer a hábi- sistemática de estudos experimentais. O consu-
tos e estilos de vida não saudáveis, destacando-se mo teórico máximo estimado de tartrazina foi
o consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, dieta de 14,5% e 37,2% da IDA (7,5mg/kg de peso cor-
rica em gorduras trans e saturadas, nitratos e ni- poral) para adultos e crianças, respectivamente.
tritos, e a baixa ingestão de fibras 19,20,21,22. Quanto à associação do consumo de tartrazina
Estudos epidemiológicos têm apontado a re- e efeitos adversos à saúde, os autores acreditam
lação entre a exposição a determinadas substân- que a mesma é superestimada, e os mecanismos
cias (nitratos e outros aditivos alimentares) en- patogênicos ainda não foram suficientemente

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compreendidos 28. Os autores chamam a aten- dade física, exposição ocupacional, infecções vi-
ção para alimentos como sorvetes, sobremesas, ral e bacteriana, e estresse). Foram considerados
bolos e produtos de confeitaria que apresentam como fatores de risco para câncer as infecções
tartrazina e que são comercializados sem a de- virais e bacterianas (51%), seguidas pelo hábito
vida rotulagem. Nesse caso, o consumo desses de fumar (43%), estresse (39%), aditivos alimen-
produtos pode se configurar num risco. tares (37%), consumo de carnes e peixes defu-
Foram investigados os efeitos do uso prolon- mados (21%) e bebida alcoólica (22%). A fração
gado do corante tartrazina na mucosa gástrica de atribuída à especulação do câncer como uma do-
ratos. O referido corante é um dos mais utilizados ença adquirida geneticamente foi 32%, enquan-
no mundo para colorir alimentos. Observou-se to que 36% das pessoas relataram ser o câncer
aumento significativo na produção de linfócitos uma doença que se pode prevenir desde que se-
e eosinófilos na mucosa do antro gástrico dos jam desenvolvidas melhorias no estilo de vida 30.
ratos. Não ocorreram alterações carcinogênicas Na Espanha, García et al. 31 analisaram o com-
em nenhuma das regiões gástricas com a dose e portamento e a percepção em relação às medidas
o tempo utilizados (7,5mg de tartrazina/kg/dia para redução de câncer. Foram utilizados dados
durante dez meses), respectivamente. Como me- da pesquisa longitudinal intitulada Cornella He-
dida de segurança, os autores sugerem outros alth Interview Survey Follow-up Study, sendo en-
estudos modificando-se a dose e tempo de ex- tão avaliados 1.438 indivíduos (668 homens e 770
posição ao corante tartrazina, de forma a permi- mulheres) que em 2002 responderam perguntas
tir a observação dos efeitos associados a outros sobre percepção de risco associada ao estilo de
carcinógenos 2. vida e câncer. O estudo revelou que 95,8% dos
No estudo realizado por Abdel-Aziz et al. 29, indivíduos acreditavam que abolir o hábito de
foi avaliado o efeito do corante eritrosina na fumar, 94,9% evitar exposição ao sol, e 81% evitar
reprodução dos camundongos machos inves- o consumo de bebidas alcoólicas eram medidas
