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Os Sistemas de Edição de Vídeo: linear versus

não-linear
Instituto Politécnico da Guarda

Carlos Canelas

Índice programa audiovisual em vários horários


(White, 1988; Almeida 1990). Durante
1 O Surgimento da Edição de Vídeo 2 muito tempo, os programas televisivos foram
2 O que se entende por Edição de Vídeo 3 transmitidos “ao vivo” ou em directo e caso
3 Os Sistemas de Edição de Vídeo 4 fosse necessário gravá-los, para serem re-
4 Conclusão 10 transmitidos e/ou, simplesmente, para serem
5 Referências Bibliográficas 10 preservados em arquivo, tinham de ser reg-
istados em película. Porém, a utilização
Resumo do filme, como suporte de registo por parte
das estações de televisão, era caro e mo-
No presente artigo, pretendemos apresen- roso, dado que, após a captação das imagens,
tar uma breve retrospectiva histórica dos havia a necessidade da sua revelação num
sistemas de edição de vídeo, expondo os complexo laboratório e, uma vez revelado
dois tipos de sistemas, os linearese os não- o filme, este não poderia ser reutilizado no
lineares. registo de outro acontecimento (Henriques,
Palavras-chave 1994). Assim, tornou-se urgente a invenção
Comunicação Audiovisual; Edição de de um meio próprio que possibilitasse o ar-
Vídeo; Sistemas de Edição de Vídeo; Vídeo. mazenamento de imagens e sons em simultâ-
1. Introdução neo e que permitisse também a sua repro-
Desde o surgimento da televisão que exis- dução instantânea (Henriques, 1994).
tiu a necessidade de se encontrar um método Em 1956, no encontro da Associação
fiável de armazenamento de imagem e do de Radiotelevisão, em Chicago, uma em-
correspondente áudio que permitisse, por presa norte-americana, a Ampex, apresentou
um lado, a difusão imediata e, por outro, o primeiro gravador de videotape (VTR =
a retransmissão dos programas televisivos videotape recorder) (White, 1988; Browne,
noutros horários (White, 1988). A título de 1989; 2002). De acordo com os autores
exemplo, nos Estados Unidos da América, Gordon White (1988) e Steven E. Browne
devido ao fuso horário verificado em al- (1989; 2002), o primeiro gravador de vídeo
guns Estados, as estações televisivas norte- profissional foi obra de uma equipa de en-
americanas precisavam de emitir o mesmo
2 Carlos Canelas

