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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA

LEIA O TEXTO A SEGUIR, ESCRITO PELO LINGUISTA SÍRIO POSSENTI, E RESPONDA ÀS


QUESTÕES DE 1 A 5.

A FALTA QUE FAZ UMA LETRA

[...]
Incorreção
Estudando a escrita de alunos que concorriam a vagas nos antigos ginásios (em exames de ad-
missão), Mattoso percebeu que a pronúncia típica se refletia na escrita. Como qualquer um pode cons-
tatar hoje, se souber analisar. O que fazer? Corrigir a pronúncia de todo brasileiro? A melhor saída é
analisar esses fatos adequadamente em sala de aula e revisar os textos até que a grafia correta seja
dominada. Seria melhor do que, por falta de informação, tratar esses casos só como erros devidos ao
descuido. Aliás, é interessante observar que decorrem do cuidado, não do descuido. Da tentativa de
acertar, transcrevendo a pronúncia corrente.
Talvez outros fatos mostrem ainda mais claramente que se trata de regra da língua. Duvido que
quem considera que dizer [atimosfera] é o fim do mundo pense que a palavra “futebol” está errada, que
deveria ser [fútbol], porque era assim no inglês. Mas o e (ou i, na pronúncia de muitos), está na palavra
“futebol” pelas mesmas razões que falamos um i após o t de “atmosfera”. Ambas as formas são produ-
to da mesma regra (poderíamos dizer que o português não gosta de t em final de sílaba). Uma obser-
vação interessante vem da escuta dos falantes de espanhol: dizem [fútbol], como Maradona, porque o
espanhol aceita t em final de sílaba. Os empréstimos se adaptam à estrutura do português e, com isso,
revelam nossa verdadeira gramática. Por exemplo, “marketing” vira [market] e [marquetch]. Tanto o
final (o do inglês não existente em português), quando o t convertido em “tch” são efeitos da gramática
do português. O “hot-dog”que vira [roti-dogui] é ainda mais claro e parecido com o caso de “futebol”.
A história das línguas mostra que as mudanças são constantes e que elas ocorrem segundo cer-
tas tendências (Sapir diz que as línguas têm uma deriva). Talvez a ideia mais ou menos corrente se-
gundo a qual as línguas têm um espírito seja uma forma de compreender a questão, que pode ser as-
sim resumida: há muitas mudanças nas línguas, mas elas não são aleatórias. Em termos sincrônicos,
ou seja, em uma determinada época, isso equivale a dizer que os “erros” seguem uma gramática, ou,
dito de outra forma, que ninguém fala de qualquer jeito.
Tendências
A palavra “jeito”, aliás, mostra que ninguém fala de qualquer jeito (ao contrário do que se diz). Ve-
jamos: é cada vez mais comum a eliminação de ditongos. Melhor, de certos ditongos: diz-se [pexe],
[caxa], [dexa], [otro], [ficô] etc.
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Observe-se que há uma regra comandando a variação: é sempre a semivogal que cai; a vogal
não cai nunca. Fixemo-nos em [pexe], variável de “peixe”, que contém o ditongo [ey]. Pode-se dizer
sem medo de errar que a maioria das pessoas fala [pexe] na maioria das vezes em que pede esse ali-
mento no mercado ou informa que comeu... [pexe]. Alguém poderia arriscar a generalização, dizendo
que a língua está mudando e um exemplo dessa mudança é que ninguém mais diz o ditongo [ey]. Mas
quem dissesse isso cometeria grave erro de observação, pois, se é verdade que quase todos dizem
[pexe], [dexe] etc., ninguém diz [jeto] por “jeito” nem [peto] por “peito”. A consoante que segue o diton-
go tem papel decisivo para deixar ou não deixar cair a semivogal. E os falantes seguem essa regra,
que nunca estudaram...
Explicação
O que isso quer dizer? O que esses exemplos mostram? Que podemos caracterizar como erros
as formas escritas “dexe” e “pexe” por várias razões, até apelando para a lei que comanda as regras
ortográficas. Mas estaríamos enganados se disséssemos que esses casos não têm boa explicação, e
não são o indício de um aspecto da gramática viva do português, das regras que os falantes seguem
quando falam.
[...]
POSSENTI, Sírio. In: Língua Portuguesa. Ano 5. Nº 60. São Paulo: Segmento, 2010.p. 26-27.