tigando sua influência na espermatogênese. Os de proteção contra o câncer. Já o contato com
resultados apontaram redução significativa da campos eletromagnéticos (92,1%), o consumo de
atividade testicular da enzima LDH-X (isoenzi- alimentos com corantes e outros aditivos (78,4%)
ma dehidrogenase láctica) no grupo de camun- ou pesticidas (69,4%) foram destacados como fa-
dongos exposto ao corante eritrosina (na dose de tores de risco. Ainda no mesmo estudo, compa-
18mg/kg durante 21 dias consecutivos). A admi- rando-se os sexos, as mulheres apontaram mais
nistração do referido corante para o mesmo in- freqüentemente comportamentos de saúde e
tervalo de tempo nas doses de 68 e de 136mg/kg fatores ambientais como os responsáveis pelo
acentuou ainda mais a redução da enzima (LDH- aparecimento do câncer. O nível de escolaridade
X). Observou-se redução nos níveis de esperma- influenciou na percepção de risco em relação aos
tozóides entre os camundongos que receberam fatores dietéticos. Quanto aos aditivos, 85,7% dos
eritrosina por 21 dias consecutivos nas doses indivíduos com menor escolaridade e 72,3% dos
de 68mg/kg-1 para 50,8% e de 136mg/kg-1 para indivíduos com maior escolaridade considera-
33,9%. Além disso, a mobilidade dos esperma- ram benéfico evitar o consumo desses produtos,
tozóides mostrou diminuição significativa após respectivamente.
consumo do corante nas doses de 68 e de 136mg/ Observou-se no estudo realizado por Gar-
kg-1 para 57% e 80,5%, respectivamente. A inci- cia et al. 31 que o emprego de novas tecnologias
dência de espermatozóides com cabeças anor- pelas indústrias foi legitimado pelos indivíduos
mais no grupo controle foi de 19,83%, e de 57,1% com maior nível de instrução, ou seja, eles não
e 64,7% nos grupos que receberam doses de 68 e perceberam os possíveis riscos à saúde advindos
de 136mg/kg-1, respectivamente. Nesse estudo, o do consumo de alimentos com aditivos. Tal fato
corante eritrosina desencadeou ação tóxica em chama atenção para a necessidade de aperfeiço-
células germinativas dos camundongos machos amento das estratégias de comunicação de risco
interferindo de forma significativa na esperma- para doenças como o câncer como elemento im-
togênese. portante de promoção da saúde.
No Japão, foram analisados a percepção e o No Japão, com base na técnica do ensaio
nível de conhecimento sobre fatores de riscos cometa, foram avaliados se os aditivos alimen-
ambientais e genéticos associados à prevenção tares mais consumidos no país induziam danos
do câncer. Participaram do estudo 1.355 japone- no DNA dos ratos. A administração dos aditivos
ses (609 homens e 746 mulheres), com 20 ou mais foi oral em até 0,5 x LD50 ou na dose limite de
anos de idade. Selecionaram-se 12 fatores de ris- 2.000mg/kg. O estudo demonstrou danos no
cos (bebidas alcoólicas, dieta inadequada, aditivos DNA em órgãos de ratos provocados por alguns
alimentares e agrotóxicos, consumo de carnes e aditivos. O corante tartrazina na dose ≥ 10mg/kg
peixes defumados, tabagismo, obesidade, inativi- induziu a danos no DNA do estomago e cólon.

