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3ª EDIÇÃO

ECONOMIA

URANILSON BARBOSA DE CARVALHO

2007
Textos elaborados e de responsabilidade do Prof. Uranilson Carvalho.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 2


APRESENTAÇÃO

Esse trabalho pretende dar ao “leigo” ou estudante da disciplina de Economia em


cursos de graduação e pós-graduação, uma noção do funcionamento da atividade
econômica de um país, fornecendo informações básicas, de maneira clara e objetiva, sobre
os acontecimentos econômicos que ocorrem no mundo e, principalmente, no Brasil,
desmistificando o difícil e complicado jargão econômico.

A intenção principal desse livro é embasar o leitor para a compreensão de algumas


discussões econômicas importantes presentes em nosso dia-a-dia e que circulam nos
principais noticiários. Para tanto, temas como: mercado, bolsa de valores, crescimento
econômico, taxa de juros, comércio exterior, globalização da economia, evolução do
pensamento econômico entre outros, contemplam os conteúdos desse livro, através de uma
linguagem prática, direta e bastante simplificada.

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INTRODUÇÃO

Costuma-se dizer que todo brasileiro tem um pouco de técnico de futebol, médico e
economista. Este argumento é até certo ponto aceitável. O futebol, como esporte principal
no Brasil, leva os torcedores a dominar alguns fundamentos básicos dessa atividade, e
conseqüentemente, conhecer, ou pelo menos achar que conhece táticas que possam levar
seu time à vitória. Com a dificuldade de acesso de grande parte da população ao sistema de
saúde pública de qualidade, busca-se a medicina caseira, porquanto a automedicação
predomina nos lares das famílias brasileiras.

O mesmo acontece com a Economia. A instabilidade econômica que durante anos


perseguiu a Nação e as atuais e recorrentes notícias sobre as taxas de juros, o câmbio, as
altas e as baixas das bolsas de valores entre outras, permite ao brasileiro conviver com
temas de ampla complexidade, induzindo a alguns ficarem à vontade para sugerir ao
governo, alternativas para a melhor condução da política econômica nacional.

Porém, podemos perceber que apesar da maioria dos brasileiros conviverem com a
adversidade econômica e principalmente a social, isso não lhes dá condição suficiente para
permitir o entendimento das forças que movimentam a atividade produtiva e financeira do
país.

Para esclarecer alguns dos principais aspectos que dizem respeito à Economia,
elaboramos esse livro introdutório e o separamos em capítulos que irão permitir a
compreensão de temas econômicos ao longo da sua leitura. No primeiro capítulo, faremos
uma rápida abordagem ao surgimento da Economia, desde a fase que antecede o sistema
capitalista aos dias atuais. Dando seguimento, dissecaremos o problema da escassez dos
recursos e mostraremos como é feita a discussão sobre a forma de atingir o nível de bem-
estar desejado pela população, malgrado a escassez dos recursos. Na terceira etapa, será
feita uma explicação sobre o mercado e seu funcionamento e no quarto capítulo
mostraremos a dinâmica do sistema produtivo. Do quinto ao oitavo capítulos serão
abordados temas de ordem macroeconômica, como: inflação e suas causas; em seguida, as
discussões sobre o sistema financeiro e a política econômica; o subdesenvolvimento e
encerraremos com o estudo do comércio externo e uma breve análise da nova dinâmica
econômica mundial.

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1. A ECONOMIA E O SEU NASCIMENTO

Introdução

Neste capítulo, faremos um breve passeio pela história da formação econômica, para
percebermos o surgimento da Economia como ciência. Constataremos que em nosso mundo
as metamorfoses devem-se, em sua grande maioria, às decisões econômicas, capazes de
operar transformações na estrutura de um país e nos hábitos de seu povo.

A Economia organizou-se como ciência no início da Revolução Industrial, quando


ocorreram profundas alterações econômicas e sociais, a princípio, na Inglaterra e em parte
do continente europeu e, posteriormente, no resto mundo. A produção e o lucro seriam
vistos como motores do desenvolvimento econômico. Os trabalhos artesanais e a mão-de-
obra escrava seriam substituídos, respectivamente, pela produção em série com auxílio de
máquinas e pelo operário, que prestaria seus serviços em troca de salário. A cobiça do
homem seria vista com bons olhos. Na busca por ganhos cada vez maiores, o homem
aumentaria sua produção para obter maior margem de lucro. Inconscientemente, toda a
comunidade seria beneficiada por uma quantidade maior e diversificada de bens e serviços.
Não seria necessária a participação do Estado na Economia; o mercado livre seria a tônica
desse novo mundo, dando origem ao que hoje conhecemos como Capitalismo. Porém,
antes de abordarmos esse contexto mais especificamente, faremos uma breve trajetória das
formas de organizações das atividades econômicas que antecederam ao sistema capitalista.

Do Imperialismo ao Feudalismo

A forma de produção pré-capitalista era a artesanal e os conhecimentos eram


transmitidos de geração em geração, sem que melhorasse a prática de produzir. A mão-de-
obra utilizada era a escrava, obtida através da força: os povos vencidos em guerra
submetiam-se aos vencedores, prestando-lhes serviços de todos os tipos sem nenhuma
remuneração.

O período supracitado faz referência ao Império Romano, onde predominava o


regime escravocrata, cujo poder era autoritário e extremamente concentrador. As invasões
dos Bárbaros derrubaram o Império, dando origem a outro modelo de sociedade. O autor
francês Henri Denis fez a seguinte citação sobre a invasão dos Bárbaros: “Quando
penetram no Império e nas regiões onde formam a maioria da população, os Bárbaros
constituem comunidades de aldeia. As terras abandonadas tornam-se propriedade da
aldeia, que as reparte periodicamente entre os habitantes. Mas, ao mesmo tempo, os chefes
apoderam-se dos grandes domínios, das vilas romanas, e formam uma aristocracia
fundiária.” (Denis, 1974, p. 83)

Essa aristocracia fundiária formou o Feudalismo (século XI - XIV). No sistema


feudal, ao contrário do imperial, o poder era totalmente descentralizado, e cada feudo era

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economicamente auto-suficiente. Os escravos seriam substituídos pelos servos, que
passariam a trabalhar nas terras do senhor em troca de proteção. O latifúndio era
predominante, atribuindo à agricultura a principal fonte de riqueza dos feudos. Em
margem dos domínios do senhor feudal os pequenos comerciantes viviam e
comercializavam especiarias nas aldeias. Mesmo localizados fora da área rural, os burgos
(habitantes das aldeias) pagavam impostos ao senhor pelas terras utilizadas. Paralelamente,
existiam o clero (Igreja) e a nobreza.

O Espírito Empreendedor dos Comerciantes

Adiantando um pouco mais a história, chegando ao século XVI, na Europa, o regime


feudal não apresentava tanta pujança. A união dos burgos com a nobreza ⎯ adversários da
autonomia dos feudos ⎯ contribuiria para a formação de um movimento reivindicatório
que iria provocar mudanças profundas na sociedade, possibilitando a aglutinação de
diferentes conceitos dos fatores que representariam a verdadeira riqueza. A aristocracia
rural iria gradativamente perdendo sua importância, cedendo espaço aos comerciantes. O
comércio seria visto como a principal fonte de prosperidade; os comerciantes, por seu
espírito empreendedor, estimulariam a evolução da sociedade, tirando-a da estagnação em
que se encontrava no período feudal. Por sua vez, a procura de ganhos crescentes dos
burgos estimulada pelo apoio da nobreza, levaria à construção de grandes embarcações, que
iriam em busca de novas terras, fora dos limites dos mercados europeus de então. Não só
especiarias como também produtos agrícolas e metais preciosos eram auferidos por essas
explorações.

Formaram-se os Estados-Nações como Portugal, Espanha, França, Holanda,


Inglaterra. A riqueza de uma nação media-se pelo estoque de pedras valiosas, em seu poder;
quanto mais ouro e prata possuía, mais potente ela seria. Essa modalidade comercial, do
“além mar”, traria enormes benefícios aos comerciantes e à nobreza. Seguindo este
raciocínio, as colônias serviam de esteio a essas nações, tanto como fornecedoras de
matérias-primas e de metais preciosos como, também, consumidoras dos bens e serviços
produzidos pela “pátria-mãe”. Portanto, as colônias tiveram um fundamental papel nas
transformações ocorridas na Europa. Essa prática ficou conhecida como Mercantilismo
(séculos XVI-XVIII), que, sem dúvida alguma, representou um grande avanço naquela
época. A intensificação do comércio trouxe consigo novos mercados, ampliando
possibilidades de consumo que até então o povo europeu desconhecia.

O início das atividades bancárias, do papel-moeda e da própria inflação foram


adventos ocorridos na política mercantilista. O ouro e a prata que entravam na Europa,
provenientes principalmente das colônias americanas, seriam confiadas, em sua grande
parte, a prepostos indicados pelos governantes ⎯ os ourives ⎯ que emitiam em nome dos
depositantes recibos especificando a quantia de metais preciosos que estavam sob sua
guarda. Essa prática levou à criação de inovadoras práticas bancárias e deu aos bancos
poder de criar moeda. Os ourives recebiam dos depositantes uma porcentagem sobre as
quantidades depositadas pelos serviços prestados de proteção e conservação dos metais.

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Mas, os recibos dificilmente retornavam aos bancos, pois os indivíduos preferiam negociar
com os papéis emitidos por esses estabelecimentos. A praticidade, a confiança e a
segurança dessas operações desestimulavam o saque do ouro e da prata. Praticidade, por
não haver necessidade de ter em mãos as pedras preciosas para a negociação, pois se a
transação comercial envolvesse produtos com valores elevados seria necessário, em
contrapartida, uma grande quantidade de metais, exigência essa que a utilização dos papéis
eliminou por completo. Por sua vez, a confiança era gerada por critérios rigorosos da
inspeção da qualidade e da procedência feitas pelos ourives, dando o real valor do ouro e da
prata que estavam sob sua custódia. Quanto à segurança, as condições eram pouco
propícias para o transporte de metais preciosos, devido à freqüência de assaltos. Confiar sua
guarda a terceiros que se remunerava com alguns gramas de ouro era a prática adotada. Por
esses três motivos, foi-se generalizando o uso dos papéis-moedas emitidos pelos bancos.

Um problema contemporâneo manifestou-se, também, no período do mercantilismo


⎯ a inflação. Ao chegar à Europa, das colônias americanas, Cristóvão Colombo, trouxe
consigo uma grande quantidade de ouro e de prata. O excesso dos metais acarretou sua
depreciação, fazendo com que o comerciante exigisse do comprador uma quantia cada vez
maior de ouro e de prata, desencadeando-se assim um processo inflacionário que
beneficiaria os comerciantes e prejudicaria aos consumidores.

A inflação persistente propiciou o acúmulo dos metais preciosos por parte dos
comerciantes, o que, por sua vez, deu ensejo a uma ampla revolução, donde emergiria um
novo modo de produção que transformaria os costumes do povo da época.

A Indústria e os Economistas

O acúmulo dos metais preciosos acarretaria investimentos no setor produtivo. As


invenções como a máquina a vapor e o tear mecânico ⎯ propiciariam ganhos de
produtividade. Com a substituição do trabalho artesanal pelo trabalho em série, com o
auxílio de máquinas, os escravos cederiam lugar aos operários. A distinção de raça deixava
de ser a condicionante do emprego da mão-de-obra, homens, independentes da cor
prestariam seus serviços em troca de uma recompensa em dinheiro ⎯ salário. Estava
nascendo um novo modelo face ao esgotamento do mercantilismo, o capitalismo. O
conjunto dessas reformulações, ocorridas no século XVIII na Inglaterra, foi denominado
Revolução Industrial.

A cultura produtiva transmitida de pai para filho foi radical e penosamente


substituída por máquinas que trabalhavam com mais eficiência, gerando inquietação no seio
da população, pois artesãos e agricultores tiveram que renunciar a sua autonomia e prestar
serviços aos capitalistas, já que não podiam competir com as fábricas, essas por sua vez
aplicaram a divisão do trabalho e a especialização no processo produtivo possibilitando
uma elevada produtividade. Cabe citar o exemplo de Adam Smith para produção de
alfinetes. Para ele uma pessoa fabricando sozinha esse produto não conseguiria ultrapassar
vinte, entretanto na forma que estava se desenvolvendo naquela época, com divisão em

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vários setores ocorreria um ganho de produtividade: “Um operário desenrola o arame,
outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas
para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça de alfinete requerem-se 3 a 4
operações diferentes . . .a própria embalagem do alfinete constitui uma atividade
independente. . . .Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiriam produzir entre elas mais
que 48 mil alfinetes por dia.” E conclui: “Se, porém, tivessem trabalhado
independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse
ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes
por dia. . .A divisão do trabalho, na medida em que é introduzida, gera, em cada ofício, um
aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. ” (Smith, 1996, p.66)

Neste sentido, surge então a necessidade de justificar perante a sociedade os


motivos dessas transformações e explicar a sua importância no âmbito mundial. Assim
nasce a ciência econômica que tentaria formular uma ideologia capaz de defender os
acontecimentos recentes e indicar como as nações alcançariam o seu desenvolvimento,
proporcionando um nível de bem-estar satisfatório aos membros da sociedade.

A primeira tentativa de explicar os acontecimentos da época partiu do francês


François Quesnay, figura de proa da Escola Fisiocrata. Quesnay formulou críticas
contundentes ao sistema mercantilista, voltando toda sua atenção para a produção,
ressalvando a importância, principalmente, do setor agrícola, como a principal geradora de
riquezas. Para ele só a natureza produziria riqueza e a indústria só transformaria, afirmação
essa que debilita sua análise. A grande falha dos primeiros economistas (os fisiocratas) foi
subestimar a importância das indústrias, principalmente pelo fato da época representar o
nascimento das unidades fabris. Os fisiocratas defendiam a plena liberdade ⎯ o laissez-
faire (deixar livre). A intervenção do Estado autoritário prejudicaria o sistema produtivo do
país; por isso, a tomada de decisões econômicas não necessita da interferência do governo.
A burguesia industrial, apesar de não concordar a totalidade dessa concepção econômica,
aceitava muitos pontos dos fisiocratas, sobretudo a questão da liberdade.

Entretanto, a principiante classe capitalista necessitava de um corpo doutrinário que


interpretasse satisfatoriamente os acontecimentos e destacasse a importância econômica das
indústrias. Surge então a Escola Clássica constituída pelos chamados economistas
clássicos, que deram o respaldo de uma formação ideológica à Revolução Industrial e à
nascente sociedade capitalista. Os economistas, que ganham destaque e notoriedade, são
considerados cientistas, e seus axiomas são utilizados para explicar os fenômenos que estão
ocorrendo na Europa.

Nessa época pairavam muitas dúvidas e incertezas: Como explicar uma sociedade
cujos meios de produção não dependiam mais da mão-de-obra forçada nem dos costumes?
Uma sociedade com um Estado incapaz de tomar decisões quanto ao destino da economia
de uma Nação? As respostas às indagações supracitadas viriam da escola clássica, cujo
principal mentor foi o economista escocês Adam Smith. Em seu livro, A Riqueza das
Nações, publicado em 1776, expõe uma doutrina econômica que trata das transformações
que o velho mundo estava sofrendo, tornando-se o primeiro ideólogo a receber a confiança
da burguesia industrial.

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Para eliminar as dúvidas, Smith sustenta ser desnecessária a participação do Estado
nas atividades econômicas e aponta que a economia seria conduzida simplesmente pelas
forças do livre mercado, via ambição do homem. Esse poderoso motor dinamizaria todo o
sistema produtivo, assegurando assim o crescimento da nação. O homem, à cata de ganhos
cada vez maiores, beneficiaria a sociedade como um todo. A sua ânsia por lucros
crescentes, acarretaria um aumento de produção, um número maior de pessoas passaria a
trabalhar nas unidades de produção, gerando mais empregos e, conseqüentemente, mais
renda e mais consumo. A acumulação de riquezas por uma minoria estimularia mais
investimentos no futuro, pois o atendimento de suas satisfações pessoais beneficiaria, por
sua vez, toda a sociedade. Tudo isto deveria acontecer inelutavelmente, dispensando,
portanto, a interferência dos gestores públicos nas ações individuais dos cidadãos, cujas
decisões são suficientes para promover o equilíbrio econômico.

Neste período, houve avanços técnicos expressivos, dentre outros, cabe destacar os
ocorridos na indústria de tecido com a máquina de fiar por Hargreaves em 1770; o filatório
tocado por água, criado por Arkwright em 1769; o filatório de Crompton de 1779 e o
filatório autônomo introduzido por Kelly em 1792; porém, nenhuma dessas invenções
existiria sem a máquina a vapor de Watt de 1767. Além do processo de pudlagem e o
laminador, ambos de Cort, em 1784. (Dobb, 1963)

O laissez-faire dos fisiocratas explicaria e justificaria o comportamento que o


Governo e a sociedade deveriam adotar. As crises seriam manifestações de curto prazo,
voltando, a seguir, o equilíbrio e o fôlego para o aquecimento da Economia e firmando-se a
reestruturação necessária para o desenvolvimento. Outros economistas de vulto,
pertencentes à mesma escola, trouxeram valiosas contribuições às idéias precursoras de
Adam Smith. Destarte, a concepção clássica assim enriquecida perdurou por mais de um
século, graças a luminares como David Ricardo, Thomas Robert Malthus, John Stuart Mill
e Jean-Baptiste Say.

Percebemos que a livre-concorrência era o leit motiv dos economistas clássicos,


capaz de restaurar automaticamente o equilíbrio em toda a economia e propiciar bem-estar
aos indivíduos.

O Socialismo Científico de Karl Marx

Deixando momentaneamente de lado a análise de mercado, atentemos na situação


da população. Vale lembrar que a Revolução Industrial, ocasionou um avanço técnico nos
meios de produção, elevando a produtividade. Por sua vez, o setor agrícola estava em
situação precária, devido à política de substituição ⎯ nas pequenas propriedades rurais,
cujas famílias viviam na base da economia de subsistência, ou seja, plantavam apenas para
o próprio sustento ⎯ das atividades tradicionais pela criação de ovinos, que forneceriam a
matéria-prima para a indústria de tecidos. Tal transtorno transformou-se rapidamente num
grave problema social, cujas conseqüências danosas para o pequeno produtor rural, podem
ser avaliadas no obra do autor Robert Heilbroner: “Esta é uma observação surpreendente,

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pois apenas cem anos antes o interior da Inglaterra consistia em grande parte de
proprietários camponeses que cultivavam suas próprias terras; tratava-se do pequeno
proprietário, orgulho da Inglaterra, o maior grupo do mundo de cidadãos independentes,
livres e prósperos. . .A lã tornara-se uma mercadoria nova, lucrativa, e exigira que seu
produtor tivesse amplas pastagens . . . Essas terras de repente são declaradas inteiramente
como propriedades absolutas dos lordes e não mais disponíveis para uso dos camponeses.
Onde antes havia uma espécie de propriedade comum, agora existe a propriedade privada.
Onde antes havia pequenos proprietários rurais, agora há ovelhas.” (Heilbroner, 1996,
p.33,34 )

As famílias expulsas do campo migravam em grande parte para os centros urbanos,


em busca de emprego nas indústrias. A necessidade deste povo colocava-o em uma situação
de extrema submissão ao capitalista. Que, por sua vez, explorava ao máximo essa mão-de-
obra. As perspectivas desse contingente populacional eram limitadas pela própria
sobrevivência. Inevitavelmente, a crise social geraria um contingente elevado de miseráveis
e um clima de tensão insuportável à classe burguesa. Para avaliarmos a situação social do
operário no tempo da Revolução Industrial, citamos um pequeno trecho do livro de Araújo:
“A situação social da maioria da população era calamitosa. Qualquer viajante de um país
moderno que passasse pela Inglaterra entre 1770 e 1830 ficaria chocado com a miséria, a
subnutrição e a exploração do operariado. A jornada de trabalho podia chegar a mais de
14 horas diárias. Crianças e mulheres eram obrigadas a trabalhar em condições
subumanas. As crianças, às vezes, eram amarradas às máquinas para não fugirem. As
condições de higiene também eram péssimas e os costumes brutais. Não é de admirar que
a mortalidade infantil fosse elevada. Existiam mulheres que haviam tido 20 filhos e todos
haviam morrido. A sorte era muito desigual para as diversas classes sociais.” (Araújo,
1996, p. 25 )

A transição do mercantilismo para o capitalismo deu origem a uma classe social


excluída, formada por grupos marginalizados cujas atividades criminosas assustavam os
capitalistas: o terror existente gerava previsões catastróficas, quanto ao futuro da
humanidade. Um dos conceituados economistas do período, Robert Malthus, chamava a
atenção sobre o perigo do crescimento da população miserável, que vinha impondo
estorvos ao sistema produtivo. A população, para Malthus, vinha aumentando acima da
capacidade de produção de alimentos, comprometendo, assim, no futuro a sobrevivência da
nossa espécie.

As tensões sociais davam origem a conflitos sociais, cuja dramaticidade alimentava


o pessimismo de pensadores e filósofos. Mas, a principal conseqüência deste estado de
coisas foi a formação de uma doutrina econômica, que se oporia ao ponto de vista dos
economistas clássicos. As insuportáveis condições de vida do operariado e a exclusão da
maioria da população, contribuiriam para a defesa de uma sociedade que oferecesse
condições iguais a todos os homens.

Nascia assim o Socialismo, a princípio defendido pelos chamados Filósofos


Utópicos, cuja fértil imaginação modelou cidades utópicas para o proletariado, eliminando
o desemprego e miséria. Sendo todos os cidadãos iguais entre si, não haveria mais
discriminação. Esses devaneios não chegaram a se concretizar, mas foram reformulados por

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pensadores geniais, que conseguiriam arquitetar uma sociedade que emergiria do flagelo do
capitalismo, derrubando a figura central do capitalista. E, tanto o Estado como os meios de
produção ficariam sob o controle da classe operária.

Esta visão pertence ao chamado Socialismo Científico, cujo principal formulador


foi Karl Marx (filósofo e economista alemão) que conseguiu através do seu livro ⎯ O
Capital ⎯, lançado em 1867, um resultado que talvez nem ele mesmo esperasse: a
mobilização dos operários para dirimir seus problemas e exigir da burguesia um melhor
tratamento. Em suma, o pensamento marxista previa o colapso do capitalismo, sendo o
poder tomado pelo proletariado, por meio de uma revolução, quando a ditadura favoreceria
as classes mais humildes, distribuindo a riqueza e estatizando a propriedade privada.

É obvio que o teor ideológico do marxismo não agradava aos capitalistas.


Amedrontados com a possível revolução, foram adotando melhorias significativas para o
trabalhador: diminuição da carga horária de trabalho, aumentos salariais, aceitação das
greves etc. Entretanto, a insatisfação popular perdurava e a lei do mercado livre, defendida
pelos economistas clássicos, mostrava sinais visíveis de fragilidade, sendo incapaz de
encontrar soluções às crises econômicas e sociais. Transcorrido, aproximadamente, um
século e meio após a Revolução Industrial, o desemprego e a miséria aumentavam
assustadoramente. A fórmula de Adam Smith e seus seguidores não conseguira trazer
soluções plausíveis para os problemas. Concomitantemente, levantes freqüentes de
trabalhadores criavam um clima de insegurança para os capitalistas. Percebiam que a
qualquer momento o proletariado poderia apoderar-se de suas riquezas por meio de uma
revolução. Também existia a concreta possibilidade da instauração de governos socialistas
em todo o mundo.

A Crise do Capitalismo e o Keynesianismo

Em 1929, irrompeu a Grande Depressão, uma convulsão assombrosa do


capitalismo. Inúmeras indústrias decretaram falência, mais de 5.000 bancos interromperam
suas atividades, o comércio entrou em crise e o desemprego alcançou números
astronômicos. Mais do que nunca a ameaça comunista ganhava força e ímpeto. Chegava ao
fim o modelo clássico de desenvolvimento, o mercado por si só mostrava-se incapaz de
gerar o equilíbrio automático, a crise ganhava um caráter irreversível. Não só os problemas
sociais, que estão na origem do movimento socialista, mas, principalmente a crise
econômica, esvaziaram a concepção clássica, surgindo daí a necessidade de construir um
novo modelo econômico que condissesse com a realidade e trouxesse soluções concretas e
a curto prazo.

