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IJUÍ, 2003
2
AGRADECIMENTOS
Ao professor Telmo Frantz pela paciência, compreensão e sabedoria, mas, sobretudo pela
orientação precisa e confiante, mostrando-me que ganhamos tempo ao viver sem pressa aceitando
os desafios do tempo real.
Ao professor Edemilson Jorge Ramos Brandão pelo incentivo e oportunas sugestões na banca de
defesa.
Aos professores José Pedro Boufleuer, Paulo Fensterseifer e André Lemos, pela disponibilidade,
pelas valiosas observações e fecundas contribuições.
Aos colegas e professores do Programa de Mestrado em Educação nas Ciências, pelo convívio e
aprendizagens. O entrelaçamento das buscas, o compartilhar de experiências e saberes muito
contribuíram nesta caminhada.
A Clarinês pelas preciosas interlocuções, ajuda incondicional e pela amizade fortalecida ao longo
deste trabalho.
A Inês e a Marli pelas manifestações de bem querer, colaboração e apoio nos momentos mais
difíceis.
4
Ao Raul, pelo carinho, incentivo, aconchego e pelos desafios que com amor enfrentamos juntos.
Aos filhos Fernando, Alexandre e Artur, bênçãos de Deus, com amor e gratidão.
A Ana Paula, Márcio, Bianca, Miercio, Daniela, Joana, Maria Eduarda e Laurinha, filhos e netas
do coração.
À Vó Carolina que na imobilidade silenciosa dos longos anos de enfermidade tem oportunizado
vivências e reflexões “outras” sobre a complexidade da vida como ela é.
A meus saudosos pais exemplos de fé e perseverança nas lutas a favor do sustento e do saber, com
profunda gratidão.
Ao professor Mario Osório Marques pela paixão de viver e acreditar na educação, pelo incentivo
constante e pelas alegres lembranças deixadas em mim.
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RESUMO
ABSTRACT
The present work is centered in the new information and communication technologies, their arrival
and repercussion at school, in the attempt of detecting which factors condition the perception and
use of computers in the teaching practice. It is about a qualitative research developed in three
public schools and a private one. The directive staff, teachers and students from the schools had
been interviewed, taking into consideration, the resistance or adhesion to the use of the computer.
The data had been analyzed in the interlocution with theoreticians of the historical cultural
perspective and communicative action pedagogy, considering the possibilities of constitution of
the individuals with their environment, through the language. The reflections produced along the
research and the analysis of the gathered data, indicate the school as a space in potential for using
the new information and communication technologies, through the versatility and interactivity that
characterize them. However, due to a series of implications, computerization still doesn‟t provide
the longed for pedagogical transformation. The individuals have brought to reflection their
conflicts and concrete difficulties with relation to the subject, what has made possible to list the
factors that give sustentation and significance to the use of the new technologies at school, as
provokers of innovations in the process of the construction of the knowledge. These factors have
led to the clarification and revision of the guided principles of the paradigms that don‟t adapt to the
current times anymore, the search of its overcoming and the promotion of new practices projected
from the paradigm of the communicative action, that, from collective actions, will be able to take
to more interactive and opened organizational and pedagogical transformations.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................09
1 A PESQUISA.............................................................................................................................12
1.1 Contextualizando o campo empírico................................................................................13
1.2. Organização metodológica...............................................................................................16
1.3. Reconhecimento da realidade e coleta de dados............................................................17
1.4. Organização e análise dos dados.....................................................................................18
3 CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE............................................................................78
3.1 Conversa com equipes diretivas - escolas “A”, “B” e “C”..............................................79
3.1.1 Conversa com equipe diretivas escola “D”..................................................................90
3.1.2 Conversa com professores - escolas “A”, “B” e “C”....................................................93
3.1.3 Conversa com professores - escola “D” .....................................................................102
3.2 Conversa com alunos – escolas “A’, “B”, “C” e “D”.....................................................105
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................159
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................167
ANEXOS
INTRODUÇÃO
Brizzi (2001) avaliou as contribuições que o uso da informática pode proporcionar ao processo de
Educação em Física e, paralela à presente pesquisa, Claudia S. Cunegatti (2003) investiga como as
novas tecnologias da educação colocam desafios outros à escola. São contribuições significativas
que constatam a necessidade de ampliar a discussão, o que indica a relevância de novos estudos
acadêmicos na abordagem do tema, onde se observa que ao mesmo tempo em que se amplia o
número de escolas que adquirem laboratórios de informática através de recursos próprios ou via
políticas públicas, repetem-se os problemas pertinentes a seu uso adequado no processo
pedagógico, detectando-se a carência de publicações sobre o assunto. Neste contexto o tema
impôs-se tanto pelos interesses imediatos das escolas que já contam com laboratório de informática,
quanto pelo peso e relevância do tema para os educadores e para a sociedade.
1 A PESQUISA
A pesquisa tem como campo empírico três escolas públicas e uma escola privada. As
públicas são apresentadas como escola “A”, escola “B” e escola “C”, duas situadas em cidades
próximas a Ijuí e outra no centro de Ijuí. São escolas que adquiriram laboratório de informática
numa parceria do Círculo de Pais e Mestres com o “Programa Crer para Ver” da Fundação
1
Organizações não Governamentais
13
ABRINQ pelos Direitos da Criança2. A forma de aquisição dos referidos laboratórios, ocorreu por
interesse das equipes diretivas em elaborar projetos junto a ONGs demonstrando interesse e
iniciativa própria na modernização do ambiente escolar, caracterizando uma situação diferente das
escolas públicas que fazem parte do PROINFO3, e receberam os laboratórios via projetos junto ao
MEC4, e que já foram objeto de estudo em pesquisas anteriores, neste Programa de Mestrado
(CARBONARI, 2000). As três escolas públicas aqui estudadas, já são familiares a esta
pesquisadora pelo acompanhamento na implantação dos projetos desenvolvidos pelas mesmas em
parceria com o Programa Crer para Ver da Região Sul nos anos de 1999 e 2000. No entanto, a
realidade de cada escola hoje é outra, visto que em duas delas as equipes diretivas foram
substituídas, o que não assegura a intencionalidade inicial dos projetos, além disso, ocorrem
significativas mudanças no ambiente escolar de um ano para outro. Ao constatar que nenhuma
destas escolas conseguiu, ainda, conectar a Internet em seus laboratórios de informática, considerei
oportuno ampliar o campo empírico e aplicar os mesmos instrumentos de pesquisa também em
uma escola já conectada à rede. Mesmo não sendo o elemento fundamental da pesquisa, a presença
da Internet permite estabelecer relações entre as diferentes realidades. A quarta escola envolvida
no projeto é mencionada como Escola “D”, é privada e já possui Internet há seis anos.
O município de Ijuí localiza-se na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,
região predominantemente agrícola. Possui um parque industrial ligado a agro-pecuária,
caracterizando-se como um pólo regional, por suas atividades nos setores de comércio, prestação
de serviços e educação. Este último destaca-se pela presença da UNIJUÍ, universidade de caráter
comunitário, articulada e comprometida com a sociedade regional, atuando no ensino, pesquisa e
extensão. Ijuí conta com cerca de 80 mil habitantes5, população composta por descendentes de
diversas nacionalidades6, sendo, por isso, chamado de “Cidade das Culturas Diversificadas”.
2
Organização não Governamental com sede em São Paulo.
3
Programa Nacional de Informática, criado em 1995. Fonte:TAJRA (2000, p.16-18).
4
Ministério da Educação e Cultura.
5
Censo de 2000
6
Entre elas as etnias alemã, italiana, polonesa, austríaca, sueca, árabe, afro-brasileira, holandesa,
portuguesa, espanhola e leta.
14
7
Plano Político Pedagógico de 2002 da Escola “D”.
15
O porte das escolas em questão situa-se na faixa de, no mínimo 350 alunos e no máximo
850 alunos.
Para Minayo, a indagação e construção da realidade, a partir dos problemas da vida prática,
é que caracterizam uma pesquisa nas Ciências Sociais. Para ela “existe uma identidade entre
sujeito e objeto” nas pesquisas da área humana, que por várias razões têm um substrato comum de
identidade com o investigador, tornando-o solidariamente imbricado e comprometido (2002, p.
14-16). Neste sentido a experiência que vivenciei junto às escolas anteriormente, hoje nos
aproxima, criando-se uma certa cumplicidade e afinidade, que favorecem a realização da pesquisa.
8
A equipe diretiva é formada pela diretora, vice-diretora, coordenadora pedagógica e orientadora educacional.
18
Num segundo momento, as entrevistas, que foram gravadas em áudio, partiram de questões
semi-estruturadas, com adaptações à medida que a conversa foi acontecendo, a fim de conhecer um
pouco mais sobre a realidade da escola, a linha de trabalho dos responsáveis pelos laboratórios de
informática, as concepções pedagógicas que fundamentam o trabalho dos professores, suas
argumentações e envolvimento com a dinâmica escolar. Na Escola “B”, por exemplo, tive espaço em
reuniões pedagógicas para conversar com os professores e refletir sobre a temática, quando além das
gravações em áudio, fiz os registros em vídeo, por entender que seu uso, para a documentação das
falas, resulta na possibilidade de selecionar situações que permitem o recorte de aspectos que
evidenciam o foco da pesquisa, favorecendo as análises em diversas perspectivas. Neste aspecto, o
material gravado permitiu observações e questionamentos que pareciam desnecessários ou sem
importância antes da pesquisa, entretanto, no final produziu resultados inesperados.