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Já o amaranto (100mg/kg), provocou danos no fantil por: “...início precoce; uma combinação de
DNA da bexiga. Os corantes: amarelo crepúsculo, comportamento hiperativo e pobremente modu-
azul brilhante e carmin não acarretaram danos lado, com desatenção marcante e falta de envol-
estatisticamente significativos 32. vimento persistente nas tarefas; conduta evasiva
Ainda no mesmo estudo 32, os aditivos con- nas situações; e persistência no tempo dessas ca-
servadores (derivados do ácido benzóico e o ni- racterísticas de comportamento”.
trato de sódio) não provocaram danos no DNA. As características sintomatológicas do trans-
Já os antioxidantes BHA e butil hidroxitolueno torno do déficit de atenção e hiperatividade
(BHT) induziram danos no DNA do estômago, podem persistir na vida adulta em até 50%. Na
cólon, bexiga e cérebro. Sendo que as doses mais maioria dos casos, há significativa melhora do
baixas para indução de danos no DNA do cólon quadro do transtorno na adolescência, talvez
foram 500mg/kg para o BHA e 100mg/kg para o devido ao aumento das monoaminas em con-
BHT. Apesar do referido estudo ter sido realizado seqüência do acréscimo no nível de hormônios
com doses elevadas de aditivos, o consumo de- sexuais 37,38.
senfreado dos mesmos pode ultrapassar a IDA Estudos longitudinais epidemiológicos têm
recomendada pelo JECFA acarretando sérios ris- demonstrado que crianças com comportamen-
cos à saúde. to hiperativo, quando não adequadamente tra-
tadas, ficam mais propensas a desenvolver dis-
A relação entre aditivos alimentares túrbios sociais, emocionais e comportamentais,
e transtorno de déficit de atenção bem como a ter problemas na escola 37,38.
com hiperatividade Em 1975, Feingold 39 publicou um livro inti-
tulado Why Your Child Is Hyiperactive? A referida
Nas últimas décadas, o estudo sobre o transtorno obra deu início à discussão sobre a função dos
do déficit de atenção e hiperatividade tem atraído aditivos como desencadeadores da hiperativida-
pesquisadores da área da medicina, psicologia, de em crianças. O estudo analisou, por meio de
nutrição e educação. Esse interesse é fruto do au- dieta de exclusão, o comportamento de crianças
mento do número de casos de crianças com esse após a retirada de aditivos alimentares, nomea-
distúrbio, sendo a prevalência de 3% a 5% em damente os corantes e conservadores artificiais.
crianças em idade escolar. A criança que apre- Feingold 39 constatou que 30% a 50% das crian-
senta o transtorno do déficit de atenção e hipera- ças, que haviam sido submetidas à dieta, apresen-
tividade normalmente persiste com os sintomas taram melhora no comportamento hiperativo.
em grande parte de sua juventude e também na Após o trabalho de Feingold 39, poucos es-
vida adulta. O impacto desse distúrbio sobre a tudos puderam apoiar sua hipótese, por razões
qualidade de vida é marcante, não apenas para a metodológicas, visto tratar-se de um estudo não
criança hiperativa, como também para toda sua controlado, no qual não foram utilizados scores
família 33,34,35. padronizados para interpretação de comporta-
A Associação Americana de Psiquiatria [Ame- mentos e também não se monitorizou as crian-
rican Psychiatric Association – APA] 35 define, pelo ças quanto ao seguimento da dieta de exclusão
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos de aditivos.
Mentais, DSM-IV (1994), o transtorno de déficit O estudo realizado por Boris & Mandel 38
de atenção e hiperatividade como um distúrbio mostrou o papel dos corantes e conservadores
com sinais de falta de atenção e impulsividade, artificiais no aparecimento do transtorno do dé-
não adequados ao nível de desenvolvimento res- ficit de atenção e hiperatividade. Através de uma
pectivo. Designa-se esse distúrbio por déficit de dieta de exclusão, os sintomas desapareceram.
atenção, uma vez que as dificuldades de atenção Crianças atópicas com transtorno do déficit de
são proeminentes e estão sempre presentes nas atenção e hiperatividade tiveram uma resposta
crianças com este diagnóstico. Embora o exces- benéfica mais significativa com a dieta de elimi-
so de atividade motora diminua freqüentemente nação do que as crianças não atópicas. Testes de
na adolescência, muitas vezes as dificuldades de exclusão e reposição, após uma controlada dieta
atenção permanecem. de eliminação, podem auxiliar na identificação
A desatenção pode manifestar-se em situa- dos fatores que determinam o transtorno do dé-
ções escolares, profissionais ou sociais. Os indi- ficit de atenção e hiperatividade.
víduos com esse transtorno podem não prestar Entre os corantes considerados responsáveis
muita atenção a detalhes ou podem cometer er- por alterações no comportamento humano des-
ros por falta de cuidados nos trabalhos escolares tacam-se: tartrazina, amaranto, vermelho pon-
ou em outras tarefas 36. ceau, eritrosina, caramelo amoniacal. No que se
A Classificação Internacional das Doenças refere aos conservadores, os derivados do ácido
(CID-10), da OMS, classifica hiperatividade in- benzóico e os ácidos sulfídrico e sulfito podem