Foi exatamente neste clima desesperador que apareceu um dos mais eminentes
economistas do século XX, John M. Keynes. A sua capacidade de avaliar o contexto
econômico levou-o a criar um modelo capaz de tirar o capitalismo da crise. A sua análise
iria de encontro às dos economistas clássicos. Criticava severamente a lei do laissez-faire e
defendia a presença de um Estado moderado na Economia, trabalhando em parceria com a

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iniciativa privada. A saída apontada por Keynes era essencialmente simples: o Estado
deveria atuar na Economia, através de investimentos de infra-estrutura, como: ferrovias,
rodovias, siderúrgicas, refinarias, portos, saneamento básico etc.; facilitar os empréstimos
aos empresários, para que pudessem recuperar suas empresas, para tanto, os juros deveriam
estar sempre baixos para desestimular as aplicações financeiras e aquecer os investimentos
produtivos e, também, reduzir a alíquota do imposto que incide sobre a renda para ampliar
o consumo. Todas essas medidas surtiriam efeitos positivos na Economia, pois uma política
fiscal e monetária expansivas estimulariam à geração de empregos e possibilitaria a
recuperação dos investimentos privados.

Os Estados Unidos foram o primeiro país a adotar a fórmula keynesiana de


desenvolvimento. O programa governamental lançado em 1933 do presidente Franco
Delano Roosevelt, conhecido como New Deal, consolidou o programa-base de Keynes,
possibilitando a recuperação da Economia norte-americana e tornando o país a mais nova
potência mundial. Outros fatores fariam dos Estados Unidos a nação que comandaria as
ações econômicas a partir da segunda metade do século XX ou após a Segunda Guerra
Mundial, como: o ingresso de suas empresas em outros países (as multinacionais); a
“Guerra Fria” que possibilitou a venda de seu material bélico aos países subdesenvolvidos e
a política de empréstimos externos, colocando vários países no rol de seus devedores. Mas
o estudo das outras variáveis e das políticas internacionais, que estimularam a Economia
americana não será necessária para nossa análise. Limitaremos nosso estudo a política
interna, já mencionada, estruturada no molde keynesiano.

Durante a leitura deste breve relato da História do Pensamento Econômico, foram


oferecidos subsídios ao leitor para fazer várias comparações com a nossa realidade. Se
assim o fez, o objetivo deste primeiro capítulo foi atingido, pois o que é a História senão
um valorosíssimo instrumento de estudo para que possamos compreender o passado,
dominar o presente e semear o futuro.

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2. POR QUE EXISTE A ECONOMIA?

2.1.“A Economia é a Ciência da Escassez”

Vamos imaginar um país que consiga satisfazer plenamente todas as necessidades


de consumo de sua população, ou seja, um país cujos recursos disponíveis (máquinas e
equipamentos, matéria-prima e mão-de-obra) sejam suficientes para gerar uma produção
capaz de suprir qualquer necessidade. Todo indivíduo participante tem condições de
adquirir bens e serviços, sem limite de quantidade, todos os desejos são prontamente
atendidos.

Certamente, já deu para perceber algo estranho nesta suposição. Nenhum país tem
condições de atender a todas as necessidades de sua população, sem limites de quantidade.

A variável que impossibilita a existência do país citado acima é a escassez de


recursos. Na economia, escassez é o limite que se impõe na produção dos bens e serviços,
em conseqüência da pequena quantidade de recursos disponíveis. É esse limite o fator
primordial da ciência econômica: a escassez é o principal tópico com que lida a economia.

Os desejos dos homens nunca alcançarão plena e total satisfação, sempre serão
procuradas novas formas de consumo. Mesmo em sociedades de países com alto nível de
desenvolvimento não é possível atingir o limite, mesmo que se alcancem excelentes níveis
de bem estar. O ser humano sempre almeja formas que possam melhorar, cada vez mais,
seu padrão de vida.

Contudo, em grupos sociais onde predomine a miséria, impera a luta pela


sobrevivência, ou seja, o grau de satisfação é atingido quando são supridas as necessidades
básicas. Mas, tão logo sejam atendidas essas necessidades, o homem procurará novas
formas de consumo, que sequer imaginara antes.

Diante desta situação paradoxal ⎯ de um lado, o desejo ilimitado e insaciável das


sociedades e, do outro, a escassez dos recursos disponíveis ⎯ encontra-se a economia
procurando equacionar, da melhor maneira possível, este difícil dilema.

2.2 O Difícil Dilema da Escolha

Como vimos no tópico anterior, a escassez de recursos torna possível a própria


existência da economia. Essa escassez coloca a sociedade diante de outro grande dilema:
será uma constante em qualquer grupo social, escolher entre este ou aquele produto que
possa lhe proporcionar maior grau de satisfação.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 13


Todos nós enfrentamos estes problemas, seja no grupo familiar, nas unidades de
produção (empresas, indústrias, fazendas, fábricas. . .) e nos governos; pois ninguém pode
livrar-se de situações dessa natureza.

Exemplos Hipotéticos

NAS FAMÍLIAS

ORÇAMENTO FAMILIAR

A família do Sr. João possui uma renda mensal líquida de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) distribuída da seguinte maneira:

Tabela 1 – Orçamento Familiar Hipotético

DESPESAS DISTRIBUIÇÃO PORCENTAGEM


DA RENDA (R$) (%)
ALIMENTAÇÃO 500,00 25
ALUGUEL 400,00 20
ÁGUA E LUZ 150,00 7,5
TRANSPORTE 100,00 5
EDUCAÇÃO 250,00 12,5
SAÚDE 320,00 16
LAZER 250,00 12,5
VESTIMENTAS 30,00 1,5
TOTAL 2.000,00 100

Dado o limite de seus recursos ⎯ R$ 2.000,00 ⎯, o desejo em aumentar os gastos


com qualquer dos itens acima implicará, necessariamente, numa diminuição de outro item.
Com os R$ 2.000,00 plenamente utilizados, caso Sr. João queira gastar mais com a
alimentação, terá que diminuir a despesa com outro item do orçamento.

NAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

INDÚSTRIAS

A indústria automobilística GP S/A pretende, nos próximos anos, aumentar sua


produtividade, ou seja, gerar uma quantidade maior de veículos no mesmo prazo. Para
tanto, está robotizando sua fábrica.

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Obviamente, devido à escassez de recursos, a indústria terá que efetuar cortes no seu
quadro de funcionários (mão-de-obra) em decorrência da robotização da industria, voltada
para o aumento da produtividade e da qualidade do produto final. Assim, estamos diante do
dilema entre informatização dos meios de produção e mão-de-obra.

NOS GOVERNOS

A necessidade de escolha também se estende à administração pública. Os governos


de qualquer esfera (municipal, estadual ou federal) estarão sempre diante de vários
paradoxos: investir em infra-estrutura ou em programas de controle da inflação; investir no
setor agrícola ou incentivar a indústria de consumo; estimular a construção de rodovias ou
ferrovias. É obvio que qualquer governo, comprometido com o desenvolvimento, gostaria
de investir maciçamente em todos esses segmentos, mas a escassez de recursos obriga-o a
fazer escolhas, dentre muitas, aquelas que melhor atendam as necessidades da sociedade.

GOVERNO MUNICIPAL
(Orçamento Público)

Vamos admitir que uma cidade de pequeno porte que possui uma receita de R$
2.000.000,00 (dois milhões de reais) provenientes do ISS, IPTU e das Transferências do
Governo Federal. Elaborou o seguinte orçamento, levando em conta sua limitação de
recursos:
Tabela 2 – Síntese de um Orçamento Municipal Hipotético

Setores Distribuição da Porcentagem


Beneficiados Verba (em reais) %
Saúde 400.000,00 20,0
Educação 700.000,00 35,0
Infra-estrutura* 150.000,00 7,5
Transporte 30.000,00 1,5
Cultura e Turismo 20.000,00 1,0
Folha de pagamento 700.000,00 35,0
Total 2.000.000,00 100
* Inclui saneamento básico, pavimentação, construção de pontes e viadutos.

No exemplo orçamentário hipotético, considerando o limite da receita de R$


2.000.000,00, e que todos os recursos estão sendo plenamente utilizados, terá que reduzir a
verba de outro setor se o prefeito decidir aplicar mais em obras de infra-estrutura no ano
seguinte. Portanto, poderá comprometer obras com fins sociais como saúde e educação, por
exemplo. Neste caso ocorre um difícil dilema da escolha entre investir em obras
estruturadoras que possam incentivar o crescimento das empresas ou ampliar os programas
sociais que possam contornar a miséria.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 15


É bom guardar consigo o seguinte pensamento: nada na Economia surge
aleatoriamente, pois qualquer forma de produção, seja de um bem ou de um serviço do
setor público ou privado, implica sempre na ausência de outro bem ou serviço. Ao
constatarmos que o governo esta elaborando determinada obra com os recursos minguados,
convém analisar cuidadosamente seus benefícios e procurar saber se esta verba poderia ser
aplicada em outros setores que auferissem maiores benefícios à população. Essa
fiscalização deve ser feita pelos cidadãos, porquanto, a combinação eficientes dos recursos
e sua alocação possibilitarão melhores condições de bem-estar.

Em suma, será considerado um bom gestor do orçamento familiar, das empresas ou


órgãos públicos não aqueles que conseguem realizar tudo – que é impossível diante da
escassez dos recursos – mas aqueles que realizam as melhores escolhas.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 16


2.3 As Curvas de Possibilidade de Produção

Antes de entrarmos no estudo das curvas de possibilidade de produção e do custo de


oportunidade, apresentaremos uma breve definição do que vêm a ser os recursos de
produção e o pleno emprego, que serão necessários para um melhor aproveitamento deste
tópico.

Recursos de Produção é o conjunto de fatores que, unidos, possibilitarão a


produção de bens e serviços. Esses fatores são:

1. Mão-de-Obra, isto é, um segmento da população utilizada para elaborar a produção.

2. Recursos de Capital, ou seja, as máquinas e equipamentos, instalações e o próprio


prédio onde serão elaborados os produtos.

3. Recursos Naturais e Matéria-Prima. O recurso natural são jazidas, os cursos dos


rios, a flora, ou seja, o material fornecido pela natureza, mas que ainda não foi
explorado e a matéria-prima são os recursos naturais após a exploração ou os bens
intermediários.

Pleno Emprego é uma situação hipotética caracterizada pela plena utilização dos
recursos disponíveis (mão-de-obra, capital e matéria-prima), ou melhor, a inexistência de
capacidade ociosa na utilização dos recursos.

Dadas as definições de recursos de produção e da situação de pleno emprego, podemos


dar prosseguimento ao estudo deste tópico.

O problema da escassez no levou ao dilema da necessidade de escolha. Agora iremos


analisar, mais cuidadosamente, como funciona o mecanismo de escolha, mediante uma
simples análise gráfica chamada de curva de possibilidades de produção.

A tabela abaixo mostra as combinações possíveis, dada a escassez dos recursos e seu
pleno emprego, na produção de dois bens: ARROZ e FEIJÃO.

Tabela 3 – Combinações Possíveis para Produção de Dois Bens

QUANTIDADES
POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO
(t)
ARROZ FEIJÃO
A 35 0
B 30 15
C 20 30
D 10 40
E 0 45

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 17


Observa-se na tabela que o aumento da produção de feijão implica,
necessariamente, na diminuição da produção de arroz e vice-versa. Vamos transportar
os dados da tabela para um gráfico.

GRÁFICO 1

CURVAS DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO


FEIJÃO
(t)

(t)
45 E
* PLENO EMPREGO
40 D

30
C
∆Y

15 B
∆X
A

ARROZ (t)
0 10 20 30 35

No eixo dos “x” colocamos as quantidades do arroz e no eixo dos “y” as


quantidades de feijão. É importante salientar que, na curva de possibilidade de produção,
admita-se que a economia esteja funcionando em pleno emprego, ou seja, os recursos
necessários à produção de arroz e feijão (terra, sementes, fertilizantes, agricultores e as
máquinas e equipamentos) estão no grau máximo de utilização. Portanto, todos os pontos
em cima da curva (A,B,C,D,E) representam o Pleno Emprego.

O gráfico 1 mostra as combinações possíveis de suas quantidades, dadas a escassez


dos recursos e o seu pleno emprego, na produção de arroz e feijão. No ponto A, com a
produção das 35 t de arroz, será impossibilitada a produção de feijão. Mas, a partir do
momento em que o mercado decide produzir outro produto – feijão -, as quantidades são
modificadas. Assim, no ponto B, com os recursos também destinados a produção de feijão,
obteve-se a seguinte produção: 30 t de arroz e 15 t de feijão. No ponto C, utilizando as
mesmas quantidades de recursos, 20 t de arroz e 30 t de feijão. No ponto D, 10 t de arroz e
40 t de feijão. No ponto E, com a produção das 45 t de feijão não será possível produzir
arroz.

Resumindo, a curva de possibilidades de produção indica a necessidade de


escolher entre dois produtos. Havendo a plena utilização dos recursos produtivos (pleno

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 18


emprego), o aumento da quantidade de um produto implicará, conseqüentemente, na
diminuição de outro. No caso do feijão e do arroz, a decisão de produzir mais arroz,
provoca diminuição na quantidade do feijão, e vice-versa, um aumento na quantidade do
feijão acarreta perdas na produção do arroz.

Importante:

• Nenhuma nação alcança o Pleno Emprego, pois haverá sempre uma parcela da população
desempregada, mesmo que voluntariamente, e máquinas e equipamentos podem estar sendo
sub-utilizados. Na prática, o sistema produtivo dos países encontra-se aquém da “fronteira”
máxima de produção. Porém, não impede aos agentes econômicos (empresários, governos e
consumidores) desejarem uma aproximação do Pleno Emprego.

• A Curva de Possibilidade de Produção desloca-se positivamente (para direita) quando há


um aumento no estoque dos recursos produtivos (mão-de-obra, matéria-prima e capital) ou
um avanço tecnológico que possibilita ganhos de produtividade às empresas.

2.3.1 O cálculo do Custo de Oportunidade

Destarte, com a escassez dos recursos, há sempre a necessidade de escolha, assim a


opção em aumentar a quantidade de um bem ou serviço implicará numa diminuição de
outro bem ou serviço. Essa parte que se deixa de produzir, em favor de outra, chama-se
custo de oportunidade.

Através da curva de possibilidade de produção, será possível, utilizando uma


simples fórmula, calcular o custo de oportunidade.

FÓRMULA:

CO = Custo de Oportunidade
CO = ∆Y ∆Y = Variação da quantidade Y
∆X ∆X = Variação da quantidade X

PERGUNTA 1:

Analisando a área hachurada do Gráfico 1, qual o custo de oportunidade para


produzir mais arroz – transferir do ponto C (30 t de feijão e 20 t de arroz) para o ponto B
(15 t de feijão e 30 t de arroz) -, qual a quantidade de feijão que deverá deixar de ser
produzida para obter unidades a mais de arroz?

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 19


SOLUÇÃO:

CO = ∆Y ... CO = 15 = 1,5t
∆X 10

CONCLUSÃO: Para produzir 1 (uma) tonelada de arroz a mais, teremos que deixar de
produzir 1,5 toneladas de feijão.

PERGUNTA 2:

Agora, continuando na área hachurada do Gráfico 1, suponhamos que a Economia


esteja funcionado no ponto B, e se deseje produzir mais feijão – passar para o ponto C -,
qual o custo de oportunidade? Melhor, qual a quantidade de arroz que deverá deixar de
ser produzida para obter mais feijão?

SOLUÇÃO: Neste caso, basta apenas reverter a fórmula.

CO = ∆X ... CO = 10 = 0,66 t
∆Y 15

CONCLUSÃO: Para cada tonelada de feijão que se produz a mais, deixa-se de produzir
0,66 t de arroz.

Importante: A Curva de Possibilidade de Produção tende a ser côncava porque demonstra


que a persistência em produzir cada vez mais um determinado bem, implicará em custos de
oportunidades mais elevados, pois estaremos deslocando recursos produtivos mais
específicos de uma determinada atividade para outra, isso provocará uma perda de
eficiência produtiva. Perceberemos esse fato com mais clareza no gráfico 1, quando nele
analisamos a passagem do ponto D (40 t de feijão e 10 t de arroz) para o ponto C (30 t de
feijão e 20 t de arroz), o custo de oportunidade em produzir uma tonelada a mais de arroz é
exatamente uma tonelada de feijão. Porém, se houver a persistência em produzir mais arroz
(ponte E), o custo de oportunidade aumentará para 1,5 toneladas de feijão. Esse fato ocorre
por que as máquinas e os equipamentos, a mão-de-obra e a matéria-prima, especializadas
na cultura do feijão terão que se adaptar ao cultivo do arroz e isso pode representar a perda
da eficiência e, portanto, em custos de oportunidades mais elevados.

EXERCÍCIO HIPOTÉTICO

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 20


Um país possui uma População Economicamente Mobilizável (P.E.M.) – pessoas
aptas para o trabalho – de 100.000 habitantes, 50 (cinqüenta) máquinas agrícolas (capital) e
mais 1.000 hectares de terras cultiváveis.

Todos os recursos citados acima estão nas suas capacidades máximas de utilização,
não havendo ociosidade (Pleno Emprego). A Economia desse país está totalmente voltada
para o setor agrícola, com todos os recursos disponíveis empregados no cultivo do trigo, a
produção observada foi de 400 t. Mas, em 1994, os agricultores, decidiram dedicar-se à
produção de outro bem, o algodão. Mantendo-se os mesmos recursos, as produções foram
as seguintes: 300 t de trigo e 100 t de algodão. Em 1995, com o crescimento da indústria de
tecido do país vizinho, objetivando ganhos com o comércio externo, os agricultores
escolheram em aumentar a produção de algodão – que serve de matéria-prima à indústria de
tecido – com os recursos disponíveis constantes. Obteve-se as seguintes produções : o trigo
caiu para 160 t e o algodão aumentou para 200 t. No ano de 1996, persistindo na mesma
política de incentivo ao algodão, a produção foi para 300 t, impossibilitando a produção do
trigo.

QUESTÕES:

A. Construa a curva de possibilidades de produção.

B. Supondo que a Economia esteja no ano de 1993, qual o custo de oportunidade para
conseguir o nível de produção do ano de 1994?

C. A Economia está no ano de 1995, qual o custo de oportunidade para produzir mais
trigo, ou seja, voltar ao nível de produção conseguido no ano de 1994?

SOLUÇÕES:

A.

ANO TRIGO (t) ALGODÃO (t)


1993 400 0
1994 300 100
1995 160 200
1996 0 300

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 21


GRÁFICO 2

PRODUÇÃO DE
TRIGO 1993
(t) 400
∆Y B
1994
300
∆XX
∆Y C
1995
160
∆XX
100

1996

0 100 200 300 PRODUÇÃO DE


ALGODÃO (t)

B. Utilizando a fórmula do custo de oportunidade, teremos:

CO = ∆Y ... CO = 100 = 1 t
∆X 100

Para cada tonelada de algodão que o país queira aumentar, terá que deixar de
produzir 1 t de trigo, dessa forma, para os agricultores produzirem 100 t de algodão,
deverão deixar de produzir 100 t de trigo.

C. Inverte-se a fórmula:

CO = ∆X ... CO = 100 = 0,72 t


∆Y 140

Para cada tonelada de trigo a mais, o país terá que renunciar a 0,72 t de algodão,
asim, para o país produzir 140 t de trigo, reduzirá, necessariamente, em 100 t a produção de
algodão.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 22


2.4 Outros Grandes Problemas

Antes de encerramos este capítulo, estudaremos outros dilemas enfrentados pela


ciência econômica. No tocante a problemática da escassez, é necessário escolher, dentre
muitas, a melhor opção para utilização dos recursos disponíveis, tentando elevar o nível de
bem-estar dos integrantes da sociedade.

A busca do bem-estar suscita dúvidas sobre quais os caminhos que devem ser
seguidos para atingi-lo. Em qualquer país, independente do grau de desenvolvimento, os
desejos desmedidos do homem tornam os bens sempre escassos e insuficientes. É essa
escassez, como já vimos, que leva os gestores a se deterem sobre esses delicados
problemas.

Podemos resumir os maiores problemas contemporâneos em três perguntas


aparentemente simples:

1. 1. O que será produzido e em que quantidade?


2. 2. Como iremos executar a produção?
3. 3. Para quem será distribuída?

1. 1. O que será produzido e em que quantidade? Como já verificamos a opção


em aumentar a quantidade de um bem e serviço, implicará a redução de outros bens e
serviços. Assim, percebemos que a questão O Que e Quanto Produzir será um problema
econômico, onde a preocupação é com a eficiência produtiva, ou seja, com os recursos
disponíveis optar quais os produtos devem ser produzidos e em que quantidades. Espera-se
que os bens e serviços escolhidos para a produção e as quantidades coincidam com o
interesse dos consumidores, evitando assim o desperdício dos recursos produtivos.

2. 2. Como iremos executar a produção? Quais as técnicas que serão utilizadas


para dinamizar a produção? A solução será decidir entre os melhores mecanismos
tecnológicos, que possibilitarão um incremento de produtividade. A tecnologia visa
racionalizar cada item que compõem os recursos produtivos, com vistas a dinamizar e
qualificar a mão-de-obra, as máquinas e equipamentos e a exploração mais eficiente dos
recursos naturais.

3. 3. Para quem será distribuída a produção? Esta é a preocupação social. Após


decidir o que produzir e a quantidade a ser produzida e determinar como se processará a
produção, a pergunta final insere a questão social: Para onde será escoada a produção? A
priori, a distribuição mais equilibrada para os membros da sociedade, proporcionará um
nível maior de bem-estar social. Caso contrário, a má distribuição, onde apenas uma
pequena parcela da sociedade será beneficiada, trará sérios problemas, inclusive a miséria,
gerando tensões sociais capazes de aumentar os índices de criminalidade.

Na tentativa de encontrar soluções para os problemas supracitados, estudiosos, em


épocas e culturas diferentes elaboraram conceitos ideológicos diversos, procurando a

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 23


melhor maneira de resolver a contento as questões econômicas, tecnológicas e sociais. As
diferenças ideológicas dividiram o mundo até um passado recente, basicamente, em dois
sistemas: o capitalista e o socialista.

O sistema capitalista argumenta que a livre iniciativa do indivíduo e o mercado


agindo livremente são capazes, por si sós, de ajustarem automaticamente toda a economia.
O Estado não pode interferir, os mecanismos mercadológicos seriam suficientes para
determinar o que produzir e em que quantidade, como e para quem produzir.

Paradoxalmente, surgiu o sistema socialista, que coloca o dilema o que produzir e


em que quantidade, como e para quem produzir, nas mãos do Estado. Assim, o socialismo,
em defesa da Economia planificada ⎯ onde o Estado coordena todas as ações
mercadológicas ⎯ visa produzir e promover uma distribuição forçada e igualitária para
todos os participantes da sociedade, tentando evitar uma possível acumulação de riquezas
nas mãos de uma minoria.

Acontecimentos contemporâneos, nos mostram que o capitalismo, através das livres


forças do mercado, impossibilita uma distribuição dos bens e serviços mais eqüitativa. As
imperfeições dos mercados, que geraram cartéis e monopólios, prejudicaram o bom
funcionamento do sistema e o social deixa a desejar, a distribuição de renda é desigual ⎯
uma grande concentração de riqueza é destinada a uma pequena parcela da população ⎯
como acontece, principalmente nos países capitalistas subdesenvolvidos.

Mudanças que ocorreram durante as décadas de 80 e 90 na Rússia e no leste europeu


revelam que o Estado, sozinho, não é capaz de solucionar os problemas econômicos. As
metas o que produzir e em que quantidade, como e para quem produzir, não foram
plenamente alcançadas. Apesar dos avanços sociais, e uma distribuição dos bens e serviços
mais equilibrada, a economia não atingiu nível desejado, pois o bloqueio ao comércio
internacional efetuado pelos países ocidentais (capitalistas) sustou o intercâmbio de
processos produtivos modernos, atrasando economicamente nações do bloco socialista. A
perestroika, implantada na Rússia por Mikhail Gorbachev, objetivou a reestruturação
econômica do país. Os problemas econômicos como o déficit das empresas públicas, a
baixa produtividade, a crise no setor agrícola e déficits sucessíveis na balança comercial
levaram a uma profunda crise, obrigando-os a comercializar com os países capitalistas.

