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Aprendendo a fazer concursos

Waldir Santos*

O Brasil presencia um excessivo crescimento do número de pessoas


dedicadas à disputa por um cargo público. Esse fenômeno sazonal, causado
pela proibição legal de contratação no período eleitoral, bem assim pelo
descuidado acúmulo de vagas na administração pública, que denuncia a
desorganização administrativa com o surgimento de caos localizados, traz ao
cenário pessoas não suficientemente informadas a respeito dos meandros da
disputa por um cargo público efetivo.
Muitos desses candidatos são profissionais de alto gabarito, com
sólida formação técnica, dispostos para o estudo, ou seja, aparentemente
futuros servidores. Suas qualidades interessam à administração, que em troca
dar-lhes-á a tão sonhada estabilidade, uma aposentadoria um pouco mais
digna, e um bom ambiente de trabalho. Esbarram, no entretanto, esse atores
do casamento perfeito, num inimigo desconhecido, um fator muito pouco
considerado na disputa, e que tem sido a razão da desistência de muita gente:
os marinheiros de primeira viagem não sabem fazer concurso, e quando, se
persistirem, aprendem, já estão aprovados em alguns concursos, e somente aí
se dão conta de quanto tempo perderam, e quanto esforço desperdiçaram.
Mas aí, para eles, pouco vai importar, pois a hora será de comemoração.
É voz corrente dizer-se que o concurso é coisa para maratonistas,
super-homens, e que disponham de muito tempo para os estudos. É o que
ocorre quando o político sagaz espalha sorrateiramente a balela de que
somente que tem milhões para gastar poderá ser eleito, afastando a
concorrência que preocupa. No caso dos concursos, porém, o que ocorre não
advém da astúcia, mas exatamente da desinformação. Quando o concurseiro
ainda não aprovado intimida o seu colega com as informações aterrorizantes
sobre “o sacrifício que é se preparar para um concurso”, exibe apenas a
desinformação que assola a sofrida classe, enquanto busca justificar os seus
resultados.
Mas retomemos a linha inicial. Falávamos do concurseiro eventual.
Aquele que, sendo formado em área que oferece poucas vagas e em
concursos raros (farmácia, química, comunicação, psicologia, turismo, entre
outras), acredita que o mais correto é se inscrever apenas na sua área, pois
assim suas chances aumentam. Essa atitude traz uma discreta carga de
vaidade, do medo de não passar, e lhe tira a oportunidade de aprender a fazer
concurso, de adquirir a indispensável experiência. Engana-se quem acredita
que “para passar, basta estudar”. Se assim fosse, notaríamos uma conta que
não fecha, já que a quantidade de gente que estuda, e seriamente, é muito
maior que a de aprovados. Ora, quem cumpre a regra quer o resultado, a
recompensa prometida. Onde estaria esse erro, então?
Seria tolice acreditarmos que quem estuda mais sempre aprende mais,
já que sabemos que a técnica de estudo, o ambiente, a dosagem, o método de
aferição periódica de aprendizagem, o “saber fazer prova”, em lugar de
apenas saber a matéria, entre muitos outros fatores, interferem no proveito
que se tira das horas dedicadas à preparação. E mais que isso, também é
errado supor que quem aprende mais tira notas maiores, já que em seu
desfavor contam o nervosismo, o “branco”, a escolha da vaga na cidade mais
concorrida, o fato de não se observar que determinada matéria tinha o dobro
do peso da outra, o desconhecimento de seus direitos básicos, quando se
poderia recorrer ao judiciário etc. Isso pode ser aprendido em poucas horas.
Os milhões de brasileiros que fazem concursos não têm idéia de quantos são
reprovados diariamente por questões que não estão nas provas previstas no
edital.
Há uma longa lista de fatores que recomenda ao candidato, se quer
uma aprovação mais rápida, como é natural, que não se permita aprender
com as didáticas quedas apenas, mas sim com a experiência alheia,
encurtando o caminho. Tolo é quem pensa em aprender somente consigo
mesmo.
Não estamos pregando, evidentemente, ser tarefa fácil a aprovação
nos concursos. Mas podemos garantir que não é o que se pinta. Muitos
candidatos se surpreendem, por exemplo, ao saberem que alguns cargos
interessantes são disputados por um ou dois candidatos apenas, em
concursos poucos divulgados, já que, sendo concurseiros eventuais, são
atraídos somente pelos grandes, famosos e tradicionais concursos do INSS,
PRF, Bacen, SRF, Tribunais Federais, CEF, Petrobrás etc, em que, com a
ajuda da grande mídia, centenas de candidatos, muitos deles apenas
números, disputam uma vaga.
Também não é do conhecimento da maioria o fato de que, em muitos
concursos dos quais candidatos com chances correm devido ao número de
vagas, quando são anunciadas 3 ou 4, acabam sendo chamadas centenas de
pessoas. Há muitos exemplos disso nos TRTs, TREs e TRFs.
Para encurtar a conversa, concluiremos, sem medo de errar, dizendo
que informação e técnica contam, muitas vezes, muito mais que o
conhecimento, desde que este atinja o mínimo para não eliminar o candidato.
Quem já passou em concurso sabe do que estamos falando.

* Waldir Santos é Professor,


Advogado da União e Conselheiro da
OAB-BA. E-mail:
concurseiros@concurseiros.com.br.

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