Observar não é invadir o espaço do outro, sem pauta, sem planejamento, nem devolução, e,
muito menos sem encontro marcado... Observar uma situação pedagógica é olhá-la, fitá-la,
mirá-la, para ser iluminado por ela. Observar uma situação pedagógica não é vigiá-la, mas
sim fazer vigília por ela, na cumplicidade da construção do projeto, na cumplicidade
pedagógica (WEFFORT, 1992, p.14).
Para que todos os dados coletados possibilitassem uma análise cuidadosa do contexto em
questão, organizei: a) um diário de pesquisa, onde registrei todas as entrevistas realizadas,
gravações em áudio e vídeo, observações de atividades e/ou episódios que julguei importantes
19
durante as visitas; b) uma listagem dos fatos que deram embasamento teórico à pesquisa, como
leituras de textos, livros, dissertações, sites e palestras; c) contatos com experiências que estão
sendo desenvolvidas nesta área em escolas locais.
As informações foram submetidas a uma análise, que não só pretende oferecer respostas às
hipóteses levantadas, mas suscitar algumas perguntas pertinentes aos dados disponíveis e à teoria
exploratória, uma vez que os elementos que configuram o foco e provocam as reflexões, são um
conjunto de depoimentos e situações consideradas na dimensão temporal e histórica de cada
ambiente por ocasião da pesquisa e estão em permanente mutação.
Busquei na Internet artigos e pesquisas sobre o tema, constatando que é nas universidades
que se concentram a maioria das produções sobre a Informática na Educação, a maioria delas
buscam fundamentar teorias a partir de outras publicações e pesquisas já desenvolvidas. No
desenrolar prático da pesquisa fui me percebendo constituída diferente do que ao iniciá-la,
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comprovando as idéias de Vigotsky de que tornamo-nos nós mesmos pelos outros. Assim o texto
busca por meio da interlocução de saberes, a coerência com o próprio foco da pesquisa.
No próximo capítulo inicia-se a reflexão sobre a complexa realidade humana, que se funda
na ancestral relação com a natureza, na cooperação dos homens entre si e na multiplicidade de
meios, objetos, instrumentos, habilidades e conhecimentos que foram se acumulando ao longo da
história até chegar ao cenário contemporâneo.
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As invenções nunca representaram uma mudança total, que se inicia a partir de um dado
momento e simultaneamente em todos os lugares, mas reconhecidos seus benefícios, foram sendo
utilizadas e mudando a percepção das coisas sob outros sentidos, outros entendimentos, outras
perspectivas, alterando hábitos, costumes e paisagens, criando novas necessidades, novos olhares e
novos paradigmas. Evoluindo e renovando-se, as tecnologias reconstroem o mundo, modificando
tempos, espaços e culturas.
Por muito tempo as técnicas artesanais eram de domínio comum e quase tudo o que se
precisava para viver era feito em casa. Hoje já não se faz quase nada a domicílio, porque a indústria
absorveu estas tarefas. Teríamos muita dificuldade de viver sem a enorme quantidade de
instrumentos, aparelhos, objetos, processos, conhecimentos práticos e teóricos e habilidades
humanas desenvolvidas pelo uso e manejo de aparatos inventados no último século e
principalmente na última década. Para muita gente, tudo vem pronto e a casa passa a ser lugar de
descanso, de convivência e principalmente lugar para desfrutar as tecnologias de comunicação e
lazer a que se tem acesso.
Se pensarmos em nossa vida cotidiana, veremos que ela é repetitiva, feita de muitos atos,
gestos e procedimentos automáticos. Diariamente nos deparamos com hábitos, atitudes,
conveniências e posturas que nos foram postas pela cultura de consumo que permeia nosso
entorno. As tecnologias são colocadas no mercado e mesmo conhecendo-as apenas
superficialmente, sem nos identificarmos muito com elas, as adquirimos e vamos inserindo-as no
nosso dia-a-dia. Poucas vezes nos detemos para pensar na sua função utilitária ou ideológica e
passamos a incorporá-las em nossas vidas. Ao comprarmos um instrumento olhamos logo seu lado
útil e funcional para nosso trabalho, bem estar e conveniências. Dificilmente pensamos no que está
implícito para que ele funcione, nas pessoas que o projetaram, que as produziram e as
comercializaram.
novas necessidades” (1997, p. 8). No entender do autor a tecnologia não é neutra politicamente,
pois a estrutura de poder se utiliza da tecnologia, como de outros meios, para exercer sobre ela o
controle de suas ações e de sua ideologia. A vida comunitária, em cada momento histórico, se
realiza no cotidiano, com os usos, costumes, tradições culturais, utilização dos equipamentos
tecnológicos de que dispõe e também com as concepções sociais dominantes.
Em cada objeto que nos cerca, em cada instrumento que usamos, em cada máquina que
operamos, está presente a humanidade. Nessa longa história a humanidade foi como que
empilhando experiências, aprendendo da prática e da reflexão, inventando os meios de
que necessitava para viver. Nós somos herdeiros dessa pilha, de quase dois milhões de
anos. É por isso que podemos afirmar que as técnicas e as tecnologias fazem parte da
humanidade, são inseparáveis dela e sempre tiveram e continuam tendo uma enorme
influência no modo como se dá a organização da produção e do trabalho da sociedade
(2000, p. 13).
Fazendo um recuo de apenas quarenta anos dos dias de hoje, a alguns setores da vida
cotidiana, nos surpreendemos com o salto da tecnologia, no aspecto da qualidade de vida.
Observamos mudanças grandiosas, por exemplo, nas residências e suas dependências, com todos
os objetos e acessórios de uso diário. Nas empresas do setor de alimentação, vestuário, prestação
de serviços em qualquer área, enfim todos os setores que envolvem a fabricação de objetos,
utensílios e ferramentas, as mudanças impressionam. Instrumentos, máquinas e utensílios antigos
salvo raras exceções, servem apenas para adorno e saudosismo. Percebemos também que, além das
coisas necessárias e úteis, encontramos hoje, em todos os setores da vida, uma infinidade de
acessórios supérfluos, que criaram necessidades simbólicas antes inexistentes. Por tudo isso, a
rotina prática de trabalho para qualquer profissão ou atividade, em nossos dias tem uma enorme
diferença ocasionada pelas tecnologias presentes. Delas podemos extrair elementos individuais e
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instrumentos para realização pessoal, mas sua linguagem é de cunho social, o que concorre para a
aquisição de uma nova cultura. A artificialidade destes elementos e instrumentos condiciona as
pessoas a viverem de acordo com necessidades que, se não satisfeitas, dificultam e até inviabilizam
a vida urbana. As necessidades crescem à medida que surgem inovações tecnológicas que
aumentam cada vez mais esta artificialidade. “Fomos rodeados nestes últimos quarenta anos, por
mais objetos do que nos precedentes quarenta mil anos. Mas sabemos muito pouco sobre o que nos
cerca” (SANTOS, 1996, p. 20).
Faço agora uma retrospectiva das formas encontradas pelos homens para resolver suas
dificuldades relacionadas à sobrevivência material da sociedade humana implicada nas
necessidades, produções sistemáticas, meios e instrumentos que se distribuem entre os indivíduos
e se transmitem de geração para geração.
25
Mas é justamente por ser comunitário, que o homem busca melhores formas de resolver
seus problemas de sobrevivência, aperfeiçoando suas técnicas e investindo nelas para tornar sua
comunicação mais fácil, articular e tornar seus trabalhos menos pesados e sua vida mais agradável.
26
À medida que as civilizações se tornavam mais estáveis, graças aos avanços técnicos,
principalmente após a invenção da agricultura, a estrutura social tomou feições mais complexas,
percebendo-se que domínio técnico sempre foi fonte de poder como afirma Motoyama:
Na Antigüidade já existia uma tradição pedagógica e até mesmo escolas para formação de
cidadãos das classes dominantes, porém, os técnicos relacionados com ofícios mais cotidianos não
tinham tais benefícios. A criatividade e a fertilidade de imaginação, tão característica dos gregos,
não tiveram lugar na área artesanal. Os sofistas escreveram manuais e até pensaram numa filosofia
da técnica, porém, eram, antes de tudo, pedagogos ocupados com os reclamos da sociedade, com
uma estrutura na qual a inovação técnica não tinha muita importância. Foram os pesquisadores
alexandrinos, apoiados por Ptolomeu (323-285 a.C.), general de Alexandre Magno, que iniciaram
invenções científicas e técnicas de alto nível, envolvendo, mais tarde, sábios como Heron,
Herófilo, Euclides, Arquimédes e outros. Essa aproximação entre ciência e técnica teve um grande
significado para o futuro desenvolvimento dos povos (MOTOYAMA, 1995, p. 21-30).
leme moderno (século XIII), pólvora, relógios de pêndulo, plaina (século XIV) e imprensa (século
XV). A difusão de cada uma dessas invenções trouxe mudanças importantes nos campos militares,
agrícolas, nos meios de transporte e outras atividades, causando visíveis transformações a nível
socio-econômico. Roger Bacon, monge que muito valorizou o ensino das técnicas nos mosteiros,
em pleno século XIII prognosticava o surgimento de máquinas automotivas, submarinas, náuticas,
terrestres e voadoras, prenunciando a sociedade moderna.