É fato inconteste que poucas nações conseguiram adotar um sistema econômico


ideal, sem falhas. Os problemas sociais acentuados pela dinâmica capitalista dos países
principalmente da periferia e os econômicos do sistema socialista colocam o homem diante
de grandes desafios: encontrar novos modelos que consigam harmonizar o desenvolvimento
econômico com o social e respeito aos aspectos ambientais.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 24


3. ENTENDENDO O MERCADO

É fácil compreender a definição de mercado. Mas, para entendê-lo melhor, devemos


recorrer ao passado. Voltando à pré-história, quando os homens das cavernas procuravam
atender, sobremodo, suas necessidades básicas. A sua satisfação era alcançada quando
conseguia o alimento, a água e um local onde proteger-se do frio, da chuva e de possíveis
ataques de animais carnívoros ⎯ utilizando as cavernas rochosas. A busca em atender,
apenas, as necessidades básicas caracteriza o que os economistas chamam de Economia de
Subsistência.

Com a evolução do comportamento humano percebeu-se que cada um possuía


determinada aptidão. Uns tinham facilidades em construir instrumentos para caça, alguns
eram caçadores, enquanto outros ornamentavam as cavernas com suas pinturas rupestres.
Aos poucos, o homem procurou melhorar sua condição. O caçador abatia os animais
necessários a sua alimentação e aproveitava a pele como casaco, trocando as sobras com o
construtor de lanças, que por sua vez preparava lanças para uso próprio e outras tantas para
trocar por carne e pele dos animais abatidos pelo caçador. Essa relação de trocas é
conhecida como Economia de escambo, que constitui a base das atividades de mercado.
Etapa pela qual o homem passa da Economia de subsistência para a Economia de
mercado, caracterizada pela formação de um excedente de produção. Assim, produzia-se
para uso próprio e formava-se um excedente, objetivando as trocas.

Essa simples atitude ⎯ trocar os excedentes dos bens e serviços que não se tinha
condição de produzir ⎯ deu origem aos mercados. Assim, podemos dizer que o mercado
atual, mantendo sua acepção tradicional, é o local onde se processam as compras e vendas
de mercadorias e serviços. Os vendedores representam a oferta de bens e serviços, e os
compradores a demanda por bens e serviços. Neste sentido, a interação entre a demanda e a
oferta gera os mercados que, por sua vez, serão orientados pelos preços.

A quantidade ofertada aumentará se houver um aumento nos preços dos bens e


serviços, já que os vendedores buscam maior margem de lucro. A quantidade demandada
diminuirá com a elevação dos preços. Os compradores estarão sempre dispostos a aumentar
suas quantidades demandadas, principalmente com a queda dos preços, pois possibilitará
um maior poder de compra.

Nos próximos tópicos, analisaremos, sucessivamente, o comportamento dos


compradores ⎯ a demanda ⎯ e o comportamento dos produtores ⎯ a oferta ⎯ em relação
à variação dos preços em um mercado de concorrência.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 25


3.1 Mercado de Ampla Concorrência

O conceito de mercado de ampla concorrência foi veiculado pelos economistas


clássicos, que imaginavam um mercado tão perfeito que era capaz de regular toda a
economia e atender eficazmente os interesses dos vendedores e compradores.

Vamos supor um mercado de ampla concorrência: uma cidade cujo comércio é


baseado na venda de água de coco verde. Existe uma grande quantidade de vendedores,
todos de pequeno porte, e outra grande quantidade de compradores. Nenhum dos agentes
tem a possibilidade de interferir nos preços, devido à homogeneidade do produto e à
acirrada competição. Caso um dos comerciantes resolva aumentar os preços será
automaticamente penalizado pela lei natural do mercado, pois deixará de vender. Caso
contrário, a queda dos preços, aumentaria a demanda, impossibilitando o atendimento a
todos os compradores e, também, a receita gerada não seria suficiente para pagar as
despesas de comercialização do produto. Quem desejasse vender coco, poderia ingressar no
mercado, sem nenhuma dificuldade ou barreira, ou dele sair a qualquer momento, caso
fosse sua vontade, pois o volume de investimento (recursos financeiros) para abrir um
negócio neste tipo de mercado é extremamente reduzido. Por serem produtos semelhantes,
não existe o estímulo artificial através da propaganda. Nenhum comprador será induzido.

A evolução da concepção capitalista contradiz com o mercado de ampla


concorrência. Neste mercado, não se admite a formação de grandes grupos econômicos,
porque sua força poderia dominá-lo. No entanto, o capitalismo desenvolveu-se através da
concentração de riquezas nas mãos de uma minoria, formando empresas poderosas capazes
de manipular, de uma maneira ou de outra, os mercados e, conseqüentemente, impor preços
que possam auferir maiores lucros. Essas são as chamadas imperfeições de mercado, onde
foram formados os oligopólios e monopólios. No tópico 3.3, abordaremos, com mais
detalhes, as principais características das imperfeições dos mercados.

A compreensão do mercado de ampla concorrência servirá para a análise mais


cuidadosa da curva de demanda e da curva de oferta, que veremos a seguir.

3.2 A Demanda e a Oferta

Utilizaremos o instinto humano para assimilar o funcionamento dessas duas forças


antagônicas. Instintivamente, a quantidade demandada sempre será estimulada com a queda
dos preços e retraída com o seu aumento. Enquanto a quantidade ofertada sofrerá aumentos
caso haja uma elevação nos preços e desestimulada com a sua diminuição.

Percebemos até agora, em nossa análise sobre o mercado, uma única variável capaz
de modificar os desejos dos produtores e consumidores em aumentar ou diminuir as suas
quantidades – o preço. As demais variáveis, no lado da Demanda: a preferência, a sua
necessidade, os preços de produtos similares etc.; e o lado da Oferta: o fator tecnológico, o

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 26


custo de produção etc., não serão considerados neste estudo preliminar da Demanda e da
Oferta.

Como as demais variáveis poderiam interferir nas quantidades demandadas e


ofertadas? A diminuição dos preços, naturalmente, provocará um aumento na quantidade
demandada. Mas, caso o comprador esteja satisfeito com o atual nível de consumo, não
desejando adquirir maiores unidades desse bem, certamente, a queda dos preços não irá
estimular as compras. Já na Oferta, uma diminuição dos preços, obviamente, inibirá à
produção. E se os valores dos recursos necessários à produção sofrerem uma queda de
preços? Isto ocorrendo, a oferta desse bem não será comprometida caso o preço baixe,
devido ao barateamento do custo de produção.

A utilização de uma única variável e permanecendo as demais constantes é exemplo


cabal da condição ceteris paribus.

Transportaremos para o parágrafo o comportamento dos compradores e vendedores,


em relação às variações dos preços, ceteris paribus.

3.2.1 A tabela e o gráfico da Demanda

PREÇOS QUANTIDADES
(R$) DEMANDADAS (kg)
2,00 80
4,00 60
5,00 50
6,00 40
8,00 20

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 27


GRÁFICO 3
PREÇOS (R$)

6
5
4

20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)

O gráfico está representando a Demanda por um bem ou serviço qualquer que um


consumidor deseja e está disposto a obter por um determinado preço em um dado
momento. Assim, quando o preço é R$ 2,00 a quantidade demandada é 80 kg. Caso ocorra
um aumento dos preços para R$ 8,00 a quantidade demandada cairá para 20 kg, ceteris
paribus. Neste sentido, o preço e quantidade são inversamente proporcionais, ou seja, a
elevação dos preços inibe a quantidade demandada e a queda dos preços aumenta a
quantidade demandada. Por este motivo o gráfico tem uma inclinação negativa ou
decrescente.

3.2.2 A tabela e o gráfico da Oferta

PREÇOS QUANTIDADES
(R$) OFERTADAS (kg)
2,00 20
4,00 40
5,00 50
6,00 60
8,00 80

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 28


GRÁFICO 4

PREÇOS (R$)

6
5
4

20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)

A Oferta representa o comportamento do produtor, sendo a quantidade de um bem


ou serviço qualquer que está disposto a ofertar de acordo com o preço em um dado
momento.

Observando o gráfico, ao preço mais baixo, R$ 2,00, o produtor só estará disposto a


ofertar 20 kg. Ocorrendo um aumento de preços para R$ 8,00, a quantidade ofertada
também aumentará, para 80 kg, ceteris paribus. Podemos concluir que preços e as
quantidades ofertadas são diretamente proporcionais, há uma reação no mesmo sentido
entre as duas forças. Um aumento dos preços aumenta a quantidade ofertada e uma
diminuição dos preços diminui a quantidade ofertada. O gráfico da oferta possui uma
inclinação crescente ou positiva.

O preço mais baixo pode desestimular a produção, pois não será suficiente para
arcar com todos os custos inerentes à fabricação de um determinado bem. Muitos
empresários optarão em reduzir sua produção ou mesmo sair do mercado, deixando de
ofertar seu produto, numa perspectiva da elevação dos preços. Já os preços mais altos tende
a atrair os produtores devido à expectativa em obter maiores lucros.

3.2.3 A formação do mercado

O encontro entre a Oferta e a Demanda

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 29


Vimos, nos dois últimos tópicos, como se comportam, isoladamente, a Demanda e a
Oferta em relação às variações dos preços. Agora, perceberemos que o encontro entre as
duas forças formam os mercados.

Perece impossível a interação da Demanda com a Oferta. De fato, a priori,


consumidores e produtores trabalham em sentidos opostos em relação às mudanças nos
preços.

Mas, consoante o ponto de vista de um mercado livre e com ampla concorrência,


um preço de equilíbrio será atingido naturalmente, possibilitando destarte a igualdade
entre as quantidades demandadas e as quantidades ofertadas.

Vejamos a tabela e o gráfico da união entre a Demanda e a Oferta, onde há um


destaque para a formação de um ponto de equilíbrio, que permanecerá estável,
satisfazendo tanto o produtor quanto o consumidor.

PREÇOS QUANTIDADES QUANTIDADES


(R$) DEMANDADAS OFERTADAS
(kg) (kg)
2,00 80 20
4,00 60 40
5,00 equilíbrio 50 equilíbrio 50
6,00 40 60
8,00 20 80

GRÁFICO 5

PREÇOS (R$)
OFERTA
8
EXCESSO
6
5 PONTO DE
EQULÍBRIO
4

ESCASSEZ
2
DEMANDA

20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 30


O pressuposto básico na formação de um mercado é o confronto entre a oferta e a
demanda e, em um mercado de ampla concorrência, o aparecimento do ponto de equilíbrio
estável. Vejamos por quê:

Ao preço de R$5,00, as quantidades demandadas e ofertadas serão as mesmas – 50


kg. Assim, tudo que for produzido será consumido. Mas, o que acontecerá com este
mercado caso haja variações nos preços? Supondo um aumento para R$ 8,00: a quantidade
demandada será de 20 kg e a ofertada de 80 kg. Observa-se que, com o aumento dos preços,
a produção ficou maior que o consumo, acarretando excesso de bens ou serviços. O estoque
obrigará os produtores a baixarem seus preços, para a produção ser escoada, voltando ao
preço e quantidade de equilíbrio.

Ao contrário, a diminuição dos preços, abaixo dos de equilíbrio, provocará escassez


de bens e serviços. Por exemplo, ao preço de R$ 2,00, a quantidade demandada será 80 kg e
a ofertada 20 kg. Com a quantidade demandada maior que a ofertada, haverá grande
procura pelos consumidores por aquele produto escasso, pressionando os preços para cima,
retornando ao preço e a quantidade de equilíbrio.

SIMPLIFICANDO

Gráfico da Demanda

Preço ↑ Quantidade ↓
Inversamente proporcionais
(Inclinação negativa)
Preço ↓ Quantidade ↑

Gráfico da Oferta

Preço ↑ Quantidade ↑
Diretamente proporcionais
(Inclinação positiva)
Preço ↓ Quantidade ↓

Interação entre a Demanda e a Oferta

Foramção do Mercado

Preço de equilíbrio
Quantidade ofertada = Quantidade demandada

Preço acima do equilíbrio


Quantidade ofertada > Quantidade demandada = Excesso

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 31


Preço abaixo do equilíbrio
Quantidade ofertada < Quantidade demandada = Escassez

3.2.4 A Variação Percentual da Quantidade Demandada em Relação à Variação


Percentual dos Preços.

Elasticidade-Preço da Demanda

Já é do nosso conhecimento que a progressão dos preços resulta na deterioração nas


quantidades demandadas. Mas será que a majoração dos preços causa uma idêntica reação
nas quantidade? Será, por exemplo, que uma diminuição da 10% nos preços ocasiona uma
subida de 10% nas quantidades? Nem sempre. Dependendo do produto avaliado, as
variações percentuais dos preços e das quantidades podem ser divergentes. São essas
modificações percentuais que chamaremos de Elasticidade. Então, a Elasticidade nos dá a
capacidade de avaliar como a Demanda por um bem ou serviço comportou-se com a
alteração dos preços.

Uma pequena transformação nos preços pode ocasionar grande variação na


quantidade demandada. Isto ocorrendo, diremos que este bem ou serviço é Elástico.
Contrariamente, uma grande variação nos preços ocasionando uma pequena modificação
nas quantidades, diremos que este bem ou serviço é Inelástico. Ou ainda, a transformação
percentual dos preços sendo equivalente às mudanças percentual das quantidades,
falaremos em bem ou serviço Unitário.

Para calcular a Elasticidade-preço da Demanda, utilizaremos um simples cálculo.


Vejamos a fórmula:

Ed = ∆Q% ; sendo : Ed = Elasticidade – Preço Demanda


∆P% ∆Q% = Variação percentual das quantidades
∆P% = Variação percentual dos preços

A fórmula representa a divisão entre a variação percentual da quantidade


demandada e a variação percentual dos preços, cujo resultado nos dará o coeficiente de
elasticidade.

ƒ O coeficiente é maior que 1: Elástico (Ed > 1)


ƒ O coeficiente é menor que 1: Inelástico (Ed < 1)
ƒ O coeficiente é igual a 1: Unitário (Ed = 1)

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 32


Bens ou Serviços Elástico

GRÁFICO 6

PREÇOS
(R$) Ed = ∆Q%
∆P%
Ed = 200%
9,00 50%
Ed = 4
Ed > 1 → Elástico
A
6,00

∆P% B
3,00

100 300 300600 900 900 1100


QUANTIDADES
∆Q% (kg)

Podemos ressaltar que os dois pontos (A e B) do gráfico representam a


Demanda por um bem ou serviço Elástico porque o coeficiente é maior que 1. Mas,
através da simples visualização gráfica, é possível notar que a variação da
quantidade demandada foi maior que a variação dos preços.

Conclusão: Quanto mais elástica for a demanda por um bem ou um serviço,


entende-se que menor é a sua utilidade. Os bens que possuem uma elevada
elasticidade são aqueles que podem ser substituídos facilmente por outros bens.
Portanto, os empresários que ofertam bens e serviços elásticos terão prejuízos ao
aumentarem os preços, pois sua receita será comprometida diante da queda
expressiva nas quantidades demandadas. De uma forma geral, os produtos que
pertencem aos mercados de ampla concorrência são bastante elásticos.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 33


Bens ou Serviços Inelásticos

Gráfico 7

PREÇOS
35,00 Ed = ∆Q%
(R$) ∆P%
30,00 Ed = 50%
66,6%
25,00
9,00 Ed ≈ 0,75
D Ed < 1 →Inelástico
20,00
6,00
∆P% 15,00 C
10,00
3,00

5,00
0,00
0 300
200 600
400 900
600 800 1000
∆Q% QUANTIDADES
(kg)

O resultado do coeficiente de elasticidade foi menor que 1, portanto os dois pontos


(D e C) representam uma demanda inelástica. Através do gráfico, percebe-se nitidamente
que a variação da quantidade demandada foi menor que a variação dos preços.

Conclusão: É possível afirmar que uma demanda inelástica representa produtos


necessários, de poucos substitutos e de muita utilidade à sociedade. Geralmente produtos
inelásticos fazem parte dos mercados menos competitivos, pois a decisão em ampliar os
preços pode redundar em maiores lucros aos produtores.

Bens ou Serviços Unitários

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 34


GRÁFICO 8

PREÇOS
35,00 Ed = ∆Q%
(R$) ∆P%
30,00 Ed = 50%
9,00
25,00 50%
E Ed = 1
6,00
20,00 Ed = 1 → Unitário

∆P% 15,00 F
3,00
10,00
5,00
0,00
0 300
200 600
400 900
600 800 1000
∆Q% QUANTIDADES
(kg)

Quando o cálculo do coeficiente da elasticidade for igual a 1, a demanda por este


bem ou serviço será unitária, ou seja, a modificação percentual das quantidades foram as
mesmas dos preços.

Observação 1: Como já tivemos oportunidade de conferir, uma queda nos preços


(ação negativa) provoca um aumento nas quantidades (reação positiva) e vice-versa,
portanto o coeficiente de elasticidade-preço da demanda seria negativo. Mas, para a
nossa análise, o sinal será desconsiderado.

Observação 2:

Demanda Elástica : A curva tende a ficar paralela com o eixo dos “x”.

Demanda Inelástica : A curva tende a ficar perpendicular ao eixo dos “x”.

3.2.5 A Variação Percentual da Quantidade Ofertada em Relação à Variação Percentual


dos Preços.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 35


Elasticidade-Preço da Oferta

A idéia é a mesma da elasticidade da Demanda. A diferença recai sobre as variáveis


que determinam o seu grau. A Oferta demonstra como reagem os produtores de bens e
serviços diante das alterações dos preços. É importante frisar que os fatores de produção
(mão-de-obra, matéria prima, máquinas e equipamentos) são imprescindíveis a esta análise.

A fórmula para calcular o coeficiente da elasticidade da Oferta é a mesma utilizada


na Demanda.

Fórmula:

Eo = ∆Q% ; sendo : Ed = Elasticidade – Preço da Oferta


∆P% ∆Q% = Variação percentual da quantidade ofertada
∆P% = Variação percentual do preço
Lembrando que:

ƒ O coeficiente é maior que 1: Elástico (Eo > 1)


ƒ O coeficiente é menor que 1: Inelástico (Eo < 1)
ƒ O coeficiente é igual a 1: Unitário (Eo = 1)

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 36


Bens e Serviços Elásticos

GRÁFICO 9

PREÇO
35,00
(R$)

Eo = ∆Q%
9,00
∆P%
25,00 Eo = 200%
100%
20,00
6,00 Eo = 2
Eo > 1 → Elástico
15,00
∆P%
10,00
3,00
5,00
∆Q%
0,00
0 400 300 600 900 800 1000

QUANTIDADES (kg)

A oferta desse bem ou serviço, no gráfico acima, é Elástica. Significa dizer: um


pequeno aumento nos preços estimula o produtor a ofertar uma quantidade mais que
proporcional ao aumento verificado nesta variável.

Os fatores de produção (mão-de-obra, matéria-prima, máquinas e equipamentos) são


importantíssimos para determinarem o grau de elasticidade. Quanto maior a disponibilidade
5,00 será a elasticidade-preço da oferta.
desses recursos, maior
0,00
Espera-se que,0 com a elevação dos preços, as quantidades ofertadas mudem
progressivamente. No entanto, se o produtor não estiver preparado, com recursos
produtivos disponíveis, possivelmente sua produção não corresponderá ao aumento
observado aos níveis dos preços, estabelecendo uma oferta Inelástica, que
exemplificaremos a seguir:

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 37


Bens ou Serviços Inelásticos

GRÁFICO 10

35,00
PREÇO
(R$) Eo = ∆Q%
∆P%
Eo = 100%
25,00 200%
Eo = 0,5
9,00
20,00 Eo < 1 → Inelástico
∆P% 6,00
15,00

10,00
3,00

5,00

0,00
0 300
400 600
QUANTIDADES (kg)
∆Q%

Quando o resultado do coeficiente é menor que 1, a oferta desse bem ou serviço é


Inelástica. Neste caso, o aumento percentual nos preços não estimulou um aumento
significativo nas quantidades ofertadas. O produtor estava despreparado para esta brusca
subida dos preços, em conseqüência do modesto estoque de recursos produtivos, tornando a
reação das quantidades ofertadas menores que as dos preços.

Conclusão: Em síntese, a oferta elástica ou inelástica dependerá da disponibilidade dos


recursos produtivos. Quanto maior o estoque desses recursos, maior a elasticidade e quanto
menor o estoque, mais inelástica se tornará a curva da oferta. Na prática, o comportamento
dos empresários tende a compartilhar com o conceito da oferta inelástica, pois esses
comumente não estocam recursos produtivos e, principalmente, sua decisão em investir
mais na produção levará tempo. Em princípio, os empresários irão preferir obter uma maior
margem de lucro, já garantida com a elevação dos preços.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 38


Bens ou Serviços Unitários

GRÁFICO 11

PREÇO
35,00
(R$)

Eo = ∆Q%
9,00 ∆P%
25,00 Eo = 200%
200%
20,00 Eo = 1
6,00
∆P% Eo = 1 → Unitário
15,00

3,00
10,00

5,00

0,00
0 400 3600
1000 6 9
800
∆Q%

QUANTIDADES (kg)

Oferta Unitária é aquela em que a modificação percentual dos preços e a


modificação percentual das quantidades são simétricas.

Observação 3:

Oferta Elástica: A curva tende a ficar paralela ao eixo dos “x”.

Oferta Inelástica: A curva tende a ficar perpendicular ao eixo dos “x”.

Observação 4: Tanto na Demanda quanto na Oferta pode haver coeficientes de


elasticidade assimétricos ao longo de suas curvas.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 39


3.3 As Imperfeições dos Mercados

Durante nosso estudo, relatamos que o encontro entre a oferta e a demanda gera o
mercado e, conseqüentemente, o preço ideal, tanto para os vendedores como para os
compradores, fato que ocorrerá naturalmente, desde que não haja a interferência do Estado
na economia, sendo o mercado livre. Lembramos que a teoria supracitada só é possível
manifestar-se nos mercados de ampla concorrência.

Uma vez que a “lei natural” ou a “mão-invisível” ⎯ denominações utilizadas para


representar as forças que iriam atuar nos mercados ⎯ não foram suficientes para manter o
equilíbrio e promover o desenvolvimento econômico contínuo, superestimado por seus
idealizadores, o livre mercado gerou muitos problemas quanto ao seu funcionamento. O
primeiro deles concerne ao próprio homem que, na busca por maiores ganhos tenta eliminar
⎯ e na maioria das vezes com êxito ⎯ os possíveis concorrentes formando com isso os
mercados de oligopólios, monopólios e de concorrência monopolística. O segundo deles
mostra que os mercados, por si sós, não são capazes de solucionar os problemas sociais
gerados pelo desemprego da mão-de-obra.

3.3.1 Mercado de Oligopólios

É representado por um número reduzido de grandes empresas, capazes de dominar o


mercado e conseqüentemente, determinar níveis de preços que lhes proporcionem margens
crescentes de lucro.

Espera-se que a queda das vendas faça os preços despencarem. No entanto, nos
mercados formados por oligopólios ocorre geralmente o contrário: há uma tendência de
subida de preços, objetivando a manutenção das margens de lucro.

São exemplos de oligopólios no Brasil: as indústrias de cimento e as companhias de


transportes aéreos; e no mundo: as indústrias automobilísticas e as de computadores.

O ingresso de novas empresas neste tipo de mercado é extremamente dificultoso,


pois percebendo ameaças de alguma concorrente, fixam seus preços, temporariamente,
muito abaixo aos do mercado, no intuito de eliminar as empresas remanescentes. Essa ação
⎯ de colocar preços de custo nos bens e serviços para desestruturar a concorrência ⎯ é
conhecida como Dumping.

As empresas, nos mercados oligopolizados, podem entrar em acordo nos preços,


para impossibilitar o seu aviltamento. A união das empresas para determinarem preços
elevados e únicos é conhecida como Cartel.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 40


3.3.2 Mercado de Monopólios

O monopólio é o domínio de todo o mercado por uma única empresa que oferta um
produto sem similares. O monopólio é o oposto de um mercado de ampla concorrência.

Se levássemos a definição de monopólio ao pé da letra, certamente não teríamos


condições de exemplificá-lo. A priori, é necessário a produção de um bem ou serviço sem
substitutos.

