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No entanto, essa jornada não é tão simples, pois o movimento nos expõe a riscos.
Os antigos samurais japoneses usavam saias largas que iam até o chão no intuito
de omitir o posicionamento de seus pés aos olhos do adversário, pois no ato da
transição que ocorre durante um movimento estariam vulneráveis ao ataque de
seu oponente.
A luta pressupõe a ação através de movimentos que nos desestabilizam. Para agir,
precisamos sair de uma posição cômoda, nos expor, nos movimentar em direção a
um objetivo até o alcance de um novo ponto de acomodação, onde o equilíbrio
alcançado nada mais é do que um instante de passividade. Nesse sentido,
podemos dizer que o equilíbrio não é um objetivo e sim um instrumento que nos
ajudará a ser mais estáveis no caminho a ser percorrido.
Quanto mais preparado fisicamente for o atleta, mais breves serão esses
momentos de equilíbrio passivo e mais intensos serão os movimentos executados.
Como conceito, o equilíbrio é muito interessante, mas enquanto houver combate,
não deve ser o foco. Novamente enfatizo, o foco deve ser o movimento da forma
mais estável possível em direção a um objetivo.
Contudo, mais uma vez recorrendo à etimologia, é muito importante entendermos
a origem da palavra equilíbrio, que diz respeito a colocar o mesmo peso nos dois
lados da balança. Se não tivermos a exata noção do centro não saberemos onde
termina um lado e onde começa o outro. Como referência para a execução de um
movimento estável, utilizamos nosso centro de gravidade (fica cerca de 5 dedos
abaixo do umbigo) para distribuirmos nosso peso da forma mais adequada possível
durante o combate.
Esse exercício diário para lidarmos com o desequilíbrio inerente à vida, sem que
percebamos, nos prepara também para lidar com a relação entre nossas paixões e
virtudes, entender até onde vão os limites da ira/serenidade, orgulho/humildade,
vaidade/verdade, inveja/equanimidade, avareza/desapego, medo/coragem,
gula/sobriedade, luxúria/inocência, preguiça/ação.
Não precisamos abolir o orgulho que sentimos ao vencermos uma competição, por
exemplo, mas precisamos também ser humildes para admitir que ainda podemos
evoluir e não somos imbatíveis. O mesmo orgulho que nos motivou a vencer pode
nos prejudicar numa próxima competição por acharmos que não precisamos mais
treinar tanto. Precisamos dos dois lados desta moeda, o orgulho e a humildade,
basta saber onde termina um e começa o outro. Portanto o equilíbrio não é o foco
e sim uma referência para não nos afastarmos muito do centro.
Outro ponto que diz respeito ao equilíbrio que se faz necessário na prática
esportiva, é que invariavelmente expressamos nossas emoções no treino e a forma
que lidamos com isso pode potencializar possíveis predisposições que temos a
desenvolver vícios posturais.
Cleiber Maia
www.cleibermaia.com.br