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(Uni)verso Magmáhtico Página 1


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Magmah
Rio de Janeiro/Rio de Janeiro: Edição Independente,
2011. 40p.
Rio de Janeiro 2011.
Todos os direitos reservados
Esta obra está licenciada sob uma Licença
Creative Commons

Capa: Axills
Revisão e Formatação:
Alessandra Bertazzo
Produção Editorial:
Samuel Achilles
2011
Trovart Publications

trovart@globo.com

(Uni)verso Magmáhtico Página 2


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SUMÁRIO
Prefácio ..................................................................................................................................... 5
(Uni) verso magmáhtico ...................................................................................................... 6
Elucubrações.......................................................................................................................... 7
Traço sutil ............................................................................................................................... 8
O que é o amor? .................................................................................................................... 9
Pandora .................................................................................................................................. 10
Apelo ao deus chronos ...................................................................................................... 11
Decrepitude .......................................................................................................................... 12
Um quê de caos ................................................................................................................... 13
Mãos que tecem................................................................................................................... 14
Palavra mágica..................................................................................................................... 15
Nada ........................................................................................................................................ 16
Dançando com a vida ........................................................................................................ 17
Continuum ............................................................................................................................ 18
Meros arquejos .................................................................................................................... 19
Balada em lá bemol............................................................................................................ 20
O que escrevo ....................................................................................................................... 21
Simbólico ............................................................................................................................... 22
O canto da sereia ................................................................................................................ 23
Placebo ................................................................................................................................... 24
Salto quântico ...................................................................................................................... 25
Mormaço ................................................................................................................................ 26
Porta fechada ....................................................................................................................... 27
Pai lírico ................................................................................................................................. 28
A letra e a serpente ............................................................................................................ 29
Letras embriagadas ............................................................................................................ 30
Transmutação ...................................................................................................................... 31
Círculos de fogo ................................................................................................................... 32
Só ............................................................................................................................................. 33
Pássaro sulista .................................................................................................................... 34
Desabrochar ......................................................................................................................... 35
Cyclus ..................................................................................................................................... 36
Vento norte ........................................................................................................................... 37
Posfácio .................................................................................................................................. 38
Minibiografia ........................................................................................................................ 39
Contatos com a autora...................................................................................................... 40

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No ato da criação poética há um oscilar entre a realidade e a


fantasia e inexiste senso ou lógica. Estar nele é colocar a alma na
vitrine, acarinhar a Musa, dar-lhe colo, entregar-se a ela. No silêncio
que antecede a inspiração, permitir-se ser simbiótica e mutante, vestir-
se de nudez e sonhar mesmo estando acordada.

Magmah

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PREFÁCIO

Meus versos são para mim pais, filhos, irmãos, amantes e amores.
Educam-me, rejeitam, abraçam; ora me estupram, ora fazem amor comigo.
São homens cujo olhar me enxerga a essência.

Gritos que ressoam mesmo mudos, transformando a realidade em


fantasia: passeios pelas profundezas de uma alma inquieta e
desassossegada; melancólicos suspiros de saudade e a busca incessante
pelo sagrado.

São os passos de uma dança insana com o tempo e a vida, o flerte entre
a morte e a loucura. São voos de um pássaro criando asas sem saber voar.
Dão à luz criaturas mágicas e lendárias, em meio ao vômito involuntário que
precede o ato... Há náuseas e há anseios. Piruetas num trapézio, malabares,
navios atracados num só porto, lançando âncoras ao acaso, com
destempero: “lucidezes” perigosas e cortantes.

Compô-los é embriaguez de sentidos: pesadelos, maldições e bruxarias.


É o alto risco com toques de mistério, overdose de incoerências e
impropérios.

Por sabê-los meus, tais versos são ebulições “magmáhticas”


derramando-se em meu solo, incandescendo-o como num fluxo explosivo de
emoção. Rios de lavas líricas que, fluindo, tecem manto no meu peito,
aquecem-no e libertam-se sob a fúria de um vulcão.

