Professional Documents
Culture Documents
Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Ciência da Computação
A Informática e o Direito
Orientador:
Brasília
Julho de 2007
2
2007
Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Ciência da Computação
A Informática e o Direito
________________________ ________________________
Prof. Jorge Fernandes Prof. Jan Correa
Universidade de Brasília Universidade de Brasília
___________________________
Prof. Pedro A. D. Rezende
Universidade de Brasília
- Objetivos
Mostrar a integração entre o mundo da Informática e o Direito e dentro dessa
abordagem, será mostrado como o direito de informática está sendo debatido, seja na óptica
de juristas e técnicos, seja na óptica dos congressistas. Somada a importância da disciplina
“Direito e Informática” num curso de Graduação de Informática .
- Objetivo Geral
Informar o leitor como é a relação entre o Direito e a Informática e alerta-lo a cerca da
importância da disciplina Direito e Informática num curso de graduação.
- Objetivos Específicos
Mostrar como o Direito e a Informática se relacionam, entender as noções básicas do
Direito, analisar as principais correntes de regulação do ciberespaço, alertar o leitor da
importância da regulação do código, abordar os principais conceitos de direito autoral e
ampliar a discussão a respeito do projeto de lei 76/2000 em pauta no Congresso Nacional.
- Metodologia
A metodologia empregada, nesta empreitada acadêmica, é o da análise e interpretação
racionais com espeque em pesquisa bibliográfica e em textos disponíveis em sites da rede
mundial de computadores.
12
Resumo
Este trabalho analisa a relação entre o Direito e a Informática. O foco deste trabalho é
fazer um debate a cerca do papel do direito na Informática, devendo esclarecer as principais
dúvidas em relação a legislação, regulação e direitos autorais, alem de salientar a importância
de uma matéria de Direito de Informática num curso de graduação.
Palavras-chaves: Direito, Informática, Código, Leis e Sociedade .
13
Abstract
This work analyzes the relation between the Right and Computer Science. The focus
of this work is to make a debate about the paper of the right in computer science, having
clarifying the main doubts in relation the legislation, regulation and copyrights, and to point
out the importance of a substance of Right of Computer Science in a graduation course.
Key-words: Right, Computer Science, Code, Laws and Society.
14
Capítulo 1
1. Introdução
Muitos acreditam ter uma liberdade ilimitada no espaço cibernético, pelo fato de a
pessoa não estar presente fisicamente onde seus atos terão efeito. Isso leva alguns a pensar
que podem fazer qualquer atividade ilícita com boas chances de não ser formalmente acusado
de absolutamente nada. Mas até onde iria a liberdade, por exemplo, de um usuário da
internet? Até que ponto estaríamos passando dos limites e pondo em risco as liberdades e
garantias tão claramente postas na Constituição Brasileira?
A liberdade individual é limitada pelas normas que o Estado nos impõe, para que as
garantias e os direitos de terceiros sejam respeitados. Temos as ferramentas do Direito e da
Justiça para este fim. Há regras de convívio social para que algum equilíbrio reine na vida em
comum, da qual faz parte o mundo virtual. O sucesso de qualquer ambiente coletivo está na
adesão a algumas regras de convívio social.
Entramos, assim, num dos mais delicados temas da filosofia jurídica. A moral é
qualquer coisa a que se submete todo valor quando devem predominar, na conduta do ser
humano, as tendências mais convenientes ao desenvolvimento da vida individual e social.
Aptidões para tal submissão constituem o chamado sentido moral dos indivíduos. Nem todas
as regras morais, internas ao indivíduo, encontram expressão em normas jurídicas, externas ao
indivíduo. As normas jurídicas são frutos de um processo de organização social, que
estabelece a Justiça como guardiã de sua observância pelos indivíduos, enquanto as regras
morais são frutos de um processo psicológico, que estabelece o sentido moral como regulador
interno de sua conduta. A espontaneidade é um fator fundamental nesse processo
15
psicológico.
A tecnologia está sendo responsável por expressivos avanços, porém fez surgir novas
formas de destruição e cada vez com maior intensidade, colocando em risco o rumo natural da
evolução.“A humanidade adotou uma concepção redutora do desenvolvimento. Ao assim
proceder, o crescimento econômico passou a ser considerado falso mito de que era preciso
sacrificar tudo em nome do desenvolvimento e, assim, marchou-se silenciosamente rumo ao
desastre.” (AIRES, 2004).
Observa-se desta forma que a sociedade pôs-se em risco a partir do momento em que a
imprevisibilidade pode ter como conseqüência uma grande margem de insegurança que
envolve os processos dos quais decorrem os riscos. Com isso, surgem as situações de
incerteza tão peculiares da denominada sociedade de risco ou contemporânea.
Percebe-se nos dias atuais que temos de um lado aqueles que querem mascarar a
realidade por meios de mecanismos que favorecem e perpetuam um sistema em crise e, de
outro, existem aqueles que demonstram preocupação diante das novidades e buscam
explicação.
“Permitir que a questão seja debatida publicamente é, sem dúvida, um passo essencial
na construção de uma nova sociedade: uma sociedade informada e capaz de agir
racionalmente.” (AIRES, 2004).
Vale ressaltar, que a tempos atrás, na sua origem o Direito esteve intimamente
relacionado com a técnica, e ainda estiveram apoiadas na matemática e na geometria, sendo
que mais tarde esse vínculo começa a separar-se.
“Como se percebe, o Direito, de uma forma geral, já não pode se mostrar indiferente
aos avanços da ciência, da técnica, e principalmente da produção de riscos, pois esses
elementos incidem decisivamente na configuração do sistema jurídico.” (AIRES, 2004).
Por isso, este documento visa mostrar a integração entre o mundo da Informática e o
Direito e dentro dessa abordagem, será mostrado como o direito de informática está sendo
debatido, seja na óptica de juristas e técnicos, seja na óptica dos congressistas. Somada a
importância da disciplina “Direito e Informática” num curso de Graduação de Informática .
Enfim, os leitores desta monografia serão convidados a entrar no mundo do Direito na
Informática.
17
Capítulo 2
2. Introdução do Direito
2.1 Introdução
Para usar o direito como campo de trabalho, como pretendemos nesta monografia,
temos que conhecê-lo melhor. Para os leigos o direito é a lei ou ordem. Segundo o jurista
Miguel Reale (2003), o Direito seria o conjunto de regras obrigatórias, ou positivas, que
garantem a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um da
comunidade. É a exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada. Assim,
quem age conforme as regras comporta-se direito , quem não o faz , age torto. Ou seja, não é
função do Direito apenas ordenar as relações dos indivíduos entre si para satisfação apenas
deles mesmos, mas principalmente, para realizarem-se através de uma convivência ordenada,
com vistas a um “bem comum” .
Norma
Valor Fato
Efeito Autoria
Paulo Dourado de Gusmão (2000) cita em seu livro, o caso de um juiz norte-
americano chamado Holmes, juiz da Corte Suprema, que define o direito como: o conjunto
19
de dados que permite uma “profecia de como decidirão os Tribunais”. Tal só ocorre se
houver bases fixas ou precedentes judiciais, definição de jurisprudência.
