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O QUADRO
TEXTO
JOSÉ EDUARDO COSTA

ILUSTRAÇÃO
GABRIEL LEMOS

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GATOQLÊ EDITORA.
Qualquer semelhança nas publicações é mera coincidência
http://calafriosterror.blogspot.com/

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Olá caro amigo leitor!

Agradecemos pela iniciativa de adquirir a revista da Cia do Terror


com contos no maior estilo suspense e de horror para você se deliciar com
essas aventuras. Chegamos ao primeiro exemplar e é com muita dedicação
e suor independente que as palavras que permeiam as gavetas literárias do
cérebro de um escritor surgem nessas folhas que se seguem. Pretendemos
ao longo dos meses publicarmos mensalmente um conto novo, uma
história cheia de mistério, horror e muito terror para você.
As histórias são baseadas nos pulps, livros de material barato,
produzidos nos Estados Unidos na década de 1920. Seguindo o padrão, as
revistas possuem material mais simples do que os livros da Série Calafrios,
e seu objetivo é ser lido e não guardado para o resto da vida. A não ser
que você seja um leitor assíduo e cuide bem das revistas.
A cada conto um novo personagem, uma nova trama e um novo
enredo. O conto desse mês é “O quadro” escrito por mim, José Eduardo
Costa, o Pelarau e ilustrado por Gabriel Lemos. Uma história, que
segundo quem já leu, dá arrepios até na espinha.
Nada mais a declarar, somente lendo mesmo para conhecer essa
nova saga de contos. E não deixe de adquirir também o primeiro livro da
Série Calafrios – “Criaturas do Bosque Sinistro”, de Lucas Squena. Uma
aventura num bosque assombroso com quatro jovens em busca de
solucionar o caso das criaturas sinistras. Agora deixo vocês nos braços de
Tom e Lindsay.

Um grande abraço a você, nosso mais novo leitor.


CIA DO TERROR
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2011

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Há muito Tom não tinha uma relação como a daquela noite.
Tanto ele quanto Lindsay se entregaram de corpo e alma e tiveram a
melhor noite até aquele momento. Infelizmente, seria a última deles.
Depois de uma garrafa de vinho, um filme romântico e um encontro
às escuras no quarto de Tom, os dois dormiram agarrados como se
fossem um só. Tudo estava perfeito, até aquele momento.