Magmah

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(UNI) VERSO MAGMÁHTICO


Assim eu quereria o meu último poema
[...]
que fosse ardente como um soluço sem lágrimas [...]
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira

Ele é meu pai, amante, filho, amigo,


Um homem cuja essência me abstrai.
Me estupra e também faz amor comigo,
Educa-me, rejeita, abraça e trai.

Compasso de uma dança insana e espúria,


O alto risco, a overdose, o riso sério;
Um breve flerte com a dor e a fúria,
Vilipêndio à incoerência e o impropério.

Constrói um muro em volta como escudo,


Se esconde e só se mostra quando incauto,
Silencia e se desnuda ainda mudo.

Entrego-me em suas mãos ao escrevê-lo,


Sanando a náusea que antecede o ato.
Compô-lo está entre o sonho e o pesadelo.

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ELUCUBRAÇÕES
Para não serdes os escravos martirizados do Tempo,
embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira.
Charles Baudelaire

Precisamos de umas doses de abstração,


O poeta, com razão, já bem dizia,
Que nos turve a mente em bafos de ilusão,
Seja o ópio, seja o vinho, ou poesia.

Quando ébria, olvidadas as defesas,


Ouço música bem alta, me regalo.
Sem cuidados, subterfúgios, sutilezas,
Digo tudo que quiser e nem me abalo.

Eu rejeito o equilíbrio... não que eu queira,


Mas por falta de opção, como em delito.
Sobriedade não é boa companheira,
Ela e os sonhos se debatem num conflito.

- Lucidez, me deixe agora, se recolha,


Pois a vida não me deu uma outra escolha.

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TRAÇO SUTIL
Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
Augusto dos Anjos

Meu traço é sutil, entre o instinto e a razão,


Sou bruxa e princesa, sou ilusionista.
De pele macia, veneno em poção,
Qual Eva que um deus esculpiu como artista.

Siso de senhora, sorriso em menina,


Mistério contido por baixo véu.
Capricho, incoerência e ilusão, minha sina,
Criatura pagã e tão perto do céu!

Me levas contigo qual bênção divina,


Habito recintos do teu coração,
Fatio tua alma em camadas bem finas.

Sou anjo e animal, sou pra ti sedução,


A esfera sublime no vão da retina.
Meus tons: cor-de-rosa e vermelho-paixão.

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O QUE É O AMOR?
É um não querer mais que bem querer
É um andar solitário entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É um cuidar que ganha em se perder.
Camões

É a nostalgia do que não se sabe.


Um sentimento a mais do que paixão
Vem, nos preenche, até que já não cabe,
Por si se basta e é prenhe de ilusão.

Um paradoxo e a única certeza,


O frenesi da gargalhada triste,
A fome com banquete sobre a mesa.
Mais redundante e intenso, não existe.

Pro cético, é um bafo de existência;


Na língua, a polpa da fruta, pro crente;
Pra quem o busca, a louca experiência.

Velou-me os olhos pleno anoitecer


E um sumo ácido inundou-me a boca:
Enfim o Amor que eu quis conhecer...

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PANDORA
E desde então, sou porque tu és
E desde então és, sou e somos
E por amor serei... serás... seremos...
Pablo Neruda

Halo de vida que te toma e contamina,


qual brisa indômita em seu sopro benfazejo,
que tu não sabes de onde vem, mas que ilumina
uma faísca, nos teu olhos, de desejo...

Sou eu, que às vezes me transformo em animal


e até assusto... Desmascaro e deixo exposta
a fera solta que é volátil, que faz mal,
te prejudica, que é danosa, mas tu gostas.

Conceito vago que é abstrato, sem sentido,


- faca afiada, perigosa e fascinante -
casta imprudência visitante de ti mesmo...

É deliciosa essa certeza de ter sido


gosto de sangue na tua boca delirante,
o susto atávico que mais te pôs a esmo.

