Professional Documents
Culture Documents
E M E N T A
INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA PROPRIETÁRIA DO VEÍCULO
- MOTORISTA INABILITADO - IRRELEVÂNCIA - CONVERSÃO À ESQUERDA - MANOBRA PERIGOSA -
INTERCEPTAÇÃO DA TRAJETÓRIA DE OUTRO VEÍCULO - CONDUTA CULPOSA - DEVER DE RESSARCIR.
Incide responsabilidade civil da proprietária da unidade motora, perante o terceiro prejudicado,
independentemente de quem esteja em sua direção no momento em que ocorreu o abalroamento e o conseqüente
prejuízo.
A ausência de habilitação legal para dirigir veículo motorizado, por si só, é insuficiente para, de forma isolada,
comprovar a culpa do motorista , sendo certo que a simples ausência de tal documento não atua como indicativo
de inexistência de prática para a direção de veículo motorizado.
A manobra de conversão à esquerda exige do motorista o dever de verificar se a pista que objetiva transpor está
livre para seu cruzamento e se a corrente de tráfego no mesmo sentido lhe permite proceder a manobra, de modo a
que não intercepte a frente do veículo que transita na faixa que pretende atravessar ou ingressar, nem estreite,
em demasia, o espaço entre os veículos que por ali transitam.
Conforme explicita o artigo 159 do Código Civil são pressupostos da obrigação de indenizar a existência de ação ou
omissão imputável ao agente, a sua culpabilidade, o dano provocado à vítima, bem como o nexo de causalidade
entre este e o comportamento ilícito do ofensor.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 377.830-3, da Comarca de UBERABA, sendo
Apelante (s): SANCHO AUGUSTO DE PÁDUA MONTANDON e OUTRO e Apelado (a) (os) (as): KLÉBIO ALGOSTINHO
TEODORO e OUTRO, ACORDA, em Turma, a Terceira Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais,
NEGAR PROVIMENTO AOS AGRAVOS RETIDOS, REJEITAR AS PRELIMINARES E NEGAR PROVIMENTO.
Presidiu o julgamento o Juiz EDILSON FERNANDES e dele participaram os Juízes VIEIRA DE BRITO (Relator),
MAURÍCIO BARROS (Revisor) e MAURO SOARES DE FREITAS (Vogal).
O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora.
Belo Horizonte, 05 de fevereiro de 2003.
JUIZ VIEIRA DE BRITO Relator V O T O O SR. JUIZ VIEIRA DE BRITO: Trata-se de recurso de apelação interposto
por Sancho Augusto de Pádua Montandon e Maria Cremilda Sucupira Montandon, nos autos da "Ação Ordinária de
Reparatória de Danos Advindos de Delito" que lhes ajuizara Klébio Algostinho Teodoro e Clebert Fernandes, contra a
r. sentença de fl. 271/273, em que o MM. Juiz monocrático julgou procedente, em parte, o pedido inicial, sob o
fundamento de que "os autores transitavam em sua mão direcional, em via preferencial, devidamente sinalizada...,
quando o primeiro requerido, de forma imprudente, desrespeitou a sinalização e avançou a pista de rolamento,
interceptando, bruscamente, a trajetória do veículo dos autores" (fl. 272), condenando-os, solidariamente, "a
indenizar os autores nas despesas já despendidas no tratamento, arcando com aquelas necessárias até o fim da
convalescença, a ser apurado em liqüidação, cuja soma será duplicada, nos termos do § 1º, do artigo 1.538 do
Código Civil", R$5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais e R$3.000,00 (três mil reais) por danos
estéticos para cada vítima, além de 50% das custas processuais e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da
condenação, cabendo aos requerentes 50% das custas e 10% de honorários, isentos, por litigarem sob o pálio da
assistência judiciária gratuita (fl. 273).
Requerem, preliminarmente, seja apreciado o agravo retido de fl. 210/213, em que pugna pela produção de prova
pericial, aduzindo, ainda, que Klébio Algostinho Teodoro não regularizou sua representação processual, devendo ser
excluído da lide, e que a proprietária do veículo , Maria Cremilda, não merece ser condenada solidariamente, por
não ter confiado o automóvel a pessoa irresponsável e imprudente.
Sustentam que a imprudência causadora do evento danoso deverá ser imputada aos apelados, "ambos menores
inabilitados para a condução de um veículo perigoso como a motocicleta" (fl. 278), não agindo com culpa o
motorista Sancho Augusto, impugnando, ainda, os depoimentos testemunhais, por os considerar "MENTIROSOS,
CONTRADITÓRIOS E GRATUITOS" (fl. 281).
Insurgem-se, ao final, quanto as verbas indenizatórias que lhes foram impostas, ao argumento de que não há
provas nos autos para alicerçar ressarcimento por danos morais e estéticos, motivo por que se mostra "excessiva
sob todos os aspectos" (fl. 282) a referida condenação, devendo ser reformada a r. sentença de primeiro grau.
Contra-razões recursais às fl. 290/303, em que requerem, preliminarmente, apreciação do agravo retido de fl.
98/100, e, no mérito, seja mantida "in totum" a r. decisão monocrática.
Analisar-se-á, prima facie, os agravos retidos interpostos pelas partes, iniciando pelo de fl. 98/100, dos apelados, e
em seguida o de fl. 210/213, dos apelantes.
Insurgem-se os autores (fl. 98/100) contra a decisão que deferiu aos réus o prazo em dobro para prática dos atos
processuais, por litigarem em litisconsórcio passivo, argumentando os apelados que "apesar de existirem 02 (dois)
procuradores, na verdade se tratar de um só" (fl. 98), uma vez que os patronos dos apelantes possuem o mesmo
endereço comercial, pertencendo, portanto, ao mesmo escritório, tratando-se, ainda, de mãe e filho.
Esclarece o artigo 191 do Código de Processo Civil que "quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores,
ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos".
Verifica-se que a referida regra processual, ao conceder prazo em dobro aos litisconsortes que possuírem
procuradores diferentes, não determina que possuam escritórios diferentes ou que não sejam parentes, motivo por
que não há que se acolher a pretensão dos autores, ora agravantes, no que concerne à decisão de fl. 49 proferida
pelo Juízo monocrático.
A propósito, ensinam Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (Código de Processo Civil Comentado e
Legislação Processual Civil Extravagante em Vigor, 6ª ed., Revista dos Tribunais, 2002, p. 543): "Caso os
litisconsortes tenham advogados diferentes, fazem jus ao benefício de prazo. A regra incide mesmo que os
advogados sejam companheiros ou sócios do mesmo escritório de advocacia ou peticionem em conjunto, pois o
requisito legal para ter lugar o benefício é que os litisconsortes tenham advogados diferentes".
No mesmo sentido já decidiram os tribunais do País: "Se os litisconsortes tiverem procuradores diferentes, mesmo
que sejam advogados sócios ou companheiros do mesmo escritório de advocacia, têm direito ao benefício de prazo
do CPC 191" (RT 565/86).
Mediante tais considerações, nega-se provimento ao agravo retido de fl. 98/100.
Já os réus, às fl. 210/213, agravam da decisão que indeferiu a prova pericial que requereram, alegando
cerceamento de defesa, o que ocasionaria a nulidade da sentença, sob o argumento de que não está o magistrado
observando os princípios da ampla defesa e do contraditório, por ser imprescindível ao deslinde da quaestio a
realização de perícia técnica, apta a comprovar que os fatos não ocorreram como descritos na inicial.
Anota-se que constitui princípio constitucional (artigo 5º, LV, da Constituição Federal) que, às partes litigantes,
deve-se assegurar o direito do contraditório e a ampla defesa, proporcionando-lhes os meios adequados para tanto,
devendo a prudência estar sempre presente nas decisões judiciais, no sentido de se acatar o pedido de produção de
provas, se se vislumbrar a sua necessidade e utilidade prática, devendo-se afastar somente as que se mostrarem
efetivamente supérfluas e inúteis.
Segundo o artigo 130 do CPC, "Caberá ao Juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas
necessárias à instrução do processo...", defluindo, daí, que nenhuma ofensa haverá à lei federal observar-se todos
os princípios do "due process of law" e, desde que pertinentes as provas pretendidas, especialmente testemunhal e
pericial, válido é o seu deferimento, já que o referido preceito legal permite indeferir apenas "as diligências inúteis
ou meramente protelatórias".
Assim, competindo ao Juiz decidir quanto à necessidade ou não da coleta das provas requeridas, não se mostra
equivocada a decisão monocrática ora combatida, vez que, in casu, não é a prova pericial imprescindível à solução
do litígio, estando o processo acompanhado de perícia detalhada e idônea acerca dos fatos e do local do evento
danoso, apta a formar o convencimento do magistrado.
Nesse sentido têm sido as decisões nos tribunais do País: "Ao Juiz processante cabe decidir da utilidade e
admissibilidade da prova requerida, dizendo, melhor que ninguém, a necessidade da prova à cabal cognição. Na
formação desse juízo de conveniência e utilidade, é preferível ao julgador usar de liberalidade que de avareza,
inclusive para afastar qualquer ressaibo de cerceamento de defesa" (Agravo de Instrumento nº 45.363-MS, 5ª
Turma do TRF, Rel. Ministro Pedro Acioli, RTFR 120/27).
"É amplo o poder do juiz no sentido de complementar as provas, em busca da verdade real" (Agravo de
Instrumento nº 586.060.683 - 1ª Câmara do TJRS, Rel. Des. Athos Gusmão Carneiro, j. em 05.05.87, RJTJRS
113/321).
O Juiz, com efeito, é livre na investigação da verdade real, finalidade última do processo, cabendo-lhe, na
prossecução desse desiderato, acatar ou determinar as provas que entender úteis, porquanto a prova é dirigida ao
Juiz, a quem somente incumbe a sua direção em busca do esclarecimento da controvérsia, não se podendo,
destarte, imputar, em face dos aspectos da cognição postos em juízo, que tal ou qual prova sejam acoimadas de
necessária ou não.
No processo civil, deve prevalecer o princípio da verdade real sobre a meramente formal, podendo o magistrado, no
uso do poder que lhe confere o Código de Processo Civil, determinar ou não a produção de provas que entender
necessárias ao seu convencimento acerca dos fatos que lhe foram expostos pelos demandantes.
Posto isso, nega-se provimento ao agravo retido de fl. 210/213.
Ultrapassadas as questões incidentais suscitadas nos agravos retidos, conhece-se do apelo, uma vez que presentes
os pressupostos necessários à admissibilidade recursal.
Analisar-se-á a preliminar de irregularidade de representação suscitada pelos réus, ora apelantes, em relação a
Klébio Algostinho Teodoro, por se tratar de matéria prejudicial ao exame do mérito em relação a este litigante.
Sustentam que, na falta dos pais, o menor deveria ser assistido por tutor regularmente nomeado e não
simplesmente por sua avó, como no caso dos autos, o que implica em sua exclusão da lide.
Entretanto, verifica-se que não assiste razão aos apelantes pois tal irregularidade encontra-se atualmente sanada,
por ter o autor, Klébio Algostinho Teodoro adquirido a maioridade, não havendo necessidade de que litigue
assistido por sua avó.
O documento de fl. 20 comprova a data de nascimento do apelado, 10.08.1979, contando, atualmente, com 23
anos de idade, não havendo que se falar em defeito de representação, posto que desnecessária na atualidade.
Mediante tais considerações, rejeita-se essa preliminar.
Ainda preliminarmente alegam os réus que a proprietária do automóvel, Maria Cremilda Sucupira Montandon, não
deverá ser condenada a indenizar os autores, por não haver confiado o veículo a pessoa irresponsável,
imprudente ou inexperiente, não concorrendo, de qualquer forma, para ocorrência do evento danoso, motivo por
que merece ser excluída do pólo passivo da presente demanda.
A propósito, releva anotar que legitimado a responder pelos danos causados a outrem são todos que tenham agido
culposamente para ocorrência do evento danoso, decorrendo a responsabilidade do agente da prática do ato
ilícito.
Verifica-se que no caso dos autos exsurge clara a solidariedade da ré, ante sua condição de proprietária do
veículo , embora conduzido por terceira pessoa no momento do acidente , em virtude de haver permitido que
outrem pusesse em circulação máquina motorizada que, por sua natureza, aliada ao intenso tráfego reinante em
todas as vias do País representa sempre um grande perigo ao patrimônio alheio, estando, pois, apta a demandar no
pólo passivo da presente ação.
Certo é que a simples alegação do motorista do automóvel da ré de que é pessoa responsável, prudente e
habilitada não exclui a responsabilidade solidária a proprietária caso se entenda que a conduta do condutor do
veículo deu ensejo ao evento danoso, por ser certo que, caso seja comprovada sua culpa, proprietário do
automóvel responderá solidariamente pelos danos que tiver causado , motivo por que não assiste razão aos
apelantes no que concerne à exclusão de responsabilidade solidária da ré de responder pelo evento danoso.
Nesse sentido têm decidido os tribunais do País: "Responsabilidade civil - Colisão de veículos - Culpa in eligendo
do proprietário de um deles - Solidariedade com o motorista culpado - Legitimidade passiva ad causam
reconhecida - Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Solidariedade do proprietário do veículo ,
decorrente do critério de escolha da pessoa a quem confiou seu uso. Inexistência de negativa da regra do artigo
1.521, III, do Código Civil. Recurso provido para o fim de se reconhecer a legitimidade ad causam passiva da ré
apelante, julgando-se o mérito da ação de reparação civil no Juízo de primeiro grau, com inversão do ônus da
sucumbência" (Apelação Cível - TAPR, Rel. Juiz Franco de Carvalho, j. em 24.02.82, RT 574/240).
Rejeita-se essa preliminar.
Em sede meritória, alegam os apelantes que foram os autores os responsáveis pela ocorrência do evento danoso
por serem "ambos menores inabilitados para a condução de um veículo perigoso como a motocicleta" (fl. 278),
não tendo agido com culpa o motorista Sancho Augusto, insurgindo-se, ao final, quanto as verbas indenizatórias
que lhes foram impostas, ao argumento de que não há provas nos autos para alicerçar ressarcimento por danos
morais e estéticos.
Assinala-se, a fim de solver a lide, que o direito privado, ao estabelecer regra sobre a responsabilidade civil,
impôs o dever de indenizar prejuízos que se cause a outrem, desde que haja violação à ordem jurídica, conforme
expressa o artigo 159 do Código Civil, que apresenta como pressupostos da obrigação de ressarcir a existência de
ação ou omissão imputável ao agente; a sua culpabilidade; o dano provocado à vítima; bem como o nexo de
causalidade entre este e o comportamento ilícito.
