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PRÊMIO LILA RIPOLL DE POESIA

POESIAS VENCEDORAS 2008


R585p Rio Grande do Sul. Assembléia Legislativa.
Prêmio Lila Ripoll de poesia : poesias vencedoras 2008 /
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul ; organização,
Analia Sanches Dorneles. — Porto Alegre : CORAG, 2008.
48 p. ; il.

1. Literatura gaúcha - Poesia. 2. Rio Grande do Sul.


3. Dorneles, Analia Sanches. III. Título.

CDU - 869.0(816.5)-1

CIP - Catalogação na Publicação: Maria Cristina Cassol da Cunha – CRB10/792

Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul


Praça Marechal Deodoro, 1001, 10° andar, sala 1005
Fone: 3210-2164 / Fax: 3210-2163
Jornalista responsável: Isabela Soares (MTb 8306)
Organizadora da publicação: Analia Sanches Dorneles
Fotos: Marcelo Bertani - ALRS
Capa: Manoel Henrique de Paulo (Divisão de Comunicação Visual) - ALRS

Realização: Departamento de Relações Institucionais - ALRS


ÍNDICE

Apresentação ....................................................................................... 6

Lila Ripoll - Poeta da Liberdade e da Rebeldia .................................... 7

Quem foi Lila Ripoll .............................................................................. 8

O legado de Lila Ripoll ......................................................................... 11

Comissão Julgadora ............................................................................. 18

Poesias Vencedoras ............................................................................. 29

A Festa da Poesia ................................................................................ 46


Apresentação

A poetisa Lila Ripoll (1905-1967), sensível e revolucionária, foi uma ativista política
admirável. Por isso, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul criou o Prêmio
Literário Lila Ripoll, uma homenagem ao seu talento e à sua militância, mas, também,
uma oportunidade aos poetas que vivem entre nós e precisam tornar conhecidos os
poemas que revelam com densidade a época em que são escritos. Poesia é isso:
intuição, sensibilidade e emoção, uma particular visão da vida, seus sofrimentos,
perplexidades, carinhos, amor e ódio, tristeza e alegria.
Poesia é saber que não se envelhece quando se mantém a esperança, mas se
morre quando se perde a esperança no futuro. Manter sempre os sonhos e manter-se
acordado para não perdê-los. Ou dormir mais, para ter novos sonhos.
Se eu tivesse mais tempo e sabedoria, hoje eu pensaria mais sobre o que digo,
em vez de dizer só o que penso – reflete o poeta. Não deixaria de amar porque estou
velho, porque, sem amar, aí eu estaria, em definitivo, morto. Importante não é estar
por cima, mas ter vencido a longa subida da vida. Dizer às pessoas a quem amamos
o quanto elas são importantes para nós. Sensibilizar-se com o sorriso de uma criança.
Não se preocupar em vencer, mas em lutar sempre pelos ideais. Isso é o que faz a
vida ter poesia. Isso é poesia.
Nos textos que compõem este livro, selecionados no concurso que leva o nome da
nossa querida Lila Ripoll, estão sonoridades que traduzem emoções líricas e consci-
ência social, as melhores palavras na busca do motivo da existência, sutis tramas de
apoios fonéticos. Giambattista Vico, creio, foi quem escreveu que “o sublime trabalho
da Poesia (com P maiúsculo) é o de dar sentido e paixão às coisas sem sentido”, e
Schiller, poeta e filósofo, um dos grandes homens das letras alemãs, escreveu: “A Po-
esia pode ser ingênua, como na antiga Grécia ou sentimental, como na era moderna.
Mas em ambos os casos, a Poesia é o absoluto!”
É o que se lê e se sente neste livro.

Palácio Farroupilha, outubro de 2008


Deputado Alceu Moreira
Presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

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Lila Ripoll – Poeta da liberdade e da rebeldia

Mais uma vez homenageamos Lila Ripoll, nos 103 anos do seu nascimento, sua
poesia, sua rebeldia, sua luta.
Falar de Lila e de sua obra nos desafia sempre. Falar de Lila é falar do Quaraí,
lá nas barrancas do lendário Rio Uruguai, lembrar de tantos filhos ilustres daquela
terra. Lembrar Dionélio Machado, do Louco do Cati, Cyro Martins, do Gaúcho a Pé. É
lembrar Valdemar Ripoll, Aparício Cora de Almeida, e tantos outros que escreveram
história na poesia, na literatura e, principalmente, na inconformidade com os rumos
da sociedade.
O Prêmio Lila Ripoll de Poesia – 2008 contou com o número recorde de 337
participantes e mais de 700 poesias, a maioria do Rio Grande do Sul, mas várias de
outros estados.
Foram mulheres e homens de todas as idades, algumas ainda crianças, como o
“Andantino”, publicado em 1951 no livro “Novos Poemas”, de Lila Ripoll:
“Andemos, menino, andemos, andemos com chuva ou luar. – O chão não floresce
sozinho por nós. E é tempo de andar. Nas altas montanhas, nas rasas planícies, com
chuva ou luar, plantemos, menino, que é tempo de andar!”
E nestes tempos de andar se faz necessário buscar – em cada pessoa que através
da poesia manifesta os seus anseios – um pouco daquilo pelo qual Lila sempre lutou.
Lila foi uma poeta combativa, que resistiu e nunca vacilou diante dos embates da sua
época. No poema “Amanhã”, Lila nos canta:
“Morreram? Quem disse, se vivos estão! Não morre a semente lançada na terra.
Os frutos virão.
Morreram? Quem disse, se vivos estão! As flores de hoje, darão novos frutos.
Meus olhos verão.”
Assim viveu Lila Ripoll – livre para expressar suas angústias e eternizá-las na poesia;
livre para defender suas bandeiras e sua esperança em um mundo melhor; livre para
lutar pela paz e eternizar seus companheiros de luta. Daí tirou a força da sua poesia!

