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AS PROPAGANDAS DE CIGARRO E SUA INFLUÊNCIA NA

SOCIEDADE1

Edmeia Costa e SILVA2


Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP

RESUMO
Durante muitas décadas o cigarro fez-se presente na sociedade, construindo, com a
ajuda do cinema e dos anúncios publicitários, uma imagem de glamour, poder e status,
intimamente ligada à vitalidade e saúde, que ao longo dos anos foi destruída por
pesquisas que comprovaram a sua relação direta com uma série de doenças. Este artigo
discute a imagem criada pela indústria do cigarro e sua influência na sociedade,
implicando em ações que visem a melhoria da saúde da população.

PALAVRAS-CHAVE: cinema; cigarro; propaganda; saúde; sociedade.

TEXTO DO TRABALHO

O cinema norte-americano das décadas de 1930, 1940 e 1950 eternizaram filmes


e imortalizaram atores e atrizes de Hollywood. Marcada por temas que iam do Western
à visão independente e crítica do sistema de vida dos Estados Unidos, a indústria
cinematográfica passou por altos e baixos; mas, independente do estilo, de alguma
forma havia sempre uma dose de romance no ar, assim como a fumaça produzida pelos
cigarros de seus protagonistas. Dessa forma, a indústria tabagista, associou-se à
indústria cinematográfica constituindo uma parceria que resultaria em grandes lucros.

Com a ajuda de roteiros envolventes e instigantes, o cigarro começou a ser


introduzido no cotidiano das pessoas como um elemento que envolvia força, poder,
status, autoconfiança, sucesso, sensualidade e até mesmo rebeldia - características que
deram início à glamorização do tabaco. Clark Gable, Cary Grant, Spencer Tracy, Joan
Crawford, John Wayne, Bette Davis e Betty Grable estão entre os nomes citados em
uma extensa lista de atores e atrizes de Hollywood que foram muito bem pagos pela

1
Trabalho apresentado no I Pró-Pesq PP – Encontro de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda.
De 26/08 /2010 a 27/08/2010. CRP/ECA/USP.
2
Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São
Paulo, email: edmeiacs@yahoo.com.br
indústria do cigarro para promover seus produtos em estúdios de cinema, rádio e TV e
eventos públicos.3

Documentos liberados pela indústria depois de processos judiciais de grupos


de combate ao tabagismo revelam a extensão da relação entre estas empresas
e os estúdios de produção cinematográfica.
Uma empresa pagou mais de US$ 3 milhões (em valores de hoje) em um ano
para as estrelas.
... No total, foram pagos aos atores o equivalente, hoje, a US$ 3,2 milhões.
Em alguns casos, os fabricantes de cigarro pagaram os estúdios para criar
programas de rádio que incluíam a promoção feita por suas estrelas. (BBC
BRASIL.COM)

Assim, o cinema serviu, durante muito tempo, como instrumento de propaganda


para a disseminação de valores que moldaram comportamentos e costumes e,
impulsionado por seus ídolos, o consumo do cigarro teve o incentivo que faltava. Se a
expansão do tabaco se deu após a Primeira Guerra Mundial, principalmente entre o sexo
masculino, foi após a Segunda Guerra Mundial que as mulheres passaram a figurar
consideravelmente entre o número de fumantes.

Mais precisamente, a necessidade de vender significa que as produções da


indústria cultural devem ser eco da vivência social, atrair grande público e,
portanto oferecer produtos atraentes que talvez choquem, transgridam
convenções e contenham crítica social ou expressem idéias correntes
possivelmente originadas por movimentos sociais progressistas.
(KELLNER, 2001, p. 27)

O cinema faz parte de uma cultura de massa que dita moda e insere produtos que
passam rapidamente de uma simples mercadoria a uma necessidade constante e, às
vezes, até mesmo imediata, criando um círculo vicioso no qual realidade e fantasia se
fundem. Será que a vida imita a arte ou é a arte que retrata a vida? Não existe uma
resposta fácil para esta questão. Por outro lado, mesmo depois de leis anti fumo que
baniram o cigarro da mídia e outros canais de divulgação (como outdoors, por
exemplo), é possível comprovar a utilização cada vez mais frequente do produto em
cenas de filmes contemporâneos e a sua relação com o número de fumantes.