Denota-se, assim, a imprescindibilidade de se apurar se o condutor do veículo que se chocou com a unidade
motora dos apelados agiu com culpa, já que não subsiste qualquer laivo de dúvida com relação à ocorrência do
acidente , bem como quanto ao nexo etiológico entre o mesmo e os danos causados às partes.
Releva anotar que, embora a carteira de habilitação seja o documento que comprova a capacidade do motorista
para conduzir veículo automotor, tem-se entendido que o fato isolado de o piloto não possuir habilitação nem
sempre indica que o inabilitado seja o causador do dano, para efeito de responsabilidade civil.
Nesse sentido é o magistério de Humberto Theodoro Júnior: "Se na dinâmica do evento danoso a falta de
habilitação não assume posição de causa, não é ela suficiente para gerar a responsabilidade do motorista pelo
resultado" (Responsabilidade Civil, p. 27).
Induvidoso é que imprescindível se torna que haja a comprovação de que o inabilitado omitiu-se em agir de
maneira, atenta, cautelosa e prudente, a fim de que se possa culpá-lo pelo sinistro, devendo-se analisar, portanto,
de forma conjunta, o descumprimento da disposição regulamentar e a inobservância das regras de direito comum,
calcadas na culpa ou no dolo da conduta do agente.
Nessa linha de raciocínio, tem-se que, in casu, não se pode imputar a responsabilidade do acidente aos
autores, ora recorridos, pelo simples fato de não possuírem habilitação para conduzirem motocicleta, sendo então
ônus dos réus, ora apelantes, evidenciar que não causaram a colisão em tela, por recair sobre os mesmos o ônus
de exibir tal prova, a fim de ilidir a presunção que milita em seu desfavor.
Verifica-se que os autores transitavam, de motocicleta, pela Avenida Nené Sabino, que possui canteiro central, no
sentido aeroporto/cemitério, quando, ao se aproximarem do cruzamento com a Rua Paraíba, tiveram sua trajetória
interrompida pelo veículo Fiat Pálio, de propriedade da ré e conduzido pelo réu, que, tentando proceder a
travessia da avenida e adentrar na Rua Paraíba, abalroou o veículo dos apelados, causando-lhes danos materiais e
morais que ensejam reparação.
Assim, deflui dos elementos probatórios ínsitos nos autos que o réu conduzia seu automóvel, em via pública,
quando, ao tentar efetuar manobra de conversão à esquerda, atravessando uma via preferencial a fim de adentrar
na rua que era seu destino, chocou-se com a motocicleta dos autores apelados.
Do exame acurado dos elementos probatórios aqui expressos, encontra-se a narrativa do Laudo nº 1115/99,
elaborado pelos peritos da Secretaria de Estado da Segurança Pública: "... no caso em tela deu causa ao acidente
o condutor do veículo 01 (Pálio), ao efetuar uma conversão a esquerda a fim de passar a transitar em uma outra
via, motivando a interceptação de sua unidade na preferencial trajetória desenvolvida pela unidade 02 (Moto
Yamaha)".
Acrescentando que: "Foi cogitado que o veículo Moto transitava com o farol apagado, sendo que era ainda noite.
Não puderam os peritos contatar referido detalhe, pois o farol fora destruído com o impacto do acidente " (fl.
29/30).
Do croqui de fl. 143 e fotografias de fl. 180/184 denota-se que a Avenida Nené Sabino é uma via preferencial,
sendo que no cruzamento com a Rua Paraíba não há placa de sinalização, sendo possível, entretanto, que se efetue
retorno no local, uma vez que não há continuidade do canteiro central neste trecho, o que demonstra claramente a
falta de atenção do condutor do veículo Pálio, ao proceder retorno, adentrando em via preferencial sem observar o
fluxo de automóveis que já circulava pela avenida.
O parecer técnico apresentado pelos próprios réus esclarece que o condutor do veículo 1, Fiat Pálio, infringiu o
artigo 44 do Código Brasileiro de Trânsito uma vez que, ao tentar fazer a manobra a fim de adentrar na via
desejada, faltou com a prudência especial, mesmo estando em velocidade moderada não atentou em dar passagem
ao veículo que transitava em via preferencial.
Esclarece o referido artigo que: "Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, o condutor do veículo deve
demonstrar prudência especial, transitando em velocidade moderada, de forma que possa deter seu veículo com
segurança para dar passagem a pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência".
Desse modo, quem cruza via preferencial sem observar as devidas cautelas e é abalroado por outro veículo ,
causando-lhe danos, é considerado responsável pelo pagamento da indenização.
Dispõe, ainda, o referido dispositivo legal, no artigo 215, ser infração grave, sujeita a multa, deixar de dar
preferência de passagem nas interseções com sinalização de regulamentação.
Assim, verifica-se que o Código de Trânsito Brasileiro regulamenta a circulação de veículos nos pontos de possível
cruzamento, estabelecendo a prioridade de passagem dos que transitam por vias preferenciais, com a avenida em
que transitavam os apelados e que pretendia o apelante atravessar, sob pena de multa.
Destarte, certo é que subtrai-se do contexto probatório que o abalroamento em questão só aconteceu em virtude
da imprudência do motorista do automóvel Fiat Pálio, que o conduzia de forma desatenta, tendo adentrado
inopinadamente pela Avenida Nené Sabino, a fim de atravessá-la, não observando a preferência de passagem dos
motociclistas que já percorriam a via preferencial no lado da pista que dava acesso à Rua Paraíba, destino do réu,
colhendo-os de forma abrupta e causando-lhes danos de ordem material, moral e estética.
Ora, a desatenção e imperícia do condutor do Fiat Pálio, embora habilitado e transitando em velocidade compatível
com o local, exsurge clara, uma vez que, a despeito de pretender realizar manobra perigosa de conversão à
esquerda, transpondo canteiro central e invadindo a outra pista da avenida, pela qual não transitava, sequer
percebeu que os motociclistas já trafegavam por esta pista, sendo certo que deveria aguardar que a via pública
estivesse completamente livre para atravessá-la e, cruzando-a irresponsavelmente causou o acidente em exame.
A despeito de estar o condutor do automóvel realizando manobra de conversão à esquerda, sobre este
procedimento preconiza o já citado Diploma Legal: "Artigo 37. Nas vias providas de acostamento, a conversão à
esquerda e a operação de retorno deverão ser feitas nos locais apropriados e onde estes não existirem, o condutor
deverá aguardar no acostamento à direita, para cruzar a pista com segurança".
"Artigo 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá: I - ao
sair da via pelo lado direito, aproximar-se o máximo possível do bordo direito da pista e executar sua manobra no
menor espaço possível;
II - ao sair da via pelo lado esquerdo, aproximar-se o máximo possível do seu eixo ou da linha divisória da pista,
quando houver, caso se trate de uma pista com circulação nos dois sentidos, ou do bordo esquerdo, tratando-se de
uma pista de um só sentido.
Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e
ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas
de preferência de passagem".
Certo é que a conversão à esquerda, conforme procedeu o apelante, embora seja permitida pela legislação de
trânsito, é manobra que exige do condutor do veículo extremo cuidado e atenção, uma vez que sempre oferece
perigo, devendo ser realizada somente após a certeza do motorista sobre a possibilidade de realizar a conversão
sem interferir na corrente de tráfego que já existe no local em que se pretende adentrar.
A propósito, registra Geraldo de Faria Lemos Pinheiro: "Se o veículo não atingisse primeiro a zona central do
cruzamento para convergir à esquerda, poderia perturbar a marcha e até surpreender o motorista que viesse pela
mesma esquerda, na sua mão de direção. Havendo sentido único, em uma ou em ambas as vias, é obvio que a
manobra poderá ser feita sem essa cautela, mas respeitada, em qualquer caso, a preferência de passagem do
veículo que vem em sentido contrário" (Código Nacional de Trânsito, Saraiva, 1967, p. 59/60).
No mesmo sentido é o entendimento de Wladimir Valler: "A conversão à esquerda deve ser precedida do sinal
correspondente de mão e seta, a fim de que os outros motoristas tenham conhecimento antecipado da manobra
que vai ser realizada. Entretanto, o simples uso da seta, ou o sinal dado com a mão, não basta para eximir o
motorista da culpa, pois ele deverá sempre aguardar o momento propício para, sem perigo de cortar a corrente
de tráfego, completar a manobra" (Responsabilidade Civil e Criminal nos acidentes automobilísticos, 2ª ed., Julex
Livros, 1993, 02 volumes, p. 279).
Com efeito, qualquer conversão à esquerda, principalmente de automóvel que está a pretender atravessar via
preferencial a fim de alcançar seu destino, deve ser precedida de cautela e paciência, de maneira que a travessia
seja feita com segurança, observando o condutor o tráfego da preferencial para que o veículo que pretende
convergir não obstrua a passagem de outros que já seguem a referida trajetória, sendo certo que a simples
conversão deve ser feita somente em condições favoráveis, antecedida de sinal regulamentar, parada e espera de
via desobstruída, de modo a que não se intercepte a frente do veículo que transita pela avenida que se pretende
ingressar.
Induvidosamente, a manobra de conversão à esquerda exige toda atenção e cautela do motorista que deverá
verificar se a pista que ultrapassará está livre para seu cruzamento e se há corrente de tráfego no sentido contrário.
Observa Rui Stoco que: "a conversão à esquerda, embora permitida, é manobra que exige extremo cuidado e
atenção porque sempre encerra perito, somente podendo ser realizada após verificação da corrente de tráfego no
mesmo sentido e em sentido contrário, evitando interrompê-la...
A conversão à esquerda deve ser precedida do sinal correspondente de mão e seta, a fim de que os outros
motoristas tenham conhecimento antecipado da manobra que vai ser realizada. Entretanto, o simples uso da seta,
ou o sinal dado com a mão, não basta para eximir o motorista da culpa, pois ele deverá sempre aguardar o
momento propício para, sem perigo de cortar a corrente de tráfego, completar a manobra" (Responsabilidade
Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, p. 623).
A propósito, os tribunais do País têm decidido que: "Indenização - Responsabilidade civil - Acidente de trânsito
- Conversão à esquerda - Verificação de sua possibilidade, para tanto não bastando simples sinal luminoso, no
momento da realização da manobra.
Colisão de veículos, numa avenida. Culpa do motorista que fez conversão à esquerda, quando outro veículo lhe
passava à frente por esse mesmo lado" (RJTJSP, 45/122).
"As conversões à esquerda ou à direita são manobras perturbadoras do fluxo de trânsito, mesmo quando
permitidas. Fica quase à inteira responsabilidade do motorista que as empreende a observância das cautelas
especiais previstas na lei. É dever de todo condutor de veículo dirigir com atenção e os cuidados indispensáveis à
segurança do trânsito" (JUTACrim, 52/388).
"A conversão à esquerda é manobra que envolve riscos que exigem cautelas especiais para a sua realização. Assim,
somente de se admitir a efetivação da manobra quando inexista perito de colisão com outros veículos, em especial
com os que se aproximam na faixa da contramão de direção" (JUTACrim, 38/147).
Certo é, destarte, que as conversões à esquerda ou à direita são manobras que perturbam e afetam o fluxo do
trânsito já existente no local, mesmo quando permitidas, ficando sobre a inteira responsabilidade do motorista
que as empreende observar as cautelas especiais previstas na lei, indispensáveis à segurança do trânsito.
Nesse contexto, embora a ausência de habilitação legal para dirigir veículo dos apelados, evidente que a culpa
pelo evento danoso deu-se por culpa exclusiva do apelante, ao adentrar abruptamente em via preferencial,
conforme se explicitou in retro.
É indiscutível, portanto, que a súbita interceptação da pista na qual se locomoviam os autores é que deu azo ao
acidente , sendo inconcebível imputar aos apelados a responsabilidade pelo evento danoso, vez que também
não resta comprovado que trafegavam de farol apagado ou que a visibilidade do motorista do Fiat Pálio tenha sido
prejudicada por árvores do canteiro central da avenida.
Destarte, exsurge clara a culpa do condutor do veículo no acidente em exame, já que, ao deixar de observar o
fluxo do trânsito antes de proceder a conversão à esquerda, agiu com imprudência, devendo, em conseqüência,
responder pelos prejuízos advindos dessa conduta culposa.
Wilson Mello da Silva entende que, na atualidade, a responsabilidade civil automobilística se funda na teoria da
culpa contra a legalidade, segundo a qual "o fato do desrespeito ou da violação de uma determinação regulamentar
implicaria, de per si, independente do mais, uma verdadeira culpa, sem a imprevisão, imprudência, etc., por
parte do agente" (Da Responsabilidade Civil Automobilística, nº 19, p. 62).
Na hipótese em tela, tem-se caracterizada a responsabilidade do condutor do veículo pelo evento danoso, quer
sob o prisma da teoria da culpa contra a legalidade, em face do desrespeito das normas de trânsito mencionadas "in
retro", quer sob o ângulo da teoria subjetiva, tendo em vista a imprudência com que agiu ao adentrar em via
urbana sem a devida cautela, interferindo no fluxo de trânsito existente no local.
Assim sendo, é induvidosa a responsabilidade da proprietária do veículo pelos danos causados ao terceiro,
independentemente de ter, ou não, qualquer relação com o motorista causador do sinistro, sendo certo que se
afigura como responsável pelos prejuízos causados em acidente em que sua unidade motora deu causa, ainda que
conduzido por outrem, não se vinculando ao danos ocorridos somente quando restar evidenciado que o referido
veículo foi posto em circulação contra a sua vontade.
Neste sentido, Rui Stoco assevera que: "Como preleciona Wladimir Valler, a responsabilidade pela reparação dos
danos é, assim, em regra, do proprietário do veículo , pouco importando que o motorista não seja seu
empregado, uma vez que sendo o automóvel um veículo perigoso, o seu mau uso cria a responsabilidade pelos
danos causados a terceiros, nos termos do artigo 159 do Código Civil, independentemente de qualquer outro
dispositivo legal.
A responsabilidade do proprietário do veículo não resulta de culpa alguma, direta ou indireta. Não se exige a
culpa in vigilando ou in eligendo, nem qualquer relação de subordinação, mesmo porque o causador do acidente
pode não ser subordinado ao proprietário do veículo , como, por exemplo, o cônjuge, o filho maior, o amigo, o
depositário etc. Provada a responsabilidade do condutor, o proprietário do veículo fica necessária e
solidariamente responsável pela reparação do dano, como criador do risco para os seus semelhantes.