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CONSUMO DE ADITIVOS ALIMENTARES E EFEITOS À SAÚDE 1659

induzir à hiperatividade. Os antioxidantes sinté- sensibilização intra-uterina, tabagismo, exclusão


ticos também são considerados fatores de risco de alimentos alergênicos e aditivos alimentares
para o transtorno do déficit de atenção e hipera- principalmente durante a lactação e no primeiro
tividade 39,40,41. ano de vida da criança 44,45,46.
Tanaka 42 avaliou o efeito reprodutivo e neu- Os corantes artificiais podem desencadear
rocomportamental do corante tartrazina em hipersensibilidade. O corante amarelo tartrazi-
ratos. O referido corante foi acrescentado à die- na é encontrado em inúmeros alimentos. Sua
ta para fornecer níveis de 0% (controle), 0,05%, estrutura química se assemelha aos benzoatos,
0,15% e 0,45% (83, 259, 773mg/kg/dia, respecti- salicilatos e indometacina, daí a possibilidade de
vamente) em ratos com cinco semanas de idade reações alérgicas cruzadas entre fármacos. Além
(geração F0) e nove semanas de idade (geração disso, a tartrazina pode desencadear hipercinesia
F1). O estudo evidenciou o seguinte: a atividade em pacientes hiperativos e eosinofilia. A ocorrên-
motora foi mais intensa nos ratos machos e mais cia de púrpura não-trombocitopatogênica não é
jovens, com a administração de 259mg/kg/dia. comum, mas significa que a tartrazina pode ini-
Não foi observado nenhum efeito adverso da bir a agregação plaquetária, à semelhança dos
tartrazina em relação à reprodução (tamanho da salicilatos, benzoato de sódio e metabissulfito de
ninhada, peso da ninhada e relação do sexo ao sódio 47,48,49.
nascimento). Alguns efeitos adversos ocorreram A hipersensibilidade à tartrazina ocorre em
nos parâmetros neurocomportamentais durante 0,6% a 2,9% da população, com incidência maior
o período de lactação dos ratos. Para Tanaka 42, nos indivíduos atópicos ou com intolerância
esse fato aconteceu porque a quantidade estava aos salicilatos. As manifestações clínicas mais
muito acima da IDA de tartrazina (0-7,5mg/kg/ comuns são: urticária, broncoespasmo, rinite e
dia), e o consumo dietético real deste aditivo pa- angioedema 43.
rece ser muito mais baixo, conseqüentemente, Devido à comprovação dos efeitos adversos
não produziriam os efeitos adversos nos seres provocados pelo corante tartrazina, a Agência
humanos. Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por
É pertinente traçar alguns comentários em meio da Resolução RE nº. 572 de 5 de abril de
relação ao estudo apresentado por Tanaka 42, 2002, obriga os fabricantes a destacar a advertên-
pois a hiperatividade foi mais freqüente nos ra- cia na bula e na embalagem dos medicamentos
tos machos, fenômeno também observado em que contêm este corante.
crianças do sexo masculino. Além disso, o con- O corante amarelo crepúsculo também pode
sumo mais elevado de guloseimas (doces, balas, provocar reações anafilactóides causando angio-
sorvetes, gelatinas e refrigerantes) por crianças edema, choque anafilático, vasculite e púrpura.
pode ultrapassar a IDA para o corante tartrazi- Pode ocorrer reação cruzada entre o amarelo
na, como foi demonstrado também no estudo de crepúsculo, paracetamol, ácido acetilsalisílico,
Husain et al. 13. benzoato de sódio e outros corantes do grupo
Há ainda muitas incertezas sobre o papel dos Azo 45,48.
aditivos alimentares, destacando-se, entre eles, Alguns aditivos alimentares podem induzir à
os corantes artificiais como os responsáveis pelo urticária e angioedema em indivíduos suscetíveis.
aparecimento do transtorno do déficit de aten- Em estudo duplo-cego realizado por Montaño-
ção e hiperatividade. Alguns estudos demonstra- García & Orea-Solano 46, com 33 pacientes com
ram melhora no quadro clínico da hiperatividade diagnóstico de urticária e angioedema crônicos
em crianças submetidas a uma dieta isenta des- e história clínica que sugeriam relação entre o
sas substâncias, mas é preciso aprofundar um aparecimento dos sintomas e a ingestão de adi-
pouco mais os estudos na área para que a criança tivos alimentares, ou sem causa desencadeante
não seja submetida a uma dieta de exclusão de definida, realizaram-se testes com os seguintes
aditivos muito rigorosa 43,44,45. aditivos: metabissulfito de sódio, benzoato de
sódio e corante tartrazina. Nesse estudo, 30,3%
A relação entre os aditivos e dos pacientes apresentaram reação positiva a um
hipersensibilidade alimentar ou mais aditivos. Dos 132 testes, 8,3% foram po-
sitivos para angioedema e urticária, sendo 15%
Os fatores de risco para o desenvolvimento de ao benzoato de sódio, 12,1% à tartrazina e 6% ao
enfermidades atópicas são multifatoriais, desta- metabissulfito, respectivamente.
cando-se como relevantes à predisposição gené- Numa fábrica de corantes naturais da Espa-
tica, a exposição precoce a substâncias alergêni- nha, Tabar et al. 49,50 investigaram a incidência
cas e redução da imunidade. Várias estratégias de sensibilização e asma ocupacional provoca-
podem ser implementadas no sentido de reduzir da pelo corante carmin (cochonilha). Dos tra-
a incidência da hipersensibilidade, como: evitar balhadores expostos ao corante carmin, 48,1%