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“T e amo Tom.”
A voz de Lindsay o deixava absorto em
pensamentos distintos. Ela era uma mulher
perfeita, nunca imaginou que conheceria alguém tão dócil e tão
sensual como ela. Até na secretária eletrônica sua voz continuava
delicada e atraente. Mas antes mesmo de continuar pensando em
elogios para atribuir à sua namorada, Tom percebeu que a secretária
eletrônica havia passado mais uma mensagem. Era do seu outro
amor, sua mãe. Apertou o botão de retorno e aproveitou para ouvir
novamente a voz de Lindsay.
“Não vá se esquecer do nosso encontro amanhã à noite.
Espero que tudo dê certo. Beijos e te amo Tom.”
BIP
“Filho? Tom? Como está? Não se esqueça que amanhã é o
aniversário da sua tia Ann. Já comprou o presente? Sabe como ela é
nessas ocasiões, muito supersticiosa. Festa sem presente dá azar o
ano todo. Portanto, não vá se esquecer. Espero que esteja tudo bem.
E você e a Lindsay, como estão? Ai filho, depois que você resolveu
morar fora... bem, vou desligar. Tome cuidado com o frio. Mamãe te
ama.”
Tom riu e procurou saber se tinha mais alguma mensagem.
Nada de novo, apenas pessoas o cobrando e um recado do Lion o
convidando para mais uma festa no Hooligans, o bar mais famoso
da cidade. Mas Tom não se preocupava mais com isso, não ia mais a
bares à procura de mulheres solteiras ou noites de diversão. Nem
podia. Estava muito feliz com Lindsay e pretendia pedi-la em
noivado ainda no final de semana. Já tinha comprado as alianças, só
estava com medo de fazer o pedido e ela não aceitar. Medo que
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sempre o fazia desistir de não ligar agora mesmo e fazer o pedido
naquela hora. Porém, no momento, a única coisa que o preocupava
era qual presente comprar a sua tia Ann.
Ann é daquelas senhoras que precisa pedir para repetirem o
que falou ao menos umas duas ou três vezes. Além de esquecer
quem são seus parentes em prazos muito curtos. O máximo que ela
conseguiu se lembrar foi de um primo distante, e ainda durou uns
quinze minutos. Depois disso tinha que perguntar a todo momento
quem era o sujeito invadindo sua residência, todas as vezes que o
primo entrava em sua casa. Mesmo assim, Ann era exigente e muito
supersticiosa. Possuía todas aquelas manias de velhos, ou como seus
bisnetos diziam, manias caretas. A principal delas era que nenhum de
seus parentes podia passar o aniversário em branco e sem presente.
Foi aí que todos na família tiveram que comemorar seus aniversários
ao menos com um bolinho, e todos os convidados deviam trazer
presentes. Ann era obcecada por presentes. Era realmente muito
difícil comprar os dela, pois não poderia ser qualquer coisa. Só que
Ann nunca soube explicar o que era qualquer coisa para que ninguém
comprasse isso. Tom não fazia a mínima ideia do que levar a sua tia.
Isso era pior do que escolher presentes a Lindsay. O melhor que
tinha a fazer era sair para procurar algo que tivesse a cara da sua tia.
Coisas velhas tinham a cara dela. Tom se lembrou de uma loja que
vendia móveis e coisas antigas, uma espécie de mercado de tralhas,
que era como ele chamava esses comércios. Ainda eram sete horas
da manhã, Tom havia acabado de chegar do trabalho. Pretendia
descansar e depois ir comprar algo velho, mofado e com uma
aparência enjoada.
Tom trabalhava como barman numa danceteria. Sua vida
passou do dia para a noite, e em nenhum final de semana ele estava
livre do trabalho. Não fazia muito tempo que começou a trabalhar
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assim. Antes, passou três meses procurando algo, mas as promessas
eram sempre as mesmas, “ligaremos mais tarde”. Nunca ligavam.
Tom curtia essa vida noturna de bebidas e festas, pois foi num
desses dias de serviço que conheceu Lindsay. E enquanto a maior
parte da cidade acordava para ir trabalhar, ele estava indo repor suas
energias. Era segunda de manhã, a festa na noite anterior o havia
consumido um bocado. Estava exausto e naquela hora sua única
paixão se chamava cama. Oito horas mais tarde, Tom já estava novo
em folha e pronto para procurar o presente de sua tia.
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A loja não ficava muito longe de sua casa, portanto
aproveitou para fazer uma caminhada e esticar as
canelas. Fez uma anotação mental de que devia iniciar
uma academia para melhorar seu físico. Passados trinta minutos já se
podia avistar a fachada da loja.
Assim como os produtos que eram vendidos lá, sua aparência
correspondia. Já na porta de entrada muitos móveis antigos, alguns
até empoeirados, barravam e dificultavam quem quisesse entrar.
Tom passou por eles e caminhou rumo ao interior da loja. Alguns
dos produtos eram assustadores, como uma estante com um espelho
quebrado, umas bonecas de porcelana, e um urso muito sujo sobre
um guarda-roupa com uma mulher nua entalhada em sua porta. Só
que algo lhe chamou a atenção.
Era um quadro com cores muito fortes e pintura a óleo de
uma garotinha sentada numa cadeira de balanço, parecendo estar
num quarto muito escuro iluminado apenas pela luz do candeeiro da
rua. Os olhos da garotinha estavam vermelhos, parecia ter chorado
por muito tempo, ou apenas ser uma alergia ao pó dos móveis da
pintura. O quadro chamou tanto sua atenção, que Tom nem notou
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estar caminhando para sua direção. Ao se aproximar pode ver mais
detalhes da pintura e notou que as pernas descobertas da criança
tinham marcas de queimaduras e em seu sapatinho havia umas gotas
vermelhas, talvez fosse sangue. Havia também uma mesa pequena,
com uma taça cheia de vinho sobre ela. A taça, assim como todo o
quadro, era muito bem feita com um brasão de dois leões lutando
próximo à boca.
Embora triste, o quadro era muito bem pintado e devia valer
uma fortuna. Sua moldura reluzia na luz do sol e era muito
detalhada. Se Tom ficasse observando-o por mais tempo encontraria
diversas coisas escondidas naquela imagem, porém o que mais lhe
prendia eram os olhos vermelhos da garota. Demonstravam
melancolia, tristeza e sofrimento. Quem pintaria algo assim? Pensava
Tom. A garotinha aparentava ter quatro ou cinco anos, vestia roupas
muito elegantes e antigas. A pintura o levava a uma época em que
luz era privilégio e telefone ainda era coisa de outro mundo. Ainda
absorto, Tom notou que conforme olhava para a menina, uma
lágrima surgia em seu rosto. Ficou tão concentrado que não reparou
no som de uma música, como daquelas que tocam em caixinhas de
joias.
“Realmente linda, não acha?”
Tom levou um susto, e o atendente o acalmou dizendo que a
pintura era uma das obras mais caras da loja.
“Bom saber, não estava a fim de levá-la mesmo. Preciso de
algo para minha tia que está comemorando o seu aniversário. Acho
que algumas xícaras antigas combinariam com ela.”
“Ótimo! Tenho um estoque maravilhoso de xícaras. Venha
ver.”
E levou-o para conhecê-las. Só que nada o fazia querer levar
outra coisa senão aquele quadro. Tentava afastar o pensamento, não
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tinha dinheiro algum que o fizesse comprar aquela obra, mas mesmo
assim parecia que algo o havia conectado com aquela menina.
“... e essas ilustrações nos pires são de um sítio...”
“Quanto custa o quadro?”
“O quê? O da menina?”
“Sim. Acho que tem algo nele que me diz que devo comprá-
lo. Embora pareça triste, minha tia adoraria.”
Claro que não havia pensado em sua tia. Na verdade nem se
lembrava que queria comprar um presente para ela. Estava tão
obcecado pelo quadro que o queria para ele.
“Já que deseja. Custa... pratas.”
Impossível. Nem que trabalhasse todos os finais de semana
por dez anos, conseguiria comprar.
“Ficarei com as xícaras.”
Ao sair, passou novamente pela pintura e a criança parecia
ainda mais triste, como se ela quisesse sair daquele sofrimento e ir
para casa dele. Antes mesmo de pisar com os dois pés fora da loja,
um senhor barrigudo surgiu dos fundos e chamou por Tom.
“Está realmente interessado no quadro, rapaz?”
“Na verdade eu não sei. Algo me diz que combinaria com a
minha sala, ou que minha tia gostaria muito. Só que pelo valor é
impossível levá-lo.”
“Bem, esse quadro já está aqui por muito tempo. Sou o dono
da loja. Ele foi comprado umas duas vezes e devolvido. O preço está
alto, mas não sei o que fazê-lo. Vai comemorar aniversário, assim
como sua tia. Perdão pela brincadeira. Leve-o e devolva essas xícaras
horrorosas.”
Tom devolveu as xícaras e levou o quadro. O pagamento foi
parcelado em três vezes, mas parecia que embora ele não quisesse
fazer aquilo, uma força o levava a agir sem ter como lutar contra. Ao
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chegar a sua casa, jogou a chave sobre a mesa de jantar,
desembrulhou a sacola em que o quadro estava envolto e resolveu
testá-lo em uma parede. Pendurou o quadro na sala. A criança ainda
continuava com o ar melancólico, só que desta vez sua imagem
estava mais escura, como se a luz do candeeiro estivesse acabando.
Tom olhou no relógio e viu que precisava se arrumar para o
encontro com Lindsay. Seria mais uma noite juntos, em que ambos
se entregavam e consumiam-se no amor.
Enquanto Tom se arrumava, pensou ter ouvido o choro de
uma criança dentro do seu apartamento. Provavelmente era o bebê
recém nascido do vizinho debaixo. Procurou pelas chaves da casa e
não as encontrava, até pisar sobre elas no chão da sala. Não se
lembrava de ter derrubado ali, mas viu que estava atrasado e
precisava ir. Antes de fechar a porta do apartamento ouviu a música
da loja de tralhas, aquela como uma caixinha de música. Chacoalhou
a cabeça e desceu para o seu encontro.
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H á muito Tom não tinha uma relação como a daquela
noite. Tanto ele, quanto Lindsay se entregaram de
corpo e alma e tiveram a melhor noite até aquele
momento. Infelizmente, seria a última deles. Depois de uma garrafa
de vinho, um filme romântico e um encontro às escuras no quarto
de Tom, os dois dormiram agarrados como se fossem um só. Tudo
estava perfeito, até aquele momento.
A criança começou a chorar novamente. O choro estava tão
alto que acordou Tom e Lindsay.
“Nossa amor, como a criança debaixo chora alto. Até parece
que está aqui no seu apartamento.”