genheiros na qual se destacaram os nomes por que fosse possível editar ou montar a
de Charles Ginsberg, Charles Anderson, fita de vídeo como se montava a fita de áu-
Ray Dolby, Fred Pfost, Shelby Herderson dio. No entanto, rapidamente se percebeu
e Alex Maxey. Este equipamento audiovi- que isso não era possível, compreendendo-se
sual cumpria todos os requisitos de qual- que a montagem física da fita de vídeo seria
idade para radiodifusão (broadcast) e uti- a primeira solução (Raimondo Souto, 1993).
lizava o sistema de gravação transversal, A edição de vídeo foi introduzida dois
designando-se por quadroplex, porque us- anos após a invenção do registo magnético
ava quatro cabeças (Martinez Abadía, 1997). de vídeo, ou seja, em 1958, começando por
Meio ano após a sua apresentação, as princi- ser uma edição física, tal como se praticava
pais estações de televisão norte-americanas na montagem cinematográfica (Browne,
possuíam os VTRs como equipamentos in- 1989; 2002; Almeida, 1990; Henriques,
dispensáveis (Almeida, 1990). 1994). Este processo, como lembram
Este sistema de gravação de vídeo revolu- Manuel Faria de Almeida (1990), José Fér-
cionou a indústria da televisão, uma vez que, nandez Casado e Tirso Nohales Escribano
a partir da sua criação, existia a possibili- (2003), era complexo, na medida em que a
dade de registar programas audiovisuais para imagem e o respectivo som eram registados
serem difundidos e retransmitidos a qual- separadamente, o que criava grandes prob-
quer hora, evitando os erros que surgiam lemas aquando da sua sincronização. Para
com alguma frequência nos directos, e até Carlos Alberto Henriques (1994), este pro-
se podia intercambiar e comercializar pro- cesso era muito mais crítico do que na mon-
gramas audiovisuais entre operadores televi- tagem feita em película, porque as imagens
sivos (White, 1988; Martinez Abadía, 1997). não eram vistas a olho nu, pelo que a proba-
bilidade de não se efectuar o corte no ponto
A invenção do primeiro reprodu- certo era muito grande, e, por conseguinte,
tor/gravador de programas televisivos ńa colagem de dois pedaços de programa
permitiu não só reduzir os custos de pro- na zona visível da imagem poderia resul-
dução, como racionalizar melhor os meios tar numa perturbação não admissível em sis-
técnicos e humanos disponíveis (Henriques, temas profissionaisż (Henriques, 1994: 86).
1994). Nos meados da década de 60 do século
passado, a Ampex introduziu o processo de
edição electrónica (Browne, 2002). Este pro-
1 O Surgimento da Edição de
cesso ainda é hoje utilizado, obviamente com
Vídeo as devidas evoluções, nomeadamente pelos
Tal como se viu no ponto anterior, o vídeo editores que utilizam os sistemas de edição
transformou radicalmente a produção tele- linear (os sistemas de edição de vídeo serão
visiva. Todavia, nos primeiros tempos da abordados posteriormente). Este processo de
gravação de vídeo não era possível montar edição de vídeo supôs uma mudança radical
ou editar na fita de vídeo. Os antecedentes na actividade de editar um programa tele-
da gravação magnética do som fizeram su- visivo, visto que, pela primeira vez, o edi-
tor já não estava em contacto físico com o

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material audiovisual em bruto. O princípio no trabalho de edição ser “corta”, a melhor


da edição electrónica, como esclarece Mario forma de abordar este processo é pensar nele
Raimondo Souto (1993), está fundamentado como um método de selecção. Deste modo,
na transcrição ordenada de sectores grava- o trabalho do editor de vídeo não consiste
dos numa fita original, sejam planos, cenas em eliminar planos, mas em seleccionar os
ou sequências, para uma nova fita de vídeo. planos que lhe interessam, ordenando-os da
Este procedimento requer, no mínimo, um forma que achar mais adequada.
magnetoscópio reprodutor que pode ser des- Por seu turno, Herbert Zettl (2006) atribui
ignado por fonte; um monitor para visionar quatro funções à edição de vídeo: combi-
o material audiovisual em bruto que está a nar, ordenar, corrigir e construir. Na primeira
ser reproduzido pelo leitor; e outro magne- função, Zettl (2006) considera que a forma
toscópio que registe o material seleccionado mais simples de editar é combinar os planos,
e outro monitor que permite visionar o mate- unindo-os de forma a obter uma sequência
rial gravado. A interconexão entre os equipa- adequada de acordo com os objectivos do
mentos de reprodução e de gravação, com programa audiovisual. Quanto à função or-
vista a facilitar o trabalho do editor, pode ser denar, muitas das operações efectuadas na
estabelecida através de uma consola denom- edição passam pela selecção e ordenação dos
inada por controlador de edição (Raimondo planos captados e, consequentemente, pela
Souto, 1993; Browne, 2002; Zettl 2006). rejeição dos planos que não vão ser utiliza-
A gravação e a edição de vídeo permi- dos. A título de exemplo, no jornalismo tele-
tiu ocultar os erros que ocorriam frequente- visivo, o repórter de imagem regista vários
mente nas emissões televisivas transmitidas minutos de material audiovisual em bruto
em directo e produzir programas audiovi- que irá dar origem a uma peça noticiosa de
suais com a duração exacta do seu tempo de um a dois minutos. Assim sendo, o ma-
antena, o que antes só era possível registando terial audiovisual captado está sujeito a um
os programas em película, da mesma forma processo de selecção. Ainda nesta função,
que se fazia na produção cinematográfica. na maioria das situações, a ordem de cap-
tação de imagens, devido a questões essen-
cialmente práticas, não é a disposição que
2 O que se entende por Edição de
terá quando forem apresentadas, por isso, as
Vídeo imagens têm de ser ordenadas. No que re-
Na concepção de Peter Ward (2000), a speita à terceira função, a maior parte das
edição de vídeo é um processo que consiste tarefas de edição consiste em corrigir falhas,
em seleccionar e coordenar um plano com quer seja para eliminar planos mal captados,
o seguinte, com vista à construção de uma quer para substituí-los por outros mais ade-
sequência de planos que formem, por sua quados. Por último, a função de construir
vez, uma narrativa lógica e coerente. Harris é aquela que exige mais do editor de vídeo,
Watts (1990), autor de diversos manuais de não em termos de conhecimentos técnicos,
produção de filme e vídeo para a BBC, en- mas sobretudo em termos estéticos e cria-
tende que, apesar de a palavra mais comum tivos, sendo com certeza a mais satisfatória,
pois é nesta fase que o profissional da edição