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1660 Polônio MLT, Peres F

apresentaram sensibilização e 18,5% asma ocu- Os grupos B e C foram constituídos por pacientes
pacional, respectivamente. A asma ocupacional com história de dermatite atópica. Quanto ao gê-
ocorreu devido à inalação de certas partículas nero, 11 eram do sexo feminino e 7 do masculino,
protéicas de artrópodes (cochonilhas), que por a média de idade foi de 29 anos. Os aditivos foram
sua vez atuaram como aeroalérgenos. Para os oferecidos em cápsulas para teste de provocação
autores, o carmin é um agente capaz de produ- DBPC, em uma única administração do desafio.
zir asma ocupacional, cujo mecanismo, seria A ordem foi randomizada e o tempo de observa-
imunológico mediado por anticorpos IgE. Além ção foi de 48 horas após cada provocação; o sta-
disso, por se tratar de um corante amplamente tus da pele foi registrado antes e depois de cada
utilizado como aditivo alimentar, como excipien- teste. As respostas foram positivas para todos os
te farmacêutico e na composição de numerosos aditivos investigados. O aumento de leucotrienos
cosméticos, este pode se constituir como causa na presença de apenas um aditivo alimentar foi
de diversas reações alérgicas, tanto por sua in- observada na maioria dos pacientes com intole-
gestão como por contato cutâneo direto. rância comprovada pelo DBPC aos alimentos e à
Foi realizado um estudo retrospectivo base- tartrazina, benzoato e nitrito. O estudo concluiu
ado na análise dos dados de pacientes que rela- que os aditivos alimentares isoladamente podem
taram episódios de urticária e/ou angioedema agravar ou desencadear dermatite em pacientes
após a ingestão de alimentos com corante tartra- atópicos por meio do aumento na produção de
zina. Os pacientes foram submetidos ao teste IgE leucotrienos 53.
para os alérgenos mais comuns por via inalatória Avaliou-se a produção de metabólitos uri-
e alérgenos alimentares, e um duplo-cego place- nários de histamina e leucotrienos em vinte pa-
bo-controlado (DBPC) para avaliar a exposição cientes com história de urticária crônica. Foram
ao corante tartrazina. Dos 102 indivíduos que selecionados para o desafio DBPC com ácido
participaram do estudo, 18,6% mostraram pelo acetilsalisílico (AAS) e aditivos alimentares. Dez
menos uma reação positiva relevante para o tes- pacientes (grupo B) foram negativos para am-
te IgE para alimentos alergênicos. Somente 1% bos os desafios. Dez pacientes (grupo C) apre-
apresentou reações após a ingestão de 5mg de sentaram urticária e/ou angioedema durante
tartrazina. Esse estudo apontou uma baixa fre- ou 24 horas após o desafio, com reações a AAS
qüência de urticária e/ou angioedema agudos (cinco pacientes) ou a aditivos alimentares (cin-
induzidos pelo corante tartrazina 51. co pacientes). O grupo controle foi constituído
No estudo de meta-análise, Ram & Ardem 52 por 15 voluntários saudáveis (grupo A). Os pa-
avaliaram o efeito tartrazina (exclusão ou desafio) cientes nos grupos B e C foram desafiados duas
na manifestação da asma. Foram considerados vezes: com placebo (como os grupos B1 e C1) e
estudos com a administração oral da tartrazina com AAS (B2 e C2) ou aditivos alimentares (C2).
(desafio) contra o placebo, ou da exclusão dieté- Quatro amostras de urina foram coletadas; uma
tica da tartrazina contra dieta normal. Incluíram- durante a noite antes do desafio específico, e três
se os estudos que focalizaram asma alérgica em em 2, 6 e 24 horas após o desafio. O estudo evi-
adultos e crianças. Dos 90 resumos encontrados, denciou uma variação significativa na excreção
apenas 18 foram considerados relevantes. Destes, urinária de metil-histamina no grupo C2 depois
seis estudos atendiam aos critérios de inclusão, de 2, 6 e 24 horas. Após o desafio específico, so-
mas somente três apresentaram resultados em mente os pacientes C2 apresentaram aumento
um formato que permitisse a análise dentro dos elevado na excreção urinária de leucotrienos. Os
pressupostos da meta-análise. Em nenhum dos resultados mostraram que a excreção urinária de
estudos o desafio da tartrazina ou a exclusão de metil-histamina e de leucotrienos foi maior em
tartrazina da dieta alterou significativamente os pacientes com urticária crônica devido ao AAS
resultados da asma. Segundo os autores, não foi ou à hipersensibilidade ao aditivo alimentar após
possível fornecer conclusões concretas a respeito o desafio 54.
dos efeitos da tartrazina no desencadeamento da Inomata et al. 55 relataram o caso de uma me-
asma, devido à insuficiência de evidências sobre nina de cinco anos que apresentava quadros epi-
o tema. sódicos de urticária, angioedema, cefaléia, disp-
Foi investigada a produção de leucotrienos néia, perda da consciência e dor abdominal. Por
em pacientes com dermatite atópica utilizan- meio de anamnese alimentar contatou-se que os
do-se aditivos alimentares. O estudo DBPC foi referidos sintomas ocorriam após a ingestão de
conduzido usando-se os seguintes aditivos: co- doces coloridos, tais como balas e jujubas. Foram
rante tartrazina, conservador benzoato de sódio realizados testes de desafio com aditivos alimen-
e nitrito. Participaram do estudo 28 indivíduos tares e drogas antiinflamatórias não-esteróides
em três grupos diferentes (A, B, C). O grupo A após a eliminação desses itens. O prick-test foi
representou os indivíduos não-atópicos (n = 10). feito com aditivos e drogas antiinflamatórias