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APELO AO DEUS CHRONOS


Se me fosse dado um dia, outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Mário Quintana

Ah, tempo, tu consomes meus ensejos,


Somente fazes deles o desvelo
Teórico, calado por meus pejos,
E acalmas-me o espírito ao não crê-lo.

Então dá-me o arrimo e o consolo


Na cura pra melancolia vã,
Pro ter saudade, sentimento tolo,
Que é febre inulta, estéril e tão malsã!

Desdém pra crença na felicidade,


Ignoto desespero em agonia,
De um’alma torturada e assim vencida.

Abstém-me da absurda hilaridade,


Do escárnio e da ridícula ironia
De eu reputar-me morta em plena vida.

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DECREPITUDE
A sorte deste mundo é mal segura;
[...]
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Tomás Antonio Gonzaga

O tempo fez em mim os seus estragos:


Flor murcha, alma ferida, asa quebrada.
Eu, hoje, sem carinho e sem afagos,
Outrora, até podia ser amada.

De mim, a juventude, num crescendo,


Esvai-se em cotidiano desencanto.
Ausências, solidões se vão tecendo,
Deixando-me somente mágoa e pranto.

Segredos esquecidos e eu calada,


Janelas se fechando pro horizonte,
Mil sonhos se perdendo nessa estrada.

Minh’alma é imortal e se faz ponte,


E eu preciso aprender novas toadas,
Bem antes qu’outra vida em mim desponte.

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UM QUÊ DE CAOS
Que farás, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso – e se me quebro?
Eu sou tua água – e se apodreço? [...]
Comigo perdes Tu o teu sentido.
Rainer Maria Rilke

Eu calo a minha alma a Vos ouvir,


Pois que sois Deus, renascereis em mim.
E se criastes meu começo e fim,
Cá dentro então Vos poderei sentir.

Quero um resumo em Vossa mente ser,


Pois também sou do mundo esse pulsar.
Já acrescento a um tão sagrado olhar
Um quê de caos, de místico prazer.

Quero o infinito como enfim meu lar,


Estar no cosmo mesmo que transverso,
E conhecer-me, ser meu bem-estar;

Ser consciência livre no Universo,


Todo o mistério abrir e clarear,
Saber que o céu só se descreve em verso.

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MÃOS QUE TECEM


A cada qual, como a ‘statura é dado
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes
Nada é prêmio, sucede o que acontece.
Ricardo Reis

Repente, a Roda faz andar a nossa vida


e, ponto a ponto, vai cosendo num bordado,
feito por dedos calejados com a lida,
um só destino, crochetado e costurado,

em fios de renda, refazendo os nós desfeitos.


Se a linha é curta, o Artesão põe mãos à obra,
desfia e monta mais um rolo que é imperfeito.
A perfeição é a perspectiva que não sobra,

pois não existe e nós sabemos que não há,


mas disfarçamos, aos remendos, nossos panos
e nos cobrimos com farrapos destroçados.

Se a fibra é forte, no tecido ficará


firme o sagrado, emaranhado com o profano.
Não cabe a nós o palpitar nesse traçado.

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PALAVRA MÁGICA
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Álvaro de Campos

Eu hoje sinto um mal estar de tudo,


Lâmina fria em toque de metal.
Ouço um silêncio que se faz mais mudo
Na abstração desse sentir-me mal.

Pedi pra vida um pouco e nada tive:


Não me pesar o conhecer que existo,
O respeitar a todo o ser que vive,
E um riso puro ou sentimento misto...

Pir lim pim pim ou uma palavra mágica


Pra desfazer o mal estar de tudo
E transportar-me dessa fase trágica.

Pedi tão pouco! Aliviar o peito


Desse pesar, que se transforme em arte e
Metaforize o podre no perfeito.

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NADA
Tudo o que vemos ou parecemos não passa
de um sonho dentro de um sonho.
Edgar Allan Poe

Eu mato em minha alma uma ara santa,


No que antes era já silêncio e espanto.
Tão firme e forte o brado na garganta,
Querendo diluir a dor em pranto.