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de vídeo pode dar asas à sua criatividade e à Zettl (2006), todos os sistemas de edição
sua veia artística. que usam a fita de vídeo são lineares, inde-
O editor, para cumprir as funções anteri- pendentemente do material audiovisual em
ormente descritas, tem de optar por um dos bruto esteja gravado em sinal analógico ou
dois sistemas de edição de vídeo, o linear ou digital. Por sua vez, a edição não-linear
o não-linear. de vídeo está relacionada com os recursos
disponibilizados pelos computadores. Esta
nomeação, não-linear, decorre da possibili-
3 Os Sistemas de Edição de Vídeo
dade de que as imagens têm de serem pro-
Os sistemas de edição de vídeo podem ser cessadas de modo aleatório, já que se encon-
lineares e não-lineares. A designação linear tram gravadas no disco duro do computador
advém, por um lado, da forma como se tem ou em discos ópticos.
acesso ao material audiovisual em bruto e, A grande diferença operativa entre estes
por outro lado, do modo como este vai ser dois sistemas transformou o conceito básico
ordenado na versão final. de como se pratica a edição de vídeo. Zellt
Tal como foi referido no ponto anterior, (2006) destaca que a edição linear de vídeo
o processo técnico da edição de vídeo passa é fundamentalmente uma selecção de planos
pela selecção e ordenação de planos. Desta que são copiados para uma nova fita segundo
forma, o editor de vídeo tem a necessidade uma determinada ordem, sendo o seu princí-
de visionar o material audiovisual em bruto pio operativo a cópia. Ainda para o mesmo
para poder definir quais os planos que vai autor (Zellt, 2006), a edição não-linear de
utilizar, bem como a ordem que estes terão vídeo, não copiando determinados fragmen-
no produto final. Este aspecto, o do acesso tos gravados (como sucede na edição lin-
ao material audiovisual em bruto, é uma das ear de vídeo), possibilita a reorganização de
grandes diferenças entre os dois sistemas de diferentes planos. A edição não-linear de
edição. Enquanto na edição linear de vídeo vídeo permite a selecção de planos através
para se visionar o plano C é necessário pas- de arquivos de imagem organizados por uma
sar, primeiramente, pelos planos A e B, no ordem específica. O princípio operativo da
caso da edição não-linear de vídeo, se o edição não-linear de vídeo é a reorganização
profissional da edição de vídeo tiver conhec- de ficheiros de dados de vídeo e áudio.
imento da localização do plano C, consegue A edição linear de vídeo exige uma maior
localizá-lo de uma forma quase instantânea planificação por parte do editor, na medida
sem ter a necessidade de passar pelos planos em que é mais difícil fazer modificações na
que o antecedem. Ora, na grande parte das versão editada. O trabalho linear significa
situações, a edição em sistema de edição seguir uma ordem (uma linha) do princípio
não-linear de vídeo é muito mais rápida do ao fim. Por seu lado, a edição não-linear de
que se a edição fosse realizada num sistema vídeo tenta romper com essa estrutura ao não
de edição linear de vídeo. seguir uma ordem estabelecida.
A edição electrónica, tendo por base a
fita de vídeo, é o exemplo da edição de lin-
ear vídeo. Tal como nos explica Herbert