QUESTÃO 1

Tendo em vista a construção argumentativa do texto, assinale a alternativa CORRETA.

a) O autor assume um ponto de vista prescritivista, ao tratar dos desvios da norma padrão.
b) Os exemplos arrolados cumprem no texto uma função ilustrativa, e não argumentativa.
c) A discussão construída orienta para uma posição contrária ao preconceito linguístico.
d) O autor lança mão de exemplos em inglês e em português para comparar o grau de complexidade das
línguas.

QUESTÃO 2

“A palavra ‘jeito’, aliás, mostra que ninguém fala de qualquer jeito (ao contrário do que se diz).”

No trecho em destaque, a argumentação desenvolvida pelo linguista visa a defender que:

a) sempre se segue uma regra gramatical para usar a língua.


b) as pessoas muitas vezes escrevem “jeito” de forma errada.
c) ninguém fala sem prestar atenção ao que vai falar.
d) é cada vez mais comum entre as pessoas do povo a eliminação dos ditongos.

QUESTÃO 3

Assinale a alternativa CORRETA, com base nas informações do texto.

a) A forma como muitas pessoas pronunciam as palavras peito e feito indica que a língua está mu-
dando.
b) A pronúncia que muitas pessoas dão à palavra jeito indica que a língua pode estar em processo
de mudança.
c) A consoante que segue a palavra direito tem papel decisivo para deixar cair a semivogal no diton-
go [ey].
d) A pronúncia de peixe mais comum no português atual se dá com a eliminação do ditongo [ey].
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QUESTÃO 4

A discussão desenvolvida pelo autor somente NÃO ajudaria a explicar a pronúncia indicada em:

a) [oro], para ouro.


b) [eleto], para eleito.
c) [etinocêntrico], para etnocêntrico.
d) [adevogado], para advogado.

QUESTÃO 5

Em todos os trechos retirados do texto, o autor deixa emergir voz/ponto de vista que procura combater,
EXCETO:

a) “há muitas mudanças nas línguas, mas elas não são aleatórias”.
b) “Aliás, é interessante observar que decorrem do cuidado, não do descuido.”
c) “A palavra ‘jeito’, aliás, mostra que ninguém fala de qualquer jeito (ao contrário do que se diz).”
d) “O ‘hot-dog’ que vira [roti-dogui] é ainda mais claro e parecido com o caso de ‘futebol’”.

AS QUESTÕES 06 E 07 DEVEM SER RESPONDIDAS COM BASE NA LEITURA DO POEMA ABAI-


XO, PUBLICADO EM 1923 PELA ESCRITORA PORTUGUESA FLORBELA ESPANCA.

FANATISMO
Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer a razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...


Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist'rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”


Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:


"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

QUESTÃO 6
É INCORRETO afirmar que o poema:
a) adota um título que se refere à maneira como o eu-lírico encara sua crença em Deus.
b) estrutura-se como um soneto, forma recorrente na tradição da poesia em língua portuguesa.
c) propõe-se como uma interlocução em que uma voz feminina se dirige ao ser adorado.
d) opõe à fragilidade e brevidade das coisas a constância do sentimento experimentado pelo
eu-lírico.
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QUESTÃO 7
Considere as seguintes afirmativas sobre a construção do texto lido:

I. No segundo verso da primeira estrofe, faz-se uso de uma metáfora para descrever o objeto de
adoração do eu-lírico.
II . O emprego, no primeiro verso da última estrofe, da expressão “de rastros”, que significa “raste-
jando”, reforça a ideia evocada pelo título do poema.
III . As aspas utilizadas na terceira e quarta estrofes cumprem em ambos os casos a função de sepa-
rar trechos em discurso direto.