... Se optar pelo ajuizamento da ação contra o proprietário do veículo não necessitará provar sua culpa, que é
presumida, salvo as hipótese excludentes, já estudadas".
Nesse sentido está o posicionamento dos pretórios nacionais: "Acidente de trânsito - Responsabilidade civil -
Automóvel não conduzido pelo proprietário - Responsabilização deste em face da não comprovação de ter sido
posto em circulação sem seu consentimento - Presunção juris tantum de ocorrência de empréstimo não elidida -
Culpa reconhecida - Indenização devida.
O proprietário do veículo é responsável pelos danos a que este der causa, mesmo que conduzido por outrem,
se não restar comprovado ter sido o automóvel posto em circulação contra a sua vontade" (RT 691/119).
"Responsabiliza-se civilmente pela prática de ato ilícito o proprietário de veículo dirigido por terceiro que tenha
ocasionado o evento danoso, em não comprovando estar o veículo em circulação contra sua vontade..." (Apelação
Cível nº 102.784-1, Rel. Juiz José Brandão, RJTAMG 44/184).
"O proprietário do veículo é responsável pelos danos a que este der causa, mesmo que conduzido por outrem,
se não restar comprovado ter sido o automóvel posto em circulação contra a sua vontade" (Apelação Cível - 1ª
TACivSP, Rel. Juiz Ferraz Nogueira, RT 691/117).
In casu, sendo inquestionável que a ora recorrente figura como legítima proprietária do Fiat Pálio envolvido no
acidente em tese, encontrando-se seu condutor, na ocasião do embate, no mínimo autorizado pela mesma, tendo
em vista que em momento algum se subtrai dos autos que o mencionado veículo fora posto em circulação sem o
seu consentimento, estabelece-se uma presunção de responsabilidade da titular desse bem que deve, portanto,
responder solidariamente pelos prejuízos causados ao autor.
Na verdade, estabeleceu-se uma presunção de responsabilidade em desfavor do proprietário do veículo , por
ser ele o guardião da coisa, devendo responder se um terceiro imprudente teve acesso para colocá-la em circulação,
de modo arriscado e perigoso.
Com efeito, cabe ao dono arcar com a obrigação de guardar o bem que é proprietário , o que significa um poder
de comando e uma obrigação de impedir que a coisa escape ao controle ao ponto de causar danos ao patrimônio de
outrem, sob pena de vir a responder, com base na culpa presumida, pelos prejuízos imputados a terceiros.
Assim, evidenciadas a responsabilidade civil, advinda da conduta imprudente do condutor do veículo e a
existência do dano, bem como o nexo causal entre tais elementos, conclui-se pela obrigatoriedade de ambos os
réus ressarcirem os prejuízos causados.
Mediante tais considerações e em se verificando a culpa do motorista do Fiat Pálio, correta a sentença que impôs
aos réus do dever de ressarcir, passando-se a analisar o inconformismo dos apelantes no que concerne às verbas
indenizatórias arbitradas na sentença objurgada.
Quanto aos danos materiais, entende-se que correto é o posicionamento adotado pelo MM. Juiz monocrático no que
tange ao dever de ressarcir as despesas efetuadas pelos autores relativamente aos tratamentos a que foram
submetidos, valor este que será arbitrado em liquidação, motivo por que mantém-se a referida obrigação.
Quanto aos danos morais, cumpre fixar que tal instituto refere-se ao prejuízo decorrente da dor imputada ao ser
humano, em razão de atos que, indevidamente, ofendem seus sentimentos, provocando-lhe tristeza, mágoa ou
atribulações na esfera interna pertinente à sensibilidade de seu ego.
Assim sendo, conclui-se ser indenizável qualquer ação que importe em lesão íntima a outrem, máxime em se
tratando de ameaça a valores protegidos enquanto aspectos basilares da personalidade humana, sendo certo que a
tristeza resultante de ofensa à vida, à integridade física e à saúde refere-se não só à vida exterior do indivíduo, ou
seja, às relações sociais e públicas, mas também ao interior, a saber, a pessoa consigo mesma e perante a família e
amigos íntimos.
Indiscutível é que a avaliação do dano moral para o efeito de indenização é das tarefas mais difíceis impostas ao
magistrado, uma vez que inexistem parâmetros e limites certos fixados na legislação em vigor, o que implica na
necessidade de se proceder ao arbitramento, segundo o prudente arbítrio do órgão julgador.
Os pretórios nacionais têm entendido que a indenização haverá de ser "suficientemente expressiva para compensar
a vítima pelo sofrimento, tristeza ou vexame sofrido e penalizar o causador do dano, levando em conta ainda a
intensidade da culpa e a capacidade econômica dos ofensores" (COAD, Bol. 31/94, p. 490, nº 66.291).
"A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de,
com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa" (Revista dos
Tribunais, 706/67).
À luz de tais ponderações, tem-se que o arbitramento do montante indenizatório deve ter por parâmetro, dentre
outros aspectos, as condições da vítima e do ofensor, o grau de dolo ou culpa presente na espécie, bem como os
prejuízos morais sofridos pela vítima, sendo essa a orientação unânime dos tribunais do País: "Para a fixação do
dano moral o julgador pode usar de certo arbítrio, devendo, porém, levar em conta as condições pessoais do
ofendido e do ofensor" (RJTJRS, 127/411).
No caso dos autos, exsurge claro que as vítimas encontram-se, aparentemente, em situação econômica inferior em
relação aos agentes, sendo manifesta a tristeza e dor naturais a qualquer ser humano que se vê deformado e
parcialmente incapacitado para o trabalho, em virtude de um acidente de trânsito em cuja ocorrência não teve a
menor responsabilidade , fato que traduz inquestionável desestabilidade psíquica e que justifica, por si só, o
direito ao ressarcimento por dano moral.
Tendo em vista todos os aspectos apontados in retro, entende-se ser apta para fins indenizatórios a quantia
correspondente a R$5.000,00 (cinco mil reais) para cada autor, arbitrada pelo magistrado, não configurando tal
verba uma premiação, nem mesmo uma importância insuficiente para promover a pretendida reparação civil.
O prejuízo estético também merece reparo, uma vez que as fotografias de fl. 38 e 44 demonstram a situação em
que se encontram os autores, cobertos de cicatrizes, ante as fraturas expostas que sofreram, confirmadas,
inclusive, pelo Boletim de Ocorrência de fl. 25, entendendo também estar correto o valor de R$3.000,00 (três mil
reais) para cada apelado, fixado pelo Juiz a quo.
Posto isso, nega-se provimento ao recurso, mantendo in totum a decisão de primeiro grau, que não está a merecer
qualquer reparo.
Custas recursais pelos apelantes.
JUIZ VIEIRA DE BRITO LJC.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 377.830-3 - UBERABA - 05.02.2003 -27APELAÇÃO CÍVEL Nº - - 05.02.2003 -26
2
147428 - 16/09/2002 - 09:43
RECURSO: APC
NÚMERO: 190012203
DATA: 15/03/1990
ORGÃO: SEGUNDA CAMARA CIVEL
RELATOR: WALDEMAR LUIZ DE FREITAS FILHO
ORIGEM: PORTO ALEGRE
E M E N T A
ACIDENTE DE TRANSITO - LEGITIMIDADE E SOLIDARIEDADE PASSIVAS: O PROPRIETARIO DO VEICULO ,
ENVOLVIDO NO ACIDENTE, E PARTE PASSIVA LEGITIMA NA ACAO RESSARCITORIA, JUNTO COM O CONDUTOR ,
E SE, CONSIDERADO, ESTE, CULPADO PELO ACIDENTE, A RESPONSABILIDADE E SOLIDARIA ENTRE
AMBOS. VALOR DOS DANOS: A FALTA DE PROVA DO VALOR DO CONSERTO NAO E ELEMENTO IMPRESCINDIVEL A
CAUSA.
A constituição de capital, prevista no art. 602 do CPC, é regra de ordem pública que objetiva a exeqüibilidade das
sentenças condenatórias, só podendo ser arredada se houver manifesta solvabilidade do devedor.
Sendo a causa complexa e demonstrando o patrono do vencedor zelo profissional, justifica-se verba honorária de
20% sobre o importe condenatório, excluídas as hipóteses de assistência judiciária gratuita.
Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários.
Admitida a seguradora no pólo passivo da demanda indenizatória, sua responsabilidade se transmuda para
solidária .
Para fins de cobertura securitária, os danos morais são englobados pelos danos pessoais.
É devida pensão alimentícia em favor do marido, por óbito da mulher, cujo auxílio na formação de um pecúlio
comum é presumido, importando o estipêndio em 2/3 do salário mínimo vigente à época do evento, da data do
sinistro até o momento em que a vítima completaria 65 anos de idade, cessando com a morte do pensionado.
A correção monetária e os juros de mora, em se cogitando de ato ilícito, correm da data do evento danoso
(Súmulas 43 e 54 do STJ), com exceção dos danos morais, que devem ser atualizados a partir do arbitramento.
Não são aplicados juros compostos em indenização decorrente de acidente de trânsito, em que o agente tenha
atuado mediante culpa.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. 03.003281-9, da Comarca de Rio do Sul (2ª Vara
Cível), em que são apelantes e apelados Valdemar Hahn, Fernando Alberti, Adriano Pazi Alberti e Novo Hamburgo
Companhia de Seguros Gerais S/A:
ACORDAM, em Segunda Câmara de Direito Civil, por votação unânime: 1) conhecer dos recursos; 2) desprover o
reclamo dos demandados; 3) desprover o da seguradora; 4) prover em parte o do autor.
Custas na forma da lei.
I - RELATÓRIO:
Valdemar Hahn, qualificado nos autos, por seu advogado, propôs Ação de Reparação de Danos Materiais e Morais
em face de Lineu Fernando Alberti e Adriano Pazi Alberti, também individuados no caderno processual, ao
argumento de que, no dia 21/10/1989, por volta das 10h45min, na Rodovia SC 413, em Rio do Sul, o automóvel
marca WV, modelo Fusca, placas RS 4467, cujo proprietário e condutor era o requerente, foi abalroado em sua
mão de direção pelo veículo de propriedade do primeiro demandado e conduzido pelo segundo, daí decorrendo
ferimentos graves no demandante e em seu filho, bem como o óbito de sua esposa.
Prosseguiu asseverando que o ilícito lhe ensejou diversos danos, postulando a reparação das seguintes verbas:
despesas médico-hospitalares dos envolvidos, luto e funeral da esposa, transporte do veículo sinistrado e
contratação de uma empregada doméstica, a título de danos emergentes; pensão por incapacidade laborativa, a
título de lucros cessantes; danos morais.
Citados, os demandados ofertaram peça de resistência, pleiteando, preliminarmente, denunciação da lide à empresa
Novo Hamburgo Cia. de Seguros Gerais S/A.
Quanto ao mérito, afiançaram que a pensão é desnecessária e que o seu valor é excessivo; que não houve
despesas médicas, pois os atendimentos foram gratuitos; que o autor não pode cobrar as despesas do funeral, eis
que não despendeu aqueles valores; que os danos morais são descabidos, como também o é a contratação de uma
empregada doméstica.
Houve réplica.
A seguradora foi citada e quedou inerte.
O feito foi saneado e instruído, sobrevindo prestação jurisdicional monocrática, que julgou procedentes os pedidos
formulados (fls. 175/186).
Inconformado, o autor apelou e postulou a majoração da pensão alimentícia de 3,5 para 5,5 salários mínimos
mensais; a condenação dos demandados ao pagamento de pensão referente à morte da esposa; a majoração dos
danos morais e a incidência de correção monetária e de juros de mora do ilícito, estes de forma composta.
Também inconformados, os demandados apelaram, pontificando que o primeiro demandado não pode ser
condenado solidariamente com o segundo; que não houve despesas médicas, pois os atendimentos foram gratuitos;
que o autor não pode cobrar as despesas do funeral, eis que não despendeu aqueles valores; que os danos morais
são descabidos; que a pensão é desnecessária e que o seu valor é excessivo; que a constituição de capital é
inviável; que os honorários advocatícios são excessivos e que houve sucumbência recíproca.
Igualmente irresignada, a seguradora interpôs apelo, asseverando que não responde solidariamente com os
demandados e apenas deve cobertura nos limites da apólice.
No mais, preconizou que o contrato não cobre danos morais, que eles foram excessivamente quantificados e que a
incapacidade laborativa foi parcial.
É o relatório.
II - VOTO:
1 - Recurso dos demandados:
O reclamo dos demandados se prende ao seguinte: a) responsabilidade solidária ; b) danos emergentes; c)
pensão por incapacidade laborativa; d) danos morais; e ) constituição de capital; f) honorários advocatícios.
a) Responsabilidade solidária :
A responsabilidade solidária entre os agentes causadores dos danos decorre da circunstância de que o
veículo era conduzido pelo filho, mas de propriedade do pai, sendo certo que a jurisprudência, em casos desse
jaez, tem preconizado a solidariedade entre o condutor e o proprietário do veículo .
Sobre o tema já decidiu esta e. Corte:
"A responsabilidade entre o condutor e o proprietário do veículo causador do sinistro é do tipo
solidária , solidariedade esta facultativa. Assim, a ação indenizatória poderá ser interposta contra o condutor ,
proprietário ou mesmo contra ambos, ficando ao arbítrio do acidentado a escolha" (Ap. Cív. n. 99.010647-0, de
Ituporanga, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz).
A solidariedade, ademais, decorre do fato da coisa, como preleciona RUI STOCO:
Em certos casos, porém, há uma responsabilidade indireta ou complexa, em que o indivíduo responde não pelo
fato próprio, mas pelo fato de outrem ou pelo fato da coisa. Em decorrência da responsabilidade pelo fato da
coisa, cujo fundamento jurídico reside na guarda da coisa, firmou-se o entendimento de que o dono do veículo
responde sempre pelos atos culposos de terceiro a quem o entregou, seja seu preposto ou não. A
responsabilidade do proprietário do veículo não resulta de culpa alguma, direta ou indireta. Não se exige a
culpa in vigilando ou in eligendo, nem qualquer relação de subordinação, mesmo porque o causador do acidente
pode não ser subordinado ao proprietário do veículo , como por exemplo o cônjuge, o filho maior
(Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, 4. ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1999, p.