Deputado Estadual Raul Carrion


Líder do PCdoB na ALERS
Coordenador do Prêmio

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Quem foi Lila Ripoll

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Nasceu em Quaraí (RS), em 12 de agosto de 1905. Em 1927, deixou sua cidade
para estudar em Porto Alegre, onde diplomou-se pela Escola Complementar de Porto
Alegre. Formou-se pianista no Conservatório de Música (hoje Instituto de Artes da
UFRGS), onde tinha planos de dedicar-se à vida de concertista. Nesta época, colaborou
com a Revista Universitária, publicando seus poemas.
Em 1930, Lila ingressou no magistério estadual e lecionou Canto Orfeônico no
Grupo Escolar Venezuela, no bairro da Glória, onde compôs a letra e a música do
hino da escola. A partir desta data passou a integrar o grupo de escritores gaúchos
que ficaram conhecidos como a Geração de 30: Reynaldo Moura, Athos Damasceno,
Manoelito de Ornellas, Vidal de Oliveira, Mario Quintana, Ovídio Chaves, Dyonélio
Machado, Carlos Reverbel e Cyro Martins.
Em abril de 1934, a partir do assassinato de seu primo e irmão de criação, Walde-
mar Ripoll, que militava no Partido Libertador, Lila entregou-se à defesa das causas
revolucionárias.
Em 1935, ano da Aliança Libertadora Nacional, Lila, que era admiradora de Luiz
Carlos Prestes, intensificou sua participação na Frente Intelectual do Partido Comunista.
Começou então sua militância no Sindicato dos Metalúrgicos, junto com Eloy Martins,
onde dirigiu o Departamento Cultural, deu aulas de música e literatura, encenou peças
de teatro e fundou o Coral dos Metalúrgicos.
Estreou em livro, em 1938, com ‘De mãos postas’, pela Livraria do Globo.
Em 1941, publicou ‘Céu vazio’, pela Livraria do Globo, com a qual ganhou o Prêmio
Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras.
Casou-se com Alfredo Luís Guedes em 1944. Em 1945, com a legalização do Partido
Comunista, após a queda do Estado Novo, Lila aumentou sua militância política. Dedi-
cou-se a todas as causas relacionadas aos direitos e à promoção do operariado.
Em 1947, publicou ‘Por quê?’, no Rio de Janeiro, pela Editora Vitória, porta-voz da
intelectualidade comunista brasileira.
Após a morte de seu marido, vítima de derrame cerebral, ocorrida no mesmo ano,
dedica-se ainda mais ao trabalho de mobilização popular do Partido Comunista.
Lila foi candidata a deputada estadual pelo Partido Comunista, enfrentando forte
reação da elite conservadora, que dificultou sua eleição, em 1950.
Em 1951, participou do comitê editorial da Revista Horizonte, órgão do núcleo inte-
lectual do partido, cujo secretário foi Laci Osório. Em torno da Revista Horizonte surgiu
o Clube de Gravura do Rio Grande do Sul, a associação que mais marcou as artes

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plásticas do Estado. Nestes anos, também lançou ‘Novos Poemas’, nos Cadernos da
Horizonte, que evocam o fuzilamento de líderes de uma passeata operária na cidade
de Livramento. Com esta obra ganhou o Prêmio Pablo Neruda da Paz, outorgado pelo
Conselho Mundial da Paz, com sede em Praga.
No mesmo ano, como presidente da seção regional da União Brasileira de Escri-
tores, Lila organizou o 4º Congresso Brasileiro de Escritores, em Porto Alegre, com a
presença de Graciliano Ramos, Barão de Itararé e Aderbal Jurema, entre outros autores
conhecidos. Em 1953, Lila participou, em Buenos Aires, do Encontro Internacional dos
Partidários da Paz.
Publicou ‘Primeiro de Maio’, em 1954, poema testemunho do massacre acontecido
no Dia do Trabalhador, em Rio Grande (RS), quando a polícia metralhou os integrantes
da parada cívica.
Colaborou com ‘A Tribuna’, órgão do Partido Comunista em 1955. Neste mesmo
ano, viajou a Moscou e Stalingrado, na ex-União Soviética, onde participou de um
Congresso Internacional dos Partidários da Paz, como integrante da Delegação Cultural
Brasileira, a convite do Partido Comunista Central.
Em 1957, publicou ‘Poemas e Canções’, nos Cadernos da Horizonte.
Lila estreou no teatro São Pedro sua peça ‘Um colar de Vidro’, dirigida por Luiz Carlos
Saroldi, em 1958. Montou também ‘Orfeu da Conceição’, de Vinicius de Moraes, estrelada
por Delmar Mancuso.
Incentivada por intelectuais cariocas ligados ao Partido Comunista, publicou ‘O Co-
ração Descoberto’, no Rio de Janeiro, em 1961. Em 1964, nos primeiros dias do golpe
militar, é presa, mas libertada em seguida, pelo estado avançado de câncer em que
se encontrava.
Em 1965, escreveu ‘Águas Móveis’, poemas inéditos.
Pelos esforços do poeta Walmyr Ayala, a Editora Leitura, em convênio com o INL/
MEC, lançou ‘Lila Ripoll – Anatologia Poética’, dias antes de seu falecimento, em 7 de
fevereiro de 1967, em Porto Alegre, vítima de câncer. Lila foi enterrada no Cemitério
da Santa Casa de Misericórdia pelos companheiros do Partido.

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O legado de Lila Ripoll
ANDANTINO

MENINO pretinho
vestido de andrajos,
teu rosto rebrilha
debaixo da chuva
que cai
e se esvai.

Teu cesto de flores,


molhado, desfeito,
sugere motivos
que fazem pensar.
E fico a te olhar.

Na curva do lábio
que treme e palpita,
o pranto contido
bem sei compreender.
mas finjo
não ver.

Com lírios e rosas


compravas, menino,
venturas caseiras
e um pão para a mesa.
E a bela
certeza,

que havia em teus olhos


vivia nas flores,
no cesto de palha,
com ar domingueiro,
florindo
faceiro.

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Fugiu-te a alegria
- a triste alegria-
de dar tuas flores
de prata e coral,
amigas
antigas

que enfeitam teu lar,


por breves instantes
de falsa esperança
de pobre esplendor.
E a água,
de mágoa,

nascendo em teus olhos,


transforma meu canto
- que é um brando queixume –
num vivo clamor
de aceso
desprezo.

E penso, menino,
ouvindo o suspiro
que cai de teus lábios,
na força precária
do mundo onde andamos
- de cegos
E sábios.

E sonho, menino,
guardar tua infância,
criar-te alegrias
e dar-te um ofício
isento
de mágoas.

- Caçar borboletas,
soltar as pandorgas,
subir pelos montes,

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descer pelas águas.