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3.1 Sistema de Edição Linear de tificação até ser desenvolvido o código de


Vídeo tempo, também conhecido por Time Code,
sinal em forma de horas, minutos, segun-
A edição linear de vídeo, ainda utilizada dos e frames (00:00:00:00). Em 1972,
na actualidade, mas que pouco a pouco normalizou-se este sistema de identificação
está a ser substituída pela edição não- como SMPTE (as iniciais de Society of
linear de vídeo, possui métodos e modali- Motion Picture and Television Engineers).
dades próprias de trabalho. Seguidamente, Esta invenção permitiu um grande avanço
apresentam-se os métodos e as modalidades no campo da edição de vídeo, porque não
da edição linear de vídeo. só permitia a identificação de frames, como
também facilitava o seu acesso (White, 1988;
3.1.1 Métodos de Edição: Insert e En- Fernández Casado e Nohales Escribano,
samble 2003). Para José Martinez Abadía (1997),
Quando o editor usa um sistema de edição as vantagens deste sistema de identificação
linear de vídeo, este pode optar por um dos de frames são basicamente três, a saber:
seguintes métodos de trabalho: edição por primeira, a duração de um programa pode
insert ou edição por ensamble. Mas antes de ser determinada com precisão de quadro
se expor estes dois métodos de edição é pre- (frame); segunda, por meios electrónicos é
ciso esclarecer alguns conceitos para o seu possível o intercâmbio entre sistemas através
entendimento. do código de tempo (o que tornou possível a
Na edição de vídeo, seja recorrendo a um existência dos sistemas de edição off-line2 );
sistema linear ou sistema de não-linear de e, por último, os magnetoscópios podem ser
vídeo, um ponto muito importante, como sincronizados com uma precisão absoluta no
refere Samuel Ebersole (1993), é o editor processo de edição de vídeo.
ter a possibilidade de aceder com precisão Por outra parte, como clarifica Herbert
a um determinado quadro1 da fita de vídeo. Zettl (2006), as fitas de vídeo são, por norma,
Neste sentido, em 1967, foi apresentado, constituídas por quatro pistas: a pista de
sob o patrocínio da Society of Motion Pic- vídeo que contém a informação de imagem,
ture and Television Engineers dos Estados duas pistas de áudio que contêm toda a
Unidos, um método de identificação precisa informação de som e uma pista de con-
de frames da fita de vídeo (Browne, 1989; trolo. Esta última pista é formada por im-
2002; Raimondo Souto, 1993). A fita de pulsos electrónicos que são gravados con-
vídeo não dispunha de um sistema de iden- juntamente com o sinal de vídeo e de áu-
dio, permitindo localizar, através do código
1
No cinema, a cada quadro dá-se o nome de fo- de tempo, a posição de cada um dos frames
tograma, correspondendo a 24 imagens por segundo. gravados na fita de vídeo (Ebersole, 1993).
Em televisão e vídeo, os quadrados são geralmente
denominados por frames. Em países com a norma de
Deste modo, os impulsos de sincronismo são
televisão NTSC (National Television Standard Com- 2
Edição do material de vídeo utilizando equipa-
mittee), como os Estados Unidos, tem 30 (29,97) mentos de baixo custo para produzir a primeira versão
frames por segundo; o sistema PAL (Phase Alternate antes de usar equipamentos dispendiosos de padrão
Line), como Portugal, possuiu 25 frames por segundo. broadcast para o trabalho final (Dancyger, 2006).