São CORRETAS as afirmativas:

a) I, II e III.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) I e II apenas.

AS QUESTÕES 08 E 09 DEVEM SER RESPONDIDAS COM BASE NA LEITURA DO TEXTO ABAIXO,


FRAGMENTO INICIAL DO ARTIGO “URUPÊS”, PUBLICADO PELA PRIMEIRA VEZ EM 1914, POR
MONTEIRO LOBATO.

Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Rondons que, ao invés de imagi-
narem índios num gabinete, com reminiscências de Chateaubriand na cabeça e a Iracema aberta sobre
os joelhos, metem-se a palmilhar sertões de Winchester em punho.
Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava Rousseau, protótipo
de tantas perfeições humanas que no romance, ombro a ombro com altos tipos civilizados, a todos so-
brelevava em beleza d'alma e corpo.
Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um selvagem real, feio e brutesco,
anguloso e desinteressante, tão incapaz, muscularmente, de arrancar uma palmeira, como incapaz,
moralmente, de amar Ceci.
[...]
A sedução do imaginoso romancista criou forte corrente [...]. Em sonetos, contos e novelas, hoje
esquecidos, consumiram-se tabas inteiras de aimorés sanhudos, com virtudes romanas por dentro e
penas de tucano por fora.
Vindo o público a bocejar de farto, já céptico ante o crescente desmantelo do ideal, cessou no
mercado literário a procura de bugres homéricos, inúbias, tacapes, borés, piágas e virgens bronzeadas.
Armas e heróis desandaram cabisbaixos, rumo ao porão onde se guardam os móveis fora de uso...

esborroar – desmoronar, ter fim, ser desfeito.


rondons – referência ao Marechal Rondon, sertanista brasileiro, célebre pelos contatos que manteve com
tribos indígenas brasileiras em suas expedições para marcação das fronteiras do país.
sanhudo – raivoso, embravecido.
bugre – designação depreciativa que os europeus deram aos indígenas do Brasil.
etnologia – estudo de grupos indígenas.
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QUESTÃO 8

No texto, Monteiro Lobato refere-se ao declínio do indianismo, uma das vertentes temáticas da produ-
ção literária brasileira no Romantismo.

O autor atribui o declínio dessa vertente principalmente:


a) ao desprestígio, no Brasil, das teorias do filósofo francês Rousseau.
b) ao desprezo do leitor brasileiro do século XIX pelos temas nacionais.
c) à obtenção, por meio das expedições dos sertanistas, de informações científicas e mais realísticas
sobre os índios.
d) à diminuição, por força das mortes provocadas pelos colonizadores, da população indígena do país.

QUESTÃO 9
Além da temática indianista, a literatura produzida no Brasil ao longo da vigência do Romantismo abor-
dou uma diversidade de temas, EXCETO:

a) as condições de vida das populações habitantes de cortiços e favelas, nos romances naturalistas.
b) as tramas do amor e do dinheiro na sociedade burguesa da época, nos romances urbanos.
c) o gosto pela morte e a sedução pelos ambientes noturnos e macabros, na poesia e na prosa da
geração mal-do-século.
d) as lutas abolicionistas e os sofrimentos dos escravos, na poesia social condoreira.

QUESTÃO 10

O poema abaixo, publicado na década de 90 pelo mineiro Affonso Ávila, integra a série intitulada “O visto e
o imaginado”, cujo propósito é, segundo o próprio autor, “criar a semântica da palavra pampulha”.

clínica pinel

locus amoenus
loucos a mais

É INCORRETO afirmar que o poema:

a) retoma parodicamente um dos preceitos do Arcadismo ou Neoclassicismo do século XVIII.


b) reedita a combinação de síntese e humor típica da poesia modernista de Oswald de Andrade.
c) descreve a loucura enquanto estado inconsciente, dando continuidade à proposta estética do
Simbolismo.
d) explora como recurso construtivo a semelhança sonora e visual das palavras, tal como propõe o
Concretismo.
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QUESTÃO 11

