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CAPÍTULO V–A COMPLEXA

CONSTRUÇÃO DA EMBOCADURA

A embocadura é aquisição e
manutenção de um tônus muscular
funcional ao uso e /ou estudo de um
instrumento de sopro, por meio de
prática reiterada.

O músculo, mesmo em repouso, possui


um estado permanente de tensão que é
conhecido como tono ou tônus muscular.
O tônus muscular está presente em todas
as funções motrizes do organismo como o
equilíbrio, a coordenação, o movimento,
entre outros (ibidem, 2001). Para Le
Boulch (apud OLIVEIRA, 2001, p. 27):
“o tônus muscular é o alicerce das
atividades práticas”.

http://www.efdeportes.com/efd128/subsidios-para-a-compreensao-do-tono-como-
linguagem-corporal.htm
O pragmatismo da cultura americana
no que diz respeito ao ensino de gaita
no atual modelo, utilizando,
principalmente a Internet, valorizou
temas específicos como: bends, wah-
wah, blue notes, legatto, termos
advindos principalmente do blues e da
pop music , omitindo temas e conceitos
mais tradicionais e abrangentes,como
ornamentos, escalas, nodos e harmonia
funcional,por exemplo.
Além disto, a qualidade dos
instrumentos não facilitava a execução
de sons de qualidade para um estudo
mais efetivo, voltado para a Música
como um todo.
A embocadura, neste contexto, torna-
se técnica de extrair sons e efeitos (ou
“segredos” como dizem alguns
professores),ao invés de treinamento
para aperfeiçoamento de sons e
timbres.
Com a melhoria da qualidade técnica
de instrumentos e instrumentistas
propiciados pelo incremento da
tecnologia e a difusão da informação,
torna-se possível um ensino mais
eclético e democrático, voltado a todos
os gêneros musicais.
Para consecução deste intento,a
música deve ser estudada de uma
forma geral e as limitações do
instrumento devem ser encaradas com
coragem e devem cair preconceitos
com relação aos aspectos técnicos e/
ou estéticos como por exemplo:este
gênero “pega bem” na gaita?Esta
sonoridade está esquisita”!
É bom lembrar que estas impressões,
na maioria das vezes, dizem respeito
ao estranhamento do que é inusitado.
A proposta aqui é tocar todos os sons
da gaita, cromatizando, por assim dizer
a gaita diatônica, de modo a reduzir a
diferença de timbre, tornando sua
sonoridade mais homogênea possível
resultado disso é a embocadura, que é
característica de cada aluno,
impossibilitando de se falar em
embocadura de bico ou de “U”,ou
qualquer uma que não seja aquela que
permita produzir o melhor som. A
embocadura é construída e não
aprendida.
A fim de buscar uma excelência na
qualidade sonora, acentuando as
características básicas, sugiro que o
aluno iniciado se atente para alguns
pontos que são interessantes e que
podem passar desapercebido.
Sistema de raias – vou denominar de
raia a linha imaginária que liga sons de
mesma intensidade executados com
tônus semelhante, como no caso das
freqüências de F#,A# e C# na
primeira oitava. As palhetas da gaita
são afinadas de tal maneira que sons
possam formar acordes fundamentais
como o do tipo maior e o dominante
em suas posições de sopro e aspiração.
Esta estrutura permite possibilidades
harmônicas que identificam o
instrumento. Contudo, quando o aluno
iniciado faz modificações no pitch
(bends, overblows) de uma dessas
palhetas, o timbre apresenta uma
qualidade estética inferior.
Para minorar esta dificuldade, sugiro
fazer os exercícios de inflexões(curvas,
bends),destacando(stacatto) os sons e
inferindo como acorde os sons que
possuam a mesma intensidade de sopro
ou aspiração, como por exemplo:
-no conjunto das notas da escala
diatônica geral: tocar as notas F,A (do
registro grave).
-na raia de sons aspirados
C#(1)F#(2)A#(3)C#(4)E(5) =F#7
-Ou de sons soprados com a devida
técnica de overblow: Eb(4) F# (5) A(6)
=Ebdim
-No orifício 3,ainda, o Ab deve ser
executado em uma intensidade
homogênea aos outros sons(Bb e A)

