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PRÁTICA ALIMENTAR NO MANEJO DO ESTRESSE


Amanda de Paula Pereira 1
A história da humanidade relata que desde a era primitiva, o estresse já
causava transtornos à humanidade. No mundo competitivo de hoje, o estresse está
presente quase todo o tempo, embora sob controle ele possa ser até benéfico,
tornando as pessoas mais ativas, em demasia pode causar diversos distúrbios
físicos e emocionais, afetando diretamente o bem-estar e até mesmo o rendimento
profissional.
A modernidade, a industrialização e a urbanização trouxeram, ainda,
praticidade na alimentação, propiciados pela tecnologia: a oferta de alimentos
atraentes, calóricos, escassos em nutrientes e com excessos de gordura saturada,
colesterol, sódio, açúcares, álcool. Essa situação tem tornado os indivíduos cada
vez mais inativos, obesos e cronicamente estressados, em razão inclusive do ritmo
alucinante de trabalho.
Tendo em vista a existência do estresse na sociedade moderna e
competitiva, e seu efeito sobre a nutrição, o estresse se apresenta como fator
risco-doença, e se deve buscar uma postura onde se apresente como um
acontecimento positivo e não um empecilho ao desempenho pessoal, a saúde e a
felicidade.
È importante a compreensão em relação ao que o estresse causa ao
organismo, e a maneira que o organismo a ele se adapta, de modo que o indivíduo
possa aplicar tais princípios às necessidades de suporte nutricional.
ESTRESSE NO BRASIL
As mudanças ocorridas na sociedade moderna são marcantes, elas são
excitantes, frenéticas e, muitas vezes, rápidas demais para permitir ao homem uma
absorção do seu ritmo e do seu significado.
O fenômeno do consumismo afeta todas as classes com repercussões
significativas em todas as áreas, a fim de poder manter esse poder aquisitivo, que
tudo permite e nada nega. O ser humano muitas vezes se depara com competição
contínua e na tentativa incessante de mais ganhar e mais possuir, muitas vezes,
perdem a noção do ético e da moral em uma decadência de corrupção e
criminalidade.
Curiosamente, as mudanças ocorridas no nível da organização da sociedade
estão relacionadas à saúde. Por exemplo, no século passado à causa mais
freqüente de morte era a infecção, atualmente são as doenças cardiovasculares.