No âmbito das próprias normas jurídicas, as normas processuais são o mais notório
exemplo de coordenação no sistema. No âmbito extra-jurídico, a moral, que visa a regular a
conduta humana do ponto de vista da vida interior do indivíduo, também gera influxos no
sistema normativo. A Moral se diferencia do Direito em vários aspectos, sendo um deles a
coercibilidade. De acordo com Reale (2003), a coercibilidade é a possibilidade do uso legal
da força no cumprimento de uma regra de direito. O ato moral é naturalmente espontâneo,
enquanto o ato jurídico é potencialmente coercitivo. Todavia, a moral atua como referencial
de espectativas e justificativas para a ação legislativa, que estabelece o direito para regular a
conduta humana do ponto de vista da vida exterior dos indivíduos, e também como referencial
da normas sociais., que estabelecem expectativas de conduta.
Reale (2003) cita que “nem sempre o direito público é aquele que alcança alguma
ação contra ou a favor Estado, mas sim, quando a norma tutela valores os quais cabe ao
Estado proteger, como por exemplo a propriedade”. Uma norma, por exemplo, que proíbe que
uma pessoa se aproprie de algum bem alheio, não está cuidando apenas do interesse da
vítima, mas da harmonia do interesse comum, neste caso de respeito à propriedade, e
portanto, do convívio social harmonioso.
Segundo ainda Reale (2003), o Direito Penal é o ramo do Direito que, no sentido
próprio do termo , “forma um sistema de princípios e regras mediante os quais se tipificam as
formas de conduta consideradas criminosas, e para as quais são cominadas , de maneira
21
precisa e prévia , penas ou medidas de segurança rigorosas, visando objetivos
determinados.” Sem dúvida alguma o Direito penal é o mais potente meio de controle social,
e por isso Juristas consideram que deve ser evitado seu uso em excesso, ou sem as devidas
cautelas processuais. Um dos pilares do Direito Penal é o princípio da reserva legal.
“Devido ao princípio da reserva legal é que se diz que o Direito Penal positivo é um
sistema fechado. A norma incriminadora traça com precisão a esfera do ilícito, através
de uma incriminação taxativa, exata, auto-delimitada, o que impede a sua elasticidade,
como também o emprego da analogia aos tipos incriminadores e a interpretação
extensiva. O Direito Penal traça uma "figura cerrada em si mesma" e somente pode
impor a pena a quem nela incorrer. A taxatividade na descrição da conduta típica para
uma exata identificação do fato, como corolário da legalidade, proíbe portanto a
incriminação vaga e indeterminada do fato, e se não fosse assim a elasticidade na
tipificação do fato permitiria o livre arbítrio do juiz, como ocorria no art.23 da antiga
Lei de segurança Nacional (lei 6620/17.12.78): "Praticar atos destinados a provocar a
guerra revolucionária". Um exemplo de atipicidade absoluta pela aplicação do
princípio da reserva legal é o chamado furto de uso. Taxatividade = precisão na
descrição do tipo para evitar a sua aplicação elástica.” (Haussmann, 2006).”
Jurisdição
Ação
Exceção ou Defesa
Processo
“É um direito adjetivo ou formal que regula a aplicação do direito substantivo ou material aos
casos concretos” (DINIZ, 1996). Ou seja, que regulamenta os procedimentos, criação de
sentenças indicativas ou referentes aos atos sucessivos e das normas que a Justiça e seus
22
operadores cumprem ao administrar e aplicar o direito. O Direito Processual disciplina não
só as ações dos juízes , mas dos tribunais ou órgãos responsáveis pela justiça, determina como
se deve agir e fazer cumprir a lei a qual teria sido violada. Empregando a definição
tridimensionalista de Reale, o Direito Processual regula o que se deve fazer posteriormente
quando o valor foi atingido por um fato determinado e causou uma quebra na norma. Há
evidente distinção entre o processo penal e o processo civil, especialmente em relação à
admissibilidade de prova, mas a teoria geral do processo é a mesma .Na esfera penal há em
um dos dois pólos a pretensão punitiva do Estado, manifestada pelo Ministério Público, que é
o órgão do Estado de pretensão punitiva e denunciativa. Na esfera civil, regulamenta-se os
conflitos de interesse não penais (por exemplo, direito administrativo, direito autoral, direito
tributário, direito do trabalho).
O Direito Civil constitui-se de regras que quando reunidos em um, chama-se o
Código Civil por tradição. Este abrange :
Numa primeira abordagem, pode-se perceber que a maioria das condutas socialmente
indesejáveis , praticadas na esfera virtual, vão abranger basicamente as categorias dos direitos
pessoais ou da personalidade. O Direito da personalidade é base do sistema jurídico, por ser
essencial à pessoa humana,esse é intransferível e irrenunciável. São exemplos desses direitos,
Este último, junto com os direitos patrimoniais são base para um assunto que iremos
discutir muito neste trabalho, o Direito Autoral. Contudo fazendo uma breve inicialização
desse tema, temos :
Quando aplicados a fatos cuja ocorrência é mediada pela Informática, tanto o Direito
Penal quanto o Civil vão encontrar dificuldades de tipificação, tais como a de estabelecer
prova de autoria, por questões características do próprio meio virtual, como procuraremos
mostrar neste trabalho. À ciência jurídica cabe enfrentar esse tipo de dificuldade, pois as
sociedades evoluem de uma forma em que as normas jurídicas surgem em reação a condutas
socialmente indesejáveis, e onde novas práticas, como por exemplo as decorrentes do uso de
novas tecnologias, ensejam novas condutas potencialmente indesejáveis. Para isso, a ciência
jurídica emprega o princípio da analogia. O principio da Analogia “consiste em aplicar a um
caso não contemplado de modo direto e específico por uma norma jurídica, uma norma
24
prevista para uma hipótese distinta , mas semelhante ao caso não contemplado.” (DINIZ,
1996). A analogia é um princípio lógico no qual há uma adequação, por comparação de que
há uma semelhança nos fatos, e um juízo de valor, a fim de mostrar a prioridade das
semelhanças sobre as diferenças , com o intuito de se conseguir uma sentença jurídica
desejada numa disputa jurídica sui generis.
Entretanto, a evolução das TIC traz, com sua disseminação e empoderamento, desafios
inusitados para a aplicação do princípio da analogia. Pela extensão em que pode perturbar o
equilíbrio entre arbítrios, na abordagem Kantiana do Direito, ou extrapolar as contraposições
entre normas potencialmente conflitantes, no ordenamento Bobbiano. Por isso alguns juristas
consideram precipitado, ou até errôneo, aplicar o princípio da analogia àquilo que poderíamos
chamar de condutas virtuais indesejáveis, Como o advogado e Professor de Direito Tarcísio
Queiroz Cerqueira (2000), que explica: “aplicar as leis como elas existem hoje no ambiente
da internet seria um erro”. Cerqueira cita duas correntes opostas que tentam consolidar
alguma teoria jurídica para esta nova situação, trazida pela disseminação das TIC.
