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AVALIAÇÃO DO TEMPO DE RETORNO DOS SISTEMAS DE AQUECIMENTO

SOLAR DE ÁGUA NO SETOR RESIDENCIAL1,2

Patrícia Abdala Raimo3, Murilo Tadeu Werneck Fagá4

RESUMO

Das aplicações da energia solar o aquecimento de água se apresenta atualmente

como uma alternativa economicamente viável e ambientalmente limpa em relação à

energia final gerada a partir das fontes convencionais de energia primária.Este trabalho

apresenta uma avaliação do retorno do investimento para o consumidor residencial quando

este utiliza exclusivamente em sistemas de acumulação a tecnologia solar para

aquecimento de água. O tempo de retorno do investimento será avaliado em função da

eficiência do coletor na conversão da radiação solar em calor e do consumo evitado de

energia final, eletricidade ou gás natural. O resultado desta comparação é mostrado para

três níveis de irradiação e para qualquer volume de água a ser aquecido.

1
Tema: Fontes Renováveis de Energia ;
Perspectiva: Econômica
2
Preferência por apresentação oral
3
Pesquisadora do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia – USP
Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 - Cidade Universitária, 3091-2657 email: patriciaar@iee.usp.br
4
Professor Dr. Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia – USP
Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 - Cidade Universitária, 3091-2634 email: murfaga@iee.usp.br
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1.INTRODUÇÃO

Atualmente a sociedade moderna está apoiada no excessivo consumo de energia. È

consenso que as reservas de petróleo e gás natural estão limitadas para as próximas

gerações e o uso indiscriminado dessas fontes primárias compromete o meio ambiente.

Como conseqüência, estes recursos não renováveis tendem a custos maiores, surgindo a

possibilidade da ampliação do uso de recursos energéticos renováveis e limpos. Entre as

fontes renováveis a energia solar vem ganhando ênfase, uma de suas aplicações é para o

aquecimento de água no setor residencial.

Existe uma tendência em considerar que os sistemas de aproveitamento solar são

sempre simples. O não conhecimento das características do sistema de aquecimento solar

de água pode levar a uma instalação onde a maior parte da energia solar absorvida não é

aproveitada e a energia consumida provém do sistema auxiliar de energia, energia que o

consumidor paga (PROGENSA, 1989).

Para uma determinada condição meteorológica a eficiência instantânea do coletor

depende das propriedades físicas dos materiais utilizados para a sua fabricação e sua

arquitetura. Coletores instalados em uma mesma localidade podem apresentar diferentes

eficiências na conversão da radiação solar em calor. Os coletores de menor eficiência

podem apresentar custos mais baixos e acessíveis. Se houver disponibilidade de espaço,

pode-se optar por instalar uma maior área de coletores com menor eficiência para aquecer

a mesma quantidade de água. A escolha depende da relação custo e benéfico que melhor

se adequar ao usuário. (DUFFIE, 1991).

O sistema solar de aquecimento de água não é autônomo, exigindo uma energia

auxiliar. Definimos a taxa de cobertura solar (TCS) como sendo a razão entre a energia

final evitada e a energia final necessária para a satisfação do consumidor.


3

Para o bom dimensionamento do sistema que a determinação do melhor tempo de

retorno do investimento é necessário conhecer a eficiência média diária e a taxa de

cobertura. Existe uma grande incerteza na determinação desses parâmetros, que dependem

dos parâmetros meteorológicos e das características intrínsecas de projeto do coletor e do

acumulador.

2. OBJETIVO

Este trabalho apresenta a avaliação do retorno do investimento para o consumidor

residencial quando este utiliza, em sistemas de acumulação, a tecnologia solar para

aquecimento água. O tempo de retorno do investimento será avaliado para diferentes

níveis de irradiação solar diária no plano do coletor, 4.000, 5.000 e 6.000 Wh/m2. O

sistema é comparado economicamente com acumuladores elétricos e a gás. O resultado

desta comparação é demonstrado pelo tempo de retorno do investimento para a instalação

dos coletores, para qualquer volume de água a ser aquecido, em função da eficiência

média diária e da taxa de cobertura solar.

3. DIMENSIONAMENTO DO COLETOR SOLAR

Cada residência possui uma demanda de água quente, caracterizada pelo número

de pessoas, hábitos de consumo, quantidade de aparelhos e suas diferentes vazões. A

energia necessária diária (Q) para aquecimento da água depende da massa de água (m), do

calor específico da água (c) e do acréscimo de temperatura ( T ) necessário.

Q = m.c. T. (1)
4

Para uma mesma localidade, a energia útil necessária para aquecimento de água

(Q) é proporcional ao consumo (m). O acréscimo de temperatura, que se deseja alcançar

varia com a temperatura ambiente.