Segundo Motoyama (1995, p. 23-31) a situação só se altera quando se opera uma conjunção
entre teoria e prática proposta por D. João II, profundo conhecedor da ciência náutica e entusiasta
da navegação, que se cerca de uma comissão de sábios, aproximando-se da Escola de Nuremberg,
na busca de contribuições úteis à prática. Os chamados “Engenheiros da Renascença”, entre os
quais Leonardo da Vinci, Brunelleschi, Lorenzo Ghilbert e Taccola com seus conhecimentos
empíricos, estudos e descobertas, gestavam silenciosamente a modernidade que estava por vir.
Outros grandes nomes do final deste período, como Galileu Galilei, Johanes Kepler, Maris
Mersene, René Descartes, Christian Huygens, Francis Bacon, Robert Boyle, Isaac Newton e
inúmeros outros, louvaram o ensino das técnicas, interessando-se inclusive pela história delas, o
que resultou na criação das primeiras instituições científicas, como a Royal Society (1662) e a
Academie des Sciences (1666), que expressavam um interesse invulgar pela história, entendendo-a
como sinônimo de progresso, crença que tem gerado muitos questionamentos.
Munford citado por Motoyama (1995, p. 28) destaca uma ligação da abadia com o mundo
moderno, representada, na sua essência, pela mecanização, e mostra o papel central que o relógio
mecânico tinha nas comunidades religiosas, pontuando o tempo e regulando suas atividades numa
28
rígida disciplina. Segundo o autor, a invenção do relógio mudou os hábitos do homem medieval
pela imposição de um tempo artificial, em lugar do tempo biológico e natural usado até então.
René Descartes (séc. XVI), filósofo dotado de muita sensibilidade, soube captar o sentido e
a direção do processo histórico do seu tempo. Embora fosse mais conhecido por seu pensamento
abstrato e matemático, no final da vida elaborou o projeto de uma escola de artes e ofícios, com o
objetivo de aproximar os artesãos e técnicos com os cientistas, julgando que a educação técnica era
ingrediente indispensável para o progresso universal. Abriu, assim, as portas para o advento de
novas filosofias para a sociedade burguesa, que começava a surgir. Também as idéias de Bacon,
Bruno, Spinoza, Leibiniz, entre outros, ganham forma e conteúdo num momento de transição, em
que o processo de modernização gera muitas contradições. Embora não tenham conseguido
resultados espetaculares na área prática, esses pesquisadores conseguiram uma tradição de auxílio
entre a ciência e a técnica, que reverteu em frutos vigorosos a partir do século XVIII,
impulsionando os grandes avanços da Era Industrial.
uma habilidade humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos e deve ter tido
origem com o surgimento da habilidade de utilizar com destreza ambas as mãos, em
simultaneidade com a característica humana de utilizar símbolos, capazes de correlacionar
objetos com o pensamento e o instinto humano. Provavelmente, no surgimento das
técnicas, comparecem tanto os instintos animais quanto o acaso (por exemplo, o do
29
Sucessivas fases de desenvolvimento levam o homem a criar projetos cada vez mais
arrojados, transformando o ritmo da produção histórica das técnicas, até sua valorização como
30
ciência da produção, quando passou a ser pensada e estudada recebendo então a denominação de
tecnologia. Segundo Frantz foram os historiadores Fernand Braudel (1967) e Pierre Ducassé
(1969) que em meados do século passado manifestaram uma certa inconformidade com a história e
o estudo da “técnica”. Por não aceitarem que ela fosse reduzida à mera descrição das sucessivas
descobertas do artesão ou do engenheiro, passaram a investigar o assunto situando-o em seu
contexto histórico mais amplo, o que lhe deu um novo sentido. Frantz afirma que mesmo
conhecendo as técnicas utilizadas na fabricação de artefatos fundamentais para determinadas
épocas,
Pelo que se tem conhecimento, a primeira definição moderna de tecnologia teria sido de J.
Beckmann (1846). Para ele “A tecnologia é a ciência que ensina como tratar os produtos naturais e
o conhecimento dos ofícios, em vez de mostrar unicamente os escritórios e como se devem seguir
as instruções e os hábitos dos mestres para fabricar uma mercadoria, a tecnologia dá ensinamentos
profundos e seguindo uma sistemática”. (SALDANHA, apud FRANTZ, 2002, p.33).
A partir daí, outros conceitos surgiram com diferentes abordagens, realçando outras
dimensões. Para Castells, em linha direta com Brooks e Bell, tecnologia é “o uso de conhecimentos
científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível” (2001a,
p. 49).
Hoje a palavra tecnologia vem sendo empregada entre nós como sentido de técnica
atualizada, ou mesmo num sentido menor, como por exemplo, o do trato com aparelhagem ou
processos de fabricação sofisticados e mesmo num sentido comercial, muito próximo ao de
marketing. Para Vargas “tecnologia é cultura que se tem ou não, cuja aquisição se dá por uma
inserção de todo o sistema sócio-cultural do país, no assim chamado mundo moderno‟‟ (1994, p.
31
Alguns historiadores e filósofos citados por Santos (1999, p. 47), fizeram interpretações
sobre as técnicas de forma sintética, mas abrangente: L. Mumford (1934) agrupou-as em três
grandes momentos: o das técnicas intuitivas movidas pela água e o vento; o das técnicas empíricas
do ferro e do carvão e o das técnicas científicas, da eletricidade e das ligas metálicas. Ortega y
Gasset (1939) propôs os três tempos em: a técnica do acaso, a técnica do artesão e a técnica do
técnico ou engenheiro. Heidegger (1958) mostra a diferença entre a techné grega e a técnica
moderna. Para ele poiésis é produção, sendo que ambas, natureza (physis) e técnica (techné),
fazem parte da natureza e a essência da técnica moderna estaria justamente na provocação
científica do mundo, partindo do princípio de que a natureza está disponível à livre manipulação do
homem, propondo que se reconheça uma técnica dos antigos e uma técnica dos modernos. J. Rose
(1974) identifica: a revolução neolítica, a revolução industrial e a revolução cibernética.
Concluindo, Santos, simplifica a história das técnicas em três palavras: a ferramenta, a energia e o
autômato.
O século XVIII foi marcado pela Revolução Industrial, caracterizando-se pela evolução
tecnológica, que teve como marco decisivo a invenção da máquina a vapor considerada o vetor das
primeiras grandes transformações. A partir daí o conceito de energia passou a unificar o
relacionamento entre ciência e indústria. Para Lemos:
A partir dos séculos XVI e XVII, começa a grande revolução científica e uma
aproximação gradativa entre técnica e ciência. Até a Revolução Industrial (a máquina a
vapor foi produzida quando ainda não existia uma ciência para explicar os fenômenos
físico-químicos), a técnica era produzida e desenvolvida relativamente independente da
ciência. É a partir do século XX, basicamente a partir da Segunda Guerra Mundial, com os
chamados Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que a técnica e a ciência
tornaram-se um só saber, constituindo o que chamamos de tecnociência. Nesse ponto, em
que não sabemos mais onde termina uma e começa a outra, nasce a tecnologia moderna. A
tecno-estrutura moderna é produto de uma tecnização da ciência e uma cientificização
da técnica (Bartholo Jr.), dessa forma, as ciências aplicadas vão desembocar em novas
tecnologias e essas, por sua vez, vão proporcionar o desenvolvimento da ciência (1999, p.
82-3. Grifos do autor).
Conforme Chassot em torno de 1900 uma nova grande transformação ocorreu nas
ciências naturais, com grandes alterações no campo da física, repercutindo na química, na biologia
e na geologia. Esta fase seria uma nova Revolução Industrial, que desencadeou a criação de
inúmeras máquinas e instrumentos que passaram a modificar a cada dia os usos e costumes da
sociedade (1994, p.145).
Todos são, no entanto, afetados pela dinâmica do processo mais avançado. Assim muitas
das características de Revolução Industrial estarão presentes ainda por longo tempo,
convivendo com as novas formas de vida e de organização do trabalho, típicas da fase
pós-industrial, fato que dificulta a percepção da verdadeira dimensão do que está
ocorrendo (2002, p. 16).
Estando o foco desta pesquisa centrado na inserção dos laboratórios de Informática nas
escolas, faço um resgate dos aspectos mais significativos que pautaram o caminho da informática,
que despontou nas últimas décadas como um dos vetores das novas tecnologias.
No século XVIII, com a mecanização da indústria têxtil, Jacquard criou uma técnica para
fazer o tear funcionar automaticamente, utilizando cartões perfurados o que se tornou a base
tecnológica dos computadores. Os cartões guardavam as informações que compunham os
desenhos dos tecidos através dos furinhos do cartão, representando na época o que hoje chamamos
35
de programa. Essa mesma técnica foi usada posteriormente, no início do século XIX, pelo
matemático inglês Babbage, ao projetar uma calculadora automática e um esquema de preparo de
tábuas matemáticas para cálculo de juros compostos, logaritmos e funções trigonométricas.
“Babbage trabalhou também no projeto de um calculador diferencial - uma calculadora mecânica,
projetada para construir novas tábuas e testar as já publicadas, fazendo parte dessa máquina um
ancestral mecânico dos atuais chips eletrônicos” (BONILLA, 1997, p. 42).
