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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL

PROJETO DE PESQUISA

DESIGUALDADE, CRESCIMENTO ECONÔMICO E


ARMADILHAS DA POBREZA NO BRASIL: UMA
APLICAÇÃO DE MODELOS DINÂMICOS E ANÁLISE
MULTIVARIADA

Renata Couto Moreira


(Doutoranda em Economia Aplicada)

Marcelo José Braga


(Orientador)

Fátima Marília Andrade de Carvalho


(Co-orientadora)

José Maria Alves da Silva


(Co-orientador)

VIÇOSA – MINAS GERAIS


DEZEMBRO – 2008

1
SUMÁRIO ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

1. INTRODUÇÃO 3

1.1. O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA 8


1.2. HIPÓTESES DE TESE 16
1.3. OBJETIVOS 19

2. REFERENCIAL TEÓRICO 20

2.1. OS DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO MODELO DE


CRESCIMENTO ENDÓGENO COM RESTRIÇÕES CREDITÍCIAS 20
2.2. RELAÇÕES ENTRE CRESCIMENTO, DESIGUALDADE E POBREZA 27
2.2.1. A CURVA DE KUZNETS VERSUS A TRANSFORMAÇÃO PRODUTIVA COM EQUIDADE 27
2.2.2. O MODELO GERAL DE CAUSAÇÃO CIRCULAR, DAS ARMADILHAS DA POBREZA E DA
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES 29

3. METODOLOGIA 34

3.1. OS MODELOS ANALÍTICOS 34


3.2. PROCEDIMENTOS 40

4. FONTE DE DADOS 41

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

6. RESUMO 50

7. ORÇAMENTO 51

8. CRONOGRAMA 52

2
1. Introdução

As relações estabelecidas entre a desigualdade, o crescimento e a


pobreza, focos deste estudo, têm sido alvos de grandes controvérsias na
história do pensamento econômico. O trade-off entre a eficiência e a
equidade no processo de desenvolvimento industrial experimentado por
diversos países, e em particular pelo Brasil, é justificado por alguns como
uma etapa transitória naturalmente necessária, enquanto para outros é
percebido como uma restrição que impõe limites à dinâmica da economia. A
teoria neoclássica1, por exemplo, defende a primeira postura partindo de
modelos com base em mercados perfeitos, na teoria marginalista de
distribuição segundo retornos à produtividade, e na convergência natural do
sistema econômico ao pleno emprego. Condena assim políticas públicas
redistributivas, como a taxação progressiva sobre a renda e a riqueza e a
reforma agrária, para atenuar os problemas distributivos associados. Em
contraposição, as escolas de caráter mais estruturalistas2 apóiam a
possibilidade de uso de tais políticas pelo governo, pois exploram desde sua
origem, a existência de mercados imperfeitos, as características históricas
da evolução das estruturas produtivas e da organização dos mercados, e os
desequilíbrios como processos geradores do desenvolvimento econômico.
Esta discordância de opiniões não seria sem motivo, visto que a busca
pelas leis que regulam o equilíbrio entre a determinação do nível agregado
de produção e a sua circulação é considerado desde os Princípios de
Ricardo como “problema principal da economia política” (KALDOR, 1956).
Há evidências antigas de que a eficiência econômica e a eqüidade se
interconectam de múltiplas formas e em duplo sentido formando uma rede
complexa de relações (DINIZ, 2005). Para sua compreensão e utilização na
escolha entre políticas públicas alternativas, são necessários mais estudos
sobre seus determinantes e as relações de causalidade estabelecidas.
Verificando quais os canais que perpetuam o crescimento e que,
simultaneamente, atuam na promoção da distribuição econômica da renda e

1
Tendo como defensores Kuznets (1955), Solow (1956), Romer (1986), Lucas (1988), entre outros.
2
Dentre as quais consideram-se as fundamentadas no pensamento de Schumpeter (1985), Keynes
(1936), Kalecki (1985), Kaldor(1956), Myrdal (1965), Prebisch (1998), entre outros.

3
da riqueza, e consequentemente na redução da pobreza, é possível formular
pontos críticos acerca da atuação do Estado na resolução do “problema da
ação coletiva”. Este consiste em sanar o conflito distributivo existente entre a
concentração do produto e de privilégios individuais a restritos grupos
hegemônicos, e a garantia de justiça social na distribuição do produto e no
bem estar coletivo da ampla maioria da população. Esse será o problema
foco desta tese, na investigação do “estado da arte” das discussões, teorias
e paradigmas científicos associados.
A postura que este trabalho adota, considera que a estrutura sócio-
econômica em que os indivíduos estão inseridos e as evidências de
imperfeições nos mercados de fatores, impondo consideráveis restrições aos
efeitos distributivos de um processo de crescimento econômico, não podem
ser desprezadas em um cenário mais realista. Desta forma, adota como eixo
principal de formalização teórica, o trabalho de Aghion, Caroli e García-
Peñalosa (1999). Segundo esse, a infra-estrutura dada por normas e
instituições sociais historicamente construídas, inclusive das que
determinam a distribuição do produto entre as pessoas, deve aparecer
também como determinante básico do crescimento e seu comportamento ao
longo do tempo. A hipótese intrínseca a isso é a de que as pessoas se
dispõem a realizar os investimentos de longo prazo em capital físico,
humano e/ou tecnologia de acordo com suas expectativas de sucesso
econômico no longo prazo. Com a criação e o amadurecimento das
instituições3, os riscos e as incertezas são reduzidos gerando um ambiente
econômico no qual descobertas e invenções passam a ser mais freqüentes
alimentando a dinâmica econômica.
Focando as relações entre o crescimento e a desigualdade, esses
autores estudaram os impactos da concentração de riquezas na dinâmica do
crescimento. Em particular, analisaram o caso quando os agentes sofrem de
limitações institucionais ao acesso a investimentos produtivos. Encontraram
relação negativa entre a desigualdade e o crescimento de longo prazo. Este
resultado é oposto ao trade-off entre a equidade e o crescimento

3
Estas são entendidas por esses autores como o conjunto de regras e normas restringindo o
comportamento humano, que seguem a perspectiva de Acemoglu, Johnson e Robinson (2004).

4
evidenciado historicamente nos países, justificado como etapa natural do
processo pelos neoclássicos mais ortodoxos.
Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999) concluíram que, em um
contexto no qual o mercado de crédito é imperfeito e os agentes são
heterogêneos, políticas públicas de taxação progressiva sobre o capital pode
gerar forças suficientes para acelerar as taxas de crescimento sustentado.
Suas raízes se encontram nas formulações neoclássicas, por proporem-se a
tratar do mecanismo de difusão tecnológica entre países ou regiões com
base no modelo de crescimento endógeno, tendo a mesma preocupação em
explicar suas diferentes taxas de crescimento. Concordam, no entanto, com
a idéia de que características das instituições políticas e econômicas
socialmente estabelecidas podem ter influência sobre a dinâmica
econômica, trazendo elementos schumpeterianos para análise com fortes
traços estruturalistas.
Consideraram o contexto em que os bens de capital estão distribuídos de
forma desigual entre as pessoas, e como este fato limita o acesso ao
mercado de crédito e, portanto, o estabelecimento de empreendimentos
produtivos, relaxando pressupostos fundamentais (como os de mercados em
competição perfeita, agentes homogêneos, e igualdade de oportunidades).
Continuam supondo que individualmente existem retornos marginais
decrescentes ao capital, devido às deseconomias de escala, aos custos
sociais associados às condições de competição monopolística, às mudanças
nos preços relativos da maior demanda de fatores e oferta da produção,
entre outras advindas de um cenário de maior concentração. No entanto, a
função de produção agregada é dada pela soma das funções de produção
individuais, e não pela função de produção da soma dos capitais individuais.
Isto leva aos retornos crescentes do modelo de crescimento endógeno
usado no nível agregado, frutos das externalidades e transbordamentos que
surgem com as experiências de produção dos períodos anteriores.
Desta forma, ampliar as possibilidades de investimentos produtivos para
os indivíduos mais pobres, cuja produtividade marginal é maior, teria o efeito
de acelerar a taxa de crescimento no longo prazo. Esta por sua vez, passa a
depender além da quantidade de capital acumulado na sociedade, da forma
como este está distribuído entre os indivíduos. Seus resultados os colocam

5
definitivamente em posição antagônica à da abordagem neoclássica
tradicional, defendendo que o trade-off entre a equidade e o crescimento é
nocivo à economia no longo prazo. Neste raciocínio, justifica-se a
intervenção do Estado na resolução deste típico problema da ação coletiva.
Por estes aspectos, Possas (1999) chega a propor que estes trabalhos
devessem ser inseridos na linha de pensamento estruturalista evolucionário
schumpeteriano. Sugere que esse trabalho estaria na fronteira teórica
comum, na qual também se coloca a discussão pretendida.
No entanto, apesar dos avanços na formulação matemática da questão,
o trabalho de Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999) ainda exibe limitações
quanto a não levar em conta o lado da demanda, e os ciclos viciosos e
virtuosos estabelecidos entre as dimensões em estudo. Propõe-se neste
sentido, ultrapassar estes limites, complementando o modelo teórico com
elementos fundamentais à análise, definidos entre os desenvolvimentos
estruturalistas, mas que ainda não alcançaram os mesmos avanços formais.
Entre esses destacam-se os contidos no esquema de interpretação da
transformação produtiva com equidade (FAJNZYLBER, 1989), do modelo
geral de causação circular acumulativa de Myrdal (1965), e das armadilhas
da pobreza (PERRY; ARIAS; LÓPEZ; MALONEY; SERVÉN, 2006).
Este trabalho propõe-se a realizar uma análise destas relações para o
Brasil, considerando que as condições estruturais historicamente
estabelecidas não só têm efeito sobre a economia e sua tendência ao longo
do tempo, como também sofrem efeitos destas. Neste sentido, entende-se
que o papel da desigualdade na redução da pobreza, e das duas sobre o
crescimento econômico, e vice-versa, devem ser considerados
simultaneamente na elaboração de qualquer plano de desenvolvimento que
seja sustentável. Esta sustentabilidade é considerada ao longo do tempo, e
tanto do ponto de vista econômico, como do da justiça social. Alcançando
este equilíbrio, a princípio um País ou uma região poderia engendrar no ciclo
virtuoso de prosperidade e bem estar social desejado.
Para que o assunto seja devidamente exposto e discutido, optou-se por
compor este trabalho de três ensaios para os estados brasileiros sobre as
relações triangulares de dupla causalidade entre a desigualdade, a pobreza

