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... Jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha
energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem, até
ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço
da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível,
para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho.
Viaja primeiramente para o Senegal, onde assiste como delegado do governo português
à Conferência "Arachide-Mils" em Bambey. É por essa altura que é consumado o
“divorcio” entre Cabral e as autoridades colonial. Amílcar ruma então para Angola,
onde realiza trabalhos agronómicos em Angola. Mas ao mesmo tempo parcipa em
varios movimentos de subversão ao Imperio Portugués, entre os quais: Fundação, com
Viriato da Cruz e outros africanos, do Partido da Luta Unida dos Africanos de
Angola (PLUA) Participação na elaboração dos documentos enviados à ONU com
vista a servirem de base à discussão do caso português.
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A guerra contra o dominio Portugués haveria de durar 11 anos, a Guiné foi talvez o
conflito mais complicado para Portugal em termos bélicos e, com o decorrer da guerra,
a derrota Portuguesa avizinhava-se. A guerra de libertação inicia-se em 1963, tendo, a
guerrilha do PAIGC rapidamente alargado as frentes de combate e ocupado e
administrado, em 1968, cerca de 2/3 do território. Política e militarmente bem
organizado, o PAIGC conquistou um capital de simpatia importante nos fóruns
internacionais e em países como a Suécia, URSS, China, Marrocos e Guiné-Conakry,
nos meios intelectuais e junto de diversas forças sociais e políticas e da juventude dos
países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, o que permitiu obter apoios materiais
e logísticos decisivos e importantes vitórias diplomáticas como as intervenções de
Amílcar Cabral na Comissão de Descolonização da ONU e a audiência conjunta
concedida pelo Papa Paulo VI, no Vaticano, aos líderes da FRELIMO, do MPLA e do
PAIGC. A Guiné-Bissau foi à primeira colónia portuguesa a proclamar a independência,
no dia 24 de Setembro de 1973, só reconhecida por Portugal a 11 de Setembro de 1974,
com o apoio de 72 países, mais do que aqueles com os quais Portugal mantinha relações
diplomáticas. Uma semana depois, a ONU aprovava uma resolução na qual considerava
Portugal potência ocupante e convidava a retirar-se daquele país.
TEMPOS DA UNIVERSIDADE
Em 1945, Amilcar é
contemplado, por concurso, com
uma bolsa de estudos para
Portugal, atribuída pela Casa dos
Estudantes do Império. E ainda
no final deste ano parte para
Lisboa, Portugal, onde passa a
viver , tornando-se, em 1949,
um dos dirigentes da CEI.
CABRAL, O POETA
Amílcar, tinha 17 anos e frequentava o liceu no Mindelo. Não se sente ainda com
capacidade para auxiliar o pai na cruzada em favor de Cabo Verde. Mas já conhece
todos os problemas que afectam a sua terra, porque o pai, desde cedo, o consciencializa.
Todavia, Amílcar é, nessa altura, Larbac. Assim assina os poemas de amor que escreve:
Quando Cupido acerta no alvo, Devaneios, Arte de Minerva, entre outros. Os temas
denotam influências clássicas. Os poetas que conhece do liceu são os inspiradores:
Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Casimiro de Abreu, por exemplo. O lirismo de
Amílcar (Larbac é anagrama de Cabral) não se evidencia pela originalidade. Revela,
porém, a sua sensibilidade amorosa. Esse romantismo passa para a sua prosa de
adolescente, os contos, notas e comentários onde se vislumbra já um seguro
conhecimento e um desejo de participação no universo insular em que vive.
ILHA
Tu vives, mãe adormecida,
nua e esquecida, seca, fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música,
das águas que nos prendem…
Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
os sonhos dos teus filhos
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres, as tuas ânsias!
Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
terra dura, rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!