Em 2001, o período inglês The Lancet, publicou os resultados de uma pesquisa


envolvendo os 25 filmes de maior sucesso nos EUA para cada ano entre 1988 e 1997.

3
De acordo com reportagem publicada pela BBC BRASIL.COM, pesquisadores da Universidade de
Nova Iorque, afirmam em artigo publicado na revista Tobacco Control, que os contratos para a promoção
do cigarro em filmes de Hollywood datam do começo a era do cinema falado e que praticamente todos os
grandes nomes da época estavam envolvidos com o merchandising do cigarro.
De acordo com os pesquisadores, a promoção de determinadas marcas de cigarros
usadas pelos atores em cena aumentou dez vezes durante esse período.

Os pesquisadores da Dartmouth Medical School, em New Hampshire, nos


EUA, analisaram o número de vezes em que o nome, a marca ou o logotipo
de cigarros apareceram nos filmes, assim como as cenas em que os atores
são vistos manuseando ou fumando cigarros conhecidos.
Segundo os pesquisadores, a crescente concentração em apenas algumas
marcas dá a impressão de que estes cigarros estão sendo claramente
promovidos. 85% dos filmes incluíam cenas com cigarros; 28% mostraram
marcas de cigarros; 32% dos filmes voltados para adolescentes contêm
imagens com produtos, contra 35% para filmes adultos. Marcas de cigarros
aparecerão em 20% dos filmes infantis. Quatro marcas de cigarros
americanos totalizam 80% das aparições. (BBC BRASIL, 2001)

Conforme o estudo, a Marlboro totaliza 40% das aparições nos filmes enquanto
que 20% dos filmes infantis também são responsáveis pela divulgação de certas marcas
de cigarros. De acordo com o Dr. James Sargent, que liderou a pesquisa, quando as
empresas fabricantes contam com atores para promover seus produtos, desenvolvem
uma prática que pode ser considerada como outra forma de propaganda do cigarro e que
ela pode ter um grande impacto junto aos jovens. Antes da proibição de anúncios, as
empresas pagavam boas quantias para colocar o cigarro nas mãos de artistas famosos,
mas os críticos da indústria do cigarro dizem que as marcas não estão presentes nos
filmes por acaso, já que a produção da indústria cinematográfica exige muito
planejamento a respeito de como e quando determinados produtos deverão aparecer nas
cenas.

No ano de 2003, outro artigo publicado no mesmo veículo, mostrou que o fumo
nos filmes é responsável pela iniciação de cerca de 52% dos jovens entre 10 e 14 anos,
tendo um efeito subliminar superior aos comerciais, que correspondem a 34% dos
casos.

A pesquisa acompanhou 2.603 jovens norte-americanos que nunca haviam


fumado, por um período que variou de 13 a 26 meses, através de análise
multifatorial - com informações como série escolar, idade, gênero, pais
fumantes, auto-estima, performance na escola, nível escolar dos pais, pais
autoritários, sentimentos de revolta - além da exposição a 50 filmes de
grande bilheteria ou com a participação de astros populares entre os jovens,
lançados entre 1988 e 1999. Os filmes foram classificados em quatro
grupos, de acordo com a censura. Em média, os participantes viram 16
filmes, sendo expostos a uma média de 98 cenas com fumo. A exposição
aumentou com a idade, em meninos, e conforme as censuras ficavam mais
brandas. (BARATA, 2003).
Os pesquisadores constataram ainda que jovens de pais fumantes são menos
propensos a essa influência, talvez por já viverem nesta realidade e não sofrerem os
efeitos de sua “glamorização”. Outro aspecto importante da pesquisa é o fato de 60%
dos filmes com cenas de cigarros são direcionados para a censura livre (menores de
idade), o que sugere uma reformulação da censura. Os pesquisadores atestam também
que os jovens expostos a esses filmes têm três vezes mais chances de darem a sua
primeira tragada, mesmo que ela não se transforme em vício.