Na
década de 50 houve redução no tamanho e no preço do computador e também o aumento de sua
capacidade devido à invenção do transistor que era mais barato e menor que a válvula. Na década
de 70, graças à invenção dos microcircuitos eletrônicos, surgiram os microcomputadores e, a partir
daí, ocorreu um aumento constante na capacidade de processamento e de memória desses
equipamentos.
A introdução do WWW9 foi a grande descoberta, a partir da qual a Internet, este elemento
virtual que surgiu com fins acadêmicos e militares, hoje tem um uso comercial muito grande e
cresce significativamente abrindo muitas possibilidades no campo da pesquisa e em todos os
aspectos da comunicação. Além da interface gráfica WWW, a rede oferece correio eletrônico,
grupos de discussão, transferência de programas e execução de programas a longa distância
(Telnet), entre outros
Hoje é grande o número de usuários da Internet tanto nos ambientes de trabalho como a
domicílio. Ela entrou na nossa cultura de forma irreversível e qualquer pessoa tem liberdade para
acessar e navegar por onde queira de acordo com seus interesses, num ritmo não linear,
configurando-se num fenômeno de extraordinária ressonância social, econômica e cultural que tem
modificado o modo de viver de muitas gerações, como escreve Frantz: “O mais interessante é que
9
World Wide Web
10
RNP - Disponível na Internet pelo site http://www.rnp.br.
38
estas inovações tecnológicas não implicam apenas a existência de novos artefatos úteis para a vida,
mas o seu uso afeta a concepção que as pessoas tem do mundo e implica em mudanças no seu
modo de viver e de entender a vida” (2002, p. 47).
Estrategicamente, criou-se uma tendência geral e todos querem ter acesso às novas
tecnologias da informatização e da comunicação, principalmente à Internet. A tendência é
democratizá-la, através da implantação de Laboratórios de Informática nas instituições públicas e
comunidades escolares, o que já vem acontecendo e exige um olhar crítico para a regulação e
objetividade de seus uso. Conforme Castells,
Em nosso país a disseminação da Internet é mais significativa nas regiões mais populosas
e ricas do país, pelo potencial comercial dessas regiões. Embora as pessoas com mais idade
apresentem uma certa resistência às novidades técnicas e em especial às novas tecnologias da
informação e da comunicação, a população jovem não tem barreiras. Por isso é preciso investir nas
novas gerações, começando pelas escolas, o melhor lugar para sua democratização. Os jovens são
ávidos para experimentar formas de comunicação diferentes das já conhecidas nas mídias
clássicas. Pensar as novas tecnologias, na aurora de seu surgimento significa reconhecê-las como
parte da vida social e cultural do planeta e ter consciência de que elas oferecem mudanças
qualitativas através de um ambiente inédito que resulta das novas redes de comunicação, pois
11
O nascimento da cibercultura como nova configuração técnica da cultura
contemporânea, em que as tecnologias digitais em rede têm potencializado novas formas de
linguagem, abre um novo espaço de comunicação nos planos econômico, político, cultural e
humano. Na interpretação de Lévy “Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das
mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em
criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente (2000, p.15).
11
Para Lévy cibercultura é “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas,
de atitudes, de modos de pensamento e de valores que desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço” (200), p.17).
12
“Espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e a memória dos computadores.”
LÉVY, 2000, p.92).
13
Bibliotecas, museus, jornais, televisão, etc...
40
complexidade crescente e pelas vastas possibilidades que oferece. Cria-se um ambiente cultural e
educativo suscetível de diversificar as fontes de conhecimento e do saber, beneficiando as novas
gerações e abrindo importantes possibilidades para a educação permanente de adultos. Diferente
do que qualquer período da história humana, temos hoje a possibilidade de pensar coletivamente e
influenciar os rumos da humanidade.
O arcaico, o bárbaro estão à espreita, prestes a surgir ainda mais arcaicos e bárbaros do
que jamais foram. Tudo coexiste: a mundialização (que faz agora de toda guerra uma
guerra civil) e os fanatismos nacionais; as máfias triunfantes e os refinamentos da bioética;
o continente cultural transversal da juventude urbana, suas insígnias músicas, e o trabalho
infantil: a fonte e as megamáquinas mundiais de produção de sonhos das indústrias de
diversão interativas; as multinacionais de alta tecnologia e a escasses de água; o
ciberespaço e o analfabetismo... O tempo não é linear, é múltiplo, em espiral, em
turbilhões (LÈVY, 1994, p. 209-210).
efeitos que se pensava, iriam unir mais a humanidade, têm aumentado o abismo entre ricos e
pobres, polarizando e favorecendo o capitalismo financeiro, alimentando o neoliberalismo
selvagem e duro que aí está, tentando simbólica e empiricamente, criar um espaço unipolar de
dominação.
A Era da Informação tem levado muitos conceitos que nortearam a humanidade a serem
desmontados e reestruturados. Mesmo que suas implicações já façam parte direta ou indiretamente
da vida de todos, a percepção de sua verdadeira dimensão ainda é pouco compreendida, como
argumenta Frantz “As leituras desta nova realidade vivida e apenas parcialmente entendida, são as
mais variadas. E essa diversidade de análise não é apenas uma „deficiência‟ do cidadão comum,
mas atravessa o mundo dos intelectuais, sejam eles sociólogos, filósofos ou físicos” (2002, p. 11).
Ainda não é tarde demais para refletir coletivamente e tentar modificar o curso das coisas.
Ainda há lugar, nesse novo espaço, para projetos. As “infovias” e a “multimídia” não
acabarão sendo apenas uma supertelevisão? Estariam anunciando a vitória definitiva do
consumo de mercadoria e do espetáculo? Aumentarão o abismo entre ricos e pobres,
excluídos e “bem-posicionados”? (2000, pág. 12).
Para o autor este é um futuro possível. Mas se for avaliada a tempo a importância do que
está em jogo, os novos meios de comunicação poderiam renovar profundamente as formas do laço
social, no sentido de uma maior fraternidade e ajudar a resolver os problemas com os quais a
humanidade hoje se debate.
43
Temos hoje o mercado financeiro global em tempo integral, com todas as conseqüências
na vida do homem, que atingem principalmente as relações de trabalho, permitindo uma nova
forma de viver, um novo espaço de comunicação e transações econômicas, políticas, culturais e
sociais, num ambiente espacial e temporal inédito. Os avanços científicos e tecnológicos
aperfeiçoam-se numa velocidade surpreendente que não se restringe somente a eles, mas à
realidade do mundo contemporâneo.
Se a globalização integra, ela também posterga, separa, divide. Pouco se quer saber do
passado e há uma fuga do confronto com os problemas emergentes, onde a provisoriedade passa a
ser uma constante. Na falta de perspectivas de futuro temos que nos apegar ao presente. Antes se
sonhava com o depois, hoje o tempo é presente. A idéia é usufruir o aqui e agora. Para Marques:
de que fala Marques. O processo de globalização em sua fase atual, revela o desejo de estruturar o
domínio do mundo, na associação entre grandes organizações hegemônicas legitimadas pela
tecnologia amplamente utilizada.
Estamos imersos numa forma de abolir o espaço através do tempo imediato, instantâneo e
real em que a idéia de espaço perde sua relevância, mas o local não perde o sentido. Assim o global
não aniquila o local. O que vemos na Internet, por exemplo, é mais um reforço do local,
aproveitando o fluxo de informação planetária, do que uma dissolução do local no global. “Talvez
a palavra chave seja “glocal”, processo híbrido formado por características locais e globais”
(SANTOS, 1999, p. 87 ). E é este o ponto que exige maior conhecimento e clareza sobre os
aspectos globais que invadem as comunidades. Podemos ter uma visão privilegiada com relação ao
todo universal, chegar nos mais distantes lugares, conhecer realidades nunca imaginadas, pois “O
período histórico atual vai permitir o que nenhum outro período ofereceu ao homem, isto é, a
possibilidade de conhecer o planeta extensiva e profundamente”(SANTOS, 2000, p. 31).
Santos é muito otimista e afirma ainda, que a globalização atual não é irreversível, pois
graças aos progressos fulminantes da informatização, cria-se a consciência de “ser mundo” e estar
interagindo neste mundo, onde a presença maciça da humanidade etnicamente misturada traz
consigo interpretações múltiplas e variadas, que colaboram na produção renovada de entendimento
e crítica da existência. Ele aponta o advento de mudanças com relação a uma reorganização
espacial, projetando as cidades como “espaços de liberdade para a cultura popular, em oposição a
uma cultura midiática de massas”. Prevê também uma horizontalidade na luta dos oprimidos
contra a verticalidade dos opressores, conduzindo a uma centralidade social, que será a base para
uma nova política, onde a alienação poderá ser substituída por uma nova consciência de sociedade,
45
solidariedade e cidadania não voltada para as classes dominantes, mas para a humanidade em geral
(2000, p. 31-32).
Com relação ao desenvolvimento da economia informacional global, Castells percebe sua
caracterização devido ao seu surgimento em contextos culturais diversos e em diferentes países,
numa estrutura de referências multiculturais, afirmando que:
Neste sentido surge uma nova lógica organizacional que está relacionada com o processo
atual de transformação tecnológica de cada organização ou instituição, inclusive as educacionais,
sem, no entanto, depender deste processo para manifestar-se sobre as formas que as caracterizam
em diferentes contextos sociais e culturais. As novas tecnologias de informação e da comunicação
podem ser por elas utilizadas para permitir uma maior interação entre as pessoas e a comunidade,
em atitudes às vezes contraditórias, ora preservando valores transcendentais e a memória histórica,
ora valorizando a lógica abstrata e não natural dos espaços de fluxos. Pode-se dizer que estas
contradições são comuns a um momento de transição entre um modelo de sociedade e outro.