Na realidade, serão considerados monopólios as grandes empresas que dominam


determinadas áreas através da formação de cartéis ou empresas estatais que têm
exclusividade na prestação de determinados serviços, tais como: extração de petróleo.

3.3.3 Concorrência Monopolística

A concorrência monopolística parece-nos aglutinar dois tipos antagônicos de


mercados:o de ampla concorrência e o monopólio. Na verdade, a concorrência
monopolística possui traços que permeiam esses dois mercados, tornando-a a mais utilizada
na prática.

É considerada concorrência monopolística o mercado onde se encontra um grande


número de empresas de médio porte, que produzem ou comercializam o mesmo bem,
porém sem serem substitutos perfeitos. Dentro deste mercado, as empresas procuram
diferenciar seu produto através da marca, embalagem, apresentação, alguns itens da
composição etc, utilizando a propaganda para estabelecer um vínculo com determinado
perfil de consumidor. São exemplos de produtos que fazem parte deste mercado: padarias,
restaurantes, pousadas e hotéis, farmácias dentre outros.

3.4 O Estado e o Mercado

Não é de hoje que existe a polêmica entre essas duas facções ideológicas,
questionando qual das duas deve assumir o papel principal na condução das ações
necessárias a manter a solidez de uma nação.

A dicotomia Estado versus Mercado vem rendendo modelos e mais modelos


econômicos, cada qual com características próprias, tentando empregar o melhor método
para administrar os recursos escassos e promover o bem-estar da sociedade.
A aceitação da inserção ou não do Estado no planejamento da vida econômica foi
modificada de período em período: o Mercantilismo, que predominou nos séculos XVI e
XVIII, tinha como função principal a exploração de metais preciosos conseguidos em
colônias descobertas pelas grandes navegações. Naquela época, a intervenção do Estado era

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 41


extremamente necessária. A centralização do poder serviria para regular o comércio
exterior, criando leis que beneficiassem a burguesia comercial.

Com os ganhos obtidos no mercantilismo, através da acumulação de metais


preciosos, surgiria uma nova classe dominante: a capitalista. Essa nova classe organizou a
chamada Revolução Industrial, cujo respaldo teórico seria dado pela escola clássica. A
tônica dessa nova sociedade seria o liberalismo. Não admitia, de forma alguma, o
intervencionismo estatal; o mercado devia agir livremente. A Economia seria regulada pela
“Mão-Invisível”, encontrando espontaneamente seu equilíbrio e o próprio desenvolvimento.

Mas, em 1929, a conhecida “Grande Depressão” (desequilíbrio econômico


iniciado nos Estados Unidos e, depois, espalhado por toda a Europa) mostrou as falhas do
livre mercado. A regulagem automática da Economia não ocorreu. Problemas como:
excesso de produção, falências de indústrias e bancos, a crise no setor agrícola e o altíssimo
índice de desemprego contribuíram para o enfraquecimento da concepção liberal.

A depressão deu fôlego para o surgimento de um novo modelo econômico, baseado


nos postulados de John M. Keynes (1883 - 1946), o Keynesianismo. A intervenção do
Estado volta a ser necessária. O governo, através dos financiamentos e da redução da taxa
de juros, propiciou o aquecimento da Economia, tornando-se o motor propulsor do
desenvolvimento.

No final do nosso século, a política econômica volta a basear-se no mercado,


tornando-a incentivadora do desenvolvimento econômico.

FASES ESTIMULADOR DA ECONOMIA


Mercantilismo Estado
Revolução Industrial Mercado
Década de 30 Estado
Final do século XX Mercado

A política “neoliberal” ⎯ rotulação dada aos economistas defensores da utilização


dos mecanismos mercadológicos para o crescimento da Economia ⎯ surge, atualmente,
como a “solução” para os países subdesenvolvidos equacionarem as distorções econômicas
e sociais. Essa política foi sugestionada por nações consideradas ricas, e consiste,
basicamente, na aplicação de três metas a citar:

1. Diminuição dos gastos públicos, ou seja, promover o “enxugamento” do Estado


através da redução dos investimentos e o corte na folha de pagamento.

2. Política de juros altos, para eliminar o excesso de liquidez, ou seja, diminuir a


quantidade de dinheiro no mercado, reduzindo, conseqüentemente, a demanda por bens e
serviços e, também, estimular o ingresso de dólares especulativos, que servem de lastro
(alicerce) às moedas em circulação, principalmente, de alguns países da América Latina,

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 42


inclusive o Brasil. Desestimula os investimentos, endividando parte dos empresários,
agricultores e pessoas físicas, colocando a Economia desses países em perigo eminente de
recessão.

3. É, como última meta, as vendas de empresas estatais à iniciativa privada,


processo conhecido como privatizações.

Todas essas medidas servem para manter o controle inflacionário e o


enfraquecimento do Estado, ampliando o poderio econômico das entidades privadas, no
intuito de estruturar os países subdesenvolvidos para o processo de globalização da
economia (ler tópico 8.6), que será a utilização do mundo como mercado unificado.

As medidas extremistas são sempre preocupantes e dão margem para dúvidas


quanto ao futuro. Será que o mercado terá condições de arcar com a responsabilidade de
impulsionar e manter a sustentabilidade das economias dos países em desenvolvimento? E
o desemprego? Certamente, a exclusão do Estado poderá trazer sérias conseqüências. Não
podemos confundir reorganização administrativa do Estado com o seu desmonte. A
eficiência econômica não retrata eficiência social. Mais do que nunca, haverá a necessidade
dos governos ⎯ mesmo que enfraquecidos economicamente ⎯ viabilizarem ações sociais
compensatórias, com a colaboração das próprias empresas, capazes de minimizar as tensões
sociais que tenderão a se agravar, em conseqüência do desmoronamento das instituições
governamentais.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 43


4. ENTENDENDO A PRODUÇÃO

Quando falamos em produção, vem à mente a fabricação de um bem material


concreto que servirá para o consumo direto da população. Se nos restringirmos a este
conceito, estaremos incidindo em grave erro, pois prestar um serviço também é produzir: a
aula de um professor, o trabalho de um cabeleireiro, as tarefas executadas por uma
empregada doméstica, as atividades dos vendedores, a consulta de um médico, a arte de um
músico etc., são exemplos cabais de produção, portanto fazem parte do sistema produtivo.

Nem sempre a produção final de um bem ou serviço servirá para satisfazer os


desejos de consumo da sociedade, uma vez que parte dela será aproveitada para
complementar a produção de outros bens e serviços.

O sistema produtivo é constituído por um conjunto de recursos imprescindíveis à


produção. São eles :

• mão-de-obra;
• capital (máquinas e equipamentos);
• recursos naturais e matéria-prima;
• processo tecnológico;
• dinamismo empresarial.

Assim, gerar bens e serviços, mediante a combinação eficiente dos recursos de


produção citados acima, resultará na produção, que será destinada para o consumo da
população ou para realimentar o sistema produtivo.

O sistema produtivo é composto pelos itens abaixo definidos:

• Mão-de-obra - É o trabalho humano, maias especificamente, a parcela da


população que prestará seus serviços ao sistema produtivo em troca de remuneração
(salário) que, posteriormente, será utilizada, integral ou parcialmente, na aquisição dos bens
e serviços produzidos.

• Capital - São as máquinas, os equipamentos, as instalações e os próprios prédios


onde será executada a produção. Portanto, capital são os instrumentos utilizados pela mão-
de-obra para realizar suas tarefas.

No âmbito governamental, os recursos de capital consistem em: ferrovias, hidrovias,


hidrelétricas, estradas etc. que permitem medir o grau de desenvolvimento de um país, pois
quanto maior for a disponibilidade desses recursos, maior será a possibilidade de
desenvolvimento deste país.

• Recursos Naturais e matéria-prima - Os recursos naturais representam os


produtos encontrados na natureza, mas que não foram ainda explorados: jazidas, cursos
d’água, a terra, a fauna e a flora. A matéria-prima são os recursos naturais depois de

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 44


explorados ou produtos intermediários que retornaram ao sistema produtivo para serem
aproveitados na fabricação de outros produtos.

• Processo tecnológico - Sua função é racionalizar o uso do capital e aprimorar a


qualidade da mão-de-obra, com vistas a obter ganhos de produtividade.

• Dinamismo empresarial - É o agente empreendedor, sua capacidade de inovar e


de aprender continuamente determinam o futuro do sistema produtivo. Representa a oferta
de bens e serviços.

Unidades de produção: as empresas, indústrias, fábricas, siderúrgicas, fazendas ...,


é o local onde serão agrupados os recursos de produção.

As empresas, sejam elas do Estado ou da iniciativa privada, serão distribuídas por 3


(três) setores: Primário, Secundário e Terciário.

Setor Primário - Representa as unidades de produção voltadas para a agricultura,


pecuária e o extrativismo.

Setor Secundário - É o local onde serão transformadas as matérias-primas, ou seja,


são as indústrias, as fábricas, as siderúrgicas etc.

Setor Terciário - É formado pelas prestadoras de serviços, entre elas: o comércio, os


hospitais, as escolas, os bancos, os transportes etc.

A combinação dos recursos de produção ⎯ realizada por qualquer unidade de


produção, em qualquer setor, e independente de ser ela executada pelo mercado ou pelo
Estado ⎯ dará origem à produção de bens e serviços assim classificados: Bens e Serviços
para Consumo, Bens de Capital e Bens Intermediários.

Bens e Serviços para Consumo - São aqueles voltados para atenderem às


necessidades da população. Seu objetivo é estimular o segmento humano do sistema
produtivo, produzindo bens e serviços que atendam as necessidades de consumo. Os bens
de consumo podem ser duráveis ou não duráveis. Os bens duráveis são aqueles cuja vida
útil é prolongada: televisores, máquinas de lavar roupas, automóveis, bicicletas etc. Os não
duráveis são bens com vida útil curta, por exemplo, os alimentos.

Bens de Capital - Já sabemos que o capital é um dos fatores que compõe os


recursos de produção. Esse fator deprecia-se com o passar do tempo, sendo necessário
repô-los para manter contínuo o fluxo de produção. Para tanto, é necessário produzir bens
de capital (máquinas, equipamentos etc.), destinados a retornar ao sistema produtivo para
assegurar a sua manutenção e a qualidade do produto.

Bens Intermediários - São produtos que servirão para a produção de outros


produtos. Seu objetivo é complementar, devendo retornar às unidades de produção,
servindo de matéria-prima na formação de outro produto.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 45


Exemplo:

UNIDADES MATÉRIA- PRODUTO TIPO DO BEM


DE PRIMA
PRODUÇÃO
INDÚSTRIA ____ MINÉRIO DE INTERMEDIÁRIO
MINERADORA FERRO
INDÚSTRIA MINÉRIO DE AÇO PLANO INTERMEDIÁRIO
SIDERÚRGICA FERRO
INDÚSTRIA AÇO PLANO CHASSI INTERMEDIÁRIO
DE PEÇAS
MONTADORA CHASSI VEÍCULO CONSUMO*
DE VEÍCULOS
* O veículo é um bem de capital, quando utilizado por um taxista.

O sistema produtivo torna-se mais eficiente com a utilização mais adequada dos
recursos de produção. Ressalvando que todos os recursos são fundamentais, cada um
desempenhando seu papel e tentando alcançar um denominador comum: a produção. Logo,
a má utilização de alguns dos fatores de produção comprometerá o sistema como um todo.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 46


O Fluxo do Sistema Produtivo

SALÁRIO

LUCRO

DEMANDA OFERTA
POR BENS E MERCADO DE BENS E
SERVIÇOS SERVIÇOS

MÃO-DE-OBRA CAPITAL RECURSOS O PROCESSO O DINAMISMO


NATURAIS TECNOLÓGICO EMPRESARIAL
OU
MATÉRIA PRIMA

SETOR
UNIDADES PRIMÁRIO
DE SETOR TERCIÁRIO
PRODUÇÃO
SETOR
SECUNDÁRIO

PRODUÇÃO

BENS E SERVIÇOS BENS E SERVIÇOS BENS DE CAPITAL


DE CONSUMO INTERMEDIÁRIOS

DURÁVEIS

NÃO DURÁVEIS

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 47


4.1. Entendendo o PIB

O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de tudo que se produziu durante um ano em
um determinado país. No Brasil seu cálculo é de responsabilidade do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que leva em consideração os preços dos bens e serviços
vendidos aos consumidores finais – preços correntes. É um levantamento de informações
extremamente complexo, que tenta expressar em números o total das diversas atividades
econômicas como a produção: de automóveis, de casas, de alimentos, de cortes de cabelos,
de serviços médicos entre outros. Portanto, quanto maior o volume de bens e serviços
novos produzidos, maior será o tamanho de uma economia. É importante destacar que só
são considerados para efeito de cálculo do PIB, aqueles bens e serviços produzidos no
território nacional, durante o ano em análise, independente da nacionalidade da empresa.
Assim, se um automóvel foi produzido, por exemplo, em 2004 e vendido em 2005, será
considerado o valor do veículo no ano da sua fabricação, portanto 2004. Assim, esse bem
contribuiu para o PIB de 2004.

O PIB também serve para analisar e comparar o tamanho das economias entre
países e, principalmente, para verificar seu desempenho em relação aos anos anteriores.
Quando falamos que um país está em crescimento, estamos na verdade comparando o
quanto o PIB cresceu, percentualmente, em relação ao ano anterior, extraindo daí
obviamente o reajuste dos preços provocado pela inflação. Esperasse que o crescimento do
PIB permaneça constante e, se possível, crescente. A queda do PIB em comparação ao ano
anterior ou mesmo o baixo crescimento deste, representa uma grande preocupação, pois,
significa que o país em análise teve uma redução na produção de bens e serviços ou o
crescimento está sendo insatisfatório. Em última estância, essa diminuição ou fraco
desempenho podem representar uma redução nas oportunidades de empregos e queda da
renda da população.

O PIB Per Capita (por cabeça) representa o valor do PIB dividido pela população,
possibilita uma dimensão mais adequada da participação de cada indivíduo no PIB do país.

Tabela 4 – BRASIL: Produto Interno Bruto (preço de mercado), Taxa de Crescimento do


PIB e PIB Per Capita– 2000/2005 – Em R$1.000.000

TAXA DE
CRESCIMENTO
ANO PIB Variação PIB PER CAPITA
real anual
(%)
2000 1.179.482 4,3 6.886,3
2001 1.302.136 1,3 7.491,2
2002 1.477.822 2,7 8.378,1
2003 1.699.948 1,1 9.497,7
2004 1.941.498 5,7 10.691,9
2005 2.147.944 2,9 11.661,9
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas e Coordenação de Contas Nacionais.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 48


Ao analisarmos a tabela com os números do PIB do Brasil, nota-se que de 2000 a
2005 o Brasil cresceu, porém, com números instáveis e ainda muito aquém do seu
potencial. Apenas de 2003 para 2004 o Brasil experimentou um crescimento mais
expressivo: 5,7%. Quando dividimos o valor do PIB com a população de cada ano, temos o
PIB Per Capita, esse indicador mostrou-se ascendente no Brasil. Porém, temos que ter um
cuidado ao discutir esses números, apesar do aparente bom desempenho, pouco se pode
dizer de fato em relação à melhoria de vida dos brasileiros, pois os frutos da expansão da
produção podem não estar sendo dividido de forma eqüitativa, frente a desigual e histórica
concentração de renda.

4.2. Um Grande Problema Contemporâneo: O Desemprego Tecnológico

John M. Keynes, na década de 30, declarava nos seus escritos que seria imposto um
grande empecilho à sociedade, em conseqüência do aumento da robotização dos meios de
produção: “o desemprego tecnológico”.

Na busca do aperfeiçoamento do sistema produtivo: melhorar a eficiência das


máquinas e dos equipamentos, dinamizar o trabalho humano e aumentar a capacidade de
exploração dos recursos naturais ⎯ surgiram novas técnicas capazes de incrementar,
reduzir os custos e, consequentemente, aumentar os lucros.

Indubitavelmente, o avanço tecnológico progredirá de forma espontânea. Com o


passar do tempo, novas técnicas irão surgir, facilitando nossas atividades cotidianas. Mas a
preocupação maior concerne às suas conseqüências socioeconômicas. A mecanização dos
meios de produção vem, progressivamente, reduzindo a oferta de empregos, tanto nos
países desenvolvidos, como, também, nos países em desenvolvimento, formando uma
classe de excluídos ⎯- pessoas que ficarão à margem dos grupos sociais e tenderão a
integrar subgrupos que para sobreviver serão obrigados a utilizar práticas ilegais ⎯ os
marginais.

Portanto, essa grande massa de desempregados, concentrada, principalmente, nos


grandes centros urbanos, vivendo em condições subumanas, vítimas da fome e da miséria,
tenderá a aumentar nas próximas décadas, caso não seja tomada nenhuma medida
compensatória para minimizar os reflexos da informatização crescente dos meios de
produção.

O enorme desafio para os cientistas ⎯ principalmente os da área social ⎯ é


apresentar soluções que incentivem a utilização da mão-de-obra ociosa em outros setores da
Economia, como o primário e, principalmente, o terciário. Os países subdesenvolvidos ⎯
entre eles o Brasil ⎯ podem estimular esses setores, objetivando a geração de empregos.

O setor de serviços requer menores investimentos em tecnologia: os transportes, o


turismo, as micro e pequenas empresas etc, são, sem dúvida, primordiais em qualquer
programa que vise equacionar o problema do desemprego.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 49


Os altos índices de desemprego estimulam o aquecimento da Economia informal;
portanto, as pessoas que ingressam neste tipo de mercado não devem ser hostilizadas, já
que o subemprego serve como catalisador, amenizando os seus efeitos negativos. O que
deve haver são programas específicos As políticas agrárias, destinadas a estimular o
retorno do homem ao campo ⎯ promovendo o que podemos chamar de êxodo urbano ⎯
fazem-se necessárias, perante a péssima distribuição das terras. Uma redistribuição de
terras de forma mais equilibrada, embasada em um suporte técnico correto, possibilitará o
retorno do homem ao campo, diminuindo o contingente populacional dos grandes centros
urbanos, incentivando o processo de interiorização. Paralelamente, deve-se intensificar o
planejamento familiar, possibilitando o acesso da população mais carente a métodos
contraceptivos, paralisando, destarte, a propagação do número de indigentes.

O programa Bolsa-Família implantado pelo Governo Federal mostra-se eficiente


nos resultados sociais, podendo aliviar três grandes problemas: de imediato a fome e a
médio e longo prazo, o trabalho infantil e o da educação de jovens. Com a limitação da
oferta de empregos, os pais encaminham seus filhos às ruas, para pedir esmolas ou executar
trabalho braçal, com o intuito de complementar a renda familiar. Dessa forma, crianças que
deveriam estar na escola, são obrigadas a ir para a sofrida vida nas ruas, não sendo
permitido a elas uma formação educacional adequada.

Os problemas gerados pelo desemprego são dramáticos, mas existem soluções,


desde que haja políticas públicas claras e com continuidade para dirimi-los. Algumas
medidas supracitadas têm um caráter urgentíssimo, cujos efeitos positivos só serão sentidos
após alguns anos de sua implantação. Portanto, quanto mais estorvos houver na realização
desses programas, mais tempo demoraremos para alcançar uma sociedade, se não de muita
riqueza material, mas, pelos menos, que possa dar a todos os membros condições
indispensáveis para assegurarem sua sobrevivência.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 50


5. ENTENDENDO O SISTEMA FINANCEIRO E A POLÍTICA ECONÔMICA

Todos desejamos a moeda, uns com mais intensidade outros com menos. Sua
importância leva os indivíduos a lutarem, objetivando sua acumulação. Quem a detém em
grande quantidade ganha “status”, o que lhe possibilita um padrão de vida melhor, com
mais conforto. Por outro lado, quem a ela não tem acesso empobrece, mantendo um baixo
padrão de vida. O fator capaz de distinguir socialmente os indivíduos, entre a riqueza e a
pobreza, é a moeda.

Muitos estudiosos, observando o comportamento humano, chegaram à conclusão


que a moeda torna os homens ambiciosos e individualistas, enquanto que outros vêem nela
a causa dos processos inflacionários, e chegando a afirmar que o mundo seria bem melhor
se não existisse um sistema monetário e o mercado fosse baseado nas trocas ou
simplesmente numa distribuição igualitária.

Excetuando o processo inflacionário, notaremos, no decorrer deste capítulo, que


estamos superestimando o poder de desagregação atribuída à moeda. A ambição, a
ganância, a falta de escrúpulo..., são características inerentes ao nosso ser, portanto não
podemos atribuir à moeda uma responsabilidade concernente a nossa idiossincrasia.

A criação da moeda decorreu da intensificação do comércio, o qual, por sua vez,


necessitava de um meio que facilitasse os intercâmbios, agilizando a compra e venda dos
produtos.

Para melhor entendermos sua importância, estudaremos a sua origem, seu


desenvolvimento e sua perspectiva. Perceberemos, assim, a simplicidade no manuseio e sua
relevância no contexto econômico.

5.1 Como Surgiu a Moeda?

Quando ainda não existia a moeda, o mercado baseava-se nas trocas, ou seja,
permutava-se bens por bens, bens por serviços e serviços por serviços. Dessa forma, quem
desejasse obter algum produto teria que dispor de um objeto que pudesse utilizar na troca e
encontrar um indivíduo ad hoc. Por exemplo, o produtor de batatas que desejasse um par de
ferraduras teria que encontrar um ferreiro desejoso de adquirir batatas. Além disso, era
preciso determinar os valores: Quantas batatas eram necessárias para obter o par de
ferraduras? Esse período de trocas ficou conhecido como Economia de Escambo.

Com o desenvolvimento do comércio, aumentou consideravelmente o volume das


transações; o simples mecanismo de trocas tornou-se impraticável, sendo necessário
encontrar meios que facilitassem o intercâmbio. Para tanto, algumas mercadorias foram
utilizadas como meio de troca, com o fito de adquirir qualquer outro bem ou serviço
oferecidos no mercado. Apareceram, assim, as Mercadorias-Moedas. Algumas
mercadorias, em diversas épocas e culturas diferentes, foram aproveitadas como moedas:
escravos, gados, conchas, fumo, metais preciosos etc. Na nossa sociedade escravocrata, por

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 51


exemplo, os senhores de engenho utilizavam os escravos como moeda, adquirindo, assim,
qualquer bem ou serviço, usando o escravo como intermediário.

Mas, dentre as mercadorias-moedas, as de maior relevância ⎯ e que merecem,


portanto, lugar de destaque ⎯ são os metais preciosos, principalmente o ouro e a prata.
Deles originou-se a estrutura monetária que hoje conhecemos. O ouro e a prata viabilizaram
e dinamizaram a prática do comércio. Por serem produtos escassos, bastavam alguns
gramas para efetuar qualquer negócio. Com o passar do tempo, seu uso generalizou-se por
toda a Europa, dando início ao período da Moeda Metálica.

A cunhagem do ouro e da prata representou um grande avanço; muitos governantes,


no intuito de estabelecer notoriedade, mandavam colocar suas efígies ou brasões nas
moedas. Como as cunhagens eram feitas em vários locais, as falsificações tornavam-se
inevitáveis. Outro problema era a raspagem das moedas. Com a limadura, a moeda perdia
peso e desvalorizava. Na tentativa de coibir as fraudes e manter a qualidade da moeda, o
Estado nomeou prepostos (Casas de Custódia) para controlar o seu uso: recebiam qualquer
tipo de moeda, vinda de qualquer lugar, pesavam-na, determinando a qualidade e
estabelecendo o valor real do metal precioso. Emitiam, em contrapartida, um recibo
equivalente ao valor do metal depositado. As pessoas, de posse desse certificado, podiam
comercializar sem ter que utilizar os metais preciosos. Esse procedimento de
responsabilidade das Casas de Custódias levou à criação dos primeiros Bancos.

De fato, os papéis emitidos pelos donos das Casas de Custódia circulavam


naturalmente, sendo utilizados como intermediários na compra e venda, contando com
grande aceitação e credibilidade por parte da população. Munido de recibo, o portador
podia resgatar facilmente a quantidade de ouro ou prata estipulada. A confiança nos papéis
reduziu o uso dos metais preciosos, dando origem ao papel-moeda.

Os donos das Casas de Custódia perceberam que poderiam emitir uma quantidade
maior desses papéis, mesmo sem o lastro (garantia) do ouro, sob forma de empréstimos, no
intuito de receber uma quantia em ouro superior à quantia oferecida no início. Com essa
prática aumentou a quantidade de papel-moeda em circulação.

