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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS


PROGRAMA ESPECIAL DE TREINAMENTO
TUTORA: MIRNA DE BORBA, M. ENG.

CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

KYLE WELLINGTON CAULKINS

PROF.A ORIENTADORA: MIRNA DE BORBA, M. ENG.

FLORIANÓPOLIS
2001
SUMÁRIO

1 A CRIATIVIDADE...................................................................................................... 1
1.1 CRIATIVIDADE NOS INDIVÍDUOS...................................................................... 3
1.2 O PROCESSO CRIATIVO......................................................................................... 4
2 ORGANIZAÇÕES CRIATIVAS............................................................................... 6
2.1 GERINDO A CRIATIVIDADE................................................................................. 7
2.2 O AMBIENTE EMPRESARIAL ............................................................................... 9
2.3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL.................................................................. 11
2.4 AÇÕES PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE............................................... 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 16
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1 A CRIATIVIDADE

A criatividade é algo abstrato, de difícil definição. Como ela é importante para


várias áreas de conhecimento – psicologia, pedagogia, administração de empresas – e
cada uma tem suas aplicações e objetivos, as definições são diversas. Para áreas
acadêmicas, a criatividade estará associada ao processo criativo e à personalidade
criadora. Para o meio empresarial, estará relacionada com os resultados que trouxer,
principalmente em sincronia de direção com a missão da empresa. Imaginação, insight,
invenção, intuição, iluminação e originalidade são palavras associadas aos processos de
pensamento criativos. Porém essa "magia" é apenas uma das características do processo,
que envolve várias outras partes.

Para que um produto ou idéia sejam criados – para se utilizar a criatividade –


diversos elementos, internos e externos à pessoa, são utilizados ou influem no processo.
Estes elementos incidem sobre a personalidade da pessoa, sobre sua percepção e sobre
sua motivação.

A personalidade é a bagagem que acompanha o indivíduo. É afetada pela


cultura que o cerca, os pressupostos morais e éticos que lhe são inculcados, e suas
relações sociais. Todo ser humano traz ainda consigo opiniões que formou por si
próprio ou que são baseadas em opiniões de outros. Vista desta forma, a personalidade é
a estrutura criativa do homem. Esta estrutura pode ser alterada, conforme se verá
adiante, porém muito lentamente e com extremo esforço.

Externo ao ser, o ambiente é a fonte de informações do processo criativo. A


percepção é a forma através da qual estas informações são coletadas. Cada um interpreta
este ambiente à sua maneira. Assim como cada pessoa, quando ouve palavras abstratas
como amor e felicidade, pensa em algo particular a si, as associações que podem ser
feitas com os elementos ao seu redor são infinitas e únicas ao mesmo tempo. Como na
personalidade, os pré-conceitos individuais e sociais afetam a percepção de mundo. A
percepção também pode ser alterada. Pode-se mudar sua maneira de ver e absorver o
que está ao redor baixando as defesas contra o novo e incompreendido. Um provérbio
oriental diz que as pessoas vêem o mundo como elas são, e não como ele é. Assim, cada
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indivíduo terá sua percepção de mundo, que será mais ampla ou mais estreita
dependendo não só de quanto deste mundo conhece, mas também de seu
posicionamento frente a ele.

O elemento que atua como ignição da criatividade e ao mesmo tempo


combustível do processo é a motivação. É a preparação que predispõe o indivíduo para
certas atividades e para a conquista de certos objetivos. Mais do que a personalidade e a
percepção, a motivação é totalmente dependente do momento.
O estado emocional determina o nível de empenho, de
inspiração e até da possibilidade de se usar seu potencial
imaginativo. O organismo humano é condicionado pela
economia fisiológica – tende a se comportar com o menor gasto
de energia possível. Dessa forma, percebem-se somente os
estímulos que se encaixam nos padrões conhecidos, e esses
padrões são empregados na resolução dos problemas. Para
contrariar este princípio, o organismo necessita de um esforço extra. Desse esforço extra
surge uma reestruturação original do campo perceptivo e uma recombinação de imagens
mentais em direção a novos padrões.