985 - grifei).
Assim, subsiste a solidariedade entre pai e filho.
b) Danos emergentes:
Os danos emergentes, na hipótese, consistem nas despesas médico-hospitalares com todos os envolvidos no
acidente, nas despesas com luto e funeral da vítima fatal (esposa do autor), consoante se extrai do art. 1.537, I,
do Código Civil de 1916, então vigente e nas despesas com a remoção do veículo acidentado.
Na espécie, os prejuízos efetivos a serem liquidados se encontram documentados às fls. 26/30, não havendo
qualquer lastro de prova de que os gastos tenham sido custeados pelo SUS. Há, sim, prova no sentido de que foram
suportados pelo autor.
Em nada aproveita a alegação de que as despesas funerárias foram realizadas pela filha da vítima falecida. O autor
asseverou, em dado momento, que ela providenciou as solenidades fúnebres, mas em momento algum admitiu que
não efetivou aqueles gastos.
Os prejuízos, como de resto resulta elementar, foram suportados ao final pelo pai, ora autor/apelado.
Assim, irretocável a r. sentença no tocante aos danos emergentes.
c) Pensão por incapacidade laborativa:
O art. 1.539 do Código Civil de 1916, então vigente, estabelece que se "da ofensa resultar defeito pelo qual o
ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua o valor do trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá uma pensão correspondente à
importância do trabalho para o qual se inabilitou ou a depreciação que ele sofreu".
Sobre a temática do pensionamento por incapacidade laborativa ensina RUI STOCO, em seu Responsabilidade
Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, 4. ed., RT, p. 797, item 8:00:
"Se a incapacidade for permanente e total, a pensão deverá corresponder à importância do trabalho para o qual se
inabilitou, quer dizer, ao valor dos salários, proventos ou ganhos da vítima.
"Se a incapacidade for permanente e parcial, a indenização terá como paradigmas os mesmos salários ou
proventos, mas em percentual correspondente à sua incapacidade. Neste caso, será devida a pensão ainda que a
vítima tenha condições de exercer outra atividade, diversa daquela para a qual ficou incapacitada.
Mais especialmente sobre a incapacidade permanente e a pensão vitalícia acrescenta o renomado escritor (Op. Cit.,
p. 713):
"Se a vítima sobrevive, mas fica total ou parcialmente incapacitada para o trabalho, deve receber pensão vitalícia,
sem qualquer limitação temporal.
"E a razão é simples: se é ele incapaz hoje em razão do infortúnio, o será aos 25 anos, bem como quando
alcançar os 65 anos de idade.
"Se hoje não tem condições de exercer uma atividade produtiva e remunerada, muito menos as terá quando
estiver com idade mais avançada.
"Ora, nada justifica estabelecer tempo provável de vida àquele que necessitará para o resto de sua sobrevivência de
amparo mensal. A ficção não pode sobrepor-se à realidade".
E sobre a incapacidade temporária prossegue aquele mesmo autor (Op. Cit., p. 797):
"Se a incapacidade for temporária (não permanente), a indenização, independentemente das demais verbas, será
devida pelo tempo que perdurar a incapacidade, mas, se de curta duração, poderá converter-se em meros lucros
cessantes, neles se incluindo".
Daí emerge que se a incapacidade laborativa for permanente e total, a pensão será vitalícia e corresponderá à
integralidade do salário ou provento auferido. Se, de outra banda, a incapacidade laboral for permanente, mas
parcial, a pensão continua sendo vitalícia, mas corresponderá ao percentual de incapacidade sobrevinda. Enfim, se a
incapacidade for temporária, a pensão subsistirá até a integral convalescença do sinistrado.
Relevante sublinhar que a incapacidade laboral focalizada pela lei civil não consiste necessariamente em inabilitação
para todo e qualquer ofício, mas sim para o trabalho que antes era desempenhado.
Sobre a matéria comenta CARLOS ROBERTO GONÇALVES, em seu Responsabilidade Civil, 8. ed., Saraiva, 2003,
p. 694:
"A inabilitação refere-se à profissão exercida pela vítima e não a qualquer atividade remunerada. A propósito,
comenta SÍLVIO RODRIGUES: 'desse modo, se se trata, por exemplo, de um violinista que, em virtude de acidente,
perdeu um braço, houve inabilitação absoluta para o exercício de seu ofício e não mera diminuição de sua
capacidade laborativa'".
Na hipótese dos autos, de conformidade com o laudo pericial de fls. 129/130, o demandante se encontra total e
permanentemente incapacitado para as atividades braçais que antes desempenhava.
Logo, a pensão deve ser vitalícia e corresponder à totalidade dos proventos auferidos.
A verba, em hipótese alguma, revela-se excessiva. Foi até mesmo fixada abaixo do que deveria, como se verá
adiante.
Assim, desmerece guarida o reclamo nesse tópico.
d) Danos morais:
Sobre a temática dos danos morais ensina WILSON MELO DA SILVA, em seu Do Dano Moral e sua Reparação, 2.
ed., Forense, pp. 424 e 427
"Na ocorrência da lesão manda o direito ou a eqüidade que se não deixe o lesado ao desamparo de sua própria
sorte. E tanto faz que tal lesão tenha ocorrido no campo se seus bens materiais ou na esfera daqueles outros bens
seus, de natureza ideal. O que importa, o que é mister, é a reparação, pelo critério da equivalência econômica,
num caso, ou pelo critério da simples compensação, da mera satisfação, como o queiram, no outro".
Os danos psicológicos, na espécie, não reclamam prova robusta e são perfeitamente perceptíveis das
circunstâncias do caso concreto, sendo de evidente intelecção a grande dor produzida pelo inesperado e antecipado
óbito da esposa do requerente.
Em decorrência do ilícito culposo provocado pelos requeridos, o autor perdeu a companheira do resto da vida,
sentindo profundos danos morais em sua própria pessoa, não só pelas fraturas múltiplas nas pernas e nos braços,
mas também deficiência auditiva direita e incapacidade permanente total para o exercício de quaisquer funções,
em que pese tratamento ortopédico por três anos, incluindo cirurgias e fisioterapia (fls. 129/130).
Inapto para quaisquer atividades que pudessem lhe garantir o pão de cada dia, o autor, em decorrência do
acidente, passa a necessitar da generosidade alheia, o que é muito difícil de ser conseguida. Se não houve danos
morais, não houve apenas para os requeridos. O valor indenizatório em favor do requerente, a título de danos
morais, deve ser fixado conforme a gravidade decorrente do ilícito.
A quantificação dos danos morais, pelo regime aberto, deve ser operada através de livre arbítrio judicial, tendo
como parâmetros a posição econômica e social das partes, a grave culpa do agente e as múltiplas repercussões da
ofensa na vida do autor, não devendo a indenização desfigurar a essência moral do direito.
Na espécie, o demandante é pessoa simples. Não há maiores elementos de convicção sobre as condições
econômicas dos demandados, mas a seguradora confere solvabilidade ao pólo passivo da actio. A culpa foi de grau
elevado e rendeu condenação criminal, daí emergindo a censurabilidade da conduta praticada. A ofensa ensejou o
óbito da esposa do requerente, que em decorrência do mesmo acidente, passou a ter ausência de locomoção,
surdez no ouvido direito, imobilidade de um dos braços, inabilitação para o trabalho, além da baixa em sua auto-
estima.
Nesse contexto, mantém-se a sentença apelada porque o valor indenizatório equivalente a 300 salários mínimos à
época do acidente não desnatura a essência moral do direito em tela e tampouco avilta a importância do bem
protegido juridicamente.
Assim, o recurso nesse particular é desprovido.
e) Constituição de capital:
Os recorrentes pretendem seja arredada a verba do art. 602 do CPC.
Sem razão, porém.
A constituição de capital só pode ser arredada se houver manifesta solvabilidade do credor, do que não se cogita na
espécie, pelo que deve subsistir.
Sobre a temática já decidiu esta e. Corte:
"A constituição de capital é medida prevista no art. 602, do Codex Instrumentallis e deve ser fixada sempre que a
indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, a fim de assegurar seu devido cumprimento" (Ap. cív. n.
2003.001213-3, de Jaraguá do Sul, rel. Des. Dionízio Jenczak).
Não merece provimento o recurso dos réus no tocante à caução referida no art. 602 do CPC, que resta mantida.
f) Honorários advocatícios:
O reclamo pretende a redução do estipêndio honorário e o reconhecimento da sucumbência recíproca.
Sem razão.
Sendo a causa complexa e demonstrando o patrono do autor zelo profissional, justifica-se a fixação do estipêndio
honorário no máximo legal.
A parcela excluída - redução da pensão alimentícia - não foi de grande monta, pelo que reputo aplicável a norma
contida no parágrafo único do art. 21 do CPC, havendo decaimento de parte mínima dos pleitos formulados.
Assim, desmerece amparo a súplica recursal nesse tópico.
Ante o exposto, voto pelo desprovimento do recurso dos demandados.
2 - Recurso da seguradora litisdenunciada:
O reclamo da seguradora se prende ao seguinte: a) responsabilidade solidária ; b) cobertura da apólice por
danos morais; c) quantificação dos danos morais; d) pensão por incapacidade laborativa.
a) Responsabilidade solidária :
Em princípio, a responsabilidade da seguradora decorre de direito regressivo, conforme se extrai claramente do
art. 70, III, do CPC, o que arredaria, tecnicamente, a responsabilidade solidária .
Todavia, com a evolução da matéria na doutrina e nos pretórios pátrios, tem-se admitido o ajuizamento direto da
demanda em face da seguradora e dos causadores do evento, o que obviamente revela o acerto da tese
preconizada na r. sentença, que condenou solidariamente a litisdenunciada.
Sobre o tema traz-se a lume excerto desta colenda Segunda Câmara de Direito Civil, de minha relatoria, em que
matéria foi exaustivamente debatida:
"Daí emerge que resultando facultativa a denunciação no caso de contrato de seguro de responsabilidade civil,
subsiste viável a detonação de demanda autônoma contra a seguradora.
"Ademais, militam em favor desse mesmo entendimento os princípios da instrumentalidade, da solvabilidade, da
economia e da celeridade.
"Afinal, não seria de se admitir que, sendo o processo um instrumento de composição de litígios e de realização da
Justiça, o imperativo maior da concretização do direito material fosse embaraçado pelo injustificado apego ao
fetiche da forma.
"Da mesmo sorte, resulta elementar que a responsabilidade , ao final, nos limites da apólice, seria mesmo vertida
à seguradora, que detém indubitável solvabilidade, pelo que a propositura da ação diretamente contra ela também
condiz com os princípios da economia e da celeridade.
"Enfim, o Código Civil de 2002 parece ter abraçado a tese da ação direta, ao dispor, em seu art. 787, que 'no
seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a
terceiro', estabelecendo ainda o art. 788, mesmo que especificamente para os seguros obrigatórios, que 'nos
seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro poderá ser paga pelo segurador
diretamente ao terceiro prejudicado'" (TJSC - Apelação cível n. 03.017781-7, de Blumenau).
Em arremate, colhe-se desta e. Corte:
"A responsabilidade da seguradora/denunciada não está embasada na culpa deste ou daquele pelo infortúnio,
mas no contrato de seguro que celebrou com a empresa de transportes/denunciante, cuja apólice foi juntada aos
autos. Não há como excluir a seguradora da responsabilidade civil solidária no ressarcimento da indenização..."
(Apelação cível n. 02.017806-9, de Concórdia, Rel. Des. Wilson Augusto do Nascimento).
Assim, a responsabilidade da seguradora subsiste solidária .
b) Cobertura da apólice por danos morais:
Relativamente à cobertura pelos danos morais, vem proclamando o Superior Tribunal de Justiça:
"O contrato de seguro por danos pessoais compreende o dano moral, recurso conhecido e provido em parte" (REsp
106326/PR, Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 12.5.1997 p. 18.813, RSTJ 99/281).
Quando chamado a resolver problema idêntico ao do caso sub judice, estribado em entendimento do STJ, o Tribunal
de Justiça de Santa Catarina vem adotando o seguinte entendimento:
"Inquestionavelmente, os danos morais subsumem-se na classificação de danos pessoais. Prevista no contrato de
seguro cobertura para os danos pessoais, os danos morais enquadram-se na responsabilidade de ressarcimento
da seguradora, impondo-se, pois, ressarcidos por conta da apólice que rege as relações estabelecidas entre a
responsável direta pela reparação advinda do cometimento de ilícito e a companhia de seguros denunciada à lide"
(Apelação Cível n. 98.015971-7, de Biguaçú, Rel. Des. Trindade dos Santos).
A responsabilidade da seguradora, assim, subsiste, mas adstrita aos limites da apólice, conforme o decidido na r.
sentença, descabendo o recurso nesse tópico.
c) Quantificação dos danos morais:
Os danos morais foram apreciados e mantidos por ocasião do reclamo dos demandados (supra), pelo que o
presente recurso, nesse ponto, não merece provimento.
d) Pensão por incapacidade laborativa:
Sem fundamentar, a seguradora apelante pretende o reconhecimento de incapacidade laborativa parcial do
requerente.
Sem razão, todavia, consoante o que já ficou decidido acima.
Ante o exposto, voto pelo desprovimento do recurso da seguradora.
3 - Recurso do autor Valdemar Hahn:
O reclamo se prende ao seguinte: a) majoração da pensão; b) pensão pela morte da esposa; c) majoração dos
danos morais; d) fluência da correção monetária e dos juros de mora.
a) Majoração da pensão:
Conforme se registrou acima, "na hipótese dos autos, de conformidade com o laudo pericial de fls. 129/130, o
demandante se encontra total e permanentemente incapacitado para as atividades braçais que antes
desempenhava. Logo, a pensão deve ser vitalícia e corresponder à totalidade dos proventos auferidos".
Assim, se a incapacitação foi total, não há razão para que a verba seja fixada em 1/3 dos proventos auferidos,
devendo alcançar a totalidade dos mesmos, que importam em 5,5 salários mínimos vigentes ao tempo do ilícito (fls.
20/24 e 150).
Destarte, provejo o recurso para que a pensão incida sobre 5,5 salários mínimos vigentes ao tempo do ilícito.
b) Pensão pela morte da esposa:
Ao contrário do que concluiu o digno julgador singular, a pensão pela morte da esposa, em favor do marido e dos
filhos, é efetivamente devida, ainda que ela não exercesse atividade laborativa remunerada e apenas se dedicasse
às lides domésticas. O estipêndio, nesse caso, assume caráter assistencial e objetiva ressarcir a subtração da
poupança doméstica que a consorte possibilitava.