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“Tem razão. Mas é estranho, essa é a primeira noite que
acordo com ela chorando. Na verdade nunca a ouvi chorar.”
De fato, Tom dificilmente ouvia o choro da criança. Mas
daquela vez estava muito alto, e o som realmente parecia vir da sua
sala.
“Tom, não acha melhor ir ver se tem alguém por perto. O
barulho está muito alto.”
“Que isso amor. Impossível ter uma...”
Antes que Tom terminasse o que estava falando alguma coisa
havia quebrado na sala. Parecia algo de vidro, um copo.
“Acho que foi nossa taça que caiu. Vou lá ver o que é.”
Tom levantou o braço para apertar o interruptor e ligar a luz,
mas nada aconteceu.
“Droga! A luz deve ter queimado. Amor, alcance meu celular,
tem uma lanterna nele.”
Lindsay alcançou o celular e entregou a ele. Tom pode ver
que eram três horas da manhã. Colocou os pés no chão gelado e
iluminou para ver se encontrava sua pantufa. Vestiu o roupão e foi
até a sala verificar o que havia acontecido. Viu que era a luz que
havia queimado, mas a energia que acabara.
O choro da criança ainda continuava, e realmente parecia ser
ali que alguém estava chorando. Iluminou por tudo, mas não viu
nada. Exceto a taça quebrada no chão. Só que algo estranho havia
naquela taça. Não se parecia com nenhuma outra que Tom se
lembrava de ter comprado. Notou que próximo ao local onde se
coloca a boca existia um brasão, o mesmo do quadro. Imediatamente
Tom olhou para a pintura, mas antes que pudesse notar alguma coisa
nela o choro cessou e a música de caixinha de jóias começou a tocar.
“Tom! Amor, o que você encontrou?”
“Ainda nada. Está ouvindo isso?”
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“Isso, o quê? O choro? Não, ele já parou.”
“Não, uma música. Parece com aquelas...”
TOMMMMMMMM....
Um grito veio do quarto de Tom. Ele largou o celular e
correu para o quarto, porém a porta se fechou e Tom não conseguia
abri-la. Lá dentro, Lindsay gritava de pavor.
“Lindsay, o que está acontecendo. Lindsay, abra a porta.”
“Socorro Tom... eu não consigo sair da cama. Está tudo
escuro, não vejo nada. Tem alguém sobre ela.”
Tom tentou abrir a porta, mas a maçaneta estava muito
quente. Não conseguia encostar nela. A criança tornou a chorar, só
que dessa vez o choro vinha do quarto de Tom.
“Lindsay...Lindsay responda...”
“Tom! Me ajude, não consigo me mexer, está muito quente
aqui.”
Tom tentou chutar a porta, mas nada do que fizesse
conseguia abri-la. Resolveu chamar algum vizinho. Procurou pelo
celular para iluminar, mas não sabia onde tinha deixado cair. Tentou
procurar pelas chaves da casa, mas não as encontrava. Lindsay
continuava gritando no quarto, sempre dizendo que estava muito
quente lá dentro. A criança chorava ainda mais alto, e a música que
vinha de dentro da cabeça de Tom já havia parado.
Ao passar pelo quadro, Tom notou que não havia criança
alguma nele. A cadeira de balanço estava vazia. Não conseguia
raciocinar, não sabia o que fazer. Voltou à porta e chamou pela
Lindsay.
“Amor, o que está havendo aí?”
“Socorro Tom, tem alguém, que eu não consigo ver sob a
cama. Ajude-me, por favor!”