Mudar os traçados
que afogam teus sonhos
e criam venturas
mas nunca transformam
teus dias tristonhos.

Transbordam ternuras
dos lábios dos homens,
chorando-te a sorte
e os sonhos inúteis
de barca
sem norte.

Mas quem te recorda?


quem vê teu exílio?
quem olha os abismos?
quem quer te salvar?
Tão simples
falar!

Andemos, menino,
andemos andemos
com chuva ou luar.
- O chão não floresce
sozinho por nós.
E é tempo de andar.

Nas altas montanhas,


nas rasas planícies,
com chuva ou luar,
plantemos, menino,
que é tempo
de andar!
(Novos Poemas, 1951)

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GRITO

Não. Não irei sem grito.


Minha voz nesse dia subirá.
E eu me erguerei também.
Solitária.
Definida.

As portas adormecidas abrirão


passagem para o mundo.

Meus sonhos, meus fantasmas,


meus exércitos derrotados,
sacudirão o silêncio de convenção
e as máscaras de piedade compugida.

Dispensarei as rosas, as violetas,


os absurdos véus sobre meus rosto.

Serei eu mesma.
Estarei inteira sobre a mesa.
As mãos vazias e crispadas,
os olhos acordados,
a boca vincada
de amargor.

Não. Não irei sem grito.

Abram as portas adormecidas,


levantem as cortinas,
abaixem as vozes
e as máscaras –

que eu vou sair inteira.


Eu mesma. Solitária.
Definida.

(O Coração Descoberto, 1961)

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CANÇÃO DO AGORA

Ontem meu peito chorava.


Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

Estava ontem sozinha,


tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.

Morreu de tanto morrer


a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.

Relógios do tempo andam


marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.

Também cansa a desventura.


Também o sol gasta o chão.

(O Coração Descoberto, 1961)

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CANTO A ELISA BRANCO

Pesadas grades, hirtas e escuras,


estão paradas
e perfiladas
junto às janelas da cela escura,
que esconde Elisa – a de nome simples,
de nome claro,
de nome branco,
a de alma clara.

Passam soldados,
voltam soldados,
e os doces olhos da prisioneira
são águas claras que não se turvam.

Pesadas grades,
hirtas e escuras,
estão paradas
e perfiladas
como soldados
junto às janelas.

Elisa Branco
- na cela escura –
está rodeada de pensamentos
puros e claros como seu nome.

Que importam grades junto às janelas?


e esses sodados que passam , passam?
e os sons soturnos
que marcam, marcam
os duros passos das sentinelas?

Elisa Branco sorri e espera.


Não sente o peso de escuras grades,
nem ouve a marcha de duros passos,
que dia e noite,

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que noite e dia,
passa e repassa
junto às janelasda cela escura.
Elisa Branco confia e espera –
Elisa simples,
de nome claro,
de nome branco,
de alma clara.

(Novos Poemas, 1951)

Grupo De Vez em Canto apresenta-se durante


entrega da premiação

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Comissão Julgadora

Comissão julgadora do Prêmio Lila Ripoll abre os envelopes


com os nomes dos vencedores

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REGINA ZILBERMAN
Nascida em Porto Alegre, licenciou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutorou-se em Romanística pela Universidade de Heidelberg, na
Alemanha. Foi professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, onde lecionou Teoria da Literatura e Literatura Brasileira, coordenou o Programa
de Pós-Graduação em Letras, entre 1985 e 2004 e dirigiu a Faculdade de Letras, entre
2002 e 2004. Entre 1987 e 1991, e entre 2005 e 2006, dirigiu o Instituto Estadual do
Livro, da Secretaria de Cultura, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Foi Ho-
norary Research Fellow no Spanish & Latin American Department, da Universidade de
Londres, no ano escolar de 1980-1981. Lecionou, no inverno de 1983, no Department
of Spanish & Latin American Studies, da Universidade de Bristol, Inglaterra. Realizou o
pós-doutoramento no Center for Portuguese & Brazilian Studies, da Brown University,
USA. É pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq). Foi assessora-científica da FAPERGS, entre 1988 e 1993. Coordenou
a área de Letras e Lingüística entre 1991-2 e 1993-95, da Fundação CAPES, fazendo
parte de seu Conselho Técnico-Científico. Pertenceu ao Conselho Estadual de Ciência
e Tecnologia, do Estado do Rio Grande do Sul, entre 1995 e 1999. Participou, entre 1999
e 2001, e entre 2004 e 2007, do Comitê Assessor para a área de Letras e Lingüística, do
CNPq. Recebeu, em 2000, na Universidade Federal de Santa Maria, o título de Doutor
Honoris Causa. Presidiu, entre 2002 e 2008, a Associação Internacional de Lusitanistas,
com sede em Coimbra, Portugal. Atualmente, é professora colaboradora convidada do
Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, e docente do programa de pós-graduação, na Faculdade Porto-Alegrense.
São publicações suas: A invenção, o mito e a mentira (1973), São Bernardo e os
processos da comunicação (1975); Do mito ao romance: tipologia da ficção brasileira
contemporânea (1977); A literatura no Rio Grande do Sul (1980); A literatura infantil
na escola (1981); Literatura infantil: autoritarismo e emancipação (1982); Literatura
infantil brasileira: história & histórias (1984); Literatura gaúcha: temas e figuras da
ficção e poesia do Rio Grande do Sul (1985); Um Brasil para crianças (1986); Alvaro
Moreyra (1986); Leitura: perspectivas interdisciplinares (1988); A leitura e o ensino da
literatura (1988); Estética da Recepção e História da Literatura (1989); A leitura rarefeita
(1991); Roteiro de uma literatura singular (1992); A terra em que nasceste: Imagens do
Brasil na literatura (1994); A formação da leitura no Brasil (1996); O berço do cânone
(1998); Pequeno dicionário da literatura do Rio Grande do Sul (1999); Fim do livro, fim
da leitura? (2001); O preço da leitura (2001); O tempo e o vento: história, invenção e

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metamorfose (2004); O viajante transcultural: leituras da obra de Moacyr Scliar (2004);
As pedras e o arco: fontes primárias, teoria e história da literatura (2004); Retratos
do Brasil (2004); Como e por que ler a literatura infantil brasileira (2005); Crítica do
tempo presente: estudo, difusão e ensino de literaturas de língua portuguesa (2005);
Centenário de Mario Quintana (2007); Corpo de baile; romance, viagem e erotismo no
sertão (2007); Clarice Lispector: novos aportes críticos; Literatura e pedagogia: ponto
& contraponto (2008); Teoria da Literatura (2008). Organizou as seguintes coletâneas:
Os melhores contos de 1974 (1975); Masculino, feminino, neutro: ensaios de semiótica
narrativa (1976); O signo teatral (1977); Linguagem e motivação (1977); O Partenon
Literário: poesia e prosa (1980); Mário Quintana (1982); Os melhores contos de Moacyr
Scliar (1984); Geração 80 (1984); Mel & girrasóis (1988); Este seu olhar (2006).