Nesse vértice a lição de RUI STOCO, em seu Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, 4. ed.,
RT, 1999, pp. 711-712:
"Conforme anotou CARLOS ROBERTO GONÇALVES, 'com relação à morte da mulher que não trabalha, havia a
orientação tradicional: ao marido não cabia direito à indenização, chegando-se mesmo a entender que a perda dos
trabalhos domésticos, que eram feitos pela mulher, seria compensada pelas despesas que o marido deixaria de ter'.
"O entendimento até então prevalecente era de que a mulher não deve alimentos ao marido, mas este os deve a
ela, nos termos do art. 233, IV, do CC de 1916, de modo a não poder pleiteá-los o marido que perde a mulher em
acidente ou em razão de homicídio.
"Atualmente, evoluiu-se no sentido de que as verbas mencionadas no art. 1.537 do CC de 1916 [danos emergentes
e lucros cessantes] são apenas exemplificativas, devendo ser indenizados todos os prejuízos que o cônjuge - seja o
homem ou a mulher - comprovar ter sofrido.
"Não há como negar que a ausência da esposa (como a do marido), mesmo não exercendo atividade profissional
fora do lar, desorganiza e altera a estrutura da família, exigindo maior esforço econômico e impondo maior
despesa na mantença da casa, além de obrigar todos a uma sobrecarga de tarefas para suprir a sua ausência na
realização dos afazeres de rotina que, via de regra, ficam a cargo da dona de casa.
"A pensão é cabível independentemente de a mulher (ou o menor) exercer ou não atividade externa.
"Ora, a atividade doméstica que a mulher exerce junto da família é imprescindível. Sem ela, por certo, o marido
não terá condições mínimas para exercer o seu mister e sustentar sua prole.
"Essa atividade interna da mulher tem um significado preponderante e , como vem sendo reconhecido por
doutrinadores de escola e pelos tribunais, tem um valor econômico aferível.
"Portanto, traduz-se num ressarcimento de natureza material em razão da efetiva perda de uma contribuição
fundamental da mulher" (grifei).
Colhe-se da jurisprudência pátria:
"O marido tem legitimidade ativa para pleitear indenização por morte da esposa em acidente de trânsito, ainda que
não exercesse ela profissão fora do lar, eis que ajudava no sustento e na manutenção da família" (1º TACSP - 6ª
C. - Ap. Cív., rel. Juiz Carlos Roberto Gonçalves, in RT 641/181).
E desta e. Corte:
- "Cabível a indenização pela morte da mãe ou esposa, mesmo que não exerça atividade remunerada, porque sua
função de auxiliar do marido, paralelamente à manutenção e criação dos filhos, é uma espécie de poupança que
merece ressarcimento na sua falta, pela tranquilidade que propicia ao marido, companheiro e aos filhos, na
manutenção e subsistência da família" (Ap. Cív. n. 00.001765-5, da Capital, rel. Des. Solon d'Eça Neves).
Portanto, é devida a pensão em favor do marido, na hipótese de óbito da mulher, ainda que ela não exercesse
atividade laborativa remunerada, presumindo-se sua contribuição na formação de um pecúlio comum, importando o
estipêndio em 2/3 de um salário mínimo (vigente na época do evento), da data do sinistro até o momento em que a
vítima completaria 65 anos de idade, cessando com a morte do pensionado.
O capital deve ser acrescido de correção monetária e juros legais de mora a partir do ilícito (Súmulas 43 e 54 do
STJ), cumprindo-se o disposto no art. 602 do CPC.
Assim, provejo o recurso nesse ponto para condenar os réus ao pagamento de uma pensão em favor do autor de
2/3 de um salário mínimo vigente à época dos fatos, da data do sinistro até o momento em que a vítima
completaria 65 anos de idade.
c) Majoração dos danos morais:
O estipêndio não reclama majoração, mesmo porque a sentença apelada foi mantida, conforme fundamentação
anterior.
d) Fluência da correção monetária e dos juros de mora em relação à pensão e aos danos morais:
A correção monetária e os juros de mora, em se cogitando de ato ilícito, correm da data do evento danoso
(Súmulas 43 e 54 do STJ), com exceção dos danos morais, que devem ser atualizados a partir do arbitramento
(data da sentença).
Sobre o tema já decidimos:
"A correção monetária e os juros de mora incidentes na pensão decorrente de responsabilidade civil delitual,
devem fluir a partir da data do evento (Súmulas 43 e 54 do STJ)" (TJSC, 2ª Câmara de Direito Civil, Ap. Cív. n.
01.025110-8, de Canoinhas (o grifo é meu).
Nesse vértice já decidiu esta e. Corte:
- "A correção monetária da indenização do dano moral inicia a partir da data do respectivo arbitramento; a
retroação à data do ajuizamento da demanda implicaria corrigir o que já está atualizado" (EDREsp 194.625/SP, rel.
Min. Ari Pargendler, j. 24/06/2002 in Ap. Cív. n. 2003.027112-0, da Capital, rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben).
Os juros de mora, na hipótese, são simples e não compostos, eis que houve condenação criminal por crime
culposo:
"Segundo o entendimento reiterado desta Corte de Justiça, a inclusão de juros compostos na satisfação dos danos
justifica-se quando há prática de crime doloso" (JC 48/126 in Ap. Cív. n. 2000.008112-4, de Concórdia, rel. Des.
Marcus Tulio Sartorato - grifei).
Assim, a argüição merece parcial acolhida.
Ante o exposto, voto pelo parcial provimento do reclamo do autor para, em conseqüência, elevar a pensão
alimentícia, por sua inabilitação laboral, total e permanente, para 5,5 salários mínimos vigentes ao tempo do ilícito;
condenar os réus ao pagamento de uma pensão em favor do autor de 2/3 de um salário mínimo vigente à época
dos fatos, da data do sinistro até o momento em que a vítima completaria 65 anos de idade; e ordenar que a
correção monetária e os juros de mora corram da data do evento danoso (Súmulas 43 e 54 do STJ), com exceção
dos danos morais, que devem ser atualizados a partir do arbitramento (data da sentença).
III - DECISÃO:
Nos termos do voto do relator, à unanimidade, esta Segunda Câmara de Direito Civil decide: 1) conhecer dos
recursos; 2) desprover o reclamo dos demandados; 3) desprover o da seguradora; 4) prover em parte o do autor.
Participou do julgamento o Exmo. Sr. Desembargador Luiz Carlos Freyesleben.
Florianópolis, 25 de novembro de 2004.
MAZONI FERREIRA
Presidente com voto
MONTEIRO ROCHA
Relator
2
Apelação cível n. 03.003281-9
APELAÇÃO CÍVEL
Nº 70005321880
SANTO ÂNGELO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à
unanimidade, em negar provimento aos recursos de apelação.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores,desembargadores, Des. Orlando Heemann
Júnior, Presidente, e Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro.
RELATÓRIO
Primeira apelação:
Relata o apelante que o magistrado deixou de analisar as provas contidas nos autos e decidiu os pontos
controvertidos com base em impressões pessoais e suposições.
Afirma que o magistrado, contrariando as provas dos autos, dá a entender através de suposições, que a empresa
teve o intuito de arquitetar os fatos comprovados nos autos, para evitar a condenação em tela.
Aduz que o veículo Mercedes Benz, dado a Antonio Bertho de Paulo Júnior a título de pagamento de verbas
trabalhistas, foi transferido para ele, conforme os depoimentos das testemunhas, e dos documentos juntados.
Salienta ainda, que tal negociação não foi comprovada apenas por depoimento de testemunhas, mas também
através de uma farta documentação juntada, admitindo-se a prova testemunhal, seja qual for o valor do contrato,
quando há começo de prova por escrito.
Afirma também,que foi trazido inúmeras notas fiscais, recibos, que comprovam que Antonio era o real
proprietário do caminhão antes do acidente, o que confirma os depoimentos das testemunhas.
Relata que analisando as provas contidas nos autos chega-se a conclusão de que quando o acidente ocorreu, o
caminhão não pertencia mais a empresa, e que o apelante não era mais empregado da empresa.
Aduz que não há como fazer prevalecer que a pessoa jurídica em cujo nome esteja registrado o veículo , seja
responsável pelos danos causados, visto que ficou comprovada a transferência do caminhão bem antes do acidente.
Quanto ao pensionamento, pede que dos R$ 500,00 a que foram condenados a título de indenização, seja reduzido
o dinheiro com que o obituado gasta com si próprio ou seja 1/3, até a idade de 65 anos, e não 70 anos como na
sentença. A pensão deve ser devida aos filhos menores até os 21 anos de idade, ou até seus casamentos.
A sentença deve ser reformada também, no que tange aos danos morais, reduzindo-os para 100 salários mínimos,
valor esse suficiente para compensar a dor sofrida.
Em relação aos juros de mora e correção monetária, devem incidir a partir da data da publicação da sentença, ou
em última hipótese, da data da citação.
Segunda apelação:
Afirma a apelante que o magistrado ao fixar a quantia a ser adimplida pelos requeridos a título de dano moral, não
considerou a dimensão do evento. Entende que a indenização arbitrada é muito pequena, porque deverá ser
dividida entre todos os autores.
Pede que a verba dos danos morais seja majorada para a quantia de 1000 salários mínimos, ou alternativamente
200 salários mínimos para cada autor.
Houve manifestação do Ministério Público pela procedência dos pedidos.
É o relatório.
VOTO
DR. MARCELO CEZAR MÜLLER (RELATOR) -Eminentes colegas, o voto é no sentido de manter a sentença
hostilizada.
Quanto à primeira apelação:
Importante se faz mencionar o parecer do MP, que também foi adotado na sentença pelo juiz de direito Dr. André
Guidi Colossi, a respeito da controvérsia acerca da vinculação da empresa ora apelante, com Antônio Bertho.
"Por primeiro, de dizer que a entrega de um Mercedes Benz para um empregado, a título de pagamento de rescisão
trabalhista, é algo inusitado. Mais inusitado ainda, quando, tendo em vista que o valor do Mercedes Benz era
superior aos dos direitos trabalhistas do segundo requerido, a empresa aceitou receber como compensação um
modesto terreno contendo uma casa de ínfimo valor".
...
"De outra parte, causa estranheza que o requerido Antônio Bertho, tendo recebido o caminhão Mercedes Benz em
1992, até outubro de 1996, data do evento, não providenciou na transferência do veículo , situação que, a sentir
do parquet, sinaliza pela inexistência da alegada negociação entre os requeridos. Ademais, a empresa requerida
tinha perfeita ciência das graves conseqüências que poderiam advir do fato de ter um caminhão em nome da firma
rodando pelo Brasil, inobstante a alegada tradição".
...
"No mesmo diapasão, inobstante o representante legal da primeira requerida diga, à fl. 255, que o demandado
Antônio, após a rescisão do contrato de trabalho em 1992, desapareceu,sendo impossível a sua localização,
surpreendentemente a empresa requerida tem em seu poder diversas notas fiscais e borderôs referentes ao
caminhão Mercedes Benz supostamente alienado ao demandado Antônio."
"De regra, tais documentos são entregues diretamente á pessoa interessada. Assim restou demonstrado que não
houve tradição do veículo Mercedes Benz, e que quem continuava gerenciando o veículo e o demandado
Antônio era a empresa Spagolla, devendo esta responder solidariamente, pelo indenização dos danos causados aos
autores...(fl. 331 e 332)
Chega-se à conclusão de que, se houvesse mesmo sido transferido o caminhão para Antônio, jamais deixariam
transcorrer quatro anos sem ser efetuada a transferência.
Cabe ressaltar que as testemunhas, trazidas aos autos pela apelante, são ligadas ao requerente pelo vínculo
empregatício.
Em momento algum, o juiz a quo contrariou as provas trazidas aos autos, nem muito menos fez uso de suposições
para basear o julgamento, pois somente elucidou fatos presentes no processo .
No que tange a alegação de que a negociação feita entre a empresa apelante e Antônio Bertho não foi provada
somente com prova testemunhal, não é esta passível de acolhimento, considerando que a documentação
apresentada pela empresa ré não provou em momento algum a tradição do caminhão, fazendo ainda prova em
sentido contrário.
Ademais, em nenhum momento ficou comprovada a tradição do caminhão, e admissível mencionar que antes da
tradição o direito real não se traspassa.
Assim aplica-se a hipótese do art. 401 do CPC, pois neste caso, o caminhão cuja questão versava valia no ano de
2000 R$ 18.000,00, por isto a prova exclusivamente testemunhal não seria suficiente.
A responsabilidade solidária é nítida neste caso, seguindo o art. 1518, caput e parágrafo único do Código
Civil, e também o art. 1521, inciso III, do mesmo texto legal .
Oportuno salientar que o réu Antônio Bertho Paulo Júnior foi condenado no processo crime, sendo esta questão
definida na esfera criminal. Cabível então, examinar o art. 63 do CPP:
"Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para efeito da
reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros."
Quanto ao valor do pensionamento, este fica prejudicado visto que a sentença já considerou o pedido.
No que tange a data de vigência do pensionamento deve esta ser mantida como na sentença, ou seja, devida aos
filhos menores até a data em que completarem 21 anos e à viúva, até a data em que o falecido completaria 70
anos.
Conforme decisão desta Corte:
"AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. 1. CULPA CONCORRENTE CARACTERIZADA
PELO AGIR CULPOSO DO MOTORISTA DO MICRO-ÔNIBUS, QUE AO PRETENDER INFLETIR A ESQUERDA, SEM
TOMAR AS CAUTELAS NORMAIS, COLIDIU COM MOTOCICLETA, PILOTADA DA VÍTIMA, QUE A CONDUZIA EM
VELOCIDADE IMODERADA E SEM CAPACETE. 2. O TERMO FINAL DO PENSIONAMENTO DEVE LEVAR EM CONTA A
DATA EM QUE A VÍTIMA COMPLETARIA 70 ANOS DE IDADE. 3. VALORES A TITULO DE DANOS MATERIAIS E
PENSIONAMENTO BEM DOSADOS. 4. VALOR DA CONDENACAO A TITULO DE DANOS MORAIS MAJORADO. 5. OS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, EM HAVENDO SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA, SÃO COMPENSÁVEIS (ART.21, CAPUT,
DO CPC). APELACOES PARCIALMENTE PROVIDAS. (7FLS.) (APELAÇÃO CÍVEL Nº 598353720, DÉCIMA PRIMEIRA
CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES, JULGADO EM
31/05/00)."