Não existe fórmula certa para ser criativo. Não existem regras a seguir, a não
ser a de questionar as regras existentes. É preciso aceitar e propor mudanças –
mudanças de mentalidade, mudanças de rumo, de comportamento. Mudar é aceitar
novos desafios, descobrir novos caminhos, se arriscar, sair do estado de inércia para o
desconhecido.

Em grupos e organizações, a criatividade pode ser considerada uma forma de


solução de problemas, envolvendo combinação de idéias de áreas separadas de
conhecimento e saltos de intuição. Estes grupos agregam valor às suas idéias para gerar
produtos que tragam benefícios à comunidade. A adequação destas idéias aos objetivos
propostos é que diferencia a criatividade da divagação, tão temida no meio empresarial
quando se fala em intuição e imaginação.

O que é considerado criativo sofre influência do momento histórico e da


cultura social vigente. Mesmo com a troca de informações e a imposição de valores do
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atual, existem tantas culturas diferentes que o reconhecimento de uma idéia como sendo
criativa depende do lugar em que ela surge. Não se pode falar em uma criatividade
universal. O que é considerado criativo varia no decorrer da história, muitas vezes
devido a modismos. Fora de contexto algo considerado criativo pode não sê-lo e idéias
comuns podem se mostrar de muita
engenhosidade. Por exemplo, as obras de J. S.
Bach e de Van Gogh só foram reconhecidas e seus
autores imortalizados anos depois de suas mortes.

A criatividade ainda hoje retém um ar de mistério. Congrega a ordem e a


desordem; envolve o pleno e o vazio; oscila entre o consciente e o inconsciente; se
equilibra entre o conhecido e o desconhecido; é a fusão da disciplina da lógica com a
arte da intuição.

1.1 CRIATIVIDADE NOS INDIVÍDUOS

Os elementos para se montar uma bicicleta estão todos presentes na natureza.


A borracha, o alumínio, o óleo etc. Mas foi preciso que alguém pensasse em combinar
estes elementos para criar um veículo que aumenta em até dez vezes a força humana,
potencializando sua eficiência na locomoção.

A bicicleta foi primeiro esboçada por Leonardo da Vinci em 1490, e sua


projeção e evolução se deram em diversos países europeus nos próximos séculos. A sua
invenção, assim como de milhares de outros produtos, só foi
possível porque pessoas concretizaram as idéias que tinham
dentro de suas cabeças. É através de seus processos mentais
que as pessoas criam e se auto-realizam ao fazê-lo.

O ato criativo sempre será resultado de dois fatores: os internos ao indivíduo e


os externos. Os elementos externos, como recursos, circunstâncias de vida, outras
pessoas e suas idéias e os produtos já existentes podem até estar à disposição de
qualquer um. Mas os elementos internos, como memórias, preconceitos, pontos de vista,
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conhecimento técnico, imaginação, personalidade e motivação, estes são únicos. Assim


suas idéias serão únicas, levando a produtos novos.

O indivíduo é, portanto, essencial no processo criativo. Uma paixão interior


pode gerar idéias muito mais criativas do que uma motivação externa, como dinheiro ou
ameaças. O psicólogo Abraham Maslow afirmou que os conceitos de criatividade e de
pessoa humana, plena, saudável e realizadora parecem cada vez mais próximos, e talvez
acabem por tornar-se a mesma coisa.

Como será visto na descrição do processo criativo, a criatividade opera tanto


no nível da consciência quanto no da subjetividade. No consciente, tenta obter
inovações do raciocínio lógico. No inconsciente, usa da intuição do indivíduo para
trazer o imaginário à tona. A qualidade da intuição é potencializada pela criatividade
interior: conhecimento sem a necessidade de raciocínio consciente.