“Lila Ripoll publicou seus livros a partir da década de 1940, constituindo-se na


mais ativa representante da literatura feminina no meio literário sul-rio-grandense.
Associando-se ao neo-simbolismo que vicejou na poesia sulina depois dos anos 1930,
com reflexos também nos versos de Paulo Corrêa Lopes e Mario Quintana, Lila Ripoll
é fiel a alguns temas caros àquele movimento, como a valorização da subjetividade, o
desejo de solidão e a consciência da fragilidade humana. Pôde, assim, atuar na linha
de frente da lírica do Rio Grande do Sul, da mesma maneira que aderiu à vanguarda
do pensamento revolucionário a seu tempo.”
Regina Zilberman

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MARILICE COSTI
Escritora, poetisa, arteterapeuta, mestre em arquitetura, arquiteta e urbanista, ofici-
neira desde 1995, professora universitária, consultora e pesquisadora. Utiliza recursos
artísticos e arteterapêuticos com técnicas de desbloqueio e estímulo de processos
criativos, para melhorar a auto-estima e a socialização, em Oficinas de poesia, prosa
ou texto técnico e em Arteterapia. Organiza edição de livros, faz projetos gráficos e
revisão textual. Atua também na área gráfica e plástica. Possui trabalhos na Argentina,
na Espanha e na Itália. Ministra cursos, palestras e workshops sobre Conforto ambiental,
Avaliação Pós-Ocupação, Percepção Ambiental, Criatividade e Quebra de paradigmas,
integração e autoconhecimento para grupos de diversas idades. Proponente de Projetos
Culturais no MinC e FUMPROARTE com foco na arte para cuidadores de portadores
de sofrimento psíquico.
Autora de: Ressurgimento (Prêmio Açorianos de Poesia 2006), Tempo frágeis (2007),
A influência da luz e da cor em corredores e salas de espera hospitalares(esgotado);
Como controlar os lobos? proteção para nossos filhos com problemas mentais; Clichês
domésticos; Mulher ponto inicial (esgotado) e além de diversas antologias, artigos em
congressos e em revistas, e outros prêmios em conto, vivências e poesia. Comentarista
do CONSUMIDOR-RS, colunista do Info-IAB e Rede PSI.
Membro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo, da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul e da Associação
Sul-brasileira de Arteterapia. Diretora de SANARTE – arteterapia e oficinas de criação
e SANA ARQUITETURA – ambientes de acordo com você!
portal: www.sanaarquitetura.arq.br / blog: http://marilicecosti.blogspot.com/
e-mail: marilice.costi@sanaarquitetura.arq.br

DOS CONCURSOS E DO ESCREVER POESIA


Para participar de um concurso de poesia é preciso, antes, perder o medo do papel
em branco que nos olha de viés. Um poema não é qualquer coisa jogada numa folha.
Ele é o interior de quem escreve, é um pouquinho do que se passa na alma. Cada
poema de Lila Ripoll retrata a pessoa especial que foi. Lila expressou seus sentimentos
também com lirismo. O que criou com tema social foi uma parte de seus escritos.

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Não estamos deslocados do mundo, estamos inseridos nele com todos os senti-
dos. É por nos darem suas almas que os poetas revelam, prevêem, registram período
histórico. O inconsciente coletivo a rondar seu abecedário.
Um concurso serve para estimular a produção poética e mobilizar os que desejam
seguir caminhos na escrita. Há concursos que retratam muito sofrimento, pois o seu
título direciona. Se for para o trabalho e as pessoas estão infelizes com o que fazem,
haverá muita poesia cantando as dores dos trabalhadores.
Quem participa de um concurso é especial, porque – através da sua linguagem – está
expressando seus sentimentos. Podemos sentir qualquer coisa, mas o importante é o
dizer diferente do comum. É causar estranhamento. E escrever muito até que a própria
forma se estabeleça. É preciso saber de figuras de linguagem, melodia, de ritmo, de
rimas, de métrica, de versos e estrofes, de títulos e fechos. O poema tem que dizer a
que veio e impactar o leitor.
Não basta lançar versos. Rilke ensina. Sempre vale a pena reler Cartas para um
jovem poeta. Ele dá os ensinamentos básicos: 1) é preciso buscar no âmago de si,
aonde a ironia nunca desce; 2) é preciso confiar na própria solidão; 3) é importante viver
e escrever em cio; 4) a obra de arte nasce por necessidade; 5) a resposta vai sempre
estar na profundidade de cada um: utilize as coisas de seu ambiente, as imagens de
seus sonhos e os objetos de suas lembranças.
Ao escrever um poema, primeiro, seja você. Então, olhe o mundo ao seu redor.
Depois trabalhe muito: mexa em seus versos, troque-os de lugar, sinta de que forma
a estrofe ganha ou perde força em sonoridade, em imagens. Aprenda a brincar com
as palavras para experimentar o “estranhamento”, o lugar incomum.
Em um concurso, escolher entre tantos participantes não é tão simples. O que
ocorre é que um poema que foi trabalhado se destaca dos demais. Nele se percebe
a força do interior do autor e o o suor de seu trabalho. Por isto é importante escrever
sempre. E quando surgem oportunidade, o poema não foi de encomenda. Encomendas
raramente tem a alma do autor.
Marilice Costi