25
Capítulo 3
3. Direito e Informática - As Duas Correntes
E a segunda corrente, seria sustentada por aqueles mais arredios a novas leis gerais,
que tenham por objetivo inibir práticas indesejáveis de uma minoria maliciosa no ciberespaço,
e que adotam princípios ad hoc para superar as dificuldades encontradas na aplicação do
princípio a analogia. A justificativa para a cautela legiferante dessa segunda corrente é de que
as mesmas dificuldades encontradas na aplicação do princípio da analogia a esta nova
realidade poderiam muito bem servir para que essas leis sejam manipuladas e transformadas
em instrumentos quase imperiais de arbítrio, com desproporcionais efeitos colaterais no
equilíbrio entre riscos e responsabilidades para a grande parte da população, também
“atropelada” por essa nova realidade.
A análise da posição adotada por essas duas correntes, dos efeitos que têm causado
onde e quando predominam, e do papel que profissionais da informática poderiam exercer no
importante debate travado entre elas, caso tenham o devido preparo, durante sua formação
acadêmica, sobre o papel social que sua ciência e técnica desempenham nos rumos que
podem tomar, ou está tomando, esta nova realidade, serão objeto dos parágrafos seguintes
desta monografia.
26
Com a solidificação da era virtual e mais do que nunca como parte indivisível da
sociedade do século 21. A informática já é realidade e ocupa um espaço significativo na vida
de uma boa parte da população mundial, e hoje fica quase inviável encontrarmos alguma
atividade social que não tenha sido afetada pelos seus efeitos. É um universo que se move
num dinamismo desproporcional, na qual um ato ou um “click” do mouse pode violar
qualquer esfera seja particular, seja pública, onde os atos têm significado e geram efeitos
imediatos, podendo este ato ter origem num determinado país e conseqüência numa outra
região do globo. “A Internet é uma verdadeira praça pública, onde todos, independentemente
de raça, cor e nacionalidade, tem direito ao uso da palavra. É a versão moderna da Ágora da
Grécia Antiga” (ELIAS, 1999).
“Imagine descobrir um continente tão vasto que suas dimensões talvez não tenham
fim. Imagine um mundo novo com mais recursos que toda a nossa futura ganância
poderia esgotar, com mais oportunidades do que os empresários poderiam explorar.
Um lugar muito particular que se expande com o crescimento. Imagine um novo
mundo onde os transgressores não deixam pegadas; onde as coisas podem ser furtadas
um número infinito de vezes e ainda assim ficam na posse de seus donos originais;
onde a física é aquela do pensamento que transcende o mundo material; e, onde cada
um é uma realidade tão verdadeira como das sombras da caverna de Platão” (LUCCA,
2003).
O mundo jurídico não está avesso a essas novas realidades e nem desatualizado
perante ao panorama tecnológico atual. “Tradicionalmente mais lento do que a realidade, o
direito vem se adaptando aos novos tempos, e, em seu passo mais prudente, começa a lidar
com o fenômeno até então desconhecido. A diversidade de situações que merecerão a atenção
da justiça é infindável” (SCHOUERI, 2001). Fica claro que uma boa parte dos juristas estão
engatinhando no assunto;
Contudo alguns juristas antenados na influência que a era digital está causando,
impulsionados as vezes, pela necessidade ou calamidade da situação , já outros pelos
pomposos lobbys das empresas dominantes de software, procuram aprimorar a legislação em
vigor, e estes, para com o pretexto de enquadrar cada vez mais o criminoso que se esconde
no manto da virtualidade, atingem em cheio direitos individuais fundamentais tão claros na
nossa magna carta, e não são raros os advogados e juízes que travam árduas discussões em
favor de leis específicas para dar certo controle ou ordem na esfera virtual.
A necessidade de leis específicas para regular o ciberespaço é clara, “...o estado atual
da legislação brasileira que, no momento, é genérica e insuficiente ...” (LUCCA, 2003).
28
Saindo um pouco duma visão micro, temos todo momento o cidadão brasileiro alertando
que a violência no Brasil só chegou nesse estado por não haver justiça, ou melhor termos uma
impunidade como regra e não como exceção. Agora voltando ao nosso assunto inicial, Lucca
afirma existir uma analogia da impunidade no mundo virtual. “Diz-se, com insistência, que a
impunidade que campeia o ciberespaço se deve à falta de uma regulamentação específica na
área penal, facilitando e, até mesmo estimulando a atuação dos indivíduos desprovidos de
maiores escrúpulos.” (LUCCA, 2003).
“A ausência de certas definições faz alguns pensarem que o quadro atual está na
iminência de recair em uma 'selvageria cibernética' e apontam o aniquilamento da privacidade
do indivíduo como conseqüência mais singela da situação” (LUCCA, 2003). Ainda segundo
Lucca, não há outra solução se não um controle rígido, um uso correto das normas do direito,
para que haja uma harmonia tão desejada no ciberespaço. O Direito é a única forma de
controle capaz de conter o avanço da criminalidade no mundo virtual, isto porque, de todos os
sistemas de controle social, o Direito é o único que se reveste das características da
coercibilidade, sancionando as condutas havidas por ilícitas, quer sob a angulação penal, civil
ou administrativa.
Vale ressaltar que, como já foi visto, no capítulo anterior que, as normas impõe
deveres, temos as normas morais como exemplo, entretanto somente as normas jurídicas são
expressamente legais quanto ao fato do Estado poder exigir o cumprimento delas.
Lucca fala de uma chamada inflação legislativa, que seria a criação de leis que não
correspondem efetivamente aos anseios e necessidades populares. O legislativo impulsionado
pela pressão da sociedade, ou de certos setores, legiferam apressadamente sem audiências
29
públicas, sem a chamada discussão primordial e fundamental de qualquer ato legiferante
de tal grandeza, o que acaba produzindo leis pela exceção e não pela regra. “Não legislar pela
exceção, criando leis centradas em aberrações de conduta virtual. Pois os efeitos colaterais
sobre os direitos de quem usa em boa fé a informática podem descompensar os efeitos
inibidores que a lei busca.” (REZENDE, 2007).
“O Direito como um todo, não pode encarnar o espírito compulsivo de uma sociedade
deficitária em tantos conteúdos e encharcada na exaltação de problemas em todas as
esferas . A lei é o equilíbrio e não desajustador social. Assim , é imperioso raciocinar
sobre riscos e consequências de uma inflação legislativa aplicada ao Direito de
Informática, até porque antes mesmo de disciplinar juridicamente a matéria, é de
grande valia o aprofundamento nos estudos do universo cibernético e, somente após,
desenvolver mecanismos jurídicos sensatos que acompanhem de alguma forma a
evolução tecnológica da informática” (LUCCA, 2003).
Mas nem todos os adeptos desta primeira corrente que defende a urgência de
legislação específica, têm por objetivo o equilíbrio social, temos um grupo muito forte que
pensa primordialmente nos lucros que leis imperativas poderiam causar. Esse grupo
representante de bancos e de grande monopólios, sob uma alegação de anarquia ou mesmo
selvageria no ciberespaço, ou como nos casos das grandes industrias do software que alegam
defesa ao princípio constitucional da propriedade imaterial, pressionam por leis cada vez
mais restritivas, tendo este grupo uma força muito forte ao seu lado, o capital.