No entanto, não foi apenas através dos filmes que a indústria tabagista
conseguiu seu espaço na sociedade. Outro caminho galgado para levar seu produto aos
consumidores foi a propaganda. Os anúncios de TV concentraram seus esforços
principalmente no sentido de atingir o público jovem – que, por sua vez, via no cigarro
um passaporte para o mundo adulto.

Já em 1954, os cigarros Marlboro produziam anúncios com a figura do


mundialmente conhecido Marlboro Man, personagem que representou a marca até
1999. As propagandas de Marlboro visavam inicialmente o público feminino, mas
acabaram criando um universo masculino identificado pelo slogan: “Terra de
Marlboro”, representada por cowboys - homens viris, impetuosos e com muita
coragem.

No Brasil, a campanha criada para o cigarro Vila Rica teve influência na


sociedade com a introdução do termo “A lei de Gerson”. O termo usado para designar a
vantagem sobre alguém ou alguma coisa, a vitória da malandragem, o jeitinho de tirar
proveito, teve como garoto-propaganda o jogador Gerson, tri-campeão de futebol
brasileiro em 1970, com o famoso bordão: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”
O comercial identificava-se com a crise ética pela qual passava o país e a frase tornou-
se um elemento de definição da identidade nacional.

Em 1976, o cigarro Continental, com o slogan: “Continental: sabor bem Brasil,


preferência nacional”, ficaria eternamente ligado à imagem do ator Herson Capri e à
música; O portão, de Roberto Carlos.

Os cigarros consumidos pelo público feminino também usaram slogans que


definiriam um novo estilo para as mulheres. “O importante é ter charme” dos cigarros
Charm e “Ela sou eu”, dos cigarros Ella, mostravam mulheres bonitas, magras,
charmosas, independentes e de sucesso profissional.

As histórias apresentadas nos comerciais, efetivamente na década de 1980,


mostravam desde gente bonita e sofisticada em meio a muita diversão até modelos
atléticos e sedutores praticando esportes radicais. O cigarro virou sinônimo de um estilo
de vida.

E não era só isso, as propagandas do cigarro Hollywood, por exemplo, vinham


acompanhadas de uma trilha sonora energizante, que acabava transformando-se no hit
do momento, sendo disponibilizada posteriormente em discos que levavam o mesmo
nome da marca: Hollywood: O sucesso – com faixas que se tornaram clássicos do rock
dos anos de 1980 e 1990 como: The final countdown (Europe), Did it all for Love
(Phenomena), Burning heart (Survivor), Miles away (Winger), If looks could kill
(Heart), Love ain’t no stranger (Whitesnake), Don’t stop believin’ (Journey), Pain lies
on the riverside (Live) e uma das mais famosas, Breaking all the rules (Peter Frampton).
Com tantos fatores atrativos, fica difícil não se envolver de alguma forma no universo
do tabaco. Fumantes ou não, as campanhas publicitárias sempre conseguiam chamar a
atenção do telespectador. Os protagonistas inspiravam os jovens por sua vitalidade,
condicionamento físico e disposição para aventuras.

O cigarro Free, com uma proposta da campanha mais cultural, enfatizava


personagens inteligentes, com uma filosofia de vida baseada em fazer a diferença. Os
comerciais centravam-se depoimentos com frases de efeito: “Lara Pinheiro, coreógrafa:
a melhor parte da minha vida é o improviso”; Márcio Neves, 32 anos, fotógrafo: eu
coleciono amigos. O resto é descartável”. “Daniel Zanardi, 27 anos, artista plástico: não
quero passar pela vida sem um arranhão. Quero deixar a minha marca”. “Carolina
Overmeer, 27 anos, diretora de arte: ninguém muda nada se não acreditar que pode”.

Ou seja, a indústria cultural acertou ao introjetar um cenário em que o ato de


fumar era representado de maneira insinuante e intrinsecamente relacionada à sensação
de satisfação, sucesso pessoal e prazer.

