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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO EXTREMO SUL DA BAHIA


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Revista Eletrônica do CESESB

O problema do acesso à justiça e a solução de conflitos:


uma leitura na visão de Cappelletti.

Jailson Rocha Siqueira1


Bacharel em Direito, Bacharel em Serviço Social, Advogado Militante,
Assistente Social, Pós- graduado em Políticas Públicas, Mestrando em
Direito pela Faculdade de Direito de Campos e Professor de Direito
Constitucional do CESESB.

INTRODUÇÃO

Uma das questões que hoje tem propiciado grandes debates, tanto no mundo acadêmico
como nas esferas políticas e dentro do poder judiciário, sem dúvida alguma é o problema
do acesso à justiça.

É inegável que o problema do acesso à justiça vai se deparar com o problema da solução
dos conflitos judiciais e atingir diretamente os setores mais fragilizados economicamente
da sociedade.

Nesse ínterin, é de fundamental importância pensarmos que quando segmentos


importantes da nossa sociedade não conseguem acessar os mecanismos postos pelo
Estado para solução dos conflitos e esses se avolumam, certamente é que estamos
diante de um grave problema, que afeta diretamente direitos e garantias fundamentais
da pessoa humana que um Estado Democrático de Direito obrigatoriamente, tem que
assegurar.

A não presteza do Estado em assegurar o acesso à justiça bem como exclusão de


segmentos sociais desse acesso certamente provocará a falência do que chamamos e
entendemos por Estado Democrático de Direitos.

Nesse sentido, para fundamentar o presente trabalho, buscamos nos estudos do jurista
MAURO CAPPELLETTI, discutir não só o problema do acesso à justiça mas, também, os
métodos alternativos para a solução de conflitos. Dessa forma, entendemos, que com
esse referencial, será possível estabelecermos uma linha de estudos capaz de dar conta
da temática.

Assim, dividimos o trabalho em dois momentos. No primeiro, discutimos o problema do


acesso à justiça enquanto no segundo tratamos dos métodos alternativos de solução de
conflitos.

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O ACESSO A JUSTIÇA

Historicamente, um dos graves problemas que se coloca para o Estado bem como para
aqueles que estudam e pensam a ciência jurídica, é, sem dúvida o como garantir a todos
o acesso á justiça.

A referida questão assume uma dimensão de contexto universal em que várias são as
linhas de estudos e correntes teóricas a se debruçarem acerca da temática. Segundo
CAPPELLETTI o movimento universal de acesso à Justiça foi, por várias décadas,
manifestação importante de novo enfoque tanto da ciência jurídica quanto da reforma
legislativa em muitos países do mundo2.

Na busca de solução para esse grave problema, se verifica que a sua dimensão maior,
bem como as correntes e movimentos de pensamento trouxeram uma perspectiva nova
na forma de se estudar a questão.

Assim o movimento universal de acesso à Justiça, criou poderosa visão nova, repudiando
o enfoque formalístico prevalecente por muito tempo em grande parte do mundo
ocidental, especialmente na Europa3.

Essa visão nova possibilitou a construção de um pensar novo e consequentemente à


rejeição de teorias que não possibilitavam uma leitura mais apurada da realidade.

Esse novo enfoque inspira-se com freqüência em pensadores que trazem consigo um
compromisso de possibilitar uma justiça accessível a todos os segmentos da sociedade.

Assim, a atual visão de acesso à Justiça, que tem como um de seus precursores o mestre
MAURO CAPPELLETTI, só pode concretizar-se a partir da consciência e da atuação de
operadores do direito que com a mesma se identifiquem.

O conceito de acesso à Justiça mereceu considerável evolução transpondo de uma


formulação rudimentar, como apenas um direito natural, para avançar a um direito
individual – mesmo que indisponível a enormes contingentes da população – e agora
assume uma feição social e política de relevância e significação4.

A idéia de acesso à Justiça evolui da concepção liberal para a concepção social do Estado
moderno.