Há um fogo de paixões que só me rende,


Cativa a mim, qual fosse seu refém.
E de onde vem, me diz, por que me prende?
Por que me impede de eu sentir-me alguém?

Eu sigo meu destino reservado,


Preservo a mente sã e condenada
A um mundo vão de sonho e sem pecado.

Mas trago aqui a dúvida calada:


Por que cumprir à risca o lasso fado,
Se tudo é pó e se resume a nada?

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DANÇANDO COM A VIDA


Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda

Seguindo o compasso sonoro e atonal,


Esgrima sem armas... Pra frente e pra trás...
Num jogo de corpo, a promessa que jaz
De vida e de morte, começo e final.

São passos pra lá e pra cá, tanto faz,


Apenas um tango, uma valsa, um aval.
Num fogo cruzado e uma ginga fatal,
Vã troca de pernas já não satisfaz.

Desenho de giz é esse brilho fugaz,


Ao som do atabaque, bongô, berimbau,
Nos braços que calam, trançados em paz.

A mão sobre a pélvis, abrindo um portal,


Estouro de fogos e um som pertinaz:
Do olho no olho se faz carnaval.

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CONTINUUM
Porque o tempo é uma invenção da morte
não o conhece a vida
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Mário Quintana

Sabes aquele meio de segundo


Que há entre o inspirar e o expirar,
Sustado e já sumido desse mundo,
Mensura não captada num piscar?

Aquele lapso e tempo que só há


No espaço paralelo, como o halo
Da vela que acabamos de soprar,
Do sino, o vão suspenso do badalo.

Por invisível, tende a ser perdido,


Etéreo, em nossa falta de atenção,
Levado pro outro lado e esquecido.

À nossa volta, sempre profusão


De indícios e sinais despercebidos,
Mas falta-nos o tino e a percepção...

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MEROS ARQUEJOS
Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.
Cruz e Souza

Há veios de anseios nas aras


Dos parcos e esparsos solfejos
Que entôo, em notas tão caras
Qual súplicas, meros arquejos.

Procuro canções em searas,


Aquelas que sinto e que vejo;
Que cheguem-me puras e claras
E banhem-me a alma no ensejo.

Somente as encontro em escaras,


Sem lira, sem rimas... sobejos...
Canônico som que não pára,

Que fere os ouvidos sem pejo,


Avilta a ferida e não sara,
Transforma o suspiro em bafejo.

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BALADA EM LÁ BEMOL
E a música cessa como um muro que desaba
Pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos...
Fernando Pessoa

Vertendo do passado e traduzida,


Escrita hieroglifada em pergaminho...
Ness’hora eu não estava prevenida
Pro vento norte e o cheiro de azevinho.

Bem dizem que um sentido sempre fixa


Em micros, quântuns, píxeis, decibéis,
Aquela imagem n’alma, a mais prolixa:
Memórias que são elos, são anéis.

Estava com Chopin meu pensamento


E não deixou passar esse momento:
Enleado no compasso, em lá bemol.

Um óleo perfumado então me ungiu


O misto de um calor fractal e frio
Enregelante, termo ativo - um Sol...

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O QUE ESCREVO
Que se eu levo
dentro n’alma quanto devo,
de transladar em papéis,
vede qual melhor lereis:
se a mim, se aquilo que escrevo?
Camões

O que escrevo vem de mim, me subjuga.


Já até tentei calar, manter silente
Esse fogo que o meu prantear enxuga.
Mas de nada me valeu até o presente.

Vaidade nunca tive com meus versos,


Eles surgem logo após a contração
Ventre lírico num parto bem transverso,
Pois que nascem sempre gêmeos e pagãos.

Sem magia, o amadorismo rege a pena e


De uma fonte, que eu não sei qual é, respinga
Rima fácil, poesia que é tão plena!

