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PODER JUDICIÁRIO

JUSTiÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 113 REGIÃO

PROCESSO TRT RO - 13039/2006-019-11-00'

ACÓRDÃO
N. o 5.699/2007

RECORRENTE: BALDA LUMBERG TECHNOLOGIES PLÁSTICO DA


AMAZÔNIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO L
TDA. Advogado: Dr. Claudionor Cláudio Dias
Júnior

RECORRIDO: JOSÉ BORGES DOS SANTOS


Advogado: Dr. Luzenildo Pereira Figueira

CARGO DE GESTÃO -
ENQUADRAMENTO DO ART. 62, INCISO
" DA CL T - HORAS EXTRAS - Restando
provado que o reclamante não exercia
cargo de gestão, a ponto de não· possuir
poder de autonomia nas opções
importantes a serem tomadas, substituindo-
se ao empregador, impossível o
enquadramento na exceção do art. 62, inc.
II da CL T, fazendo jus às horas extras
provadas nos autos. Recurso improvido

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


Ordinário, oriundos da 19.a MM. Vara do Trabalho de Manaus, em que são partes,
como recorrente, BALDA LUMBERG TECHNOLOGIES PLÁSTICO DA
AMAZÔNIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO L TDA. e, como recorrido, JOSÉ
BORGES DOS SANTOS.

Ingressou o autor com reclamatória trabalhista, afirmando


que laborou para a reclamada no período de 12.06.2000 a 17.03.2006, exercendo
a função de Coordenador de Contadoria. Afirma que cumpria jornada de trabalho
das 7h30min às 12 horas e de 12h30min. às 21 horas, de segunda a sexta-feira,

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com intervalo de 30 (trinta) minutos e aos sábados de 9 às 23h30min.,


trabalhando, ainda, dois domingos por mês de 9 às 22 horas. Ressalta que no
período de outubro/2002 a fevereiro/2003, laborou das 7h30min às 1 h30min da
manhã do dia seguinte. Aduz que sofreu hostilidades verbais por parte dos
dirigentes da reclamada. Pretende o pagamento de 8.400 horas extras a 50%,
1.560 horas extras a 100%, 432 horas extras a 50% no período de outubro!2002
a fevereiro/2003, tudo com integração nos RSR's e reflexos legais, indenização
por dano moral, honorários advocatícios e justiça gratuita.

Em contestação (fls. 62/64), a reclamada argüiu a


preliminar de prescrição qüinqüenal. No mérito, afirma que o reclamante exercia
cargo de gestão, estando enquadrado na exceção do art. 62, inciso 1 1da CL T,
não fazendo jus às horas extras pleiteadas. Requereu a improcedência da ação.
Em aditamento à contestação, realizado em audiência, requereu a improcedência
do pleito de indenização por dano moral.

A MM. Vara, após regular instrução do feito, julgou a


reclamatória (fls. 168/175) parcialmente procedente, acolhendo a preliminar de
prescrição argüida, declarando prescritos os peitos anteriores a 19.05.2001 e
condenando a reclamada a pagar ao reclamante a quantia a ser apurada em
regular liquidação de sentença, a título de horas extras a 50% e 100% e reflexos
sobre FGTS (8%), 13.os salários e férias do período imprescrito. Deferiu, ainda, o
pedido de justiça gratuita.

O reclamante e a reclamada apresentaram Embargos


Declaratórios às fls. 176/179 e fls. 181/184, respectivamente, os quais foram
julgados às fls. 185/188, sendo que o da reclamada foi considerado improcedente
e o do reclamante procedente.

Irresignado com a decisão na parte que lhe foi adversa, a


reclamada ingressou com recurso ordinário a esta Egrégia Corte, cujas razões
encontram-se às fls. 198/224, argumentando que restou provado nos autos o
exercício pelo reclamante de cargo de gestão, razão pela qual não faz jus às
horas extras deferidas.

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Contra-razões pelo reclamante, às fls. 237/248.

É O RELATÓRIO.

VOTO:

Conheço do recurso interposto, posto que atendidos os


pressupostos legais de admissibilidade.

O reclamado, ora recorrente, apresenta contrariedade à


decisão monocrática que considerou devidas as horas extras pleiteadas,
argumentando que restou provado nos autos o exercício pelo reclamante de cargo
de gestão, razão pela qual não faz jus às horas extras deferidas.

Contrariamente ao que sustenta o recorrente, as provas·


produzidas nos autos não podem levar a outro entendimento senão ao de que o
reclamante não exercia cargo de gestão, nos moldes do art. 62, 11 da CL T.
Vejamos.

