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Roosevelt R. Starling
Pelo barulhão que as colheres faziam lado, dando para Quitéria aquela o-
nas panelas onde Quitéria preparava lhada de cachorro que rasgou roupa
o almoço da família, todo mundo na no varal. Sejamos justos: bebum, as-
casa sabia que ela estava num dia sim bebunzão mesmo, estava não.
daqueles: uma cobra de braba. Altinho, meio-que-besta, meio-mole,
alterado...ah!, isso é que sim. Mas, de
Desgraçado, filho-da-mãe, cachor- tudo isso, o que deixava Quitéria pu-
ro, cretino! resmungava Quitéria, ruca da vida era o “mais uma vez”.
numa ladainha interminável e repeti-
da, ouvisse quem quisesse ouvir, ta- Ó, Aleluia, vou te falando logo…
passe os ouvidos quem não quises- disse a Quitéria para um Aleluia
se. E, a cada xingamento, colheradas meio sem graça quando aquilo havia
nas panelas: des – PÁ! - gra – PAM! - acontecido pela segunda ou terceira
ça – PAF! - do! – BUM! vez no seu casamento eu não sou
desse tipo de mulher que briga à toa,
É que, mais uma vez, o Aleluia, seu que implica com qualquer coisinha.
marido, havia chegado tarde do tra- Nem fico vigiando homem meu, não.
balho. Bem, não era bem isso...ou Eu cuido das minhas obrigações, eu
melhor, era isso, mas era mais do sou uma mulher direita e o que eu
que isso, ou era isso e mais do que quero de você é a mesma coisa. Não
isso. quero saber de vizinhança minha fa-
lando que sou mulher de bêbado e de
Aleluia havia chegado tarde do servi- vagabundo e NÃO ADMITO, ” e
ço e com um bafo de água-que-boi- nessa hora Quitéria deu um grito e o
não-bebe que encheu a casa na hori- Aleluia deu um pulo. …não aceito
nha mesma em que ele disse um de jeito nenhum que filho meu vá
“boa noite” cabreiro, assim meio de
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Pois sim! Ele é que espere, para Mas fazer o quê? Aleluia gostava de-
ver o que é bom para a tosse! la: que bonita era a sua Quitéria, até
mesmo quando estava com raiva!
Quitéria é que não era mulher de ser Mais até quando estava com raiva!
dobrada assim tão, tão. Que às vezes Como isso era possível, Aleluia não
o coração dela amolecia ao ver a ca- tinha a menor idéia, mas que era, era!
ra de coitado do Aleluia, o seu rela- E lá ficava o Aleluia, conversando
rela meio sem jeito, as suas tentati- com ele mesmo, falando tão baixinho
vas de fumar o cachimbo da paz, ah!, que só ele ouvia: Aleluia ficava pen-
isso amolecia; mas ela endurecia! sando… (porque, quando a gente
Podia até ouvir o que havia jurado está “pensando”, o que a gente está
para si mesma: Por tudo quanto é fazendo mesmo é ficar falando para a
mais sagrado, na minha casa isso gente mesmo, não é? Igualzinho
não vai acontecer, não! quando a gente fala com uma outra
pessoa mas só que, nesse caso, a
Ca – PAM! – cho – PLAF! - rro! - gente mesmo fala, a gente mesmo
BUM! Mas, xingando ou não, res- ouve, a gente mesmo responde…).
mungando ou não, feliz ou aborreci-
da, o almoço tinha que sair: comer Nós já sabemos que Aleluia era uma
era preciso. Tinha os meninos, coita- pessoa muito simples. Só sabia falar
dos, que não tinham nada com isso, um pouco, portanto, só sabia pensar
inocentes que eram! um pouco. Seus pais eram muito ca-
ladões. Pouco falavam entre eles
♣♣♣♣♣ mesmos e com os meninos e assim
continuaram, a medida que Aleluia
Aleluia estava mais do que bem a- crescia. Para falar a verdade, era difí-
cordado! Acordou com um arrepio ao cil para Aleluia saber até o que ele
primeiro PAM! que ouviu. Estremeceu sentia: ele sentia umas “coisas” no
na cama ao PLAF! e virou de barriga- corpo dele, um aperto no peito, um nó
para-cima na cama e ficou olhando na garganta, um frio na barriga. Sabia
para o teto ao BUM! Ééééé! Mais um se eram “coisas” boas ou ruins aquilo
dia do cão ia ser aquele. Pior: mais que sentia, mas não sabia dar um
uma semana cachorra ia ser aquela! nome para elas.
