Professional Documents
Culture Documents
Fernando Pessoa
Primavera de 1935
Edição Crítica de Fernando Pessoa - Volume I. Edição de Luís Prista. Lisboa, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2000.
Fernando Pessoa
29-03-1935
---------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------
Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.
29-03-1935
Edição Crítica de Fernando Pessoa - Volume I, Tomo V. Edição de Luís Prista. Lisboa, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2000.
Autopsicografia
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
01.04.1931
Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986.
Elegia na Sombra
Fernando Pessoa
2-6-1935
Edição Crítica de Fernando Pessoa - Volume I. Edição de Luís Prista. Lisboa, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2000.
Liberdade
Fernando Pessoa
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
16-03-1935
Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986.
Mensagem
Fernando Pessoa
PRIMEIRA PARTE
BRASÃO
Bellum sine bello
I
OS CAMPOS
II
OS CASTELOS
PRIMEIRO / ULISSES
SEGUNDO / VIRIATO
Ergueste-a, e fez-se.
QUARTO / D. TAREJA
[...]
III
AS QUINAS
IV
A COROA
NUN'ÁLVARES PEREIRA
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
V
O TIMBRE
A CABEÇA DO GRIFO
O INFANTE D. HENRIOUE
SEGUNDA PARTE
MAR PORTUGUEZ
POSSESSIO MARIS
I
O INFANTE
II
HORIZONTE
III
PADRÃO
IV
O MOSTRENGO
V
EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS
VI
OS COLOMBOS
VII
OCIDENTE
Com duas mãos — o Acto e o Destino —
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
[...]
X
MAR PORTUGUÊS
[...]
TERCEIRA PARTE
O ENCOBERTO
PAX IN EXCELSIS
I
OS SÍMBOLOS
PRIMEIRO / D. SEBASTIÃO
TERCEIRO / O DESEJADO
[...]
II
OS AVISOS
PRIMEIRO / O BANDARRA
TERCEIRO
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
III
OS TEMPOS
PRIMEIRO / NOITE
[...]
QUINTO / NEVOEIRO
É a Hora!
Valete, Frates
Fernando Pessoa
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
1926
Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986.
Fernando Pessoa
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada –
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela –
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não –
No comboio descendente
De Palmela a Portimão ...
Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986.
Fernando Pessoa
Solemnemente
Carneirissimamente
Foi approvado
Por toda a gente
Que é, um a um, animal,
Na assembleia nacional
Em projecto do José Cabral.
Está claro
Que isso tudo
É desse pulha austero e raro
Que, em virtude de muito estudo,
E de outras feias coisas mais
É hoje presidente do conselho,
Chefe de infernanças animaes,
E astro de um estado novo muito velho.
Que quadra
Isso com qualquer coisa que se faça?
Nada.
A Egreja de Roma ladra
E a Maçonaria passa.
Edição Crítica de Fernando Pessoa - Volume I, Tomo V. Edição de Luís Prista. Lisboa, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2000.