6
e o crescimento econômico4. O primeiro trata do efeito da desigualdade e do
crescimento sobre a pobreza. Esta é vista como condição insustentável de
vida, principalmente diante dos avanços tecnológicos e científicos
acumulados pela humanidade. Atenta também, por outro lado, ao efeito da
pobreza sobre a desigualdade e o crescimento, impondo graves limites ao
processo de desenvolvimento sócio-econômico do País. O segundo,
aprofunda o debate sobre as desigualdades de oportunidades vistas como
barreiras à mobilidade social, focando nos limites impostos aos retornos aos
investimentos em capital humano. Mais especificamente, propõe-se a avaliar
a existência de restrições ao papel da educação na formação da renda
pessoal, das desigualdades entre os rendimentos, e da condição de pobreza
no caso brasileiro. E por fim, o terceiro ensaio traz reflexões importantes ao
papel do crédito dado por Schumpeter (1985) para investimentos produtivos
no processo de desenvolvimento econômico. Atenta assim ao efeito de
assimetrias ao acesso ao crédito e de barreiras a investimentos em capital
físico para as pessoas mais pobres, que acaba por reforçar esta condição
mantendo a economia em um ciclo vicioso de pobreza-baixo crescimento.
Apresentar-se-ão em seguida, a definição do problema em foco e a
justificativa de sua escolha para tratar do caso brasileiro, para então propor
as hipóteses que serão testadas, de acordo com os pressupostos
estabelecidos para atender os objetivos. Estes, entre o geral e os
específicos, serão tratados na seqüência encerrando a introdução. Na seção
2 é feita uma revisão de literatura, revisitando o conhecimento acumulado
pela ciência econômica sobre as relações entre a desigualdade, a pobreza e
o crescimento, assim como dos determinantes destas três variáveis.
Destaque é dado à teoria do crescimento endógeno com racionalidade
limitada como espinha dorsal do desenvolvimento desta pesquisa. No
entanto, propõe-se sua complementação com definições das teorias
estruturalistas, das armadilhas da pobreza e da igualdade de oportunidade,
consideradas relevantes para avançar na compreensão das relações
pretendidas. À partir desta revisão, serão selecionados elementos
fundamentais para a escolha das variáveis e da forma funcional dos modelos

4
No sentido de que cada uma se conecta com as outras duas.

7
analíticos a serem aplicados para os estados brasileiros, expostos na seção
3 da metodologia. Esta também traz os procedimentos a serem realizados
na pesquisa, enquanto a seção 4 apresenta as fontes de dados a serem
exploradas na comprovação das hipóteses testadas. E na última seção,
apresentam-se as referências bibliográficas utilizadas neste projeto de tese.

1.1. O Problema e sua Importância

Com esta discussão em vista, uma questão que surge do trabalho de


Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999) e traz importantes reflexões a
respeito do papel das instituições no desenvolvimento econômico, que será
foco desta análise é: “Podem as condições de pobreza e desigualdade
serem parte relevante da explicação do baixo desempenho econômico de
um país, ou uma região?” “Se sim, quais os canais em que se propagam?”
No caso positivo, os efeitos das políticas devem ser observados então, não
somente nos resultados de eficiência, mas também sobre a pobreza e a
desigualdade na escolha entre estratégias alternativas.
Considerando sua relevância de estudo, Perry et al. (2006) classificaram
conjuntos de políticas segundo seus efeitos pró-pobres e pró-crescimento,
produzindo evidências em países latino americanos. Seus resultados
reforçam o argumento a favor da importância da redução da pobreza para o
crescimento sustentado, por deter o investimento e limitar o nível de
inovações, principalmente quando o grau de financiamento do
desenvolvimento é limitado. Assim, de forma geral, a posse insuficiente de
atributos iniciais reforça os limites aos retornos a estes atributos, as barreiras
aos custos fixos de transições de uma atividade produtiva para outra, e as
assimetrias ao acesso ao crédito ou a seguridade.
Os retornos ao capital humano, por exemplo, dependem de outros
recursos públicos complementares como estradas, sistema de comunicação
e mercado de crédito para que se realizem em toda potencialidade.
Dependem da capacidade dos indivíduos terem acesso a informações, a
empregos que exijam o maior nível de habilidades, e a mercados e
oportunidades de retornos aos investimentos em capital humano. Da mesma
forma, os retornos à construção de estradas e infra-estrutura em uma região

8
deverão ter maior impacto com o maior acúmulo de capital humano da sua
população.
Estes mecanismos simultâneos são colocados por esses autores, como
principais determinantes da manutenção de armadilhas da pobreza,
considerando-se, portanto, a possibilidade de o preço do trabalho refletir não
apenas diferenciais produtivos entre trabalhadores, mas também
segmentação entre empregos, desequilíbrios regionais e setoriais entre a
oferta e demanda dos fatores, discriminação por características de gênero e
étnicas, não se restringindo às forças de livre mercado. As barreiras
impostas assim à mobilidade no mercado de trabalho e, consequentemente,
na sociedade em forma de desigualdades, exerceriam efeitos limitantes
sobre o desempenho econômico e sobre a redução da pobreza, justificando
mais estudos para os países que se encontram nesta condição.
No Brasil, o debate sobre as relações entre a equidade e a eficiência
também tem seu valor, com referência inicial de trabalhos empíricos nas
décadas de 60 e 705. Esses foram estimulados visto a grande concentração
de renda registrada pelo Censo Demográfico de 19706, apesar do
extraordinário desempenho que a economia apresentou no período do
“milagre brasileiro”. Furtado (1974) defendia em seus estudos sobre os
determinantes dos baixos níveis de renda persistentes no país e suas
relações com o crescimento, que a derrocada do “milagre econômico” estava
relacionada às grandes desigualdades estruturais, em todos os níveis:
individual, setorial e regional; resultantes do modelo econômico
desenvolvimentista concentrador implantado no Brasil.
As palavras de Delfim Netto, quando Ministro da Fazenda em 1967,
resumem bem o pensamento em voga na época, embora existam
controvérsias com relação à sua defesa7, de que era necessário primeiro
“crescer o bolo, para depois reparti-lo”. O fato é que a história do país não
conseguiu desde então obter o mesmo desempenho econômico e continua
sustentando elevados índices de pobreza e desigualdade, entre outros

5
Ver Furtado, 1961 E 1974, Fishlow, 1973, Hoffmann e Duarte, 1972, Langoni, 1972 e
1973, entre outros.
6
O índice de concentração de Gini elevou-se de 0,50 na década anterior para 0,57 pelos
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
7
Furtado (1961, 1974), Fishlow (1973), Hoffmann e Duarte (1972), Bacha e Taylor (1980).

9
problemas sociais. Apesar de o país possuir um Produto Interno Bruto (PIB)
total superior a quase todos os países em desenvolvimento e uma renda per
capita que o insere no grupo dos países de renda média, a repartição tão
desigual desta criou contingente substancial de pobres, tanto em termos
relativos como absolutos, evidenciado por Neri e Melo (2008), Neri (2007),
Hoffman (2005), Diniz (2005), Marinho e Soares (2003) entre outros.
Estes trabalhos destacam três elementos indissociáveis no vínculo direto
entre a desigualdade e pobreza no Brasil compartilhado por outros autores
citados, fundamentais à justificativa do problema em foco, quais sejam, (i)
que o Brasil não é um país pobre, é um país com muitos pobres, cuja origem
não reside na escassez de recursos; (ii) que a intensidade da pobreza
brasileira está ligada à concentração de renda, uma vez que a renda média
é superior à que define a linha de pobreza, sendo a renda per capita dos
estados mais ricos comparável à de países de renda alta; e (iii) como um
corolário dos dois anteriores, que uma distribuição eqüitativa seria mais do
que suficiente para eliminar a pobreza. Desta forma, o desenvolvimento
industrial per si não foi capaz de romper com o ciclo vicioso da pobreza, nem
de manter as taxas de crescimento nos elevados patamares por mais tempo.
A condição de pobreza, insustentável para o ser humano, excluindo grande
parte das pessoas do processo econômico e social, leva a níveis inferiores
de investimentos em capital humano e físico. Esses vistos como
determinantes do crescimento no longo prazo, auto-reforçam o sistema que
fica preso em um ciclo vicioso como “armadilhas da pobreza” (PERRY et al.,
2006).
A evolução histórica da economia brasileira é assim caracterizada por um
processo de concentração de renda, que tem persistido mesmo com
alterações na política econômica. Com isso, apesar das elevadas taxas de
crescimento e da industrialização que o país experimentou, os índices de
pobreza persistiram entre os mais altos do mundo limitando o próprio modelo
de desenvolvimento sócio-econômico do país. Este modelo, como descrito
por Furtado (1968), tem origens históricas no século XVI, quando o país era
ainda colônia política de exploração portuguesa, e vem persistindo no tempo
em formas de ciclos de exportação extremamente concentradores

10
reforçando a importância e a atualidade de estudos sobre a questão para o
contexto brasileiro.
Encontram-se desta forma, elementos teóricos dispersos que devem ser
coordenados e completados na explicação do estado de
“subdesenvolvimento industrializado” em que se encontra o Brasil, que se
associa ao fato de, apesar do avanço no processo de industrialização, o país
não ter alcançado a erradicação da pobreza, tampouco condições produtivas
e reprodutivas sustentáveis intra e entre gerações, dignas de um país
desenvolvido. Pelo contrário, a estratégia de crescimento adotada se exauriu
a partir da década de 70, com o aprofundamento das desigualdades sociais
e a forte discriminação dos setores menos intensivos em capital como o da
agricultura, por exemplo. Isto se deve ao foco dado exclusivamente aos
resultados de eficiência, relegando os efeitos de eqüidade, levando às
graves questões estruturais, como as disparidades setoriais de distribuição
da renda. Mesmo os “choques” dos Planos de Estabilização da década de
80 não produziram efeitos significativos para atenuar a desigualdade
(CAMARGO; GIAMBIAGI, 1991).
A década de 1990 foi marcada pelos planos de estabilização
inflacionária, Collor e Real. Este último alcançou com destaque seus
objetivos de estabilização inflacionária, mas às custas de um crescimento
nunca alcançado nas taxas de desemprego como expõe Gremaldi et al.
(2003) e Pinheiro et al. (1999). Seguindo acordos financeiros com base nas
determinações do Consenso de Washington de 1989, o país iniciou um
processo de abertura comercial e financeira. Este foi associado a um
conjunto de privatizações com mudança no papel e no ‘tamanho’ do Estado,
de empresário para fiscalizador. Sua nova atribuição seguiu os princípios
liberais clássicos quanto às funções que o “bom governo” deve
desempenhar na economia. Essas se limitariam ao mínimo indispensável
para administrar a justiça, zelar pela segurança interna da população e
externa da nação. Caberia também ao Estado a função de providenciar
certas obras e instituições públicas requeridas pela coletividade, que
estivessem além do interesse e da capacidade da iniciativa privada. Com
relação às regras orçamentárias que deveria obedecer para custear o
exercício destas funções, encontrar-se-iam a elaboração e administração de