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CONSUMO DE ADITIVOS ALIMENTARES E EFEITOS À SAÚDE 1661

não-esteróides. Foi constatada intolerância aos Considerações finais


corantes do grupo azo e aos antiinflamatórios
não-esteróides. Para os autores, esse resultado O comportamento alimentar dos indivíduos cor-
sugere que a sensibilidade química múltipla a responde não só aos hábitos alimentares, mas
aditivos alimentares e drogas que contenham também às práticas de seleção, aquisição, con-
tinturas azo em crianças pode ser importante servação e preparo relativas à alimentação. Tem
para o diagnóstico da hipersensibilidade. suas bases na infância, transmitidas pela família
Outro estudo de caso de uma mulher com 44 e sustentadas pelas tradições, crenças e tabus
anos e história de urticária crônica e de rinite per- que passam de geração em geração.
sistente. Seus sintomas respondiam bem à admi- Nas últimas décadas, com o acelerado pro-
nistração de anti-histamínico. Foram realizados cesso de urbanização vem ocorrendo mudanças
os prick-test com diversos alérgenos, dentre eles, no modo de vida das famílias e nos hábitos ali-
os alimentares, e os resultados foram todos ne- mentares. A participação das mulheres no mer-
gativos. Nos exames bioquímicos foi encontrada cado de trabalho, reduzindo a disponibilidade
uma discreta eosinofilia (5%). Após melhora do de tempo para o cuidado da alimentação da fa-
quadro de rinite e urticária recomendou-se dieta mília, maior acesso a uma enorme variedade de
de exclusão e o desafio DBPC com aditivos ali- alimentos industrializados de fácil preparo e rá-
mentares. Todos os aditivos foram administrados pido consumo têm contribuído para essas mu-
em cápsulas numa seqüência randomizada. Fo- danças 59.
ram usadas nos desafios oito substâncias ativas e Atualmente, vem se observando que parale-
quatro placebos com intervalos de uma semana. lamente ao consumo dos alimentos básicos há a
A paciente foi controlada por duas horas depois introdução de produtos industrializados, a partir
de cada desafio. Obtiveram-se os seguintes re- do estímulo do marketing das indústrias, com
sultados: após 30 minutos da ingestão de 10mg destaque para o consumo de macarrão instan-
do antioxidante butil hidroxianisol foi desenca- tâneo, achocolatados, iogurtes, biscoitos reche-
deada rinite severa, desaparecendo os sintomas ados, biscoitos salgados e refrescos. Os anúncios
30 minutos após a administração de anti-hista- de televisão estimulam a compra de certos ali-
mínico. Similarmente, a rinite severa foi cons- mentos normalmente de alta densidade ener-
tatada quatro horas depois da ingestão de 25mg gética (sacarose e gorduras trans e saturadas) e
do conservador metabissulfito de sódio; os sin- de baixo valor nutritivo 59. Além disso, grande
tomas foram controlados também com anti-his- parte desses produtos contém aditivos alimen-
tamínico. A urticária severa desencadeou-se 45 tares, principalmente corantes, conservadores e
minutos após a ingestão de 100mg do realçador antioxidantes artificiais, que podem trazer riscos
de sabor glutamato monossódico. Novamente foi à saúde.
observado o quadro de rinite severa, 30 minutos Apesar dos escassos estudos sobre consumo
e quatro horas depois da administração de 10mg de aditivos e efeitos à saúde coletiva, em particu-
do butil hidroxitolueno e 25mg do metabisulfito lar à saúde infantil, a nossa revisão sistemática da
de sódio, respectivamente, e seguido de urticária literatura apontou a criança como um consumi-
em 45 minutos à administração de 100mg de glu- dor potencial de alimentos com aditivos alimen-
tamato monossódico. Nenhuma reação foi indu- tares, nomeadamente corantes artificiais. Tam-
zida pelas cápsulas do placebo 56. bém demonstrou que o corante tartrazina tem
O estudo de Asero 56 demonstrou que embora sido o mais investigado aparecendo em 84,6%
a intolerância ao aditivo alimentar raramente re- dos estudos, sendo avaliado de forma isolada em
presente a causa primária da urticária crônica, o 45,6% deles. O corante tartrazina é o mais utili-
mesmo pode potencializar a urticária idiopática zado na indústria de alimentos e medicamen-
subjacente como foi o caso da referida paciente, tos, portanto, se justifica o grande número de
cujo quadro foi agravado pelo glutamato monos- estudos sobre o mesmo. Merece destaque aqui,
sódico. que outros corantes do grupo Azo como o ama-
Outros estudos também apontaram os efeitos relo crepúsculo e vermelho 40, além dos aditivos
adversos desencadeados pelo consumo de aditi- conservadores e antioxidantes, também podem
vos, principalmente os corantes e conservadores, provocar efeitos deletérios, sendo pertinente a
em relação a manifestações de asma, urticária e elaboração de mais pesquisas.
angioedema 57,58. Em relação aos resultados dos estudos asso-
A Tabela 1 sumariza os principais estudos ciando o consumo de aditivos ao aparecimen-
aqui apresentados, destacando-se a população- to do câncer, identificaram-se divergências. Os
alvo, o tipo de estudo, aditivos alimentares inves- efeitos adversos à saúde foram observados, prin-
tigados e resultados obtidos. cipalmente nos estudos em que a IDA foi muito
elevada. Poucos trabalhos investigaram o trans-

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1662 Polônio MLT, Peres F

Tabela 1

Estudos incluídos na revisão sistemática da literatura no período de 1988-2007.