Silveira cita que a segunda corrente defende não existe ciberespaço sem o mundo real,
para ele, o ciberespaço não existe descolado do mundo material. A Internet depende da infra-
estrutura lógica e física que está sobre o comando de pessoas e empresas que habitam os
territórios controlados pelos velhos gigantes estatais, os Leviatãs. Evidente que os Estados
nacionais não teriam o controle total do fluxo de conteúdos, como ocorre no caso da TV e do
rádio. O fluxo da Internet pode originar-se fora do território nacional. A lei nacional tem
enorme dificuldade de ser executada se um provedor de conteúdo que hospeda um site de
pedofilia encontrar-se hospedado em um país distante.
Ou seja, qualquer que fosse a norma, seria muito difícil fazer com que ela fosse
acatada e respeitada como lei. Aplicando a teoria tridimensional de Reale, vemos que neste
fato, temos que o valor agregado a esta norma não possui nenhum efeito real, em síntese, a
norma se torna morta. As leis, segundo a tradição do Direito Europeu não está apta para lidar
com os problemas e suas possíveis soluções, aqui há uma quebra na hierarquia de uma
sociedade democrata, onde todos seguem uma norma, e, se por acaso não a seguem, são
punidos pela mão coerciva do Estado.
Capítulo 4
4. Código versus Lei
Existe uma grande discussão a respeito dos verdadeiros responsáveis pela conduta do
cibernauta, pois fica a dúvida se seriam a leis ou da própria arquitetura da rede? Lessig
(2000) afirma que o código é a lei que regula o ciberespaço, é a sua arquitetura, sua estrutura.
Está-se falando das leis físicas que compõem o ambiente cibernético, limites intransponíveis à
conduta humana no ciberespaço. No entanto, tais leis "naturais" não são imposições
imutáveis, semelhantes às que regem nosso mundo real, mas condições passíveis de
intervenção, posto serem produções humanas, criadas ao seu bel-prazer. Lessig ainda observa
que os legisladores da Internet não estão em parlamentos ou congressos, porém em
laboratórios de informática, a escrever as linhas que concebem o espaço virtual. São os
engenheiros de software os constituintes do ciberespaço. Esse poder tem-lhes sido
solitariamente atribuído desde a criação da rede mundial de computadores, e assim pode
continuar a ser, caso a sociedade internacional não perceba os riscos inerentes a tal situação.
A propriedade privada do código é pressuposto da dominação e manipulação do ciberespaço.
Antes mesmo de Lessig depreender sobre o fato do código ser a lei, e sobre o risco do
código ser manipulado, as grandes corporações americanas e o próprio governo americano já
demonstravam isso,
A discussão deste projeto de lei , cuja autoria é do Senador Azeredo, suas implicações
e suas conseqüências na sociedade serão analisadas no capítulo 6.
36
Capítulo 5
5. Direito Autoral
5.1 Introdução
Inserido no ciberespaço está o hipertexto, sendo ele constituído por nós, elementos de
informação, parágrafos, páginas, imagens, seqüências musicais, e de links entre esses nós,
como referências, notas, ponteiros, botões indicando a passagem de um nó a outro.
A multimídia pode ser entendida como todo vetor de comunicação on-line ou off-line,
que comporte dados de gêneros diferentes tais como som, imagem, texto. Em geral, esta
consiste naquilo que emprega vários suportes ou meios de comunicação. O termo multimídia
pode também ser aplicado às novas formas de obras comercializadas dentro do grande
público, essencialmente nas áreas cultural, educativa, ou de lazer tais como o jogo, a
aprendizagem de línguas sob forma de jogos, ou ainda, a visita a um museu. Nesse caso, ele
se move buscando os dados por um thesaurus ou por um índice, em outros, navega de forma
interativa em uma história, em um país, onde dados, sons, textos e imagens são interativos
graças às linhas hipermídia.
A obra multimídia tem a particularidade de ser uma obra comportando uma grande
parte de criatividade, ou tendo um conteúdo muito informativo, ao qual concorrem múltiplas
técnicas, como de informática, vídeo, técnica de som, telecomunicação, eletrônica, dentre
outras, beneficiado por uma forma de difusão extremamente variada (off-line, on-line de nível
nacional e de nível internacional) e destinado a aplicações diversas e em todos os setores da
atividade (medicina, diversão, ensino, marketing, informações, domínio cultural e formação).
42
A interatividade de uma obra é um elemento determinante do conceito da obra
multimídia. A obra multimídia não atrai, mas permite uma interatividade entre os diferentes
objetos que a compõe. Em razão da interatividade entre os diferentes objetos, os quais podem
ser qualificados como obras originais no sentido do direito de autor, que compõem a
multimídia, o usuário pode ler a obra conforme seu próprio cenário, pois que ele dispõe da
seleção de enquadramento dos temas, das imagens, dos textos, conforme o nível de perfeição,
de seleção de uma imagem em relação ao texto, ao qual se pode acrescer a seleção de uma
música.
Na realização de uma obra multimídia podem ser utilizados diversos elementos, como
imagens, sons, textos, cenários diversos, softwares para a execução da obra, até mesmo prever
a participação de artistas-intérpretes, dados diversos caracterizados pela interatividade. Todos
os elementos integrados no sistema multimídia da obra terão suas particularidades,
características próprias e dentro do conjunto.
A digitalização do som é a operação pela qual uma onda sonora é convertida em uma
combinação de números binários, 0 e 1, por amostragem da amplitude da onda. Esses
números binários são em seguida estocados sob um disco e tratados por computador de modo
a serem reconstituídos sob a forma analógica, o que quer dizer sob a forma de origem do som.
O som, quando digitalizado, pode ser tratado do mesmo modo que a imagem, o texto
(DEMNARD-TELLIER, I – Internet, Off Line, On Line, 1996).
Por meio do direito autoral, somente a obra musical composta, de uma harmonia, de
uma melodia e de um ritmo é protegida. A lei não faz referência expressa ao som, mas à obra
musical. Dessa forma, uma nota musical não é protegida como tal, ao contrário, o arranjo de
notas, a composição, a harmonização e a seleção instrumental são protegidas na medida onde
se coloca uma verdadeira criação a partir de sons.
Por vezes, uma obra literária pode ser objeto de uma interpretação sonorizada. Desde
então, trata-se a questão de saber quais direitos são colocados em jogo do fato desses extratos
sonoros ou dessas interpretações sonorizadas. Em uma obra multimídia que, por definição
inclui o som, essa questão parece essencial.
A sonorização pode se dar como obra do espírito, ou de uma obra literária, através
reprise ou a criação de uma obra musical.
Logo que uma obra preexistente é utilizada, por exemplo, para formar as paroles de
uma canção e mais geralmente de uma obra musical, a reprise desta primeira obra é bem
entendida submissa ao acordo prévio de seu autor. Do mesmo modo que a sonorização de
uma obra literária, a reprise de uma obra musical preexistente, necessita de autorização prévia
de seu autor.