11
um orçamento equilibrado e minimamente necessário. As receitas fiscais
deveriam preferencialmente provir de impostos sobre o consumo, recaindo
mais pesadamente sobre os trabalhadores mais pobres, revelando a
preocupação clássica de preservação da acumulação de capital (SILVA,
1998).
A abertura do país, via quedas nas tarifas de importação e apreciação
cambial, de início favoreceu a expansão do setor de vendas de produtos
importados e teve papel fundamental na estabilização dos preços. Porém,
não tardou a causar uma retração na indústria nacional, com a falência de
inúmeras empresas brasileiras. Despreparadas para a exposição à
competição com os grandes grupos industriais internacionais, e à importação
de tecnologias mais capital intensivas alterando a produtividade do trabalho
no setor, sofreram a incidência do desemprego. Este se ampliou de forma
inédita e, em conseqüência, a desigualdade e a pobreza.
Conforme Vasconcelos et al. (2004), o mercado financeiro, representado
pelo sistema bancário, também foi submetido a uma ampla transformação
estrutural. Com a nova conjuntura de inflação em baixos patamares, os
bancos perderam sua principal fonte de renda. A liberalização foi então
adotada como uma opção de política econômica com objetivo de promover
de forma mais segura este período de adaptação. Esta ocorreu via
privatização de bancos públicos estaduais, ampliação da participação de
bancos estrangeiros no país, e concentração e consolidação de grandes
grupos bancários privados nacionais. Os autores salientam aspectos desta
reestruturação ainda pouco discutidos. Dentre os quais destacam-se a não
neutralidade quanto sua dimensão regional na distribuição das operações de
crédito, e a concentração no sudeste, e em São Paulo principalmente, do
foco de interesse das instituições financeiras. Esses tiveram efeitos
negativos sobre as regiões mais pobres e sobre a oferta total de crédito.
Assim, a estagnação da renda ao longo dos anos 1990, foi decorrente da
política de juros altos, dívida crescente e política fiscal ortodoxa. Acarretou a
introdução de um conflito distributivo entre o pagamento dos encargos
financeiros da dívida, beneficiando uma camada restrita de rentistas, e as
despesas sociais, voltadas à transferência de renda para ampla maioria da
sociedade, como a determinação do salário mínimo. Desta forma, tanto do

12
ponto de vista do gasto público, que reduziu em setores antes avaliados
como estratégicos, como do ponto de vista da arrecadação, que cresceu de
forma acentuada e regressiva, bloquearam-se os investimentos necessários
em hospitais, educação, saneamento e habitação. Ampliaram-se assim
ainda mais os índices de desigualdade e pobreza, realimentando o processo
de estagnação econômica (DELGADO, 2001).
Somente nesta última década houve alguns avanços no campo dos
direitos sociais, que passou a fazer parte dos programas do governo Lula. O
cenário econômico internacional foi favorável aos preços das commodites
exportadas pelo país, e houve diminuição das perdas salariais dos
trabalhadores com os reajustes ocorridos no salário mínimo. Esses somados
à ampliação de programas de transferência de renda e de crédito
subsidiado8, vêm representando importante fluxo de renda para as
populações mais pobres. Seus efeitos já vêm sendo sentidos na redução
dos índices de concentração de renda e no alívio sobre a pobreza (NERI;
MELO, 2008; IPEA, 2008).
Não tem sido em um montante suficiente, no entanto, para uma
transformação estrutural capaz de repor a dívida social histórica do país.
Não alteram tão pouco, a prioridade à política econômica que continua
voltada para os interesses de mercado em detrimento das reformas
estruturais necessárias para a real superação do grave fenômeno da
pobreza e para engendrar um processo de desenvolvimento sustentável,
como avaliam Cohn (1995), Neri e Melo (2008), entre outros autores.
Comparando a desigualdade brasileira com países de renda per capita
média em 1997 a partir dos dados do United Nations Development Program
do Human Development Report 1999, New York, Oxford Univesit Press,
Diniz (2005) evidenciou que o Brasil ainda assume o primeiro lugar no
ranking da desigualdade de renda. Apresenta índices superiores mesmo se
comparado a países em condições sócio-econômicas bem inferiores, como a
grande maioria dos que estão localizados na região Subsahara da África.
Vale ressaltar que, nesta região se agrupam a maior parte dos países que

8
Como o Fome Zero, o Bolsa Escola, o Programa Nacional de Crédito à Agricultura Familiar
(Pronaf), e o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger).

13
possuem renda baixa, pela classificação do Banco Mundial e da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste sentido, Cohn (1995) considera fundamental a articulação entre a
política econômica e a política social. Argumenta com base na forte
dimensão social da primeira, na sua capacidade de gerar empregos e renda
aumentando o poder aquisitivo dos segmentos sociais mais pobres; e
econômica da segunda, enquanto oportunidades de novos empregos e
demanda para o setor produtivo. Desta forma, é colocado como desafio
presente, romper com este modelo econômico específico de acumulação, na
busca de compatibilizar no processo de desenvolvimento, o crescimento
econômico com a justiça social.
Refaz-se desta forma, a mesma pergunta para o Brasil e seus Estados
Federativos: “As distorções que estão sendo acuradas pelas escolhas
políticas representam um grave entrave para desencadear um processo de
desenvolvimento econômico que leve a um ciclo virtuoso de erradicação da
pobreza, sustentável também nas futuras gerações?”. Pretende-se discutir
com isto, alguns aspectos considerados relevantes ao debate desta questão
nesta pesquisa, em particular dos relacionados às barreiras estruturais
impostas à mobilidade social e à igualdade de oportunidades. A tese que
pretende-se defender é a de que existem retornos desiguais a investimentos
em capital humano e de assimetrias de acesso ao mercado financeiro entre
os estados brasileiros, advindos das condições de pobreza e desigualdade
que enfrentam. E que essas desigualdades além de determinantes, também
representam fator limitante ao processo de desenvolvimento sustentável9.
A pesquisa apóia-se no modelo de crescimento endógeno com
racionalidade limitada de Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999), porém
com algumas alterações. Incluem-se nele mecanismos circulares definidos
por Fajnzylber (1989) na estratégia de transformação produtiva com
equidade, e da teoria sobre “armadilhas da pobreza” trazidos por Perry et al.
(2006). Esses autores contribuem com explicações e métodos de estimação
úteis para debater esta questão. Perry et al. (2006) buscam evidenciar
também os mecanismos de propagação de ciclos viciosos, explorando os

9
Nesta perspectiva, o desenvolvimento sustentável é determinado também por fatores
sociais, e não meramente tecnológicos.

14
canais via investimentos em educação, saúde, infra-estrutura, e crédito aos
pobres, como determinantes expressivos da mobilidade de renda e social.
As teorias abordadas defendem de forma otimista, a possibilidade de
transformação do processo econômico, via políticas governamentais
específicas a cada contexto, em um ciclo virtuoso. Neste, o crescimento com
equidade e a redução da pobreza se auto-reforçam no sentido positivo,
representando importante ferramental para a análise pretendida. Destaque é
dado pelos autores, às políticas com foco na redução da pobreza,
designadas por Perry et al. (2006) de políticas “pró-pobres”. Estas são
entendidas como políticas sociais de democratização do incentivo e das
oportunidades de investimentos em capital humano e físico. Por este
mecanismo de redução direta da desigualdade e da pobreza eleva-se a
produtividade do trabalho, influenciando, portanto, no crescimento e
desenvolvimento econômico. Devem, portanto, ser sempre preferidas às
políticas com foco apenas nos resultados de eficiência de curto prazo,
independente de seus efeitos sobre este. Esta postura é coerente com a
análise pretendida para o Brasil, visto suas especificidades históricas e
estruturais concentradoras apresentadas. Somado a toda argumentação
desenvolvida, o estudo destes canais de propagação dos efeitos da pobreza
sobre a desigualdade e o desempenho econômico, e vice-versa, encontra-se
ainda pouco explorado. É também indicado como relevante nos trabalhos
relacionados para países da América Latina e, especificamente para o
Brasil10. Apresentam-se desta forma, como ferramentas úteis aos agentes
políticos na elaboração e análise de estratégias de desenvolvimento
sustentáveis.
Este estudo, portanto, propõe-se a trazer três contribuições principais,
sendo a primeira, estabelecer uma estrutura conceitual que coordene o
arcabouço teórico ainda disperso, avançando na reflexão sobre a questão
em uma revisita às principais teorizações do atual estado da arte. A
formalização de Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999), de inserção de
restrições de crédito no modelo de crescimento endógeno, constitui o

10
Mais detalhes em Furtado (1999a; 1999b), Fajnzylber, Lederman e Loayza (2002),
Vasconcelos, Ficidji, Scorzafave e Assis (2004), Morais (2005), Diniz (2005), Lopez (2004),
Bourgingnon, Ferreira e Menédez (2007), Lopez e Perry (2008), Ferreira e Gignoux (2008),
entre outros.

15
modelo teórico principal do projeto. É complementado, no entanto, com os
mecanismos de causação circular acumulativa na determinação do
desempenho econômico e da distribuição do produto da transformação
produtiva com equidade (Fajnzylber, 1989) e das armadilhas da pobreza
definidos por Perry, Arias, López, Maloney e Sérven (2006). Os canais pelos
quais estes efeitos se propagam serão analisados com foco na estratificação
educacional e de renda, como medidas inversas da mobilidade social.
Unidos ao conceito de igualdade de oportunidades de Roemer (1998) e suas
equações, constituem as bases complementares de fundamentação teórica
que sustentarão o estudo proposto ao caso brasileiro.
A segunda contribuição é metodológica, propondo a formalização de um
procedimento analítico, capaz de simular as relações para o Brasil e seus
estados, e avaliar os efeitos das relações simultâneas entre as variações da
pobreza, da desigualdade e do desempenho econômico. Este será aplicado,
em um primeiro momento, da forma dispersa como aparecem nos trabalhos
citados. No entanto, depois seus elementos serão fundidos em um sistema
dinâmico vetorial, no qual as três dimensões se inter-relacionam
simultaneamente. Passam assim a determinar e serem determinadas umas
pelas outras, modelando as relações triangulares de auto-reforço em foco,
de forma que possam ter seus efeitos mensuráveis. E a terceira
contribuição, por fim, é a substantiva aplicação das duas primeiras à análise
específica para os dados do Brasil desagregados em nível de estados,
construindo mais elementos e evidências empíricas para refinar o debate
sobre o paradigma em discussão.