Então deixo que eles venham desse jeito:


Doloridos, iguaizinhos e impacientes.
Só assim sinto limpar-me o inulto peito...

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SIMBÓLICO
Além do livro, colossal, enorme,
Que nunca dorme perscrutando os céus!.
Acima dele supernal, potente
Está somente, tão-somente Deus!
Cruz e Sousa

A vida ensina, pondo pedras nos caminhos.


Os pés sangrando, cabe a nós, por nossa vez,
Filtrar nos karmas mais cruéis e mais mesquinhos
Crueza e intentos de perfídia e insensatez...

Se tropeçamos ou caímos, pouco importa,


Pois isso em nada o fluxo do universo altera.
Ponta de pedra amputa, talha, extirpa e corta,
Purgando as crostas, vinho impuro na cratera.

Fica pra trás toda a lisura do que é findo.


Pisando em cacos, evitando-os se o pudermos,
Em carne viva ou ilesos, vamos indo.

Textos akáshicos, em prosa ou poesia,


Vão registrando no entre mundos, dimensões,
Formando o Livro que é composto de energia.

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O CANTO DA SEREIA
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
Cecília Meireles

Sou eu os tons de rosa em teu vermelho,


Teu estado alterado de consciência,
Reflexo bem no fundo lá do espelho
Que ainda põe à prova tua incoerência.

A droga que circula na tua veia


E o assunto que te faz sair do sério.
O canto cego e surdo da sereia,
A que será eterna em seu mistério.

Por ti desconsidero regras várias,


Permeias os meus sonhos mais secretos
E somos um do outro, é lei sumária.

Fartaste minha vida como um deus


E, inspiração nas noites solitárias,
Serei pra sempre a Lira em versos teus.

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PLACEBO
Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nessa vida
Não fosse o mesmo amor de toda gente!
Florbela Espanca

Soluços sufocados, mãos crispadas,


Mil grutas dentre o peito, nebulosas
Qu’expandem e se encolhem alternadas,
Inflando-me as moléculas nervosas...

A vastidão de um sonho malsinado,


Falácia sem sentido e essa cegueira,
Que rende a nós somente um triste fado
E dores que se tornam rotineiras...

Teimo em manter os olhos ora enxutos,


E a voz então insiste em se calar.
Cultivo sentimentos que são brutos,
Destarte ‘inda eu não soube lapidar.

O amor se faz presente, esse resiste,


Malgrado o jeito meu de estar tão triste.

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SALTO QUÂNTICO
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!
Fernando Pessoa

Não importa a longitude dessa vida


Nem o tempo que levar pra que esmoreça,
Encho o cálice com o fel da despedida
Nele cuspo, o quebro e deixo que feneça.

Corrosiva a flor magoada na ferida,


Que se espalha, com a intenção de que apodreça
Corpo e mente que não servem mais pra lida,
Pois que então lhes foi lavrada tal sentença.

Já descrente, com arroubos de homicida,


Perco a fé e peço a Deus que me enlouqueça,
Pra evitar a dor de ver-me assim perdida.

Desafeta condição, até que eu esqueça


E que molde uma existência já parida,
Paralelamente rasa, vã e travessa.

(Uni)verso Magmáhtico Página 25


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MORMAÇO
Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo [...]
Porque a ausência assimilada
Ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

Busquei na memória naquele segundo


Pela calmaria, após tempestade.
Se o tempo parasse - nem vão nem fecundo -
Restolhos havidos viraram saudade.

Ninguém pra contar, dividir sentimentos.


Pecados guardados em quantuns possíveis
Ficaram na tela só em bits, fomentos
Pra serem lembrados... nem mesmo mais críveis...

Comicham mormaços e geram descrença:


Se tudo foi sonho e a memória me trouxe,
O tempo se conta a partir da lembrança?

Passado ou futuro? Não faz diferença,


Podia ser hoje e é como se fosse,
Pois foram momentos sentidos - herança.