Autores Ano População/ Objetivos do Aditivos Conclusão


Tipo de estudo estudo alimentares

Worm et al. 53 2001 Adultos (28) Avaliar aumento de Tartrazina, benzoato de ↑ de leucotrienos na
Estudo DBPC leucotrienos em pacientes sódio, nitrito presença dos aditivos. Os
com dermatite atópica aditivos podem agravar
ou desencadear dermatite
atópica

Di Lorenzo 2002 Adultos (20) Avaliar a produção de Tartrazina, eritrosina, ↑ na excreção urinária de
et al. 54 Estudo DBPC metabólitos urinários de benzoato de sódio, leucotrienos e metil-xantina
histamina e leucotrienos por metabissulfito, glutamato nos pacientes com urticária
meio de DBPC com AAS e monossódico
aditivos alimentares

Sasaki et al. 32 2002 Estudo experimental Analisar os danos no Tartrazina, amaranto, Induziram danos no DNA:
(ratos Wistar) DNA acarretados pelo amarelo crepúsculo, azul Tartrazina ≥ 10mg/kg
consumo dos aditivos brilhante, carmin, BHT, BHA, (estomago e colon);
(corantes, conservadores, acido benzóico, nitrato de Amaranto 100mg/kg
antioxidantes) por meio do sódio (bexiga); BHT 100mg/kg e
ensaio cometa; com dose BHA 500mg/kg (bexiga e
0,5 x LD50 cólon). Os demais aditivos
não provocaram danos
significativos

Nettis et al. 51 2003 Estudo retrospectivo Avaliar a exposição ao Corante tartrazina O estudo revelou ↓
baseado em dados de corante tartrazina no freqüência de urticária e/ou
pacientes (102) com urticária desencadeamento da asma angioedema provocadas
e/ou angioedema. Teste IgE e/ou angioedema pela tartrazina
para alérgenos comuns, e
desafio DBPC

Rao et al. 12 2004 Crianças de 1 a 5 anos e de Avaliar o consumo de Tartrazina, amarelo Dos 8 corantes permitidos
6 a 18 anos/Índia aditivos usando-se QFA crepúsculo, eritrosina, na Índia, 6 foram
vermelho ponceau, consumidos. A IDA excedeu
carmosina, azul brilhante para os corantes tartrazina,
amarelo crepúsculo e
eritrosina

García et al. 31 2005 Adultos (1.438)/Espanha Analisar a percepção e Tabagismo, exposição a Medidas para evitar o
comportamento em relação campos eletromagnéticos, câncer: não fumar (95,8%),
às medidas para redução exposição ao sol, etilismo, não se expor ao sol (94,9%),
do câncer consumo de aditivos não se expor a campos
magnéticos (92,1%), não
consumir bebida alcoólica
(81%), não consumir aditivos
alimentares (78,4%), evitar
alimentos com agrotóxicos
(69,4%)

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(8):1653-1666, ago, 2009


CONSUMO DE ADITIVOS ALIMENTARES E EFEITOS À SAÚDE 1663

Tabela 1 (continuação)

Autores Ano População/ Objetivos do Aditivos Conclusão


Tipo de estudo estudo alimentares

Husain et al. 13 2006 Crianças de 5 a 14 anos/ Avaliar o consumo de Tartrazina, amarelo Dos 9 corantes permitidos,
Kuaite corantes (Recordatório crepúsculo, carmosina, 4 excederam as IDAs para
24 horas) vermelho 40, ponceau, azul crianças de 2 a 8 anos
brilhante

Freitas et al. 15 2006 Doces do tipo junino/ Analisar o teor e tipo de Tartrazina, amarelo Corantes mais encontrados:
Rio de Janeiro corantes artificiais em doce crepúsculo, vermelho amarelo crepúsculo (23,3%);
em pasta ponceau vermelho ponceau (13,3%);
tartrazina (10%)

Inoue et al. 30 2006 Adultos (1.355)/Japão Analisar a percepção e o Bebidas alcoólicas, dieta Fatores de risco para
nível de conhecimento inadequada, tabagismo, câncer: infecções virais
para vários fatores de riscos consumo de aditivos e e bacterianas (51%);
ambientais e genéticos para agrotóxicos, consumo de tabagismo (43%); estresse
câncer alimentos defumados, (39%); substâncias químicas
obesidade, inatividade (37%); etilismo (22%);
física, exposição consumo de alimentos
ocupacional, infecções defumados (21%)
bacterianas