Atualmente, a emissão de papel-moeda não é mais realizada por particulares e não


necessita de lastro em ouro. Sua fabricação é atribuição exclusiva do Estado e o curso é
forçado, isto é, os agentes econômicos são obrigados a aceitar a moeda oficial em
circulação no país para as transações comerciais.

No Brasil, a única entidade responsável pela emissão de papel-moeda é a Casa da


Moeda ⎯ autarquia incorporada ao Ministério da Fazenda.

Qual o mecanismo que será utilizado no futuro para dinamizar ainda mais o
comércio? Já estamos utilizando uma nova moeda à qual se dá o nome de moeda plástica
ou cartões magnéticos. Ao que tudo indica, num futuro próximo, a moeda que hoje
conhecemos tornar-se-á uma peça para numismatas ou museus. Inegavelmente, a moeda
plástica dá mais segurança, dinamismo e praticidade às relações comerciais.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 52


Evolução histórica da moeda

BENS E ECONOMIA DE ESCAMBO BENS E


SERVIÇOSS SERVIÇOSS

BENS E MERCADORIA-MOEDA BENS E


SERVIÇOSS SERVIÇOSS

BENS E MOEDA METÁLICA BENS E


SERVIÇOSS SERVIÇOSS

BENS E PAPEL-MOEDA BENS E


SERVIÇOSS SERVIÇOSS

BENS E CARTÕES MAGNÉTICOS BENS E


SERVIÇOSS SERVIÇOSS

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 53


5.2 As Funções da Moeda

Compreendemos facilmente as funções das moedas, porque sentimos os seus efeitos


na prática, no seu uso diário. Quando desejamos adquirir algum produto, a primeira
pergunta que vem à mente é se dispomos do valor suficiente para adquiri-lo. O vendedor só
nos fornecerá o bem ou serviço se tivermos dinheiro em troca. Portanto, a moeda atua como
intermediário entre os vendedores e os compradores, surgindo a sua primeira função: um
meio de troca. Em segundo lugar, se este bem ou serviço estiver dentro do Brasil, o seu
preço estará representado pelo Real (R$), daí a segunda função da moeda: a de unidade de
valor. Se o comprador não pretender consumir nenhum produto em determinado momento,
poderá guardá-la para uso futuro, e esta é a terceira função da moeda: reserva de valor. É
importante frisar que, em uma Economia inflacionada, o valor da moeda diminuirá aos
poucos e a terceira função enfraquecerá: ninguém guardará uma moeda que se desvalorize
rapidamente.

→ meio de troca
As funções da Moeda → unidade de conta
→ reserva de valor

5.3 O Aparecimento dos Bancos

A criação dos bancos acompanhou o desenvolvimento histórico das moedas. Como


já mencionamos, no período da moeda metálica presenciou-se o início das atividades
bancárias: o ouro e a prata, por medidas de segurança e para manter sua qualidade, eram
confiados aos ourives, que, por sua vez, emitiam um recibo para o depositário,
especificando os valores que estavam sob sua guarda. Uma vez que essas notas circulavam
por muito tempo, sem serem resgatadas, e que o comércio era realizado por intermédio
desses papéis, foi concedido aos primeiros bancos o direito de imprimir o papel-moeda.

Mas, com a introdução das atividades bancárias que se restringiam à proteção dos
metais preciosos e de imprimir dinheiro, desencadearam-se crises cíclicas, tornando os
bancos instáveis, sujeitos a falências repentinas. Segundo John K. Galbraith os primeiros
bancos eram entidades frágeis: “. . . o milagre da criação da moeda por um banco, como
John Law demonstrou em 1719, podia estimular a indústria e o comércio e dar a quase
todos um sentido agradável de bem-estar. Os parisienses nunca sentiram-se tão prósperos
como naquele ano maravilhoso. E, como também foi demonstrado por Law, o resultado
poderia ser um dia terrível de juízo final . . .” (Galbraith, 1977: 31). Essa insegurança,
retratada por Galbraith, caracterizou o banco do escocês John Law, que, no ano de 1719,
prosperou e faliu. Essa fragilidade é condicionada por uma simples reação psicológica.
Caso todos os depositantes de um mesmo banco, por um motivo ou outro, solicitassem a
troca dos recibos pelo ouro ou prata ⎯ o que de fato ocorreu com o banco de Law ⎯
obviamente não haveria condição de atender a todos, porque a maioria dos papéis em

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 54


circulação não tinha em sua contrapartida metais preciosos (lastro), que, por sua vez,
encontravam-se nas mãos de terceiros sob a forma de empréstimos. Isso gerou desconfiança
no seio da população, pois não encontrara os metais preciosos que depositara no
estabelecimento bancário, o que precipitou a conseqüente desvalorização das cédulas por
eles emitidas.

A instabilidade dos bancos levou os governos a emitir moedas, independente do


lastro em metais preciosos. O primeiro país a emitir papel-moeda, com garantia oficial e
curso forçado, foram os Estados Unidos.

Atualmente, os bancos não emitem mais dinheiro, mas continuam desempenhando


um importante papel como integrantes das atividades econômicas de um país. Além da
função básica de guardar dinheiro e emprestar, desempenham outras atividades, tais como:
cobranças para terceiros, compra e venda de moedas estrangeiras, planos de saúde e
previdência, linhas de crédito e financiamentos, seguros, transferências, dentre outras. A
sua presença como intermediários financeiros reduz a necessidade de utilização do dinheiro
no mercado, mediante o uso das contas bancárias. Neste sentido, os bancos estabelecem a
chamada Moeda Escritural, que é o dinheiro depositado em conta corrente e será
manuseado por cheques.

5.4 O Banco Central e a Política Econômica

Se fizermos um organograma, o Banco Central ocupará o topo da pirâmide do


sistema bancário. É uma instituição que faz parte do Sistema Financeiro Nacional, cuja
função é fiscalizar os demais bancos e instituições financeiras. Além de fiscalizar o sistema
bancário, protege também a moeda nacional, procurando frear sua desvalorização,
fenômeno que poderá ser acarretado pela inadequação da utilização dos meios de
pagamento (papel-moeda), uma das causas dos surtos inflacionários. Outra importante
função do Banco Central é o controle ou monitorização da taxa de câmbio. Para assegurar a
manutenção do equilíbrio do estoque monetário e do câmbio, o Banco Central utilizará,
respectivamente, duas políticas: a 1) Política Monetária e a 2) Política Cambial. Esses
dois importantes instrumentos fazem parte da chamada Política Econômica que, em
síntese, são medidas tomadas pelo governo federal para influir no nível de atividade
econômica, no comércio exterior, nos níveis de preços e na distribuição do produto e da
renda.

Através da 1) Política Monetária, o Banco Central determinará o nível de liquidez


da Economia, isto é, a quantidade de dinheiro em circulação. Diremos excesso de liquidez
quando há um volume de moeda acima do necessário para adquirir os bens e serviços
produzidos na economia, e escassez quando a quantidade de moeda é insuficiente para
obter os bens e serviços produzidos. Torna-se mister o conhecimento de como o Banco
Central poderá interferir no grau de liquidez da Economia através a) dos depósitos
compulsórios, b) da assistência financeira de liquidez e dos c) títulos da dívida pública.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 55


Os a) Depósitos Compulsórios representam a parcela dos depósitos à vista
recebidos pelos demais bancos do sistema e que deverá ser entregue ao Banco Central.
Noutros termos, no final do expediente, um determinado banco privado ou público
entregará uma porcentagem estipulada do dinheiro disponível, ao Banco Central, que o
manterá sob sua guarda.

Sendo assim, caso se queira diminuir o grau de liquidez da Economia, ter-se-á que
aumentar a porcentagem dos depósitos compulsórios, ou seja, determinar que um volume
maior dos depósitos recebidos pelos bancos retornem ao Banco Central, reduzindo,
destarte, a quantidade de moeda escritural, que é o papel-moeda em poder dos bancos
pertencentes à população. Por outro lado, se a Economia estiver com escassez de liquidez, a
porcentagem dos depósitos compulsórios será diminuída, dando aos bancos a possibilidade
de colocar uma quantidade maior de papel-moeda na Economia.

Conforme a política monetária estabelecida, é competência, também, do Banco


Central a fixação da taxa de juros, promovendo sua alta ou baixa de acordo com as
necessidades da política econômica vigente no país. Quanto mais elevado a taxa do
depósito compulsório, menos disponibilidade financeira terá os bancos e,
conseqüentemente, mais alta se tornará as taxas de juros cobradas no mercado. Isso refletirá
no crédito pessoal, no cheque especial, nos cartões de crédito, nos empréstimos de toda
ordem e demais modalidades de financiamentos que ficarão mais caros para os
consumidores e empresários. Analogamente, com a redução da taxa de depósito
compulsório as linhas de créditos e os financiamentos tendem a ficar mais baratos.

Taxa SELIC

SELIC é a abreviatura de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, representa a


taxa básica de juros da economia e serve de referência para remuneração dos Títulos
Públicos do Brasil e, também, as demais taxas de juros cobradas pelo mercado financeiro.
O Comitê de Política Monetária (COPOM) é o órgão do Banco Central cuja Diretoria se
reúne mensalmente para estabelecer a taxa de juros SELIC. Geralmente a taxa de juros
cobradas pelos bancos (no cheque especial e no crédito pessoal, por exemplo) é bem
superior à da SELIC, isso se deve ao fato do elevado spread bancário (lucro dos bancos)
que é a diferença entre a taxa SELIC e as taxas de juros cobradas pelos bancos. Essa
diferença será ampliada, quão maior for a taxa do depósito compulsório, o risco da
inadimplência, os impostos cobrados ao sistema financeiro e o desejo dos bancos em
realizar lucros mais expressivos.

Com a queda da taxa SELIC haverá uma tendência em reduzir a atração dos
aplicadores aos Títulos da Dívida Pública do Governo Federal, com uma maior
disponibilidade de recursos financeiros esses tendem a ser investidos em atividades
produtivas que geram empregos e renda. Por isso, agora podemos ter uma compreensão
melhor o porquê dos empresários do setor produtivo pressionarem o COPOM para reduzir
mais expressivamente a taxa SELIC no Brasil. Por sua vez, o Governo Federal e o Banco
Central tomam uma postura mais conservadora, pois temem que tal atitude possa provocar
um surto inflacionário em decorrência de uma maior oferta de crédito, emprego e renda.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 56


b) Assistência Financeira de Liquidez: da mesma forma que os bancos emprestam
dinheiro, estes solicitam empréstimos ao Banco Central. Nesta condição, quanto maior a
taxa de juro cobrada aos bancos, mais caro tornam-se os empréstimos à população.
Portanto, numa política monetária contracionista, o Banco Central eleva a taxa de
assistência financeira de liquidez, diminuindo o crédito, consequentemente, reduz a
disponibilização dos recursos financeiros. Ao contrário, numa política monetária
expansionista, reduz-se a taxa de assistência financeira de liquidez, barateia-se o crédito,
aumentando a quantidade de dinheiro em circulação.

Os c) Títulos Públicos são papéis emitidos pelo governo, com objetivo de financiar
o déficit público e ⎯ como instrumento de política monetária ⎯ controlar o volume de
dinheiro. Neste caso, quando a política monetária é contracionista, o Banco Central vende
títulos com ampliação da sua remuneração, principalmente através da Bolsa de Valores,
reduzindo os recursos monetários disponíveis na economia. Na política monetária
expansionista, pratica-se o oposto, seguindo a determinação da Política Econômica do
governo, o Banco Central, compra títulos tornando-os menos atraentes pela redução dos
juros, aumentando com isso o grau de liquidez da economia.

Efeitos da Política Monetária na Atividade Econômica

As elevadas taxas de juros são extremamente nocivas para a atividade produtiva de


uma nação, pois o aumento dos juros reduz o nível de investimento na economia. Assim, a
deterioração nos investimentos acarreta a redução da produção, contraindo ainda mais o
consumo das famílias e os investimentos empresariais. Esse efeito dominó é bastante claro
quando verificamos a dinâmica econômica de qualquer país que possui altas taxas de juros,
entre eles o Brasil. Evidentemente, há outros impactos maléficos ressentidos no aumento
da dívida pública em relação ao PIB: a elevação dos juros conduz à inusitada desconfiança
dos investidores estrangeiros na capacidade de pagamento do país, estimulando a troca de
títulos públicos por dinheiro e a conseqüente evasão de divisas devido à conotação do risco
ampliado neste mercado 1 . Com isso, a cotação do dólar sobe, o que poderia provocar o
aumento de custos pelos insumos importados, pressionando os indicadores de inflação.

Tal fato amplia-se num constante ciclo de subida exagerada dos juros. A dívida do
setor público sobe desmedidamente em relação ao PIB, deteriorando a relação dívida/PIB.
A Tabela 5 apresenta o alto grau de endividamento do setor público brasileiro ao longo da
década de 90.

1
O risco de se investir no país estão sendo avaliados pelas Credit Rating Agencies cuja função é montar
parâmetros para classificação dos riscos.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 57


Tabela 5 - Razão da Dívida Líquida Total do Setor Público/PIB -%
Brasil

ANO RAZÃO
1990 36,7
1991 39,9
1992 38,2
1993 32,8
1994 28,5
1995 31,6
1996 33,3
1997 34,5
1998 42,4
1999 46,9
2000 49,5
Fonte: Banco Central do Brasil

O aumento da dívida pública no Brasil decorrente do aumento dos juros é


incontestável. Porém, a reinserção do Brasil no crédito internacional dependeu do grau de
liberalização e do prêmio (taxa de juros) estabelecido para atrair e manter significativo
volume de capital volátil 2 em nosso mercado. Assim como um conjunto de medidas
consubstanciadas nas privatizações e, principalmente, na abertura do mercado bancário, que
permitiu investimentos estrangeiros na aquisição de instituições financeiras nacionais.

Em suma, a política monetária recessiva (baseada nas altas taxas de juros)


contribuiria para a nociva deterioração dívida pública/PIB, elevando o risco Brasil, com o
indefectível séqüito de juros mais altos, menos investimentos produtivos e menos
empregos. Numa perspectiva mais pragmática, os formuladores da política econômica
brasileira concentram-se no objetivo que se pretende alcançar, a saber, controle da
inflação. Para tanto foram utilizados todos os instrumentos necessários ao sucesso do
objetivo almejado, independente do custo de oportunidade do projeto, que foi neste caso a
desconstrução de um ambiente favorável ao crescimento, percebido em maior grau pelos
agentes econômicos do setor produtivo e pelos trabalhadores. Assim, à guisa de conclusão
poderemos considerar que na década de 90 até os dias atuais os juros elevados estão
cumprindo um papel fundamental para atração de dólares para nosso país e, principalmente,
na manutenção do controle da inflação, via o desaquecimento da atividade produtiva.

2
Utilizaremos as terminologias: capital volátil, capital especulativo, capital de curto prazo e hot money como
sinônimos.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 58


A 2) Política Cambial visa interferir nos resultados das exportações e importações
de mercadorias através da valorização ou desvalorização da moeda nacional frente ao dólar.
Com a desvalorização ⎯ o valor da moeda nacional abaixo da cotação do dólar ⎯ as
exportações serão estimuladas, ao contrário, os bens importados ficam mais caros,
diminuindo as importações, acarretando possíveis superávits da balança comercial; no
sentido oposto, com a valorização cambial ⎯ a moeda nacional cotada acima ou igual ao
dólar ⎯ serão estimuladas as importações e, conseqüentemente, possíveis déficits na
balança comercial. No caso das Viagens Internacionais, o câmbio valorizado, incentiva a
saída de brasileiros para o exterior, pois o real pode adquirir uma quantidade maior de
dólares. Já o câmbio desvalorizado, permite uma ampliação do poder de compra dos
estrangeiros no Brasil, implementando com isso o turismo receptivo.

A Política Cambial pode ser utilizada também como instrumento da Política


Econômica, pois o Banco Central pode permitir ou incentivar a valorização cambial com o
fito em reduzir os preços dos produtos e das matérias-primas importadas para baratear os
custos das empresas locais e acirrar a concorrência interna. Essa medida é tomada no
intento de eliminar pressões inflacionárias, pois expõe os produtos locais em concorrência
direta com os bens e serviços produzidos em outros países.

O aspecto negativo de tal escolha é dificultar a sobrevivência de empreendimentos


brasileiros, cuja capacidade tecnológica, logística e financeira não estão dentro dos padrões
internacionais. Neste sentido, várias empresas podem não suportar a concorrência e fechar,
trazendo enormes prejuízos como a queda da produção do país e ampliação do índice de
desemprego.

5.5. Breves Notas sobre a Política Fiscal

A Política Fiscal é outro instrumento da Política Econômica (já apresentamos a


Política Monetária e a Cambial), apesar de não estar sobre o controle direto do Banco
Central, optamos em discuti-la nesse capítulo por uma questão didática e, também, para
permitir uma visão mais completa do funcionamento da Política Econômica.

De forma geral a Política Fiscal representa a administração dos gastos públicos e da


tributação. Espera-se, em princípio, que as receitas provenientes dos tributos (Imposto de
Renda – IR; Impostos sobre Produtos Industrializados – IPI; Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços – ICMS; Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
– IPTU; Imposto Sobre Serviços – ISS entre tantos outros) possam equiparar com as
diversas despesas do setor público (entre outras: pagamentos dos funcionários públicos e
aposentados; pagamentos dos juros dos Títulos Públicos; investimentos em obras;
programas sociais etc.).

Caso as despesas superem as receitas, diremos que houve um déficit público, neste
caso, o governo terá algumas opções para financiá-lo: a) impressão de moeda, que
implicará numa Inflação de Demanda; b) ampliação da arrecadação, via aumento das

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 59


alíquotas ou criação de novos impostos e c) pela venda dos Títulos Públicos que trará
receita ao estado, porém, ampliará a dívida pública. Ao contrário, se o montante das
despesas realizadas num determinado período ficarem abaixo do total das receitas, a
situação das contas públicas será positiva (superávit público).

Há três formas de mensurar o superávit ou déficit público, são elas: Nominal,


Operacional e o Primário. O resultado Nominal é dado pela simples subtração das receitas
totais pelas despesas (inclusive com os juros). Já o Operacional representa um resultado
mais real, pois tem a preocupação em excluir a correção monetária (inflação) e as variações
cambiais observadas num período em análise. Por último, o Primário, que mantém a mesma
linha do Operacional, exclui da contagem do lado das despesas, os juros dos Títulos
Públicos. O resultado Primário permite uma análise do desempenho das contas públicas no
momento atual, pois retira as dívidas financeiras oriundas de governos anteriores.

Para alcançar um Superávit Primário, por exemplo, o gestor público deve promover
cortes em qualquer despesa (exceto os juros) e/ou ampliar as receitas. As metas de
superávits primários vêm sendo estabelecidas como objetivo principal da Política Fiscal do
Brasil, para honrar em especial as dívidas financeiras.

A Política Fiscal pode influir sobre a atividade produtiva e sobre os níveis de preços
de um país. Quando o Governo amplia as obras públicas e/ou reduz o imposto de renda
(Imposto Direto, pois incide diretamente sobre a renda), pode permitir que ocorram efeitos
positivos na atividade econômica. Através de maiores investimentos em ferrovias, geração
e transmissão de energia e centros de pesquisas o Governo pode proporcionar uma maior
oferta de empregos diretos e, principalmente, indiretos pela capacidade desses
investimentos em promover desdobramentos importantes que tendem a estimular os
empresários a investirem cada vez mais. Se também reduzir o imposto de renda poderá
estimular o consumo devido a uma maior disponibilidade da renda. É importante ressaltar
que a perda de receita causada pela redução da alíquota do imposto de renda será
compensada por uma maior arrecadação dos impostos atrelados ao consumo e a produção
(ICMS, IPI, ISS entre outros) – chamados de Impostos Indiretos.

Entretanto, se o objetivo da Política Fiscal do Governo for o controle da inflação o


caminho utilizado será a tentativa em reduzir os Gastos Públicos para frear a participação
do setor público na atividade econômica do país, reduzindo despesas e, com isso, tendo
menos necessidade de impostos. Essa medida compõe uma estratégia em tentar minimizar
os possíveis malefícios do excesso das despesas públicas sobre as receitas, que em último
estágio podem obrigar o Banco Central a tomar uma medida desagradável que é a
ampliação da oferta de dinheiro, para financiar o déficit público e com isso levar o país a
uma inflação.

Brasil: Disciplina Fiscal e os Ataques Especulativos nos Anos 90

A livre mobilidade do capital especulativo estabelece o ambiente adequado aos


violentos movimentos financeiros nas Bolsas de Valores, numa tendência de disseminação
de crises, ora de excesso de liquidez, ora de falta de divisas, levando as nações com baixa
capacidade de implementação de instrumentos de proteção, a sofrerem com os ataques

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 60


especulativos que redundam, na maioria das vezes, em ganhos estratosféricos aos
investidores financeiros.

Neste tópico desenvolveremos, sucintamente, os principais modelos que tentam


explicar por quais motivos surgem os ataques especulativos. Quais os condicionantes que
levam um grande número de investidores a retirar suas aplicações de determinados
mercados, alocando-as em outros. Partimos do princípio que tais oscilações só são
possíveis diante da contestável liberdade do capital financeiro praticada por algumas
nações, deixando-as vulneráveis às mudanças de expectativas dos investidores
internacionais.

Existem três modelos básicos que explicam os ataques especulativos: o de “primeira


geração”, cujo formulador foi Paul Krugman, parte do princípio de que os mercados são
perfeitos, com informações simétricas. Caso o governo financie seu déficit com emissão de
moeda, provocará a expansão da oferta monetária. Antevendo a perda do poder de compra
da moeda nacional os agentes a trocam por ativos denominados em moeda estrangeira.
Com efeito, torna-se insustentável a manutenção do câmbio fixo, diante da redução das
reservas internacionais e, como conseqüência, ocorre a maxidesvalorização cambial.
Assim, segundo esse modelo, os ataques especulativos são frutos da má gestão da política
macroeconômica, provocando a crise cambial.

Outro modelo foi baseado no trabalho de Obstfeld, parte do mesmo princípio do


modelo de “primeira geração”, que os ataques especulativos são provenientes dos
equívocos na administração das autoridades públicas, porém, acrescenta o componente
político. Para o primeiro modelo a desvalorização cambial ocorre inelutavelmente,
enquanto o modelo de “segunda geração” acredita na escolha das autoridades monetárias
locais em permitir a desvalorização ou não do câmbio, analisando o aspecto do
custo/benefício social da sua decisão.

Parte da análise da escolha entre possíveis perdas políticas incorridas se os gestores


públicos decidirem liberar o câmbio e dos possíveis benefícios econômicos decorrentes da
manutenção do câmbio estável, mesmo tendo a consciência da perda da autonomia da
política monetária.

Entretanto, os ataques especulativos notados no Brasil, por exemplo, ao longo da


década de 90, estão dissociados dos argumentos teóricos dos modelos de “primeira” e
“segunda geração”. O esforço pelo disciplinamento fiscal percebido no corte dos gastos
públicos e a tentativa na conquista de superávits primários, estavam calcados na visão que
só através do equilíbrio fiscal sustentável seria possível estabelecer um ambiente favorável
ao crescimento econômico e manter o país protegido dos ataques especulativos.

A conquista do Superávit Primário Consolidado pelo setor público (receita menos


despesas não-financeiras do governo municipal, estadual e federal) significa que o país
estava cumprindo com o “dever de casa”, o resultado positivo implica na real capacidade
em honrar com os pagamentos aos credores internos e externos, sendo um componente
importante para possibilitar a sustentabilidade da dívida e restabelecer a credibilidade dos

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 61


investidores. Assim, reduz a exposição da nação aos ataques especulativos, pois haverá
uma tendência de queda nos juros devido à conotação do menor risco.

Dentro dessa perspectiva, a partir de 1993 o Governo brasileiro dá início a um


programa de medidas emergenciais, denominada de PAI (Programa de Ação Imediata), que
tinha como principal objetivo a redução dos gastos públicos. Para alcançar tal feito foram
adotadas as seguintes medidas: a) programa para recuperação da receita tributária do
Governo Federal; b) cobrança das dívidas dos estados e municípios com a união; c)
controle mais rigoroso sobre os bancos públicos e d) aperfeiçoamento do programa de
privatizações.