(Uni)verso Magmáhtico Página 26


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PORTA FECHADA
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
Olavo Bilac

Deixaste minha vida como um homem


que sente que perdeu, não teve escolha.
E foi assim da forma como somem
as gostas do orvalho sobre a folha

e as pétalas das flores, quando, ativo,


o sol se mostra forte e incandescente.
Ficaste, os olhos quedos, pensativo,
sabendo que era a hora e consciente.

Então, retendo o uivo e meio mudo,


o lobo que havia no teu peito,
rosnando em sua fúria e seu lamento,

usou do teu silêncio como escudo,


sem sábia eloqüência e tão sem jeito!
Saíste... Fecho a porta aqui de dentro...

(Uni)verso Magmáhtico Página 27


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PAI LÍRICO
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.
Florbela Espanca

Em teus escritos, música e magia,


nascidas dos acordes do violão.
Eu sempre me perdi na poesia
das asas que voavam de tua mão,

pousavam na tua alma, que é tua casa,


pois alma de poeta é como um templo.
Senti que poetando é que estravasas
e não escondes nada, és meu exemplo

de sensibilidade e transparência.
Um Pai com tantas filhas! Coração
confuso entre os amores e as carências.

Teus versos e tuas prosas: a paixão,


um tanto de nostálgica vivência
e uísque pra molhar a Solidão.

(Uni)verso Magmáhtico Página 28


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A LETRA E A SERPENTE
Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Ferreira Gullar

Eis que hoje de mim mesma fui senhora,


assim tão tolamente, que assustei!
Olhava-me no espelho como outrora,
num lapso, fui-me vendo, me espreitei

de um jeito que jamais havia feito.


Havia um brilho extra e eu era aquela,
a outra, a estranha - nunca a vi direito -
que sempre esteve lá, como a aquarela

que prende-se à parede e então se esquece,


e todo mundo a vê e se acostuma.
Mas eis que hoje as duas, feito um “esse”,

serpentearam-se e se confundiram.
Sou ambas, esse “esse” e essa serpente
as metaforizaram e se viram.

(Uni)verso Magmáhtico Página 29


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LETRAS EMBRIAGADAS
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Olavo Bilac

Compor para um poeta é mais sublime,


Porque ele sabe que a palavra é só:
Solidão que liberta e que reprime,
Costura a inspiração e dá um nó;

Que em letras um poema faz amor,


Carinho consoante entre vogais;
Que diz tão pouco quem só fala em flor,
E quem descreve a dor já diz demais.

Que hiatos e ditongos abraçados


Transformam sobriedade em histeria,
Misturam versos brandos com pecados...

Compor para um poeta em lucidez,


- Joelhos postos a pedir perdão -
Redime o turbilhão da embriaguez.

(Uni)verso Magmáhtico Página 30


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TRANSMUTAÇÃO
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!
Olavo Bilac

Sim, tem a morte, sobre a qual pouco falei,


Que quando vem machuca fundo, nos destrói,
Causa feridas que não curam, mas não sei
Até que ponto nos ensinam quanto sói

O não saber que a vida e a morte é uma só:


Uma termina, a outra vem e continua.
São tudo ciclos... Quando o corpo vira pó,
A alma ascende pra que nutra e reconstrua

Um outro ciclo, e isso nunca tem um fim.


É transcendência o compreender esse caminho,
Pureza d’alma amar os corpos que se esvaem,

Mesmo sabendo que são findos e são sim...


Porém espíritos não perdem o carinho,
Se reencontram, reconhecem-se e se atraem.

(Uni)verso Magmáhtico Página 31


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CÍRCULOS DE FOGO
Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração
Que só por mim palpitasse
De amor em terna expansão...
Casimiro de Abreu

Por inóspitos caminhos percorridos,


Tateando, passo firme e olhar tão brando,
Invadiu, mediu o espaço e foi ficando.
Fez-se ímpeto e bravura: um aguerrido.