O exercício da criatividade é um aprendizado. Ensina a ver as coisas com


novos olhos. Pois muito facilmente o passado atua como uma lente através da qual se
absorve o mundo como um reflexo de experiências passadas. As mudanças tanto no
mundo quanto nas pessoas, especialmente no criador, devem ser respeitadas e
permitidas a participar do processo criativo.

1.2 O PROCESSO CRIATIVO

Muitas vezes se associa criatividade somente à intuição. Criativos seriam


aqueles que têm idéias fantásticas ou lampejos de criação artística. O termo processo
criativo envolve mais do que isto. Contratar artistas não resolve os problemas de uma
empresa. Por quê? Porque as ações empresariais, assim como boa
parte das situações complicadas do dia-a-dia exigem preparo,
investigação, análise e verificação, entre outras etapas, como:

• Insight: entendimento do problema;


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• Preparação: formulação do problema, elaboração de hipóteses e método de


investigação, coleta de dados, procura de padrões, questionamento de
suposições;
• Frustração: irritação com a não capacidade de resolver rapidamente;
• Incubação: abandono ao inconsciente e baixa das defesas;
• Iluminação: descoberta (momento geralmente associado à criatividade);
• Elaboração/Verificação: conscientemente dar forma à idéia e testes.

Nenhuma destas etapas é indispensável à criação. Elas podem inclusive não


seguir esta ordem e até se repetirem. Como exemplo, quando uma criança toma uma
caixa vazia e a transforma em uma espaçonave. Com certeza pode-se dizer que ela usou
de sua criatividade para fazê-lo, mesmo sem ter formulado hipóteses ou abandonado a
idéia ao inconsciente.

Em geral, então, o processo criativo envolve identificar algum problema,


podendo prosseguir de diversas formas. Geralmente parte de informações obtidas do
ambiente, que são então digeridas pelas duas formas básicas de pensamento humano: o
pensamento divergente e o pensamento convergente.

O pensamento divergente é o pensamento fértil, que permite levantar vôo e não


se preocupar com regras e outras limitações. A quantidade de
associações garante um bom número de idéias difusas, que
serão então analisadas e trazidas de volta à terra pelo
pensamento convergente. Esta forma de pensamento é mais
concreta, e tenta antecipar a viabilidade de algo antes de dar
continuidade ao processo.

Portanto, ao contrário do que se pensa, a disciplina é um elemento essencial do


processo criativo. A produção de idéias criativas ocorre de forma disciplinada. E
disciplina não pressupõe rigidez ou estaticidade, mas sim colocar limites que ajudam
cada fase a ter seu tempo de maturação e de ação.
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2 ORGANIZAÇÕES CRIATIVAS

Onde entra a criatividade nas organizações? Mas antes disso, o que é uma
organização?

Organização é o efeito de se organizar algo. Pode ser entendido como tudo o


que essa definição abrange, mas geralmente é mais especificada como um
"estabelecimento ou firma comercial, industrial, bancária etc.", incluindo portanto todo
tipo de empreendimento.

O conceito de organização está relacionado, mais ou menos intimamente, com


instituições e fundações (governamentais, universitárias etc.); constituições físicas,
sociedades, agremiações e parcerias; companhias, trupes, grupos dramáticos e outros
grupos independentes.

É até possível ter-se uma organização de uma só pessoa ou elemento, mas o


estudo da criatividade nas organizações se baseia fundamentalmente nas relações
interpessoais e suas conseqüências nas atividades desenvolvidas por este grupo.

Ações e decisões tomadas em um grupo não são atos independentes; a idéia de


uma pessoa será interpretada e analisada pelos outros, que podem não gostar dela por
melhor que seja. Ter uma idéia não convencional pode ser perigoso. Em uma cerca viva
nenhum ramo quer crescer mais do que os outros para não ser podado primeiro. Fugir
do lugar comum em um ambiente acirrado é arriscar o pescoço.