Em matéria de base de dados informática, tem-se admitido que uma obra diversa seja
feita exclusivamente de análises e de curtas citações, no caso onde se exigia tradicionalmente
a existência de uma obra diversa que se complete mesmo no caso de supressão de co-citações
ou análises.
O que distingue uma obra multimídia de outra obra que reúne várias mídias, é a
necessidade de incluir naquela um outro tipo de obra, para permitir não somente sua criação,
mas ainda sua utilização, ou seja, o software. Uma obra multimídia implica necessariamente a
intervenção de um ou diversos softwares incluindo parte a criação da obra e o seu uso.
47
No estado de criação da obra, o software intervém, por exemplo, para permitir a
digitalização dos elementos a serem incorporados na obra multimídia e que se encontram sob
a forma original. O software não fará parte da obra multimídia. Ele não intervirá senão no
estado de elaboração da obra. Por alhures, será igualmente utilizado um sistema posterior, ou
um programa específico para a revelação do produto multimídia.
Ao passar dos tempos, por meio de leis e decretos, o Estado brasileiro buscou sempre
amparar o autor, na defesa de suas obras.
Em compasso com o direito civil, o código penal vigente, trata dos crimes contra a
propriedade intelectual em seus artigos 184 a 186, determinando penas severas para os
transgressores. Ainda, a Constituição Federal de 1988, atualmente vigente, é taxativa na
proteção dos direitos do autor à sua obra, pelo artigo 5º, incisos XXVII, XXVIII e XIX.
As obras intelectuais são obras em constante evolução impulsionadas, cada vez mais,
pelo processo interativo e pelas novas tecnologias, levando o usuário a intervir na criação,
criando obras derivadas, adaptando-a, complementando-a, tendo ainda, como suporte várias
formas de expressão, como o som, a imagem, a música, os desenhos, as fotos, programas de
computador.
As normas que tutelam as bases de dados têm como base o ordenamento jurídico, em
suas mais diversas áreas, as quais se relacionam, solucionando diversos problemas, tanto
civis, quanto administrativos e criminais.
A tutela legal de uma obra exige como requisito a originalidade, do mesmo modo, o
título que for dado à obra, devendo ser inconfundível com outro dado a uma obra do mesmo
gênero divulgada anteriormente. Assim como a obra, o titulo constitui direitos patrimoniais e
morais do autor.
A originalidade pode ser observada na composição de uma obra. Com relação às bases
de dados (DEMNARD-TELLIER, I – Internet, Off Line, On Line, 1996), ela agirá na
estruturação empregada aos dados para os informatizar e ao arranjo efetuado de forma a criar
uma mais valia documental.
A lei autoral tutela as bases de dados originais, sendo a originalidade é aqui apreciada
conforme dois critérios alternativos. Uma base de dados é considerada uma obra original
52
quando ela constitui uma criação intelectual própria do seu autor pela seleção ou a
disposição de seu conteúdo. Parte da marca pessoal do autor na seleção ou na disposição das
matérias. Quanto ao conteúdo da base, se ele é original, obedecerá ao regime de proteção pelo
direito de autor.
Não se protege a informação em si, nem mesmo a forma como está expressa, mas a
seleção dos dados, ou seja, a estrutura dos bancos de dados antes que sua matéria. Em suma, a
originalidade formal justifica a proteção privada voltada a uma organização e não às
expressões de informações propriamente. Leva-se em consideração o trabalho de organização
interna da base de dados.
Uma forma diversa de tutela pode ser encontrada na Lei de propriedade intelectual
protegendo as obras derivadas que são antologias ou compilações de obras diversas. Os
autores de traduções, de adaptações, transformações ou colocações das obras do espírito
desfrutam da proteção instituída pela lei, sem prejudicar os direitos de autor da obra original.
Os autores das antologias ou compilações das obras diversas que, pela seleção e pela
disposição das matérias, constituem criações intelectuais.
Há poucos casos em que uma obra multimídia seja considerada como não original,
pelo menos quanto aos elementos que a compõe porque, de uma parte, ela é quase sempre
constituída de elementos de obras preexistentes e protegidas pelo direito do autor, e de outra
53
parte, supõem-se que ela não seja constituída somente de dados brutos. Desse modo,
certamente ela se beneficiará de uma proteção pelo direito do autor, especialmente porque a
interatividade supõe um esforço de criação na escolha, na disposição das matérias ou do
cenário.
Importante notar que a aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não irá
gerar ao adquirente qualquer direito patrimonial conferido ao autor da obra, exceto se houver
convenção em contrário realizada pelas partes, ou estiver previstos em Lei (Art. 37 da LA).
Os direitos patrimoniais do autor podem ser transferidos de diversas formas para outro
titular, ou seja, por transmissão, oneração, licença ou autorização e por sucessão. A
transmissão significa a cessão total dos direitos patrimoniais. Quando a oneração, esta se
refere à criação de um direito derivado, compreendendo as cessões parciais. Na licença dá-se
um direito não exclusivo de uso. E, a sucessão faz referência a transmissão mortis causa.
A pirataria da obra intelectual além de prejudicar o titular do direito autoral prejudica todos
envolvidos, como o público interessado, comprador das obras intelectuais, as editoras,
distribuidoras, comerciantes, inclusive estes são afetados muitas vezes pela concorrência
desleal que os produtos falsificados fazem em face dos originais. Até mesmo o Estado vem a
ser prejudicado em seus cofres públicos, pelo desvio do pagamento de impostos através da
pirataria.
O autor para assegurar seus direitos sobre a obra intelectual poderá registrá-la, de
acordo com sua natureza no órgão competente, no caso das bases de dados multimídia o
adequado seria registrar no Conselho Nacional de Direito Autoral (Art. 17 e § 3º, da Lei 5.988
de 14 Dez 73). Cabendo ao solicitante o pagamento de uma retribuição para os serviços de
registro, cujo valor será determinado por ato do titular da administração pública federal, ao
qual se vincula o registro da criação intelectual (Art. 20, da LA).
A proteção das bases de dados, através do direito contratual, não proporciona uma
tutela suficiente. O contrato regido entre as partes não alcança terceiros. Desse modo, o que
está conectado por diferentes tradições legais, não aparenta valido como proteção de bases de
dados no meio ambiente on-line global. Ainda, os contratos e demais negócios jurídicos sobre
os direitos autorais, de acordo com a lei, devem ser interpretados restritivamente.
Podem ocorrer casos em que, algumas pessoas jurídicas investidas de uma função de
serviço público serão levadas a colocar a disposição do público os produtos multimídia.
(DEMNARD-TELLIER, I – Internet, Off Line, On Line, 1996). Quanto às regras da
propriedade intelectual neste quadro devem ser conciliadas com as funções do serviço público
onde estão investidas essas pessoas. A via contratual parece ser um meio adequado de tutela.
O titular que tenha sua obra reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada
fraudulentamente, poderá requerer por meio de ação de busca e apreensão a recuperação dos
exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação (Art. 102, da LA). Ainda, quem editar
obra intelectual, sem autorização, perderá para o titular os exemplares que se apreenderem,
tendo que pagar o preço dos que tiver vendido (Art. 103, da LA).