Ia até usando o bate-que-bate que
vinha da cozinha para fazer a sua Como poderia? Ninguém havia lhe
rima: se-ma-na-ca–PAM!-cho–PLAF!- ensinado que, se a “coisa” fosse as-
rra–BUM! Êta, mulher braba dos in- sim ou assado, chamava “medo”. Se
fernos era aquela sua! fosse assado e assim, chamava “ale-
gria”, e por aí vai. Aleluia, coitado, só
sabia falar um pouco e por isso não
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sabia direito o que sentia. Ele sabia Na verdade, era difícil para Aleluia
que, quando Quitéria ficava braba, entender porque Quitéria ficava tão
ele sentia certas “coisas” no corpo braba. Diacho! Isso nunca acontecia
dele e daí ele ficava falando para ele mais do que uma vez por mês, a
mesmo que o melhor era sair de per- maioria das vezes até mais picado
to dela. Mas quando ele pensava em ainda! Por que ela tinha de brigar
sair de perto dela, ele sentia outras com ele toda vez? Puxa vida! E aí
“coisas” tão ruins que logo desistia da tinha também essa coisa de ficar bri-
idéia. E então, quando ele já ia mes- gada uma semana inteira. Ficava lá,
mo desistindo, sentia outra “coisa” no canto dela: cara amarrada, con-
que lhe fazia pensar de novo em sair; versa atravessada, sim-não e não-
e quando pensava assim, sentia uma sim. Punha a comida na mesa como
outra “coisa” ainda, muito ruim que, se estivesse dando comida para os
logo, logo, o fazia desistir de sair de cachorros: puf, paf, trof, assim, joga-
perto dela; e quando ele já ia mesmo da. Nem um dedo de prosa, nem sen-
desistindo… tar junto, nem mesmo olhar para ele!
Chegar perto dela para um cafuné?
Pois é! Aleluia, em momentos como Acabou ficando com um frio na barri-
aquele, ficava que nem um iô-iô: ia e ga só de pensar. Mas o frio na barriga
vinha, subia e descia. E nesse vai-e- foi só no começo. Tinha vezes que
vem, nesse sobe-e-desce, como sua- dava um troço ruim nele que a vonta-
va o coitado! Ah! Bom mesmo era de danada era xingar ela, era brigar
quando ele estava com os colegas do com ela. Depois, ficava jururu, sem
serviço dele. Sentia um friozinho na graça. Aleluia não era homem de xin-
barriga quando pensava no que a gar, de brigar. Ficar mais de esgue-
Quitéria faria no outro dia...mas isso, lha, mais quieto no seu canto, é que
afinal, era só no outro dia! Naquele era mais do seu jeito. Depois, com o
momento, que bom que era ficar ali, tempo, ele já estava ficando era só
rindo das piadas que um fazia sobre mais afastado, mais arredio, sem
o outro; comentando os acontecimen- nem mesmo tentar fazer as pazes; se
tos do dia, ouvindo as estórias dos não adiantava mesmo, então para
outros e - por que não?! – tomando, quê tentar?
sim, um traguinho ou outro, que Ale-
luia era homem de saber até onde ir: Uma coisa engraçada: cada vez que
nunca havia ficado bêbado em toda a a semana cachorra acontecia, Aleluia
sua vida! Era só para alegrar, para ficava cada vez mais pensando em
fazer a conversa ficar mais fácil, para que bom mesmo era se ele pudesse
rir mais fácil. estar se divertindo naquela hora com
os amigos...! Não porque ele se sen-
tisse assim tão bem com eles – o que
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ele sentia sim, se não fosse o frio na Zé podia dizer “sim” com mel na boca
barriga, mas não era só isso, ele sa- e o danado podia também dizer “não”
bia - mas mais porque ele estava se com o mesmo mel. Onde já se viu
sentindo assim tão mal com a Quité- isso?! Até parecia que o Zé não liga-
ria, quando ela ficava de ovo virado. va muito para as pessoas. Bem, não
Diacho de mulher dura, sô: parecia é que não ligava; ligava, mas ligava
até que quanto mais ele tentava che- de um jeito diferente.
gar perto dela, mais ela se afastava
dele! Havia quem gostasse muito do Zé e
Quando a semana cachorra aconte- havia quem não gostasse do Zé. Mas
cia, Aleluia sempre pensava também todos acabavam por respeita-lo, por
no tio Zé. Porque isso, ele também ouvir o que ele falava. É que, com o
não sabia… jeito do Zé, a gente não precisava
ficar imaginando o que ele queria di-
♣♣♣♣♣ zer; quando ele dizia, o que ele que-
ria dizer era o que ele dizia, ora! Até
Zé de Nadir era um velhote magro, mesmo Dona Geni já havia filosofado
espigado, peão moreno do sol de ca- sobre isso:
da dia. Zé de Nadir não sabia ler, não
sabia escrever; mal sabia fazer conta. No Zé de Nadir a gente pode se
Mas, para lidar com a criação, em fiar. Quando ele fala “sim”, a gente
toda a região não havia ninguém co- confia, porque a gente sabe que, se
mo ele. Cavalo brabo, que não dava ele quiser, ele dá conta de dizer
montaria a ninguém, andava como “não”. Então, o “sim” dele tem valor,
um doce quando o Zé de Nadir lidava não é?”.