Tanaka 42 2006 Estudo experimental (ratos) Avaliar o efeito reprodutivo Tartrazina A atividade motora foi maior
e neurocomportamental do nos ratos machos (259mg/
corante tartrazina em ratos kg/dia). Não foi observado
nenhum efeito sobre a
reprodução

Moutinho 2007 Estudo experimental Investigar o efeito do uso Tartrazina ↑ significativo de linfócitos
et al. 2 (ratos Wistar) prolongado do corante e eosinófilos na mucosa do
tartrazina na mucosa antro gástrico. Na dose de
gástrica de ratos 7,5mg de tartrazina/kg/peso
(IDA) não foi observada
carcinogenicidade

Elhkim et al. 28 2007 Revisão sistemática/França Avaliar a segurança do Tartrazina Na França, o consumo
consumo do corante teórico máximo de tartrazina
tartrazina foi de 14,5% (crianças) e
32,2% (adultos) da IDA

Ram & 2007 Meta-análise Avaliar o efeito da tartrazina Tartrazina Dos 90 resumos avaliados,
Ardem 52 por meio de estudos de 18 foram considerados
exclusão ou desafio, na relevantes. Destes, 6
exacerbação da asma atendiam aos critérios de
inclusão. Em nenhum desses
estudos encontrou-se
resultados significativos para
a asma

DBPC: duplo-cego-placebo-controlado; AAS: ácido acetilsalisílico; BHT: antioxidante butil hidroxitolueno; BHA: antioxidante butil hidroxianisol; QFA:
questionário de freqüência alimentar; IDA: ingestão diária aceitável.

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1664 Polônio MLT, Peres F

torno do déficit de atenção e hiperatividade. Já aditivos alimentares e os mesmos podem provo-


em relação à hipersensibilidade não específica, o car efeitos adversos à saúde.
número de estudos foi maior e os resultados mais Também é necessária a participação efetiva
consistentes quanto às manifestações clínicas de dos órgãos de regulação na vigilância desses pro-
rinite, urticária e angioedema provocadas pelos dutos visando à proteção e promoção da saúde.
aditivos, em particular pelos corantes artificiais. Enfim, os estudos de consumo de aditivos
Na literatura, os estudos dietéticos sobre a alimentares deveriam servir de base para a ela-
população infantil priorizam as deficiências nu- boração de estratégias para a vigilância alimentar
tricionais como a anemia ferropriva, hipovitami- e nutricional da população infantil, com a finali-
nose A, dentre outras, bem como o sobrepeso, dade de reduzir o consumo dessas substancias e
obesidade e desnutrição 60,61,62. Agravos à saúde promover hábitos alimentares saudáveis. Tam-
que sob o ponto de vista da saúde coletiva mere- bém se coloca o desafio de conhecer a percepção
cem investigação e intervenção precoce. Mas é de perigo de crianças e adultos – consumidores
preciso ter um olhar mais amplo para a saúde e desses aditivos alimentares – no que tange aos
nutrição do pré-escolar, pois diversos alimentos riscos de ingestão continuada de aditivos ali-
industrializados, que estão compondo cotidia- mentares para a saúde. Desafios imprescindíveis
namente a alimentação deste grupo apresentam para o campo da saúde coletiva.

Resumo Colaboradores

Este estudo visa a contextualizar por meio de uma re- M. L. T. Polônio e F. Peres participaram de todas as eta-
visão sistemática da literatura, os riscos acarretados pas do artigo.
pelo consumo de aditivos alimentares. Em relação aos
resultados dos estudos associando o consumo de adi-
tivos ao aparecimento do câncer, os efeitos adversos à
saúde foram observados principalmente nos estudos
em que a Ingestão Diária Aceitável (IDA) foi excedida.
Também apontou uma carência de pesquisas sobre o
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Já
em relação à hipersensibilidade não específica, o nú-
mero de estudos foi significativo e os resultados mais
consistentes quanto às manifestações clínicas de rini-
te, urticária e angioedema provocadas pelos aditivos,
em particular pelos os corantes artificiais. As crianças
aparecem como grupo vulnerável, em razão do consu-
mo potencial de alimentos com aditivos alimentares,
particularmente corantes artificiais. Os resultados in-
dicam que estudos de consumo de aditivos alimentares
deveriam servir de base para a elaboração de estraté-
gias de vigilância alimentar e nutricional, com a fina-
lidade de promover hábitos alimentares saudáveis.

Aditivos Alimentares; Vigilância Nutricional; Doença


Crônica; Hábitos Alimentares

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(8):1653-1666, ago, 2009


CONSUMO DE ADITIVOS ALIMENTARES E EFEITOS À SAÚDE 1665

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Recebido em 10/Nov/2008
Versão final reapresentada em 13/Abr/2009
Aprovado em 20/Abr/2009

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