1.2. Hipóteses de Tese

Antes de expor as hipóteses do estudo, é necessário considerar alguns


pressupostos, quais sejam: de que os mercados são imperfeitos, o ambiente
econômico é complexo e incerto, os agentes são heterogêneos, e os bens
de capital estão distribuídos de forma desigual entre eles. Considera-se,
neste sentido, o conceito de racionalidade limitada introduzido por Hebert
Simon (1972), prêmio Nobel em 1978, uma das principais críticas à teoria
convencional da racionalidade maximizadora neoclássica. Seu eixo central

16
reside na atenção dada ao ambiente de escolha, bem como aos limites
computacionais e de informação dos indivíduos que ocorrem no mundo real,
atuando como restrições impostas à escolha, inibindo a existência do
comportamento racional-maximizador. Este, admitindo qualquer fim à ação
racional, assume que os indivíduos possuem capacidade ilimitada de
cálculo, informação perfeita acerca das possibilidades de escolha, um
ambiente simples, e capacidade de estabelecer de forma inequívoca uma
ordenação de suas preferências pessoais. No entanto, como destacado por
Simon (1972), as decisões econômicas no mundo real, pelo contrário, são
tomadas em ambientes complexos. Estes são definidos como aqueles em
que as alternativas de escolha não são dadas, as conseqüências da escolha
não são conhecidas a priori, e consequentemente, o critério da escolha com
maximização da utilidade esperada do conceito convencional da escolha
racional não pode ser usado nas estimativas comportamentais dos agentes.
Outros pressupostos complementares também devem ser estabelecidos.
A começar pelo de que o desenvolvimento sustentável, referenciado no
presente estudo, será aquele que leva em conta a justiça social e as futuras
gerações nas escolhas políticas econômicas. Este conceito como fenômeno
social se coloca em oposição ao fenômeno essencialmente tecnológico, com
foco dado apenas ao crescimento econômico. Os fatos históricos
demonstram a importância de ponderações no processo exploratório, para
que não seja irresponsável, concentrador e exauridor de recursos.
Pressupõe-se neste sentido que, quanto mais ganancioso ele for, mais
limitado será em si mesmo, refém das próprias armadilhas da pobreza.
Considera-se também que as condições estruturais historicamente
estabelecidas não só têm, como também sofrem, efeito sobre a, e da
economia e sua tendência ao longo do tempo. Dessa forma, se dado grupo
social concentrar poder de decisão, terá exercício de influência sobre as
escolhas institucionais a favor de interesses individuais, em detrimento dos
interesses da coletividade. Há portanto necessidade de articulação entre a
política econômica e a política social no processo de desenvolvimento, como
destacado por Cohn (1995), Lopez e Perry (2008). E por fim, pressupõe-se
que a resposta às políticas é não linear, como evidenciado por Perry, Arias,
Lopez, Maloney, e Servén (2006).

17
Neste contexto, a tese a ser defendida parte do teste das três hipóteses
definidas a seguir:
a) Que a escolha de políticas públicas depende de três aspectos
concomitantes: a eficiência, a eqüidade e a pobreza, e não só do
primeiro em detrimento dos outros dois, como tem sido
historicamente no Brasil11. Neste sentido, melhorar a equidade em
um ambiente econômico marcado por elevada heterogeneidade,
leva a maiores taxas de crescimento sustentável. Este, por sua
vez, incide sobre a redução da pobreza, levando cada vez mais a
um nível de maior equidade e maior crescimento, engendrando um
ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico.
b) Que neste contexto existem diferentes retornos aos atributos de
capital humano para os diferentes grupos sociais de renda no
Brasil. Apesar de não negar que a aquisição de educação eleva a
produtividade marginal dos indivíduos com reflexos diferenciais em
seus rendimentos, no entanto, trata da existência de imperfeições
nos mercados, e de seus reflexos nas diferenças observadas nas
rendas de dois trabalhadores com o mesmo nível educacional.
c) E que nos estados brasileiros, as assimetrias no acesso e na
distribuição do crédito para investimentos produtivos aos agentes
mais pobres estão atuando como barreiras ao desenvolvimento
econômico, sendo este avaliado nas três dimensões consideradas.
Amplia-se assim a perspectiva destas relações, quebrando com a visão
simplificada do trade off necessário entre desigualdade e crescimento para o
desenvolvimento econômico, defendido pelos neoclássicos. Esta idéia, como
salientado por Silva (1998), está sujeita a sérios questionamentos na medida
que negligencia que o capital humano é uma fonte de riqueza nacional.
Partindo do pressuposto de que investir nos pobres favorece a toda a
sociedade, e não apenas aos pobres, testar a primeira hipótese implica em
analisar se a manutenção da pobreza a níveis inaceitáveis socialmente no
Brasil representa parte relevante dos determinantes do baixo desempenho

11
Assim como em vários outros países da América Latina, apoiado pelos trabalhos
científicos que não tratam da existência e relevância de tais conexões.

18
econômico relativo do país, e vice-versa, particularmente por este se
encontrar preso a ciclos viciosos que mantêm forte estratificação social.
Por outro lado, testar as duas últimas hipóteses implica em evidenciar se
a racionalidade dos indivíduos é limitada, atuando nas decisões como
restrições ao espaço de oportunidades. Resulta, portanto, na avaliação da
existência de forças de discriminação (gênero, étnica), de barreiras de
mobilidade entre empregos (formal/informal), de segmentação entre setores
e locais, entre outros aspectos estruturais e institucionais associados à
região, atuantes como barreiras à mobilidade educacional, de renda e,
portanto, social. Estas serão medidas pelas desigualdades nos retornos aos
mesmos níveis de educação e no acesso ao mercado de crédito.

1.3. Objetivos

O Objetivo geral do estudo é verificar a relevância e os canais de


propagação das relações simultâneas de auto-reforço entre variações na
desigualdade, na pobreza e no crescimento econômico, no processo
histórico de desenvolvimento dos estados brasileiro. Levantam-se assim
aspectos fundamentais aos agentes políticos na elaboração de estratégias
sustentáveis de desenvolvimento. Sendo estes sobre os mecanismos
econômicos atuantes nas instituições sociais modernas, aprofunda-se assim
a análise sobre mobilidade social e igualdade de oportunidades para o País.
Apresentam-se entre os objetivos específicos:
(i) Avaliar o efeito das componentes de crescimento e desigualdade
na variação da pobreza para estados brasileiros.
(ii) Identificar a existência de barreiras que podem atuar impedindo a
mobilidade social pela medida da heterogeneidade no acesso e
nos retornos à educação.
(iii) Identificar a influência de restrições de acesso ao crédito, assim
como possíveis assimetrias e desvios na distribuição e aplicação
do mesmo.

19
(iv) Avaliar a capacidade do modelo empírico de desenvolvimento
econômico12 proposto com aplicação para os estados brasileiros,
de medir os efeitos da atuação simultânea das relações teorizadas
entre o crescimento da economia, da desigualdade e da pobreza
de renda.

2. Referencial Teórico

Propõe-se uma revisão de literatura organizada em duas partes


buscando destacar os principais aspectos do estado da arte em relação ao
tema. A primeira aborda os elementos trazidos no modelo teórico principal
como determinantes do desenvolvimento econômico de um país. Enquanto a
segunda, as relações entre a desigualdade, a pobreza e o crescimento
econômico conceituadas na teoria econômica, utilizadas na
complementação da formalização anterior no procedimento empírico
proposto.

2.1. Os Determinantes do Desenvolvimento Econômico no Modelo


de Crescimento Endógeno com Restrições Creditícias

Papel fundamental ao desenvolvimento é atribuído ao crédito,


contribuição dos trabalhos de Schumpeter (1985), que traz o empresário
inovador como o agente econômico principal do processo. Este, por meio de
novas combinações dos fatores produtivos, traz novos produtos ao mercado,
melhorias de processos e/ou produtos por invenções ou inovações
tecnológicas, desencadeando o que considerou de “verdadeiro”
desenvolvimento econômico. Faz-se desta forma, clara distinção entre este
e o mero crescimento das atividades econômicas rotineiras. O crédito é
entendido por ele como uma transferência temporária de poder de compra
ao empreendedor. Teria a finalidade de propiciar as condições para a
produção das novas combinações de fatores associadas ao processo de
desenvolvimento. Seu modelo unifica o crédito, o capital e o dinheiro, como

12
Fazendo clara distinção entre este e o mero crescimento das forças produtivas já
existentes, segundo a teorização de Schumpeter (1985).

20
as três fontes possíveis de poder de compra, dando destaque ao mercado
de capitais como um meio de financiar a inovação necessária ao
desenvolvimento.
Nesta perspectiva, Aghion, Caroli e García-Peñalosa (1999),
contribuíram à evolução da teoria do crescimento endógeno, pela inclusão
da hipótese de que os bens de capital estão distribuídos de forma desigual
entre as pessoas. Discutem dessa forma como este fato limita o acesso ao
mercado de crédito e, portanto, o estabelecimento de empreendimentos
produtivos. Esta transição ocorre pela endogeneização do mecanismo pelo
qual o país adquire a capacidade de usar os bens de capital, até então
considerado como exógeno e de livre acesso a todos, ou seja, público. O
número de bens de capital que cada trabalhador pode empregar é agora
limitado pelo seu nível de qualificação h, assim como um país com um maior
número de trabalhadores bem qualificados tem acesso a maior número de
bens de capital. A definição de “qualificação”, no entanto, pode variar, de
acordo com Ramos e Reis (1991), visto que uma melhor educação, ou
“qualificação”, pode se associar à forma de como se distribui a riqueza e a
renda na sociedade, à estrutura das famílias, das políticas públicas e do
governo, entre outros aspectos.
Com base em equações schumpeterianas da dinâmica das mudanças
tecnológicas e sua difusão, em um trabalho focando as relações entre o
crescimento e a desigualdade, Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999)
estudaram os impactos da concentração de riquezas na dinâmica do
crescimento, encontrando relação negativa entre a desigualdade e o
crescimento. Esta aparece quando o mercado de crédito é imperfeito e os
agentes são heterogêneos, ou quando sofrem de limitações institucionais ao
acesso a investimentos produtivos, seguindo a definição de racionalidade
limitada dada nos pressupostos deste projeto.
Desta forma, a nova teoria neoclássica passa a considerar a
relevância das instituições na dinâmica econômica, aproximando seu modelo
das evidências empíricas e voltando às hipóteses originárias dos modelos
estruturalistas. Corrobora ainda para a defesa da existência de relação
negativa entre a concentração de renda e riquezas e o crescimento
econômico. Esta pode sobrepor o efeito positivo historicamente destacado

21
da concentração como necessária ao investimento e, portanto, ao
crescimento. A teoria subjacente é a de que a distribuição da riqueza
também determinaria os investimentos em capital físico e humano, os quais
por sua vez, determinariam as taxas de crescimento de longo prazo,
ampliando o conjunto de forças atuantes nesta relação.
A visão da concentração de capital como estímulo à poupança
diretamente relacionada ao investimento, base do trade off entre a eficiência
e equidade do pensamento neoclássico, seria apenas uma visão parcial do
fenômeno. Os autores tecem a análise dos resultados empíricos com uma
abordagem que se aproxima, apesar de não intencionalmente, da visão
original de Keynes da relação entre a poupança e o investimento
(PREBISCH, 1998).
A natureza da poupança descrita por Keynes, representa a abstenção
do consumo presente, mas não necessariamente associa-se a concretização
do consumo futuro que compense a diminuição anterior da demanda
agregada. Deste modo, os autores concordam que, o desejo de aumentar a
poupança, ceteris paribus, não tem a virtude, por si só, de engendrar novos
investimentos, podendo mesmo provocar o desemprego e a contração da
renda. Para Keynes, um incremento no investimento é que levaria a um
aumento da renda na medida necessária para provocar incremento ex post
equivalente na poupança. Seria impossível, pois, aumentar a poupança
coletiva em excesso ao investimento, desde que, este aumento implicaria na
redução dos gastos em consumo levando a uma redução das expectativas
de vendas futuras e, portanto, dos investimentos e da renda agregada. Por
outro lado, a poupança abaixo do montante de investimento corrente levaria
ao aumento da renda agregada até o nível em que a decisão de poupar dos
indivíduos alcançasse as cifras deste investimento. Associando como
Schumpeter, o desenvolvimento econômico a desequilíbrios, Keynes coloca-
se em posição contrária a da visão neoclássica.
A “insuficiência de demanda”, também destacada por Kalecki (1985),
estaria assim na origem do desemprego, e este, associado diretamente ao
nível da renda e da pobreza. Neste sentido, dadas as características
psicológicas da comunidade, no que Keynes chamou de “propensão a
consumir”, o equilíbrio entre a demanda e a oferta agregadas dependeria do

22
montante de investimentos. Este se constitui no ponto em que os
empresários não teriam incentivos a aumentar ou diminuir a produção. O
equilíbrio seria inferior, entretanto, ao de “pleno emprego”. O emprego só
poderia aumentar, pari passu, com o aumento adequado do investimento, de
forma a se igualar à poupança coletiva. As taxas de crescimento passam e
ser nesta perspectiva, influenciadas pelas escolhas políticas.
Aghion et al. (1999), também evidenciaram que maior desigualdade
pode reduzir a taxa de crescimento econômico, implicando que a
redistribuição pode acelerar o crescimento no longo prazo. Por outro lado,
defendem que nem sempre o crescimento econômico levaria
necessariamente a menor desigualdade, destacando assim, a necessidade
de avanços teóricos.
Quanto ao papel do Estado com relação às políticas redistributivas,
destacam ainda três motivos que sustentariam a defesa contrária à
tradicional. O de que a desigualdade reduz as oportunidades de
investimento, piora os incentivos à tomada de empréstimos e, gera
volatilidade macroeconômica, tendo efeito negativo sobre o crescimento no
longo prazo. Os autores, para provar seus argumentos, usam as equações
do estudo de Stiglitz publicado em 1969, “The Distribution of Income and
Wealth Among Individuals”, na revista Econométrica. No entanto, com uma
pequena modificação na função de produção.