com ele. E o que mais deixava todo
mundo de boca aberta: nunca se viu ♣♣♣♣♣
ou se soube que o Zé usasse espora
ou chicote. Como podia? Acontece que Zé de Nadir era sobri-
nho de Dona Afonsina, mãe de Quité-
Cachorrada então, nem falar: quando ria. E, por essa e outras tantas, aca-
o Zé chegava no terreiro, era uma bou por ser convidado e por aceitar
alegria só! Vinha tudo correndo, tudo ser padrinho do filho mais velho dela,
querendo um carinho, tudo pulando. coisa que deu a Quitéria muita alegri-
Zé ria muito quando isso acontecia. a, pois, embora ela não entendesse
Dava um carinho para um aqui, um direito porque é que toda a gente o
pedacinho de pão ali, um assovio do- respeitava, o fato era que toda gente
ce acolá. Pessoa curiosa, Zé de Nadir o respeitava – inclusive Quitéria – e
era também muito severo, muito posi- sempre se soube que o afilhado puxa
tivo. Quando lhe pediam as coisas, o padrinho. Ele não era querido por
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todo mundo, mas e daí? Quem é que uma coisa que era muito dele: ele
era? conversava com o afilhado. Falava,
coisa que quase todo mundo faz, mas
Mas também, embora existisse quem também ouvia, coisa que muito pouca
não gostasse dele, esse não gostar gente faz. Pequeno que fosse o Re-
não era muito grande, porque Zé de nato, boba que fosse a conversa, ele
Nadir não se intrometia na vida dos ouvia o afilhado e respondia que nem
outros, não se via nele intento de pre- se estivesse falando com gente gran-
judicar os outros. O que mais parecia de! Ah! Como brilhavam os olhinhos
é que ele estava mesmo era cuidan- do Renato quando ele estava conver-
do principalmente dele e já não se sando com o padrinho! Como ficava
disse que a gente precisa amar o alegre sempre que o via chegar! Da-
próximo como a gente ama a gente va até uma pontadinha de ciúme em
mesmo? Pois é: se a gente não cuida Quitéria, que não era lá de dar muita
bem da gente, como pode amar os trela para menino.
outros direito? De qualquer jeito, gos-
tado ou não, “Seu” Zé de Nadir era Não me entendam mal: Quitéria ama-
ouvido por todo mundo e, afinal, até va os seus filhos, e amava muito.
mesmo a Geni já havia falado sobre Mas ela havia aprendido que dar mui-
isso com respeito e sabedoria. Talvez ta trela para menino não era bom,
o seu filho Renato pudesse crescer e porque eles perdiam o respeito. O
ser tão respeitado quanto o padrinho! mistério é que Zé de Nadir dava trela
e os meninos não perdiam o respeito:
Vocês sabem que coisa boa não tem parecia até que aumentava, coisa
hora de acontecer e nem o vento pe- esquisita!
de licença para ventar. Não é que
naquele mesmo dia em que Quitéria Bem, cada um tem seu jeito: Quitéria
resolvia parte da sua raiva dando co- era Quitéria e sabia o que fazia. Que
lheradas nas pobres das panelas, Zé ela ficava incomodada quando via o
de Nadir precisou ir ao vilarejo e re- Renato todo chegado ao padrinho,
solveu visitar os compadres e levar ficava. Porque ele não fazia isso com
uns ovos para o afilhado. Quando Zé ela, se ela amava tanto os filhos?
de Nadir ia visitar o afilhado, sempre Pensando nisso, porque até mesmo o
levava alguma coisinha para ele. Coi- Aleluia ficava babando o tio Zé e ra-
sa pouca, é verdade, mas demons- ramente ficava babão com ela, a não
trava sempre consideração, sempre ser quando ele queria fazer as pa-
lembrança, sempre afeto. zes?
Das vezes em que não levava nada, Pensando ainda melhor, porque é
Zé de Nadir levava para o afilhado que embora todo mundo sempre dis-
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sesse que ela era uma mulher muito Nadir e ainda que ela não desse
honesta, muito direita, um exemplo mesmo conta de entender aquela
para os outros, pouco gente chegava pessoa, tão perto dela no sangue e
perto dela para bater um papo, para tão distante no jeito, Quitéria acabava
jogar conversa fora? E pensando um por gostar das visitas do tio, mesmo
pouco melhor ainda, porque tanta que fosse de um jeito enviesado. O
gente falava tão bem dela e tão pou- fato é que ele conversava com ela
ca gente ficava amiga dela? também e, como já vimos, isso não
Quando Quitéria pensava nessas coi- acontecia muito na vida de Quitéria.