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aplicados quando a fita é gravada, nem que tar primeiro as imagens e, só posteriormente,
seja a negro (sem imagem e sem som). O es- o áudio ou vice-versa; por último, permite
clarecimento feito sobre a pista de controlo, fazer um insert, quer dizer, é possível trocar
segundo José Martinez Abadía (1997), é ful- um plano ou uma cena em qualquer ponto da
cral, uma vez que o que diferencia a edição fita sem ter de transcrever a fita inteira e sem
por insert da edição por ensamble é o trata- prejudicar o que já está gravado, desde que as
mento que é dado à referida pista. novas imagens e/ou sons sejam recolocados
Na edição por insert, a pista de con- com a mesma duração das imagens e/ou sons
trolo permanece inalterada, dito por outras que estão a ser substituídos. Por estas razões,
palavras, não se gravam e não se apagam este método de edição é o preferido dos edi-
os impulsos electrónicos nesta pista, respei- tores quando usam o sistema de edição linear
tando os que a fita tinha gravado anterior- de vídeo (Raimondo Souto, 1993).
mente. Por este motivo, quando se usa este A edição por ensamble é recomendada,
método de edição de vídeo, o editor tem de na perspectiva de Mario Raimondo Souto
utilizar uma fita previamente gravada sem in- (1993), quando o editor só tem a intenção
terrupções. Assim, o editor tem de preparar de unir planos. Na mesma linha, Robinson
a fita antes de iniciar a edição de vídeo, efec- e Beards (1981) frisam que o editor pode
tuando uma gravação a negro, isto é, efec- recorrer à edição por ensamble quando pre-
tuando um registo sem sinal de vídeo e de tender acrescentar novas sequências a seguir
áudio. às que já estavam gravadas. Por seu turno,
Enquanto na edição por ensamble, os Peter Rea e David Irving (2001) assinalam
sinais de vídeo e de áudio, o código de tempo que este método de edição pode também ser
e a pista de controlo têm obrigatoriamente usado quando o editor pretender copiar ou
de ser gravados em simultâneo. Peter Rea duplicar o conteúdo de uma fita para outra
e David Irving (2001) explicam que, neste de uma forma directa e sem interrupções.
método de edição de vídeo, o conteúdo de Para além de o profissional de vídeo ter de
uma fita de vídeo é substituído na íntegra, ou escolher qual o método de edição que mel-
seja, o videogravador, quando grava, substi- hor se adapta às exigências do seu trabalho,
tui o sinal registado, vídeo, som, código de terá de ver se a modalidade de edição que
tempo e pista de controlo. tem disponível lhe permite efectuar o tra-
A edição por insert apresenta grandes balho pretendido.
vantagens quando comparada com a edição
por ensamble. Autores como Harris Watts 3.1.2 Modalidades de Edição: Corte e
(1990), Mario Raimondo Souto (1993), Pe- A/B Roll
ter Rea e David Irving (2001), Steven E.
Browne (2002) e Herbert Zellt (2006) desta- As modalidades, utilizadas na edição em fita
cam como principais vantagens: a elimi- de vídeo, são denominadas por edição por
nação de saltos e distorções na imagem, re- Corte e por A/B Roll. Estas duas modali-
sultantes da irregularidade da pista de con- dades diferenciam-se pela forma como o ed-
trolo; a possibilidade de editar imagem e itor de vídeo pode efectuar a ligação entre
som de forma independente, podendo mon-