Os motivos pelos quais esse fenômeno torna-se nitidamente observável, mesmo em países
como o Brasil, parecem residir não somente na elevada ênfase que atualmente se dá à
aquisição de elementos materiais e de conteúdos de base informática ou na facilidade e
rapidez com que a informática se estende a outras áreas de aplicação, mas sobretudo, nas
interrelações que daí emergem, como resultado de um acelerado processo de
transformação (1995, p. 9).
O próximo item trata da estreita relação entre tecnologia, sociedade e educação, pela
interação que as aproximam no contexto histórico, visto que a escola tem procurado levar as
novidades tecnológicas para o campo da educação, seja como instrumento de comunicação
didática ou como geradora de novos conhecimentos, metodologias e esperanças.
A trajetória histórica da tecnologia evidencia sua estreita relação com a educação por sua
mediação com o trabalho, com a mudança de pressupostos que influenciam os conteúdos
programáticos, métodos e técnicas de ensino onde as relações interescolares se sucedem e se
47
Isto significa que para entender seu entorno e poder atuar nele criticamente, o homem
precisa entender que na história da humanidade o progresso tem a ver com a utilização de
tecnologias que, ao se modernizarem, pretendem melhorar a vida das pessoas, principalmente se
tiver a escola como aliada. Neste sentido, para o autor, tecnologia significa “o elemento que
propicia não só o avanço da sociedade, mas também influencia suas condições reais de qualidade
de vida, desenvolvimento e progresso” (1997, p. 22-23), sendo vista como um fenômeno positivo.
Porém, as mudanças
Nã
o são relações de parceria tranqüila, pois o mundo em mutação provoca crises,
dissociações e destruições. A educação e a tecnologia provocam interações dialéticas
porque emergem da crítica em busca da libertação do jugo do poder e das técnicas como
instrumentos do domínio econômico sem o social (BASTOS 1997, p. 23).
A Era da Informação apesar de recente e ainda em gestação, tem estreitado os laços entre
tecnologia e sociedade, onde a difusão das novas tecnologias da informação e da comunicação a
um número sempre maior de usuários, amplia suas áreas de aplicação, refletindo-se diretamente na
educação, pela possibilidade e facilidade da aquisição de conhecimento, pois,
48
Se nos modelos de sociedade anteriores a força bruta e a energia eram fundamentais para
o desenvolvimento social, hoje a informatização é o elemento propulsor de mudanças sociais como
pondera Castells:
A tecnologia tratada no sentido amplo, não é algo determinante, mas decisivo para o
desenvolvimento da sociedade nas dimensões estruturais, econômicos e culturais. Estas dimensões
históricas impregnam os espaços das instituições escolares afetando as relações internas e externas
de seu contexto. Sem um conhecimento histórico-social mais abrangente sobre as novas
tecnologias, cria-se talvez, uma tensão entre as especialidades socioculturais gerais e
posicionamentos de grupos escolares específicos.
A
49
sociedade é, antes de tudo, um produto das relações que se estabelecem entre os homens e que
interferem na lógica do seu desenvolvimento de forma que “quanto mais avançada a tecnologia,
quanto mais complexa ela for, mais densamente social ela é, quanto mais a tecnologia evolui, mais
densa é a teia de relações sociais necessária para que a sociedade continue a existir” (BELATO,
2000, p.17).
Nos dias atuais busca-se apoio da sociedade sobre o uso da tecnologia para a vida em
oposição ao predomínio da tecnologia sobre a vida. As mutações são sempre acompanhadas da
representação de nosso papel, frente ao papel da tecnologia, através de suas faces amigáveis ou
não. Entretanto, uma representação nunca é arbitrária, mas uma criação, uma construção carregada
de significações que vão transformando-se, ressignificando-se a cada movimento da relação
concreta ou virtual, o que implica sempre em processos de atualização sucessivos. “Uma técnica é
produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas.
Condicionada e não determinada” (LÈVY, 2000, p. 25).
O item que segue trata a educação como preocupação dos homens, sempre mediada pelas
tecnologias da linguagem e comunicações possíveis em cada contexto, tal como foram se
constituindo nos tempos, espaços e grupos sociais até nossos dias.
50
As relações pedagógicas acontecem via linguagem, cujas formas precisam ser entendidas
na sutilidade surpreendente com que se entrelaçam no entorno social próximo e global.
Na fase atual em que a evolução das tecnologias da informação e da comunicação são uma
realidade incontestável, é importante que sua contextualização atinja o espaço social e escolar. Nas
palavras de Santaella, “A entrada para o século XXI deverá ser lembrada no futuro como a entrada
dos meios de comunicação em uma nova era: a da transformação de todas as mídias em
transmissão digital, como se o mundo inteiro estivesse de repente, virando digital” (2001, p.14).
A escola centrada em sua missão educativa, imersa na cultura social, é seduzida pelas
novas técnicas de articulação das linguagens e parece urgente divisar quais os fios e os desenhos
51
que a informação, agora abundante, delineia em seu interior. Ignorá-las é talvez, entrar num
processo de exclusão e deixar de fazer significativo o desafio de constituir-se em lugar social
interativo entre pessoas de gerações, culturas e classes sociais diferentes.
expressão através de gestos, posturas, sons, observação, fala e escuta. Começam a entender-se os
homens uns aos outros, com mensagens em presença física imediata, em grupos humanos
concretos e distintos, onde se constroem e se reconstroem saberes de forma contínua. Assim
acontece a educação, com a modelação de cada um no interior do grupo social de acordo com as
normas próprias que caracterizam a comunidade.
Assim, as primeiras tecnologias da linguagem, cujo suporte era o corpo, iam além da
palavra. A mímica, o grafismo, os ritmos e o próprio silêncio, são portadores de mensagens que
estabelecem relações entre os homens, bem como os discursos, as melodias, as danças e os rituais.
A escrita, por ser contemporânea ao surgimento da moeda, teve campo fértil para
54
Na trajetória que se vai construindo, surge a imprensa, grande conquista, que maravilhou
a todos, principalmente aos intelectuais. Encarregada do trabalho de registro e multiplicação do
discurso e imagens a ele associadas para a comunicação de fatos e acontecimentos, a imprensa traz
consigo a promessa de grandes transformações culturais, históricas e sociais, “dando ao discurso
alfabetizado uma nova dimensão, tanto quantitativa, no sentido de que as letras finalmente podiam
escapar da servidão ao estilo e capricho do escriba, para tornar-se padronizadas e legíveis como
antes nunca foram” (Havelock, apud MARQUES, 1999, p. 92). Assim, caracteriza-se a imprensa
numa nova tecnologia da linguagem para articular a escrita.
técnico que lhe dá suporte. Mas, cada geração assimila a herança cultural dos antepassados e ao
mesmo tempo vai estabelecendo processos de mudança em que “o homem se insere no tempo: o
presente humano não se esgota na ação que realiza, mas adquire sentido pelo passado e pelo
futuro” (ARANHA, 2000, p. 17).
a partir das relações que estabelecem entre si, os homens criam padrões de
comportamento, instituições e saberes, cujo aperfeiçoamento é feito pelas gerações
sucessivas, o que lhes permite assimilar e modificar os modelos valorizados em uma
determinada cultura. É a educação portanto, que mantém viva a memória de um povo e dá
condições para a sua sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é uma instância
mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e sociedade (ARANHA,
2000, p.15).
Podemos dizer então que nesse movimento dinâmico da escola instituída coexistem
múltiplas possibilidades, significações e produção de sentidos que se renovam com as
transformações substanciais que ocorrem na sociedade e nas formas de comunicação de
linguagem. Os sujeitos passam a constituir-se diferentes a partir das interações que se estabelecem
no espaço escolar, principalmente nas relações de conhecimento em que os saberes culturalmente
sistematizados, mais a difusão de elementos provenientes das pesquisas em todas a áreas e as
inovações tecnológicas, lhes possibilitam a mediação com o ambiente social. E assim,
Atualmente, estando a escola inserida numa sociedade que contempla a cultura semiótica
das imagens e signos, onde convivem sujeitos constituídos por diferentes relações sociais,
históricas e culturais, cria-se uma lacuna com relação às expectativas sociais, visto que ela, a
escola, não tem conseguido desenvolver-se no mesmo ritmo que outros segmentos sociais.
Não estamos frente a uma simples encruzilhada, que pede desvios de percurso ou
pequenas reformas, como acontece em situações de crise. O momento exige invenção,
com ousadia de imaginação para criar o novo. O modelo da escola tradicional mostra-se
anacrônico, e as propostas para o ensino e aprendizagem não se referem apenas às novas
gerações, mas aos que permanecem excluídos do sistema, bem como à reciclagem dos
adultos educados pelos antigos padrões (ARANHA, 2000, p. 234).
A introdução das novas tecnologias na escola, por ser recente, encontra-se ainda numa
fase experimental e instável, mas com promessas proporcionar possíveis e substanciais inovações
metodológicas, se encaradas com otimismo e espírito inovador.