sas – o que não acontecia muitas
vezes, é verdade – ela sentia coisas É que Quitéria não era mulher de
muito esquisitas: sentia um nó na confidências e mexericos. Não gosta-
garganta, sentia um aperto no peito, va de fazer, não gostava de ouvir.
os olhos marejavam água. Aí então Achava que cada um deve dar conta
Quitéria tratava logo de pensar outras das suas coisas sozinho e que a gen-
coisas; melhor era quando tinha pela te não deve amolar ninguém com os
frente uma panela e nas mãos uma problemas da gente. Havia aprendido
colher e aí…bem, vocês já sabem: isso com a sua mãe, que havia a-
PAF! PAM! BUM! prendido isso com a sua avó, que
havia aprendido isso com a sua bisa-
Dia, sobrinha, licença! dizia o tio vó e, então, Quitéria fazia assim e
Zé, enquanto parava na soleira da pronto! Na verdade, até que, quando
porta da cozinha. mocinha, ela havia sentido falta de ter
alguém com quem poder falar daquilo
Entra, tio! Chegou na horinha. A- que andava pensando, daquilo que
cabei de passar o café! Quitéria andava sentindo. Mas foi quando co-
sorria para o tio. Mas os seus olhos nheceu o Aleluia e ficou encantada
não sorriram. A voz de Quitéria foi com ele que ela desobedeceu a sua
educada, passava até mesmo um regra; uma vezinha só! Contou para
certo entusiasmo, mas as sobrance- irmã, que contou para a outra irmã,
lhas estavam franzidas, as costas que contou para a mãe, que contou
duras, os movimentos duros e Zé de para o pai, que criou um caso danado
Nadir, enquanto ia chegando, havia até entender que focinho de porco
bem escutado o paf,pam,bum da co- não era tomada e que o Aleluia, afi-
lher nas panelas e o resmungo que nal, era um moço bom e que não es-
as acompanhava. tava a fim de se aproveitar da filha.
Uma coisa é preciso dizer: embora Daí para frente e pelo sim ou pelo
ela ficasse muitas vezes incomodada não, Quitéria juntou a regra com a
com o jeito meio diferente do Zé de experiência: em boca calada não en-
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havia pensado naquele jeito esquisito falar para ele mesmo de um jeito
de pegar frango. pouco comum. Ele não ficava pen-
sando se fulano era assim ou assado,
Zé de Nadir, que já havia fechado a se ele fazia isso ou aquilo porque
porta que dava da cozinha para a gostava ou porque queria.
sala, fechou a porta do quintal, en-
quanto não parava de jogar umas Talvez por lidar com a criação desde
bolinhas de angu para entreter os pequenininho, com bichos, que não
frangos que ficaram presos na cozi- falam com a boca e nem são assim
nha. Pegou um balaio, segurou uma ou assado - ou, se são, o povo não
das beiradas dele com uma mão e o diz por seguro que são e nem a gente
emborcou, com a outra beirada apoi- pode saber ao certo; e que se gostam
ada no chão. Continuou jogando boli- ou se querem alguma coisa a gente
nhas de angu, fazendo um caminho também não sabe ao certo, porque só
para debaixo do balaio. Quando to- de ver não dá para saber o que acon-
dos os quatro frangotes estavam lá, tece ou não dentro deles – o que Zé
vupt!, ele deixou cair o balaio. de Nadir fazia era ficar observando,
vendo o que acontecia no mundo a
“Cocoricó” para cá, “cocoricó” para cada vez, antes que as galinhas cor-
lá…mas já era tarde. Zé de Nadir en- ressem para um lugar só, que nem
fiou a mão por baixo do balaio e deu um bando formigas em correição.
sorte: o primeiro frangote que pegou Observava o que estava acontecendo
era o do pescoço pelado, que foi tri- no mundo antes de cada vez que um
unfantemente entregue nas mãos de cavalo refugava um salto, antes de
Quitéria. cada vez que um boi ameaçava dar
uma chifrada. Era simples assim!
♣♣♣♣♣
Zé de Nadir olhava, via, observava e
Zé de Nadir, como já lhes contei, não aprendia. Por exemplo, toda vez que
era estudado. O que o tio Zé da Qui- se jogava comida numa direção, a
téria sabia fazer muito bem, era olhar galinhada toda corria para aquele
para as coisas e para as pessoas e lugar. Talvez elas quisessem, talvez
ver, porque tem gente que olha, mas elas gostassem; isso não se pode
não vê. Não era só olhar só assim, saber, pois, afinal, quem é que já en-
com os olhos da cara, não! Parecia trou dentro de uma galinha para ver o
que ele olhava com o corpo todo: a- que ela gosta ou quer? O que o Zé de
tento que nem uma garça quando vê Nadir sabia ao certo era que, ao cair
o peixe na água. De tanto olhar e ver, da tarde, era preciso que a galinhada
“Seu” Zé, tio Zé ou Zé de Nadir, que entrasse no galinheiro. Isso era bom
afinal é uma pessoa só, começou a para o Zé, porque assim os gambás e
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Pouco para mim, pouco para poderiam ficar com o Pastéis, mas
ele! pensou Aleluia. Com o troca- só se eles mesmos cuidassem dele.