No ambiente empresarial ter um comportamento criativo é um ato de coragem.


A criação de uma inovação técnica ou social está além dos limites do conhecimento e
do explorado. Os comentários acerca do valor da nova idéia não serão respostas prontas
e, por isso, serão em geral conflitantes. A reação inercial natural da espécie humana
gera atritos por causa das mudanças que devem ocorrer na implementação da idéia. Esta
implementação provavelmente será demorada, exigindo paciência e perseverança por
parte do criador. Se a organização não colaborar, este caminho pode ser solitário,
isolando o criador. Além do mais, uma inovação sempre pode falhar; o sucesso não é
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garantido e a culpa sempre será de quem sugeriu mudar, ameaçando carreiras e, muito
pior, a auto estima do criador.

Ao contrário do que o nome indica, grande parte das organizações não são
organizadas. As idéias e soluções que aparecem acabam por desaparecer em relatórios
padronizados que se contradizem em todos os aspectos, nas estatísticas dos especialistas
que podem provar qualquer coisa que se queira e no excesso de intermediários em nível
hierárquico que impedem a comunicação entre quem faz e quem diz o que deve ser
feito. O isolamento é tanto entre chefes e subordinados e entre setores que executam
tarefas diferentes que nenhuma informação consegue sair de sua célula original.

Na realidade, todos podem ser criativos, e podem dar contribuições em todas as


áreas. A qualidade de produtos não diz respeito somente ao grupo de gestão da
qualidade, e a responsabilidade da qualidade não é somente de seu diretor, mas de todos
os envolvidos, direta ou indiretamente.

Pinchot faz uma boa analogia das organizações. “Considere o corpo humano,
por exemplo: a inteligência para formar células não está
concentrada no cérebro. Ao contrário, a inteligência para
formar o cérebro está em cada uma das células. E a
inteligência do cérebro também não está em nenhuma
célula específica – tal inteligência é uma propriedade
emergente dos relacionamentos entre as células”.

A criatividade está em todo lugar. É preciso apenas saber aproveitá-la.

2.1 GERINDO A CRIATIVIDADE

Coordenar ações criativas a principio se parece com a tarefa de dirigir um


caminhão sem volante e freios, ou mudar a direção dos ventos com uma colher.
Criatividade não se gerencia diretamente como a contabilidade de um departamento de
compras. O processo criativo é como um trem que atravessa um túnel incrustado em
uma montanha: sabe-se o que entrou no túnel e o que saiu dele, mas o que acontece lá
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dentro não se sabe. E talvez não se consiga saber – entrar em um túnel enquanto um
trem passa por dentro dele é um tanto perigoso. Assim, tentar gerenciar ou controlar
uma pessoa criativa pode ser até contra-produtivo.

Os sistemas são organizados para trabalhar com “folhas em branco”; apagar


tudo que a pessoas sabem, pois uma boa parte da bagagem atrapalha mais do que ajuda
em muitos casos. Considerar que o indivíduo não sabe o
suficiente é uma falta de visão gerencial. Ao passo que
investir no potencial pessoal é a estratégia de alto retorno. E
os potenciais individuais se somarão levando a uma
variedade maior de idéias, pelo fato de cada um ser único.
Uma equipe só de atacantes, mesmo que sejam os melhores do mundo, não será
vitoriosa, pois goleiros e zagueiros são indispensáveis. A individualidade estimulada
valoriza o que cada um tem a oferecer ao grupo.

Em organizações, a criatividade não está somente ligada aos indivíduos. Ao


coordenar um grupo, não basta desenvolver o potencial de apenas um integrante. Desta
maneira o grupo como um todo provavelmente sairá perdendo. O conceito de
criatividade se expande para fora da mente individual, levando em consideração
também as interfaces entre os componentes do grupo.