Além do PAI foi criado em 1995, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o
Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados, seu objetivo principal
era estimular que os estados realizassem um planejamento orçamentário mais eficiente, em
troca os estados conquistavam o direito de refinanciar suas dívidas com a união. Nesse
caso, cabia aos estados a redução das despesas com pessoal, as privatizações, a elevação
das receitas, compromisso com o superávit primário e o controle do endividamento. Os dois
programas estabeleceram maior austeridade na administração pública, concretizando-se no
dia 04 de maio de 2000 na complexa Lei da de Responsabilidade Fiscal (LRF) que
introduziu regras na gestão pública, não permitindo, por exemplo, que os governos das três
esferas (municipal, estadual e federal) gastassem acima da receita prevista.

Tabela 6 – Brasil: Superávit Primário Consolidado (1994/2000)


Em % PIB – acumulado de12 meses.

Ano Resultado Primário


1994 5,21
1995 0,27
1996 -0,09
1997 -0,95
1998 0,01
1999 3,23
2000 3,46
Fonte: Banco Central do Brasil

Entretanto, não excluindo o mérito e a importância da responsabilidade fiscal, a


mesma não valida os pressupostos teóricos dos modelos de “primeira” e “segunda
geração”, pois mesmo os municípios, estados e o governo federal apresentando entre 1994
a 2000 esforços para promover o superávit médio primário, esses foram incapazes de
colocar o Brasil numa posição confortável frente às crises financeiras internacionais. Nem a
eliminação do déficit primário em 1998 e a tendência para conquista de novos superávits
nos anos subseqüentes – que de fato vieram acontecer, como demonstrados na tabela 6 –
evitaram o sofrimento do país com a crise cambial que eclodiu no início de 1999, levando o
Governo a liberar definitivamente o câmbio e reforçar a política fiscal contracionista.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 62


Neste contexto, em cada crise aumenta-se a pressão por superávits primários,
obrigando o Governo a praticar cortes mais severos nas suas despesas, inclusive de
investimento e/ou ampliar a carga tributária, como conseqüência gera entraves ao
crescimento do emprego e da renda.

Os trabalhos mais recentes partem da hipótese de que os mercados não são perfeitos
e, portanto, as informações são assimétricas. As abruptas saídas e, assim, os ataques
especulativos ocorrem, principalmente, pelas crises na conta financeira. A aversão ao risco
coloca os investidores totalmente sensíveis aos rumores, reais ou não, sobre a economia de
determinado país. As mudanças de humor podem induzir o comportamento de “manada” ou
“contágio”.

O movimento de saída, através do comportamento de “manada”, foi construído a


partir de uma comparação alegórica com o estouro da boiada, partindo da idéia que a ação
de saída de um grupo de investidores pode disseminar uma reação por outros grupos no
mesmo sentido. Como as informações são assimétricas, os investidores baseiam-se em
dados mais acessíveis fornecidos através dos rumores, portanto, dirigindo as decisões de
alocações em carteira ao efeito “contágio”, preferindo seguir os “boatos” a trabalharem
com informações mais precisas.

Partindo do modelo de “terceira geração”, levantamos a hipótese de que os ataques


especulativos só podem ser contornados pelo estabelecimento de controles de capitais
financeiros de curto prazo, cuja liberdade excessiva vulnerabiliza a economia de um país,
mesmo quando há disciplina fiscal e controle dos preços. Partindo do modelo de “terceira
geração”, são baseados na experiência da América Latina e, especificamente, do Brasil na
década de 90, sugerem um aprofundamento no debate, encaminhando as causas dos ataques
especulativos aos desequilíbrios sistemáticos do balanço de transações correntes, fruto da
baixa capacidade tecnológica e, conseqüentemente, reduzindo o grau de competitividade.
Com efeito, as crises cambiais originam-se da incapacidade de países com essas
características atraírem um fluxo regular de capitais, fomentando um cenário propício aos
ataques especulativos.

Em suma, no caso dos países emergentes a lei de mercado não se aplica, por dois
motivos básicos: as informações são assimétricas e os investidores optam por informações
advindas dos rumores. Assim, países como o Brasil deve escolher ações que limitem a livre
mobilidade do capital financeiro, para reduzir a vulnerabilidade do país aos ataques
especulativos, pois mesmo com uma gestão política crível condizente com a disciplina
fiscal a nação continuará sofrendo com as abruptas saídas de capital de curto prazo.

5.6. Bolsa de Valores

Certamente, a Bolsa de Valores é uma das instituições que mais aguçou a


curiosidade da população quanto ao seu funcionamento, nos últimos tempos. É possuidora
de um jargão que a torna singular, distanciando-a do entendimento da maioria. Os
resultados saltitantes e imprevisíveis, sendo destacados com veemência pela mídia, deixam
os agentes econômicos nacionais e internacionais, com os nervos à flor da pele e a

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 63


população na expectativa quanto aos resultados, que sendo desfavoráveis, poderão ompr-
los, mesmo que indiretamente.

Podemos notar que a atenção dispensada às Bolsas de Valores, não ocorre por
acaso, mas pelo fato inusitado da sua importância para a conjuntura econômica de um país.
Sua principal função é canalizar poupanças para os investimentos, ou melhor, é um tipo de
mercado onde encontram-se os que possuem dinheiro extra e desejam aplica-lo e os
possuidores de empresas que necessitam do dinheiro para investir. Dessa forma, quanto
maior o montante negociado, maior será o nível de investimentos.

As Corretoras de Valores através de seus funcionários, legalmente credenciados à


Bolsa de Valores, compram e vendem títulos e ações. No caso das empresas, para captar
recursos financeiros, faz-se necessário que ela abra o capital, tornando-se uma S/A
(Sociedade Anônima), assim sendo, com a divisão da empresa, em várias partes ⎯ ações,
todos os sócios terão uma participação nos lucros, de acordo com a sua cota. E são
exatamente essas ações, o principal produto negociado nas Bolsas.

Além das ações, também são negociados outros ativos financeiros, como os títulos
públicos, que o Banco Central vende ou compra, seguindo a determinação da política
monetária do governo.

Quando um investidor adquire uma ação, conjuntamente vem a consciência de que o


ganho não será imediato. Se durante o seu exercício, a empresa obtiver prejuízo, todos os
acio5nistas arcarão com a perda, caso contrário, se a empresa for bem sucedida,
apresentando bons resultados, os ganhos serão divididos.

Os investidores tradicionais seguem à risca a lógica das regras necessárias para a


efetivação do processo de compra/venda, há, porém, os especuladores, que comercializam
as ações para ganhar com a diferença obtida, em operações com retornos imediatos. Seu
ganho consiste em comprar uma ação quando sua cotação estiver em baixa e vendê-la nos
momentos de alta. A informação e a experiência são armas imprescindíveis para quem
especula com as ações.

Os recursos financeiros (capital volátil ou especulativo), graças à velocidade de


informações, estimulados pelos avanços tecnológicos, estão circulando por todos os
continentes, através das Bolsas de Valores, sendo o objetivo dos aplicadores internacionais
obter ganhos a curto prazo, não havendo a preocupação de transformá-los em investimentos
produtivos e muito menos de se preocupar com as conseqüências que a evasão desse
dinheiro poderá acarretar para alguns países.

Os aplicadores consideram o mundo como uma carteira de aplicação, distribuindo o


dinheiro por várias regiões do globo, ganhando menos em umas, ganhando mais em outras;
quanto maiores os riscos, maiores as taxas de juros e quanto menores os riscos, menores as
taxas de juros. Uma perda nas Bolsas de Hong Kong e da Rússia, repercutiu de modo
nefasto nas Bolsas dos países denominados emergentes. Um exemplo cabal é a moratória
da dívida interna e externa anunciada pela Rússia ⎯ suspensão do pagamento dos juros ⎯

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 64


com a perda neste mercado os aplicadores, principalmente alemães, resgataram os papéis de
mercado instáveis, como o do Brasil, objetivando a compensação das perdas, essa iniciativa
abalou os alicerces do plano de estabilização econômica, levando o governo a aumentar,
ainda mais, os juros para estimular a permanência desse dinheiro. Em conjunto com a alta
dos juros, o governo brasileiro adotou medidas austeras de arrecadação fiscal, abrangente a
todo o país através do aumento dos impostos, redução de gastos públicos e privatização.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 65


6. ENTENDENDO A INFLAÇÃO

A exemplo dos bancos, a inflação também teve origem com o desenvolvimento da


moeda, daí surgindo o primeiro problema, de fato, atribuível ao seu uso. Vamos relembrar o
período da moeda metálica ⎯ século XVI ⎯ com a descoberta da América por Cristóvão
Colombo. Inicialmente, a Espanha e, depois, toda a Europa, sentiram os efeitos da
descoberta desse novo mundo. O retorno de Colombo à Espanha, com bastante ouro,
provocou aumento dos preços em decorrência da oferta maior desse metal precioso, mas a
quantidade dos bens e serviços permaneceu a mesma. Portanto, registrou-se o primeiro
surto inflacionário da História.

Podemos considerar a inflação como sendo um fenômeno tipicamente monetário,


pois todos seus reflexos se manifestarão através da moeda. Esses reflexos representam os
aumentos contínuos de preços dos produtos e, como conseqüência, a perda do poder de
compra desse meio de troca. A contínua elevação dos preços tende a beneficiar os agentes
que compõem a oferta de bens e serviços ⎯ protegem-se da inflação pela correção imediata
dos preços ⎯ e prejudica aqueles que representam a demanda (consumidores) ⎯ cujos
reajustes salariais independem deles.

6.1. Inflação Passo a Passo

O primeiro passo é compreender a origem dos aumentos de preços. Como já


mencionamos, no século XVI, quando as moedas utilizadas eram o ouro e a prata ⎯
moedas metálicas ⎯, a descoberta de novas jazidas por Cristóvão Colombo levou ao
aumento de preços, a princípio na Espanha, e depois, por toda a Europa, quando um
volume, cada vez maior, de ouro ingressava no comércio. Dessa forma, percebemos que os
preços dos bens e serviços estão diretamente ligados à quantidade de moeda em circulação.
Portanto, quanto maior a oferta de dinheiro no mercado, sem que haja aumento na produção
de bens e serviços, maiores serão seus preços e, vice-versa, quanto menor a quantidade de
dinheiro, menor será o nível de preços dos produtos.

O Estado, na busca do financiamento dos seus déficits ⎯ não optando pelo aumento
da carga tributária e nem por empréstimos externos ⎯ emite papel moeda; caso a produção
de bens e serviços não acompanhe o montante de dinheiro em circulação, a conseqüência
inevitável será a alta dos preços. Esse excesso de moeda sem lastro acarretará uma pressão
sob os preços. A inflação provocada pelo excesso de dinheiro é denominada inflação de
demanda.

É plausível detectar outras causas nos aumentos dos preços dos bens e serviços,
principalmente, se analisarmos a economia brasileira. Uma delas concerne ao
desenvolvimento econômico desequilibrado. Determinados setores cresceram, desprovidos
de estrutura que os viabilizasse. Essa má formação estrutural dá origem aos “pontos de
estrangulamento”. Vale lembrar, como exemplo, que no período do “milagre brasileiro”

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 66


houve um significativo crescimento da indústria automobilística, expandindo-se a oferta de
veículos e, em conseqüência, aumentando o consumo de gasolina. Realmente, a economia
brasileira não estava estruturada para lidar com esse novo surto de consumo. Dessa forma, a
maior demanda pressionou o preço desse insumo, o mesmo ocorrendo com o cimento.
Sendo as rodovias insuficientes para atender a proliferação dos veículos, novas estradas
tiveram de ser construídas, requerendo, portanto, mais cimento, cujo preço subiu
excessivamente. Como outros setores da economia dependem desses dois insumos ⎯
gasolina e cimento ⎯ tiveram que reajustar seus preços, promovendo o efeito cascata,
desencadeando o processo inflacionário. Portanto, a gasolina e o cimento representaram
dois “pontos de estrangulamento”. Na prática, uma vez instalada a inflação, fica impossível
identificar os “pontos de estrangulamento”, pois todos os preços passam a ser alterados; a
principal variável causadora desses aumentos consegue se manter disfarçada entre outros
insumos, que também majoraram seus preços, sendo difícil a sua identificação.

Outra causa da inflação é o aumento dos custos de produção, denominada inflação


de custo. A elevação dos preços dos insumos necessários à produção de um bem ou
serviço, poderá onerar o seu valor final, provocando o aumento generalizado dos preços. Os
“choques de petróleo”, ocorridos na década de 70, desencadeados pelos países da OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), tinham como principal objetivo a
elevação do preço do barril de petróleo. Esse aumento provocou às nações importadoras
dessa matéria-prima, inclusive ao Brasil, uma forte pressão nos preços dos bens e serviços
que, direta ou indiretamente, dependiam desse insumo. Os trabalhadores, organizados nas
centrais sindicais, poderão pressionar os preços, a partir de reivindicações salariais por
ganhos reais, acima da capacidade de pagamento da Economia, cuja compensação será a
transferência do ônus para o preço final do produto, uma vez que os empresários não
querem comprometer sua margem de lucro. A inflação causada pelo encarecimento dos
custos de produção ⎯ aumento dos preços de insumos importados e da elevação salarial ⎯
é conhecida como Inflação de Custos.

Finalizando, podemos afirmar que o processo inflacionário é capaz de se auto-


alimentar, sem a necessidade de uma causa inerente entrar em jogo, tornando-se uma
inflação inercial, ou seja, as expectativas inflacionárias são motivadoras dos aumentos
persistentes dos preços, sendo a inflação alimentada pela própria inflação passada. No
Brasil, onde a inflação inercial acompanha a nossa História, é possível falar em inflação
cultural: todos os agentes econômicos sempre atentos para reajustarem os preços, quer
haja uma causa ou não, que justifique esse aumento.

6.2. Entendendo o Plano Real

É interessante frisar que, no Brasil, não adotamos a dolarização (utilização do dólar


como meio de troca) porque existiam alguns problemas de “conversibilidade”, ou seja, a
quantidade de dólares que o Banco Central tinha em seu poder não era suficiente para
substituir todo o meio circulante e, ainda, toda a Economia operava com a moeda nacional,
mesmo depreciada pela inflação. Então, o governo encontrou uma saída: já que não podia
dolarizar a Economia, utilizou o dólar como âncora cambial, equiparando o Real à unidade
monetária norte-americana, surtindo o mesmo efeito da dolarização. Em conseqüência, o

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 67


brasileiro passou a demandar produtos externos, acarretando perdas sucessíveis na balança
comercial, provocando a evasão de divisas.

Como já verificamos, o dólar serviu de âncora (lastro) para nossa moeda, ou seja, a
estabilidade do Real era garantida pela equiparação ao dólar. Portanto, qualquer variação na
moeda americana surtiria efeitos imediatos na moeda brasileira. Se os agentes econômicos,
por algum motivo, voltassem a comprar dólares, antevendo uma possível inflação, ocorreria
a desvalorização da moeda brasileira e, conseqüentemente, a elevação dos preços,
restabelecendo o processo inflacionário. A arma que o governo utiliza, para que isto não
ocorra, é manter um estoque de dólares em poder do Banco Central. Este, sempre que
necessário, promove leilões da moeda americana para evitar sua valorização. Para constituir
este estoque de dólares, o Governo Federal adotou a política de juros altos, visando atrair
o capital financeiro estrangeiro, puramente especulativo, para nossa Economia. Os juros
pagos aos especuladores internacionais, para manter seus dólares aplicados no Brasil, vêm
criando sérias dificuldades à nação. A dívida interna aumenta assustadoramente, para evitar
o colapso do real, foi necessário vender as empresas estatais (privatizações) para sanear o
déficit com os especuladores. Assim, descumpriu-se uma das promessas que era aplicar as
verbas advindas das privatizações em obras estruturais e sociais, utilizadas agora, apenas
para amenizar os efeitos negativos do plano.

Outro importante fato que devemos comentar é a incompatibilidade do


desenvolvimento econômico do Brasil com a política monetária, fiscal e cambial de
controle inflacionário adotada pelo governo. O atual quadro socioeconômico do Brasil
exige uma atitude totalmente oposta a que está sendo tomada. Precisamos, urgentemente,
de investimentos estruturais para acelerar nosso crescimento.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 68


7. ENTENDENDO O SUBDESENVOLVIMENTO

América Latina, América Central, Ásia e África, além do “A” inicial, possuem
outros fatores em comum: os problemas econômicos, os alarmantes índices sociais e o
pouco interesse de grande parte dos políticos locais em questões de desenvolvimento.

Como principais características dessas regiões podemos citar: a péssima distribuição


de renda, as altas taxas de natalidade e mortalidade infantil, a baixa expectativa de vida, o
altíssimo grau de corrupção, uma forte tendência à agricultura e o predomínio do latifúndio,
um parque industrial incipiente, sistemas educacional e de saúde falhos, sérios problemas
habitacionais, disparidades regionais acentuadas, ou seja, regiões extremamente ricas e
outras miseráveis localizadas no mesmo país, excesso de mão-de-obra não qualificada,
baixos níveis salariais, balança comercial onde há tendência para importações de produtos
industrializados e exportações de produtos agrícolas e minerais, baixa taxa de poupança
interna, vultosa dívida externa e interna, forte dependência dos países desenvolvidos que se
transforma em submissão, saneamento básico precário, malha ferroviária deficitária,
desemprego e fome. Em conseqüência, são gerados bolsões de pobreza, onde se
concentram uma grande massa de excluídos, que ingressarão progressivamente no
submundo do crime. Por sua vez, o restante da sociedade protege-se dessa crescente massa,
exigindo do Estado melhor policiamento, em face do crescimento assustador da
criminalidade.

Algumas pessoas, por interesse escuso ou, simplesmente, por desconhecimento dos
problemas, atribuem as causas desses desequilíbrios ao fator climático, ou seja, ao calor,
que predomina na maioria dos países pobres, impossibilitando o desenvolvimento dessas
regiões. Certamente, identificaremos outras causas plausíveis do nosso desequilíbrio
econômico e da conseqüente desagregação social, mediante uma rápida análise histórica e o
estudo das atuais políticas nacionais atreladas aos interesses de políticas internacionais.
Teremos, assim, uma visão mais completa, senão adequada, que facilitará sobremaneira
nossa compreensão do subdesenvolvimento.

7.1. Por Que Somos Assim?

Dentre as causas inerentes ao subdesenvolvimento, abordaremos dois subitens: o


primeiro diz respeito à análise do fator histórico, dando ênfase ao período colonial, a saber,
o papel dos descobridores no desenvolvimento ou subdesenvolvimento das antigas
colônias. No segundo item, apontaremos para outras razões que explicam por que as atuais
administrações públicas satisfazem os interesses de pequenos grupos, não esquecendo de
falar da política do “é dando que se recebe”, que burla os interesses da população e das
ambíguas “propinas” nos países emergentes ⎯ inclusive no Brasil ⎯ onde qualquer obra
pública é motivo para atos de corrupção.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 69


7.1.1 O Aspecto Histórico

Geralmente, ao discutirmos as causas do nosso subdesenvolvimento, consideramos


apenas as decisões políticas atuais. De fato, na maioria das vezes, representam um entrave a
qualquer processo de desenvolvimento econômico. Mas, tudo tem um começo: De onde
veio essa cultura retroativa de crescimento? Dos políticos legislarem em causa própria ou
em prol de uma minoria? Do imediatismo que descarta e invalida planos responsáveis de
estruturação futura? Não será surpresa se encontrarmos as respostas no período colonial.
Perceberemos que a forma como foram utilizadas as colônias, por seus “descobridores”,
determinaram o grau de desenvolvimento da maioria das nações modernas.

Não é o intuito desse trabalho aprofundar-se numa análise do período colonial.


Resumidamente, mostraremos como funcionava ⎯ e, em alguns casos, ainda funciona ⎯ a
relação entre metrópole e colônia. Já é do nosso conhecimento a existência de dois tipos de
colônias: radicação e exploração. As colônias de radicação eram terras ricas em recursos
naturais e pouco povoadas, de fácil acesso para os colonizadores, que, por sua vez,
utilizavam essas novas terras como extensão de seu país, estabelecendo-se definitivamente
no local. Os Estados Unidos são exemplo cabal de colônia de radicação. Os ingleses, ao
colonizarem esse novo território, objetivavam a fixação, gerando produção e crescimento,
para assegurar o sustento familiar e garantir o futuro das gerações vindouras. Dessa forma,
a colônia americana desenvolveu-se, acumulou riquezas, sob o impulso de uma cultura
desenvolvimentista que propiciou o investimento na industrialização, fortalecendo toda a
estrutura econômica e social, tornando-se, conseqüentemente, uma nação desenvolvida.

No caso das colônias de exploração, as terras já eram utilizadas por parte de grupos
sociais bem definidos, o que dificultou a radicação. Distinguem-se nesse tipo de
colonização duas fases: a primeira como fornecedora de matéria-prima e mão-de-obra, e a
segunda como mercado para absorver produtos manufaturados do país matriz. As colônias
se limitariam a fornecer produtos primários e metais preciosos, como o ouro.
Posteriormente, os países exploradores passariam a escoar parte de sua produção
manufatureira nas colônias, consideradas extensão de seus mercados. Impedia-se, assim, o
crescimento industrial das colônias, reprimindo qualquer iniciativa de industrialização,
incentivando apenas o setor agrícola ou as atividades que eram do interesse dos
colonizadores. O Brasil é um exemplo típico de colônia de exploração, utilizada, a
princípio, pelos portugueses e, depois, através de um acordo, entregue ao domínio dos
ingleses. O modelo de exploração econômico, iniciado nas grandes navegações, refletiu nas
culturas dessas colônias, tornando-as nações subdesenvolvidas, com forte dependência dos
países ricos e na formação de uma classe política sem interesse de promover o
desenvolvimento autônomo de seu país.

7.1.2 A Teoria do “Fisiologismo Político”

Infelizmente, as decisões políticas, na sua grande maioria, não contribuem para o


melhoramento dos países pobres, quando se pratica o “fisiologismo político”, ou, no jargão

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 70


político, a política do “é dando que se recebe”. A administração da verba pública é
orientada para gerar reciprocidade de favores políticos, independentemente das
conseqüências ⎯ se a obra em discussão trará benefícios ou não para a consolidação da
estrutura econômica da nação. O importante é cumprir o acordo feito, que possivelmente
beneficiará apenas as duas partes interessadas ⎯ o político defensor do projeto e a entidade
que o executará. Onde predomina o imediatismo político, não há espaço para as ações
responsáveis, que garantem a firmeza da nação e do bem-estar do seu povo. O mais
estarrecedor e chocante é constatarmos que atitudes como estas são encaradas com
naturalidade no meio político, utilizando os recursos ⎯ que são extremamente escassos ⎯
em obras superfaturadas e economicamente irrelevantes, afastando assim, qualquer
expectativa de desenvolvimento.

Estaremos avançando quando a sociedade repudiar qualquer ato de “fisiologismo


político”, cobrando dos administradores públicos maior responsabilidade no uso da verba.
Para tanto, é imprescindível o investimento em educação ⎯ segmento não prioritário nos
países subdesenvolvidos ⎯ para que a população seja formada com base sólida e
consciente, capaz de julgar e exigir uma utilização mais adequada do dinheiro público.

7.2. Brasil: Um Modelo de Desenvolvimento Regionalizado

A década de noventa ficou marcada na história pela supremacia da doutrina


econômica neoliberal, imposta às economias dos países emergentes, como o meio mais
perfeito para que essas nações trilhem o caminho do desenvolvimento. O conteúdo desses
programas concerne ao controle inflacionário, cujos escopos são: 1.juros estratosféricos,
para eliminar o excesso de liquidez, ou melhor, diminuir a quantidade de dinheiro no
mercado, reduzindo a demanda por bens e serviços e, também, para estimular o ingresso de
dólares especulativos, que servem de lastro (alicerce) às moedas em circulação,
principalmente, de alguns países da América Latina, inclusive o Brasil; 2. diminuição dos
gastos públicos, com a redução das despesas de custeio e de investimento e corte na folha
de pagamento, em concomitância, elevação da alíquota de alguns impostos e, como últimos
requisitos, valorização cambial, abertura da economia ao comércio internacional e as
privatizações.