Soube ser, estar presente e esperar


Que emergisse bem do centro desse chão
- Cada pétala, uma nova sensação -
Flor exótica, crescendo devagar.

Como em círculos de fogo no sentido


Do limite que ultrapassa dimensões,
Mas sem susto, sem pensar e num instante,

Territórios antes meio que escondidos


E cavernas habitadas por dragões
Abraçaram corajoso visitante.

(Uni)verso Magmáhtico Página 32


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Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.
Olavo Bilac

Distância que se fez do que era perto


cingiu na mente a comoção do frio,
a despedida e o súbito arrepio,
ditando o medo de um futuro incerto.

A tela em branco a remexer vazios,


temor da sensação de estar liberto,
da repentina Luz do espaço aberto,
da falta que farão os desvarios...

Já nos tornamos irritante grito,


um eco que ressoa e se repete.
Que mais dizer, se tudo já foi dito?

A silhueta nas paredes nuas


pra sempre há de assombrar-nos, ao luar:
apenas uma sombra e nunca as duas.

(Uni)verso Magmáhtico Página 33


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PÁSSARO SULISTA
Mas nós sabemos por que é
Que o vento xucro não pára:
São suspiros da Jussara
Chamando o índio Sepé!
Jaime Caetano Braun

Desfolham-se os umbus ao minuano


Nas curvas das estradas do meu Pampa.
Ventaneira que se desloca e escampa,
Gelando os prados nesse mês do ano.

Como gemidos e lamentos, chora


Um eco de queixume e solidão:
Som de fundo às querelas do peão,
Das paredes da cabana, espaço afora.

Pelas coxilhas, longe, já se avista


O poncho serpenteante do campeiro,
Como as asas de um pássaro sulista

Que volta ao lar num voo bem ligeiro,


Deixando para trás somente a pista
Dos rastros do bagual pelo atoleiro.

(Uni)verso Magmáhtico Página 34


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DESABROCHAR
Nem acredites se pensas que te falo: palavras
São meu jeito mais secreto de calar.
Lya Luft

Meu canto vem em gotas virginais,


Orquídeas num jardim d’água repleto.
E crescem no meu peito, feito abeto,
Incautas fantasias ancestrais.

Crisálida ‘inda dentro do casulo,


Eclipse parcial, lua encoberta,
Qual cálida manhã que me desperta,
Sou flor que desabrocha em chão seculo.

Tu vens cheio de afagos e carinhos,


Cortejos, galanteios, desatinos...
Eu sinto, te aproximas mais e mais.

Por mais que te convoquem meus caminhos,


Só peço: não surpreendas o destino.
Não venhas sem convites, sem sinais.

(Uni)verso Magmáhtico Página 35


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CYCLUS
Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.
Cecília Meireles

Soprou em mim selvagem, forte vento


daqueles que ao passar promove estragos,
as árvores caídas ao relento
os rios turvos, oceanos, lagos...

E foi-se inverno, retornou verão,


de vendaval, passou à brisa leve.
Mas não importa o tempo ou a estação,
a força que é in natura não prescreve.

Ainda o sinto, trança o meu cabelo


- o meu e o seu - emaranhando os fios,
dá nós, transpassa, os costurando em teia.

Assim como as marés e a lua cheia,


as regras da mulher, o parto e o cio,
o vento vem e vai, não sei detê-lo...

(Uni)verso Magmáhtico Página 36


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VENTO NORTE
Deixa que o vento corra coroado de espuma,
que me chame e me busque,
galopando nas sombras (...)
Pablo Neruda

Redemoinho com força de homem,


Que excita o corpo e arrepia os cabelos,
Mexe comigo, desperta-me apelos
De sexo, angústia, de sede e de fome.

Bolhas no estômago e febre que ferve


É a inspiração na essência do vento.
Pesa no peito, me move em intentos,
Faz-se poesia, alimenta-me a verve.

É inevitável a comparação,
Provocas em mim o mesmo que o vento,
Os meus desejos mais caros tu apuras.

