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L O P E S , E .V .1; O K U R A , M .H .2
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G ra d u a n d a , C u rs o d e E n g e n h a ria d e A lim e n tos , F A Z U - F a c u ld a d e s A s s oc ia d a s d e U b e ra b a , U b e ra b a - M G
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E n g e n h e ira d e A lim e n tos ; P rofa . M S c ., C u rs o d e E n g e n h a ria d e A lim e n tos , F A Z U - F a c u ld a d e s A s s oc ia d a s d e
U b e ra b a , U b e ra b a - M G
INTRODUÇ Ã O
F A Z U e m R e v is ta , U b e ra b a , n .2, p .9 7 -10 6 , 20 0 5
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Atualmente, a cultura da pimenta é uma atividade olerícola rentável, notadamente quando o produtor tem chance
de fornecer o produto para as indústrias.
Existe intenso comércio internacional de pimenta-vermelha, seca em pó, com ou sem sementes, e em diversas
intensidades de ardume. Esses produtos são utilizados no preparo de alimentos, nas conservas e na indústria de
embutidos. Além disso, propriedades medicinais são também relatadas.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a vida-de-prateleira da conserva e molho da pimenta biquinho e a
aceitação do público com relação a estes produtos.
Variedades de Pimentas
As solanáceas são frutos que constituem uma família de plantas arbustivas de clima tropical, agrupando as
seguintes hortaliças: pimentão, pimenta, berinjela e jiló (ESTANISLAU, 1984).
Capsicum annum: Essa espécie é a mais cultivada e talvez a que apresenta maior variedade. A essa espécie
pertencem os pimentõ es (CASALI; COUTO, 1984).
Capsicum b accatum: São populaçõ es cultivadas de frutos grandes, como as cultivares “dedo-de-moça”
(CASALI; COUTO, 1984).
Capsicum fr utescens Essa espécie é muito conhecida pela denominação de malagueta. No Brasil, as pimentas
picantes mais conhecidas são as “malaguetas” (CASALI; COUTO, 1984).
Capsicum ch inense A denominação da pimenta “de cheiro” é utilizada para referir a um maior número de tipos
que a pimenta “bode”.
Tanto a pimenta de “cheiro” como a de “bode”, possuem ardume e um aroma característico que permite sua
diferenciação das demais pimentas sendo a razão da preferê ncia dos consumidores que a apreciam (SOUZA; CASALI,
1984).
A pimenta biquinho não possui ardume, porém apresenta um aroma característico da sua espécie. Segundo
REIFSCHNEIDER (2000), nem todas as pimentas ardem, e mesmo as mais poderosas são agradáveis se usadas com
moderação (SOUZA; CASALI, 1984).
O ardor das pimentas vem dos capsaicinóides, substâncias que não têm odor ou sabor mas agem nas células
nervosas da boca, causando a sensação de ardência (REIFSCHNEIDER, 2000).
Benefícios da pimenta
As substâncias picantes das pimentas (capsaicina e piperina) melhoram a digestão, estimulando as secreções do
estômago, possuem efeito carminativo (antiflatulência), estimulam a circulação no estômago, favorecendo a
cicatrização de feridas (úlceras), desde que, outras medidas alimentares e de estilo de vida sejam aplicadas em conjunto
(REIFSCHNEIDER, 2000).
A pimenta faz bem para o humor, atua no cérebro estimulando a produção da endorfina, o hormônio que produz
a sensação de bem-estar (REIFSCHNEIDER, 2000).
Em resumo a capsaicina pode atuar como anticoagulante, prevenindo a formação de coágulos que podem causar
ataques cardíacos ou derrames cerebrais, assim evitando a trombose. Apresentam propriedades como: dissolução de
coágulos sanguíneos (uma aspirina natural); dissolução de muco dos pulmões; expectorante; descongestionante; indutor
da termogênese (efeito de transformar parte das calorias dos alimentos em calor); antioxidante e como anti-bacteriana.
As capsaicinas induzem a liberação de endorfinas que são morfinas produzidas pelo organismo, isto é, analgésicos
naturais extremamente potentes que são elaborados no próprio cérebro (REIFSCHNEIDER, 2000).
REIFSCHNEIDER (2000) comenta que existem estudos demonstrando a potente ação antioxidante
(antienvelhecimento) da capsaicina e piperina.
M até ria-prima
C olh eita
T ran sporte
L impez a e seleç ã o
B ran q ueamen to
R esfriamen to
Preparo da salmoura
A diç ã o de salmoura
ou v in ag re
E x austã o
A rmaz en amen to
REIFSCHNEIDER, 2000.
Adição de salmoura ou vinagre – Completa-se o vinagre com salmoura ou tempero ou solução de vinagre
fervente até aproximadamente 1cm abaixo da borda do vidro (SENAI, 2000);
Preparo da salmoura – A salmoura ou solução de vinagre deve ter acidez suficiente para assegurar a
conservação.
Salmoura de acidez média – dilui-se 1 parte de vinagre para 2 partes de água filtrada e 1 colher de sopa
rasa de sal para cada litro de água.
Salmoura de acidez alta – dilui-se 2 partes de vinagre para 3 partes de água filtrada e 1 colher de sopa
rasa de sal para cada litro de água (SENAI, 2000);
Ex austão – Coloca os vidros ainda abertos ou parcialmente fechados em banho-maria, chegando a água a 2 ou
3cm da parte superior dos mesmos. Deixar os vidros por 5 a 10 minutos em água fervente, contados após o início da
fervura da água. Em seguida fecha-os bem, de preferência com tampa metálica própria (SENAI, 2000);
Matéria-prima
Colheita
Transporte
Descarregamento
Limpeza e seleção
Branqueamento
Resfriamento
Trituração
H omogeneização
F iltração
Emb alagem
Acondicionamento/
Estocagem
REIFSCHNEIDER, 2000.