No decorrer do século XX a política governamental, em todos os países do mundo,


voltou-se para o coletivo ou social5. Assim, as correntes do pensamento liberal dos
séculos XVIII e XIX, que preconizavam que todos eram “presumidos” iguais, onde a

2
CAPPELLETTI, Mauro. Os métodos alternativos de solução de conflitos no quadro do movimento universal de
acesso á justiça. In: “Revista Forense” . V. 326, Mar. / Junho., 1994, p. 82-97.
3
Op. cit., p. 82
4
Importante ressaltar que nos paises em que se verificam grandes desigualdades sociais, esses conceito é
muito mais social e político que em paises com menor grau de desigualdades.
5
Op. cit. p. 83.
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doutrina do acesso à justiça não comportava os problemas reais do indivíduo, mas


apenas com o teórico do processo, restou abandonada6.

Com o constitucionalismo, as Constituições, passaram a contemplar a efetivação dos


direitos fundamentais, não apenas os definindo e declarando, mas efetivando-os pela
garantia e acessibilidade ao poder judiciário.

Como princípio norteador do Estado Democrático de Direito, assegurado na maioria das


constituições, está o assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais para que seja
possível o exercício da cidadania7.

Portanto, o exercício pleno da cidadania direciona e engloba o acesso à Justiça como


direito fundamental, a ser assegurado a todos os segmentos da sociedade.

A SOLUÇÃO DE CONFLITOS E O ACESSO À JUSTIÇA

Na linha de pensamento de CAPPELLETTI as dificuldades para acessar a Justiça


compreendem os custos, a demora de tramitação dos processos e, ainda, obstáculos
culturais, econômicos e sociais, entre o cidadão que demanda em juízo e os
procedimentos8.

Para dar sentido à efetividade de acesso à Justiça, CAPPELLETI refere-se a existência de


três idéias básicas que atingiram, de modo indiscriminado, os países de “common law” e
os de “civil law”, desde o início da década de 609. Assim, produziram modificações
diversas nos sistemas jurídicos e, mesmo se vinculando a contextos cronologicamente
sucessivos, já agora são formas simultâneas de que dispõem as sociedades
contemporâneas para enfrentar o desafio de tornarem efetivos os direitos do cidadão
comum.

Das idéias básicas para obter-se solução prática aos problemas de acesso à Justiça
vamos encontrar, nas ponderações de CAPPELLETTI, que o acesso aos pobres ou
hipossuficientes econômicos será suplantada pela assistência judiciária10.

Essa iniciativa tem experimentado avanço progressivo e aperfeiçoamento nos países


onde foi implementada - primeiro nos Estados Unidos e, durante os anos 70, na França,
Suécia, Inglaterra, Canadá (Quebec), Alemanha, Áustria, Holanda, Itália e Austrália -,
dito sistema tem sua eficácia limitada por preservar uma concepção tradicional de
processo civil, em especial quanto à representação de ações coletivas em favor dos

6
Op. cit. p. 95, 96.
7
A Constituição brasileira promulgada em 1988, em seu artigo 5º. e 6º. busca garantir esse direito.
8
Op. cit. p. 84.
9
Op. cit. p. 85.
10
CAPPELLETTI, Mauro. O acesso dos consumidores à justiça. In: “Revista Forense”. V. 310, Abr./Jun., 1990,
p.53-63.
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pobres11. Quanto a estas, deveriam apresentar-se com as características: quando dizem


respeito à representação de ações coletivas justificadas pelo interesse de cada indivíduo,
à extensão desse tipo de assistência e a novas áreas de direitos que não os que
envolvem matérias criminais ou de família (as únicas reconhecidas espontaneamente
pelos necessitados) e à proteção de pequenos interesses individuais, cujos custos da
ação tendem a fazer com que não sejam pelo sistema público de assistência judiciária –
este dispondo de número insuficiente de advogados e, por conseqüência, muito seletivo
na escolha dos casos.

Esta reforma que pretende superar a barreira decorrente da pobreza para o acesso à
Justiça deve prover as informações necessárias e a assistência extrajudicial (jurídica)
antes do ingresso de qualquer ação. Após promovida a ação e durante o feito deve ser
fornecida a assistência judiciária e a adequada representação legal.