Considerar a criatividade como um processo interno e pessoal parece mais


simples. Palavras não são necessárias para se raciocinar. Ninguém impõe vontades
alheias, podendo-se criar sem restrições. Já em um grupo, não se está lidando com
somente um ego - por mais complexado que possa ser – e o embate de egos e vontades
gera relações de poder e atritos que podem bloquear a criação.

Em um grupo criativo deve haver uma sinergia: as pequenas idéias individuais


sendo somadas de modo a superar seu valor isolado - um todo maior do que a soma das
partes. E isso devido a uma coordenação de esforços e um comprometimento com as
metas do grupo, ao invés de com metas pessoais.

Atos criativos exigem mudanças. Mudanças nos produtos e idéias existentes e


mudanças nos arranjos sociais. Essas mudanças afetam as relações de poder na
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organização, gerando resistência à sua implementação. É por isso que muitas vezes a
criatividade não é estimulada ou colocada como uma meta das empresas. Para superar
essa resistência são necessários outros atos criativos que ajudarão a nova idéia a
percorrer a organização.

A implementação de uma idéia criativa exige alguma atividade política. E nem


sempre quem tem as idéias técnicas criativas terá a habilidade política, ou a criatividade
política, necessária para criar o formato social receptivo a todas as mudanças que
seguirão.

Arthur Shoppenhauer, um filósofo alemão do século XIX, afirmava que toda


nova idéia primeiro é ridicularizada, em seguida atacadas com veemência e por fim é
dita óbvia. Mas a chegada a este último estágio depende de vários atos criativos e uma
briga insistente contra a acomodação. Dentro de uma postura estratégica sistêmica, não
basta estimular e treinar a criatividade. Deve-se cuidar das relações dentro dos grupos e
entre eles , e incentivar a prática da política.

Os atos criativos só precisam de espaço para se desenvolverem. Idéias surgem


aos montes e a todo instante, mas acabam morrendo ainda dentro da mente do criador
por preconceitos pessoais. Ou se sobreviverem a isto e saírem da mente, acabam nos
preconceitos dos outros. É preciso dar o tempo, a oportunidade e o encorajamento para
que vivam o suficiente.

Para produzir subjetividade, a criatividade deve ser


parte da postura estratégica da empresa. Uma postura que
encare o trabalho humano no plano ideológico. Ao invés de
se subordinar à automatização, o homem passa a ser o
elemento diferenciador: transforma a realidade pela sua projeção em um plano
subjetivo, onde nenhuma máquina pode atuar.

2.2 O AMBIENTE EMPRESARIAL


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Para colocar uma idéia em prática, o pensamento precisa se apoiar em algo


concreto. Uma base de partida e um porto para atracar após a viagem. Esses podem ser
desde a estrutura intricada de um projeto de pesquisa universitária até o sorriso de uma
pessoa querida.

Sem alguém que valorize o trabalho que se está realizando, que apoie e aceite
as mudanças que são apresentadas, a criatividade deixa de ser algo estimulante de se
perseguir. O ser humano como ser social busca o reconhecimento dos que o circundam
e dificilmente se mantém interessado por muito tempo em um projeto que o distancia
dos demais.

Assim como a melhor propaganda é a boca a boca (um elogio a um produto


vindo de um conhecido causa muito mais impacto que de um vendedor), alguns dos
melhores incentivos vem das pessoas que se admira e do que está próximo da realidade
pessoal. Neste sentido, o contexto torna-se uma ferramenta chave da administração na
criação de um ambiente criativo. A probabilidade de emergirem soluções criativas pode
ser aumentada pela modificação da situação. Fatores negativos que agem como barreiras
podem ser retirados e podem ser adicionados elementos que estimulam o
desenvolvimento de um clima de liberdade, apoio e valorização da imaginação, da
crítica do pressuposto e da iniciativa.