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“Quem está aí? Quem está aí? Responda ou eu chamo a
polícia.”
A polícia. Tom correu para o telefone, mas ele não dava sinal,
depois viu que o fio estava cortado. Lindsay ainda gritava no quarto.
“Fogo! Tom, está... está pegando fogo aqui. Socorro Tom,
estou queimando.”
Tom correu novamente para a porta e viu pela fresta que o
quarto estava em chamas. Batia na porta, chutava, mas nada
adiantava. Parecia ter sido feita de aço.
“Lindsay!”
Nada que Tom pudesse fazer dava certo. Lindsay estava
sendo queimada viva dentro do quarto dele e nem ao menos sabia
como tudo aquilo tinha acontecido.
As chamas aumentaram. Tom, impaciente, ainda se debatia
contra a porta, com todas as ferramentas possíveis para tentar abri-
la. Além da criança, Tom e Lindsay estavam chorando. Ao contrário
dele e da criança, o choro de Lindsay estava aos poucos cessando.
Não somente o choro, mas a voz e a vida dela.
As unhas de Tom sangravam de tanto que ele arranhava a
porta para tentar entrar, mas tudo em vão. Chamou por ela mais
uma dez vezes, só que nada além do barulho de madeira estalando se
ouvia no quarto.
“Lindsay, Lindsay... por favor...! Por favor, não!”