A indústria cultural sorri: torna-se aquilo que és; e sua mentira consiste
precisamente na confirmação e consolidação repetitivas do simples ser-
assim, daquilo a que o andamento do mundo reduziu os homens.
(ADORNO, 1977, p. 352-3)
Essas e outras marcas de cigarros estiveram presentes na vida da população por
meio de inserções de TV, anúncios em jornais e revistas, propagandas em outdoors e
tantas outras formas de divulgação de massa e merchandising, além de patrocínios de
esportes e diversos eventos culturais. Mas toda história tem dois lados. No entanto, o
cigarro – que era apresentado como algo tão positivo -, na verdade causava inúmeros
problemas à saúde. Seus efeitos negativos sempre foram conhecidos pela indústria
tabagista, que desde o princípio apoderou-se de técnicas e estratégias para escondê-los.

Ao contrário do que muitos imaginam os estudos realizados para provar a


relação entre o cigarro e uma série de doenças não é tão recente assim. Apesar de o
assunto ter se tornado mais evidente nos meios de comunicação e nas discussões
políticas a partir da década de 1990, a indústria tabagista há muito se empenha para
esconder ou amenizar os efeitos registrados em experimentos e pesquisas.

Um dos registros mais antigos data de 1761, pelo médico londrino John Hill, ao
associar o uso do tabaco em pó (conhecido como rapé) a tumores no nariz. Muitas
outras pesquisas foram realizadas, mas só em 1928, um tipo de estudo se tornaria
padrão no século 20, publicado pelos médicos Herbert L. Lombard e Carl B. Doering4.
No entanto, durante esse período, um fato merece ser destacado. Em 1953, quando o
médico Ernst Wynder5, experimentou pintar o dorso de 86 ratos com uma substância
obtida da condensação da fumaça do cigarro Lucky Strike para ver o que acontecia,
chegou a um dado assustador: dos 62 animais que sobreviveram, 58% desenvolveram
tumores cancerígenos e entre os ratos pintados, 90%, morreram nos 20 meses seguintes.
Essa descoberta deu início às estratégias da indústria tabagista para encobrir os danos
causados por seu produto6. Os jornais e revistas propagaram a história dos ratos e a
idéia de que o cigarro causa câncer tornou-se forte, fazendo com que as vendas de
cigarro entre 1953 e 1954 caísse 10%.

A indústria entrou em pânico. Sua primeira providência foi contratar uma


das maiores empresas de relações públicas dos EUA, a Hill & Knownlton,
para tentar neutralizar a repercussão dos ratos pintados com nicotina. Em
janeiro de 1954, a resposta da indústria circulou num anúncio de página

4
A pesquisa faz a relação entre as mortes por câncer com idade, renda, alimentação e fumo.
5
Um judeu alemão que deixou o país com a ascensão de Hitler. Para a experiência, o dorso dos ratos foi
raspado com um barbeador elétrico e cada animal recebeu durante dois anos, 40 gramas de alcatrão
destilado (a mesma quantidade de alcatrão e nicotina encontrada em um maço de cigarros), três vezes por
semana.
6
O impacto do experimento deve-se ao fato de ser a primeira comprovação do efeito cancerígeno do
fumo, ao contrário dos estudos estatísticos das observações diretas apresentadas nos séculos 18 e 19.
inteira, publicado em 448 jornais americanos. Sob o título “Uma Declaração
Franca para os Fumantes”, o anúncio era categórico nas afirmações: não
havia provas científicas de que o cigarro causasse câncer; os bioestatísticos
poderiam apontar como causa qualquer outro fator ligado à vida moderna,
como a poluição de carros e fábricas ou a alimentação industrializada.
“Acreditamos que nossos produtos não fazem mal à saúde”, dizia o texto,
assinado pelo recém-criado Comitê de Pesquisas da Indústria do Tabaco. Ao
final do anúncio, o comitê fazia uma promessa: alardeava que a indústria
“aceitava como responsabilidade básica o interesse pela saúde das pessoas,
acima de todas as outras considerações de nosso negócio”. Para provar que
ela estava interessada em pesquisar o impacto do fumo sobre a saúde, estava
lá o comitê de pesquisas, financiado por todos os fabricantes de cigarro.
(CARVALHO, 2001, p. 15-16)

Toda essa fraude começou a ser desmontada quando a justiça e ex-funcionários


da indústria do tabaco, descontentes com suas estratégias, decidiram, a partir de 1994,
impor maior rigor à responsabilidade da indústria do tabaco para com a sociedade.