Normas, valores, tradições, tabus, sistemas de incentivo e punição afetam a


maneira pela qual a criatividade é encarada. A cultura influencia diretamente toda forma
de pensamento humano. É impossível sequer analisar independentemente essa relação
entre cultura e opinião, pois todos estão mergulhados nela. Porém, a cultura pode ser
alterada, intencionalmente ou não, para facilitar o desenvolvimento da criatividade.

É possível criar um ambiente motivador, desafiador, que premia a ousadia


quando se mostra eficiente, mas não a pune quando falha. Um ambiente flexível, que
possibilita a transferência de conhecimento, priorizando a informação. Para conseguir
estas e outras características algumas ações podem ser tomadas, que serão descritas
adiante em Ações para Estimular a Criatividade.
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2.3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

A criatividade assume diferentes facetas dependendo de quem a está


empregando e como. Os próprios conceitos de criatividade individual e de grupo
apresentam conotações distintas. Ela pode aparecer de maneira particular em diferentes
níveis de organização social: indivíduos, grupos, e organizações.

No indivíduo a criatividade é um processo mais interno do que externo.


Depende de características pessoais, influências sociais – como normas e cultura – e
influências contextuais – como recompensas. Já em um grupo a troca de idéias se dá de
forma externa ao ser, sendo limitada pelo meio de comunicação. O desenvolvimento da
criatividade segue porém as mesmas diretrizes, sofrendo influência da performance de
cada integrante, dos aspectos do grupo e novamente do contexto.

A performance criativa de organizações é ainda mais complexa. Aliados à


performance dos indivíduos e grupos que as compõe, suas
características intrínsecas e influências externas – agora
somada a influência que um grupo exerce sobre outro – estão
fatores de ordem distinta. Fatores estes que são verificados
mais na prática do que nas teorias existentes. O uso que se faz
da informação e a estrutura organizacional – burocrática,
liberal, mecanicista, de redes, paralela etc. – têm delimitado atualmente os limites da
performance criativa.

Quando se analisa a performance de um arranjo social complexo como o de


uma organização, conceitos novos surgem que não se aplicavam a indivíduos, como os
conceitos de inovação, eficiência e empreendedorismo, todos ligados à produção de
subjetividade.

Organizações inovadoras são aquelas que introduzem novas tecnologias ou


técnicas de gerenciamento a produtos, serviços e processos mais cedo e com mais
freqüência que seus competidores. Organizações que usam tecnologias simples e
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rotineiras podem operar eficientemente com um maior controle burocrático e menor


flexibilidade e permanecer inovadoras.

Toda empresa tem rotinas e regras. Agir constantemente fora da rotina,


quebrando regras, são características de empresas empreendedoras. Estas empresas são
extremamente criativas, mas com o tempo torna-se necessário realizar operações
rotineiras para conseguir produzir e se manter no mercado. É preciso aprender a ser
inovador.

A aliança entre a velocidade e o tamanho; a subjetividade e a objetividade; a


ousadia e a segurança. A empresa do futuro será ao mesmo tempo criativa e eficiente,
empreendedora e inovadora.

As qualidades apontadas, como velocidade e ousadia, e as qualidades que


determinam a criatividade serão as mesmas neste futuro. O que mudará, então, será a
estruturação das organizações. Para atingir estas mudanças, a criatividade deve fazer
parte de toda a cultura da organização. Como não existe um modelo de cultura
organizacional criativa, cabe a cada uma adaptar a criatividade aos seus processos e
valores. Assim a criatividade se torna um processo iterativo, pois sua implementação
requer grandes doses de criatividade.

Durante esta implementação, para que idéias criativas possam ser identificadas,
avaliadas e estimuladas, a administração deve buscar características como simplicidade,
mensurabilidade e responsabilidade.

As organizações não precisam de revoluções e reviravoltas. Trabalhar com ela


para que não mate uma boa idéia já é um grande avanço. Toda sociedade tenta proteger
o status quo, as relações de poder e as hierarquias vigentes. O entendimento deste fato e
o trabalho conjunto são a chave para os membros da organização reconhecerem a
importância das mudanças.