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D e repente tudo cessou. O fogo, o barulho das chamas,
a voz da amada. Tudo se silenciou. Tom, que estava
deitado no chão chorando, se levantou e viu que a
porta estava entreaberta. A luz voltou. Não queria entrar no quarto,
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não queria vê-la daquele jeito, naquele estado. Ele entrou e viu que
nada havia sobrado. Suas roupas estavam todas queimadas, seu
guarda-roupa, seus livros e principalmente Lindsay.
Tom correu para sala e viu que a criança estava sentada na
cadeira de balanço, ainda com os olhos lacrimejando, com a taça de
vinho sobre a mesa, tudo como quando viu na loja de tralhas.
Enfurecido, ele tentou tirar o quadro da parede, mas nada fazia a
pintura sair. Correu na cozinha, pegou uma faca e tentou cortar a
tela, mas mesmo assim ela continuava intacta. Parou diante da
pintura e a observou atentamente. Estava hipnotizado, como
naquele momento na loja. Observou todos os detalhes novamente, e
viu dessa vez no canto um pedaço de uma lareira, ou algo parecido,
porém dentro dela estava um ferro como aqueles de marcarem a pele
de bois. O ferro estava esquentando, se preparando para marcar
alguém. Tom notou que a mesma marca que estava no ferro estava
na pele da menina que chorava. Ela devia ter sofrido muito naquela
época.
Tom não havia notado, mas deixou a faca cair. A luz tornou a
se apagar e o choro da criança voltou. Tom procurou pela faca, mas
não conseguia encontrá-la. Procurou pelo chão e achou seu celular,
acendeu a lanterna, só que não dava mais tempo de procurar coisa
alguma.
Sentiu algo gelado entrar em suas costas. Sentiu seu sangue
escorrer pelo roupão e manchá-lo de vermelho. Iluminou com seu
celular, e a única coisa que conseguiu ver foi um sapatinho com
manchas de sangue esfaqueando-o até a morte.

José Eduardo Costa é escritor de contos e criador, junto de Lucas


Squena, da Série Calafrios.
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