O mandado expedido será cumprido por dois oficiais de justiça, os quais far-se-ão
acompanhar de duas testemunhas e de dois peritos, aos quais incumbirá a função de confirmar
a ocorrência da violação antes de ser efetivada a apreensão (Art. 842, do CPP).
A responsabilidade pode ser vista conforme o tipo de contrato, sendo diversas as faltas
contratuais, como no caso de contrato de realização da parte técnica de uma obra multimídia,
nos de co-reprodução de uma obra multimídia, nos de compra de direitos e nos de
distribuição.
Podem estar envolvidos neste crime não somente industriais e comerciantes, como
também, os demais profissionais e empresários. O consumidor não poder vir a ser sujeito
passivo de tal crime, embora, muitas vezes seja também prejudicado por aqueles atos desleais.
O produtor do banco de dados, em algumas situações, designa uma parte de seu corpus
a um cliente, ou associado, para que possa constituir seus próprios dados. Nesses casos o
cedente, produtor, poderá estipular que os dados vendidos servirão apenas para o uso interno
do cessionário, ou empresa cessionária, ou que este não fará uma concorrência desleal.
O crime em face da propriedade intelectual que houver deixado vestígios requer, para
queixa ou denúncia, em sua instrução a realização de exame pericial dos objetos que
constituam o corpo de delito (Art. 525. do CPP). Devendo, ainda, ser provado o direito à ação,
preliminarmente, do contrário não será recebida a queixa, nem será realizada qualquer
diligência porventura requerida (Art. 526. do CPP).
A busca ou de apreensão, diligencia que poderá ser requerida pelo ofendido, será
realizada por dois peritos definidos pelo juiz, que irão averiguar a presença de fundamento
para a apreensão, e caso esta se realize, ou não, o laudo pericial deverá apresentado dentro de
três dias após o encerramento da diligência. O laudo pericial poderá ser impugnado pelo
requerente, o que será avaliado judicialmente. Ao fim das diligências, os autos irão conclusos
ao juiz para homologação do laudo.
Como crimes virtuais são definidos, dentre outras as seguintes condutas, o acesso
indevido em uma banco de dados, ou em um programa, visando ao lucro ou vantagem, ou,
ainda, à extração indevida de cópias de arquivos de um banco de dados. Também, em vista da
destruição, supressão ou ocultação de dados que não se pode dispor, os quais se encontram
registrados sobre um suporte, ou em um computador. Do mesmo modo, a alteração ou
manipulação de dados, ou programas, para obter uma vantagem ilícita, para si ou para
terceiros, ou para prejudicar alguém, configura uma forma de crime informático.
Uma diversidade de fenômenos torna a lei dificilmente aplicável. De uma parte, a rede
Internet não pertence a ninguém. De outra parte, aboliu-se o tempo e o espaço, desaparecendo
61
as fronteiras. A informação circula livremente, sendo uma mensagem enviada sobre uma
rede aberta do tipo Internet, ela navega sucessivamente sobre diversas redes onde pode ser
interceptada e lida.
As bases de dados multimídia fazem parte da vida diária dos usuários da informática.
Através da popularização da internet, milhões de pessoas passaram a ter acesso a
informações em qualquer parte do mundo, tornando os bancos de dados a melhor maneira de
organizar essa avalanche de dados. Assim, em razão da importância que passaram a ter no
mundo atual, seu estudo jurídico passou a ser de grande interesse.
Nesta linha de raciocínio, Atheniense afirma que é o nosso dever nos conscientizar
que a Internet é antes de qualquer coisa, um novo meio de comunicação ou um novo meio
onde os delitos ocorrem. Via de regra, qualquer crime de informação previsto na Lei Penal
que não distinga o meio, poderá se aplicar a Internet.
Atheniense acredita que a aplicabilidade aos crimes comuns das normas penais
vigentes, porém, poder-se-ia, atendendo a essa classificação, incorporar ao Código Penal
65
agravantes pelo uso de sistema de informática, vez que é meio que necessita de capacitação
profissional e a ação delituosa por esta via reduz a capacidade da vítima em evitar o delito.
Ele ainda cita a sobreposição de normas como um risco, que acaba se tornando realidade no
principal projeto de lei que transita no Congresso Nacional :
O PLS 76, de 2000, de autoria do Senador Renan Calheiros, nos termos do Substitutivo,
altera as duas leis acima e mais:
o aumento das penas ao triplo para delitos cometidos com o uso de informática”
Segundo o próprio Senador Azeredo, o projeto não nasceu ontem e ainda rebate algumas
críticas :
“é um projeto muito mais amplo, discutido há muito tempo. Não se trata de nada
que esteja sendo discutido na correria. Pelo contrário, acho que devemos uma
legislação como essa ao País, porque há uma década que se discute o tema...no
substitutivo foram fundidos, na verdade, vários projetos, o do Senador Renan
Calheiros, do PMDB; o do Senador Leomar Quintanilha, do PC do B. Aproveitou-se
a idéia do cadastramento, do Senador Delcídio Amaral, do PT de Mato Grosso do Sul.
Aí é que fizemos, então, este substitutivo que está em discussão, aprovado por
unanimidade na Comissão de Educação e enviado para a Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania, onde houve todo esse qüiproquó, digamos assim..."Com o
68
controle da comunicação eletrônica pelo Estado, as autoridades teriam acesso
desde a uma simples troca de mensagens entre adolescentes apaixonados até à
correspondência sigilosa entre empresas e seus fornecedores e clientes.
Onde é que está isso no projeto? É a minha pergunta. Outros dizem assim: "Não,
o projeto atenta contra a privacidade." Eu disponho aqui de decisões da Justiça, em
que se afirma:
"Assim, pode-se concluir que o fornecimento de dados cadastrais em poder do
provedor de acesso à Internet, que permita a identificação de prováveis autores de
infrações penais, não fere o direito à privacidade e o sigilo das comunicações, uma vez
que dizem respeito à qualificação de pessoas e não ao teor da mensagem enviada".
Não sei onde estaria algum atentado à privacidade das pessoas. Com relação
à liberdade de expressão, da mesma forma, não sei onde pode haver alguma coisa
contra a liberdade de expressão. Quer dizer, a Internet está livre da mesma maneira. É
realmente um avanço enorme que aconteceu no mundo. Essa coisa toda aqui do
cibercrime, eu consegui tudo pela Internet. Se não fosse a Internet, não conseguiria.
Então, não estão em dúvida as vantagens que existem em poder utilizar a rede como
um todo.
Quanto à inclusão digital, eu não sei também como se poderia prejudicá-la:
"Ah, mas é porque os alunos teriam de se cadastrar”. Não é nada disso. Em todo lugar
em que há um computador existe algum responsável, senão vira anarquia. Aliás, lá na
cidade de São Paulo, existe uma lei municipal, porque o assunto é municipal, segundo
a qual as lan houses são obrigadas a identificar os usuários. Por quê? Porque chegou-
se à conclusão de que a maior parte dos crimes surgia nas lan houses. Eram pessoas
que pagavam 10 reais, usavam o computador, mandavam vírus, mandavam agressões,
atentados e tudo o que pode acontecer. O Brasil, felizmente, é um País mais pacífico.