Para dimensionar-se a área de coletores solares (A), é necessário conhecer a

energia útil para aquecimento da água consumida (Q), a eficiência ( ) do coletor e a

irradiação solar diária incidente no plano do coletor (Ht).

Q
A=( )/ Ht (2)
η

Substituindo (1) em (2) tem-se que:

m.c.∆T
A=( ) / Ht (3)
η

A área do coletor é diretamente proporcional ao volume de água quente, para uma

mesma localidade.

4. ENERGIA FINAL EVITADA

A energia final evitada (E) é obtida pela equação (4), onde a eq é a eficiência do

equipamento, na conversão de energia final em calor.

A ⋅ Ht ⋅ η ⋅ TCS
E= (4)
ηeq.
5

5. INVESTIMENTO INICIAL.

O investimento, para incluir a tecnologia solar para aquecimento de água, em

sistemas de acumulação, é o acréscimo do coletor solar, o qual permite substituir a energia

final paga.

O tempo de retorno é calculado pela avaliação do Valor Líquido Presente (VLP),

dos desembolsos e economias ao longo da vida útil do coletor.

n
EE
VPL = − I + (5)
j =1 (1 + i )
j

• I (Investimento inicial): O custo do coletor solar instalado. Io é o preço do metro

quadrado do coletor.

I = A.Io (6)

• EE (Energia economizada em R$): É o preço da energia final evitada.

EE = E ⋅ preço _ da _ energia (7)

• i (taxa de juro)

• n (período de análise)

O tempo de retorno do investimento ocorre quando o investimento é recuperado, ou

seja, no momento em que:


6

n
EE
I= (8)
j =1 (1 + i )
j

Substituindo (6) e (7) em (8), tem-se:

n
Ht ⋅η ⋅ TCS 1
A ⋅ Io = A ⋅ ⋅ ⋅ preço _ da _ energia
j =1 ηeq (1 + i ) j (9)

Pode-se concluir que:

1. Para qualquer área de coletor o tempo de retorno do investimento é o mesmo.

2. Para qualquer volume de água aquecida, o tempo de retorno do investimento é o

mesmo. Afinal a área do coletor é diretamente proporcional ao volume de água a

ser aquecida, em uma mesma localidade, conforme visto em (3).

6. ANÁLISE DE CUSTOS E VIABILIDADE ECONÔMICA ENTRE OS

SISTEMAS

O tempo de retorno é avaliado para locais com radiação solar de 4.000, 5.000 e

6.000 Wh/m2.dia. É demonstrando o tempo de retorno da instalação do coletor solar em

função da variação da eficiência ( ) e da taxa de cobertura solar (TCS) dos coletores. A

variação aqui apresentada é de 30 a 50% para a eficiência e de 50 a 90% para a taxa de

cobertura solar. Portanto o produto x TCS varia de 0,15 a 0,45.

Para avaliação do tempo de retorno, alguns aspectos foram amplamente

pesquisados e considerados para esta simulação, na cidade de São Paulo5. Os preços da

eletricidade são para consumo maior que 200 kWh/mês, e o preço do gás natural para

5
www.cspe.org.br. Consulta em março de 2006.
7

consumo entre 8 e 17m3/mês, incluindo outros usos destas energias finais6. No cálculo de

energia final evitada, adota-se a eficiência do processo da conversão elétrica em calor de

95%, e de 72% na queima direta do gás, uma vez que esta eficiência varia com o tipo de

equipamento utilizado (ROLAND, 1994).

• I (Investimento): Custo do coletor estimado em R$400 m2.

• EE (Energia economizada em R$):

Preço da energia elétrica R$0,4162 kWh

Preço do gás natural R$ 2,6466 m3

• Custo Operacional: Em 6 anos, está sendo considerado que o custo manutenção é o

mesmo para os diferentes sistemas. Portanto a diferença de custo operacional é

igual a zero.

• Taxa de juro: 8% e 12%.

A figura.6.1 apresenta o tempo de retorno do investimento do coletor solar, em função

da Eficiência e a da Taxa de Cobertura Solar, quando este possui sistema auxiliar elétrico.

Esta figura é para a localidade onde a irradiação é de 5.000 Wh/m2 .dia e a taxa de juros é

de 8% ao ano. Observa-se que quanto maior a eficiência e a taxa de cobertura solar, menor

o tempo de retorno do investimento. A forma da superfície apresentada no gráfico é a

mesma para as localidades onde a radiação média é de 4.000 e 6.000 Wh/m2 .dia, a

diferença está no valor (tempo de retorno) dos pontos máximo e mínimo. O mesmo ocorre

com o investimento do coletor quando este possui sistema auxiliar a gás, conforme

apresentado na figura 6.2.

