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1 – Introdução.
Após 19 anos de tramitação no Congresso Nacional, o projeto de Lei que estabelece a
Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, foi finalmente sancionado pelo
Presidente da República, sendo publicada a Lei 12.305/2010 em 02 de agosto de 2010 e
sancionada pelo Decreto 7. 404, de 23 de dezembro de 2010
A nova Lei transformará o cenário futuro da qualidade ambiental urbana no Brasil,
estendendo a responsabilidade sobre a destinação de resíduos para todos os
geradores, ampliando a reciclagem e eliminando os lixões.
O conceito de responsabilidade compartilhada em relação à destinação ambientalmente
adequada de resíduos, trazido à luz pela proposta, inova significativamente o
comportamento da sociedade, determinando que cada integrante da cadeia produtiva –
fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e até os consumidores – ficarão
responsáveis, junto com os titulares dos serviços de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos, pelo ciclo de vida completo dos produtos, que vai desde a obtenção de
matérias-primas e a utilização de insumos, passando pelo processo produtivo, pelo
consumo até a disposição final dos resíduos gerados.
A criação da nova Política, desenvolveu-se em três grandes eixos, sendo o primeiro
deles estruturante, estabelecendo a formulação dos “Planos de Resíduos Sólidos”,
abrangendo as esferas: nacional, estadual, microrregional regional, intermunicipal,
municipal e, os planos de gerenciamento, esses últimos de responsabilidade das
empresas e demais instituições públicas e privadas. Todos esses planos devem integrar-
se sistemicamente, representando um poderoso instrumento de construção de políticas
públicas, principalmente ao se considerar que neles se preconiza a previsão de metas
de redução de disposição final de rejeitos em aterros.
O segundo eixo é estrutural, composto principalmente pela obrigatoriedade de
implantação da coleta seletiva; dos sistemas de logística reversa; pelo incentivo à
criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; e, pelo incentivo à adoção de
consórcios ou outras formas de cooperação entre os entes federados, com vistas à
elevação das escalas de aproveitamento e redução dos custos envolvidos.
Para que essa estrutura seja efetiva, a lei determina que agrotóxicos, seus resíduos e
embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas fluorescentes de
vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus
componentes, bem como as embalagens de vidro, metal plático, papel e papelão, em
um sistema de logística reversa, percorram o “caminho de volta” às suas cadeias de
origem, para que possam ser adequadamente destinados.
Essa obrigação e a coleta seletiva, tornada também obrigatória pela Lei, coloca em
prática o princípio da “responsabilidade compartilhada sobre o ciclo de vida dos
produtos”, agindo como o canal fornecedor de matéria prima para uma florescente
indústria da reciclagem.
O terceiro eixo prevê os mecanismos de prevenção, acompanhamento, monitoramento e
controle social, fundamentados principalmente no licenciamento ambiental de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras; no Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos
Perigosos; na implementação dos inventários e do sistema declaratório anual de
resíduos sólidos; e no Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos
Sólidos.
Os serviços de limpeza urbana devem ainda implantar um sistema de compostagem
para resíduos sólidos orgânicos e articular, junto aos agentes econômicos e sociais,
formas de utilização do composto produzido.
Na sua perspectiva econômica, o “negócio dos resíduos”, propiciado pela nova política,
é bastante promissor, conforme indicam os recentes estudos realizados pelo IPEA,
evidenciando que, se a sociedade brasileira reciclasse todos os resíduos que são
encaminhados aos lixões e aterros, poderíamos obter um resultado de cerca de R$ 8
bilhões ao ano.
O levantamento realizou a estimativa dos benefícios econômicos e ambientais da
reciclagem. Para se chegar a essa cifra, foram utilizados parâmetros como os custos
evitados e os atuais da reciclagem, bem como os custos intrínsecos e econômicos da
coleta seletiva.
A Política Nacional de Resíduos estabelece um novo marco regulatório para a questão
dos resíduos sólidos, preenchendo as lacunas do conjunto normativo ora existentes, e,
propiciando um ambiente de maior segurança jurídica ao tema.
No panorama que se descortina, a Lei propicia um novo cenário, do qual destaco
algumas premissas:
1 – As diferenças estabelecidas entre o conceito de resíduos e rejeitos, sendo o
primeiro considerado pela Lei como “ um bem econômico e de valor social,
gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” e a forte carga que a Lei
faz na proibição da disposição de resíduos aproveitáveis em aterros sanitários,
aliados à obrigatoriedade da compostagem da fração orgânica da massa de
resíduos coletada, eliminará paulatinamente a existência de grandes aterros
sanitários, propiciando a expansão da sua vida útil, tendo como consequências
esperadas em médio prazo:
Dessa leitura, entendo que o contexto da PNRS trará reflexos positivos e imediatos na
economia, nos aspectos ambientais, na saúde pública, no auxílio ao controle das
emissões danosas ao clima e na inclusão sócio econômica dos catadores de recicláveis.