O número de fumantes aumentava cada vez mais, assim como o número doenças
e mortes provocadas pelas conseqüências do uso do cigarro. Entre os anos de 1950 e
1970, diversos problemas de saúde puderam ser comprovadamente relacionados ao
tabaco: infarto; câncer de boca, pulmão, laringe, esôfago, rim, bexiga e pâncreas;
angina; isquemia; aneurisma; enfisema; bronquite; entre outras.

Era hora de tomar decisões que mudassem esse quadro. Tinha início, então, uma
guerra anti fumo que iria angariar adeptos por todo o mundo.

Já nessa época, os governos americano e britânico decretaram que os produtos


provenientes do tabaco tivessem avisos sobre os seus riscos potenciais. Por outro lado,
seu consumo era amplamente aceito e pouco criticado apesar dos estudos médicos.

A década de 1970 foi marcada pela revolução sexual e libertária, na qual o uso
de drogas, como a bebida e o cigarro, tomavam uma dimensão política de rebeldia e
contestação ao sistema autoritário da época. Mesmo assim, várias pesquisas já
apontavam para um problema de grandes proporções.

Na década de 1980 a propaganda de cigarros sofria restrições em países da


Europa e outros continentes; além disso, as embalagens do produto estampavam um
selo de alerta especificando que o tabaco causava danos irreversíveis à saúde.

No Brasil, o produto continuava sendo vendido livremente. Somente em 1988, o


Ministério da Saúde expediu uma portaria para obrigar o uso da inscrição: “O
Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde” em anúncios e embalagens de
cigarros.

Anos depois, uma nova lei exigiu que fotos de pessoas doentes ou com seqüelas
do produto estivessem estampadas nos maços de cigarros. Porém, todas essas medidas
não foram suficientes para diminuir o consumo do tabaco. Um estudo realizado pelo
programa de Controle e Prevenção do Câncer da Universidade da Califórnia (EUA),
desenvolvido com jovens entre 12 e 17 anos, calculou que 700 mil jovens americanos
experimentaram cigarros devido à sua propaganda. (A INDÚSTRIA DO CIGARRO)

A LEI N.º 10.167/2000 restringe, no Brasil, a publicidade de produtos derivados


do tabaco à afixação de pôsteres, painéis e cartazes na parte interna dos locais de venda.
Proíbe, conseqüentemente, sua veiculação em revistas, jornais, televisão, rádio e
outdoors, inclusive internet. Além disso, proíbe a propaganda indireta contratada,
também denominada merchandising, e a propaganda em estádios, pistas, palcos ou
locais similares, além de patrocínio de eventos esportivos nacionais e culturais.
(SENADO FEDERAL)

Como o Brasil, outros países também proibiram ou fizeram sérias restrições


à propaganda do cigarro, como Estados Unidos, Canadá, França, Itália,
Austrália, Bélgica, Noruega e Suécia. Outros quatro países proibiram
totalmente a propaganda do cigarro: Nova Zelândia, Noruega, Finlândia e
França, e conseguiram reduzir o consumo do produto em 21%, 26%, 37% e
14%, respectivamente. (MATTEDI, 2007)

Atualmente, o número de fumantes tem caído significativamente, mas as ações


em prol da saúde no Brasil e no mundo continuam, beneficiando toda a sociedade.

No Brasil, estima-se que cerca de 200.000 mortes/ano são decorrentes do


tabagismo (OPAS, 2002). De acordo com o Inquérito Domiciliar sobre
Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não
Transmissíveis , realizado em 2002 e 2003, entre pessoas de 15 anos ou
mais, residentes em 15 capitais brasileiras e no Distrito Federal, a
prevalência de tabagismo variou de 12,9 a 25,2% nas cidades estudadas. Os
homens apresentaram prevalências mais elevadas do que as mulheres em
todas as capitais. Em Porto Alegre, encontram-se as maiores proporções de
fumantes, tanto no sexo masculino quanto no feminino, e em Aracaju, as
menores. Essa pesquisa também mostrou que a concentração de fumantes é
maior entre as pessoas com menos de oito anos de estudo do que entre
pessoas com oito ou mais anos de estudo. Em relação à prevalência de
experimentação e uso de cigarro entre jovens, de acordo com estudo
realizado entre escolares de 12 capitais brasileiras, nos anos de 2002-2003
(Vigescola7 ) a prevalência da experimentação nessas cidades variou de 36 a