As principais conseqüências desse conjunto de medidas foi o desencorajamento dos


investimentos privados, endividamento de parte dos empresários, agricultores e pessoas
físicas, colocando a economia desses países em perigo eminente de recessão; queda no
nível geral de preços e o brutal enfraquecimento do Estado, deixando para o mercado a
“responsabilidade” do desenvolvimento socioeconômico. Diante disso, analisando o caso
do Brasil, surge um intrigante paradoxo: Como corrigir as disparidades regionais sem a
presença do Estado? No momento em que as Regiões Norte e Nordeste necessitam de uma
política estrutural, fala-se no desmonte do aparelho estatal e do enfraquecimento das
entidades de fomento – como exemplo a SUDENE. Isso nos leva a refletir para a defesa da
organização administrativa do Estado, à moralização na utilização da verba pública e o seu
conseqüente fortalecimento, e condenar o desmonte e desarticulação da máquina estatal,

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 71


proposta como solução aos problemas econômicos e sociais. Portanto, é válido afirmar que
devemos exaltar um modelo de desenvolvimento regionalizado, para redução das
desigualdades entre as regiões e o conseqüente fortalecimento do Brasil como um todo.

Ao defendermos um programa único de desenvolvimento para o Brasil, estaremos


cometendo um terrível equívoco, porquanto cada região tem suas características próprias, o
que dificulta a prática e o sucesso de programas dessa abrangência. O Norte e o Nordeste,
necessitam de investimentos públicos maciços e a prática de um modelo de
desenvolvimento próprio, para corrigir as falhas históricas, que privilegiaram algumas
regiões em detrimento de outras. Para tanto, é de suma importância a adoção de algumas
medidas que possam implementar a economia das regiões desfavorecidas: na Região Norte,
por exemplo, a maior exploração do potencial energético, através da combinação dos
recursos hídricos. O aproveitamento metódico dos recursos da Amazônia, viabilizando a
fixação do homem na floresta, com o objetivo de diversificar as culturas de subsistência e,
também, visando a comercialização.

Entre outros cultivares aproveitáveis: a castanha-do-pará, o coco para a produção de


óleo de dendê, o açaí, que é a fruta de uma palmeira de pequeno porte, cujo suco possui um
grande potencial exportador e o babaçu, palmeira de semente oleaginosa e comestível da
qual se extrai um óleo, devendo ser estimulada, ainda mais, a sua industrialização na
própria região e propiciar o aumento na produção do látex.

No extrativismo, é importante investir na extração de manganês. No setor


madereiro, deve-se incentivar a indústria de beneficiamento da madeira, impedindo que
seja exportada em tora, evitando dessa forma o aviltamento dos preços. De particular
importância é o desenvolvimento da indústria pesqueira, haja vista que a Amazônia possui
abundantes reservas de peixes, podendo os produtos pesqueiros serem vendidos no mercado
internacional. O turismo ecológico afigura-se uma indústria de extrema rentabilidade, pois
requer poucos investimentos e o retorno é a curto prazo: atraindo turistas de todas as partes
do mundo, torna-se uma excelente geradora de divisas e de empregos.

Para a Região Nordeste, incentivar a pesquisa da biomassa, buscando novas fontes


energéticas como a energia solar e a de combustíveis alternativos como o álcool da cana-
de-açúcar e o óleo da mamona, que ainda requer estudos e investimentos para o seu
aperfeiçoamento e aumento da produção. A construção de usinas siderúrgicas, para a
produção de aços planos. Apoio à micro e à pequena empresa pois, no Nordeste, há muito
tempo vem-se financiando as grandes indústrias, mas estudos comprovaram que a pequena
empresa investe menos em tecnologia, portanto torna-se uma fonte preciosíssima na
geração de empregos. A reforma agrária, que deve deixar de ser encarada como uma
questão política e, sim, social, capaz de promover o êxodo urbano, ou seja, a saída
espontânea do homem da cidade para o campo. Para tanto é necessário adotar políticas de
incentivos técnicos e financeiros, capazes de estimular o processo de interiorização e
diversificar a agricultura regional. Na área de transporte, é fundamental a formação de
hidrovias e a conclusão do traçado da Nova Transnordestina, interligando alguns Estados,
servindo tanto para transporte de passageiros como de carga, cujo escoamento se daria nos
grandes portes da Região, que, por sua vez, também necessitam de melhoramento infra-
estrutural. A indústria do turismo revela-se como uma grande incentivadora do

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 72


aquecimento da economia nordestina; é capaz de absorver um grande contingente de mão-
de-obra, beneficiar o setor informal e captar divisas de serviços no balanço de pagamento.

O estímulo ao desenvolvimento das Regiões Norte e Nordeste depende muito mais


da simples vontade política do que problemas de ordem econômica que possam justificar a
não execução dos projetos. Os fatores supracitados que seriam capazes de proporcionar o
“arranque” dessas Regiões, são bem claros e definidos. Portanto, a prioridade política do
Governo Federal, consoante com o interesse dos governos dos estados, é fundamental para
que o país possa extinguir a miséria, proporcionando a todos os brasileiros oportunidade de
exercerem sua cidadania, consolidando as estruturas econômicas, políticas e sociais.

7.3. Pernambuco e o Desafio do Crescimento do Interior

O Estado de Pernambuco vive uma grande expectativa e, até um certo ponto, passa
por um clima de euforia, justificada em grande parte pelas seguintes constatações: as
conhecidas vantagens competitivas, como: a privilegiada localização geográfica, uma
razoável infra-estrutura, alguns centros de pesquisa de referência nacional e uma grande
diversidade produtiva; somadas ainda ao crescimento do terciário moderno e,
principalmente, ao conjunto de investimentos estruturadores que apontam para nosso
Estado, como a Refinaria de Petróleo e o desenvolvimento do Pólo Petroquímico, o
Estaleiro Atlântico Sul, que contribuirá com o soerguimento da Indústria Naval e a
expansão da Indústria Metal-Mecânica no entorno da Grande Recife, a Nova
Transnordestina, a duplicação da BR 101 entre outros.

Porém, para um maior aproveitamento desse momento, faz-se mister o empenho


numa discussão mais aprofundada sobre a questão de descentralizar os efeitos positivos
desses investimentos à geração de emprego e renda também para o interior do Estado.

Para que seja eficaz, uma política de desenvolvimento deve estar centrada na
questão da redução das desigualdades socioeconômicas, valorizando as potencialidades
locais sem perder a dimensão global, extraindo de cada território os produtos e serviços
capazes de proporcionar o acesso à renda das camadas mais pobres da população.

A recente história do desenvolvimento do país mostra que os livres mecanismos do


mercado aprofundaram o gap entre áreas periféricas e os centros mais avançados,
concentrando renda e reduzindo o nível de bem-estar do grupo social de menor
qualificação, situados fora dos requisitos básicos do mercado capitalista. O hiato entre
territórios também acentua os fluxos migratórios para os locais de maior dinâmica
econômica e agrava os propalados e discutidos problemas urbanos, como os bolsões de
pobreza e em conseqüência a baixa qualidade de vida.

Esse processo para ser interrompido e até mesmo revertido torna imprescindível a
participação do Estado com a assistência técnica e a ampliação das linhas de financiamento
dos bancos de fomento, para induzir o processo centrífugo de expansão das atividades
produtivas que leve em consideração o formato de empreendimentos de pequeno porte,
capazes de empregar a mão-de-obra local ligadas à agricultura familiar, às cooperativas e às
associações entre outras organizações.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 73


O reforço técnico e financeiro para grupos de atividades econômicas do interior, em
simetria com as características sócio-culturais e que respeitem as regras ambientais, estão
mais condizentes com o paradigma do desenvolvimento sustentável capazes de estabelecer
uma agenda positiva às regiões historicamente desprovidas em conquistar naturalmente o
seu espaço no competitivo mercado.

Há condicionantes relevantes para o desenvolvimento regional que não necessitam


estar alicerçados apenas nos grandes empreendimentos, ao contrário, dentro do discurso da
inclusão, é mais estratégico colocar em prática instrumentos que favoreçam uma maior
dinâmica dos arranjos produtivos em consonância com a base social local. O maior desafio
é possibilitar que esses arranjos possam, de alguma forma, construir uma interface com os
grandes investimentos, sem cingi-los ao fornecimento de insumos básicos de baixo valor
agregado, que tende inelutavelmente ao estímulo do perverso mecanismo de dependência e
concentração de renda.

Neste sentido, os investimentos estruturadores programados para o Estado de


Pernambuco tendem ao favorecimento do crescimento da renda, mais especificamente no
cinturão da Região Metropolitana do Recife, havendo a necessidade de políticas públicas
para incentivar à expansão dos pequenos empreendimentos organizados no interior, dando
maior atenção aos setores pobres e marginais dos territórios periféricos, que se articulem
com a base social local e assim possibilite a inserção desses grupos via mecanismos de
produção e comercialização.

7.4. Texto para Reflexão

Uma Nova Alternativa: Entidades Sem Fins Lucrativos e as ONGs

Há um consenso sofista que a última década do século XX ficará marcada para a


história como o período da hegemonia do modelo econômico neoliberal. O processo de
globalização da economia com a intensificação das relações econômicas internacionais, dos
avanços tecnológicos na engenharia genética e, principalmente, nas comunicações,
possibilitadas pelo fomento dos cabos transoceânicos e satélites, deram sensação do
encurtamento das distâncias geográficas. O capital financeiro ganha poder de barganha e os
estados-nações são alijados em seu grau de manobra, restringindo-os as medidas
desregulamentadoras.

Todos esses fenômenos supracitados, induzem a uma falsa assertiva: que o final do
século XX, representa a supremacia da concepção ortodoxa do funcionamento do mercado,
inclusive, à gestão das políticas sociais. Entretanto, o presente texto pretende contribuir
para uma reflexão acerca de tal afirmativa. Explicitaremos que por detrás da cortina da
concepção neoliberal, existe uma complexa cadeia de Entidades sem Fins Lucrativos
mobilizadas, principalmente, pela sociedade civil, prestando serviços de bem-estar social
sobre a égide do Estado, tanto no que tange o financiamento e controle como na própria
execução dos projetos. Redirecionando o welfare state (Estado do Bem-Estar Social) para
um novo conceito, representado pela diminuição de gerência direta do estado na economia
e nos programas sociais – se comparado, principalmente, ao new deal adotado a partir de

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 74


1933, na gestão do então presidente norte-americano Franco Delano Roosevelt – e, não, na
falência do modelo do Estado de Bem-Estar Social, sucumbido, pela visão mercadológica.

É importante fazer um alerta sobre a expressão simplista “privatização do estado do


bem estar social”, amiúde, os governos tem tido um papel imprescindível à viabilização das
ações das entidades sem fins lucrativos.

O tradicional conceito do Welfare State concerne ao sistema econômico de livre-


concorrência, sendo o Estado responsável pela condução das políticas sociais. Dentre os
principais objetivos poderíamos destacar: possibilitar aos cidadãos padrões de vida
mínimos, produzir bens e serviços sociais entre outros. Não significa o planejamento
econômico, com interferência estatal, mas, sim, de ações compensatórias dos efeitos
nocivos impostos pela visão mercadológica, pela racionalização levada ao extremo.

O Estado utiliza como principal instrumento a política fiscal expansiva, com


elevação dos gastos públicos. Os críticos do Estado do Bem-Estar Social, argumentam que
a fragilidade desse programa encontra-se num paradoxo: a adoção da prática do imposto
progressivo contradiz com os alicerces do sistema capitalista, pois, elevando, cada vez
mais, a alíquota de grandes fortunas, no intuito de financiar políticas sociais
compensatórias, prejudica o princípio da acumulação, com perigo iminente de paralisar o
ciclo de crescimento. Portanto, a incapacidade do Estado gerar recursos suficientes para
equilibrar os crescentes gastos do setor público, abre espaço para possíveis crises.

O fornecimento de serviços sociais por grupos privados, não objetivando lucros,


vem crescendo desde da década de 80. Porém, a mobilização da sociedade civil como
agente ativo no processo da gestão de uma política do bem-estar social deu margem ao
surgimento de uma “terceira via” que representa um caminho intermediário entre os
opostos: Mercado e Estado, nem a visão extremista do laissez-faire, que caracteriza a visão
norte-americana antes da década de 30, muito menos, o paternalismo estatal, que conduz
todas as ações, tanto no financiamento e controle, quanto no fornecimento dos programas
sociais.

Nos Estados Unidos da América, apesar de passar uma imagem inexorável da


participação efetiva privada, o que existe, de fato, é uma complexa rede de programas de
bem-estar social patrocinadas por recursos oriundos também do governo. Assim, observa-se
que há uma grande possibilidade de desviarmos a lógica mercadológica, com esfacelamento
do estado, com sua política de bem-estar, para uma atuação mista com forte participação da
sociedade civil respaldada, principalmente, nos recursos do governo.

Destarte, a delegação de ações sociais para grupos privados, não significa a


derrocada da política do Estado do Bem-Estar Social e, sim, um novo modelo, financiado,
principalmente, por governos e executada por representantes organizados da sociedade
civil.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 75


8. ENTENDENDO O COMÉRCIO EXTERNO

A necessidade do comércio externo

O comércio ultrapassa as fronteiras nacionais. Procurando atender com a maior


eficiência possível as necessidades do consumo interno, é indispensável comercializar com
diversas regiões do mundo. Nenhuma nação consegue viver isoladamente, pois sua auto-
suficiência é utópica. Por mais rico que seja o país sempre carecerá de certos insumos
necessários para a fabricação de determinados bens e serviços. Cada indivíduo, conforme
sua própria aptidão, se especializa em determinada profissão, tentando exerce-la para
assegurar sua sobrevivência. O mesmo ocorre com os países: de acordo com suas
características climáticas, de solo, culturais etc., cada nação irá se especializar na produção
de determinados bens e serviços, colocando o excedente no mercado externo. Dessa forma,
podemos afirmar que a base do comércio internacional é a especialização, que utiliza o
excedente de produção para a comercialização. Para melhor entendermos, vejamos o caso
do Brasil, país de proporções continentais e ricas jazidas minerais. Especializou-se,
basicamente, no setor primário, ou seja, na agricultura – soja, cana-de-açúcar, café etc. – e
no extrativismo – como exemplo a exploração do minério de ferro, utilizando os excedentes
para o comércio externo. A escassez de capital retardou o processo de industrialização,
sendo a lacuna preenchida por nações que se especializaram no setor secundário ⎯ como
os Estados Unidos.

Em síntese, impõe-se a necessidade do intercâmbio internacional em três casos:

1. Para adquirir bens e serviços que não podem ser produzidos internamente;
2. Para adquirir bens, serviços e matérias-primas cujos custos de produção são
menores, tornando seu preço final mais baixo;
3. E, finalmente, para exportar os excedentes de produção.

8.2. A Evolução

As atividades comerciais são muito antigas, como foi comentado no capítulo 3. Na


pré-história registraram-se as primeiras relações comerciais, que se deram mediante a
chamada Economia de Escambo, que consistia em trocar alguns produtos por outros. Mas
este comércio era realizado a nível local ou regional. O “pool” das relações comerciais
internacionais intensificou com as grandes navegações, dando origem ao mercantilismo ⎯
doutrina econômica que predominou nos séculos XVI e XVIII. O principal objetivo dessas
atividades era descobrir novas terras no “além-mar” para obter metais preciosos, produtos
agrícolas, mão-de-obra etc. Os Estados-Nações como Portugal, Espanha, Holanda e
Inglaterra visavam conseguir nesse “Novo Mundo” produtos que não tinham possibilidades
de fabricar e, também, escoar os excedentes da produção de bens manufaturados. Sendo

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 76


assim, as colônias seriam importantíssimas para propiciar aos descobridores um nível
melhor de bem-estar.

Com o avanço tecnológico ⎯ dinamizando o transporte e a comunicação ⎯ e com


o crescimento das empresas multinacionais, houve grande transformação no comércio
internacional, despontando, neste fim de século, o chamado processo de globalização, cujo
tema será abordado ainda neste capítulo.

8.3. Entidades Supranacionais e o Protecionismo

Para regular o comércio internacional foram criadas algumas entidades com o


objetivo de garantir o “livre comércio” entre os países, impedindo que fossem adotadas
medidas restritivas à sua realização. Neste sentido, algumas nações uniram-se e deram
respaldo à formação de órgãos supranacionalistas como o GATT (Acordo Geral de
Tarifas e Comércio) que depois deu origem a OMC (Organização Mundial do Comércio),
que não iria trabalhar em prol de nenhuma nação, e, sim, como fiscalizador para coibir o
uso de taxas e tarifas alfandegárias que pudessem prejudicar as relações comerciais
internacionais.

Entretanto, muitos países, pretendendo proteger a indústria nacional remanescente


ou mesmo as indústrias já instaladas, aplicam taxas e tarifas a serem pagas por produtos
importados, tornando-os caros e inviabilizando sua utilização no mercado interno,
estimulando, assim, a produção local e possibilitando a fomentação da indústria nacional.
Essas medidas são justificadas pelos governos para que a indústria nacional gere empregos
e tributos para o país produtor. Essa política é conhecida como “protecionismo”.

Atualmente, pratica-se na América Latina a “abertura de mercado”, facilitando


assim o ingresso de produtos estrangeiros ⎯ independente de estarem prejudicando ou não
a indústria nacional. O mesmo procedimento não é observado nos Estados Unidos e na
União Européia, onde se impõem medidas protecionistas contra os produtos da América
Latina, em especial os produtos agrícolas.

8.4. A Política Cambial e o Comércio Externo

As autoridades governamentais ⎯ mais especificamente o Banco Central ⎯ podem


utilizar a política cambial para gerar superávit ou déficit na balança comercial, ou seja,
interferir nos montantes das exportações e importações através da desvalorização ou da
valorização do câmbio. A valorização do câmbio ⎯ cotação da moeda nacional acima do
dólar ⎯ estimula as importações, devido ao barateamento dos bens e serviços estrangeiros,
acarretando a evasão de divisas (dólar) e, conseqüentemente, caso continue a mesma
política, o acúmulo de saldos negativos na balança comercial ⎯ déficit. Podemos citar
como exemplo a implantação do Plano Real : com a adoção da política de valorização
cambial ⎯ colocando a cotação do real acima do dólar ⎯, houve um estímulo às
importações, promovendo uma grande evasão de divisas na nossa economia e,
conseqüentemente, déficits sucessíveis na balança comercial.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 77


Com a desvalorização do câmbio ⎯ cotação da moeda nacional abaixo do dólar ⎯
ocorrerá o estímulo às exportações, por se tornar o produto nacional mais barato quando
convertido em dólar. O aumento das exportações causa o superávit na balança comercial.
Essa política é geralmente adotada pelos países subdesenvolvidos, no intuito de receber
uma quantidade maior de divisas para saldar o pagamento dos juros da dívida externa e
para garantir a remessa de lucros das empresas multinacionais.

A determinação do valor da moeda nacional em comparação com o dólar, é o que os


economistas denominam de taxa de câmbio, que poderá ser fixa ou flutuante. A taxa de
câmbio fixa é determinada pelas autoridades governamentais. Já a taxa de câmbio flutuante
é determinada pelo livre mercado, através da oferta e demanda de divisas.

8.5 O Balanço de Pagamento

O estudo realizado até agora sobre o comércio externo nos proporcionou uma visão
geral da necessidade que os países têm de realizar transações comerciais e financeiras com
outros países. Entretanto, dessa comercialização poderão advir resultados positivos ou
negativos, dependendo da administração dos componentes que constituem o Balanço de
Pagamento.

É importante ressaltar que o comércio entre as nações não se limita a compra e


venda de mercadorias; abrange todas as formas possíveis de transações, entre elas:
empréstimos, financiamentos, turismo, doações, prestação de serviços etc. Para manter o
controle de todas essas atividades, o Governo Federal utiliza um artifício contábil
denominado Balanço de Pagamento.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 78


Síntese de um Balanço de Pagamento – US$ milhões

1. BALANÇA COMERCIAL 500,00


Exportações 2.000,00
Importações ( - ) 1.500,00
2. BALANÇA DE SERVIÇOS E RENDAS -3.800,00
2.1 Turistas -100,00
Entradas 500,00
Saídas ( - ) 600,00
2.2 Lucros -2.500,00
Entradas 500,00
Saídas ( - ) 3.000,00
2.3 Juros -1.200,00
Entradas 800,00
Saídas ( - ) 2.000,00
3. TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS 2,00
Entradas 20,00
Saídas (-) 18,00
4. SALDO EM TRANSAÇÕES EM CONTA-CORRENTE - 3.298,00
(1+2+3)
5. CONTA DE CAPITAL E FINANCEIRA 1.500,00
5.1. Investimentos Diretos 500,00
Entradas 1.000,00
Saídas ( - ) 500,00
5.2. Empréstimos e Financiamentos 200,00
Entradas 300,00
Saídas ( - ) 100,00
5.3. Investimentos a curto prazo 800,00
Entradas 1.100,00
Saídas ( - ) 300,00
6. SUPERÁVIT ou DÉFICIT (4 + 5) -1.798,00

O Balanço de Pagamento consiste, basicamente, em quatro contas: Balança


Comercial; Balança de Serviços e Rendas; Transferências Unilaterais e a Conta de
Capital e Financeira. Todas as transações que um residente de um país realiza com
residentes de outros países serão, dependendo da natureza, registradas em uma das quatro
contas mencionadas. Neste sentido, a principal função do Balanço de Pagamento é indicar
aos governantes a situação do seu país em relação ao comércio internacional. Portanto,
torna-se um preciosíssimo elemento para a análise macroeconômica, servindo de valioso
auxílio para tomadas de decisões que venham estimular ou inibir determinadas relações
com o mercado externo, buscando o equilíbrio que lhe proporcionará ganhos.

Iremos analisar separadamente as quatro contas que compõem o Balanço de


Pagamento, descrevendo as suas funções e assinalando as ligações que existem entre elas.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 79


Na Balança Comercial são registradas as exportações e importações de
mercadorias. Quando as exportações superam as importações, ou seja, quando um
determinado país vende mais e compra menos no mercado externo, o saldo na Balança
Comercial é positivo ⎯ superávit. Caso contrário, quando as importações são maiores que
as exportações, isto é, quando as compras são maiores que as vendas, diz-se que o saldo é
negativo ⎯ déficit.

Na Balança de Serviços e Rendas, há várias subcontas, entre elas: turismo, lucros


e juros. Quando um país recebe o turista, divisas entram; quando seus residentes vão ao
exterior, divisas saem. O saldo da subconta turismo será positivo sempre que a entrada de
turistas for maior que a saída, e negativo quando a saída de turistas for maior. Outra
subconta na Balança de Serviços é o lucro. Concerne às empresas multinacionais que
enviam seus lucros ao país-matriz, o que representa a saída de divisas para a nação-filial e
entrada de divisas para o país de origem. Inclui-se, também, na Balança de Serviços, a
subconta juros. Se um país é credor, ou seja, forneceu empréstimo a outra nação, terá um
retorno em forma de juros, gerando a entrada de divisas. Para o país devedor, o pagamento
dos juros significará a saída de divisas.

Nas Transferências unilaterais, os pagamentos efetuados não têm contrapartida.


São os registros das entradas e saídas de divisas, através das doações de residentes de um
país para residentes de outros países e as remessas feitas por empregados estrangeiros para
familiares no país de origem.

O saldo em Transações em Conta-Corrente é a soma dos saldos da balança


comercial, balança de serviços e renda e de capital e financeira. Caso o resultado seja
negativo significa que esse país recebeu, nos anos anteriores, poupança externa
provenientes da conta de Capital e Financeira, levando o país a uma dependência ainda
maior dessa mesma conta, pois necessitará de mais recursos financeiros para conseguir
fechar o exercício do presente ano. Ao contrário, o saldo positivo pode representar uma
menor absorção de poupança externa dos anos anteriores ou simplesmente o melhor
desempenho das exportações que possibilitaram o saldo comercial positivo o suficiente
para cobrir a Balança de Serviços e Rendas.

Quanto à conta de Capital e Financeira, citaremos as três principais subcontas:


Investimentos Diretos; Empréstimos e Financiamentos; e os Investimentos a curto prazo.

Os Investimentos Diretos ocorrem quando uma empresa nacional se instala em outro


país ou quando essa empresa faz investimentos na sua subsidiária. Assim, o país que recebe
a empresa multinacional estará recebendo divisas; o país a que a empresa pertence
registrará a saída de divisas.