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PAULO ROBERTO DO CARMO
Paulo Roberto do Carmo nasceu em Porto Alegre, em 1941. É poeta, professor e
tradutor. Tem participado de diversas antologias coletivas no Brasil e em Portugal.
Recebeu o Prêmio Nacional de Poesia Alphonsus de Guimaraens, da Fundação
Biblioteca Nacional, em 2000. Finalista do Prêmio Açorianos, cidade de Porto Alegre,
em 1993. Diz o poeta: “Escrevo porque não posso esconder o sol dentro da alma,
nem a palavra calada. Escrevo porque entre o homem que colhe e o que semeia, há
um homem que sonha o peixe, o pão, o vinho, os alimentos coletivos da alegria, da
liberdade, da justiça, a arte de tornar-se humano revolucionando não apenas a aldeia,
mas a mim mesmo. Esta obsessão de libertar a alegria que se aprisiona dentro das
palavras, é para aprender a exumar-me de minhas cotidianas mortes.”
Livros publicados: Crisbal, o Guerreiro (IEL, 1966);
Estação de Força (IEL / RS / Movimento, 1987);
Breviário da Insolência (Massao Ohno / SP, 1990);
Livro de Preceitos (Nejarim / ES / 1993);
Trajetória Poética (IEL / Movimento, 1994);
Livro das Manhãs (Parlenda / RS / 1997);
A Revolição das Aprendências, com Vilmar
Figueiredo de Souza (Unisinos / RS / 2000);
Arte de Revidar (Unidade Editorial /PMPA/ 2000);
Crisbal, o Guerreiro (versão 2002) IEL/CORAG / RS / 2

DE TUDO HEI DE PEDIR CONTA


De tudo hei de pedir conta
dos rumos no sextante
do medo nos desvãos
do tédio no horizonte.
De tudo hei de pedir conta
do orgulho, das culpas
da cal viva do desejo
dos óleos ferventes do ódio
do exílio no vazio
do fogo, da água
dos loucos, dos defuntos.
De tudo hei de pedir conta
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limei a esperança
o sonho, os punhos.
Só de minhas palavras
não dou conta.

Cerimônia de entrega do Prêmio no Teatro


Dante Barone

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ALBA VALÉRIA FICAGNA DE OLIVEIRA
Graduada em Letras - Licenciatura Plena (1988) e mestre em Educação, pela
Universidade de Passo Fundo (2004). Possui, ainda, especializações na área de edu-
cação. Foi professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira em escolas públicas
estaduais. Nestas, desenvolveu projetos de leitura e discussão de textos literários.
Desde 2002, exerce a docência na Faculdade Planalto – FAPLAN. Ultimamente, vem
se dedicando à orientação de acadêmicos em suas produções textuais.

Em tempos nos quais a vida é “facilitada” pela tecnologia, pelo on line, pelo efêmero,
parece que a linguagem poética e o ato que a concebe estão ameaçados. Mas não
estão, pois se configuram como uma necessidade do ser humano. Criar e apreciar o
belo nos são necessários; essenciais; trazem-nos humanidade.
Essa necessidade parece ser confirmada pelo fato de vermos tantas pessoas do-
ando uma parcela do seu dia à produção de poemas, pois o volume de participantes
do Prêmio Lila Ripoll de poesia 2008 foi elevado.
Talvez a expressão produção de poemas pareça pesada demais ao contexto de
fruição que um texto poético nos remete. Entretanto sabemos que, mesmo havendo
uma grande liberdade no ato de compor um poema, este ato exige certo conhecimento
das “ferramentas” a serem usadas no momento da composição. Há que se ter presente
este aspecto.
Por fim, como jurada de um Prêmio que homenageia uma mulher – e mulher poeta,
que se tornou referência pela coragem e pela capacidade intelectual, se por um lado
nos imprime certa responsabilidade, por outro nos gratifica. E é com esta sensação
de gratificação que fizemos parte deste Prêmio.

25
LUIZ CORONEL
Formado em Direto e Filosofia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul). Ingressa na VOX Publicidade com Flávio Correa, em 1960, e permanece até
1964. Em 1971 ingressa na Letra 3 como redator e, em 1972, cria a Exitus Publicidade
da qual foi diretor por mais de 25 anos. Em 1999, com Roberto Philomena e Alberto
Freitas, cria a Agência Matriz, da qual é um dos diretores.
Participou do Festival Mundial de Publicidade em Gramado (RS) como Coordenador
de Premiação sendo presidente do evento em 1996. Em 2001, foi eleito presidente
da ALAP – Associação Latino Americana de Publicidade. Sua criação publicitária é
marcada pela valorização da afetividade e emoção.
Nos EUA fez Estudos de Implantação de empresas de varejo e shopping centers.
Tem seus textos e poesias publicadas em diversos países como Alemanha, Portugal,
Espanha, México recebendo por estes vários prêmios. Em 1988, recebeu o título de
Cidadão Emérito de Porto Alegre pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Em
2001, recebeu o prêmio Negrinho do Pastoreio da Assembléia Legislativa e Associação
dos Municípios.
Acumula títulos, entre os quais, Cidadão Emérito de Porto Alegre e Cidadão Emérito
de Piratini, a Capital Farroupilha. Em 2001, recebe o “Troféu Negrinho do Pastoreio” da
Associação Gaúcha Municipalista como destaque literário em Poesia Contemporânea,
com 43,8% de indicações da preferência de pesquisa realizada pelos outorgantes
do prêmio. Ingressando na Academia Rio-Grandense de Letras em junho de 1999,
ocupando a cadeira de número 26.
Há 20 anos, semanalmente, comparece a emissoras de TV com temas de Comu-
nicação e Literatura e há dez anos tem suas poesias publicadas nos Jornais Correio
do Povo e Correio do Sul da cidade de Bagé.
Como publicitário tem sua vida ligada à Companhia Zaffari, para a qual exerce
atendimento e criação há 30 anos. A experiência no Setor Governamental também
marca a biografia da impresa e do publicitário.
Como compositor tem mais de 50 composições gravadas por músicos e intérpretes
do Rio Grande do Sul e Brasil.
Autor de mais de 38 obras editadas, recebeu prêmios no Brasil, Espanha e México
(Prêmio Nacional de Poesia, MEC, 1973, com o obra ‘Mundaréu’) e tem edições com
participação no idioma inglês e alemão. Sua obra Portifólio Poético e Documental do
Rio Grande do Sul, composto pelos livros: ‘Porto Alegre que Bem Me Faz o Bem Que

26
Te Quero’, ‘Cidades Gaúchas’ e ‘Pampa Gaúcho, a Terra e o Homem’, recebe unâni-
me aplauso. O projeto ‘Dicionários’ (‘Dicionário Erico Verissimo - O Tempo e o Vento
a Passar’, ‘Dicionário Mario Quintana – A Quinta Essência de Quintana’, ‘Dicionário
Guimarães Rosa – Uma Odisséia Brasileira’) amplia e concretiza uma visão editorial
de maior envergadura. Atualmente realiza o ‘Dicionário Machado de Assis – Ontem,
hoje e sempre’ e edita o ‘Recreio da Segunda Infância’, coletânea de sua obra entre
os anos de 1975 a 1999.