7
Vigilância de tabagismo em escolares.
58% no sexo masculino e de 31 a 55% no sexo feminino, enquanto a
prevalência de escolares fumantes atuais variou de 11 a 27% no sexo
masculino e 9 a 24% no feminino. (INCA)

No Estado de São Paulo, entrou em vigor no dia sete de agosto de 2009, a lei
anti fumo8 que proíbe o fumo em locais fechados de uso coletivo, como bares,
restaurantes, casas noturnas, locais de trabalho, etc. Isso quer dizer que os ambientes
estarão 100% livres do tabaco, na tentativa de inibir o fumo e reduzir os danos à saúde
dos fumantes ativos e passivos. (PORTAL DA LEI ANTI FUMO)

O principal argumento de ataque ao cigarro é a defesa da saúde pública.


Como a música dos comerciais de cigarro, os números usados para aquilatar
o tamanho do desastre também são grandiloqüentes:
O cigarro matou mais no século 20 que todas as guerras somadas:
foram 100 milhões de vítimas, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS).
O fumo mata, 3,5 milhões de pessoas no mundo ao ano, número
superior à soma das mortes provocadas pelo vírus da Aids, pelos
acidentes de trânsito, pelo consumo de álcool, cocaína e heroína e
pelo suicídio.
No Brasil, todo ano, morrem 80 mil pessoas de doenças relacionadas
ao fumo, quase o dobro das vítimas de homicídios no país.
O cigarro é o maior causador de mortes evitáveis na história da
humanidade. (CARVALHO, 2001, p. 9)

Iniciativas como esta foram tomadas em outros países, como Portugal, por
exemplo, e prometem ser seguidas também em outros estados brasileiros. Entretanto, a
polêmica faz parte das discussões sobre o assunto.

Após inúmeras pesquisas que relacionam o consumo do cigarro a uma série de


doenças, o Governo passou a avaliar essa questão a partir de um novo ponto de vista: se
por um lado entra dinheiro; por outro, o gasto com o tratamento das doenças provocadas
pelo uso do tabaco mostram um certo desequilíbrio no orçamento.

A rede pública de saúde gasta mais de R$ 300 milhões por ano em


tratamentos de doenças relacionadas ao tabagismo. Um estudo da
pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Márcia Pinto mostra que
além dos gastos do sistema de saúde, há também gastos previdenciários.
Grande parte das pessoas que têm doenças causadas pelo fumo estão em
idade economicamente ativa, mas algumas delas estão impossibilitadas de
trabalhar por consequência das doenças. Quem tem uma doença causada
pelo tabagismo, como câncer de pulmão, às vezes está inabilitada para o
trabalho ou aposentado precocemente e o governo tem que pagar essa
aposentadoria. A carga econômica do tabagismo para o Sistema Único de
Saúde (SUS) é muito alta, explicou. De acordo com o estudo de Márcia, os

8
LEI Nº 13.541, de 7 de maio de 2009.
pacientes na faixa dos 35 a 60 anos de idade foram os responsáveis pelos
maiores custos. (PARANÁ ONLINE, 2008)

Apesar de o Brasil ser um grande produtor de tabaco e mesmo sendo um país em


desenvolvimento, o governo investe milhões em programas e ações anti-tabagismo.
Com a implantação do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, o Ministério da
Saúde, sob a ótica da promoção da saúde, conjuntamente com as secretarias estaduais e
municipais de saúde, pretende reduzir drasticamente a prevalência de fumantes e a
morbi-mortalidade resultante do consumo de derivados de tabaco em todo território
nacional.

Alguns dos focos principais desta “luta” contra o tabaco são a redução da
iniciação dos jovens, público mais suscetível aos apelos da indústria tabagista através
dos meios de comunicação e o fácil acesso a esses produtos.