Entretanto, é necessário ter claro que, em sociedades em que as desigualdades sociais


atingem níveis muito altos a acessibilidade fica sob o critério do próprio necessitado que
terá que determinar se deve ou não recorrer à jurisdição do Estado para ver efetivado
um direito. Assim, é indispensável a proposição de métodos para que a condição social
do cidadão não venha a ser primordial para o reconhecimento do direito próprio.

OS METÓDOS ALTERNATIVOS

Nos ensinamentos de CAPPELLETTI, os métodos alternativos de solução de conflitos vêm


a superar os obstáculos de ordem processual, que no seu entendimento se constitui no
fato de que, em certas áreas ou espécies de litígios, a solução normal - o tradicional
processo litigioso em Juízo – pode não ser o melhor caminho para ensejar a vindicação
efetiva de direitos12,13.

No que se refere aos conflitos envolvendo direitos difusos ou coletivos, ele aponta
algumas iniciativas, dentre elas o Relator actions, que não se constitui em uma das
melhores soluções14.

Outra solução apontada é o “class actions”, que permite que um indivíduo


represente todo o grupo ou classe de pessoas, em determinado litígio, evitando os custos
de organização permanente do grupo. Nessa iniciativa, cabe ao Juiz verificar a
efetividade do representante no grupo15, 16.
11
CAPPELLETTI, Mauro. Ibid, p. 89.
12
CAPPELLETTI, Mauro. Ibid, p. 87.
13
No caso do Brasil a busca pela justiça na maioria dos Estados, representa uma perda de tempo e na maioria
das vezes em prejuízos para os envolvidos com a demanda.
14
O Relator Acter pode ter a sua autorização para agir revogada a qualquer momento e sem maiores
explicações pelo Attorney General, que é, o titular da ação. No caso brasileiro, séria o Procurador Geral de
Justiça.
15
Op. cit. P. 85.
16
Muito bem destacado por CAPPELLETTI, o caso brasileiro que em seu Código de Defesa do Consumidor
admite essa espécie de ação.
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Outra alternativa, básica para a solução prática ao acesso à Justiça, conhecida


como “terceira onda”, conduz a um novo enfoque em uma concepção mais ampla no que
diz respeito à representação em juízo.

Estas idéias partiram das reformas precedentes que buscavam a proteção judicial
aos hipossuficientes e aos interesses difusos não representados ou representados de
forma ineficaz e objetivam a mudança dos procedimentos judiciais, de forma ampla,
pretendendo tornar efetivos os direitos buscados.

A necessidade de se possibilitar o acesso à justiça e propiciar a solução de conflitos


têm apontado para a procura por uma justiça conciliativa que pode ser mais eficaz para a
solução dos contenciosos. Dessa forma, é imprescindível assegurar ao cidadão que
buscar solucionar um conflito, ao acessar a justiça, há de encontrar uma justiça capaz de
promover uma aproximação das posições, onde a solução seja pelos litigantes
reciprocamente compreendidas, com uma modificação bilateral ou multilateral dos
comportamentos, rompendo dessa forma com um modelo de justiça que prima pelo
conflito.

Assim, torna-se necessário o emprego de técnicas processuais diferenciadas, onde


a simplificação dos procedimentos é a via alternativa de solução de demandas.

Dessa forma, a direção do enfoque pretende o desenvolvimento de uma variedade de


reformas aí incluindo-se alterações nos procedimentos judiciais; uso de pessoas leigas
ou paraprofissionais, tanto quanto juizes e defensores, para evitar e/ou facilitar a solução
das demandas, utilização de mecanismos informais ou privados para solução de litígios.

Assim a reforma dos procedimentos buscam inovar e renovar as formas tradicionais,


mesclando-as com novas alternativas. Sobressaem a maior validade da oralidade, a livre
apreciação da prova, concentração dos procedimentos, as audiências inaugurais de
conciliação e o papel cada dia mais acentuado de liberdade do Juiz na direção dos feitos,
maior respeito às partes, testemunhas e serventuários, de forma também, que implique
em redução ou eliminação das custas.