Enquanto aquele admite que o produto agregado ( t ) é uma função


y

do estoque de capital agregado (k t ) da forma y t = f (k t ) , sendo este a soma


k t = ∑ ik ti
do capital pertencente a cada indivíduo (i), , na nova proposta isto
não se sustenta. Dadas as imperfeições no mercado de crédito, quando um
banco rejeita fundos de empréstimo, faz a determinados agentes com
projetos específicos de investimento, sendo mais apropriado pensar nestes
como produtores individuais no lugar de simples rentistas. Desta forma, a
função de produção agregada é a soma das diferentes funções de produção
individuais, e não das riquezas individuais, da
y t = ∑i y ti = ∑i f (k ti ) ≠ f (∑ik ti )
forma .

23
Assim, quando os indivíduos estão limitados em sua capacidade de
tomar empréstimos, a distribuição da riqueza passa a afetar as
possibilidades produtivas, o que por seu turno, tem efeito sobre o nível do
produto agregado e, em um modelo de crescimento endógeno, em sua taxa
de crescimento. Os resultados mostram, usando uma função de produção
côncava, que grandes desigualdades na distribuição de riquezas resultam
em menores taxas de crescimento. Com isso, justificam como racional o
comportamento de “Robin Hood”, porém legalizado pelo Estado. Redistribuir
riqueza dos ricos, cuja produtividade marginal dos investimentos é
relativamente menor devido aos retornos decrescentes ao capital, para os
pobres, cuja produtividade é relativamente maior, mas estão limitados às
suas restritas dotações, pode aumentar a produtividade agregada e,
portanto, o crescimento.
A Equação (1) completa a formulação usada com a proposta de
Benabou em 1996, considerando um modelo de crescimento endógeno
dirigido por externalidades no acúmulo de capital (físico e/ou humano).
Significa que, quando um indivíduo i investe uma quantidade de capital na

data t
(k ti ) , sua produção ( y ti ), se dá segundo a tecnologia disponível ( At ) .

No entanto, sua produção individual gera transbordamentos que aumentam


o nível de tecnologia disponível a todas as unidades produtivas. Chega-se
assim no nível agregado aos retornos crescentes a escala, necessários para
um processo de crescimento endógeno sustentado.

y ti = At .(k ti ) α ,0 < α < 1 (1)

Este seria endógeno tanto pelo efeito da experiência adquirida pelo


chamado “aprender fazendo”, como pelos transbordamentos do
conhecimento. O “aprender fazendo” sugere que quanto mais um agente
produz em um período, mais ele aprende, e com isso, maior o nível
individual de tecnologia disponível a ele no próximo período. Os
transbordamentos implicam que o aprendizado de um agente afeta também
o nível de tecnologia disponível para todos os outros agentes da economia.

24
Ambos os efeitos são representados formalmente como descrito na Equação
(2).

At = ∫ y ti−1 di = y t −1
(2)

Ou seja, o nível da tecnologia disponível resulta do agregado das


atividades produtivas do passado. Disso resulta que a taxa de crescimento
yt
g t = ln( y t −1 ) passa a ser expressa como
entre os períodos t e t-1 dada por
na Equação (3).

i α

gt = ln
∫ A .(k
t t ) di
= ln ∫ (k ti ) α di = ln E[(k ti ) α ]
At (3)

i α
Sendo E[(k t ) ] o valor esperado do produto gerado pelos investimentos
individuais na data t. A taxa de crescimento depende, desta forma, da
distribuição dos investimentos individuais em capital físico ou humano. Esta
por sua vez seria o vínculo entre as taxas de crescimento e as instituições
socialmente estabelecidas. Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999) apóiam
sua argumentação nos estudos da Nova Economia Institucional de Daron
Acemoglu. Segundo esta evolução do pensamento neoclássico, “más”
instituições surgiriam por causa da existência de concentração suficiente de
poder político por grupos de elite, com a capacidade de alterar as ações
coletivas em benefício próprio, escolhendo instituições más do ponto de vista
social na resolução do problema da ação coletiva. Considerando inseparável
a escolha das instituições econômicas do nível da produção e da sua
distribuição, Acemoglu et al. (2004) propõem formalmente um sistema
dinâmico sistematizando as relações destacadas em seus estudos
anteriores, representado na Figura 2.
Segundo este mecanismo, a distribuição inicial dos recursos produtivos
determina o grupo que será detentor do poder político de facto no início do
período produtivo. Este grupo por sua vez, determinará juntamente com o
que detém o poder político de júri, a criação ou manutenção de instituições

25
políticas que os beneficiem também no futuro. Assim como das instituições
econômicas a serem adotadas neste período. Estas, por sua vez, são
determinantes do desempenho econômico deste período e da distribuição
dos recursos que realimentará o esquema de auto-reforço no início do
próximo período.

Poder
Instituições Político Instituições
políticast de júrit políticast+1
Desempenho
econômicot
Poder
Distribuição Político Instituições
dos recursost de factot econômicast
Distribuição
dos recursost+1

Fonte: Adaptado de Acemoglu, Johnson e Robinson (2004).


Figura 2 – Mecanismo de Determinação Temporal do Desempenho
Econômico e da Distribuição dos Recursos.

Percebe-se com isto que, o que parece mais vantajoso na perspectiva da


redução da pobreza, nem sempre coincide com a estratégia que busca
maior crescimento. Até que ponto os agentes políticos devem priorizar a
busca de trajetórias mais equilibradas de crescimento, ou aceitar um trade
off entre o crescimento e a deterioração da distribuição de renda, é uma
questão que ainda merece muitos estudos de reflexão. Apesar de já
considerar a influência das decisões políticas e econômicas sobre as taxas
de crescimento e abordar aspectos importantes que farão parte da análise, o
modelo teórico de crescimento endógeno com racionalidade limitada ainda
apresenta limitações na formalização das relações em foco. Carece assim
de variáveis explicativas relevantes à análise, cujas contribuições teóricas e

26
empíricas serão propostas neste estudo com base nos desenvolvimentos
estruturalistas expostos a seguir.

2.2. Relações entre Crescimento, Desigualdade e Pobreza

2.2.1. A Curva de Kuznets versus a Transformação Produtiva


com Equidade

Na teoria neoclássica, a relação entre a desigualdade e o


desenvolvimento, entendido essencialmente como crescimento da renda
média, encontra explicação na hipótese do “efeito Kuznets”, proposto por
Simon Kuznets em 1955. Esta propõe uma relação em forma de U invertido
entre a desigualdade da renda e o PIB per capita, de forma que a
concentração na fase inicial, necessária à poupança vista como
investimento, teria relação positiva com o crescimento. A partir da evolução
deste, a distribuição mais eqüitativa de seus frutos seria “naturalmente”
alcançada em direção ao equilíbrio de pleno emprego.
Não teve sustentação, porém, nos últimos anos do século XX, com a
reversão da tendência de convergência entre a renda dos países da OCDE,
e a divergência permanente destes com os outros países, observada por
Oreiro (1999), Aghion, Caroli e García-Peñalosa (1999), entre outros autores
por eles citados. Conta também com outras limitações, como a negligência
sobre as condições estruturais da demanda, das relações inter-setoriais e do
sistema social de trabalho, entre outras instituições atuantes no processo
econômico. Estas considerações remetem ao mecanismo proposto por
Fajnzylber (1989), exposto na Figura 1, com uma interpretação bem mais
completa das forças atuantes no processo econômico e das relações em
foco.
Propondo variáveis estratégicas de atuação do Estado concebidas na
teoria da “Transformação Produtiva com Eqüidade (TPE)”, nesta visão, a
equidade e o crescimento têm papéis centrais no processo de
desenvolvimento sustentável. Estabelecem assim as relações de dupla
causalidade entre si, como se pretende averiguar para o caso brasileiro. O
progresso técnico continua no foco da análise, no entanto, compartilhado

27
pela evolução da estrutura agrária. Esta condiciona a distribuição de renda
definindo o padrão de consumo e inversão da população. Este padrão de
demanda e oferta, por sua vez, é determinante da capacidade de poupar e
investir de forma que, uma maior equidade relaciona-se a padrões mais
austeros e mais capazes de dinamizar a economia. Apóia-se na visão de
origem keynesiana, de que a austeridade influencia favoravelmente a
“relação capital-produto” e a “intensidade de utilização de divisas”.

Padrão histórico de desenvolvimento Padrão de


Tipo de liderança: consumo
- industrial, financeira, rentista internacional

Transformação
estrutural da
Padrão de consumo e inversão Inversão
agricultura
da população internacional
de carteira

Equidade Crescimento

Sistema industrial: Inversão


competitividade internacional externa direta

Dotação de Capacidade Conhecimento


recursos Tendências empresarial científico e
naturais: demográficas da indústria tecnológico
-agricultura, nacional mundial
minérios, energia

Fonte: Adaptado de Fajnzylber (1989).


Figura 1 – Esquema de Interpretação do Processo Econômico.

A concepção atualizada de desenvolvimento desta escola, portanto, tem


como objetivo explícito compatibilizar o crescimento econômico com uma
melhor distribuição de renda, e com a consolidação das instituições e dos
regimes democráticos. Desta forma, apesar de não ter alcançado os
mesmos avanços formais do modelo teórico principal, é coerente com as
hipóteses que se pretende testar complementando o mesmo.