do que lhe sobrara do leite que com-
prara para levar para casa, comprou E ele que fique morando no paiol,
um pastel inteirinho só para o ca- se quiser. disse Quitéria, severa
chorrinho. Isso foi o quanto bastou como sempre. Por tudo o que é
para que o cachorrinho o acompa- mais sagrado, eu NÃO ADMITO ca-
nhasse, quando finalmente Aleluia se chorro vagabundo dentro da minha
levantou para ir para casa. E não casa! falou, enquanto o seu olhar
houve xingamento ou ameaça que o fulminante procurava o Aleluia, que
fizesse desistir. Cada vez que Aleluia nessa altura já estava meio encolhi-
se virava e numa raiva fingida batia o do num canto da sala, na esperança
pé para afastar o cãozinho, o cãozi- secreta de ficar invisível enquanto a
nho dava uma paradinha…ficava o- patroa e os meninos resolvessem o
lhando meio duvidoso…e recomeça- problema lá entre eles.
va a acompanhar o Aleluia.
Quando o pai contou a história do
Não teve jeito. Quando Aleluia acor- encontro, ninguém teve dúvida: o ca-
dou no dia seguinte, lá estava o Pas- chorrinho iria se chamar Pastéis.
téis, dormindo enrolado na soleira da
porta da sua casa e tiritando de frio. Pastéis ficava sempre fora de casa,
Isso foi demais para o Aleluia! Mes- como combinado, mas havia duas
mo com medo da reação de Quitéria, ocasiões em que essa regra podia
Aleluia foi pé ante pé até a cozinha, ser desobedecida sem maiores ris-
pegou um bom naco de angu, pôs cos: a primeira, quando Quitéria es-
numa folha de bananeira e levou pa- tava com evidente bom humor. Nes-
ra o Pastéis. Pensava em lhe dar o ses raros dias, Aleluia costumava
café da manhã e, logo depois, ver se ficar na cozinha, sentado no banqui-
arrumava um bom dono para ele. nho de madeira perto do fogão, o-
lhando a sua Quitéria vivendo – co-
Pensava! Nesse meio tempo, Renato mo ele gostava disso! Era então
e Rubens, seus filhos, vieram ver o permitido ao Pastéis entrar na cozi-
que o pai fazia e o encontro deles nha e enroscar-se aos pés de Alelui-
com o Pastéis foi o início de um a- a. A segunda, era por ocasião das
mor para o resto da vida, que nem visitas do tio Zé.
mesmo o azedume de Quitéria, que
resmungou alguma coisa sobre “va- ♣♣♣♣♣
gabundo atrair vagabundo”, foi pode-
roso o bastante para impedir. Ficou Zé de Nadir tinha mesmo um jeito
então combinado que as crianças especial com criação e, para lhes
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provar isso, conto uma história. Pas- o tio Zé e, se o Pastéis podia às ve-
téis tinha uma mania danada de cha- zes ficar na cozinha, perto do Aleluia,
ta: tentava lamber a mão dos amigos. ora, podia também ficar lá perto do tio
Coisa de cachorro, vocês sabem co- Zé.
mo é. Até mesmo o Aleluia já tinha
passado vários pitos e dado mais de E lá ficavam, o Pastéis e o tio Zé, la-
uma cocada no Pastéis por causa do a lado. Com a amizade crescendo,
disso. Quitéria, afinal, não devia ser tio Zé ficava lá na cozinha, sentado,
amiga no entender do Pastéis. Ele só olhando, vendo, conversando e qua-
tentou lamber a mão dela uma vez. se sempre deixava a mão cair e co-
Foi uma tapona no focinho que nunca çava a orelha do Pastéis, roçava sua
mais, para orgulho de Quitéria, que cabeça. Era evidente a alegria do
julgava saber lidar com bicho e com Pastéis! E, acreditem, o Pastéis não
gente. tentava lamber a mão do tio Zé nem
uma vez!
