You are on page 1of 9

A relevância do geoprocessamento para a aplicação de políticas públicas de

saneamento básico: Um estudo de caso no distrito de São Mateus, São Paulo-SP.

Sheila Mariá Souza Santos

Graduada em Geografia pelo Centro Universitário Santana;


Discente de pós-graduação em Geoprocessamento em Gestão Socioambiental
da Universidade Cruzeiro do Sul.

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como através da


utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) e das técnicas em geoprocessamento
pode ser útil para visualizar e analisar problemas contidos na realidade a respeito de
saneamento básico no distrito de São Mateus na cidade de São Paulo – SP. Através destas
ferramentas, podemos mapear as áreas com menor atendimento de saneamento básico, seja
em abastecimento de água, coleta de lixo ou esgotamento sanitário, muito plausível de
utilização para políticas públicas, dispondo aos gestores públicos instrumentos científicos para
intervirem nas áreas mais afetadas.

Palavras Chave: geoprocessamento, sistema de informação geográfica, saneamento


básico e políticas públicas.

1. Introdução
O processo de urbanização no Brasil passa por grandes transformações nas últimas
décadas, marcadas pela concentração da população onde se aprofunda cada vez mais a
desigualdade social que resulta em segregação territorial e crescimento de moradias
desordenadas e muitas vezes sem saneamento básico.
Segundo a Associação Brasileira de Infectologia (SBI), doenças causadas por falta de
saneamento básico respondem por 65% das internações no Sistema Único de Saúde (SUS). As
principais doenças causadas pela ausência de redes de esgoto e água contaminada são:
Poliomielite, Hepatite tipo A, Giardíase, Disenteria amebiana, Diarréia por vírus Febre tifóide,
Febre paratifóide, Diarréias e disenterias bacterianas, como a cólera Ascaridíase (lombriga),
Tricuríase, Ancilostomíase (amarelão), Teníase , Cisticercose, Esquistossomose, Filariose
(elefantíase), Leptospirose, Amebíase, Hepatite infecciosa, Diarréias e disenterias, como a
cólera e a giardíase, Esquistossomose, Malária, Febre amarela, Dengue e Elefantíase.
Ressaltando que da população mais afetada as crianças são as que mais sofrem por ter a
imunidade mais baixa.
Este artigo pretende abordar a situação do saneamento básico no distrito de São
Mateus e através das técnicas em geoprocessamento e SIG, direcionar e indicar locais para a
definição de políticas públicas locais agirem. Os dados mais importantes a serem analisados
neste artigo, são referentes: ao abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo.
Segundo a Secretaria Municipal de Habitação da Cidade de São Paulo, não são todos os locais
do distrito, que tem 100% de abastecimento de água e rede de esgoto.
A intenção é apontar onde estão localizadas estas áreas, para podermos assinalar onde
estão os maiores problemas a serem resolvidos pelas políticas públicas, mostrando que com
SIG e técnicas de geoprocessamento podem auxiliar no planejamento urbano e diagnosticar
problemas encontrados na realidade urbana.
Contudo, a metodologia aplicada nesta área de estudo pode ser aplicada em qualquer
cidade brasileira, ao dispor dos dados utilizados.

1
2. Área de Estudo
A área estudada se localiza no distrito de São Mateus, pertencente à subprefeitura de
São Mateus, cidade de São Paulo, à 20 km do Centro de São Paulo. Com população de
aproximadamente 158.828 habitantes, segundo estimativas da Fundação SEADE (2.008) e
compreende uma área de 12,83 km².

Figura 1 – Localização da área de estudo - Fonte: SEMPLA, 2006.