28
2.2.2. O Modelo Geral de Causação Circular, das Armadilhas da
Pobreza e da Igualdade de Oportunidades

Alguns consensos têm surgido na literatura quanto à explicação das


conexões entre o crescimento econômico, a desigualdade, e a redução da
pobreza. Destaca-se nesta pesquisa, a teoria das Armadilhas da Pobreza,
cujo mecanismo de auto-reforço propõe a existência de ciclos viciosos, que
levam à incidência persistente da pobreza e de baixas taxas de crescimento
sustentado entre gerações. Trazem, entretanto, uma perspectiva otimista ao
considerar a possibilidade de reverter o processo engendrando ciclos
virtuosos entre maior equidade e maiores taxas de crescimento sustentado
segundo Perry et al. (2006).
Este mecanismo remete a uma manifestação do princípio da causação
circular e acumulativa definido por Myrdal (1965). A teoria social ou hipótese
metodológica por ele usada culminou no modelo geral de causação circular
proposto para explicar o processo de desenvolvimento de um grupo
populacional. Este trata das mudanças que se operam nas forças atuantes
no sistema econômico, que passam a ser na mesma direção a partir do
movimento produzido por um choque externo qualquer. Nesta perspectiva,
as variáveis se entrelaçam de tal sorte que a mudança em qualquer uma
delas provoca alterações nas outras. Estas por sua vez fortificam os efeitos
sobre a primeira variável afetada, e assim sucessivamente.
Considerando esta causação circular a principal hipótese no estudo do
subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico, Myrdal (1965)
veicula a idéia de que o jogo das livres forças de mercado tende, em geral, a
aumentar e não a diminuir as desigualdades. Assim, os pobres enfrentando
dificuldades de acesso a escolas de qualidade e a empregos melhores
remunerados, acumulam menores níveis de capital humano e físico. Estes
por sua vez, os mantêm na condição de pobreza reforçando os
desequilíbrios. São necessárias, entretanto, interferências estatais para a
garantia da equidade. O fato de um baixo nível de desenvolvimento ser
acompanhado por grandes desigualdades econômicas representa para ele,
uma das relações interdependentes, por meio das quais, no processo
acumulativo, “a pobreza se torna sua própria causa” (MYRDAL, 1965, p. 63).

29
No mesmo sentido, Perry et al. (2006) argumentam que, em primeiro
lugar, a experiência histórica mostra que as maiores reduções de pobreza
aconteceram nos países que vivenciaram longos períodos de crescimento
econômico sustentado, reforçando a idéia de que este seria bom para os
pobres. Em segundo, que se este crescimento for acompanhado por uma
mudança distribucional progressiva será melhor ainda para os pobres. E em
terceiro, concorda-se que não existem fortes evidências empíricas sugerindo
uma tendência geral do crescimento sobre a maior ou menor eqüidade na
distribuição de renda. Defendendo que a redução da pobreza pode ser
alcançada via políticas redistributivas, exibem duas razões principais para
isto. Uma com base na transferência de renda imediata dos ricos para os
pobres que uma mudança distributiva progressiva pode exercer diretamente
sobre a redução da pobreza. A outra, é a de que a pobreza será mais
sensível ao crescimento, quão mais eqüitativa for a distribuição de renda.
Desta forma se somarão um impacto de curto prazo da redistribuição
progressiva, e um de longo prazo, do incremento na sensibilidade da
pobreza ao crescimento.
Estudos destes autores, e de outros citados por eles, não encontraram
correlação significativa entre mudanças na renda e na desigualdade. E
quando encontraram, a relação foi ao contrário do esperado, positiva entre
elas, indicando o crescimento como concentrador, gerador de desigualdades
e pobreza. Neste sentido, sugerem que estratégias de desenvolvimento
sustentável devem levar em conta tanto a quantidade (na busca de maiores
taxas), como a qualidade (sobre quem irá se beneficiar) do crescimento,
voltando a discussão para a importância da análise setorial sobre a
composição do produto e do seu comportamento ao longo do tempo. Em
uma interessante síntese destes mecanismos, o estudo recentemente
publicado pelo Banco Mundial de Lopez e Perry (2008) encontra evidências
importantes à discussão pretendida, tendo os países da América Latina
como foco de estudo. Apresentam quatro explicações teóricas a respeito dos
canais que propagam os efeitos negativos da desigualdade na distribuição
da riqueza e da renda nas taxas de crescimento econômico de longo prazo
de particular interesse.

30
A primeira seria a defendida por Alesina e Rodrik (1994), que
encontraram relação negativa entre estas variáveis em dados de diversos
países. Estudando mecanismos que explicam como a distribuição inicial de
recursos determina a luta política para a distribuição da riqueza e da renda
em uma democracia, e como esta por sua vez, afeta o crescimento de longo
prazo, concluem que quando os recursos estão desigualmente alocados, a
luta distributiva gerada é nociva ao crescimento. Com uso do “Teorema do
votante mediano”, no qual a taxa de impostos escolhida pelo governo é a
preferida pelo votante mediano, defendem o raciocínio de que quanto mais
eqüitativa (desigual) a distribuição na economia, maior (menor) a posse de
capital do votante mediano. Este por sua vez escolherá políticas com menor
(maior) taxa de impostos sobre o capital, vistos hipoteticamente como uma
política redistributiva qualquer. Pela relação negativa tradicional entre a
taxação sobre o capital e os investimentos defendida pelos neoclássicos, o
efeito seria de acelerar (desacelerar) o crescimento econômico. A diferente
dotação de recursos associa-se, assim, às diferentes preferências
individuais sobre as taxas de impostos e, portanto, sobre as taxas de
crescimento.
A segunda razão baseia-se nos estudos de Alesina e Peroti (1996), e
sugere que grandes desigualdades vistas como elevados índices de pobreza
e desemprego, além de representar o desperdício de recursos produtivos,
incentiva os marginalizados do sistema econômico e social ao crime e à
violência. Lopez e Perry (2008) baseiam-se, desta forma, na correlação
encontrada por Fajnzylber, Lederman e Loayza em 2002, entre a
desigualdade e os níveis de criminalidade medidos pelo número de
homicídios e a taxa de roubos como uma aproximação da instabilidade
sócio-política. As outras duas razões associam-se a aspectos relacionados à
perspectiva da mobilidade social e condições de oportunidades iguais entre
indivíduos nos determinantes do processo de desenvolvimento econômico,
avançando em aspectos formais fundamentais à discussão.
Nesta linha de pensamento, Perry et al. (2006) evidenciaram diferentes
retornos à escolaridade segundo grupos de renda na Nicarágua e
concluíram que são maiores para crianças ricas com relação às pobres,
representando para estes menos incentivos a investir em capital humano

31
reforçando as barreiras estruturais contra a mobilidade social. Dispostos a
avaliar a existência de deveras limitações na oferta de escolas e professores
nas regiões pobres, especialmente em áreas rurais, outra relação também
usada foi a medida de correlação entre o nível de educação e o coeficiente
de desigualdade. Os estudos apresentam existência de correlação negativa
de forma que quanto maior a concentração, menor o investimento em
educação e, portanto, menor a mobilidade educacional e social. Esta
característica foi constatada para os países da América Latina, e associa-se
à terceira explicação para a manutenção do status quo.
E a última razão apresentada remete às restrições creditícias tomadas
como barreiras ao investimento voltando à síntese entre os paradigmas da
Nova Teoria do Crescimento e a linha evolucionária schumpeteriana
desenvolvida por Aghion, Caroli e Garcia-Peñalosa (1999), que deve ter
inserção interessante numa análise entre regiões de um país com condições
de heterogeneidade como o Brasil. A baixa mobilidade social como
discutido, leva a um contexto com menos igualdade de oportunidades,
repercutindo negativamente no desenvolvimento econômico, tanto pelo lado
da oferta de reduzir as possibilidades de investimento, quanto pelas
limitações impostas ao lado da demanda efetiva. Neste sentido, torna-se
fundamental a conceituação definida por Roemer (1998) de igualdade de
oportunidade. Partindo da distinção entre os vetores de variáveis da
“circunstância” (C) e do “esforço” (E), sua teorização requer que as primeiras
sejam economicamente exógenas, no sentido de que os indivíduos não têm
controle sobre elas, enquanto que as segundas são, ao contrário,
endógenas, entretanto dependendo também das circunstâncias. Considera
um modelo genérico de “vantagens” dado na Equação (4).

y = f (C , E ,υ ) (4)

Nesta, y denota a saída de interesses associado à vantagem de Roemer,


que pode ser a renda per capita, o rendimento do trabalho ou os gastos em
consumo, entre outras medidas de bem estar possíveis. O vetor υ relaciona-
se à pura sorte ou a fatores aleatórios. A definição de Roemer (1998) de

32
igualdade de oportunidades requer essencialmente que a condição dada na
Equação (4) seja satisfeita.

F ( y | C ) = F ( y) (5)

Ou seja, é necessário que a distribuição acumulada da vantagem de


interesse, condicionada a uma circunstância qualquer, seja igual à
distribuição acumulada incondicional. Desta maneira, a conceituação de
Roemer provê um mecanismo para verificar a existência de igualdade de
oportunidades e, inclusive, medir a desigualdade das oportunidades em uma
população, através da medida da extensão em que F ( y | C ) ≠ F ( y ) .
Um primeiro passo óbvio que se estende desta definição para averiguar a
existência de desigualdade de oportunidades é examinando quando a
distribuição condicional F ( y | C ) difere através das circunstâncias, deixando
de atender a condição (5). Dado que C define um vetor particular de
{ }
variáveis de circunstâncias, yik é a partição da população em k grupos, de

forma que os membros de cada um sejam idênticos com relação a todas as


circunstâncias no vetor C.
Roemer (2006) acrescenta ao modelo um vetor de varíaveis relacionadas
à política ϕ ∈ Φ , onde Φ é o conjunto de políticas possíveis. Em sua
proposta, a taxa de desenvolvimento econômico não pode ser medida
apenas pela taxa de crescimento da renda per capita, focando sua medida
na taxa de crescimento da renda per capita do grupo social em circunstância
de maior desvantagem. Esta é considerada como a taxa na qual as
oportunidades de aquisição de renda tornam-se eqüitativas na sociedade.
Esta visão concorda com a hipótese da tese do desenvolvimento econômico
como um conceito social, em contraposição ao conceito tecnológico que
justifica o uso puramente da renda per capita e da sua taxa de crescimento
para medi-lo, sendo útil nesta abordagem.

33
3. Metodologia

Neste trabalho de tese, buscar-se-á em um primeiro momento, o


cálculo das elasticidades da pobreza, as assimetrias aos retornos à
educação e ao acesso ao crédito para os estados brasileiros de acordo com
os modelos empíricos já desenvolvidos e aplicados pelos autores citados em
outros cenários. Estes serão expostos na seção 3.1, cuja formulação será
designada de “tradicional”. No segundo momento, porém, pretende-se
avançar no sentido de medir o efeito das relações simultâneas entre
variações na renda, na desigualdade e nos índices de pobreza. Isto se dará
por meio de um modelo analítico com bases no modelo teórico do
crescimento endógeno com racionalidade limitada, porém com algumas
alterações. Elementos circulares que perpassam estas relações, vistos como
armadilhas da pobreza, serão incorporados no modelo que será designado
de “novo”, definido em seguida na mesma seção. Os procedimentos e a
seqüência de passos propostos, por sua vez, serão pormenorizados no item
3.2.