2.4 AÇÕES PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE


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A criatividade é uma ferramenta essencial na busca não só de melhores


soluções para a organização como um todo, mas também de realização profissional e
pessoal dos seus integrantes. A criação deste local de auto-satisfação depende da
colaboração: cada um contribuindo com o melhor de si, confiando no trabalho do
restante do grupo.

Algumas intervenções são possíveis por parte de quem coordena grupos e até
de quem se considera simplesmente um executor de ordens. Independente de cargo ou
posição na hierarquia, o poder de criar um ambiente de estímulo à criatividade e de
colocá-la a seu favor está em todos que assumirem essa responsabilidade.

Informação. Fornecer as habilidades necessárias para o desempenho das atividades


exigidas, pois em algumas áreas a experiência é essencial para a visualização de
melhorias. Facilitar o acesso a informações do tipo o quê se está fazendo e porquê. É
desgastante explicar porquês para todos, mas algumas sugestões e contribuições deixam
de ser captadas quando ninguém sabe por que está trabalhando. Estimular a integração
entre setores e áreas, com pessoas de pensamento distinto.

Recursos. Disponibilizar os recursos necessários. A falta de recursos pode estimular a


criatividade e esta poderia até ser uma tática a ser empregada, mas os meios para se
atingir os objetivos devem estar disponíveis quando estes se mostrarem necessários.
Um exemplo de recurso é o tempo. Um período de tempo curto, se mau administrado,
pode ser um bom estímulo para se realizar uma tarefa, mas não necessariamente com
qualidade. Um tempo longo pode dar lugar à ociosidade; mas se bem administrado, os
resultados sempre serão em maior número. Há necessidade ainda de momentos de
contato social e outros de isolamento. Há etapas do processo criativo que exigem um
trabalho de reflexão, e sem um tempo e espaço destinados a isso, o processo perde
elementos importantes.

Política. Ações criativas são julgadas por múltiplos domínios sociais – “criadores que
podem ser tecnicamente astutos não são necessariamente politicamente astutos”. Para
manter uma idéia criativa viva e conseguir implementá-la é necessário que criadores e
gerentes sejam treinados na política da criatividade e da inovação.
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Quebra de Preconceitos. Procura de preconceitos e eliminação deles. O preconceito (ou


pré-conceito) é uma das maiores barreiras à criatividade. Questionar as respostas
prontas e procurar entender por que alguma noção ou estrutura existe é o começo da
quebra de paradigmas. Deve-se procurar mais do que uma resposta. A primeira solução
encontrada para um problema nem sempre é a melhor. Como quanto maior o número
de tentativas, maior o número de erros, é preciso ter disposição para correr riscos e
aprender com eles.

Metas. Metas para criatividade são raramente articuladas em organizações – a


experiência ensina as pessoas que ser criativo pode levar a punições, muitas vezes
colocando a criatividade como uma meta a ser evitada. É preciso mostrar que a
criatividade será recompensada quando eficiente, e não será punida se uma idéia
fracassar. Muitas vezes as idéias criativas surgem quando a pessoa está realizando
atividades fora do seu serviço, como em casa lavando a louça. Mas para que a pessoa
queira pensar, mesmo que inconscientemente, nos problemas de seu trabalho, ela deve
estar motivada para isso. Um ambiente de criação e liberdade deve vigorar na empresa,
e todos os objetivos e metas devem ser associados à criatividade. Estas metas devem
ser revistas constantemente, adequando-as às mudanças decorrentes.

Ambigüidade. As pessoas criam certezas impondo interpretações familiares a situações


ambíguas – assim um nova informação será sempre moldada aos padrões existentes ou
simplesmente ignorada. Cultuar uma apreciação pela ambigüidade e
pela dúvida e os líderes adotarem uma postura mais reflexiva
encorajam as pessoas a prestarem mais atenção às maneiras como
vêem o mundo. Ações criativas ocorrem geralmente como respostas à
ambigüidade. Porém a mesma ambigüidade pode gerar ansiedade e
posterior retração se não for criada uma cultura de apoio, baseada em
emoções positivas, como interesse, entusiasmo e satisfação, que levam a sentimentos
de segurança e conforto.