3. Material e Métodos de pesquisa


O método de pesquisa foi baseado em algumas diretrizes proposta por (ROSS, 1997).
Conforme o autor “A metodologia deve representar a “Espinha dorsal” de qualquer pesquisa”,
ou seja, é necessário dominar o conteúdo teórico e conceitual. O mesmo cita (LIBAUL, 1971)
que distingui os 4 níveis de pesquisa: nível compilatório; nível correlatório; nível semântico e
nível normativo.
O nível compilatório trata-se de informações de natureza numérica, ou volume de dados
coletados. Na primeira etapa foram obtidos os dados de coleta de lixo, abastecimento de água
e esgoto do distrito de São Mateus, através da pesquisa censitária. Na segunda etapa do nível
compilatório a seleção das informações é a preocupação central, segundo o autor “nesse
momento o domínio do conhecimento teórico-conceitual é fundamental para não se desprezar
dados que na realidade possam ter grande significado.” Esta etapa é importantíssima, pois, foi
selecionado só o necessário para viabilização do trabalho, o restante foi descartado nesta
etapa. O nível correlativo é fase de correlacionar os dados para posteriormente estabelecer a
interpretação, neste nível é preciso ter dados homogêneos, ou seja, dados da mesma
natureza, obtidos no mesmo local, modo e momento. Neste momento foram cruzados os
dados de abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo do distrito de São Mateus,
visando à organização dos dados para correlacioná-los a fim de realizar a interpretação dos
mesmos (nível semântico) tendo como resultado uma proposta de mapeamento de
vulnerabilidade da área (nível normativo).
O nível semântico é relativo à significação, portanto interpretativo, chegando-se a
resultados conclusivos; nesta etapa será obtido o que significa saneamento básico e como está
a situação de infra-estrutura voltada a saneamento no distrito de São Mateus, dentro das

2
propostas de políticas públicas. Serão analisados leis referentes á saneamento básico e
planejamento urbano aos dados interpretados.
O nível normativo, (ROSS, 1997) “refere-se à fase em que o produto de pesquisa se
transforma em modelo”. Os mapas gerados para este trabalho - tais como: uso e ocupação do
solo, situação da rede de água, esgoto e coleta de lixo, mapa de disponibilidade de
saneamento básico no distrito de São Mateus - irão se traduzir em uma forma simples e rápida
de visualização como subsidio para analise dos produtos da pesquisa. Desta forma poderão
subsidiar ação corretiva que possam visar à minimização dos problemas relacionados ao
saneamento básico no distrito de São Mateus.
3.1 Tratamentos de Dados
As informações para realização do trabalho foram extraídas da Pesquisa Censitária
Desagregada por Setores Censitários (IBGE 2000) do Município de São Paulo e do Sistema
Habisp disponibilizado pela Secretaria Municipal de Habitação. Para a formação de bases de
dados, os mesmos foram trabalhados unicamente no software ArcGis 9.3., sem pesquisa de
campo, sendo realizados somente no gabinete.
Para a formação da análise da área de estudo, foi necessário extrair dados da pesquisa
do Censo Demográfico do IBGE, ano 2000. A pesquisa censitária apresenta os dados em
quatro variáveis: domicílios, pessoas, instrução e responsáveis, contabilizando os valores
totais nas unidades territoriais denominadas “setores” do município de São Paulo. Inicialmente,
os dados da variável “domicílios” foram importados no programa Excel e exportado para o
ArcGis 9.3, para análise e segmentação dos parâmetros voltados ao saneamento extraindo,
deste modo as classes de abastecimento de água, coleta de lixo e coleta de esgoto. Além das
variáveis de saneamento, foram analisados os tipos de domicílios, para melhor adequação dos
resultados. Sendo que o IBGE contabiliza os dados voltados ao saneamento somente para os
domicílios permanentes. O IBGE é o único órgão que melhor apresenta em pesquisa de modo
homogêneo a apresentação de dados por unidades territoriais.
3.2 Tratamentos Estatísticos
A definição da tematização em quatro faixas foi feita de acordo com a melhor
visualização dos dados representados. O intervalo das faixas é definido pela opção de comando
do ArcGis 9.3 Natural Break. O método de “quebras naturais” permite o agrupamento de dados
por características similares.
A classificação consiste na organização dos dados em ordem crescente, que são
agrupadas estatisticamente de acordo com os pares de características adjacentes. As quebras
ocorrem quando há diferença entre os grupos.

Figura 2 – Gráfico de classificação estatística com a metodologia “Natural Break” no


ArcGis 9.3. - Fonte: (IBGE, 2000) adaptado.

3
4. Resultados e Discussão

Para iniciarmos alguma discussão acerca da precariedade em saneamento básico


precisamos definir o que significa. Segundo o artigo 3º da Lei 11.445, de 5 de janeiro de 2007.

