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Ex.

mos Senhores

Presidente da República

Presidente da Assembleia da República

Primeiro-Ministro

Ministra da Educação

Provedor de Justiça

Presidente do Conselho Nacional de Educação

Directora Regional de Educação do Centro

Presidente do Conselho de Escolas

Presidente do Conselho Geral

Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Secundária de D. Duarte

CONFAP

Sindicatos (Fenprof, FNE, ASPL)

Os professores da Escola Secundária de D. Duarte, em Coimbra, em Reunião Geral havida a 4 de Março


de 2011, vêm solicitar a suspensão do actual modelo de avaliação do desempenho docente, instituído
pelo Decreto-Lei nº 75/2010 e regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº 2/2010, ambos de 23 de
Junho, por considerarem que os seus pressupostos legislativos não promovem a qualidade do processo
de ensino-aprendizagem, nem tão-pouco contribuem para a valorização e robustecimento da profissão
docente, ao contrário do que é enunciado nos preâmbulos das referidas leis, onde se lê que é intenção
deste modelo

“a melhoria da qualidade da escola pública e do serviço educativo e a valorização do trabalho e da


profissão docente”,

e ainda

“a avaliação do desempenho, mantendo critérios de exigência e valorização de mérito, passa agora a


realizar-se através de procedimentos simplificados”, intentando “valorizar a dimensão formativa da
avaliação”.
Concordando estes docentes com os princípios acima enunciados, repudiam, contudo, e de forma
veemente, os procedimentos exigidos para a sua concretização por se revelarem arbitrários,
inconsistentes, parciais e inexequíveis, conforme razões que expõem:

1. Avaliadores e avaliados pertencentes à mesma escola são muitas vezes concorrentes aos mesmos
escalões da carreira, o que constitui forte motivo de impedimento e inconstitucionalidade, por
contrariar o artigo 44º do Código de Procedimento Administrativo, onde se lê que “Nenhum titular de
órgão ou agente da Administração Pública pode intervir em procedimento administrativo ou acto:

a) quando nele tenha interesse;


c) quando tenha interesse em questão semelhante à que deve ser decidida”.

1.1. O artigo 13º do Decreto Regulamentar nº 2/2010 prevê que coordenador de Departamento
Curricular e relator devem pertencer ao mesmo grupo de recrutamento do avaliado, mas, caso o
coordenador peça observação de aulas e, eventualmente, interponha uma reclamação, será júri em
causa própria, uma vez que pode fazer parte da Comissão de Coordenação da Avaliação do
Desempenho;

1.2. Relatores e coordenadores não são avaliados na componente científica, o que, por si só,
consubstancia uma inadmissível arbitrariedade e uma profunda desigualdade de critérios, conforme
preconizam os artigos 28º e 29º do Decreto Regulamentar nº 2/2010, independentemente de
solicitarem ou não observação de aulas.
1.3. Caso o relator e o coordenador de Departamento Curricular solicitem observação de aulas, não
se cumpre, na grande maioria dos casos, o constante dos pontos 3 e 4 do artigo 13º do referido Decreto
Regulamentar, uma vez que quem os avalia pode não pertencer ao mesmo grupo de recrutamento.

2. A prática nas escolas tem vindo a negar, diariamente, os propalados “procedimentos


simplificados”, que preconiza o Decreto Regulamentar nº 2/2010:
2.1. A excessiva complexidade e pouca clareza dos descritores que operacionalizam os níveis de
desempenho referentes aos indicadores, domínios e dimensões legalmente definidos inviabilizam a
objectividade que deve presidir a qualquer processo de avaliação;
2.2. A exigência da realização de um sem-fim de tarefas burocráticas por parte de avaliados e
avaliadores que, aliadas às tarefas científico-pedagógicas exigidas – preparação / observação de aulas;
produção / apreciação de relatórios de auto-avaliação e respectivos anexos e evidências, ou ainda, as
entrevistas entre avaliados e avaliadores geram indisponibilidade de tempo e indisponibilidade mental,
por parte dos professores, que assim se desmotivam, secundarizando o que é realmente importante: a
preparação das tarefas didáctico-pedagógicas a desenvolver quer nas aulas quer nos apoios prestados
aos alunos fora do tempo lectivo;
2.3. A abertura das escolas públicas ao Ensino Profissional, ao envolver uma infinidade de
procedimentos burocráticos, interfere com a qualidade das tarefas pedagógicas inerentes à docência de
qualidade, como comprovam, diariamente, os docentes desta escola que possui muitos cursos
profissionais.
2.4. A “dimensão formativa da avaliação” preconizada na lei é, portanto, praticamente inexistente,
uma vez que este modelo de avaliação não deixa tempo de qualidade para a reflexão sobre a própria
avaliação, nem tão-pouco sobre as práticas lectivas.

3. A actualização científica é fortemente prejudicada pela falta de tempo e de disponibilidade mental


do docente que, no final de um dia extenuante de trabalho, tem ainda de frequentar as acções de
formação que lhe são exigidas como mais uma forma de progredir na carreira;
3.1. Esta avaliação está direccionada para uma progressão profundamente injusta e arbitrária, uma
vez que a fixação de percentagens máximas para a atribuição das classificações de Muito Bom e
Excelente origina uma lotaria em função da escola onde se leccionou e, dentro da mesma escola, impede
que dois docentes igualmente muito bons ou excelentes possam progredir.
3.2. Acresce que, até ao momento, não chegou ainda o Despacho que estabelece a percentagem das
quotas a atribuir às escolas – seria lógico e desejável que tivesse saído aquando da publicação do
Decreto-Lei nº 75/2010 e do Decreto Regulamentar nº 2/2010 –, o que comprova, à exaustão, que esta
lei vai a reboque de interesses económico-financeiros e vai sendo reajustada aos interesses
momentâneos.

4. Estes docentes questionam também a DGRHE que se demitiu do seu papel de consultor, ao não
responder às questões sobre a avaliação de desempenho que lhe foram postas quer pelos Directores das
escolas quer pelo próprio Conselho de Escolas, remetendo as respostas para as DRE que, por sua vez,
indicam procedimentos diferenciados a cada escola que se lhes dirige, originando ainda mais
desigualdades que, certamente, se reproduzirão nos outros distritos, uma vez que as respostas dadas
são baseadas no entendimento de cada DRE.

Face a estas arbitrariedades e injustiças, vem o corpo docente da ESDDuarte, abaixo assinado,
reiterar o pedido de suspensão desta lei, de forma a que possa criar-se um espaço de real maturação e
discussão em torno de um novo modelo de avaliação, assente nos princípios com que finalizamos esta
tomada de posição:

- simplicidade;
- objectividade;
- equidade;
- uniformidade;
- qualidade.

Coimbra, 4 de Março de 2011

Segue-se a assinatura de 74 dos 75 Professores de Grupo de Recrutamento do QE/QZP/Contratados da


Escola Secundária de D. Duarte, bem como a dos técnicos especializados contratados para as actividades de
leccionação das disciplinas de natureza profissional da componente técnica dos Cursos Profissionais.

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