CAPPELLETTI aponta, também, na direção do que seria a especialização das instituições e


procedimentos para atender causas de importância social particularizada. Ai insere-se a
criação de tribunais especializados (pequenas causas, vizinhança, consumidores, meio
ambiente, etc.).17 Essas iniciativas trazem vantagens quanto aos custos e pela rapidez de
decisão por inserção da informalidade, oralidade, simplicidade, economia processual e
celeridade. O maior problema trata da excessiva especialização vez que será dispendiosa
sua implantação em todas as Comarcas.18

Frente a estas necessidades CAPPELLETTI, apresenta novos meios e métodos para


reduzir os custos de representação por advogados. Os custos tornar-se-iam razoáveis às

17
Op.cit. , p. 85.
18
No Brasil a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminas, não foram implementados em todas as comarcas
e a prestação jurisdicional e de duvidosa qualidade e de pouca efetividade.
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pessoas das classes média e baixa, pois estariam cotizadas como um grupo ou mediante
convênios através de planos para a prestação de serviços jurídicos, estes prestados por
advogados, em equipes ou grupos. O mecanismo funciona com a contribuição monetária
de cada um, para obtenção de serviços jurídicos pré-determinados a serem prestados
quando necessários sejam aos interesses do contribuinte ou do grupo. Esta seria uma
nova forma de acesso à Justiça, por via de pagamento, ao profissional, em módicas e
suaves prestações.19

O método também pode contemplar a contribuição para um plano de assistência


como seguro jurídico. Nesse ponto é interessante salientar que no Brasil, independente
da orientação política ideológica, a contribuição paga pelos trabalhadores a alguns
sindicatos já engloba os serviços jurídicos especializados que estejam vinculados aos
interesses da categoria econômica, bem como as informações necessárias em outros
campos do direito.

Outra iniciativa que vai na direção de viabilizar o acesso busca simplificar o


processo cortando as medidas protelatórias, evitando o debate exacerbado e
simplificando as perícias, quando não as eliminando tendo como finalidades a justiça feita
em tempo razoável a um custo reduzido.

Para construir um sistema jurídico e procedimental mais humano reconhece-se a


utilização de métodos alternativos para a resolução/solução dos litígios e – dentre
aqueles a conciliação, a mediação e a arbitragem.20

Estes instrumentos situam-se fora dos tribunais. Pelo caráter de informalidade, solução
do conflito sem julgamento, rapidez e não criar hostilidade entre as partes, estes
instrumentos oferecem vantagens sobre o processo formal.21

É importante destacar que tais mecanismos apresentam inconvenientes, dentre os quais:


o custo muito elevado frente ao pagamento dos operadores do novo sistema;
decorrentemente, o risco de criação de nova elite burocrática e corporativa (árbitros,
mediadores, conciliadores); como assegurar os meios e modos do direito da parte
vencida a um recurso ou mesmo a novo julgamento.

CAPPELLETTI reconhece ceticismo quanto a progressos, mesmo com as reformas,


no que respeita ao acesso à Justiça em sistemas sociais fundamentalmente injustos.
Reformas judiciais e processuais não são substitutos para as reformas políticas e sociais.

Por outro lado, os sistemas jurídicos não podem criar órgãos e procedimentos
especiais para todos os tipos de demanda, não só pelos custos e muito mais pela
dificuldade de delimitação de competências, principalmente nos paises em

19
Certamente, que no caso do Brasil esta medida não teria maior proveito, visto que as pessoas que moas
necessitam acessar a justiça, são as que menores condições têm para fazer frente a custas de honorários.
20
Op. cit. P. 88.
21
A Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988, em seu artigo 98, incisos l e ll, prevê a implementação
desses mecanismos alternativos de solução de conflitos.
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desenvolvimento.

Portanto, as reformas preconizadas não podem e também não devem ser


transplantadas de um a outro sistema jurídico. É necessário que sejam realizados
estudos de cada realidade, de cada contexto social e cultural, além, é claro, de pesquisar
e realizar um diagnóstico acerca da necessidade, da implantação da reforma que, se
efetivada, deve ser acompanhada passo a passo, não pelos seus idealizadores, mas
principalmente pelo conjunto da sociedade.