Não temos nada do ponto de vista do terrorismo, mas podemos ter um dia. Então,
temos de estar também prevenidos contra atentados à segurança nacional no que tange
aos nossos sistemas vitais. Ou seja, com relação à de transmissão de energia elétrica,
todos devem se lembrar de que, numa época, houve a queda de linha de transmissão,
que ficou meio no ar. Não se sabia se tinha sido um fato normal, um mero acidente, ou
se tinha havido algum agente provocador. Então, temos de buscar essa proteção
também no caso da segurança nacional, eu diria, nas questões gerais que tratam da
computação.
A certificação digital também não existe. Não há nenhum ponto do projeto
que mande usar certificação digital. A Receita Federal já usa. Mas não existe, no
projeto, nada que obrigue a certificação digital. Em resumo, não existe atentado à
privacidade, nem restrição à liberdade de expressão, nem certificação digital, nem
nada que impeça a inclusão digital...” (AZEREDO, 2006).
Ainda de acordo com a resenha, a legislação brasileira em vigor já tipifica alguns dos
crimes identificados pela Convenção, como os crimes contra os direitos do autor e crimes de
pedofilia, e, caso a caso, cuida de alguns outros já tipificados no Código Penal. Veja abaixo o
que segundo a Convenção, a legislação penal em cada Estado signatário deve tratar e a sua
correspondência na legislação brasileira:
70
Tabela 1 – www.decodificando.com.br/wp-content/uploads/2007/05/projeto_de_lei_76_2000.pdf
Como já foi dito, o acesso de novos Estados depende de convite e a aprovação por
maioria do Conselho. Ou seja, mesmo que o país cumpra os requisitos, não é certa a sua
entrada como país membro. (REZENDE, 2006)”. A adesão ao tratado é por convite, e
aprovação de leis da natureza proposta no substitutivo não é nem garantia, nem condição
necessária para adesão ao referido tratado. O texto do referido tratado, no atual estágio,
contém apenas sugestões para legisladores nacionais.”Ou seja , aprovar o projeto 76/2000
não é sinônimo de adesão ao Tratado.
Além desse risco citado acima, Rezende alerta sobre os efeitos colaterais que
poderiam ser ocasionados com a aprovação do projeto do Senador,
Autoridades Policiais
Este dispositivo é um dos mais polêmicos, pois fica às escuras o que seria o uso
indevido, o Professor Pedro Rezende fala a respeito deste primeiro artigo, (REZENDE, 2006)
o guarda-chuva do acesso indevido é um cheque em branco para a polícia prender e o
judiciário condenar qualquer internauta brasileiro. A criminalização do “acesso indevido a
rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado” (art. 154-A).
Segundo Rezende, trata-se de um crime de mera conduta, que independe do resultado ou do
dano efetivo causando pelo que venha a ser interpretado como "acesso indevido". A
criminalização apenas do acesso, conforme previsto no art. 154-A, não respeita o princípio da
taxatividade, que impõe que as figuras delitivas sejam constituídas com objetividade, com
limitação das cláusulas gerais e com exclusão dos tipos penais abertos.
73
Alexandre Atheniense ainda faz uma ressalva sobre a restrição à Informática neste
mesmo artigo, (ATHENIENSE, 2006) “não nos parece adequado tratar a lei, restritivamente,
o delito proposto como "crime de uso da informática", porque as condutas lesivas, hoje,
abrangem utilização de meios que não se restringem apenas à informática, porque originários
de ciências conjugadas. Inclusive os tipos penais propostos nos § 1o a 3o estão justamente
abrangendo condutas que não se situam apenas no âmbito da "informática", mas também de
telecomunicações.”
Sendo que esta hipótese já está tipificada como crime de furto (art. 155) ou de
estelionato (art. 171) do Código Penal, com penas mais duras do que as propostas pelo projeto
Ou seja, um advogado mais esperto poderia sempre que possível, poderia tentar levar as penas
sofridas pelos seus clientes para o atual projeto, pois as penas são sempre menores. Um outro
erro gravíssimo no projeto se dá quando temos penas maiores para o mera ação do que para o
dano causado, (REZENDE, 2007)“A pena prevista para os crimes de mera conduta criados
pelos arts. 154-A e 154-B (reclusão de 2 a 4 anos) é maior do que a pena a ser aplicada ao
agente que efetivamente gerou dano ou outro resultado advindo desses crimes, em concurso
material”. Rezende exemplifica o substitutivo, no art. 3, acresce o art. 183-A ao Código Penal,
equiparando à coisa o dado ou informação em meio eletrônico
Art. 339-F. Permitir, aquele que torna disponível o acesso a rede de computadores, a
usuário, sem a devida identificação e autenticação, qualquer tipo de acesso ou uso pela rede
de computadores.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre, o responsável por provedor de acesso a rede de
computadores, que deixa de exigir, como condição de acesso à rede, a necessária, identificação e
regular cadastramento do usuário.(NR)
Rezende afirma que pode ser perigoso apostar na identificação via provedor e na
75
responsabilização do provedor pela correta atribuição dessa informação à autoridade
judicial ou policial como uma varinha mágica para resolver o problema da eficácia no
combate ao crime digital.
O que se tem que focar é a tutela do bem jurídico a ser protegido pelo
ordenamento jurídico, que é o próprio sistema de informação. Esses são os crimes que
estamos querendo tipificar, porque nós estamos falando de informação, de patrimônio.
Agora, para isso, criar um mecanismo em que todos nós seremos obrigados a nos
identificar para acessar a Internet e, pior, estabelecer responsabilidade criminal àquele
que der esse acesso de forma indevida, não autorizada, isso, sim, não pode acontecer e
vai na contramão do que pretendemos, até porque nós sabemos que, efetivamente,
aquele que tiver má-fé — se o provedor nacional for obrigado a fazer essa
identificação — vai procurar provedores internacionais e, com isso, a norma torna-se
inócua
Outro fator importante é como se dá a penalização de um provedor de acesso. Bechara
lembra que o provedor de acesso é pessoa jurídica e não pode ter responsabilidade penal. A
responsabilidade penal da pessoa jurídica só existe no Direito brasileiro, e de forma
discutível, no Direito ambiental. Bechara indaga quem é o responsável pelo provedor de
acesso? É o dono? É o representante legal? É o advogado? É o contador? É o técnico
responsável? (BECHARA, 2006) “Bom, são questões que tratam, de forma um pouco
lacônica, da imputação do crime, no caso do provedor de acesso. E dentro do Direito Penal
nós sabemos que isso não pode acontecer, porque os tipos penais têm que ser bem definidos.”