Estes exercícios aliados aos de escala


cromática, devem ajudar o aluno a
melhorar a qualidade de som, e o seu
fundamento, é que executando sons de
intensidades iguais, estes passem a ter
um lugar na percepção do aluno (como
som isolado e como acorde) e até
mesmo no instrumento, que se amacia
e se molda a embocadura, tanto quanto
o inverso também ocorre.
Além disso, devemos ficar atentos em
tentar executar os bends e overblows
de forma tão estável quanto os sons
soprados e aspirados. Esta estabilidade
pode ser conseguida com a audição do
pitch correto em gravações.
Em resumo, como já foi dito, tocar de
forma homogênea deve ser o objetivo
do aluno nesta fase de seu
desenvolvimento técnico. E para isto,
muito exercício...
Recomendo músicas de gênero
cromático a fim de desenvolver a
uniformidade dos sons e a percepção
da escala cromática. Por exemplo: Eu
te amo de Antônio Carlos Jobim e
Chico Buarque de Hollanda
http://www.youtube.com/watch?v=dEHm97s-ySc&feature=channel_video_title

e chorinhos como Apanhei -te


cavaquinho, de Ernesto Nazareth
,
http://www.youtube.com/watch?v=-RG96KdlaS0&feature=channel_video_title

onde as notas alteradas da segunda


oitava (Eb, F# e Bb), importantes no
estudo da gaita podem ser valorizadas
e treinadas.
EU TE AMO
Composição: Antônio Carlos Jobim e Chico
Buarque de Hollanda

B A B CBBb AAbG F#AA


Ah, se já perdemos a noção da hora
G A Bb AAbG #F F E GG
Se juntos já jogamos tudo fora
F GG# GGb F E Eb D F Eb
Me conta agora como hei de partir

E F# G# B D C D E D C
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz
BC E GBB
tantos desvarios
A B C Eb E F# G A
Rompi com o mundo, queimei meus
B A
navios
G A B A Ab G F#F E G
Me diz pra onde é que inda posso ir
F E D E F E Eb D Db C
Se nós, nas travessuras das noites
BD D
eternas
C D Eb DDb C B Bb A C C
Já confundimos tanto as nossas pernas
Bb C Db C B Bb AAb G Bb
Diz com que pernas eu devo seguir
B A B CG# A B C EG B
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
A B C B A E F GAG
Se na bagunça do teu coração
F G A G FE F A C E
Meu sangue errou de veia e se perdeu
E E D E F E Eb D C# C
Como, se na desordem do armário
B D D
embutido
C D D# D C#C B Bb A C C
Meu paletó enlaça o teu vestido
Bb C C#C B Bb A AbG Bb
E o meu sapato inda pisa no teu
B B A B CG# A B C E
Como, se nos amamos feito dois
G B
pagãos
A BC BA E F G F G
Teus seios inda estão nas minhas mãos
F G A G F E F A CE
Me explica com que cara eu vou sair
E DE F EEb D DbC B
Não, acho que estás só fazendo de
D D
conta
C D D# D Db CB Bb A C C
Te dei meus olhos pra tomares conta
BbCC#CB Bb A Ab G Bb B
Agora conta como hei de partir...

Link do compositor:
http://www.youtube.com/watch?v=cHptK8k8VkQ

Ajuste do ângulo das palhetas-com o


intuito de conseguir uma melhor
sonoridade dos overblows, é possível
modificar o ângulo das palhetas. Eu
faço isto de uma maneira relativamente
simples, em seu aspecto técnico: com o
auxílio de um clipe de papel,
introduzindo sua ponta pelo slot da
palheta da gaita, do lado das notas
aspiradas, e reduzindo o ângulo ao
máximo possível sem que o som
emudeça. O mesmo é também feito do
lado das notas sopradas. Isto ocorre
porque o som soprado ou aspirado
encontrando obstáculo passa a ser
produzido também na palheta de baixo
ou de cima, conforme o caso. Esta
dupla entrada de ar modula o pitch do
som para freqüências inferiores ou
superiores.
Ajuste da intensidade -ao fazer
redução no ângulo das palhetas, é
natural que a quantidade de ar tenha
que ser reduzida, reduzindo também a
intensidade do som. Estas
modificações tornam o som da gaita
menos agressivo e mais jazzístico, por
assim dizer. É evidente que a
adaptação a este modo de executar o
instrumento demora um certo tempo,
contudo, o resultado acaba sendo
muito bom.
A embocadura passa a funcionar como
embocadura de estudo, onde todas as
notas da gaita podem ser executadas e,
com o tempo, as palhetas devem voltar
um pouco ao seu estado original, em
função do próprio uso ou por opção do
aluno.

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