2 - Justificativa
Na expectativa do pleno vigor da Lei, depreende-se uma grande demanda por
profissionais qualificados para a gestão de resíduos, mormente por parte das indústrias
e das administrações municipais, haja vista as rigorosas exigências da Lei. Não fosse
esse um fenômeno natural do aquecimento do segmento da gestão dos resíduos,
consideradas as suas dimensões mercadológicas, a Lei é determinante no que diz
respeito à existência de profissionais qualificados para a operacionalização dos Planos
de Gerenciamento de Resíduos, de responsabilidade das empresas.
O Art. 22. da PNRS determina com clareza: “Para a elaboração, implementação,
operacionalização e monitoramento de todas as etapas do plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, nelas incluído o controle da disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos, será designado responsável técnico devidamente habilitado.” A expressão,
com o meu grifo, merece melhor aprofundamento e interpretação.
A “responsabilidade técnica” à qual se refere o dispositivo só pode ser exercida por
profissional portador de registro profissional, sendo que, neste caso, o registro é da
exclusiva competência dos Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura, Conselho
Federal de Biologia e Conselho Federal de Química, entidades que mantêm as ART
(Anotações de Responsabilidade Técnica) para os Engenheiros Sanitaristas,
Engenheiros Ambientais, Engenheiros Químicos, Biólogos com especialização em
áreas ambientais, e Tecnólogos em Áreas correlatas.
Por outro lado, a Lei é omissa quanto ao prazo de entrada em vigor da obrigação das
empresas em implementarem seus Planos de Gerenciamento. Estima-se em dois anos o
tempo máximo para que se exija a existência do Plano, por analogia ao que a Lei
estabelece para os Estados e Municípios no seu Art. 55. “O disposto nos arts. 16 e 18
entra em vigor 2 (dois) anos após a data de publicação desta Lei.” (os art. 16 e 18 tratam
dos Planos Estaduais e dos Planos Municipais).
É fácil prever que, de imediato, não haverá suficiente oferta de profissionais
devidamente habilitados para o gerenciamento de resíduos, tal qual determina a Lei, o
que ocasionará uma demanda reprimida nesse campo profissional, haja vista que, sem
profissionais habilitados, as empresas se verão em situação irregular face às exigências
normativas.
Concluindo, com a sanção da Política Nacional de Resíduos abre-se uma janela de
oportunidade para a oferta do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Resíduos.
Esse título inédito, supre as lacunas da formação de profissionais para o segmento, haja
vista que, a área de conhecimento que mais se aproxima do tema é a de Tecnologia em
Gestão Ambiental, com enfoque generalista. Essa iniciativa pioneira pode ser
protagonizada pelas IES, ofertando o Curso na modalidade presencial e/ou a distancia.
A IES que vier a ofertar o Curso deverá ser detentora de inegável vocação
para a oferta de cursos no campo da gestão. Caso seja habilitada para
EAD, e, havendo a abrangência e a capilaridade nacional dos seus pólos,
poderá obter a viabilização do Curso a ser ofertado.
O PPC deverá fornecer elementos suficientes para suportar essa premissa.
III - a identificação de perfis profissionais próprios para o curso, em função das
demandas e em sintonia com as políticas de promoção do desenvolvimento sustentável
do País.
3.2.1. Fases.
1. Atividades preliminares.
Formulação do PPC;
Treinamento de tutores.
4. Considerações finais.
Por outro lado, haja vista o “gap” temporal para a oferta de Tecnólogos, é recomendável
que, paralelamente ao Projeto do Curso,e, aproveitando os mesmos esforços e meios,
se desenhe a proposta de uma pós-graduação latu senso (Especialização ou MBA),
destinado aos profissionais com área de formação correlata.
Recomenda-se, ainda, o desenvolvimento de uma estratégia de abordagem do tema,
aderente à oportunidade do ineditismo das iniciativas educacionais, constante da
realização de eventos técnico-científicos e publicações sobre o assunto, envolvendo os
principais atores: entidades empresariais, administrações públicas, sociedades técnico-
científicas, Confea/CFQuim/CFBio, autoridades do Ministério do Meio Ambiente e
autoridades educacionais, dentre outros, como forma de registrar o seu protagonismo.
5. Próximos passos.