Sendo assim, o Governo Federal, através do Presidente da República José


Sarney, sancionou em 11 de junho de 1986 a Lei Nº 7.488, que determina o dia 29 de
agosto como o Dia Nacional de Combate ao Fumo, a ser comemorado em todo território
nacional. Determina ainda que caberá ao Ministério da Saúde, na semana que anteceder
esta data, a promoção de uma campanha de abrangência nacional, com a finalidade de
alertar a população para os malefícios advindos com o uso do fumo.
No ano seguinte, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a articular o
Dia Mundial sem Tabaco – comemorado no dia 31 de maio –, hoje com a participação
de 192 países. A cada ano é escolhido um tema relacionado ao tabagismo para
atividades e ações que visam atrair a atenção de todo o mundo sobre a epidemia e as
doenças que podem ser evitadas relacionadas ao tabaco. O Brasil passou a engajar-se
nessa luta a partir de 1989.

O Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional de Câncer e em


parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde já atuantes no
Programa Nacional de Controle do Tabagismo, articula nacionalmente as
comemorações dessa data. Através de um convênio, tem sido possível aos
Estados e Municípios reproduzirem o material promocional, como cartazes,
manuais, folhetos e outdoors, para divulgação do tema em todo o País.
(BIBLIOTECA VIRTUAL MINISTÉRIO DA SAÚDE)

Mesmo com tantas restrições, a indústria tabagista ainda usa meios para burlar
leis e estar, ainda que de forma não tão incisiva, presente no cotidiano social e na
indústria cinematográfica. Temos a oportunidade de assistir a filmes como Obrigado
por fumar e O Informante que ressaltam a manipulação da opinião pública, mas em
contrapartida, é difícil apontar um filme em que não haja nenhuma cena que apareça
pelo menos um personagem, meramente ao acaso, com um cigarro na mão. Em novelas
e seriados o cigarro ainda apresenta-se como um ingrediente a mais para a composição e
a caracterização dos personagens. O impacto na saúde da população tem reflexos que
não serão minimizados em curto prazo. As estratégias implantadas pelo Ministério da
Saúde, conjuntamente com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), prevê ações que,
apesar de indispensáveis e essenciais para a prevenção da saúde, são realizadas em
momentos pontuais, datas comemorativas, atividades educativas, enquanto que a
indústria do tabaco investe pesado e diariamente com o objetivo de fazer-se presente, de
alguma forma, na sociedade, seja pelos meios de comunicação, seja em eventos
públicos. A luta anti fumo precisa ter mais visibilidade e tomar uma proporção maior
aos olhos da população. Essas ações devem ser reconhecidas diariamente e estarem cada
vez mais próximas das pessoas. É a promoção da saúde x a indústria cultural, em uma
briga que consume muito dinheiro e muitas vidas.

REFERÊNCIAS

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Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.

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<http://www.bbc.co.uk/portuguese/> Acesso em 30/08/2009.

BBC BRASIL.COM. Astros de Hollywood recebiam fortunas para promover fumo. Disponível
em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080925_hollywoodfumo.
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BARATA, Germana. Cigarro no cinema contribui para jovens começarem a fumar. In: Ciência
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http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252003000400012&script=sci_
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<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/exposicoes/cigarro/index.html> Acesso em: 03/01/10
CARVALHO, Mario Cesar. O cigarro. São Paulo: Publifolha, 2001.
INCA. Tabagismo: dados e números. Tabagismo no Brasil. Disponível em: <
http://www1.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=dadosnum&link=brasil.htm>
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KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: Edusc, 2001.

MATTEDI, José Carlos. Fim da propaganda de cigarros foi fundamental para queda do
consumo entre jovens, avalia pesquisador. Jornal do Brasil, 28/01/2007. Disponível em
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PARANÁ ONLINE. Mais de R$ 300 milhões gastos em doenças causadas pelo cigarro.
Disponível em <http://www.parana-online.com.br/canal/vida-e-saude/news/287602/
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PELO+CIGARRO> Acesso em 07/12/09.

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http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=218737> Acesso em:
20/06/09

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