Pastéis lambia a mão de todo mundo
que era amigo, menos a do Zé de Pois é; tenho que repetir: Zé de Nadir
Nadir. Não que tivesse sido assim era mesmo danado de observador.
desde o começo. O que aconteceu Vocês já sabem da história de como
desde o começo foi que o Pastéis se ele achou um jeito diferente de lidar
tomou de amores pelo tio Zé, coisa com as galinhas e os bois. Bem, tal-
bastante impressionante, porque o tio vez não um jeito diferente, porque
Zé nem mesmo festa para ele fez, outras pessoas também faziam isso.
quando o conheceu. Simplesmente Mas a maioria fazia isso porque dava
chegou, como era do seu costume e, certo. Só por isso.
quando estava parado na soleira da
porta da cozinha, viu o cachorrinho Que eu saiba, nenhum deles tinha
que, avançando e recuando, tentava pensado sobre isso do jeito que Zé
se aproximar dele. Não fez nada. Fi- de Nadir havia pensado. Ora, se pen-
cou ali…parado. sar é falar com a gente mesmo, então
o que Zé de Nadir sabia era falar so-
Com o tempo, Pastéis acabou sendo bre aquilo que fazia. Cada vez que
vencido pela curiosidade. Aproximou- uma situação parecida com aquela
se e cheirou a barra da calça do tio acontecia, Zé de Nadir se lembrava e
Zé. Foi só aí então que o tio Zé olhou tentava falar sobre ela do mesmo jei-
mesmo para o Pastéis e lhe esfregou to. Experimentava. Funcionava quase
a cabeça. Mais nada. A partir desse sempre.
dia, era o tio Zé chegar, era o Pastéis
se aproximar. Quitéria, por severa e Assim, Zé de Nadir não precisava
correta que fosse, também respeitava ficar aprendendo primeiro como lidar
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com galinhas, depois como lidar com sa só para cientista, não; é coisa para
bois, depois como lidar com cavalos, qualquer um que não fica só repetin-
um de cada vez e como se uma coisa do o que aprendeu: gente que é inte-
não tivesse nada a ver com a outra. ligente. Ele então trocou os grãos de
Ele podia passar de uma coisa que milho por pedrinhas do mesmo tama-
dava certo com um, direto para o ou- nho e quase da mesma cor. Tendo
tro, ganhando tempo. feito isso, ele chegava e fazia o antes
igualzinho como se fosse jogar o mi-
Zé de Nadir já havia aprendido que lho, mas jogava as pedrinhas.
algumas coisas que acontecem no
mundo antes de algumas outras coi- E adiantava? No começo sim. Toda
sas podem até mesmo servir para a vez que ele jogava as pedrinhas, lá ia
gente saber se a outra coisa vai a- a galinhada em disparada na direção
contecer. Se cada vez que um bichi- delas. Algumas até mesmo tentavam
nho voa na direção do rosto da gente, bicar as pedrinhas. E de outra vez: a
a gente pisca o olho, então, se eu mesma coisa. E de outra. E ainda de
vejo um bichinho voado na direção do outra. E de muitas outras. Mas, Zé de
rosto de um amigo meu, eu posso Nadir observou, já não eram mais
quase apostar que ele vai piscar o todas as galinhas que saiam corren-
olho. Mais até do que isso: e se eu do. Umas, sim, saiam correndo sem-
quiser que ele pisque o olho? Fácil: pre. Mas uma parte delas, depois de
pego um pedacinho de papel e sopro muitas pedrinhas jogadas, já não cor-
na direção do rosto dele: ele pisca o ria mais. Até que iam, mas parecia
olho! que iam mais para conferir do que
pondo fé…
Mas e o que acontece depois que
alguém faz alguma coisa? Faz dife- Zé de Nadir insistiu nisso. Estava cu-
rença? Assim: eu jogo a comida para rioso. Queria saber por quanto tempo
as galinhas. Isso é o antes. As gali- as galinhas poderiam ser enganadas.
nhas correm na direção da comida, Zé de Nadir descobriu que elas podi-
isso é o “do meio”, aquilo que as gali- am ser enganadas por um bom tem-
nhas fazem. E o que acontece de- po, mas não todas elas e nem o tem-
pois? Ora, as galinhas comem a co- po todo. Já no finalzinho da experiên-
mida. E se eu jogasse uma coisa que cia, quase galinha nenhuma caia
elas não pudessem comer? O que mais nessa esparrela, pelo menos
aconteceria? não quando era ele quem jogava as
pedrinhas…
É claro, vocês já adivinharam! Dana-
do de ativo, Zé de Nadir tratou de Mas vejam a novidade da experiên-
fazer uma experiência, que não é coi- cia: Zé de Nadir já havia descoberto
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que certas coisas que acontecem no que acontecia depois que alguém
mundo antes fazem diferença para o fazia alguma coisa.
que as galinhas fazem ou deixam de
fazer, o do meio. Ele já sabia que jo- Alguém: bicho ou gente! Zé de Nadir
gar o milho fazia com que as galinhas sabia, é claro, que bicho é bicho e
corressem na direção em que eles que gente é gente. Mas que diacho,
caíam. Então, o antes influenciava o porque o que funcionava com um ti-
do meio, o que as galinhas faziam. nha que não funcionar com o outro?