RETORNO À POESIA

Com a alegria
em panos rotos,
retorno à poesia.

Ela é meu país.


Longe, perambulo
pelas pedreiras do exílio.

A prosa é uma rede


balançando à sombra
de uma frondosa
árvore vocabular.

O canto que ouves


em torno dos ninhos,
bem sabes, é o poema.

A prosa hospeda-se
no bordel do best- seller.

Os versos guardam-se
para sutis confidências.

A prosa, podes levar


num caminhão de mudanças.

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A poesia protege-se
com sombrinha e cachecol.

A última moeda da inocência


que resta no bolso traseiro
da infância,
basta para que adquiras
a esvoaçante pandorga
das metáforas
e a solta risada das rimas.

Abro a porta.
Há ferrugem nas dobradiças.
A chave recusa dançar
sua valsa.

O filho pródigo retorna.

O que for poeira


ou desagravo,
esconda sobre o capacho da porta.

A poesia só interessa
o que for pura emoção.

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Poesias vencedoras

Vencedores da edição 2008 do Prêmio Lila Ripoll ao final da


cerimônia no Teatro Dante Barone

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Cíntia Rosângela Alves dos Santos - 1º Lugar

ABANDONO

Letra a letra,
me abandonaram as palavras.
Malditas!
Foram-se as sílabas,
agora, não há mais separações.
Carregaram junto os sujeitos –
melhor. Só assim não preciso de predicados.
Com eles também se foram os verbos
E as tais pessoas sumiram em meio aos tempos.

* Cíntia Rosângela nasceu em uma madrugada de setembro, é Publicitária e adora


jasmins. Aluna da Oficina de Criação literária Charles Kiefer tem textos publicados em
Antologias como: 101 que Contam, 103 que Contam e Brevíssimos – Antologia de
mini-contos, além do blog: http://cintiarosange.zip.net; http://cintiarosangela.blogspot.
com e outros tantos textos espalhados por aí.

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31
Lívia Petry Jahn - 2º Lugar

POESIA DE RUA

O menino fez-se bala


e atravessou o silêncio,
o frio
a sombra na parede.

O menino fez-se lâmina


e guardou todos os gritos,
esqueceu todas as mágoas.

O menino fez-se noite,


pneu de carro
asfalto.

E tombou nesta esquina


que ninguém vê,
que ninguém ouve,
que todos desconhecem.

* Lívia Petry Jahn nasceu em Porto Alegre - RS em 10 de Novembro de 1971. Na década


de 90 iniciou seus estudos de canto lírico com a cantora Nelly Baldauf e participou do
coral da Ospa. Porém um problema na voz fez com que sua vida mudasse de direção.
Em 2001 passou no vestibular para o curso de Letras da UFRGS. A partir daí começou
a freqüentar a oficina literária de Charles Kiefer, publicou um livro de poesias, “O Exilio
das Palavras” pela editora AGE (2001), participou com contos seus das antologias 101
que contam( 2004), 103 que Contam (2006), Inventário das Delicadezas(2007) , todos
publicados pela Nova Prova e com organização de Charles Kiefer, recebeu o primeiro
lugar no Concurso de Poesias Mario Quintana (2006) organizado pela UFRGS com o

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poema “Primeira Pedra”, venceu o Concurso de contos Caio Fernando Abreu (2007)
organizado pela UFRGS com o conto “Jules et Jim” e em 2008 obteve o segundo lugar
no Concurso de Poesias Lilla Ripoll com a obra “Poesia de Rua”. Atualmente também
participa de um projeto de Extensão da UFRGS, o grupo “Quem Conta um Conto” -
contadores de história e faz contação de histórias nos mais diversos lugares ( escolas
públicas, comunidades carentes, asilos, universidades) e tem ainda inéditos o livro de
contos “Flores da cor da Terra” e o livro de poesias “Música Dispersa”.

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Rosilene Teresinha Goulart Rocha - 3º lugar

CONSTATAÇÃO

Uma rosa
Espia a rua
Entre as grades
Altas
Do muro.
Violência
Enclausurando
A poesia...

* Rosilane Goulart Rocha nasceu em Charqueadas em 16/12/1966, filha de Pedro Noé


Damasceno Rocha e Eva Maria Goulart Rocha. Casada com João Adolfo Guerreiro é
mãe de Joana Rocha Guerreiro. É psicóloga e professora pós-graduada em educação.
Iniciou as atividades literárias aos 16 anos ao publicar seus primeiros poemas no jornal
Folha Mineira. Colaborou também com o Jornal A Semana e a Revista Gente do Sul.
Como sócia da Casa do Poeta Riograndense, então presidida pelo poeta Nelson Fa-
chinelli, participou das coletâneas Gente da Casa (1984) e Poetas Brasileiros (1994).
Em 1995 recebeu o segundo lugar na categoria conto e menção honrosa em poesia
no concurso promovido pela Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Interna-
cional. Teve trabalhos selecionados para as três Mostras Literárias de Charqueadas.
No concurso de poesias Lila Ripoll, promovido pela Assembléia Legislativa, recebeu
menção honrosa em 2005 e o terceiro lugar em 2008, sendo que os trabalhos premiados
compõem uma coletânea com o mesmo título do concurso, lançadas na Feira do livro
de Porto Alegre. Os poemas “Daquela Noite” e “Sobreviver” foram musicados, tendo o
primeiro, uma parceria com o compositor João Guerreiro, selecionado para a Mostra de
Música 2008 e o segundo integrado o CD “Outros Tempos” do músico Charqueadense
Alberto André. Foi patronesse do IV Sarau LIterário de Charqueadas em 2008.