Desta maneira bem colaciona a sentença prolatada pelo juiz de direito Dr. André Guidi Colossi:
"Em que pese se encontre jurisprudência que considere os 65 anos de idade da vítima como termo "ad quem",
comum é , notadamente neste Estado, uma vida - inclusive economicamente ativa - por tempo superior. A
determinação da expectativa de vida da vítima em 70 anos também tem amparo jurisprudencial: RJTJRS 198/309."
Em relação aos danos morais não merece guarida o pedido do apelante, sendo a quantia arbitrada na sentença a
mais correta, guardando uma certa proporcionalidade. Portanto, o equivalente a 350 salários mínimos a título de
dano moral segue parâmetros de sensatez.
Assim:
"Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e
outras circunstâncias mais que se fizerem presentes."( FILHO, Sérgio Cavalieri, Programa de Responsabilidade
Civil. 3ºed, Ed Malheiros, 2001, págs 97 e 98)
Os índices de correção monetária e os juros de mora devem incidir a partir da data do evento observadas as
súmulas 43 e 54 do STJ, respectivamente elencadas abaixo :
"Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo".
"Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual".
Neste sentido:
"RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. 1. RECURSO
ADESIVO. JUROS LEGAIS A CONTAR DO EVENTO DANOSO. SÚMULA 54 DO STJ. PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS. 2. APELAÇÃO. CONFISSÃO FICTA RESULTANTE DA REVELIA. EXEGESE DOS ARTS. 340, I, E
343, §§ 1º E 2º, AMBOS DO CPC. COLISÃO POR TRÁS. PROVA QUE APONTA O AGIR CULPOSO DO CONDUTOR
DA MOTOCICLETA. PRESUNÇÃO DE CULPA NÃO ELIDIDA NO CONTEXTO PROBATÓRIO. APELAÇÃO DESPROVIDA.
RECURSO ADESIVO PROVIDO. (APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO Nº 70004477972, DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA
CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. NAELE OCHOA PIAZZETA, JULGADO EM 25/09/02)"
Assim, mantém-se a quantificação dos danos morais assim como os fixados na sentença, por entender ser razoável
a quantia arbitrada.
À conclusão.
Mantida a sentença.
Ante o exposto, o voto é no sentido de negar provimento aos recursos de apelação.
MCM
Nº 70005321880
2002/CÍVEL
Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais. I - Contrato de
Arrendamento Mercantil. Ilegitimidade da arrendadora para responder solidariamente pelos danos causados com o
veículo objeto do contrato a terceiros. Recurso Especial pendente quanto à questão da ilegitimidade não tem
efeito suspensivo, nos termos do art. 542, § 2º, do CPC. II - Responsabilidade solidária da arrendatária do
veículo , guardiã do bem, e do condutor pelos danos causados aos autores. III - Pensão. Não comprovados os
rendimentos da autora como advogada, correta a sentença que determinou a apuração dos rendimentos através de
liquidação de sentença. IV - Danos emergentes do autor varão não evidenciados. V - Descabida a indenização
postulada pela mãe por cuidar da filha acidentada. VI - Manutenção da indenização por danos morais aos autores.
VII - Majoração dos honorários dos procuradores dos autores. VIII - Denunciação à lide. A obrigação da seguradora
é exclusiva com o segurado, descabendo o reembolso de terceiros. Não comprovada a culpa grave do condutor
do veículo segurado. IX - Contrato de seguro e dano moral. O dano moral é espécie do dano pessoal. Previsto o
reembolso do dano pessoal, que pode ser físico ou psíquico, cabível o ressarcimento do dano moral, observado o
limite da apólice de seguro. Apelações dos autores e da denunciada à lide providas em parte.
APELAÇÃO CÍVEL
Nº 70004146452
PORTO ALEGRE
EM REGIME DE EXCEÇÃO
1ª APELANTE/APELADA;
APELADA;
APELADA.
ACÓRDÃO
Acordam os integrantes da Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em
prover em parte as apelações dos autores e da denunciada à lide.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores Des. Voltaire de Lima Moraes, Presidente,
e Des. Bayard Ney de Freitas Barcellos.
RELATÓRIO
Cuida-se de recursos de apelação interpostos por ISABEL CRISTINA SILVEIRA BONOTTO, VALDIR ALBINO DIAS
BONOTTO, PRISCILA SILVEIRA BONOTTO, PATRÍCIA SILVEIRA BONOTTO, ANDRÉ SILVEIRA BONOTTO, PAULA
SILVEIRA BONOTTO, IEDA FURASTÉ DA SILVEIRA e por BRADESCO SEGUROS S.A. contra a sentença de fls.
828/834 que, nos autos da AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ajuizada pelos primeiros apelantes contra ROGER
ANTÔNIO PERUZZO, DIVAP - DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS E AUTOPEÇAS LTDA e NORCHEN LEASING S.A.
ARRENDAMENTO MERCANTIL, julgou procedente em parte o pedido, condenando o requerido Roger no
ressarcimento das despesas efetuadas pela autora Isabel com o tratamento, incluídos os honorários médicos, as
despesas com hospital, com fisioterapia, com medicação e com acompanhamento técnico, bem como de
profissional da área de enfermagem, enfim, de todos os pagamentos que os autores fizeram e vieram e efetuar a
esse título, a serem apurados em liquidação de sentença.
Também condenou o requerido Roger no pagamento de pensão mensal em favor da autora Isabel, a ser arbitrada
em liquidação de sentença. Ainda, acolheu o pedido do autor Valdir de ressarcimento de lucros cessantes, a serem
especificados em liquidação de sentença.
Quanto aos danos morais, condenou o requerido Roger no pagamento de indenização equivalente a 400 salários
mínimos para a autora Isabel, a 100 salários mínimos para o autor Valdir e a 50 salários mínimos para a autora
Ieda.
Além disso, julgou improcedente o pedido em relação à requerida DIVAP e extinta ação em relação a Norchen
Leasing S.A.
Quanto à denunciação à lide, julgou procedente o pedido, condenando a denunciada a ressarcir os valores
desembolsados pelo denunciante, nos limites da apólice.
Por fim, condenou o requerido Roger e a denunciada no pagamento de 70% das despesas processuais e dos
honorários ao patrono dos autores, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação. Por sua vez, os autores foram
condenados no pagamento do restante das custas, bem como dos honorários dos procuradores da DIVAP e da
Norchen Leasing S.A., fixados em 10 salários mínimos para cada um, cuja exigibilidade restou suspensa face ao
deferimento do benefício da justiça gratuita.
O primeiro recurso foi apresentado por Isabel Cristina Silveira Bonotto, Valdir Albino Dias Bonotto, Priscila Silveira
Bonotto, Patrícia Silveira Bonotto, André Silveira Bonotto, Paula Silveira Bonotto e Ieda Furasté Da Silveira (fls.
843/852).
Inicialmente, sustenta que não foi ressalvado pela sentença a responsabilidade da requerida Nolchen Leasing
S.A., vez que pende recurso especial no STJ.
Nesse sentido, refere que a responsabilidade do arrendador é objetiva, inerente ao proprietário da coisa
frente aos danos causados a terceiros pelo eventual uso indevido.
Ademais, lembra que a Cláusula VI do contrato de leasing prevê a hipótese de responsabilidade civil por danos a
terceiros eventualmente não cobertos por seguro, bem como a obrigação de indenização regressiva da arrendatária.
Acrescenta, ainda, que na mesma cláusula a arrendadora obriga a arrendatária a comunicar quaisquer intimações e
citações referentes a danos sofridos por terceiros, o que evidencia sua pretensão de garantir a posição de assistente
litisconsorcial.
Portanto, conclui que a requerida deve ser responsabilizada, ou, no mínimo, que deve ser ressalvado no acórdão o
direito dos autores de buscarem a indenização, na condição de devedora solidária da empresa, caso seja provido
o recurso especial.
Em relação à requerida DIVAP, argumenta que houve equívoco do juízo a quo, pois não há coisa julgada, mas
reflexo da sentença condenatória do requerido Roger.
Dessa feita, a requerida DIVAP, arrendatária do veículo , responde objetivamente pelos danos causados,
cumprindo-lhe demonstrar a ausência de culpa de seu sócio, o que, por sua vez, é inviável em razão do trânsito
em julgado da sentença condenatória.
Por outro lado, sua responsabilidade também pode ser verificada na condição de pessoa jurídica pelo ato de seu
sócio, o qual causou o acidente.
Além do mais, observa que o conjunto probatório dá inteiro suporte à tese dos ora apelante, com ênfase para os
laudos médico e psicológico.
Em relação aos danos materiais, aduz que houve equivoco do juízo de primeiro grau ao remeter a fixação da pensão
mensal para a fase de liquidação de sentença. Isso porque, face à insuficiência de elementos, no mínimo deveria ter
sido arbitrada pensão mensal em valor equivalente ao salário mínimo profissional do advogado, segundo o Sindicato
dos Advogados.
No que diz com os danos emergentes, afirma que devem ser apurados em sede de liquidação de sentença.
Quanto à indenização por serviços prestados pela autora Ieda, tem que a prova está no fato de a mesma ter saído
de sua casa para residir com a filha e com os netos a fim de melhor os atender.
Relativamente à indenização por danos morais, pleiteia a sua majoração, dados o enorme sofrimento dos autores.
Por fim, no que tange à verba honorária, requer que a arbitrada em favor do patrono dos ora apelantes seja
majorada. Por outro lado, entende não haver razão para o arbitramento de honorários em favor do procurador da
requerida Nolchen Leasing S.A., pois excluída do feito. Também entende descabida a fixação de honorários ao
patrono da requerida DIVAP, pois sua responsabilidade deverá ser determinada por esta Corte.
O segundo apelo foi apresentado por Bradesco Seguros S.A. (fls. 947/962).
De início, esclarece que o contrato de seguro que motivou a inclusão da apelante como denunciada à lide foi
firmado exclusivamente com a pessoa jurídica DIVAP - Distribuidora de Veículos e Autopeças Ltda.
Dessa forma, na medida em que a ação principal foi julgada improcedente em relação à empresa DIVAP, a lide
secundária restou automaticamente prejudicada, impondo-se a improcedência da denunciação.
Além do mais, giza que não há que se dizer que o contrato firmado entre a ora apelante e a empresa DIVAP
aproveita o demandado Roger, pois por força de contrato e de lei, somente a empresa segurada, enquanto
contratante, tem legitimidade para acionar a seguradora.
Alternativamente, caso seja mantida a procedência da denunciação à lide, sustenta a isenção da seguradora para
responder por qualquer prejuízo decorrente do ato ilícito cometido pelo motorista do veículo segurado, pois o
mesmo agiu com culpa grave.
Dessa maneira, afirma que a decisão de primeiro grau negou vigência ao disposto nos arts. 1.432, 1.435, 1.454 e
1.460, do CC, na medida em que condenou a seguradora no ressarcimento dos danos morais.
Aliás, em relação aos danos morais, entende que não são abrangidos pelos danos pessoais, os quais se
caracterizam por decorrerem de injúria ou de lesões físicas, de natureza corpórea.
Assim, conclui que os danos morais são uma modalidade à parte de dano, caracterizando-se por ofensa à
intimidade, à honra, ou seja, à subjetividade da pessoa humana, de ordem psíquica e emocional.
No que se refere à pensão mensal, diz que cumpria aos autores a prova relacionada aos seus rendimentos mensais,
nos termos dos arts. 159, do CC, e 333, I, do CPC.
Por fim, insurge-se quanto ao total da indenização por danos morais, arbitrada em 950 salários mínimos, por
entender ser totalmente desmedido, motivo pelo qual deve ser reduzido.
Ouvido o Ministério Público, nesta Instância, opinou pelo improvimento de ambos os recursos.
É o relatório.
VOTO
A camioneta envolvida no acidente, dirigida na época pelo requerido Roger Antônio Peruzzo, era objeto de contrato
de arrendamento mercantil entre Norchem Leasing S.A. Arrendamento Mercantil e Divap - Distribuidora de
Veículos e Autopeças Ltda., conforme o contrato de fls. 461/464.
Tenho o entendimento de que o arrendador não é solidariamente responsável pelos danos causados a terceiros
pelo arrendatário no uso do bem. O contrato de arrendamento mercantil não se confunde com o de locação, sendo
inaplicável a Súmula 492, do STF. Aliás, a jurisprudência deste egrégio Tribunal é pacífica em não admitir a
responsabilidade solidária , consoante as seguintes decisões:
É o arrendatário quem explora o bem, quem com ele tem renda e lucro. O arrendatário tem a guarda do bem e
por este deve zelar, fiscalizando o seu uso. A arrendadora, apesar de proprietária, não tem a posse do veículo ,
não podendo exercer diretamente o controle e vigilância sobre a coisa. Logo, não seria correto imputar-lhe a
responsabilidade pelos danos causados a terceiros.
No presente feito, a sentença considerou a arrendadora excluída do processo, não analisando a sua
responsabilidade quanto à indenização postulada pelos autores. Mesmo assim, julgou novamente extinto o
processo em relação à arrendadora.
A decisão de extinção do feito em relação à arrendadora (fls. 614/618) foi desconstituída na Segunda Instância (fls.
700/705), face à pendência de Recurso Especial interposto contra outra decisão colegiada que reconheceu a
ilegitimidade (fls. 555/560).
Então, pelos fundamentos acima, mantenho a sentença de extinção do processo com relação à arrendadora, já que
o Recurso Especial não tem efeito suspensivo, a teor do art. 542, § 2º, do CPC. Ademais, este processo não poderia
ficar eternamente aguardando a decisão do Recurso Especial, tendo em vista o disposto no art. 265, § 5º, do CPC.
Era obrigação do juízo singular impulsionar o feito.
No que tange ao requerido Roger Antônio Peruzzo, a questão da culpa já transitou em julgado. Consoante a
sentença e o acórdão prolatados na ação em que o autor Valdir Bonotto postulou o ressarcimento dos danos do
veículo , concluiu-se que Roger agiu culposamente, sendo o responsável pelo evento danoso (fls. 118/120 e
143/145).