Os Empréstimos e Financiamentos representam o dinheiro que um país empresta a


outro, passando a receber juros. Para o país fornecedor do empréstimo, o capital
emprestado significará a saída de divisas e para o país contemplado a entrada de divisas.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 80


Os Investimentos a curto prazo são os recursos financeiros que residentes de um
país aplicam em outros países ⎯ geralmente no mercado monetário ⎯, estimulados por
ganhos provenientes das altas taxas de juros, que poderão auferir um retorno financeiro
superior ao retorno proporcionado por investimentos no país onde reside. O país que recebe
essa aplicação estará, a curto prazo, recebendo divisas; em contrapartida, haverá saída de
divisas para o país onde residem os aplicadores.

Alguns exemplos contribuirão para melhor entendermos a interrelação existente


entre as 4 (quatro) contas do Balanço de Pagamento: o Brasil recebeu bastantes
empréstimos externos, principalmente na década de 70, o que significou a entrada de
divisas na subconta de empréstimos e financiamentos. Mas, em contrapartida, tivemos, a
longo prazo, os reflexos do ingresso desse dinheiro na nossa Economia, pois os juros pagos
aos credores internacionais interferiram diretamente na subconta juros da Balança de
Serviços e Rendas, proporcionando, até os dias atuais, a evasão (saída) de divisas ao
efetuarmos o pagamento dos juros. Assim, esse fato tende a pressionar negativamente as
Transações–Correntes do país.

Outro exemplo de peso é a instalação das empresas multinacionais no Brasil. A


curto prazo, representou a entrada de divisas na subconta investimentos diretos da conta de
Capital e Financeira. No entanto, o lucro dessas empresas retorna ao seu país de origem,
registrando-se a saída de divisas na subconta lucro da Balança de Serviços e Rendas. Daí
a necessidade de gerar superávits na Balança Comercial para financiar as remessas de
lucros das multinacionais e garantir o pagamento dos juros da dívida externa. Portanto, fica
claro que o superávit de uma das contas do Balanço de Pagamento poderá se transformar
posteriormente em déficit, em outra conta.

Finalizando o nosso estudo sobre o Balanço de Pagamentos, vamos analisar o


resultado da estrutura do nosso Balanço de Pagamento hipotético: verificam-se superávits
de US$ 500,00 na Balança Comercial e de US$ 1.500,00 no Movimento de Capitais. O
superávit na balança comercial ocorreu porque as exportações superaram as importações; o
superávit no movimento de capitais decorreu da entrada, principalmente, de investimentos a
curto prazo. A Balança de Serviços e Rendas apresentou um elevado déficit, em torno de
U$S 3.800,00, em conseqüência da remessa de lucros das multinacionais e dos juros pagos
aos credores internacionais. O resultado no final do ano em Transações em Conta-Corrente
foi negativo em US$ 3.298,00. Sendo assim, podemos concluir que, mesmo que a Balança
Comercial tenha apresentado superávit, não foi suficiente para evitar o déficit da Balança
de Serviços e Rendas, acarretando um déficit no Balanço de Pagamentos na ordem de US$
1.798,00. As transferências unilaterais, por movimentarem pouca quantia em dinheiro, não
têm possibilidade de alterar o resultado final do Balanço de Pagamento.

Neste caso, quando ainda assim a conta de Capital e Financeira não consegue
superar o saldo da conta de Serviços e Rendas, fechando negativo o Balanço de
Pagamentos, apela-se para as reservas cambiais do país e à ajuda externa, principalmente,
do Fundo Monetário Internacional – FMI, cuja missão é socorrer as nações com dificuldade
em fechar o Balanço, sabe-se porém que essa ajuda amplia o endividamento externo do
país.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 81


8.6. Tópicos Especiais Sobre a Globalização da Economia

Neste tópico observaremos, inicialmente, que a contemporaneidade constitui mais uma


etapa do processo histórico da globalização da economia. Em princípio aludiremos a um
sistema que se originou das Grandes Navegações – o Mercantilismo. Doutrina econômica
dos séculos XVI a XVIII, considerava o comércio internacional como ferramenta
importante para o desenvolvimento de uma nação; o acúmulo de metais preciosos e o
superávit na balança comercial eram os principais fundamentos econômicos. Uma nação,
para ser considerada desenvolvida, teria que possuir um “pool” de colônias e auferir delas o
máximo de riquezas, transformando-as em financiadoras do processo de
internacionalização.

Já pela terceira parte do século XVIII, mais precisamente, em 1776, o comércio


internacional fora respaldado cientificamente pela Teoria da Vantagem Absoluta, do
economista clássico Adam Smith (1723-1790). A eliminação das barreiras alfandegárias e,
em conseqüência, a aquisição de produtos a custo menores, possibilitaria a diversificação
do consumo nacional e a melhoria no nível de bem-estar. Cada país deveria se especializar
na produção de bens e serviços que proporcionassem ganhos de escala, sendo parte da
produção destinada ao mercado nacional e o excedente utilizado no mercado externo, de
modo a financiar a aquisição de excedentes de outros países. Com isso, todas as nações
sairiam ganhando com a plena liberdade comercial.

Em seu livro A Riqueza das Nações: Investigação Sobre Sua Natureza e Suas Causas,
Smith traça o seguinte quadro do comércio internacional: “Outorgar o monopólio do
mercado interno ao produto da atividade nacional, em qualquer arte ou ofício, equivale, de
certo modo, a orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seus capitais – o
que, em quase todos os casos, representa uma norma inútil, ou danosa. Se os produtos
fabricados no país podem ser nele comprados tão barato quanto os importados, a medida é
evidentemente inútil. Se, porém, o preço do produto nacional for mais elevado que o
importado, a norma é necessariamente prejudicial . . . O alfaiate não tenta fazer seus
próprios sapatos, mas compra-os do sapateiro. O sapateiro não tenta fazer suas próprias
roupas, e sim utiliza os serviços de um alfaiate . . . Se um país estrangeiro estiver em
condições de nos fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que a mercadoria
fabricada por nós mesmos, é melhor compra-lo com uma parcela da produção de nossa
própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem” (Smith,
1776, pp. 438/439)

Dentre os relatos históricos, um dos mais surpreendentes, sobre a internacionalização


do capital e a interdependência entre as nações, é do célebre filósofo e economista Karl
Marx (1818-1883) e de seu amigo e colaborador Friedrich Engels (1820-1895), conhecidos
como os mais severos críticos do sistema capitalista, descrevem de maneira profética, a
onipresença do capitalismo pelo mundo, com formação de grandes conglomerados
econômicos e a forte tendência à unificação dos mercados. No Manifesto do Partido
Comunista, lançado em 1848, Marx e Engels argumentam: “A grande indústria criou o
mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou o terreno. O mercado

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 82


mundial deu imenso desenvolvimento ao comércio, à navegação, às comunicações por
terra . . . A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a
burguesia para todo o globo terrestre. Ela deve estabelecer-se em toda parte, instalar-se
em toda parte, criar vínculos em toda parte. Através da exploração do mercado mundial, a
burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países . . . E
continuam Marx e Engels explicando o que seria hoje a base logística e o perfil de
concentração industrial inerentes a globalização: “As antigas indústrias nacionais foram
destruídas e continuam a ser destruídas a cada dia. São suplantadas por novas indústrias,
cuja introdução se torna uma questão de vida ou morte para todas as nações civilizadas –
indústrias que não mais empregam matérias-primas locais, mas matérias-primas
provenientes das mais remotas regiões, e cujos produtos são consumidos não somente no
próprio país, mas em todos as partes do mundo . . . desenvolve-se em todas as direções um
intercâmbio universal, uma universal interdependência entre as nações . . . Os produtores
intelectuais de cada nação tornam-se patrimônio comum . . . Com rápido aperfeiçoamento
de todos os instrumentos de produção, com as comunicações imensamente facilitadas, a
burguesia arrasta para a civilização todas as nações, até mesmo as mais bárbaras . . .
Numa palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.” (Marx e Engels, 1997,
pp.46,47,48,49)

O mercantilismo no século XVI à XVIII, Adam Smith no século XVIII e Karl Marx e
Engels no século XIX, representam alguns dos períodos em que se manifestaram as idéias
sobre a globalização da economia, indícios empíricos importantes que nos levam a defender
a hipótese e a refletir sobre a questão da interdependência entre as nações como um
processo histórico, sendo o final do século XX e o início do XXI, mais uma fase do
desenvolvimento do capitalismo, representando avanços consideráveis na tecnologia da
comunicação, do sistema financeiro internacional, da oligopolização dos mercados e das
diversas formas de intercâmbio entre firmas multinacionais.

8.6.1 Globalização: “Rodada Uruguai” e Conceito Atual

Alguns estudiosos citam a “Rodada Uruguai”, iniciada em 1986 e concluída em 1993,


como um marco importante no processo globalizante. Porém, na pauta de discussão dos
países participantes, negociou-se a eliminação gradativa de barreiras alfandegárias, com a
formação das áreas de livre comércio, para alguns produtos, possibilitando sua livre
circulação sem protecionismo que impõe estorvos ao comércio internacional. Essa questão
já foi abordada amplamente por Adam Smith no século XVIII.

Uma ressalva importante quanto à “Rodada Uruguai” é o fato inusitado do


favorecimento de mercadorias produzidas nos países centrais. O debate sobre a eliminação
de barreiras limitou-se à bens de informática e telecomunicações, os bens primários não
foram colocados na preferência dos debates, permanecendo até então uma complexa teia de
proteção consubstanciada na forma de barreiras tarifárias e não tarifárias, como os impostos
sobre importação de commodities e, principalmente, os subsídios aos produtores agrícolas
dos Estados Unidos e União Européia.

O destaque desta Rodada foi a extrapolação do foco das negociações, superando as


tradicionais discussões, que versavam principalmente a intensificação do comércio de

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 83


mercadorias, para a construção de regras que vão desde as questões do direito de
propriedade intelectual, passando pelos investimentos internacionais até aspectos
direcionados à política industrial.

Como principais pontos apresentados na “Rodada Uruguai” podemos destacar (Rêgo,


1996):
a) Os países desenvolvidos assumiram o compromisso de reduzir as tarifas dos
produtos industrializados em média de 49%. Em relação ao comércio
internacional acordou-se uma redução média de 37% nas tarifas de importação.
b) Ampliação dos produtos registrados na OMC (Organização Mundial do
Comércio) de 78% para 99% do total das linhas alfandegárias dos países
desenvolvidos e de 21% para 75% dos países em desenvolvimento e de 73% para
98% para as nações consideradas em fase de transição. No Brasil, mais
especificamente, as tarifas dos produtos industrializados registrados na OMC não
seguiram o acordo, ficando numa média de 35% e os produtos agrícolas em 55%.
c) Os produtos agrícolas obtiveram poucos avanços. Na pauta de discussão houve a
inclusão desse setor ao sistema multilateral de comércio.
d) Inclusão do setor têxtil e de serviços ao sistema multilateral de investimento.
e) Evolução das discussões sobre direitos de propriedade intelectual.
f) Disciplinamento das políticas comerciais e a criação de um novo modelo de
solução de disputas comerciais.

As novas regras firmadas na “Rodada Uruguai” ficaram sob o controle da OMC, que
desde a sua criação em janeiro de 1995 tem a responsabilidade de administrar o sistema
multilateral de comércio estabelecidas nesta Rodada. O trabalho da OMC deve permitir que
as relações comerciais internacionais possibilitem ganhos multilaterais, favorecendo
práticas comerciais que permitam uma disputa mais justa entre os países.

Em busca de um conceito sintetizado poderíamos colocar a globalizaçãocomo uma


tentativa ao livre comércio entre as nações, posto em prática pelas grandes corporações
internacionais. As multinacionais vendem seus produtos aos países que oferecerem
melhores preços ou mercado para escoamento, produzem nas regiões onde o custo de
produção for menor. Dessa forma, polarizam-se os investimentos diretos na tríade –
Estados Unidos, Japão e União Européia – cabendo aos países periféricos uma inserção
passiva, cujos protagonistas são as empresas multinacionais com intensificação das relações
filiais-matrizes. (Chesnais, 1996)

Ainda sobre o papel das multinacionais no mercado mundial, o economista francês


François Chesnais apresenta quatro modelos de intercâmbio entre as multinacionais que
estabelecem, em grande parte, o fluxo internacional de mercadorias e capital e dão origem
aos recursos financeiros que circulam com alta volatilidade pelos mercados de capitais de
todos os continentes. São eles:

•Comércio Intersetorial com Companhias Independentes: exportação das matrizes e das


filiais para companhias independentes;

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 84


•Comércio Intersetorial com Intercâmbio Intragrupal: fluxo comercial dentro do espaço
próprio “internalizado” da multinacional;
•Comércio Intra-Setorial com Companhias Independentes: intercâmbio resultante de
relações de terceirização internacional entre matriz ou filial com companhias
independentes;
•Comércio Intra-Setorial com Intercâmbio Intragrupal: intercâmbio de produtos
intermediários entre filiais, intercâmbio intracorporativo de produtos acabados entre filiais
e matriz e filiais entre si.

Destaca Chesnais (1996) que nos países centrais predominam os intercâmbios entre
as filiais, através da integração produtiva entre a tríade, por isso não se confirma a
formação de uma relação de dependência tecnológica e financeira. Já nas nações periféricas
predomina o intercâmbio matriz-filial, ocasionando uma monopolização comercial à
aquisição do capital e da tecnologia no país do qual a empresa originou-se, cujas
conseqüências são o déficit comercial desses países e a redução dos suprimentos locais, o
que acarretará o aumento do desemprego onde tais filiais estão instaladas.

O processo de aquisição de empresas nacionais por grupos estrangeiros e a fusão


entre multinacionais, outro fato comum, elimina pequenos concorrentes, oligopoliza o
mercado nacional e internacional e reduz a possibilidade do aviltamento dos preços.

Dessa forma, o lucro anual dessas empresas chega a ser superior ao PIB (Produto
Interno Bruto) de alguns países da América Latina. Assim, com a globalização, a tendência
desses grupos é tornarem-se cada vez mais fortes, podendo barganhar com governos,
inclusive os do primeiro mundo. Os autores Hans-Peter e Harald Schumann, destacam a
fragilidade das nações diante das multinacionais: “Lucros somente são declarados naqueles
países em que a alíquota de impostos seja realmente mínima. No mundo todo, cai
drasticamente a porcentagem que capitalistas e detentores de patrimônio concedem ao
financiamento das metas sociais dos governos. De outro lado, os manipuladores dos fluxos
globais de capital vivem achatando o nível de remuneração dos cidadãos, contribuintes de
impostos. Também a cota de salários, a participação dos assalariados na riqueza
social,diminui em proporções mundiais. Nenhuma nação, sozinha, tem condições de opor-
se a tal pressão.” (Martin, 1996, p.16)

8.6.2 Da Vantagem Comparativa à Competitiva

As tradicionais teorias do comércio internacional, como a Teoria da Vantagem Absoluta


de Adam Smith e, posteriormente, a Teoria da Vantagem Comparativa de David Ricardo,
deixaram lugar para um novo substituto: a Teoria da Vantagem Competitiva. Para se obter
ganhos no mercado extremamente competitivo, aberto à concorrência internacional, as
empresas terão que racionalizar ao máximo sua estrutura produtiva e administrativa, sem
comprometer a qualidade, melhor, deverão buscar incessantemente o aperfeiçoamento do
seu produto. Portanto, para uma empresa sobreviver nesse mundo dominado pela
competição – o reino das “mega-empresas” -, que suplantam os mercados nacionais, ela
deverá conjugar redução de custos com melhorias crescentes na qualidade. Além de contar

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 85


com uma infra-estrutura moderna e instituições ágeis, sem leis ou carga tributária que
impossibilitem os ganhos dos arranjos produtivos.

Chesnais (1996) observa que o atual quadro de competição entre as multinacionais


elimina a essência dos postulados firmados na Teoria Clássica que estabelecia um jogo de
soma positiva com ganhos mútuos. Hoje, ao contrário, o ganho de uma empresa
representará a perda de outra: “O movimento de centralização e concentração vem se
desenvolvendo há mais de dez anos de modo sem precedentes, impulsionado pelas
exigências da concorrência aos grupos mais fortes no sentido de arrebatar das firmas
absorvidas suas fatias de mercado e reestruturar e ‘racionalizar’ suas capacidades
produtivas, sendo favorecidas pelas políticas de liberação, de desregulamentação e de
privatização” (Chesnais, 1995, p.09)

O oligopólio mundial adquire sua vantagem competitiva não só pela sua capacidade
técnica, como também, através de um conjunto sofisticado de medidas protecionistas –
como os subsídios – que elevam nações (empresas), antes incapazes de escoar sua produção
no mercado externo, a poderosas concorrentes das nações com natural vantagem
comparativa.

8.6.3 Blocos Econômicos

Os Blocos Econômicos têm como principal objetivo estimular as relações


comerciais em determinada região. Para tanto, acorda-se a eliminação de barreiras
aduaneiras, cuja conseqüência inexorável é o acirramento das disputas, possibilitando
ganhos crescentes aos países cujas empresas detém maior poder de negociação e
competitividade.

Existe uma situação paradoxal entre globalização e os blocos econômicos. A idéia


da globalização é conflituosa, até certo ponto, com a formação dos blocos, que estão
buscando a unificação entre os países geograficamente próximos com características
econômicas similares, adaptando formas consensuais nas cobranças de taxas aos países não
participantes. Com isso contraria-se a “Cláusula de Nação mais Favorecida” que defende
tratamento não discriminatório. Pois, se um país conceder algum benefício alfandegário
para uma nação, esse deve ser estendido aos demais. Ao contrário, nos blocos observa-se
uma tendência protecionista entre os países que formam alianças, excluindo os demais, na
tentativa precípua de barganhar vantagens no comércio internacional.

Esses blocos podem se enquadrar em cinco estágios: 1. Área de Livre Comércio; 2.


União Aduaneira; 3. Mercado Comum; 4. União Econômica e 5. Integração Econômica
Total. As Áreas de Livre Comércio limitam-se a negociar a redução gradativa das taxas
alfandegárias, numa tentativa em intensificar o comércio entre os países membros. Já na
União Aduaneira, segundo estágio, além de eliminar as barreiras alfandegárias adota-se
uma tarifa em comum para produtos importados dos países que não pertencem ao bloco. O
terceiro estágio é a formação do Mercado Comum, que após estabelecida a União
Aduaneira, libera capital e trabalho. A União Econômica ocorre quando o bloco encontra-se
no estágio do Mercado Comum e possibilita harmonizar as políticas econômicas. O último
estágio é representado pela Integração Econômica Total. Este caso só é possível ocorrer

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 86


quando o bloco atinge o estágio de União Econômica, criando-se um Banco Central único e
uma moeda comum para circular dentro dos países-membros. É importante ressaltar, que
nos blocos, a maioria dos acordos limitam-se aos países participantes, impondo barreiras a
países não membros.

Dentro da dinâmica dos blocos é plausível construir um canário onde as


negociações não serão realizadas no âmbito dos países isoladamente e, sim, entre os
conglomerados de países, dividindo o mundo de três à cinco áreas de influência. A exclusão
de uma nação, ou até mesmo, a formação dos blocos de menor poder econômico,
determinará as possíveis desvantagens que um país obterá com o comércio internacional.

Certamente, o que não mudará nessa nova etapa do capitalismo, mesmo com a
formação dos Blocos, são os centros decisórios, que permanecerão nas regiões
desenvolvidas. As pesquisas e os conhecimentos científicos e tecnológicos concentram-se
nos países ricos, agravando, ainda mais, as disparidades econômicas e sociais.

Porém, outra faceta da globalização transcende os limites das fronteiras dos blocos,
trata-se da dinâmica do capitalismo financeiro cujo dinheiro, graças à velocidade de
informações, estimuladas pelos avanços tecnológicos, está circulando por todos os
continentes, através de um mercado financeiro interligado, sendo o objetivo dos aplicadores
internacionais obter ganhos em curto prazo, não havendo a preocupação de transformá-los
em investimentos produtivos e muito menos de se ater com as conseqüências que a evasão
desses recursos poderão acarretar para alguns países.

8.6.4 Globalização Financeira

A tecnologia de informação possibilita as interligações entre as principais bolsas de


valores. Ordens de compra e venda de ativos financeiros acontecem numa velocidade sem
precedência histórica. Portanto, a liberalização dos mercados locais, associada aos
movimentos de capitais que “navegam” pelas infovias, capazes de transmitir todo tipo de
informação: desde os aspectos políticos relevantes como guerras e golpes, passando pela
tradicional avaliação financeira e patrimonial das empresas até a divulgação de expectativas
em relação à condição de solvência de determinados países em relação a seus títulos.

Essa vertente de captação de recursos servirá para atrair divisas, oriundas da


dinâmica dos movimentos de capitais, objetivando lastrear as moedas nacionais de alguns
países periféricos: “As prioridades da política econômica de muitos governos, não apenas
da periferia como também do coração do sistema, tornaram-se o pagamento dos juros e do
principal das dívidas públicas e a garantia de taxas reais positivas, implementando
políticas sob a égide do combate à inflação. . .” .(Chesnais, 1995, p.22) Tal procedimento
deixa vulnerável a economia dessas nações diante dos ataques especulativos contra o
câmbio, obrigando os governos a adotarem uma política monetária contracionista com
elevação das taxas de juros sempre que se esboça um movimento de retirada – ou mesmo
ameaça – de dólares desses mercados, cuja inevitável conseqüência é o aumento contínuo
de dívida pública.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 87


Porém, esse novo paradigma mundial de acumulação, respaldado no capital
financeiro, representa uma extensão do tradicional sistema capitalista, que agora utiliza o
mercado de capitais para ampliar os ganhos. Para Pudwell (2003) “Hoje, as corporações
multinacionais são grandes centros financeiros, que utilizam sua estrutura financeira não
somente para dar suporte às operações tradicionais, como também ter resultados em
investimentos em bolsa de valores, em aplicações financeiras variadas e com a compra e
venda de moedas estrangeiras” (2003, p.04).

A principal fonte dos recursos financeiros destinados para fomentar a atividade


financeira, portanto, origina-se dos oligopólios industriais, operando e influenciando as
oscilações no mercado de câmbio. A economia mundial no século XXI continua
apresentando um elevado poder de barganha das grandes empresas multinacionais, sendo
uma ilusão a autonomia do setor financeiro, pois “. . . o capital que se valoriza na esfera
financeira nasceu – e continua nascendo – da esfera produtiva.” (Chenais, 1995, p.21)

A década de 90 apresentou profundas alterações em relação à inserção do Brasil ao


crédito internacional. A retração do tradicional sistema financeiro internacional – cujo
escopo eram os bancos – que marcou a origem dos recursos para os projetos
desenvolvimentistas brasileiros nas décadas de 60 e 70, é substituída pela captação de
recursos de curto prazo, através dos mercados de capitais.

A dívida externa acentuada no período do “milagre brasileiro” (1968-73) é


transformada, em grande parte, em títulos da dívida pública lançados no exterior –
commercial papers, floating rates notes, entre outros – e em American Depository Receipts
(ADR), que são ações das empresas nacionais negociadas nas bolsas de valores nos
principais mercados internacionais.

Essa mudança no perfil da dívida impôs aos países periféricos, inclusive ao Brasil, a
crescente necessidade da desregulamentação do mercado financeiro nacional para
possibilitar o ingresso capital financeiro, que à luz do pragmatismo representaram uma
alternativa de curto prazo para viabilizar os programas de controle da inflação implantados
em grande parte desses países.

Portanto, a nova ordem econômica mundial vem representada por um conjunto de


importantes características que diferenciam o passado da contemporaneidade. Em resumo,
podemos citar como pontos dignos de destaque, na atualidade, i) a intensificação na
formação dos Blocos Econômicos; ii) os avanços na tecnologia da informação; iii) a
abertura da conta financeira com transformação da maior parte da dívida externa dos países
em desenvolvimento em dívida interna; iv) o papel estratégico das multinacionais na
intensificação das relações comerciais e, também, v) como fonte originária de grande parte
dos recursos financeiros que navegam em frações de segundos por diversos mercados, em
busca de ganhos rápidos e elevados, consubstanciando numa nova etapa do sistema
capitalista denominada de Globalização Financeira.

ECONOMIA – Prof. Uranilson Carvalho 88


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