1
Pós-graduando de nutrição clínica da Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –
UNIJUÍ..
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O índice de estresse em São Paulo era em 1996 de 32%, conforme
demonstrado em uma pesquisa com 1.818 pessoas que transitavam pelo aeroporto
de Cumbica e pelo conjunto nacional, e que se prontificavam a responder ao
Inventário de Sintomas Informatizado (Lipp et al., 1996). Da amostra de estresse
encontrada (32% dos entrevistados), 13% eram homens e 19% mulheres. Esse
índice foi encontrado também, no mesmo ano, no Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Paraíba e em Campo Grande-MT.
Em 2001, pesquisas também não-clínicas com 619 pessoas, na cidade de
São Paulo, demonstram um índice de 21% de estresse entre os homens e de 41%
entre as mulheres, mais uma vez mostrando um maior índice para o sexo feminino.
Atualmente, esse índice está em alta, pesquisas realizadas pela UFRJ em
dezembro de 2003 com 327 adultos (215 mulheres e 112 homens), que
transitavam por uma praça no Rio de Janeiro mostrou que 242 (74%) estavam
estressados, sendo que uma diferença foi observada entre homens e mulheres,
cujos índices de estresse foram, respectivamente, 77,7% e 67%. Considerando a
situação do momento naquela cidade, em que a criminalidade está muito alta e o
perigo está sempre presente para o cidadão comum, não há que se admirar que o
índice esteja tão alto.
Em São Paulo, o índice de estresse, embora esteja alto, está mais baixo do
que o registrado no Rio de Janeiro, porém observa-se que sofreu um acréscimo
comparado com os índices dos anos anteriores, conforme mostrou uma pesquisa
realizada pelo Centro Psicológico de Controle de Estresse, em janeiro de 2004 com
915 adultos (601 homens e 314 mulheres), funcionários de escritórios de várias
empresas da cidade de São Paulo, que não ocupavam cargos de chefia e que
aceitaram passar por uma avaliação de estresse. Verificou-se que 40% do total dos
entrevistados tinham sintomas de estresse, sendo 228 homens (38%) e 145
mulheres (46%).
Nenhum estudo, até o presente momento, tentou avaliar o estresse do povo
brasileiro no geral, identificando fontes externas e internas com maior precisão.
NUTRICÃO NO MANEJO DOS EFEITOS DO ESTRESSE
Um corpo apto lida melhor com o estresse, uma nutrição adequada equipa
o corpo com os recursos de que precisa para se defender das crescentes exigências
que o estresse coloca sobre ele. Uma alimentação inadequada, por outro lado,
esgotará suas reservas nutricionais, deixando-o vulnerável a doenças. Isso, por sua
vez, provoca ainda mais estresse, uma vez que não possuem os recursos
necessários para conseguir vencer o problema.
O estresse é freqüentemente o culpado de maus hábitos alimentares. Na
tentativa de reservar esforço, tempo e energia, muita gente cinge-se ao que está
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disponível, como doces, frituras, bolos e biscoitos. Estes alimentos que são
tipicamente ricos em sal e gordura, e quando consumidos em excesso, conduzem a
obesidade. Infelizmente, o estresse também pode dificultar a continuação de uma
dieta para perda de peso.
O estresse tem efeito também na alimentação, podendo modificar o
metabolismo de vários nutrientes como vitaminas do complexo B, vitamina C,
cálcio, magnésio, ferro e zinco (Combs, 1998; Lipp & Rocha, 1996).
Adicionalmente, quando estamos estressados, tendemos a negligenciar
nossa dieta e, então, piorar essa condição patológica pela ingestão inadequada de
minerais. De acordo com Mello Filho (2001, p. 115), as deficiências desses minerais
estão ligadas a uma grande variedade de disfunções, que vão desde a infertilidade
e redução do crescimento, à úlcera, hipertensão arterial e doença isquêmica do
coração.
Quando se passa pelo problema de estresse, a melhor solução é escolher
alimentos nutritivos. É importante destacar a extrema importância dos cereais,
massas, arroz integral e batata - alimentos que possuem carboidratos complexos -
bem como grande quantidade de frutas e legumes frescos ricos em fibras.
Uma alimentação muito rica em gorduras saturadas faz com que o colesterol
excedente se deposite nas paredes das artérias, que ficam mais estreitas e
impedem o sangue de chegar ao cérebro. Esse bloqueio causa uma doença
chamado aterosclerose. A aterosclerose é a principal causa de morte por problemas
cardíacos e circulatórios.
Outros estudos mostram que a deficiência de zinco desenvolve danos
oxidativos associados com inflamação (Rossi et al.2000). A deficiência de zinco
afeta o fator inibitório de crescimento. (Giralt et al., 2000), sendo que o estresse
leva a uma depleção de zinco no fígado, no músculo e aumento da excreção
urinária deste elemento (Gonzalez et al. 1998).
Pesquisas têm demonstrado que pessoas estressadas do tipo agressivas,
ambiciosas, competitivas, que vivem sob tensão, têm constante déficit do magnésio
muscular. Portanto, uma ingestão adequada de magnésio é essencial para manter
as artérias relaxadas, à pressão arterial baixa e os batimentos cardíacos regulares.
Este mineral reduz ainda os radicais livres, estabilizando a capacidade de
aglutinação de plaquetas sangüíneas.
O estresse altera também o metabolismo do cálcio e sódio, interferindo na
reatividade vascular. A regulação do metabolismo destes elementos é
extremamente complexa, os quais interagem com hormônios, ingestão e excreção
renal. A ausência de cálcio diminui a reatividade vascular, enquanto o excesso de
sódio aumenta a reatividade muscular das artérias.
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O ácido ascórbico pode contribuir para a proteção contra doenças
coronarianas em pessoas que ingerem altas quantidades de vitamina C, através de
frutas e vegetais (Gale et al., 1993), embora a mesma não tenha sido
recomendada como um agente para baixar a concentração de lipoproteínas (Jenner
et al., 2000, p. 65).
Na presença de estresse, há um aumento do hormônio cortisol que
provoca a elevação da mobilização de carboidratos (glicose), gordura e proteína,
por isso é importante a ingestão adequada desses nutrientes (Gleeson; Bishop,
2000; Boelens et al., 2001).
Uma alimentação equilibrada fornece os nutrientes, necessários ao
funcionamento adequado do organismo, como proteínas, carboidratos, gorduras,
vitaminas, minerais, fibras alimentares e água.
Portanto, a alimentação é um dos fatores determinantes para o manejo do
estresse, bem como o seu consumo inadequado poderá potencializar-lo, evoluindo
este para a fase crônica. Daí a importância de seguir uma alimentação saudável,
procurando evitar certos alimentos considerados precursores do estresse,
principalmente aqueles ricos em cafeína (café, chocolate, coca-cola), pois estes
estimulam o sistema nervoso simpático á liberar adrenalina (hormônio
desencadeador do estresse).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COHN, Amélia. Saúde no Brasil: Políticas e Organizações de Serviços. 6 Ed., São
Paulo. Cartez, 2005.
LINDERG, Fedon Alexander. A dieta dos deuses: como o índice glicêmico pode
ajudar você a ter mais saúde e beleza. São Paulo: Editora Gente, 2005.
TELES, Maria Luiza Silveira. O que é stress. São Paulo, SP. Brasiliense, 1999.
MORAIS, Regis. Stress Existencial e Sentido da Vida. São Paulo, SP. Edição Royola,
1997.
LIPP, M. E. N. (Org.). Stress no Brasil: Pesquisas Avançadas. Campinas: Papirus,
2001.
LIPP, M. E. N. (Org). Mecanismos Neuropsicofisiológicos do stress: Teorias e
Aplicações Clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
LIPP, M. E. N.(Org) O Stress . Campinas: Contexto 1998.
MCEWEN, Bruce S. O fim do estresse, como nós o conhecemos. Tradução Laura
Coimbra. Rio de Janeiro: Nossa Fronteira, 2003.
WILLIANS, Sue Rodwell. Fundamentos de Nutrição e autoterapia. 6 ed. Porto
alegre: Artemed Editora, 1997.

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