Outrossim, tenho que a requerida Divap - Distribuidora de Veículos e Autopeças Ltda., como arrendatária da
camioneta dirigida por Roger, deve ser responsabilizada solidariamente pelos danos causados aos autores.
Segundo a cláusula IV.11 do contrato de arrendamento mercantil celebrado entre a Norchem Leasing S.A. e a
Divap, à arrendatária incumbia a guarda do veículo , respondendo por eventuais omissões no dever de guarda (fl.
469). Por sua vez, a cláusula VI.17 prevê a responsabilidade da arrendatária pelos danos causados a terceiros,
não cobertos pelo seguro (fl. 470).
Portanto, sendo guardiã do bem, era dever da arrendatária zelar pelo bom uso do veículo , o que não ocorreu, pois
o seu sócio acabou se envolvendo no acidente objeto deste processo. Como a arrendatária não dispensou os
cuidados necessários ao uso do veículo , responde solidariamente pelos danos causados aos autores.
Apesar de ser advogada, não foram comprovados os rendimentos mensais da autora Isabel. Por isso, descabe fixar
a pensão de acordo com o salário mínimo profissional do advogado, já que desconhecida a intensidade do trabalho
da autora, até a data do sinistro. Poderia estar ganhando mais do que o salário mínimo profissional, ou poderia
estar ganhando menos.
Logo, acertada a sentença ao determinar a apuração dos rendimentos da autora, através de liquidação de sentença.
Essa a orientação da jurisprudência:
RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANO MATERIAL. LUCROS CESSANTES. DANO MORAL.
ILEGITIMIDADE ATIVA DO APELANTE PARA POSTULAR DANOS MATERIAIS OCORRIDOS EM BEM QUE NÃO É DE
SUA PROPRIEDADE. NÃO EXISTINDO ELEMENTOS NOS AUTOS PARA AFERIR A MÉDIA DOS RENDIMENTOS
AUFERIDOS PELO AUTOR, NECESSÁRIA A REALIZAÇÃO DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA PARA APURAÇÃO DOS
VALORES DEVIDOS A TÍTULO DE LUCROS CESSANTES. CONSIDERADA A EXTENSÃO DO DANO ESTÉTICO SOFRIDO
PELO AUTOR E POR SER ELE PESSOA JOVEM, NECESSÁRIA A MAJORAÇÃO DA RESPECTIVA INDENIZAÇÃO (DANO
MORAL). PRESENTE A SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA, NECESSÁRIA A DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS, NOS TERMOS DO ART. 21, CAPUT, DO CPC, INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA OU NÃO DE
PEDIDO RECONVENCIONAL. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70005052394, DÉCIMA
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DR. MARCELO CEZAR MULLER, JULGADO EM
31/10/02);
AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPA DE MOTORISTA QUE, NÃO
COMPROVANDO A OCORRÊNCIA DE MAL SÚBITO, ADENTRA A CONTRAMÃO, OBSTRUINDO A TRAJETÓRIA DE
MOTOCICLETA E CAUSANDO A QUEDA DE SEU CONDUTOR . CONCORRÊNCIA DE CULPAS POR ALEGAÇÃO DE NÃO
ESTAR O AUTOR FAZENDO USO DE CAPACETE. INOCORRÊNCIA. DPVAT. PEDIDO DE DEDUÇÃO DE VALORES PAGOS
A TÍTULO DE SEGURO OBRIGATÓRIO. CABIMENTO. LUCROS CESSANTES. PROVA DA PERDA DE RENDIMENTOS
AUFERIDOS MEDIANTE GORJETAS. POSSIBILIDADE DA APURAÇÃO DE VALORES NA FASE DE LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. DANOS MORAIS. MAJORACAO DE 20 PARA 40 SALÁRIOS MÍNIMOS, EM FACE DA GRAVIDADE DAS
LESÕES SOFRIDAS. APELAÇÃO E RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDOS. (APELAÇÃO CÍVEL Nº
599267556, DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. BAYARD NEY DE
FREITAS BARCELLOS, JULGADO EM 13/10/99);
As vendas do apartamento e das cotas sociais do autor estão comprovadas pelos documentos de fls. 184/190.
Todavia, não há qualquer prova demonstrando que estas vendas aconteceram para custear o tratamento da autora
Isabel. Também, não há qualquer indício de que tais vendas aconteceram por valor inferior ao preço de mercado da
época das transações.
Da mesma forma, não há prova de que a autora Ieda tenha tido alguma despesa em razão do tratamento e
recuperação da filha Isabel. O fato de Ieda ter ido morar com a filha não comprova, por si só, gastos extras de sua
parte.
Ademais, como bem ressaltado pelo digno Procurador de Justiça, nesta Instância, o fato de a mãe deixar sua casa
e ir morar na casa da filha, não implica no reconhecimento de uma indenização. A mãe, assim como os filhos, tem
o dever de auxiliar e em assim agindo, não pode pretender ver este auxílio se transformar em indenização.
A sentença arbitrou a indenização em quatrocentos (400) salários mínimos para a autora Isabel; cem (100) salários
mínimos para o autor Valdir; e , em cinqüenta (50) salários mínimos para cada um dos quatro filhos e à autora
Ieda, totalizando setecentos e cinqüenta (750) salários mínimos.
As fotografias de fls. 290/299 mostram como era a autora Isabel antes do acidente, e como ficou depois do fato.
Nesse sentido, considerando o extremo sofrimento da autora, tanto físico como psíquico, em decorrência do
acidente, restando com seqüelas para o resto da vida, tornando-se uma pessoa praticamente improdutiva, bem
como o abalo emocional sentido pelos demais autores, presenciando o sofrimento da esposa, mãe e filha, tenho
que a indenização foi prudentemente arbitrada na sentença, descabendo majoração.
Inclusive, a indenização fixada para a autora Isabel aproxima-se do valor concedido por esta colenda Câmara em
casos de falecimento, o que, felizmente, não ocorreu com a autora.
7. Os honorários advocatícios.
Deve ser considerado que a ação está sendo julgada parcialmente procedente com relação à requerida Divap
tornando-se responsável solidária pelo pagamento da indenização postulada pelos autores.
De outro lado, o processo está tramitando desde outubro de 1996, portanto, há seis anos, com vários incidentes
processuais, principalmente, agravos de instrumento, demandando maior trabalho aos procuradores dos autores.
Não deve ser desconsiderado, no entanto, que a pretensão dos autores está sendo acolhida parcialmente e que o
valor da indenização é de vulto.
Assim, tenho que devem ser redimensionados os honorários dos procuradores dos autores para 13% sobre o valor
da condenação, inclusive sobre a indenização por danos morais e os valores a serem apurados em liquidação de
sentença, e mais uma anuidade das prestações vincendas da pensão destinada à autora Isabel.
Descabe a condenação dos autores no pagamento dos honorários do procurador da Divap, já que a requerida ficou
vencida na lide.
Mantenho a sucumbência dos autores com relação à requerida Norchem Leasing S.A., uma vez que excluída
expressamente do feito na sentença.
Há de ser mantida a obrigação da Bradesco Seguros S.A. em reembolsar a quantia que a segurada deve ressarcir
aos autores, até o limite da apólice, em razão da condenação imposta no feito a Divap - Distribuidora de Veículos e
Autopeças Ltda., com quem aquela mantinha contrato de seguro.
Efetivamente, em relação ao requerido Roger Peruzzo não existe nenhuma obrigação da denunciada à lide, pelo
menos quanto à indenização a que foi condenado a pagar na presente ação. Acontece que o contrato de seguro foi
celebrado apenas entre a Divap e a Bradesco Seguros S.A., conforme o documento de fl. 509.
No pertinente à culpa grave do motorista que dirigia o veículo segurado, tal não foi reconhecida expressamente na
sentença de fls. 118/120 e nem no acórdão de fls. 143/145. Durante a instrução do presente feito, a culpa grave
do motorista também não restou demonstrada, ônus da apelante. Logo, não há infração ao art. 1.454, do Código
Civil de 1916.
Outrossim, os danos morais são espécie dos danos pessoais. Como o contrato de seguro prevê a cobertura para os
danos pessoais, estes abrangem os danos físicos e psíquicos. A não previsão da cobertura dos danos morais não
pode ser considerada como exclusão contratual expressa. Nesse sentido, as seguintes decisões:
Por fim, quanto à pensão destinada à autora Isabel e à indenização por danos morais, reporto-me à
fundamentação expendida no recurso dos autores, evitando repetição.
Ante o exposto, dou provimento parcial às apelações dos autores e da denunciada à lide, nos termos acima.
JAPG
Nº 70004146452
2002/CÍVEL
Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. I - Culpa. Caracterizada a culpa do condutor do veículo que,
desgovernado, invade a pista contrária à sua mão de direção e colide frontalmente com outro veículo . II -
Responsabilidade solidária . O dever de indenizar do proprietário do automóvel que entrega as chaves a
terceiro decorre da culpa "in eligendo". III - Pensão mensal fixada em conformidade com os documentos juntados
nos autos. Desconto de um terço dos rendimentos mensais da vítima relativo às despesas pessoais. IV -
Indenização por danos morais. Manutenção do quantum fixado pela decisão de primeiro grau, pois bem apreciado o
grau de culpa do causador do acidente e a gravidade das lesões causadas aos autores, além de estar de acordo
com os parâmetros adotados por esta Câmara. V - Responde a seguradora pelos danos morais estabelecidos em
favor do ofendido, já que espécie dos danos pessoais. VI - DPVAT. O seguro obrigatório pode ser descontado do
montante da indenização (Súmula 246, do STJ), desde que comprovadamente pago. VII - Correção monetária. O
reajuste do valor da pensão mensal com base na variação anual do salário mínimo é critério compatível com a
atividade laborativa exercida pelas vítimas. VIII - Juros moratórios. Súmula 54, do STJ. Os juros de mora incidem
desde a data do evento danoso. IX - Honorários advocatícios. Verba adequada ao trabalho desenvolvido pelo
procurador dos autores, bem como à complexidade da causa. A base para o cálculo da verba honorária deve ser
constituída pelas parcelas vencidas, inclusive a indenização por danos morais, e de uma anuidade das parcelas
vincendas. Sucumbência recíproca. Distribuição do ônus sucumbencial. Recurso da primeira apelante provido
parcialmente. Recurso da seguradora improvido.
APELAÇÃO CÍVEL
Nº 70001988559
PORTO ALEGRE
ACÓRDÃO
Acordam os integrantes da Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar
parcial provimento ao recurso da primeira apelante e em negar provimento ao recurso da seguradora.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores Des. Manoel Velocino Pereira Dutra,
Presidente, e Des. Voltaire de Lima Moraes.
RELATÓRIO
Adoto na íntegra o relatório de fls. 540/544, da lavra do eminente Procurador de Justiça, Dr. Reginaldo Maciel
Franco, que transcrevo a seguir:
Sandro Alex Vieira Baltezan e sua irmã, impúbere, Luciana Vieira da Silva, por ele, guarda (fl. 26), representada,
e Tereza de Fátima Medeiros Almeida Tavares e os filhos desta, Katiuschia Almeida Tavares, Roberto Almeida
Tavares, púberes, e Rogério Medeiros Almeida Tavares, impúbere, por ela, respectivamente, assistidos e
representado, aforaram ação de indenização por danos materiais e morais contra Jane Marli Pereira Bilycz e contra
Bradesco Seguros S/A.
Segundo a inicial, em 13.12.97, cerca de 17h, ocorreu acidente de trânsito de que vieram a falecer Carmem Lúcia
Vieira Baltezan e Fernando Vieira da Silva, mãe e irmão dos dois primeiros autores, e Sidnei da Silva Tavares,
marido e pai dos demais.
Tais vítimas fatais estavam no veículo Chevette dirigido pela última, Sidnei, que foi colhido, frontalmente, por
automóvel do Gol da primeira demandada, conduzido por Renato Amorin de Oliveira, que se deslocava em sentido
oposto, em alta velocidade, tendo se desgovernado e invadido a contramão.
Na ocasião, o autor Roberto Almeida Tavares restou gravemente ferido.
Após emenda à inicial, os réus contestaram.
Bradesco Seguros S/A suscitou ilegitimidade passiva, por inexistir vínculo seu com os demandantes. No mérito,
após sinalar descaber antecipação de tutela, invocou os limites do seguro, que não se estendem aos danos morais.
Disse não ter culpa pelo evento e impugnou as parcelas pretendidas. Pediu fossem deduzidos os valores recebidos
a título de seguro obrigatório.
Jane Marli Pereira Bilycz suscitou defeito de representação e ilegitimidade ativa de Sandro Alex Vieira. No mérito,
salientou terem morrido ambos os condutores e alegou não haver prova de culpa do motorista do Gol, enquanto
que o do Chevette trafegava em veículo em precárias condições, com licenciamento vencido. Também impugnou
as parcelas postuladas, bem como o valor dado à causa, neste caso, em incidente autuado em apartado e acolhido
judicialmente.
Após réplica e outras manifestações das partes e do Ministério Público, foram rejeitadas as preliminares (fl. 274).
A seguradora interpôs agravo de instrumento, improvido por essa Colenda Câmara (apenso, fls. 282 a 287), e
recurso especial, recebido na forma retida (apenso, fl. 326).
Instruído o feito, com documentos, fotografias e prova oral, as partes apresentaram memoriais e o Ministério
Público se manifestou pela procedência.
Resultou sentença assim dispondo:
"(...) PELO EXPOSTO, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação para CONDENAR Jane Marli Pereira
Bilyes ao pagamento de alimentos à Katiuschia Almeida Tavares, Roberto Almeida Tavares e Rogério Medeiros
Almeida Tavares, no valor correspondente a R$ 313,34, bem como ao pagamento de alimentos à Luciana Vieira da
Silva, no valor de R$ 246,67, devidos desde a data do óbito até a maioridade daqueles ou até a conclusão do curso
universitário, valores que deverão ser descontados em folha de pagamento, e ainda para CONDENAR a BRADESCO
SEGUROS S/A e Jane Marli Pereira Bilyes ao pagamento de indenização por danos morais aos autores Sandro Alex
Vieira Baltezan, Luciana Vieira da Silva, Katiuschia Almeida Tavares, Roberto Almeida Tavares e Rogério Medeiros
Almeida Tavares, no valor correspondente a cem salários mínimos para cada um, os quais deverão ser convertidos
em moeda corrente por ocasião do trânsito em julgado da sentença e corrigidos monetariamente até o pagamento,
acrescidos de juros legais de mora, desde a data do fato (Súmula 54 do STJ), ressaltando que a responsabilidade
da seguradora se limita ao valor segurado, arcando a co-ré com o saldo.