O amolecimento é devido à decomposição das substâncias pécticas da hortaliças causadas pelas próprias enzimas
das hortaliças ou enzimas secretadas por bactérias, leveduras ou fungos (LIMA et al., 2001).
Análise sensorial
Toda a análise sensorial se refere fundamentalmente a odor e gosto e em segundo lugar se preocupa pelo aspecto
mecânico. O sabor, a textura e a cor não são propriedades intrínsecas dos alimentos, desde o momento em que a pessoa
recebe a amostra, tem uma sensação, podendo decidir se o alimento tem cor, textura, resultando nas sensações em que
agradem as pessoas (ALMEIDA et al., 1999).
Avaliar um produto sensorialmente faz parte naturalmente desde criança quando aceitam ou rejeitam um
alimento, ou quando preferem um produto de uma determinada marca sobre a outra em razão de suas características
organolépticas (LÚ CIA; BELLARDE, 2002).
MATERIAL E MÉ TODOS
Análise sensorial
A aceitação sensorial das amostras quanto aos seus atributos de aparência, cor, aroma, sabor e textura foram
realizadas no Núcleo de Excelência em Engenharia de Alimentos no Laboratório de Análise Sensorial das Faculdades
Associadas de Uberaba, MG, dotados de cabines especiais. O grau de aceitação da conserva de pimenta biquinho e do
molho de pimenta biquinho foram avaliados através dos testes de: preferência, aceitação e atitude de compra, por 50
provadores não treinados previamente selecionados entre os alunos de graduação com base em interesse,
disponibilidade e poder discriminativo.
Os provadores utilizaram escala hedônica, não estruturada, de 9cm, ancorada nos extremos pelos termos
“desgostei muitíssimo”e “gostei muitíssimo”(STONE; SIDEL, 1993).
Para os testes, as amostras foram apresentadas em códigos de 3 dígitos aleatórios, segundo delinamento em
blocos completos casualizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
6 Amostra V inagre
5 Amostra V inagre
temperado
4
Amostra vinagre e sal
3
Amostra ó leo
2 temperado
1
Aroma
FIGURA 3 – Médias dos testes de aceitação para o atributo aroma nos quatro tipos de conservas testados.
Para o atributo aroma, foi evidenciado pela grande maioria dos provadores, a atribuição de médias próximas de
7,00 (“gostei moderadamente”) e somente a conserva em óleo temperado atingiu a média mais baixa correspondente a
“desgostei ligeiramente”, provavelmente justificado pelo fato de não ter evidenciado odor característico da pimenta.
O aroma característico da pimenta biquinho somente foi evidenciado na presença de vinagre. Este aroma foi
muito importante na decisão geral dos provadores na aceitação dos produtos avaliados.
A conserva de pimenta biquinho vinagre apresentou para os atributos sabor uma média de 5,542; na conserva de
vinagre temperado uma média de 6,186; no vinagre e sal de 6,086 e no de óleo temperado de 5,920 (Figura 4).
6,2
6,1
6
5,9
Amostra Vinagre
5,8
Amostra Vinagre temperado
5,7
Amostra vinagre e sal
5,6 Amostra óleo temperado
5,5
5,4
5,3
5,2
1
Sabor
FIGURA 4 - Médias dos testes de aceitação para o atributo sabor nos quatro tipos de conservas testados.
Para o atributo sabor, nota-se que a maioria das conservas alcançou médias, correspondentes aos termos “gostei
moderadamente”, ficando somente a conserva de vinagre na faixa de “desgostei ligeiramente” justificado pela amostra
possuir um sabor intenso de vinagre.
Através das observações mencionadas pelos provadores, verificou-se que a conserva de vinagre temperado foi a
conserva mais aceita. O vinagre reforçou o aroma da pimenta, mas o sabor de vinagre foi acentuado. A aceitação da
conserva de vinagre com sal, foi a segunda, indicando que o sal exerce um efeito positivo no sabor.
TABELA 2 - Análises microbiológicas da conserva de pimenta biquinho, no período de 120 dias de armazenamento, a temperatura
ambiente.
6,98
6,96
6,94
6,92
6,9
6,88
6,86
6,84
Aroma S abor
FIGURA 5 - Médias dos testes de aceitação para os atributos sabor e aroma no molho de pimenta testado.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, através dos testes realizados, chegou-se às seguintes conclusões: a matéria-
prima analisada microbiologicamente apresentou-se de acordo com a legislação vigente; quanto às características
sensoriais das amostras processadas foi observada boa aceitação para a conserva de pimenta com vinagre temperado
seguida da conserva com vinagre e sal, considerando os quatro produtos formulados neste estudo, em relação aos
atribuídos aroma e sabor; aroma característico da pimenta biquinho somente foi evidenciado na presença de vinagre.
Este aroma foi muito importante na decisão geral dos provadores na aceitação dos produtos avaliados; as amostras de
conserva em vinagre temperado armazenadas por 3 meses analisadas microbiologicamente apresentaram todas de
acordo com a legislação vigente; o molho de pimenta biquinho obteve índice de aceitação de 84% (tanto para aroma e
sabor), caracterizando um produto bem aceito no mercado.
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