Colocar toda responsabilidade em cima dos provedores pode ser uma solução apenas
parcial, Rezende alerta que os provedores não devem ser os únicos representantes da
iniciativa privada conclamados a efetivamente fazer valer a sua responsabilidade social. O
professor acredita que as responsabilidades devem ser compartilhadas com um maior espectro
de empresas que de forma direta ou indireta atuam na área: desenvolvimento de software
76
(sistemas, filtros de conteúdo, mensagens instantâneas); empresas de telefonia celular
(sobretudo em virtude da convergência entre a telefonia celular e a Internet); assistência
técnica de equipamentos (câmeras digitais, computadores, memórias etc.); administradoras de
cartão de crédito; pontos de acesso (Internet cafés); motores de busca (Google, Yahoo, etc.).
Portanto, como foi mostrado acima, além das justificativas públicas para o projeto de
lei 76/2000 não serem completamente verdadeiras, o projeto têm muitos pontos falhos criando
dispositivos vinculados à condutas, inusitadas ou mal definidas, por deixar interpretações
subjetivas, descrições imprecisas, não respeitar o princípio da taxatividade do direito Penal,
(ATHENIENSE, 2006) “por criar penas desproporcionais e tipos penais já existentes, muitas
vezes com sua apenação menor do que a prevista no Código Penal, o que viria a beneficiar o
infrator de um delito informático, além de alguns equívocos técnicos de conceitos e redação
da legislação penal.”.
77
Conclusão
Como vimos neste documento, a ferramenta do Direito é fundamental para o convívio
social, seja no mundo real, seja no mundo virtual. Vimos que o mundo virtual não é descolado
do mundo real, ou seja criar leis específicas para o mundo virtual acaba gerando sobreposição
de legislação, haja visto que o ciberespaço é apenas mais um meio.
A informática e o direito estão caminhando pela mesma estrada, pois onde há qualquer
desvio de conduta no ambiente da Informática, devemos contar com a ferramenta do Direito
para nos apoiar. O Direito de Informática se torna fundamental para que haja um equilíbrio e
não haja excessos, seja por conta de condutas hostis de cibernautas maliciosos, seja por parte
do Mercado ou do próprio Estado.
É fundamental que o leitor desta monografia entenda que, por trás dos projetos de lei
que estão em pauta no Congresso Nacional, há uma indústria de interesses e que há duas
correntes de pensamento a respeito da regulação do ciberespaço: a primeira corrente,
definindo o ciberespaço como um lugar à parte e que merece sua própria jurisdição. E a
segunda corrente, que é sustentada por aqueles mais arredios a novas leis gerais, que tenham
por objetivo inibir práticas indesejáveis de uma minoria maliciosa no ciberespaço, e que
adotam princípios ad hoc para superar as dificuldades encontradas na aplicação do princípio a
analogia.
A tecnologia está sendo responsável por expressivos avanços, porém fez surgir novas
formas de destruição e cada vez com maior intensidade, colocando em risco o rumo natural da
evolução.
Neste trabalho fica claro a forma que a sociedade pôs-se em risco a partir do momento
em que a imprevisibilidade teve como conseqüência uma grande margem de insegurança que
decorrem os riscos. Com isso, surgem as situações de incerteza tão peculiares da denominada
sociedade de risco ou contemporânea.
A Lei Autoral brasileira, Lei 9610/98, analisada na presente pesquisa, sucumbiu à
tendência internacional concedendo proteção específica às bases de dados, através do seu
artigo 7º, XIII, e artigo 87. Ainda, no Brasil, além da tutela proporcionada pelo direito autoral,
essas obras multimídia são protegidas por diversos outros ramos do direito, complementando,
78
ou alcançando casos não protegidos por ele. Pode-se salientar, o direito penal, o civil, o
processual e do consumidor.
O aspecto funcional da base de dados limitou sua forma de expressão, dentro de sua
estrutura interna, simplificando-a, tirando-lhe o caráter de criação intelectual e lhe dando um
caráter de compilação. Deu às obras informáticas uma função de produzir um bem cultural de
valor econômico e não necessariamente de expressar a personalidade do autor.
O sujeito do direito não é mais o criador da obra, mas o produtor, organizador, com
destaque ao interesse econômico.
Verifica-se que os que cometem crimes de informática estão sujeitos pela legislação
brasileira a sanções penais previstas conjuntamente com sanções cíveis aos infratores dos
direitos autorais, referindo-se cumulativamente a possibilidade de reparação de danos sofridos
pela vítima da violação do direito.
Segue adiante, algumas Instituições de Ensino Superior que possuem em seus cursos
de direito ou informática, disciplinas voltadas para o direito e a informática:
Maiores informações:
http://www.infojur.ufsc.br/aires/arquivos/planocpgd_direito_informatica_sociedade
tecnologia%20e%20mundo%20real20053.htm
80
2. Universidade Federal da Bahia - UFBA
Denominação: Informática Jurídica e Direito da Informação.
Maiores informações em:
http://twiki.im.ufba.br/bin/view/nepedi/planoaulamat20042
5. Faculdade Projeção
Denominação: Informática Aplicada ao Direito.
Maiores informações em: http://www.projecao.br/faculdade/plensino/dir_mais/d_
506.pdf
Diante do acima exposto esta monografia visa mostrar o elevado grau de importância
do estudo do direito na informática na formação acadêmica dos alunos da Universidade de
Brasília – UnB, principalmente nos seguintes cursos: Direito, Ciência da Computação,
Licenciatura em Computação, Engenharia de Redes de Comunicação, Engenharia
Mecatrônica, e outros julgados necessários.
Temos que ter como produto, isto é, os alunos recém formados na Instituição de
Ensino Superior – UnB, profissionais com esses conhecimentos adquiridos durante sua
formação acadêmica de maneira que os mesmos possam ser geradores de opinião refletindo
profundamente sobre a influência do direito na informática e vice-versa, e que os que forem
desempenhar o papel de professor tenham conhecimentos suficientes para transmitir aos
novos alunos e ainda participar de forma decisiva em debates, simpósios, painéis, e diversas
discussões, etc.
81
Desta forma seria de muita valia para os alunos dos cursos em epígrafe que os
mesmos fossem contemplados com uma disciplina que abordasse esses assuntos apresentados,
podendo ser inicialmente oferecida como optativa e de acordo com a necessidade e evolução
do direito na informática a mesma passasse a fazer parte da grade curricular de maneira
obrigatória.
82
Bibliografia
– ASCENSÃO, J.O. - Direito Autoral. 2. ed. Rio de Janeiro-RJ: Renovar, 1997.
– BARLOW, John Perry: The Economy of Ideas. Selling Wine Without Bottles on the
Global Net. In: Wired Magazine. [Internet] URL:
http://www.wired.com/wired/archive/2.03/economy.ideas.html, acessado em 27 Fev 07.
– CABRAL, P. - A Nova Lei de Direitos Autorais, Porto Alegre-RS: Sagra Luzzato, 1998.
– CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. 3. ed. São Paulo-SP: Paz na Terra, 1999.
– CASTRO, Lincoln Antônio de. Noções sobre Direito Autoral. Revista de Direito do
Ministério Público, Rio de Janeiro, 2001.
– REALE, Miguel - Introdução ao Estudo do Direito, 23ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
– SCHOUERI, Luiz Eduardo – Internet , O direito na era virtual, Rio de Janeiro: Forense,
2001.