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planos e, também, pela velocidade a que se de vídeo, convertendo-se, desta forma, num
tem acesso ao material audiovisual em bruto. método mais flexível.
A edição por Corte é um tipo de edição Com o surgimento dos sistemas de edição
simples, uma vez que a ligação entre planos não-linear de vídeo, principalmente da ger-
é feita através de corte, dito de outro modo, ação baseada nos discos magnéticos de
não existe qualquer efeito de transição na lig- computador, as tarefas de edição de vídeo
ação de planos. Nesta modalidade, o editor ficaram mais fáceis de realizar.
necessita de dois equipamentos de vídeo, um
VTR que desempenhe a função de leitor e o 3.1.3 Sistemas de Edição Não-linear de
outro VTR que exerça a função de gravador. Vídeo
A transição ou a passagem de plano, como já
salientámos, é feita somente através de corte. O advento da edição digital não-linear de
Na edição A/B Roll, de acordo com vídeo transformou radicalmente os proces-
Robinson e Beards (1981), o editor precisa sos de produção de cinema, televisão e vídeo
de pelo menos três VTRs: dois como fontes (Browne, 2002; Dancyger, 2006; Harring-
de vídeo e outro como gravador. Com a in- ton et al., 2008). Actualmente, todos os sis-
corporação de um misturador de vídeo en- temas de edição não-linear de vídeo estão
tre VTRs, o editor tem a possibilidade de in- assentes em computadores, quer em hard-
serir efeitos especiais de transição, títulos e ware quer em software, que podem cap-
mistura de áudio entre os dois VTRs de re- turar (digitalizar) material audiovisual em
produção, para ser registado pelo VTR de bruto e armazená-lo em discos magnéticos
gravação. A união de planos pode ser mais de grande capacidade ou em discos ópticos
suave, aplicando, por exemplo, um efeito de (Zellt, 2006). Contudo, como esclarecem
encandeado entre dois planos. Bernardo Cardoso (2003), José Fernández
Para além da modalidade A/B Roll per- Casado e Tirso Nohales Escribano (2003)
mitir aplicar efeitos, possui outra vantagem. e Richard Harrington, Mark Weiser e Rhed
Ainda que este procedimento necessitar Pixel (2008), nem sempre foi assim. Até
geralmente de três VTRs, o tempo de edição chegarmos aos actuais sistemas de edição
pode ser relativamente curto, porque um dos digital não-linear de vídeo, um longo cam-
VTRs de leitura rebobina a fita para um inho foi percorrido.
novo ponto, enquanto o outro leitor repro- O desenvolvimento dos sistemas de
duz o material audiovisual em bruto que edição não-linear de vídeo teve início na dé-
o VTR gravador regista e assim sucessi- cada de 70 do século XX (Ohanian, 1998;
vamente. Não obstante, esta técnica, na Browne, 2002; Fernández Casado e No-
opinião de Robinson e Beards (1981), requer hales Escribano, 2003). Os autores José Fer-
uma organização complexa e cada ponto de nández Casado e Tirso Nohales Escribano
edição deve ser conhecido como precisão. (2003) subdividem a evolução dos sistemas
Para Herbert Zellt (2006), a grande van- de edição não-linear de vídeo em três ger-
tagem de se editar em A/B Roll é que o ed- ações. A primeira geração baseava-se em
itor tem acesso ao material audiovisual em fita de vídeo, a segunda em videodisco ou
bruto proveniente de pelo menos duas fontes laserdisc, e a terceira e a mais recente ger-