3.1. Os Modelos Analíticos

A análise conjunta das variáveis e a inclusão pretendida do vetor de


políticas como variável explicativa relevante apóia-se no primeiro momento
nos trabalhos de Loayza, Fajnzylber e Calderón (2005) e Lopez (2004). A
associação proposta, utiliza um modelo de equações auto-regressivas
independentes com a forma dada no Sistema de Equações (6), que será
designado de “modelo tradicional”.

⎧⎪ yit − yi ( t −1) = δ . yi (t −1) + ϖ '.xit + ν i + τ t + υ it


⎨ (6)
⎪⎩ g it − g i ( t −1) = α .g i ( t −1) + β '.xit + µi + ηt + ε it

Em que y é o logaritmo da renda per capita, g é o logaritmo do


coeficiente de gini, x é o conjunto de variáveis explicativas exógenas
associadas a diferentes estruturas econômicas e políticas; ν e µ são efeitos

34
não observados específicos de cada estado; τ e η são os efeitos temporais
específicos; e υ e ε são os termos de erro iid. Os índices i e t representam o
estado e o período de tempo respectivamente. Pelo cálculo dos impactos
que diferentes políticas podem ter no crescimento e na desigualdade, este
modelo pode ser usado para estimar como uma mudança na pobreza pode
ser associada a uma mudança em x da variável j.
No entanto, o vetor x será definido com algumas variáveis a mais em
três blocos representativos dos aspectos salientados na revisão seguindo
sugestão de Diniz (2005). O primeiro contém as características físicas da
população, a proporção de mulheres, pfem; a proporção de pretos e pardos,
prpp; e a idade média, id; atentando aos problemas de discriminação como
imperfeições de mercado. O segundo, as características adquiridas e
representativas na alocação no mercado de trabalho, a relação entre
funcionários públicos e os que trabalham por conta própria, rfpcp; a
proporção de trabalhadores com e sem carteira assinada, ptrcsc; a
proporção da população na PEA, ppea; a proporção entre ocupados no setor
industrial e o de serviços, rinse; a proporção de domicílios com saneamento,
san; a razão entre o número de horas trabalhadas anuais e população
ocupada, htpo; a proporção do PIB estadual do nacional, prpe; e a proporção
de pessoas ocupadas com nível superior em relação a analfabetos, rsa;
captando os retornos a investimentos em capital humano e problemas de
segmentação. Enquanto que no terceiro grupo se inserem as características
referentes ao dinamismo da economia estadual, o grau de abertura, ga,
dado pela soma das exportações e importações sobre o PIB; os gastos
sociais per capita, gspc; a proporção de transferências federais ao estado,
ptrf; o investimento por população ocupada, ivpo; a proporção da população
ocupada no estado, pocu; a média de horas trabalhadas, mehtb; a
participação de bens industrializados no total de importações, pii; a
participação de bens industrializados no total de exportações, pei; e o nível
de desenvolvimento financeiro, desfin, dado pela relação entre crédito
privado doméstico e crédito total.
A mudança na pobreza, por sua vez, pode ser separada entre a atribuída
ao crescimento e a que pode ser atribuída à variação na distribuição de
renda, para avaliar a importância relativa das diferentes fontes de mudanças

35
na pobreza. Quando há mudanças na renda média ou na renda relativa, ou
em ambas, transitando de uma distribuição inicial para uma nova
distribuição, a mudança provocada na pobreza, pode ser decomposta
usando um passo intermediário. Este consiste em se isolar primeiro o
movimento que envolve apenas o crescimento da renda, mantendo
constante sua distribuição. A alteração que provocaria no índice de pobreza
daria o resultado do efeito do crescimento na pobreza. No segundo passo,
então, fixa se a renda média e altera-se a distribuição medindo então o efeito
da desigualdade na pobreza. Esta simples decomposição provê um
esquema estatístico básico e pode ser usado na análise empírica
pretendida, da contribuição relativa do crescimento e da desigualdade na
redução da pobreza.
Para tanto, optou-se pela metodologia proposta por Datt (1998), na qual
o cálculo dos valores das elasticidades da pobreza a variações em ambas as
variáveis se dá a partir de dados de distribuição de renda agrupados
considerando a especificação Quadrática Geral para a curva de Lorenz
apresentada no Sistema de Equações (7).

Lz = Lz ( p;π ) Curva de Lorenz


P = P ( µ / LP;π ) Medida de Pobreza
Lz (1 − Lz ) = a.( p 2 − Lz ) + b.Lz.( p − 1) + c.( p − Lz )⎫

1 ⎬ Especificação Quadrática Geral
Lz (1 − Lz ) = − .[b. p + e + (m. p 2 + n. p + e 2 )1 / 2 ] ⎪
2.m ⎭ (7)

1 ⎪
H =− .[n + r (b + 2 LP / µ ).{(b + 2.LP / µ ) 2 − m}−1 / 2 ]
2m ⎪

HP = H − ( µ / LP ).Lz ( H ) ⎬Medidas de Pobreza
2 ⎪
⎛ µ ⎞ ⎡ ⎛ r ⎞ ⎛ 1 − H / s1 ⎞⎤ ⎪
P2 = 2.( HP) − H − ⎜ ⎟ .⎢a.H + b.Lz ( H ) − ⎜ ⎟. ln⎜⎜ ⎟⎟⎥
⎝ LP ⎠ ⎢⎣ ⎝ 16 ⎠ ⎝ 1 − H / s2 ⎠⎥⎦ ⎪⎭

Neste, Lz é a participação acumulada dos p por cento mais pobres da


população na renda per capita domiciliar, π é um vetor de parâmetros
estimáveis da curva de Lorenz, P é a medida de pobreza escrita como
função da relação da renda per capita domiciliar média µ e a linha de
pobreza (LP) e os parâmetros da curva de Lorenz. H é a proporção de
pobres, HP é o desvio padrão da renda dos pobres com relação à linha de
pobreza, e P2 é a variância deste desvio, ou o desvio ao quadrado,

36
associado à severidade da pobreza, todos da classe dos índices
decomponíveis de Foster, Greer e Thorbecke (1984) (FGT) usados como
medida de pobreza de renda. Os parâmetros e, m, n, r, s1 e s2 são dados no
conjunto de Equações (8).

e = −( a + b + c + 1)
m = b 2 − 4.a
(8)
n = 2.b.e − 4.c
r = ( n 2 − 4.m.e 2 )1 / 2
s1 = ( r − n) /( 2.m)
s 2 = −( r + n) /( 2.m)

Para a obtenção dos parâmetros a, b e c da curva de Lorenz, serão


realizadas regressões lineares para cada ano do período de estudo pelo
Método dos Quadrados Mínimos de Lz(1-Lz) contra (p2-Lz), Lz.(p-1) e (p-
Lz). Os valores das elasticidades da pobreza em relação à renda média e ao
índice de Gini (G) serão calculadas pelas funções dadas no Sistema de
Equações (9).

LP
ε H ,µ = −
µ.H .L' ' ( H )
1 − LP / µ
ε H ,G =
H .L' ' ( H )
ε HP, µ = 1 − H HP
( µ / LP − 1).H
(9)
ε HP,G = 1 +
HP
ε P2 , µ = 2.(1 − HP / P2 )
ε P ,G = 2.[1 + ( µ / LP − 1).HP / P2 ]
2

r 2 .(m.H 2 + n. p + e 2 ) −3 / 2
L' ' ( H ) =
8

Destaca-se assim o conceito de elasticidade da pobreza, que mede


as variações percentuais de indicadores de pobreza associadas às
variações percentuais da renda média, ou dos índices de concentração, de
uma determinada população. Considerando-se a renda média, uma
elasticidade igual a um indica que para a variação de 1% sobre a renda
média, ceteris paribus, haverá, em média, uma variação na mesma
proporção (1 ponto percentual) sobre o índice de pobreza escolhido. Caso a

37
elasticidade seja menor que um, esta variação percentual será menos que
proporcional, enquanto que, para uma elasticidade maior que um, será mais
que proporcional. Espera-se que as elasticidades da pobreza com relação
ao índice de concentração de renda sejam positivas, ou seja, que o aumento
percentual sobre a concentração da renda leve ao aumento percentual nos
índices de pobreza. Por outro lado, espera-se sinais negativos para as
elasticidades com relação ao crescimento da renda média, associando a
este reduções percentuais nos índices de pobreza.
Dada a decomposição da variação na pobreza devido à suas
componentes de crescimento e de mudanças na distribuição da renda
( ∆P = ξ py .∆y + ξ pg .∆g ), a simples substituição de (6) nesta relação é

suficiente para que a diferenciação pretendida possa ser realizada. A


presença do elemento dinâmico (as medidas defasadas do logaritmo da
renda e da desigualdade) permite a diferenciação entre o impacto imediato
que a mudança em determinada política tem tanto na renda como na
desigualdade, e o impacto de longo prazo resultante da dinâmica de auto-
reforço como dado pelos autores e sistematizado no Sistema de Equações
(10).

⎧ dp
⎪ dx = ϖ j Xξ py + β j Xξ pg
⎪ j
⎨ (10)
⎪ dpLP = − ϖ j Xξ − β j Xξ
⎪ dx j δ py
α pg

dp dpLP
Neste sistema de equações, e , são os diferenciais do índice
dx j dx j

de pobreza com relação às diferenças na política xj no curto e longo prazo


respectivamente; enquanto que os coeficientes ξ py e ξ pg são as elasticidades

da pobreza com relação à renda e a desigualdade resultados do


procedimento de decomposição da pobreza inicial. Desta forma, será
possível atender o objetivo específico (i), e parte dos (ii) e (iii). Estes serão
completados na segunda parte do procedimento quando serão isolados os
efeitos da inserção de variáveis endógenas no modelo.

38
No segundo momento, este estudo propõe modelar e avaliar as
relações em foco para o Brasil e seus estados de forma a conciliar os
aspectos relevantes destacados no referencial teórico. Porém, busca-se
contemplar suas limitações incorporando as equações dos estudos de Lopez
e Servén (2005) e Diniz (2005). Para tanto, são consideradas três
dimensões que atuam simultaneamente no processo de desenvolvimento
econômico. A primeira associa-se à determinação da taxa de crescimento do
nível da renda per capita, tradicionalmente usada como critério de eficiência.
A segunda relaciona-se à evolução dos mecanismos de distribuição da
renda. Enquanto a terceira, à explicação da variação na incidência da
pobreza, representando as condições do grupo em maior desvantagem
como sugerido no problema de maximização da renda mínima (maxmin)
formalizado por Roemer (1998). As relações triangulares de dupla
causalidade entre variações na desigualdade, na pobreza, e na renda per
capita, variáveis endógenas e ao mesmo tempo determinantes no sistema
proposto, representam as relações cíclicas de auto-reforço conceituadas.
Com isto em vista, chega-se ao modelo analítico que será designado de
“novo”, dado no Sistema de Equações (11).