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FERRAMENTAS
César Pereira

Junto palavras
como quem inventa moinhos

Tão cálido é o gesto


que me nascem
pássaros e ninhos

Entre espada e fuga


busco caminhos
escondo a ruga

Domo palavras
de excessos me inundo
Enxugo as ferramentas
e a cada manhã
reinvento o mundo

1ª Menção Honrosa

* César Alexandre Pereira nasceu em Taquari (RS), em 2 de janeiro de 1934. Foi professor do
SENAC. Editou “Carrossel de Cinzas” (1960), com poemas líricos e Sonetos. Com “Dardos
de Ajuste” (1974) embarca na poesia social com poemas que publicou a partir de 1959, no
Correio do Povo. Segue-se “Porta de Emergência” (1989), no mesmo sentido. Foi precursor
da poesia concreta e visual, tendo criado o POEÍGMA (1965), no caminho das vanguardas da
época. Participou de “Antologias” e ganhou prêmios nos gêneros poesia e conto, entre eles o
Petrobras (1989). Durante 10 anos participou da diretoria da Associação Gaúcha de Escritores.
É membro (Sócio Efetivo – cadeira número 12), da Academia Rio-Grandense de Letras.

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PARA DILÚVIO, MEU ARROIO!

Carlos Rampanelli
Na noite sem fim,
em ti jaz minha alma,
ó sepultura cruel
do meu viver!

Tuas águas
corroem minhas entranhas
e por tuas fétidas feridas
sangro meus pecados e em teu ventre
gesto meus a-fetos natimortos!

És o vertedouro dos meus seios


por onde escorrem,
de meus filhos, os rancores
e as desilusões de meus amores!

2ª Menção Honrosa

* Carlos Rampanelli: nasci em Serafina Correa (RS), em 1948. Sou Bacharel em Comunica-
ção Social pela UFRGS, com diplomação nos cursos de Publicidade, Propaganda, Relações
*Públicas
Carlos Rampanelli:
e Jornalismo.nasci em Serafina
Aposentei-me Correa
como (RS), em
funcionário 1948.estadual
público Sou Bacharel
do RS, em Comunica-
tendo também
ção Social em
lecionado pelaCursos
UFRGS, com diplomação
Supletivos nos cursos de
e Pré-vestibulares. SouPublicidade,
membro daPropaganda,
Sociedade Relações
Partenon
Públicas e Jornalismo. Aposentei-me como funcionário público estadual do RS, tendo também
Literário desde 2004.
lecionado em Cursos Supletivos e Pré-vestibulares. Sou membro da Sociedade Partenon
Literário desde 2004.

37
CIGARROS NO MEIO DA NOITE
Maria Joaquina Carbunk Schissi

Foi assim que mergulhei na morte do homem que amava.

O coração como um tambor, retumbando por socorro.

O tenebroso medo de viver sem aquele que morreu


Invadindo tudo como a água,
E me arrastando de onde eu pensava estar a salvo.

O horror de ver o meu corpo que ontem aquecia o meu


Transformado em cadáver.

Eu olhava os dedos entrelaçados no peito daquele cadáver.


E enxergava a brasa dos cigarros
Que ele fumava no meio da noite,
Brilhando com um vaga-lume.
No repetido gesto de levar para trás
Os cabelos que lhe caiam na testa,
E que eu adorava...

3ª Menção Honrosa

* Nascida em São Borja , em 10 de fevereiro de 1950. Mudou-se para Porto Alegre


em 1963, tendo concluído o curso Ginasial no Colégio Bom Conselho e o Clássico
no Colégio Júlio de Castilhos. Do “Julinho”, guarda boas memórias, tendo participado
ativamente do Movimento Estudantil, com grande envolvimento na política e nas artes.
Foi lá que iniciou sua vivência poética, participando em 1967, da “Noite da Música e da
Poesia Juliana. Formou-se em Direito pela Universidade do Rio Grande do Sul, com
foco no Direito Penal. Atuou como Advogada Trabalhista e no Diário das Emissoras
Associadas. Foi Juíza do Trabalho por 20 anos. Aposentou-se em 2008

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VOZ
Lúcia Maria de Barcelos Santos

Havia algo oculto naquela alma.


Algo exalava, qual flor exposta ao vento.
Havia métrica, ritmos e rimas,
Recantos torneados por luzes e cores.
Havia gotas de um bálsamo para as dores,
Antigas lembranças de um coral de passarinhos.
Havia rosas secas, cartas amareladas,
Segredos, exaltação, clamores
E emoção na mão repleta de carinhos.
Havia naquela alma duas luas:
Uma, tão alta: ave no céu em revoada...
Outra, nas águas do rio sendo banhada.
Havia algo, entre tantos bens que se procura...
Havia estrelas, gosto de mel e de ternura.
Havia algo. Nem sei se ele sabia.
Era a voz de todas as belezas
E de todas as tristezas.
Voz de amor, de dor e de alegria.
Era uma voz que falava dentro do poeta:
A poesia!
4ª Menção Honrosa

*Lúcia Barcelos (nome literário). Membro-fundadora da Associação Literária de Viamão


- ALVI - Presidente da mesma Entidade nas gestões (2007/08). Membro da Estância da
Poesia Crioula. Escritora e poetisa com 5 livros publicados. Participou de várias coletâneas e
organizou, em parceria com Fraga Cirne, 5 antologias de escritores do município de Viamão.
É funcionária da PUCRS, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, desde 1979,
no Jornal Mundo Jovem.

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NORMÓTICO COMO VAI?
Cácio Machado da Silva

Cinco e trinta
acorda, senta,
caminha, metrô.

Cartão-ponto, trabalha
Sirene- Almoça- Sirene
Trabalha, cartão-ponto.

Metrô, caminha.

Casa, banho,
Come, cama.

Cinco e trinta
acorda, senta,
caminha, metrô.

5ª Menção Honrosa

* Cácio nasceu em 27 de outubro de 1064 em Santiago, interior do Rio Grande do Sul. Formado
em Direito, é policial civil da última turma de investigadores de 1989, atualmente reside e traba-
lha em Frederico Westphalen. Lançou seu primeiro livro Dias de Sol e Vento - Prosa e Verso,
no qual reúne 64 trabalhos, em 2008. Tem trabalhos publicados em diversos periódicos. Em
fase de projeto, tem o livro de poesias Folhas de outono – De tudo um pouco, com lançamento
previsto para o primeiro trimestre de 2009.