Como se fosse uma espécie de obri-
Mas quando ele começou a se per- gação? Bem, é claro que gente e bi-
guntar sobre o depois, se o que acon- cho não são iguais. Mas são tão de-
tecia depois do do meio tinha também siguais assim? Tem muita coisa que
alguma influência no do meio, uma eles fazem até de maneira diferente
coisa engraçada aconteceu: ele fez o da gente, mas no fundo fazem como
antes igualzinho como sempre fazia e a gente faz: por exemplo, comem,
esse antes passou a não dar mais o dormem, correm, gritam quando se
mesmo resultado. Será que era por- machucam, saram quando tomam
que o depois era diferente: no lugar algum remédio…será?!
de comida, as galinhas encontravam
pedrinhas? Então, o que as galinhas Sabido Zé de Nadir era, mas ele era
faziam, o do meio, podia mudar, con- também muito humilde: queria apren-
forme o que acontecesse antes e der mais. Por isso, ele começou a
também conforme o que acontecesse fazer algumas experiências e viu que,
depois? em muitas delas, bicho e gente não
eram assim tão diferentes.
Só tinha um jeito de saber: Zé de Na-
dir voltou a jogar o milho! E não é que Por exemplo, quando a sobrinhada
bem mais depressa do que haviam dele ia visitar o sítio, Zé de Nadir cos-
parado de correr na direção da “co- tumava por a mesa do café e gritar
mida” falsa elas voltaram a correr na para a meninada que estava brincan-
direção da comida verdadeira?! E do no terreiro: Hora da bóia, gee-
nisso tudo ele não tinha mudado o ente!!! e não era que a meninada
antes. Só mudou o depois e isso fez vinha correndo para dentro que nem
diferença: o do meio também muda- as galinhas?! Éééé; pelo menos nisso
va, quando o depois mudava! não pareciam ser assim tão diferen-
tes…
A partir daí, é claro que se Zé de Na-
dir já estava atento ao que acontecia Pastéis! Como tudo indicava que o
antes, ficou também muito atento ao Pastéis desde logo incluiu o tio Zé na
lista dos seus amigos, é claro que ele
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licença para sofrer, licença para do- no bar do Cuca com os amigos...!
er… Aleluia chega em casa: o frio na bar-
riga aperta. Vontade de não estar ali,
Como toda enxurrada, esta também vontade de ter ficado mais algum
aos poucos foi se acalman- tempo com os amigos, onde estava
do…acalmando…até virar um riachi- tão bom! Aleluia vai para a cama.
nho manso, onde a água continuava Deita-se.
a correr, mas a correr sem pres- O depois...! Quitéria vira para o outro
sa…só correndo, assim por correr. lado. Aleluia se aperta na beiradinha
Foi aí que o tio Zé começou a falar. dele, dorme incomodado. Acorda.
Tão manso quanto antes, mas, agora, PAF! PUM! PAM! Aleluia nem tem
uma firmeza nova estava nas suas ânimo para se levantar. Melhor ficar
palavras, no tom da sua voz. Tudo ali mesmo. Mas se levanta. Quitéria
tendo ouvido, pensando no antes, no está na cozinha. Aleluia fica na sala.
do meio e no depois, tio Zé falava. Quitéria vai para a sala. Aleluia entra
na cozinha. Quitéria volta para cozi-
Ninguém ali era boi ou galinha. Era nha. Aleluia vai para o terreiro, dá a
gente e gente que ele amava e ele volta, entra pela sala, pega as suas
sabia disso. Mas sabia também que o ferramentas e sai de fininho para o
que ele sabia com a força da experi- trabalho.
ência era o melhor que ele podia ofe-
recer. O antes, o do meio e o depois. E um outro antes: Aleluia chega ao
O antes, o do meio e o depois... trabalho. Meio macambúzio, meio
calado. Um colega brinca, o outro
♣♣♣♣♣ responde. Outro brinca, e o outro, e o
outro. Aos poucos, Aleluia começa
O antes...! Aleluia cansado do traba- também a brincar. Aos poucos es-
lho. Aleluia saindo com os amigos, a quece. Aos poucos vai ficando alegre,
conversa amiga, a camaradagem. A o ânimo volta. Até a hora do fim do
passagem em frente ao boteco. A serviço. Voltar para casa…ver a Qui-
cara amiga do Cuca, o dono do bote- téria de cara amarrada…nem uma
co, sorrindo de gosto. palavra! Comida fria na me-
sa…enfrentar isso tudo…
O do meio...! A parada no balcão pa-
ra o papo sem compromisso e um Aleluia cansado do trabalho. Aleluia
trago da “branca. Só um traguinho. saindo com os amigos, a conversa
Tão bom, tão gostoso. amiga, a camaradagem. A passagem
em frente ao boteco. A cara amiga do
Aleluia vai para casa. O frio na barri- Cuca, o dono do boteco, sorrindo de
ga aumenta. Tão diferente de estar lá gosto. A parada no balcão para o pa-
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po sem compromisso e para um trago da bola, senão ela vai bater no seu
da branca. Só um traguinho. Tão vaso. O que você precisa fazer? Vo-
bom, tão gostoso. cê, Quitéria, tem primeiro que mudar
o seu comportamento. Se você esti-
Aleluia vai para casa. O frio na barri- ver sentada, vai ter que levantar para
ga aumenta. Tão diferente de estar lá tocar nela, para mudar a direção dela.