Considere o seguinte comentário, da escritora contemporânea Odete Semedo, de Guiné-Bissau:

“Na Guiné-Bissau, tal como em muitos países de África, as línguas são muitas porque os grupos étni-
cos são vários, possuindo cada um a sua língua. Porém, no caso específico do meu país, para além
das línguas usadas por cada um dos grupos étnicos, existe uma língua franca falada por cerca de 70
por cento da população de todo o país, o crioulo de base portuguesa, e uma língua oficial utilizada na
administração e no ensino, o português, dominado por cerca de 12 por cento da população guineense.”

Leia agora o poema, da mesma autora:

EM QUE LÍNGUA ESCREVER Ou terei que falar


Nesta língua lusa
Em que língua escrever E eu sem arte nem musa
As declarações de amor? Mas assim terei palavras para deixar
Em que língua cantar Aos herdeiros do nosso século
As histórias que ouvi contar? Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Em que língua escrever Que de boca em boca
Contando os feitos das mulheres Fará a sua viagem
E dos homens do meu chão?
Como falar dos velhos Deixarei o recado
Das passadas e cantigas? Num pergaminho
Falarei em crioulo? Nesta língua lusa
Falarei em crioulo! Que mal entendo
Mas que sinais deixar No caminho da vida
Aos netos deste século? Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos

(Entre o ser e o amar, 1996, p. 11)

Julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas, levando em conta as informações
que se extraem dos textos lidos.

( ) Ao propor, no poema, o uso exclusivo do idioma crioulo na produção literária, a autora manifesta
sua posição quanto à disputa idiomática vigente em seu país.
( ) No poema, o uso do português é considerado fator de preservação futura dos registros do pre-
sente.
( ) A autora demonstra, no poema, que o emprego da língua crioula está associado à transmissão
oral das tradições do povo guineense.
( ) Do ponto de vista artístico, o português é considerado, pela autora, uma língua que oferece pou-
cas possibilidades expressivas.

A sequência encontrada é:

a) V, V, V, F
b) V, F, F, V
c) F, V, V, V
d) F, V, V, F
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P R O D U Ç Ã O D E T E X T O

O uso da linguagem tem sido sempre fortemente marcado por intolerância e preconceitos, com o agra-
vante de que a intolerância linguística é muito mais camuflada do que outras formas de preconceito.
Assim, revistas que nunca aceitariam publicar, por exemplo, artigos racistas, acatam, sem problemas,
textos intolerantes em relação a certos usos linguísticos ou a certas línguas.

(site da USP, Linguística e preconceito. http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/node/7)

Embora muitas vezes pareçam discursos neutros, as piadas têm o poder de reforçar uma série de pre-
conceitos – raciais, sociais, culturais, linguísticos, etc.:

Perguntaram ao mineiro: – Diz aí um verbo! Ele pensou, pensou e respondeu indeciso: – Bicicreta. –
Não é bicicreta, seu mineiro burro, é bicicleta. E bicicleta não é verbo! Perguntaram a outro mineiro: –
Diz você aí um verbo! Ele também pensou, pensou e arriscou ressabiado: – Prástico. – Não é prástico,
ô mineiro burro, é plástico. E plástico não é verbo! Perguntaram a um terceiro mineiro: – Diz aí um ver-
bo! Esse aí nem pensou: – Hospedar. – Muito bem! Até que enfim um mineiro inteligente. Agora diga aí
uma frase com o verbo que você escolheu. O mineiro encheu o peito de coragem e mandou bala:
– Hospedar da bicicreta são de prástico!

(HUMORTADELA, 2006).

M otivado pelos textos apresentados, sua tarefa é escrever um texto opinativo, para um jornal de
grande circulação no país, em que você, de forma explícita, reflita sobre o preconceito em
nossa sociedade – em qualquer de suas formas de manifestação –, sobre seus efeitos negativos
e formas de combatê-lo.
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R A S C U N H O D O T E X T O

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