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INSTANTÂNEOS
Maria Regina Caetano Soares

Observo o requinte da manhã,


emoldurado num universo de borboletas atrevidas
que sugam cores num arco-íris abandonado
e fazem pouco caso de mim.

Sem nada a oferecer, retraio minha presença,


espalmo a mão em páginas maltratadas,
rabiscando linhas crisálidas,
tão se graça,
sem asas.

O verdadeiro poema dança primaveras,


junto às borboletas bailarinas do dia.

6ª Menção Honrosa

* Maria Regina Caetano Soares - Especialista em Literatura Brasileira.Trabalha como professora


Estadual, revisora, diagramadora e organizadora de livros. Integrante da Casa do Poeta de Santa
Maria e da Associação Amigos da Biblioteca Pública Municipal de Santa Maria, cidade onde
reside. Membro da Comissão Editorial e do departamento de Intercâmbio Cultural da CAPOSM.
Escreve em verso e prosa e participa de trinta antologias do gênero. Recentemente, alguns de
seus poemas foram selecionados e publicados na Agenda Livro da Tribo S/P. email: emoutras-
palavras@yahoo.com.br

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A FADA
Gerci Oliveira Godoy

Nem parecia trabalho


o que então a mãe fazia

O tempo escorria lento


e por entre aqueles dedos
nossa história acontecia

Os pés no mesmo compasso


num sobe e desce tão lindo

A mão afagava a seda


os olhos iluminavam
carretéis , versos travessos

A mãe cantava e contava


A mãe chorava e sorria

Eu, pequena, não sabia


que a mãe-fada labutando
que quebrava o gelo da vida.

7ª Menção Honrosa

Gerci Oliveira Godoy, 70 anos, gosta de costurar tecidos e palavras, já fez inúmeras oficinas
de literatura, foi classificada em vários concursos literários, costurando crônicas, contos e
poesias. Embora a idade seja bastante madura, a ideia de lançar o primeiro livro solo ainda
está verde.

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QUARTOS DE INVERNO
Edson Bueno de Camargo

guardar folhas em casamatas


para os quartos de inverno
após a hecatombe nuclear

virar-se para o lado direito da cama


e mergulhar no esquecimento

observar o minguar de uma rosa em um copo


até que caiam as últimas pétalas

assim estar preparado para o poema


que cruza avenidas em tardes de inverno
esquece os caminhos dormidos
e recolhe o perfume das coisas já mortas

8ª Menção Honrosa

* Edson Bueno de Camargo nasceu em Santo André (SP), em 24 de julho de 1962; mora a
partir de seu segundo dia de nascimento em Mauá (SP). Publicou: “De Lembranças & Fórmulas
Mágicas” Edições Tigre Azul/ FAC Mauá -2007; “O Mapa do Abismo e Outros Poemas” Edições
Tigre Azul/ FAC Mauá -2006, “Poemas do Século Passado-1982-2000” edição de autor - Mauá
- 2002; “Cortinas”, com poesias suas e de Ceclia A. Bedeschi - Mauá - 1981; participou de al-
gumas antologias poéticas. Recebeu as seguintes premiações: 1º lugar nacional - 4º concurso
literário de Suzano categoria poesia - 2008; 1º lugar do prêmio off-flip de literatura 2006 cate-
goria poesia; 2º lugar com o poema “serpentrio” e menção honrosa com o poema “esquisito”
- 3º concurso nacional de poesia - Colatina 2007 prêmio “filognio barbosa”; menção honrosa
- prêmio lila ripoll de poesia 2008; menção honrosa - 17º concurso nacional de poesia “Helena
Kolody” 2007; menção honrosa - 24º concurso literário yoshio takemoto; poema classificado
para publicação - 8º concurso de poesias da UFSJ; classificação para publicação em antologia
- prêmio literário Canteiros Cultural 2007. Participa do grupo político/literário Taba de Corumbá
da cidade de Maua (SP).
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MADRUGADA
Paulo Ricardo Soares de Moraes

Deixa eu percorrer teu corpo


madrugada
penetrar em teus bares
correr tuas ruas
dobrar tua esquinas
beber cachaça no teu copo
e dividir contigo a minha dor.

Deixa eu ser mais um verso


bêbado
que procura entrar em tua
poesia
pra cantar tua beleza
e amanhecer
ao ver-te partir.

9ª Menção Honrosa

* Paulo Ricardo de Moraes, o Baiano, jornalista gaúcho, 49 anos, dirigiu para cinema “Da
Colônia Africana à Cidade Negra”. Também na área do audiovisual dirigiu juntamente com
Guarani Santos, o vídeo Negrostroyka, uma sátira negra relacionada com o regime russo da
época Perestroyka. Tem dois roteiros de curta-metragens em fase de captação de recursos
que são: A um gole da eternidade e Chic-Chóc. Para teatro escreveu a peça Carnaval, que teve
leitura dramática pública e na área de literatura escreveu os livros de poemas Eunuco, Negro
três vezes negro e O garçom e o Cliente (No balcão do Naval). Ainda escreveu a biografia do
marinheiro negro gaúcho João Cândido, que fez a Revolta da Chibata em 1910 que, em breve,
poderá se transformar em longa metragem, pois já existe um produtor interessado. Tem três
filhos é casado e militante do Movimento Negro Gaúcho

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FELINO
Irede Inês Masiero Farenzena

Enquanto eu canto, ele encanta,


eu sonho, ele assanha,
eu tolho, ele atalho,
eu velo, ele vil.

E ainda que eu viva


a cobrar e encobrir,
ele caça, eu esquecida,
ele ronrona, eu desmorono,
ele orgulho, eu em frangalhos...

Mas magoada, eu também arrranho.

10ª Menção Honrosa

* Irede Inês Masieiro Farenzena, nasceu em Antônio Prado, RS, em 26 de setembro de 1943 e
mudou-se para Veranópolis em 1944, onde reside até hoje.É formada em Pedagogia , Séries
Iniciais pela Universidade de Caxias do Sul e atualmente leciona na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Dom Matheus Pasquali. Começou a escrever poemas em 1992, sendo premiada
em muitos concursos literários. Participou com seus poemas e crônicas em várias Antologias.
Considera as palavras, um esconderijo da poesia.

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A Festa da Poesia

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