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ação no armazenamento de vídeo em disco tavam num processo de busca dos planos
magnético de computador. Cada sistema seguintes e preparavam-se para reproduzir
possuía as suas especificidades, devido so- (Ebersole, 1993). O principal objectivo deste
bretudo à tecnologia utilizada, mas os ob- tipo de sistema passava pela obtenção de
jectivos a alcançar eram similares: obter uma edição não-linear mediante a utilização
acesso aleatório e rápido ao material audio- de várias máquinas, tornando o processo de
visual em bruto; conseguir uma edição não selecção de material audiovisual em bruto
sequencial; permitir efectuar modificações mais rápido (Fernández Casado e Nohales
com mais facilidadee reduzir o tempo de Escribano, 2003).
edição (Ohanian, 1998; Browne, 2002; Fer- Este sistema de edição não-linear de vídeo
nández Casado e Nohales Escribano, 2003; foi apresentado nos meados dos anos de
Harrington et al., 2008). 1970 com o nome de CMX 600 pela empresa
Os primeiros sistemas de edição não- CMX Systems (Ohanian, 1998; Browne,
linear de vídeo produziam um resultado fi- 2002; Damásio, 2002; Fernández Casado e
nal de fraca qualidade e eram usados, essen- Nohales Escribano, 2003; Harrington et al.,
cialmente, para trabalhos em off-line (pré- 2008). Este primeiro possuía grandes lim-
edições de baixa qualidade) (Shufflebottom, itações no que respeitava à sua capacidade
2001). de processamento e à perda de qualidade que
se verificava nas sucessivas cópias. Além do
3.1.4 Sistemas de Edição Não-linear de mais, era um sistema muito caro.
Vídeo baseados em Fita de Vídeo Durante alguns anos, não houve avanços
significativos e já em plena década de 1980,
O primeiro sistema de edição de vídeo não- mais precisamente no ano de 1984, surgiu
linear, baseado em fita de vídeo, era con- a MONTAGE PICTURE PROCESSOR, um
stituído por vários magnetoscópios reprodu- ano depois a EDIFLEX e a TOUCHVI-
tores, nos quais eram inseridos cópias do SION em 1986. Contudo, apesar de cada
original; um computador, funcionando como um dos sistemas apresentar uma interface e
controlador de edição e, por último, um mag- um método de trabalho diferente, todos tin-
netoscópio gravador que registava a edição ham o mesmo objectivo: obter uma edição
final. Após a inserção da lista que continha não-linear perante a utilização de múltiplos
as decisões sobre a edição (EDL3 ), o com- equipamentos, isto é, fazendo uso de várias
putador procurava, nos vários magnetoscó- fontes de imagem e de áudio (Fernández
pios reprodutores, o sinal que estivesse mais Casado e Nohales Escribano, 2003).
próximo. Deste modo, este processo permi- Pese embora os sistemas referidos se-
tia uma procura mais rápida do material au- jam considerados não-lineares, no que con-
diovisual em bruto, visto ser inserida uma cerne à procura das imagens em bruto, não
lista (EDL) no computador. A procura de dispunham de acesso aleatório, visto que se
imagens era feita de forma automática, pois usavam fitas de vídeo. Assim, o acesso ao
enquanto um leitor reproduzia, os outros es- material audiovisual em bruto continuava a
3
EDL – Edit Decision List ser sequencial (Ebersole, 1993). A geração

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seguinte de sistema de edição não-linear de Em 1984, foi apresentado, pela empresa


vídeo tentou resolver este problema. LucasArts Editing Systems, o primeiro sis-
tema baseado em laserdisc denominado por
3.1.5 Sistemas de Edição Não-linear de EDITDROID I. Cinco anos mais tarde, em
Vídeo baseados em Laserdisc 1989, a mesma empresa lançava o EDIT-
DROID II (Fernández Casado e Nohales Es-
A segunda geração de sistema de edição cribano, 2003). Porém, o futuro da edição
não-linear de vídeo fazia uso de laserdisc. não-linear de vídeo não passava propria-
Este sistema tinha como objectivo primor- mente pelos sistemas de edição não-linear
dial resolver os problemas relacionados com baseados em laserdisc e muito menos pelos
o tempo de acesso ao material audiovisual. sistemas de edição não-linear baseados em
Uma das grandes vantagens deste sistema fita de vídeo.
em relação ao sistema de edição não-linear
de vídeo baseado em fita de vídeo tinha a ver
3.1.6 Sistemas de Edição Não-Linear de
com a qualidade de imagem. Ao contrário
Vídeo baseados em Discos Mag-
do que acontecia na fita de vídeo, a imagem
néticos
armazenada em discos ópticos não se deteri-
orava. A terceira e actual geração de sistemas de
Todavia, a principal vantagem relativa- edição não-linear de vídeo baseado em dis-
mente ao sistema antecessor era a velocidade cos magnéticos surgiu nos finais da década
de acesso às imagens proporcionadas por de 80 do século passado (Fernández Casado
este tipo de sistema, já que a gravação feita e Nohales Escribano 2003; Harrington et al.,
em laserdisc possibilitava o acesso aleatório 2008).
do material audiovisual, dito de outra forma, No início, estes sistemas eram muito caros
se o editor pretendesse aceder ao plano C não e ainda não tinham dado provas suficientes
necessitava de passar primeiro pelos planos da sua eficiência e, para além disso, exigiam
anteriores. pessoal mais qualificado (Henriques, 1994).
No entanto, os sistemas de edição de Mesmo assim, os métodos de edição digi-
vídeo não-lineares baseados em laserdisc tal não-linear de vídeo transformaram a na-
compartilhavam muitas das características tureza do meio em que se armazena o mate-
da geração de sistemas baseada na fita de rial audiovisual em bruto e a forma como se
vídeo. Do mesmo modo que na edição lhe tem acesso. Esta é uma grande diferença,
através de um sistema baseado em fita de dado que este sistema é uma combinação dos
vídeo se utilizavam vários VTRs, esta se- métodos tradicionais e dos avançados pro-
gunda geração proporcionava um acesso cessamentos digitais, todo ele controlado a
aleatório, disponibilizando o mesmo mate- partir de uma interface informática. Como
rial audiovisual em bruto em diversos dis- lembram Case Dominic (2001), Roger Shuf-
cos ópticos de vídeo, oferecendo um rápido flebottom (2001) e Herbert Zettl (2006), foi
acesso, tornando as edições de vídeo mais através da evolução verificada no campo da
rápidas. informática, no início dos anos de 1990,
que os sistemas de edição não-linear de

