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Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar a vivência do processo de formação dos
acadêmicos de Arte-Educação, participantes como bolsistas/pesquisadores do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID, aprovado na Universidade Estadual do
Centro-Oeste – UNICENTRO, em andamento desde abril de 2010. A pesquisa caracteriza-se
como participante desenvolvendo-se a partir das observações realizadas em sala de aula, na
disciplina de Arte nos níveis de Ensino Fundamental e Médio no Colégio Estadual Ana Vanda
Bassara. No desenvolvimento da pesquisa, a atuação acadêmica focou-se na monitoria do
trabalho docente, possibilitando experiências de formação pedagógica. Dentre as vivências
dos pesquisadores no âmbito escolar, enfatiza-se neste artigo as atividades de leitura de
imagem e contextualização social da obra de arte, na qual os acadêmicos participaram do
processo de ensino, sob orientação da professora. Os dados coletados e registrados em diário
de campo são analisados tendo como documento norteador das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica - DCE, do Estado do Paraná, e com fundamentação nos seguintes autores:
FISCHER, FOUCAULT, IAVELBERG. Dentre os resultados obtidos destaca-se a importância
da compreensão do processo de criação no ensino de Arte.
Na proposta pedagógica realizada e apresentada neste texto, que teve como temática
a compreensão de imagens uma das abordagens apresentadas aos alunos partiu do conceito de
arte de Ernst Fischer:
A arte é necessária para que o homem torne-se capaz de conhecer e mudar o mundo
(…) É uma forma de trabalho, e o trabalho é uma atividade característica do homem.
O desejo do homem de se desenvolver e completar indicam que ele é mais do que
um indivíduo. Sente que só pode atingir a plenitude se se apoderar das experiências
alheias que potencialmente lhe concernem, que poderiam ser dele. E o que um
homem sente como potencialmente seu inclui tudo aquilo de que a humanidade,
como um todo, é capaz. A arte é o meio indispensável para essa união do indivíduo
como todo... (FISCHER, 2002, p. 13,20 )
Observamos que os educandos sem prévia instrução, nunca observaram uma obra de
arte sem priorizar primeiro à questão do gosto, seja em relação à temática ou características
pictóricas empregadas pelo artista. O parâmetro de análise baseia-se apenas em um conceito:
gostei ou não gostei. Percebe-se então o quanto é necessário olhar a obra de arte com mais
sensibilidade absorvendo os detalhes, compreendendo sua comunicação e as relações que
podem se estabelecer entre objeto artístico e receptor, no caso o aluno.
Essa prática, quando não bem planejada, torna-se maçante para os educandos. De
modo que, refletindo nossa postura enquanto professores em formação vislumbramos a
eficácia do professor no papel de propositor, que instiga ao aluno a perceber, criar, formar. É
imprescindível ressaltar que no contato com a obra artística não há apenas um sentido, ou
seja, ela não está somente para apreciação, embora seja um dos alvos, ela está também para
reflexão, argumentação, interação em nosso mundo e realidade. Lançar questionamentos em
relação à Arte, desafios para cada linguagem, para desenvolver a percepção para cada época,
cada movimento artístico.
Sendo assim, após a leitura analítica do texto de Fischer (2002), partimos para o
desafio da leitura visual através da perspectiva dos elementos formais: ponto, linha,
superfície, textura, volume, luz e cor, passando pela exploração da composição e relacionando
com contexto histórico das obras. Pelo viés da contextualização histórica, encontramos em
Fischer (2002) um ponto de vista relacionado ao atual estado de alienação dos indivíduos:
No mundo alienado em que vivemos, a realidade social precisa ser mostrada no seu
mecanismo de aprisionamento, posta sob uma luz que levasse a “alienação” do tema
e dos personagens. A obra de arte deve apoderar-se da platéia não através da
identificação passiva, mas através de um apelo à razão que requeira ação e decisão.
(...) de maneira que o espectador seja levado a algo mais produtivo do que mera
observação seja levado a pensar no curso da peça e incitado a formular um
julgamento, final quanto ao que viu: “não era assim que deveria ser. (...)”.
(FISCHER, 2002, p. 15)
Fischer (2002) mostra que para que construamos uma sociedade crítica, com uma
visão além do que se espera, o ensino da arte é fundamental, para o desenvolvimento de
alunos críticos e sensíveis ao mundo a sua volta.
Iavelberg afirma ainda que: “Aprender arte envolve a ação em distintos eixos de
aprendizagem: fazer, apreciar, e refletir sobre a produção social, e histórica da arte,
contextualizando os objetos artísticos e seus conteúdos.” (2003, p. 10). Fazer e apreciar são
caminhos de experimentação muito importantes no fazer artístico, ou melhor, no vivenciar
produtos artísticos. Logo a reflexão também tem sua importância, do contrário a obra existira
como objeto, desvinculada de intenção, crítica, conteúdo ou ainda sem possibilidades de
resultado da apreciação estética. Na arte, os objetos produzidos, contam ou registram
acontecimentos trágicos, instigantes, ascensões, situações de uma determinada época que só a
linguagem pode preservar. Partindo desse pressuposto, para a análise das obras, foram feitas
três perguntas simples aos alunos: O que eu vejo? O que eu penso? O que eu sinto?
Tendo em vista que a análise teria que ter um olhar sensível, ou seja, o aluno
precisaria ter um olhar mais atento, mais crítico, ver a intimidade da obra, despi-la. “A arte era
um instrumento mágico...” (FISCHER, 2002, p. 44), esse foi o direcionamento quanto a
leitura da arte, como uma magia possível de transformar o mundo, vidas, às vezes pra
protestar algo que não estivesse a seu contento, para colocar na história um fato que passa
despercebido a outros olhos, e não deixar que arte seja entendida muitas vezes apenas como
diversão.
... não lhe basta ser um indivíduo separado; além a parcialidade da sua vida
individual, anseia uma plenitude de vida que lhe é fraudada pela individualidade e
todas as suas limitações; uma plenitude na direção da qual se orienta quando busca
um mundo mais compreensível e mais justo, um mundo que tenha significação...
(FISCHER, 2002, p. 12)
Nas palavras da professora Janete “antes de partirmos para qualquer outro passo é
preciso ter certeza de que os alunos conseguiram perceber a figura como comunicação e qual
é essa comunicação? O que ele sente em relação, o que pensa?” Uma das obras analisadas
pela professora foi Abaporu de Tarsila do Amaral, bem como outras obras da mesma artista.
Também foram visualizadas obras do Movimento do Muralismo Mexicano, de José Clemente
Orosco. A professora retomou o conteúdo explicando o é que esse movimento e se as obras
estavam de acordo com a idéia do conflito. Depois partiu para a análise e releitura de O Grito
de Edvard Munch, seguindo a mesma metodologia. Pode-se perceber um resultado eficaz, os
alunos puderam compreender a questão da interferência e do processo de criação, que nada é
aleatório, por menor que seja intenção social e engajamento político do artista, seu processo
parte de uma ação de mensagem.
Referencias:
FOUCAULT, Michel. Isto não é um Cachimbo. Tradução de Jorge Coli. São Paulo. Editora
Paz e Terra 4ª edição – 2007
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores.
Porto Alegre. Artmed, 2003
MARTINS, Miriam C., PICOSQUE, Gisa e GUERRA, Maria. T. T.. Didática do Ensino da
Arte - A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998