Ao falarmos em tecnologia na escola, fazemos referência ao uso de toda e qualquer forma
de tecnologia14 presente na educação, incluindo a fala humana, a escrita, o lápis, giz e lousa, a
imprensa, revistas e livros entre outros. Os dois últimos séculos viram o aparecimento de várias
novas tecnologias de comunicação como o correio moderno, o telégrafo, o telefone, a fotografia, o
cinema, o rádio, a televisão e o vídeo15. Referimo-nos também a currículos, programas e teorias de
14
“hard” ou “soft”
15
Datas e marcos são questionáveis, mesmo assim, achamos oportuno pontuar o advento das tecnologias que chegaram
no último século, o que faço num breve e simplificado esboço esquemático, a partir de PRETTO (1996): fotografia –
1839 (Daguerre - Paris); cinema- 1895 ( Irmãos Lumière - Paris); rádio - 1912 (ganha espaço mundial em 1920, chega
no Brasil em 1923); televisão –1936 (BBC- Britsh Broadcasting Corporation inicia suas transmissões que ainda estão
no ar, inicia no Brasilem 1953, pela Tupi); máquinas de calcular – década de 30; computador – 1943 ( primeiro
computador em operação foi o Colossus, na Inglaterra, desenvolvido por Newman); vídeo – década de 60 (gravação
em vídeo e produção industrial); videogames – década de 70/80; CD-áudio - 1980 (computer diss.read only memory,
comercialização em 1990); multimídia – década de 90 (utilização integrada som, imagem e informação); Internet –
1994 (milhões de usuários).
58
Nos últimos dois séculos a imagem sem registro possibilitou a transmissão de seu uso
como forma de comunicação. Iniciando pela fotografia, teve seqüência pelo cinema, televisão e
vídeo, foi sendo incorporada a uma outra vertente, a das máquinas de calcular, para fundi-las nos
recursos informáticos. A velocidade com que circulam as informações no mundo é fruto desta
fusão. Teria sido esta fusão o vetor da expressão novas tecnologias?
discernir em que medida são a causa ou o efeito das transformações. No momento em que a
tecnologia abre espaço para a reflexão sobre si, ela entra na escola em forma simbólica de novas
tecnologias ou equipamentos de informática, dando à escrita uma “graficação espacializada da
linguagem, a reserva a iniciados e a escola separada das preocupações cotidianas da população em
geral, técnicas que levam a outras formas de pensar” (MARQUES, 1999, p.44). O autor ainda
acrescenta: “por novas tecnologias entendemos, hoje, o surgimento de uma outra articulação de
linguagem encarnada em novos suportes que são as máquinas com que os homens se comunicam,
dotando-as da capacidade de processarem e intercambiarem informações” (idem, p. 45).
Para chegar onde estamos, Lèvy distingue sinteticamente duas etapas anteriores, na
evolução da linguagem, em seus suportes técnicos: a primeira se inicia pela cultura oral, onde as
comunidades fechadas vivem uma totalidade em si mesmas, sem a dimensão de universalidade, e a
segunda pela cultura escrita das sociedades civilizadas, que estendem a memória social no tempo e
no espaço, num universal totalizante permeado pela diversidade de culturas. Agora, numa terceira
60
etapa, chega a cibercultura. Nesta, ele prevê uma globalização concreta das sociedades, num
universal sem totalidade, onde se multiplicam as micrototalidades emergentes, abertas e
intercomunicantes pelos contatos e interações que promovem (2000, p. 47). Estas diferentes
articulações de linguagem, estruturalmente implicadas em suas formas corpóreas, que de forma
lenta evoluíram, influenciam de forma determinante no ato de pensar e de agir dos sujeitos,
comprovando que a educação está ligada de forma indissociável às tecnologias e formas de
linguagem de seu tempo. Neste sentido as novas tecnologias são provocadoras de mudanças
culturais definitivas na escola e protagonistas da mudança de paradigmas ora em curso. Vendo sob
este aspecto, as tecnologias deixaram de ser mediadoras entre o homem e a natureza para ser
“instrumentos de uma nova razão” (PRETTO, 1996), ou “extensões da própria inteligência”
(LÈVY, 2000). Tentar compreendê-las é conhecer suas implicações culturais em todas suas
dimensões. Embora ainda nos causem insegurança, precisamos reconhecer que nos confortam com
suas múltiplas capacidades de relacionamento, pela facilidade de manuseio e uso, que aceleram
mudanças no comportamento das pessoas, como argumenta Frantz:
Na escola as novas tecnologias têm sido vetor para progressos significativos no sentido de
promover a possibilidade de disponibilizar informações que anteriormente eles dificilmente teriam
acesso, visto que nossas bibliotecas não contêm o acervo desejável. Por isso a Internet é um
fenômeno mais social do que técnico. A sociedade e a escola se organizam e se fortalecem com sua
interação nas atividades do cotidiano. Nessas atividades, nos momentos em que as pessoas
interagem com a máquina, não apenas com a realidade local, mas com o mundo, elas crescem, se
organizam e vivem, independente de instituições formais. Estando presente na escola, a amplitude
da Internet será muito maior, porque pela interlocução de saberes, poderá acontecer , uma reflexão
crítica e ampliada sobre cada notícia, assunto ou informação.
61
16
Eleições presidenciais de 2002.
62
17
Esta democratização consiste em possibilitar aos alunos uma alfabetização tecnológica, que além do
conhecimento sobre o manejo do computador, permita também o ingresso no mercado de trabalho com
maior competência (fonte: site – MEC).
18
http//www.mat.unb.br/ed/MEC (20.01.03).
63
sociedade em geral, sobretudo na escola, o que a coloca em constante busca. Mesmo com menor
rapidez que outros segmentos sociais, ela tem procurado adaptar-se ao novo. Diversos esforços
têm sido feitos para amenizar essa situação, como reformas educacionais, propostas do governo e
ações inovadoras que partem do interior dos estabelecimentos de ensino. No meu entender, estas é
que têm mais força, pois só as condições concretas de cada escola podem determinar as
possibilidades e os limites para que mudanças e avanços aconteçam.
Num tempo mais curto do que se possa imaginar será difícil pensar em educação sem
articulá-la ao uso do computador. Que princípios de aprendizagem merecem reconstrução? Que
implicações poderão desencadear na formação do professor? Como se encaixa no projeto de vida
do professor? Qual a forma e o tamanho de seu projeto de vida?
Pensar as ações que vem ocorrendo com relação às novas tecnologias é fundamental para
a escola, onde o conhecimento é o objeto de seu compromisso com o cidadão. Elas podem ser
vistas como um veículo, na busca de caminhos que possam superar a forma como o conhecimento
é trabalhado, o que significa refletir sobre os pressupostos educacionais que vêm sendo seguidos e
sua validade para o momento atual. Neste sentido Frantz chama a atenção para a necessidade de
saber onde se está, conhecendo os fundamentos dos paradigmas que norteiam as práticas e as
possibilidades de inovação que oferecem, enfatizando que
Neste sentido, o laboratório de informática pode ser visto como um veículo, na busca de
caminhos que possam superar a forma como o conhecimento é trabalhado, o que significa refletir
sobre os pressupostos educacionais que vem sendo seguidos e aqueles que atendam as reais
65
Nesta perspectiva, no próximo item faço uma retomada das implicações e pressupostos
que fundamentam a permanente reconstrução histórica dos paradigmas da educação, propondo a
possibilidade de constituição de uma nova consciência dos professores sobre a ação prática
individual e coletiva na escola equipada com novas tecnologias, a partir do paradigma da ação
comunicativa.
Mas o que é mesmo conhecimento? Que conceitos temos nós professores sobre
aprendizagem? Que é saber? Que é aprender? Reconstruir os conceitos sobre estas palavras-chave
no processo educativo é clarear nossa opção por esta ou aquela linha pedagógica, bem como pelo
paradigma que a sustenta, o que vai clarear também a intencionalidade das nossas ações.
Nos textos de educação, muitos autores usam as palavras conhecimento e saber sem uma
distinção rígida. No entanto, para Fiorentini et al,
Na visão de Lopes:
Para Habermas o conhecimento está presente em qualquer situação pedagógica, ele incide
e reflete nossas concepções de como se ensina e como se aprende. Segundo Boufleuer,
É do senso comum que o conhecimento acontece via aprendizagem. Como isso acontece?
Marques (1995) vê a aprendizagem efetuar-se na “mediação social do aprendido e da docência”,
tornando-se significativa quando busca novas competências comunicativas. Neste sentido há uma
“interlocução de saberes” estando o conhecimento em constante reconstituição, numa
intersubjetividade mediada pela linguagem do mundo e da vida. Ele afirma que:
a aprendizagem não é conformação ao que existe nem pura construção a partir do nada: é
reconstrução autotranscendente, em que se ampliam e se ressignificam os horizontes de
sentido desde o significado que o sujeito a si atribui. É processo vital, autoformativo do
gênero humano e do sujeito individuado pela cultura e singularizado pela
autoexpressividade que assim se configuram historicamente em reciprocidades, na
autonomia do pensar e nas corresponsabilidades da ação (1995, p. 15-16).