6
RAIMO,2005. Questionário de Pesquisa Levantamento do perfil de consumo de energia em um
condomínio vertical - classe média cidade de São Paulo. Estudo Usos Finais.
8

Tempo de Retorno Coletor Solar – comportamento x TCS - Com auxilio elétrico

4 5.000 kWh/m²
r = 8% aa
3,5

2,5

Anos 2

1,5

0,5 50%
0 70%
TCS
30% 90%
40%
50%
Eficiência

Figura 6.1 - Tempo de Retorno Coletor Solar – comportamento x TCS – com energia
final auxiliar elétrica – taxa de juro a 8% aa

Tempo de Retorno Coletor Solar – comportamento x TCS – com auxilio a gás

5.000 kWh/m²
6
r = 8 % aa
5

Anos 3

1
50%
0 70%
TCS
30%
40% 90%
50%

Eficiência

Figura 6.2 - Tempo de Retorno Coletor Solar – comportamento x TCS – com energia
final auxiliar a gás – taxa de juro a 8% aa
9

As figuras 6.3 e 6.4 apresentam o tempo de retorno do investimento do coletor solar,

com energia final auxiliar elétrica. Esta comparação é apresentada para o produto da

eficiência e taxa de cobertura solar ( x TCS) nas localidades onde a radiação local é de

4.000, 5.000 e 6.000 Wh/m2 .dia. Estas figuras mostram os resultados obtidos para as taxas

de juro de 8% (figura 6.3) e 12% (figura 6.4) ao ano.

Tempo de Retorno "Solar / Elétrico"


r = 8% aa
6
4.000 Wh dia
5 5.000 Wh dia
4 6.000 Wh dia
Anos

2
1

0
0,15 0,2 0,25 0,28 0,35 0,4 0,45
Eficiência x TCS

Figura 6.3 – Tempo de Retorno “Solar / Elétrico” r = 8%aa

Tempo de Retorno "Solar / Elétrico"


r = 12% aa
7
4.000 Wh dia
6
5.000 Wh dia
5 6.000 Wh dia
4
Anos

3
2
1
0
0,15 0,2 0,3 0,28 0,35 0,4 0,45
Eficiência x TCS

Gráfico 6.4 – Tempo de Retorno “Solar / Elétrico” r = 12% aa


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As figuras 6.5 e 6.6 apresentam o tempo de retorno do investimento do coletor solar,

com energia final auxiliar a gás. Esta comparação é apresentada para o produto da

eficiência e taxa de cobertura solar ( x TCS) nas localidades onde a radiação local é de

4.000, 5.000 e 6.000 Wh/m2 .dia. Estas figuras mostram os resultados obtidos para as taxas

de juro de 8%, figura 6.5 e12%, figura 6.6 ao ano.

Tempo de Retorno "Solar / Gás Natural"


r = 8% aa
8
7 4.000 Wh dia
6 5.000 Wh dia
5 6.000 Wh dia
Anos

4
3
2
1
0
0,15 0,2 0,25 0,28 0,35 0,4 0,45
Eficiência x TCS

Figura 6.6 – Tempo de Retorno “Solar / Gás Natural” r = 8%aa

Tempo de Retorno "Solar / Gás Natural"


r = 12% aa
9
8 4.000 Wh dia
7 5.000 Wh dia
6 6.000 Wh dia
Anos

5
4
3
2
1
0
0,15 0,2 0,25 0,28 0,35 0,4 0,45
Eficiência x TCS

Figura 6.7 – Tempo de Retorno “Solar / Gás Natural” r = 12%aa


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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho mostra a influência da taxa de cobertura solar, da eficiência média do

coletor, da taxa de juros e da energia final auxiliar, sobre o tempo de retorno do

investimento.

É demonstrado que o tempo de retorno do investimento independe da área de

coletor e do volume de água a ser aquecido.

8. REFERÊNCIAS

DUFFIE,J. A., BECKMAN, W. A. (1991).; Solar Engineering of Thermal Process. 2ed.

New York: John Wiley&Sons, 1991,919p.

PROGENSA, - Instalaciones de Energia Solar – Curso programado. 1.ed. Sevilla,

Espanha, Promotora General de Estúdios, S.A. 1989.

ROLAND, J. H., FRANCIS X. J., Richard E. Brown., JAMES W.H., JONATHAN G.

Koomey. Residencial Appliance Data, Assumptions and Methodology for end-Use

Forecasting whith EPRI – REEPS 2.1 University of California, 1994.

RAIMO,P.A.; SILVA, C.G. Questionário Pesquisa Levantamento do perfil de consumo

de energia em um condomínio vertical - classe média cidade de São Paulo. Estudo

Usos Finais. Programa Interunidades de Pós Graduação em Energia, IEE- USP, 2005.

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