[...] Saneamento básico: conjunto de serviços, infra-estruturas e


instalações operacionais de:

a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infra-


estruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável,
desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de
medição;

b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e


instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu
lançamento final no meio ambiente;

c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,


infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e
limpeza de logradouros e vias públicas [...].

Através desta definição poderemos analisar os resultados obtidos com mais precisão e
saberemos se a legislação está em vigência.

Veja na tabela abaixo:

Tabela 1 – Dados de disponibilidade de saneamento básico por domicílio*

*Dados fornecidos pelo Censo (IBGE 2000), manuseados no software ArcGis 9.3. Os domicílios
estão divididos por setor censitário.

Para obter os dados em porcentagem foi feita a seguinte operação:

A. ∑ domicílios com água × 100


∑ domicílios permanentes

B. ∑ domicílios com coleta de lixo × 100


∑ domicílios permanentes

C. ∑ domicílios com coleta de esgoto × 100


∑ domicílios permanentes
4
Logo após esta etapa foi feita a tematização das informações mapeadas de acordo com
os valores obtidos em porcentagem das colunas A (Abast_Água),B ( Esgoto0), C (Lixo0). A
tematização foi definida em quatro classes, para melhor visualização dos dados obtidos em
três mapas temáticos, ilustrados a seguir.
De acordo com o mapa 1, o setor que tem menor abastecimento de água apresenta 96
%, ou seja, 4 % da população deste setor não têm água encanada, no total a maioria dos
setores tem água encanada.
Já no mapa 2 a coleta de lixo apresenta um índice mais baixo onde temos setores com
31 % de coleta de lixo e outros de 34 % a 95%, no total a maioria do distrito têm coleta de
lixo.
Referente ao esgoto sanitário, mapa 3, verificou-se que existem setores sem nenhuma
coleta de esgoto, considerada preocupante para a saúde pública da população.

Figura 3 – Classificação de áreas de atendimento de saneamento básico no distrito


de São Mateus, São Paulo - SP. - Fonte: SEMPLA, 2006: IBGE, 2000.

5
Como podemos visualizar no mapa 1, existem 15 setores que ainda necessitam de
atendimento de água, ou seja, há áreas sem nenhum atendimento de água. Em relação à
coleta de lixo, temos 13 setores com defasagem na coleta de lixo, com possível descarte em
áreas irregulares, como córregos, rios e bota-fora.
Na análise do mapa 3 a situação é muito mais crítica, apresentando 25 setores
necessitando de coleta de esgoto com destinação correta, 4 setores com situações bastantes
críticas, considerando que os esgotos podem estar sendo lançados em córregos ou no solo
indevidamente, necessitando assim de maiores intervenções públicas.
Além dos mapeamentos temáticos das 3 variáveis, através de técnicas utilizadas em
geoprocessamento no software Arcgis 9.3, podemos juntar os três níveis de informações
desenvolvidas e visualizar as áreas mais desprovidas de saneamento básico, podendo assim
ser utilizado para priorização das políticas públicas competentes.
Na Figura 5, temos a visualização destas áreas mais precárias, para obtenção deste
resultado foi necessário transformar os vetores do mapa em imagem, utilizando a ferramenta
do Arcgis 9.3, chamada 3D Analyst, como podemos ver na Figura 3.

Figura 4 – Visualização de como


fazer para transformar vetores em
imagens.
Fonte: Arcgis 9.3.

Depois desta etapa foi preciso utilizar a ferramenta ArcToobox ,Spacial Analyst Tools,
Overlay, Weightes Overlay. Após este passo é só escolher as imagens (rasters) desejadas
como podemos visualizar na figura 5, para o cruzamento das informações. O próprio
programa classifica as semelhanças entre os pixels e divide em três classes, onde foi atribuída
aos valores uma ordem qualitativa (péssimo, regular e bom).

6
Figura 5 – Visualização de como utilizar as imagens para transforma-lás em um
mapa de áreas críticas em saneamento básico. - Fonte:ArcGis 9.3.