Meu sentimento eu atrelo à paixão,


Se me bolinas a alma é um alento
E eu gozo... sinto o prazer e a fissura...

(Uni)verso Magmáhtico Página 37


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POSFÁCIO

Esmiuçados os versos, rimados, diversos, restamos posseiros de temas


tidos e havidos como nossos próprios, nossos ópios a nos emular as emoções
que tantos sabemos sentir mas poucos de nós ousamos registrar.

Assim são os versos de Magmah. Parecem coisas vindas de nossas


próprias sensações, mas são de tal forma bem escritos, de tal forma
construídos e tão musicais que superam os sentimentos, sempre iguais a
toda a humanidade.

Nesse aspecto o poema bem ritmado e tecido se torna mais do que o


som e o tema supostamente conhecido, a apologia da verdade.Não do óbvio,
mas daquela verdade que trazemos escondida, lutando para ser revelada,
embora renegada por vanguardistas de oportunidade.

O poema, o bom poema, é a expressão maior de uma vontade. A vontade


do mate, do frio sulista, do coração que nos passa em revista e aponta o pó
no coturno e, a seu turno, embora marcando a espora a nossa pele igual, o
faz com maestria, com rimas perfeitas, com métricas estreitas entre si,
revelando a construção esmerada de uma arquitetura tão conhecida quanto
inesperada.

Se a forma nos é familiar, o conteúdo, contemporâneo e por tantas vezes


invulgar, tanto surpreende quanto afaga, tanto embala que fica difícil
separar da forma clássica e bem elaborada a atualidade e a profundidade
inequívoca dos sentimentos dissecados.

Assim nos chegam recados, para que nunca nos esqueçamos do


cuidado na elaboração dos versos, mesmo quando acontece de querermos
fazer uma simples prece.

Ruy Villany, poeta.

(Uni)verso Magmáhtico Página 38


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MINIBIOGRAFIA

Meu eu lírico é intenso, irracional e vive noutro mundo, uma espécie de


universo paralelo. É apaixonado, egocêntrico e voraz. Daí o pseudônimo,
inspirado no “magma”, a rocha ígnea localizada no interior da terra que está
em constante estado de ebulição e só é lançada à superfície por atividade
vulcânica, sempre iminente, de cuja solidificação se formam pedras
preciosas.

Eu própria não passo de uma mulher simples, nascida nos pagos


gaúchos, que ama poesia e gosta do exercício lírico como distração e
desabafo. Desenvolvi o pouco que sei sobre a teoria e a prática da Poesia em
comunidades orkutianas, como o “Cadafalso Poético” (criada em
junho/2007), da qual eu tenho o maior orgulho de participar, em meio a
tantos jovens talentos que amam a Literatura e possuem uma veia poética
como poucos nos nossos dias.

Também orgulho-me de estar na comunidade e nas primeira e segunda


Antologias Poéticas do “Bar do Escritor”, com colegas poetas do Brasil todo.

(Uni)verso Magmáhtico Página 39


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CONTATOS COM A AUTORA

Blogs:
(Uni)Verso Magmáhtico
http://sarahsarah-magmah.blogspot.com

Fazendo Amor em Versos


http://safoapoetisa.blogspot.com

Violetas e Açafrão
http://sarah-magmah.blogspot.com

Site na Web:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=31744

(Uni)verso Magmáhtico Página 40


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Esmiuçados os versos, rimados, diversos,


restamos posseiros de temas tidos e havidos como
nossos próprios, nossos ópios a nos emular as
emoções que tantos sabemos sentir mas poucos de
nós ousamos registrar.

Assim são os versos de Magmah. Parecem coisas


vindas de nossas próprias sensações, mas são de tal
forma bem escritos, de tal forma construídos e tão
musicais que superam os sentimentos, sempre iguais
a toda a humanidade.

Ruy Villany, poeta.

(Uni)verso Magmáhtico Página 41

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