no bar do Cuca com os amigos...! No mínimo, vai ter que jogar alguma
Aleluia chega em casa: o frio na bar- coisa nela, bater nela com um pau,
riga aperta. Vontade de não estar ali, uma vassoura, sei lá. Mas de um jeito
vontade de ter ficado mais algum ou de outro, você vai ter que mudar
tempo com os amigos, onde estava primeiro, porque senão a coisa pro-
tão bom! Aleluia vai para a cama. vavelmente não vai mudar, a não ser
Deita-se. por acaso ou por outras razões. Mas,
às vezes, você não vai poder apostar
Quitéria vira para o outro lado... nesse acaso, não é mesmo? Pode
não dar tempo...
♣♣♣♣♣
Sniff?
Quita? Quitéria!
É sim, Quitéria. Sozinha é que a
Fong? Buuu, huuu! bola não vai mudar de direção, prin-
cipalmente se estiver indo para baixo,
Quitéria, minha filha, me escuta não é?
um pouquinho.
O que, tio?
Fong?
Isso que eu estou falando, Quité-
Se você quer mudar alguma coisa, ria. Pense um pouco comigo: toda
qual é a primeira coisa que você pre- vez que o Aleluia chega meio alto, o
cisa fazer? que acontece? Sempre a mesma coi-
sa: você briga com ele, põe ele de
Buuu, huuuu, snifff? castigo, modo de dizer. Está adian-
tando?
Eu te digo: a primeira coisa que
você precisa fazer é mudar o seu Ele – buuu – fica um tempão sem
comportamento, aquilo que você está – sniff – fazer isso de novo – huuu!
fazendo. Imagine, por exemplo, que
uma bola está vindo rolando em dire- Fica. Você disse. Mas volta a fa-
ção ao seu vaso de flores, que está zer, não é? Pode demorar, mas volta!
no chão. Você quer mudar a direção
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Mas, tio, eu sempre aprendi que Vai; a maior parte das vezes, vai.
fazer direito não é mais do que a o- Algumas vezes pode falhar. Quando
brigação! Vai dar prêmio por causa falha, a gente pensa mais, toma mais
disso? tempo para ver direitinho o antes e o
depois e quem sabe o do meio....
Vai, sim. Se o fazer errado está
dando prêmio, é preciso dar prêmio O que é isso de o antes, o do meio
também para o fazer direito. Senão o e o depois, tio? Não estou entenden-
fazer errado é que vai acontecer cada do nada…
vez mais. E o pior, Quitéria, é que Ah! Isso é um jeito de falar comigo
fazendo do jeito que você está fazen- mesmo que eu tenho. Vou ver se te
do, você mesma está aumentando o ensino. Tem sido de muita valia para
prêmio do fazer errado, você não mim. Acho que vai ser de valia para
percebe? Quanto pior aqui, cada vez você também. Vamos ver primeiro se
melhor fica lá, em comparação! Que você entendeu a idéia do fazer dife-
coisa: vê lá se você não vai repetir o rente: tente me dar um exemplo do
que aconteceu com o seu pai e sua que você entendeu, para eu ver.
mãe fazendo errado pelo contrário:
uma por premiar demais, outra por Tipo assim…veja se é isso: quan-
premiar de menos. Ah, minha filha, do o Rubens quiser sair para o terrei-
nesta vida eu acho que é só fechadu- ro: isso é um antes?
ra que, se não funciona para um lado,
costuma funcionar para o outro. Ti- Calma, Quitéria, primeiro, vamos
rando fechadura, esse negócio de ver um exemplo inteiro. Depois a gen-
ficar virando para cá e, se não dá cer- te fala sobre o antes, o do meio e o
to, virando para o lado contrário, cos- depois. Mas, já que você começou o
tuma não funcionar muito. O proble- assunto, o antes que eu falo não tem
ma, Quitéria, não é dar prêmio ou não nada a ver com o que o Rubens quer
dar prêmio. O problema é saber ou não quer, porque…
quando dar prêmio e quando não dar.
Ué, tio? Como não? interrom-
E como eu posso saber isso, tio? peu Quitéria, confusa. O que acon-
tece antes de ele sair não é ele que-
Até que pode ser simples: não dê rer sair? Não é por isso que ele sai?
quando ele estiver fazendo o que vo-
cê não quer. Dê quando ele estiver Bom, Quitéria, esse é um jeito
fazendo o que você quer. da gente falar, o jeito que quase todo
mundo fala. Mas o que é que faz ele
Mas isso vai dar certo tio? “querer” sair? Esse “querer” dele não
aparece do nada, não é verdade?
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بئش