Primado do objeto:
abordagem comportamentalista (estímulo-resposta)
conhecimento é uma cópia (representação) de algo dado no mundo exterior
a aprendizagem acontece através da experiência (empirismo), da verbalização ou da
transmissão e incorporação
Primado do sujeito:
abordagem humanista
conhecimento está predeterminado no sujeito
processo de ensino- aprendizagem acontece através de uma razão pré-
fabricada a ser explicitada
Interação sujeito-objeto:
abordagens mediacionais cognitivas e de processo de informações - interacionismo
conhecimento é considerado como uma construção contínua
processo de aprendizagem acontece através da construção interior de estruturas
cognitivas a partir da relação entre base genética hereditária e adaptação do meio
Interação sujeito-sujeito:
Abordagem da intersubjetividade ou da ação comunicativa
conhecimento é considerado como uma construção contínua, provisória e acordada
processo de aprendizagem acontece pela relação dialógica de sujeitos construindo
linguagens e conceitos a partir da experimentação intersubjetiva do mundo (apelo de
universalidade).
Pode-se verificar vários tipos de reducionismo: numa abordagem humanista, por exemplo,
a relação interpessoal é o centro, e a dimensão humana passa a ser o núcleo do processo
ensino-aprendizagem; numa abordagem comportamentalista, a dimensão técnica é
privilegiada, ou seja, os aspectos objetivos, mensuráveis e controláveis do processo são
enfatizados em detrimento dos demais (1986, p.1).
Para a autora, o ideal seria que nas metodologias empregadas, na criatividade dos
professores em trabalhar conceitos, fossem contempladas todas as dimensões, pois o homem por
natureza é pluridimensional.
O conhecimento é concebido como uma realidade exterior ao sujeito e deve ser aprendido
e não construído, pois já está pronto, definido. Essa maneira de conceber o conhecimento
materializa a concepção de educação no sentido de transmissão e recepção de verdades
historicamente postas, que devem ser assimiladas e reproduzidas. Assim o conhecimento, os
elementos históricos e culturais que são a materialidade sobre a qual se assenta a função da
educação, são vistos como objetos exteriores ao mundo da vida sendo transmitidos ao educando
independente de sua realidade existencial, em outras palavras, sem levar em conta seu contexto. Os
conhecimentos vistos como realidades à priori, não são questionados, bastando-se a si mesmos.
Portanto ensinar é repetir.
A dimensão espaço temporal não é levada em conta ao trabalhar com verdades absolutas,
pois a noção de intemporalidade orienta seu modelo de racionalidade, apresentando um currículo
escolar com rigor, definido, delimitando espaços e tempos educativos. Aí o conjunto de saberes
necessários a cada área do saber é transmitido ao aluno pelo professor e devolvido posteriormente
por instrumentos de avaliação em que a memória é acionada. Os saberes neste caso não são
significativos. O ato educativo se justifica pelo repasse de fatos e fenômenos que perdem sua
historicidade e seu sentido. O que vale é a capacidade de reter o maior número de informações que
seriam o fundamento do conhecimento. Não se questiona a relevância deste conhecimento para a
vida presente e futura do aluno. Os currículos escolares têm extensas relações de conteúdos com
caráter generalista, enciclopédico e verbalista, que são repassados sem preocupação acerca da
relevância social destes conhecimentos.
sujeito cognoscente capta, mas não constrói” (1992, p 550). Para ele nesta perspectiva acentuam-se
em distinções radicais “o universal e o particular, a essência e a aparência, a forma e a matéria, a
alma e o corpo, a afirmação e a negação, o certo e o errado”.(1992, p.550).
Para o autor, nesta visão “trata-se de fabricar o trabalhador em lugar separado das relações
sociais concretas do trabalho, para que, depois, o processo produtivo o modele segundo seus
requisitos” (idem, 1993, p.73). A educação dá atenção a uma intencional preparação do indivíduo
para exercer funções impostas pela sociedade neoliberal, em que com conhecimento, é possível
produzir com rapidez e qualidade. O desenvolvimento de uma racionalidade instrumental acentua
a divisão social do trabalho e a divisão social do conhecimento. Esta visão impõe ao homem uma
organização espaço-temporal intimamente ligada à racionalidade técnica presente no interior da
indústria, nos moldes utilizados pelas formas de produção. Para isso,
Segundo Marques (1993, p. 107), no ensino Mentalista a infância é respeitada, bem como
as estruturas do pensamento da criança, com suas leis de desenvolvimento individual. O professor
é mero facilitador da aprendizagem, onde psicologia e trabalho são os pilares das experiências da
73
Escola Ativa e da Escola Nova, baseadas no pressuposto de que, quanto menos o professor
interferir, melhor para o aluno, que, de posse dos conteúdos, pode aprender até sozinho.
a consciência conhece pela representação com que se relaciona com objetos que, para
melhor domínio, reduz e fragmenta em especialidades compartimentadas e isoladas de
todo o contexto natural e cultural. As disciplinas científicas fecham-se em seus âmbitos
estreitados esse tornam incomunicáveis entre si e inacessíveis aos não iniciados em seus
segredos (1992, p. 553 a).
ação, entrando em conflito com a razão. Os saberes e valores antes sólidos desmoronam. Pensa-se
na possibilidade de um mundo novo, com diferentes alternativas, onde as discussões busquem
formas alternativas de organização espaço-temporal, que possam auxiliar na superação da forma
fragmentada, disciplinar, horista e linear de se conceber a educação, visualizando perspectivas
intercomplementares.
Neste estudo tenho meu primeiro encontro com o pensamento de Habermas, o que me
levou a buscar o olhar de outros autores que já o interpretaram, como Marques, Oliveira, Boufleuer
e Fensterseifer, a partir dos quais faço minhas reflexões sobre a pedagogia da ação comunicativa.
Entende-se, então, que a prática educativa tem que ser reconstituída a partir da interação
com as experiências e a cultura peculiar de cada grupo envolvido, onde as aprendizagens passam a
ser significativas, quando orientam para novas competências e propagam para o novo, o
inesperado, o mutável. Importante se faz valorizar o saber advindo de experiências anteriores de
cada integrante dos grupos e, a partir daí, buscar complemento para a construção de conceitos mais
abrangentes. Isto fica bem claro quando Marques aponta que:
O paradigma da ação comunicativa exige do professor uma ação intencional voltada para
o eixo central do currículo escolar e também capacidade para trabalhar os conceitos numa
perspectiva de vivência prática, que o encaminhe para a constante apropriação dos saberes
emergentes no espaço escolar. As habilidades necessárias a uma atuação conseqüente do professor
nos dias atuais não dependem apenas do domínio de seu objeto de estudo, nem do uso do
computador e do acesso às informações, mas, sim da dinâmica estabelecida em torno delas. Há
necessidade de saber o que fazer com as informações. Para isso ele precisa saber analisá-las,
organizá-las e, num processo interativo com os alunos, transformá-las em conhecimento. Em vez
de o professor operar com conceitos que já prontos, ele terá que reformula-los e junto aos alunos
reproduzi-los em entendimento comum estabelecendo relações com o contexto imediato. Como
escreve Marques “Não se trata de chegar a soluções dadas às questões/problemas, mas de inventar,
em cada situação e por cada comunidade de sujeitos, os conceitos com que irão operar sobre os
temas que analisam” (1993, p. 110). Assim, ultrapassa-se o convencional apontando-se uma
relação direta com a cooperação e reconstrução dos conhecimentos em que estejam presentes as
capacidades cognitivas e técnicas. “Uma educação em que se impliquem o saber, a ação e a
emoção” (MARQUES, 1993, p. 103-4).
O próximo capítulo traz um relato reflexivo dos resultados da pesquisa feita a partir da
leitura de documentos e textos que compõem o projeto político pedagógico das escolas, das
observações relativas à dinâmica escolar e das conversas com os sujeitos ali inscritos.
78
3 CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE
Ao transcrever e refletir sobre as falas, a memória foi elemento bastante presente. Quando
escutei novamente cada pessoa entrevistada, as imagens da situação e o clima presente vinham-me
à lembrança com as vozes mais pausadas que pareciam revelar dúvidas e descontentamentos, ou as
vozes alegres e entusiasmadas. Ao considerar que a linguagem imprime mudanças essenciais nos
processos psíquicos, concordo com REGO, que “a linguagem permite lidar com os objetos do
mundo exterior mesmo quando eles estão ausentes” (2000, p. 53), pois as informações
compreendidas foram operadas interiormente. Assim é possível perceber que, quando as pessoas
falam sobre o assunto, ou citam suas práticas e vivências com convicção e segurança, suas vozes
79
As equipes diretivas foram todas muito receptivas à idéia de fazer uma pesquisa sobre as
novas tecnologias em suas escolas. Afirmaram que a presença do Laboratório de Informática,
apesar de recente, faz uma grande diferença e, por si só, impôs ao ambiente escolar muitas
mudanças, o que gerou uma desacomodação entendida salutar para que transformações positivas
acontecessem.
Pelas observações e depoimentos constatei alguns pontos comuns que caracterizam estas
três escolas públicas:
80
Poucos são os professores que vão ao laboratório. Eles sabem que custou caro,
que é bom, que é importante começar e ir se familiarizando, dominando a
tecnologia dos computadores, mas alguns não querem nem começar e eles sabem
que consta no nosso Projeto Político Pedagógico (diretora, escola B).
No início eu procurava estimular. os professores mas muitos deles ignoravam, não traziam
os alunos em horário de aula, daí os alunos cobravam horário em turno inverso. Aí sim
eles vinham bastante, mas vinham para jogar. No início deixei, depois tive que botar
ordem, por que isso aqui parecia parque de diversão. Agora só deixo eles jogarem os jogos
que os professores selecionam, ou seja, jogos educativos. Não convido mais os
professores, deixo à vontade É uma pena. Eu procuro motivar, ajudar e introduzir a
linguagem específica da informática, pelo menos os termos elementares. Faço o que posso
(monitor escola B).