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vídeo baseados em discos magnéticos se im- cessidade de refazer tudo de novo (ou pelo
puseram no mercado da edição digital de menos uma grande parte), tal como ainda
vídeo. acontece na edição em fita de vídeo; de-
Manuel Damásio (2002: 204) aponta qua- vido sobretudo aos sistemas de edição lin-
tro características que os sistemas de edição ear de vídeo, as fitas de vídeo desgastam-
digital não-linear de vídeo, independente- se com alguma facilidade, visto que estão
mente do fabricante ou tipo, partilham: sujeitas a sucessivos rebobinamentos e re-
primeira característica, estes sistemas estão produções; no sistema de edição de não-
implementados em plataformas digitais; se- linear vídeo baseado em discos magnéticos,
gunda, são sistemas que permitem o acesso o material audiovisual em bruto é transferido
aleatório ao material audiovisual, possibili- para os discos magnéticos e as cassetes fi-
tando, desta forma, o acesso imediato a qual- cam imediatamente disponíveis para registar
quer ponto da gravação; terceira, são sis- novas imagens; estes sistemas são mais fá-
temas de edição não destrutivos, na medida ceis de utilizar do que os seus antecessores
em que o editor não executa nenhuma edição e do que os actuais sistema de edição linear
que afecta fisicamente o material audiovisual de vídeo; por último, o editor tem a possibil-
em bruto. Por exemplo, na edição linear de idade de realizar várias experimentações de
vídeo, o uso constante da fita de vídeo vai, edição antes de alcançar o produto final, po-
por um lado, desgastando o próprio equipa- dendo assim efectuar várias combinações de
mento de reprodução e/ou gravação de vídeo planos sem despender grandes esforços, ao
e, por outro, a própria fita vai-se deterio- contrário do que acontece ainda hoje em sis-
rando em virtude das sucessivas utilizações, temas de edição linear de vídeo.
seja em gravação ou em simples reprodução;
a última particularidade, define-se como um
4 Conclusão
sistema que possui (pelas características dos
seus interfaces) potencialidades híbridas de Neste artigo, após realizarmos uma breve
edição no espaço e no tempo. contextualização da tecnologia vídeo e da
José Férnandez Casado e Tirso Nohales edição de vídeo, propusemo-nos apresentar e
Escribano (2003) assinalam como princi- caracterizar os sistemas de edição de vídeo,
pais vantagens dos sistemas de edição não- desde os sistemas de edição linear de vídeo
linear baseados em discos magnéticos: o até ao advento dos actuais sistemas de edição
acesso aleatório do material audiovisual em digital não-linear de vídeo.
bruto e do editado, pois a procura de ima-
gens e sons é muito mais rápida, quase in-
5 Referências Bibliográficas
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ificações em programas audiovisuais já ed- ALMEIDA, M. F. (1990), Cinema e Tele-
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