Em razão da mínima sucumbência dos autores, que ainda gozam do benefício da AJG, arcarão as rés com a
integralidade da sucumbência, sendo os honorários do procurador dos autores fixados em 15% da condenação,
segundo as diretrizes do art. 20, § 3º, do CPC. (...)" (fl. 445)
Os autores apresentaram embargos declaratórios.
A 1ª demandada apelou.
Os embargos foram acolhidos para estabelecer que a correção monetária será anual, pela variação do salário
mínimo, desde maio de 1998, com juros de mora legais, a partir da data do fato, sobre as parcelas alimentícias
vencidas por ocasião do pagamento.
A seguradora apelou.
A 1ª demandada complementou sua apelação em face da decisão proferida nos embargos declaratórios.
Oportunizada intervenção ministerial e colhidas as contra-razões, vieram os autos.
Acrescento, ainda, que o Ministério Público, nesta Instância, opinou pelo provimento parcial do primeiro apelo,
improvendo-se o segundo. Ainda, requereu a determinação relativa às quotas dos incapazes, nas indenizações por
danos morais.
Redistribuídos, vieram os autos conclusos, em regime de exceção.
É o relatório.
VOTO
A partir da análise dos autos, pode-se concluir que a culpa pela ocorrência do evento danoso foi do motorista do
veículo Gol, que invadiu a pista de rolamento contrária à sua mão de direção e colidiu com o automóvel Chevette.
Flávio Gomes Martins, em seu depoimento (fls. 308/313), referiu que o veículo de propriedade da apelante
trafegava em alta velocidade, superior a 120 Km//h. Por outro lado, também mencionou que o motorista do
Chevette não tinha ingerido qualquer bebida alcoólica antes do acidente e que se encontrava em plenas condições
para dirigir.
Ademais, recordou que, em decorrência da chuva, a pista de rolamento estava molhada no dia do acidente. Da
mesma forma, sustentou que o acidente ocorreu na mão de direção do Chevette, pois ao chegar no local do sinistro,
o veículo Gol estava atravessado no meio da pista, enquanto o Chevette estava em sua mão de direção, com a
traseira quase no acostamento da estrada.
Por sua vez, a testemunha presencial Luís Darlei Eidelwein (fls. 375/376), afirmou que visualizou a colisão entre os
veículos pelo espelho retrovisor de seu automóvel, sustentando que o Gol derrapou e ingressou adentrou na pista
contrária a sua mão de direção, colidindo frontalmente com o Chevette. Ainda, sustentou que a velocidade
imprimida pelo condutor do Gol era superior à desenvolvida pela testemunha, ou seja, 80Km/h.
Nesse ponto, não merece acolhida a argumentação de que o depoimento de Luís Darlei Eidelwein não é elucidativo,
nem conclusivo. Pelo contrário, entendo que se mostra previsível a reação da testemunha de olhar pelo retrovisor,
pois conforme relatado pela mesma, teve de levar seu automóvel para o acostamento a fim de conseguir desviar do
Gol, que trafegava desgovernado pela pista de rolamento. Afora isso, não foi comprovado que o campo de visão do
depoente não permitia que o mesmo visualizasse o acidente.
As demais testemunhas, ouvidas no Inquérito Policial, apesar de não terem presenciado o fato, referem que chovia
muito no dia em que ocorreu o acidente, fazendo com que se acumulasse água sob a pista, provocando
"aquaplanagem" (fls. 341/343).
Afora isso, saliento que de acordo com o apurado no Boletim de Ocorrência de fls. 326/327, o veículo Gol invadiu
a pista em que trafegava o Chevette, colidindo frontalmente com o último.
Por fim, saliento que o fato de o Chevette estar com o licenciamento vencido é mera irregularidade administrativa,
não podendo ser considerado como causa concorrente do acidente.
Diante desse quadro, tenho que restou cristalina a culpabilidade do condutor do automóvel Gol na ocorrência do
sinistro.
Nesse diapasão, tenho que a responsabilidade do veículo encontra-se configurada diante do nexo de
causalidade e dos danos sofridos pelas vítimas. O acidente de trânsito ocorreu por culpa do condutor do veículo
Gol CL 1.6, placas IGE 6157, de propriedade da apelante, com se depreende do documento de fls. 33 e 78.
Portanto, a apelante Jane deve responder pelos danos causados às vítimas, pois sua culpabilidade advém da culpa
in eligendo, ou seja, do fato de a mesma ter entregado as chaves do automóvel a terceiro causador do acidente em
que se envolveram as partes.
Nesses termos, as seguintes decisões:
Ressalto, ainda, que conforme a decisão proferida no julgamento do Agravo de Instrumento nº 700001711967,
pendente de Recurso Especial, a seguradora deve responder solidariamente pelos danos causados às vítimas (fls.
283/287 do Agravo de Instrumento em apenso).
Não há razão para alterar a pensão mensal arbitrada na sentença de primeiro grau, pois em conformidade com a
prova documental apresentada nos autos, a qual, aliás, não foi objeto de impugnação pela parte contrária. Além
disso, foi corretamente descontado um terço dos ganhos das vítimas relativo às despesas pessoais.
Nesse diapasão, ressalto que os rendimentos mensais de Sidney da Silva Tavares foram comprovados pelos
documentos de fls. 232/235, enquanto que a renda mensal de Carmem Lúcia Vieira Baltezan foi demonstrada pelos
documentos de fls. 236/238, bem como pelo depoimento de Fernando Faria Guaspari (fls. 314/315).
Ademais, como mencionado pelo ilustre representante do Ministério Público, eventual pensionamento pelo INSS não
elidiria o dever de prestar alimentos do responsável pelo ato ilícito, face à diversa natureza dos direitos envolvidos,
um previdenciário, para o qual a vítima contribuía e outro reparatório.
No que tange ao quantum fixado a título de indenização por danos morais (cem salários mínimos para cada autor,
com exceção da autora Tereza), deve ser mantido o valor arbitrado pela digna julgadora de primeiro grau,
principalmente se considerado que em prol da viúva e dos filhos das vítimas, além de bem apreciado o grau de
culpa do causador do acidente, a gravidade das lesões causadas aos autores (morte de familiares próximos: mãe,
pai, marido, filho e irmão) e em conformidade com os parâmetros adotados por esta Câmara.
Além do mais, a apelante Jane não demonstrou sua incapacidade em suportar o pagamento da indenização, até
porque sua argumentação restringiu-se ao fato de ser a mesma funcionária pública estadual.
Portanto, tenho que o montante da indenização por dano moral, equivalente a cem (100) salários mínimos para
cada autor, não se mostra excessiva, razão pela qual deve ser mantida.
Acolho, ainda, a sugestão do Ministério Público, determinando que as quotas dos autores menores de idade sejam
depositadas em caderneta de poupança, à disposição do juízo.
A empresa seguradora foi condenada solidariamente no pagamento da indenização por danos morais aos autores. O
contrato de seguro, por sua vez, abrange tanto os danos materiais como os danos pessoais causados a terceiros,
suportados, é evidente, até o limite da apólice (fls. 132/140).
É pacífico o entendimento desta Câmara de que o dano moral é espécie do dano pessoal. Dessa feita, em caso de
reconhecimento da responsabilidade , a indenização deve abranger a totalidade dos danos, sejam eles físicos ou
em sua estrutura psíquica. É o que orientam as seguintes decisões:
Assim, pouco importa se no contrato de seguro não está previsto o ressarcimento dos danos morais, o que não
pode ser entendido como exclusão contratual expressa. Portanto, cabível o reembolso à denunciante.
Quanto ao seguro obrigatório, pode ser descontado do montante da indenização, desde que comprovadamente
pago. No entanto, não é esse o caso dos autos, pois as requeridas não lograram êxito em demonstrar o
recebimento das importâncias pelos autores.
APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR ATO ILÍCITO. PRELIMINAR DE NULIDADE
AFASTADA. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM PARECER FINAL ANTES DA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO, POIS ACOLHIDA A PRETENSÃO EM QUASE SUA INTEGRALIDADE. PENSÃO MENSAL
FIXADA EM VALOR CORRESPONDENTE A 2/3 DOS GANHOS DA VÍTIMA. DANO MORAL FIXADO COM COERÊNCIA.
LIMITAÇÃO TEMPORAL DO PENSIONAMENTO ATÉ A DATA EM QUE A VÍTIMA COMPLETASSE 65 ANOS, CESSANDO
NO CASO DA CONVOLAÇÃO PELA VIÚVA DE NOVAS NÚPCIAS OU QUANDO OS FILHOS COMPLETAREM 25 ANOS OU
CONVOLEM NÚPCIAS. NECESSIDADE DA OCORRÊNCIA DE TODAS AS HIPÓTESES PARA A CESSAÇÃO DO
BENEFÍCIO. COMPENSAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO INCABÍVEL, POIS NÃO DEMONSTRADO O SEU
RECEBIMENTO OU MESMO O VALOR A QUE TERIAM DIREITO OS AUTORES. REJEITADA A PRELIMINAR. RECURSO
PROVIDO, EM PARTE. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 598096030, DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO RS, RELATOR: DES. MANOEL VELOCINO PEREIRA DUTRA, JULGADO EM 03/03/99).
No que se refere à correção monetária, entendo que não merece reforma a sentença a quo, pois o reajuste do valor
da pensão mensal com base na variação anual do salário mínimo é critério compatível com a atividade laborativa
exercida pelas vítimas.
Ademais, conforme referido pelo culto representante do Ministério Público, a circunstância de os reajustes dos
ganhos da primeira requerida, proprietária do veículo , não seguirem, necessariamente, os mesmos percentuais e
datas dos reajustes do salário mínimo, tal poderá ser objeto de consideração na fase executiva, em conformidade
com o disposto no art. 602, § 3º, do CPC.
Da mesma forma, deve ser mantida a sentença quanto à determinação de incidência dos juros moratórios de 06%
ao ano, pois, nos termos da Súmula 54, do STJ, incidem desde a data do evento danoso.
VIII - Do ônus sucumbencial.
Quanto à verba honorária, tenho que o percentual mostra-se adequado ao trabalho desenvolvido pelo patrono dos
autores, bem como à complexidade da causa. Todavia, entendo a base para o cálculo deve ser constituída pelas
parcelas vencidas, inclusive a indenização por danos morais, acrescidas de uma anuidade das parcelas vincendas.
Por outro lado, alguns autores (Sandra, Tereza e Luciana) sucumbiram em parcelas do pedido, pelo que o ônus
sucumbencial deve ser melhor repartido entre as partes.
Assim, havendo sucumbência recíproca, condeno as requeridas no pagamento de 80% das custas processuais e
dos honorários da procuradora dos autores, arbitrados em 15% sobre o valor das parcelas vencidas, inclusive a
indenização por danos morais, e uma anuidade das parcelas vincendas. Os autores, por sua vez, deverão arcar
com o pagamento de 20% das custas e dos honorários dos procuradores das requeridas, fixados em 20% do valor
a ser encontrado em favor da procuradora dos autores, mediante compensação, nos termos dos arts. 20, § 3º e
21, do CPC. Mantém-se o benefício da justiça gratuita aos autores.
Ante o exposto, dou provimento em parte ao recurso da primeira apelante e nego provimento ao recurso da
seguradora, nos termos acima.
JAPG
Nº 70001988559
2000/CÍVEL
E M E N T A
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE.
PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO . LEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM". CULPA "IN VIGILANDO". PRESUNÇÃO
"JURIS TANTUM". SOLIDARIEDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 1518, PARÁGRAFO ÚNICO, CC. DANO MORAL.
"QUANTUM". CONTROLE PELA INSTÂNCIA ESPECIAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ENUNCIADO Nº 284,
SÚMULA/STF. INAPLICAÇÃO. PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO.
I - Nos termos da orientação adotada pela Turma, o proprietário do veículo responde solidariamente com o
condutor do veículo . Em outras palavras, a responsabilidade do dono da coisa é presumida, invertendo-se,
em razão disso, o ônus da prova.
II - Não demonstrado pelo proprietário do veículo que seu filho inabilitado o utilizou ao arrepio das suas
proibições, recomendações e cautelas, responde o pai solidariamente pelos danos causados pelo ato culposo do
filho, ainda que maior.
III - O valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justiça, sendo certo que,
na fixação da indenização a esse titulo, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico dos autores e , ainda, ao porte econômico dos réus,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de
sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.
IV - Depreendendo-se das razões recursais qual a questão jurídica colocada, desnecessária a particularização dos
dispositivos eventualmente violados, não incidindo o enunciado 284 do Supremo Tribunal Federal, que supõe a
impossibilidade de exata compreensão da controvérsia.
SUCESSIVOS: REsp 216301 RJ 1999/0045936-9 DECISÃO: 17/08/1999 DJ DATA: 13/09/1999 PG: 00072 RT VOL.:
00772 PG: 00203 REsp 249394 MG 2000/0017705-9 DECISÃO: 18/05/2000 DJ DATA: 07/08/2000 PG: 00116
FONTE: DJ DATA: 01/03/1999 PG: 00325 JSTJ VOL.: 00003 PG: 00258 RDTJRJ VOL.: 00040 PG: 00077
VEJA: (RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ) STJ - RESP 116828-RJ (RDR 10/299, LEXSTJ 104/220), RESP 29280-
RJ (DANO MORAL) STJ - RESP 53321-RJ (RSTJ 105/230, RDR 10/247, LEXSTJ 105/129), RESP 135202-SP (RSTJ
112/216)
DOUTRINA: OBRA: RESPONSABILIDADE CIVIL, 1993, P. 220 AUTOR: CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA OBRA: DA
RESPONSABILIDADE CIVIL, V. 2, N. 170, P. 441/445 AUTOR: AGUIAR DIAS OBRA: DA RESPONSABILIDADE
CIVIL, V. 2, 4ª ED., P. 29 AUTOR: AGUIAR DIAS
REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS: LEG: FED LEI: 003071 ANO: 1916 ***** CC-16 CODIGO CIVIL ART: 01521 INC:
00003 ART: 01527 ART: 01529 ART: 01518 PAR: UNICO LEG: FED CFD: ****** ANO: 1988 ***** CF-88
CONSTITUIÇÃO FEDERAL ART: 00005 INC: 00005 INC: 00010 LEG: FED SUM: 000341 (STF)