Nessa sentido, refere CAPPELLETTI como “o maior perigo” o risco de que a


implantação dos procedimentos modernos e eficientes possam abandonar as garantias
fundamentais do processo.

No entanto, é necessário ter claro, que todos os esforços devam ser efetivados
para que se possibilite todas as via de acesso ao Judiciário, com a garantia e
possibilidade do uso de todos os instrumentos processuais. Mas, é fundamental às partes
a segurança de serem tratadas dentro de princípios legais, onde o respeito a sua
expectativa de direito, não seja frustrada, e que a qualidade da prestação jurisdicional,
não seja rotulada, isto é, não tenha a marca de uma justiça que foi construída para
atender a determinado segmento da sociedade.

CONCLUSÃO

O acesso à justiça traz consigo não só a possibilidade de se construir novos mecanismos


de acessibilidade, como também é uma oportunidade para repensarmos o quê e qual o
papel que os operadores do direito têm desempenhado acerca da questão.

Dentro da sociedade brasileira é notória a dificuldade enfrentada pelos segmentos mais


fragilizados economicamente tentativa de acessar o poder judiciário. Como bem ressaltou
CAPPELLETTI, essas dificuldades são de toda ordem.

Todavia, as de natureza organizacional e financeira no caso especifico do Brasil, são as


que mais refletem os reclames da sociedade.

Assim, pensar e propor novos mecanismos que possam perpassar as limitações que hoje
são colocadas pelos ordenamentos processuais para possibilitar uma democratização do
acesso a justiça é tarefa de todos e, mais especialmente, dos operadores do direito. É
nosso dever contribuir para que o direito e os remédios legais reflitam as necessidades,
os problemas e as aspirações atuais da sociedade civil.

Dentre essas necessidades estão seguramente as de desenvolver alternativas aos


métodos e remédios, tradicionais sempre que sejam demasiados caros, lentos e
inacessíveis ao povo.

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Daí o dever de encontrar alternativas capazes de melhor atender às urgentes demandas


de um tempo de transformações sociais em ritmo de velocidade sem precedente22.

No caso brasileiro, as demandas se mostram mais que urgentes e as propostas que


surgem tais como: Juizados Especiais, Arbitragem, Conciliação Previa, Justiça Itinerante,
em nada se aproximam da capacidade de ir ao encontra dessa demanda. Portanto, é
necessário que as alternativas sejam construídas e efetivadas para que possamos ter, de
fato, uma justiça para todos.

Assim, as ponderações do jurista CAPPELLETTI, se revestem em valiosa contribuição para


refletir como está a justiça, como ela tem sido ofertada à sociedade e o que se pode
fazer para que a mesma esteja ao alcance de todos.

Portanto, faz-se necessário um envolvimento de todos os envolvidos na operação do


direito para que métodos alternativos de acesso à justiça sejam criados e efetivados,
propiciando, no caso brasileiro, a minoração histórica das desigualdades sociais que
sempre permearam a nossa sociedade desde a existência do Estado, que preconiza como
fundamento a cidadania e a dignidade da pessoa humana.

BIBLIOGRAFIA

CAPPELLETTI, Mauro. Os métodos alternativos de solução de conflitos no quadro do


movimento universal de acesso à justiça. In: “Revista Forense”. v. 326, Mar./Jun., 1994,
p. 82 – 97.

-------. O acesso dos consumidores à justiça. In: “Revista Forense”. v.310,


Abr./Jun.,1990, p.53–63.

-------. O acesso à justiça e a função do jurista em nossa época. In: “Revista de


Processo”, N.61, Ano 16, Jan./Mar., 1991, p.144-160.

-------. Acesso alla giustizia come programa di riforma e come método di pensiero. In:
“Revista do Curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia”, v. 12, 1983, p.
309-321.

22
CAPPELLETTI, Mauro. Ibid, p. 97.
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