Comungo do entendimento do Juízo a quo, no sentido de que


o disposto no art. 62 da CL T é destinado àqueles empregados que possuem poder
de autonomia nas opções importantes a serem tomadas, substituindo-se ao
empregador.

No caso em tela, o conjunto probatório existente nos autos


revela que o reclamante embora denominado como "coordenador" era simples chefe
de serviço encarregado de função de rotina permanente, qual seja, parte contábil e
financeira da empresa.

O fato de o reclamante possuir autonomia para fazer


requlsiçao de táxi, combustível, comida, ou de abonar faltas e autorizar o
cumprimento de jornadas extraordinárias de seus subordinados não revela a
autonomia suficiente para caracterizar o cargo de gestão propriamente dito eis que

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se tratam de ingerências incapazes de provocar grandes repercussões na


atividade da reclamada.

De outro modo, os documentos juntados aos autos e o


depoimento das testemunhas do reclamante e reclamada demonstram a patente
subordinação do autor, como Coordenador aos superiores hierárquicos,
mormente o Gerente do Setor e o Diretor Geral, de modo que ficou constatado
que o reclamante não possuía participação nas decisões mais importante
tomadas pela empresa. Nem mesmo sua remuneração de R$7.000,00 pode ser
indicativo de diferenciação e exercício de cargo de gestão vez que o Gerente da
Controladoria, Sr. Estevão Soares da Silva e chefe do reclamante, confirmou que
percebia o valor de R$18.000,00 a título de remuneração e que os diretores da
empresa recebiam por volta de R$22.000,00, evidenciando o distanciamento
remuneratório entre os verdadeiros exercentes de cargo de gestão e os simples
chefes de setor.
J
A flexibilidade de horário e dispensa do controle de ponto
também não são suficientes para caracterização do cargo, visto que não podem
ser tomadas de forma isolada e sim como parte de um conjunto de requisitos que
integram a natureza do cargo de gestão, onde o principal componente é a
autonomia na tomada das decisões efetivamente importantes da reclamada e
substituição do empregador, características essas que não restaram provadas em
relação ao autor.

Ademais, diante da jornada de trabalho flexível do autor e


dos diversos horários relatados pelas testemunhas ouvidas nos autos, agiu
corretamente o Juízo ao arbitrar uma média que obedeceu plenamente o
princípio da proporcional idade, qual seja, a de que o autor usufruía intervalo de 1
hora para alimentação e cumpria jornada de segunda a sexta-feira, das 7h30min.
às 17h30min., prorrogando a jornada 10 (dez) dias por mês até às 22 horas, além
de laborar um sábado e um domingo por mês das 8h30min. às 17 horas, com
intervalo de 1 (uma) hora para repouso e alimentação, resultando em 56,5 horas
extras mensais a 50% e 7,5 horas extras mensais a 100% pelos domingos trabal
hados.

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O labor extraordinário, contrariamente ao que afirma o


recorrente, ficou exaustivamente provado nos autos pelas testemunhas
arroladas pelo autor e por sua própria preposta e testemunha.

O direito processual, acertadamente, impede ao juiz


basear seu convencimento em argumentos não provados, sendo improsperável
a afirmação do recorrente de que o julgador não analisou o conjunto das provas
existentes nos autos.

Contrariamente ao que afirma o recorrente em seu apelo,


entendo que o recorrido cumpriu com a exigência legal prevista no art. 333, I do
CPC, posto que provou satisfatoriamente o labor extraordinário que afirmou
realizar na vigência do pacto laboral firmado com a recorrente nos sábados.
Esqueceu o recorrente de verificar a prudência do julgador ao deferir as horas
extras pleiteadas, posto que as coiÍcedeu com base no bojo probatório e não·
apenas nos períodos e horários declinados na exordial.

Nada a reformar.

Em conclusão, conheço do recurso interposto e nego-Ihe


provimento, para o fim de manter inalterada a decisão de primeiro grau em todos
os seus termos, conforme a fundamentação.

ISTO POSTO:

ACORDAM os Desembargadores Federais do Tribunal


Regional do Trabalho da 11.a Região, por unanimidade de votos, conhecer do
Recurso Ordinário; por maioria, negar-lhe provimento para confirmar a decisão
de 10 grau, na forma da fundamentação. Votos divergentes dos Exmos.
Desembargador Federal BENEDICTO CRUZ L YRA e Juiz ADILSON MACIEL
DANTAS, que lhe davam provimento para julgar improcedente a parcela de
horas extras.

Assinado em 10 de agosto de 2007.

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