Satisfação. Elogiar a busca da resposta criativa. Uma palavra de reconhecimento de


alguém que se respeita vale muito mais do que qualquer recompensa. É preciso elogiar
inclusive as tentativas frustradas, pois estas dificilmente despertam simpatia, mas
reprovação. As pessoas precisam se sentir bem no seu trabalho, sentir que fazem parte
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de algo importante e se beneficiar dos resultados positivos. O grupo deve ser associado
à imagem da família, onde as pessoas estão ligadas umas às outras, devendo confiar nos
outros e buscar a evolução do grupo como um todo.

Desafios. Proporcionar desafios. As tarefas devem estar à altura da capacidade da


pessoa ou um pouco acima, para estimular a constante formação e atualização. Mas as
pessoas muitas vezes não acreditam em seu potencial criador – aumentar a confiança na
capacidade criativa através de uma estratégia de pequenas vitórias é uma saída. E a
estratégia gerencial mais usada é a de entregar o poder de decisão e ação (conhecida
como empowerment).

Todos estão acostumados a aceitar o que vem sem perceber que têm inúmeras
sugestões de alternativas. Os cérebros são músculos que se acomodam se não
exercitados; e a criatividade é um dos melhores e mais divertidos exercícios que
existem. Dentro de cada organização estão as idéias de como exercer melhor suas
funções, atingir os resultados esperados e de satisfazer aos que trabalham nela.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Revista de Administração de Empresas,


São Paulo, v. 38, n. 2, p. 18-25, abr./jun. 1998.
2 BASTO, M. L. S. L. Fatores inibidores e facilitadores ao desenvolvimento da
criatividade em empresas de base tecnológica : um estudo de caso.
Florianópolis, 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) -
Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina.
3 BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Ed. rev.
São Paulo : FTD : LISA, 1996.
4 DAMANPOUR, Fariborz. Is your creative organization innovative? In : FORD,
Cameron M.; GIOIA, Dennis A. (Eds.). Creative action in organizations.
London : Sage Publications, 1995. p. 125-130.
5 FORD, Cameron M.; GIOIA, Dennis A. Guidelines for creative action taking in
organizations. In : FORD, Cameron M.; GIOIA, Dennis A. (Eds.). Creative
action in organizations. London : Sage Publications, 1995. p. 355-366.
6 FROST, Peter J. The many facets of creativity. In : FORD, Cameron M.; GIOIA,
Dennis A. (Eds.). Creative action in organizations. London : Sage
Publications, 1995. p. 121-124.
7 NOVAES, Maria Helena. Psicologia da Criatividade. Petrópolis : Vozes, 1971.
8 OECH, Roger von. Um “toc” na cuca. São Paulo : Cultura, 1988.
9 _________. Um chute na rotina. São Paulo : Cultura, 1994.
10 PINCHOT, Gifford. Organização inteligente usa toda capacidade de seus
funcionários. Folha Management, São Paulo, n. 24, p. 1-4, jan. 1996.
11 ROCHA, R. A. O pensamento racional lógico, a intuição e a criatividade no
processo de administração estratégica : um estudo de multicasos.
Florianópolis, 2000. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Centro
Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina.
12 ST. MARK, Carole F. Fostering creativity in large organizations. In : FORD,
Cameron M.; GIOIA, Dennis A. (Eds.). Creative action in organizations.
London : Sage Publications, 1995. p. 275-279.
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13 WOODMAN, Richard W. Managing creativity. In : FORD, Cameron M.; GIOIA,


Dennis A. (Eds.). Creative action in organizations. London : Sage
Publications, 1995. p. 60-64.

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