⎧∆yit = δ . yi (t −1) + φ .g i ( t −1) + ϕ . pi ( t −1) + ϖ '.xit + ν i + τ t + υ it



⎨∆g it = α .g i ( t −1) + γ . yi ( t −1) + λ . pi ( t −1) + β '.xit + µi + ηt + ε it (11)

⎩∆pit = π . pi ( t −1) + ρ . yi ( t −1) + σ .g i ( t −1) + ω .xit + χ i + κ t + θ it

As variáveis endógenas, como visto, associam-se às taxas de


crescimento do produto interno bruto per capita (y), às medidas de
desigualdade (g) e de pobreza (p); ν , µ e χ são efeitos não observados
específicos de cada estado; τ ,η e κ são efeitos temporais específicos;
enquanto υ , ε e θ representam pura sorte ou outros efeitos aleatórios. A
definição do conjunto de variáveis exógenas x, associa-se ao mesmo vetor
definido para a estimação do modelo tradicional.
Através da estimação de (11) para os dados brasileiros, será possível
refinar o entendimento sobre o processo de desenvolvimento econômico
considerado de forma mais ampla, incluindo as elasticidades da pobreza, as

39
assimetrias aos retornos à educação e ao acesso ao crédito, entre outras
medidas de desigualdade de oportunidades para países ou regiões, isolando
os efeitos interativos existentes entre as três variáveis endogenizadas.
Atende-se assim, os objetivos restantes modelando o processo de
desenvolvimento sustentável, que passa a ser avaliado em três dimensões.
Associa-se não somente às taxas de crescimento do produto interno bruto
per capita (y), como no modelo original de crescimento endógeno, mas
também às variações da desigualdade (g) e da pobreza (p), como sugerem
Roemer (1998, 2006), Lopez e Perry (2008), Lopez e Sevén (2005), Ferreira
e Gignoux (2008), entre outros autores.

3.2. Procedimentos

Como exposto, a abordagem empírica para os estados brasileiros


divide-se em dois momentos, sendo o primeiro baseado nos procedimentos
tradicionais já empregados por economistas em estudos para outros países
dados na resolução do conjunto de equações de (6) à (10) que compõem o
“modelo tradicional”, enquanto o segundo estima a aplicação e análise do
“modelo novo” proposto em (11). Para o primeiro momento, a decomposição
da pobreza segundo técnicas padronizadas de identificação de suas
mudanças devido à componente de crescimento no seu valor médio, e à de
distribuição da renda, torna-se particularmente útil como ponto de partida na
estimação da atuação destas variáveis sobre a pobreza no Brasil e em seus
estados.
Estes procedimentos analíticos elucidam aspectos fundamentais na
determinação da desigualdade e do crescimento que serão úteis no teste
das hipóteses (b) e (c) da tese. No entanto, nenhum considera ainda a
questão da simultaneidade das relações teorizadas de auto-reforço de uma
variável na determinação das outras e vice-versa. Contemplam apenas o
efeito do crescimento e da desigualdade sobre a pobreza, não refletindo o
impacto desta sobre os primeiros. Como sugerido nas causações circulares
das armadilhas da pobreza em foco, estas relações serão avaliadas e
discutidas para o Brasil e seus estados no segundo momento de elaboração
do trabalho de pesquisa. De acordo com o modelo analítico “novo” definido

40
em (11), será possível testar a validade da hipótese (a) e reavaliar as
hipóteses (b) e (c) concluindo o trabalho de tese proposto.
O “modelo novo” deverá ser avaliado por meio de um sistema auto-
regressivo vetorial de equações simultâneas para dados em painel (PVAR).
Serão usados os mecanismos de estimação usando variáveis instrumentais
(VI) e o método de momentos generalizado (GMM) desenvolvidos
especificamente para tratar a inserção de variáveis explicativas endógenas.
Para as equações dos dois modelos, também deverão ser tomados os
devidos cuidados de controlar os efeitos não-observáveis temporal, espacial
e histórico-estrutural. Isto será efetuado por testes de estacionalidade,
métodos de correção de erros e variáveis de controle propostas na literatura.
A discussão empírica, como esclarecido nos objetivos da pesquisa,
será particularmente das relações entre a desigualdade e o desempenho
econômico sobre a pobreza, e dos canais de propagação das mesmas no
modelo tradicional. Estes especificamente estarão focados nas evidências
de assimetrias aos retornos à escolaridade, e de restrições ao acesso ao
mercado de crédito para os diferentes decimais de renda. Assim como das
relações triangulares de dupla causalidade entre estas variáveis e estes
canais, refinadas no modelo novo. Coloca-se desta forma, o espaço de
oportunidades como aspecto fundamental à análise pretendida do
desenvolvimento econômico aplicada aos estados brasileiros.

4. Fonte de Dados

Será usada como base de dados as Pesquisas Nacionais por Amostra de


Domicílios (PNAD), no período pós-plano Real, de 1994 a 2007, marcado
pela estabilização inflacionária, abertura econômica, reestruturação
financeira, mudança no papel do Estado, e adoção do receituário
macroeconômico liberalizante definido no Consenso de Washington em
1989, como visto. Embora forneçam informações necessárias, ressaltam-se
algumas limitações que precisam ser levadas em consideração na análise
dos resultados. Refletem rendas monetárias e pagamentos em espécie, não
considerando a produção para auto-consumo, que muitas vezes ainda
representa parte importante da renda real dos pequenos agricultores e

41
trabalhadores rurais, apesar da depredação social e ambiental provocada
pela modernização do setor que vem acabando com essa fonte de renda,
aproximando o homem rural do urbano, em termos de dependência de renda
monetária.
São uma série de cortes transversais que contêm um mesmo conjunto
de informações, sendo possível inferir sobre a proporção de trabalhadores
com o mesmo conjunto de atributos e características em diferentes
momentos de tempo, mas não acompanham o mesmo grupo de indivíduos
ao longo do tempo. A sub-declaração dos rendimentos mais elevados leva a
uma sub-estimativa do grau de desigualdade da distribuição de renda e da
pobreza. Aspectos ligados à metodologia de coleta de dados também podem
levar a uma sub-estimativa da renda total declarada pelos indivíduos
entrevistados. Para o caso da população rural, exclui a área rural da região
norte, importante área onde se estende a fronteira agrícola do país. Por ter
como base uma semana específica de referência não permite que se capte a
variabilidade das atividades agrícolas no país ao longo do ano. Representam
ainda uma amostra complexa de dados, não contando com o bom
comportamento das amostras aleatórias, necessitando de tratamento de
possíveis problemas de viés e inconsistência dos estimadores por métodos
que levem a complexidade em conta.
Além desta fonte, para completar as variáveis de interesse, serão
utilizados dados dos balanços de pagamentos estaduais baseados nas
informações do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, do
Ministério da Fazenda – Secretaria do Tesouro Nacional/Coordenação Geral
das Relações e Análise Financeira dos Estados e Municípios – COREM,
assim como do sistema do Banco Central do Brasil (SISBANCEN) e das
contas regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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49
6. RESUMO
TÍTULO:DESIGUALDADE, CRESCIMENTO ECONÔMICO E ARMADILHAS
DA POBREZA NO BRASIL: UMA APLICAÇÃO DE MODELOS DINÂMICOS
E ANÁLISE MULTIVARIADA
EQUIPE : Marcelo José Braga (Orientador) – CPF: 674.280.616-87; Renata
Couto Moreira (Estudante) – CPF: 765.729.196-68; Fátima Marília Andrade
de Carvalho (Co-orientadora) – CPF: 197.428.786-68; José Maria Alves da
Silva (Co-orientador) – CPF: 690.839.918-49.
INSTITUIÇÕES PATROCINADORAS: UFV, UFLA, e CAPES.
INTRODUÇÃO: A verificação dos canais que perpetuam o crescimento e
que, simultaneamente, atuam na promoção da distribuição da renda e da
riqueza, e na redução da pobreza, permite formular pontos críticos acerca da
atuação do Estado na resolução do “problema da ação coletiva”. O trabalho
de Aghion, Caroli e García-Peñalosa (1999), discute esta questão
considerando que a infra-estrutura dada por normas e instituições sociais
historicamente construídas deve aparecer como determinante do
comportamento do crescimento no tempo. Complementa-se sua análise com
elementos da transformação produtiva com equidade (FAJNZYLBER, 1989),
e das armadilhas da pobreza (PERRY et al., 2006).
OBJETIVOS: Verificar a relevância e os canais de propagação das relações
simultâneas entre variações na desigualdade, na pobreza e no crescimento
econômico, no processo histórico de desenvolvimento dos estados
brasileiros de 1994 a 2007, com foco nas assimentrias de acesso à
educação e ao crédito.
METODOLOGIA: Uso de modelos dinâmicos e análise multivariada com
dados em painel. Será necessário fazer tratamento de amostras complexas
e variáveis explicativas endógenas nas equações simultâneas propostas.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Econômico, Armadilhas da Pobreza,
Modelos Dinâmicos, Análise Multivariada.
ÁREA DE CONHECIMENTO:
6.03.04.01-4 - Crescimento e Desenvolvimento Econômico

LINHA DE PESQUISA: 03 - Política Econômica e Desenvolvimento


NOME DO GRUPO DE PESQUISA DO CNPq CERTIFICADO PELA UFV
POLÍTICA PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO

50
7. ORÇAMENTO

Especificação das despesas Valor (R$)* Fonte de Recursos

1. PESSOAL
1.1. Ajuda de custo para execução
da pesquisa (valor da bolsa x 21.456 Capes
12 meses)
1.2. Comitê de orientação (10%
do salário dos professores do 14.400,00 UFV
comitê x 12 meses)
Subtotal 1 35.856,00

2. MATERIAL BIBLIOGRÁFICO
2.1. Livros, revistas técnicas, 1.000,00
UFLA
etc.
Subtotal 2 1.000,00

3. MATERIAL DE CONSUMO
3.1. Resmas de papel 500,00 Recursos próprios
3.2. Cartuchos de tinta para 1.500,00 Recursos próprios
impressora
3.3. Disquetes, CD’s 568,00 Recursos próprios
Subtotal 3 2.568,00

4. SERVIÇOS DE TERCEIROS
4.1. Digitação e formatação 200,00 UFLA
4.2. Revisão linguística 500,00 UFLA
4.3. Reprografia/Encardenação 1.000,00 UFLA
4.4. Correios 100,00 UFLA
Subtotal 4 1.800,00

5. DIÁRIAS
5.1 Viagens para coleta de 500,00
UFLA
materiais
Subtotal 5 500,00

6. RESERVA TÉCNICA
6.1. 10% do total dos itens 4.172,40
Recursos próprios
anteriores
Subtotal 6 4.172,40

Total [(1)+(2)+(3)+(4)+(5)+(6)] 45.896,40

51
8. CRONOGRAMA

Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Atividades
2007 2007 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008

1. Início da
elaboração do
X
projeto de
pés-quisa.

2. Apresentação
do projeto à
banca
examina-dora,
correções X
sugeridas e
planejamento
das fases
seguintes.

3. Levantamento
X X
dos dados.

4. Levantamento
de
informações
complemen- X X X
tares em
literatura
especializada.

5. Sistematização
e
X X X X
processament
o dos da-dos.

6. Redação da
X X X
tese.

7. Defesa da tese X X
e correções
finais.

52

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