Figura 6 – Simbologia do layer no ArcGis 9.3

Obtendo o resultado que podemos visualizar na Figura 5:

7
Figura 6. Mapa de áreas críticas em atendimento de saneamento básico no distrito de São Mateus.
Fonte:SEMPLA,2006.

5. Conclusão
Os problemas apontados neste artigo podem não ser de fácil solução, mas uma nova
postura das políticas públicas brasileiras (visando à pesquisa para diagnóstico de possíveis
soluções) pode representar uma importante contribuição para mudanças.
O correto dimensionamento e a adequada qualificação dos problemas implicam em
mapear as áreas a serem diagnosticadas para obter maior visibilidade desses problemas e para
isso podem utilizar vários softwares disponíveis no mercado, facilitando assim o trabalho de
agentes públicos e sociais (em especial funcionários públicos e lideranças dos movimentos
sociais). Como Maricato (2006) cita em seu artigo “(...) são algumas providências que
ajudariam a mudar o que podemos chamar de ‘analfabetismo urbano’.”. A autora explica que a
falta de conhecimento sobre o uso e ocupação do solo e o distanciamento da produção de
idéias em relação à realidade das cidades, principalmente no campo jurídico e ambiental, onde
há uma abundante legislação que não é aplicada, constitui um universo que a autora chama de
“planos fora de lugar” planos e leis bem intencionados, mais não aplicados ou excludentes e “o
lugar fora das idéias” onde temos uma imensa cidade ilegal para qual a legislação e o
planejamento urbano não tem propostas abrangentes. (MARICATO, 2006, p. 22).
Utilizando o SIG (Sistema de Informação Geográfica) e técnicas de geoprocessamento
os gestores públicos poderão definir regiões estratégicas para a definição de prioridades. Aqui
foram priorizados três aspectos muito importantes para saneamento básico: distribuição de
água, coleta de lixo e esgoto, porém, pode ser aplicado em outras áreas como: educação,
saúde, instalação de infra-estrutura e etc.

8
Este artigo apresenta as aplicações e resultados do distrito de São Mateus, mas como
podemos ver, este trabalho é universal podendo ser aplicado em qualquer lugar do mundo,
para isso só será necessário obter as informações necessárias para a realização do trabalho.
O que não podemos é aceitar que em pleno século XXI, morram 15 mil pessoas por
ano no Brasil por falta de saneamento básico, segundo dados divulgados pela OMS
(Organização Mundial de Saúde) em 2007.

5. Referência bibliográfica
CAMARA, Gilberto e outros. Geoinformação em Urbanismo cidade real x cidade virtual.São
Paulo:Editora oficina de texto, 2007.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino (Organizadores). Geografias de


São Paulo a metrópole do século XXI. São Paulo: Editora Contexto, 2004.

LAFER, B. M. O conceito de planejamento (pp. 9-28). In: Planejamento no Brasil. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1975.

MARICATO, Ermínia. Planejamento urbano e a questão fundiária. O futuro das metrópoles.Caos


e exclusão social?, Rio de Janeiro, v. 38, p. 17-23, jun.2006.

MARICATO, Ermínia. "As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias- planejamento urbano no
Brasil". In: Arantes, Otilia. A cidade do pensamento único- desmanchando consensos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. (pp. 121-192).

ROSS, Jurandyr. Geomorfologia ambiente e planejamento. São Paulo: Editora Contexto, 2000.
TAVARES, M. C. O planejamento em economia mista (pp. 25-52). In: Estado e Planejamento –
sonhos e realidades. Brasília/DF: CENDEC, 1988.

LEI nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007.Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 12 set
.2010 ás 11:00.

http://www.sbinfecto.org.br/publicoleigo/default.asp?site_Acao=&paginaId=14&mNoti_Acao=
mostraNoticia&noticiaId=4669-. Acesso em: 24 ago.2010 ás 09:47.

http://www.esgotoevida.org.br/saude_saneamento.php . Acesso em 24 ago.2010 ás 10:27.

http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=234551. Acesso em 23 set.2010 ás 15:12.

http://www.habisp.com.br. Acesso em 12 jul.2010 ás 12:01.

IBGE. Estatcart, 2000. CD- ROW.

IBGE. Base Censitária, 2000. CD- ROW.

You might also like