As manifestações acima evidenciam vários elementos para refletir sobre muitos aspectos,
mas, principalmente, nos colocam a par da insistente resistência dos professores, o que nos leva a
muitos questionamentos. Será medo do desconhecido? Medo de se expor aos alunos e aos colegas?
Medo da tecnologia, da máquina ou apenas uma resistência ao novo? O que os prenderia tanto ao
institucionalizado? Estas questões se colocam como desafios para quem coordena o trabalho
pedagógico na escola, pois Marques afirma: “assim como aconteceu com a forma da linguagem
escrita retroagindo sobre a oralidade e exigindo certa forma de educação escolar, também as
formas em que nas novas tecnologias se articulam as linguagens certamente transformam a
oralidade e a escrita e colocam desafios outros à educação escolar” (1999, p. 45). Concordando
com o autor, suas palavras suscitam mais indagações. Que princípios precisam ser reconstruídos?
Como enfrentar e superar os desafios postos? Que tipo de apoio e orientação a instituição dá aos
alunos?
82
Nós colocamos a informática como disciplina para que todos os alunos tenham
chance de ir ao laboratório, se deixa por conta dos professores, eles não trazem.
Então, é uma hora de informática por semana para todos, tem que prestar atenção
e trabalhar, por que tem avaliação e tem que dar nota. Os professores ainda não
estão preparados para trabalhar com os computadores nem com projetos. Como
são poucos computadores, vem metade da turma de cada vez para ter um
computador para cada um (vice-diretora, escola C).
83
O procedimento de reservar uma hora por semana para cada turma no laboratório, dá a
entender que os alunos interagem individualmente com a máquina, trabalhando a técnica pela
técnica, fazendo trabalhos bem disciplinados porque serão avaliados. A maneira como a
entrevistada coloca a situação apenas reforça o trabalho individual e excludente com as disciplinas
fechadas, pois o professor da sala de aula às vezes nem sabe ou imagina o que o aluno faz no reduto
privilegiado da informática, quando lá, poderiam ser trabalhados assuntos relacionados com os
temas, conceitos ou conteúdos de diferentes disciplinas. Nesse sentido também seria oportuno ao
professor o estudo da dimensão da história da tecnologia, o que contribuiria para a desmistificação
do ensino da técnica pela técnica, situando as tecnologias numa outra dimensão que possibilitasse
criar sujeitos aptos e conscientes de seu desdobramento social. O fato de ter poucos computadores
também não é problema, se visto como possibilitador de atividades coletivas, onde um ajuda o
outro, um aprende com o outro a utilizar a máquina e a pensar, num trabalho coletivo. Para a
produção de novos sentidos, estabelecidos através de inter-relações é importante a mediação do
professor ou do colega para possibilitar a criação de “zona de construção” nas palavras de
VIGOTSKI. Ele desenvolveu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP),
definindo-a como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar
através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração
com companheiros mais capazes” (1996, p. 112). Nesta perspectiva a interação entre os pares
facilita a interação com o computador.
As três escolas apontam como principais entraves para a efetiva apropriação dos
instrumentos tecnológicos, agora presentes na escola, a falta de tempo para formação em serviço
ou um horário extraclasse para que os professores possam estudar, trocar experiências,
familiarizar-se com a máquina, realizar planejamentos coletivos e elaborar projetos
interdisciplinares num trabalho coletivo.
Apesar dos obstáculos, no decorrer das falas encontrei também situações muito positivas.
A presença do laboratório de informática estimulou a escola abaixo a buscar parceria com
entidades afins, no sentido de ampliar as possibilidades de ação, descobrindo novas alternativas
para caminhar com uma certa segurança.
Esta busca de apoio junto ao NTE talvez seja um diferencial importante para esta escola,
porque criou um canal de comunicação com um órgão público de apoio à informática educativa.
Assim mantém seus monitores do laboratório (há um monitor em cada turno) ligados a um grupo
de formação permanente, o que estimula e fornece mais fundamentação e argumentos para motivar
e atrair os professores ao laboratório. Mesmo que este não seja utilizado ainda, pela maioria dos
docentes, há uma maior conscientização de uma cultura tecnológica no espaço escolar. Pode-se
considerar que essa escola caminha com clareza na questão da informática educativa. Isso pode
estar acontecendo por dois motivos: o apoio do NTE e a permanência da equipe diretiva que
elaborou o projeto de implantação do laboratório por mais de uma gestão administrativa, o que
garantiu a continuidade das metas do projeto inicial.
85
Nossa escola mudou muito com a realidade das novas tecnologias. Os alunos avançaram,
cresceram. Já vencemos muitos obstáculos. Poucas escolas têm crescido tanto em tão
pouco espaço de tempo. A escola tem muitas metas, muitos objetivos, um deles é a
informática, ou seja, colocar ao alcance dos alunos a utilização do computador com toda a
multimídia que o acompanha para que isto melhore sua aprendizagem e sua qualidade de
vida. A escola tem a responsabilidade de fazer e expandir novos conhecimentos (diretora,
escola A).
Estas palavras da diretora sugerem que a caminhada já percorrida nestes três anos de
funcionamento dos laboratórios de informática está modificando a complexa dinâmica de relações
que envolvem a escola e já desencadeou transformações visíveis no seu ambiente, interferindo nos
aspectos organizacionais e conceituais que exigem análise do modelo pedagógico e principalmente
nas concepções de educação. Novos papéis, novas aprendizagens e novas relações estão se
estabelecendo entre todos os envolvidos no processo pedagógico. A realidade impõe novas formas
de trabalhar, reconstruir conhecimento, rearticular e reestruturar as demais formas de pensamento
e linguagem.
Esta fala cheia de esperanças vem plena de significados, porque aponta a preocupação da
coordenadora em buscar novos conhecimentos, pesquisar, estudar e refletir com os professores.
Quando ela fala em aprender com eles e com os alunos, demonstra uma abertura, uma
predisposição ao diálogo que a encaminha para a pedagogia da ação comunicativa e nos lembra
que:
19
Núcleo de Tecnologia Educacional
86
Um fato interessante é que nos últimos dois anos, muitos professores desta escola
voltaram a estudar, sentiram necessidade de atualização.
Aqui não tem rotatividade de professores, é difícil trocar algum, então se a gente começar
de novo um projeto, com trabalho de reflexão sobre a prática docente, a apropriação e uso
do laboratório de informática, que já é nosso e está nos esperando, eu acho que vai dar
certo (coordenadora pedagógica, escola B).
atenção para a informática educativa. Mas como chegar a isto numa estrutura escolar de tempo e
espaço ainda rígida, que poda nossas emoções e nos tornam insensíveis numa constante busca pela
sobrevivência? Não raro a busca de especialização e aperfeiçoamento tornam-se pesadelos, pois
poucos conseguem horário de estudo dentro da escola. Menor ainda é o número de professores que
dispõe de tempo e condições financeiras para especializações.
Nós já temos Internet na escola, mas ela está instalada, por enquanto, só na sala
da direção, ainda não temos condições de disponibilizá-la aos alunos, por que
custa muito caro. Estamos procurando encontrar a forma mais acessível, porque
se encarecer demais não teremos como pagar. Os alunos estão esperando com
ansiedade por ela no laboratório, será um avanço porque abre a possibilidade de
trabalhar em rede (monitora, escola A).
conforme citado anteriormente, se efetivar provendo todas as escolas públicas do país com
Internet, oferecendo condições de manutenção, será um grande avanço. Isto mudará sensivelmente
a qualidade do ensino público, desde que haja preocupação também com o preparo do professor, o
que implica na criação de espaço-tempo para estudo e reflexão.
Têm também alguns professores que até já estão quase auto-suficientes. Depende
da vontade do professor. Eles aprendem comigo e eu aprendo com eles. Cada
turma tem uma pasta com trabalhos e projetos e depois a gente socializa. Gosto
de tirar fotos ou filmar os alunos e professores em diferentes atividades e colocar
as imagens na pasta. Eles gostam de se ver na tela do computador. Gosto muito
do meu trabalho, porque aqui posso inovar sempre (monitor, escola B).
Mesmo sem ter Internet, este monitor consegue motivar trabalhos atraentes e planejar
junto aos professores dispostos a ir ao laboratório, atividades que ampliam as possibilidades e
diferentes linguagens para trabalhar assuntos e temas diversos com os alunos. A maneira como se
expressa demonstra a vontade de acertar, porém, ele se refere à “transmissão” e não à “construção”
do conhecimento, o que o coloca ainda numa visão mentalista da educação.
89
Eu, por exemplo, comecei a aprender informática com 36 anos. Gostei. Não
domino tudo, tenho muito a aprender. O NTE passa a experiência e vontade de ir
adiante. Acho uma maravilha trabalhar no laboratório. Fico feliz quando consigo
motivar e trazer mais um professor para o laboratório com os alunos (monitora,
escola A).
O perfil dos professores monitores ou facilitadores para trabalhar nos laboratórios exige
que sejam autônomos, cooperativos, criativos e críticos, comprometidos com a aprendizagem
permanente, mais voltado a uma metodologia alternativa do que com preocupações didáticas
centradas na linearidade. Em todas as escolas pesquisadas percebi que estão engajados na
formação dos sujeitos e relacionam-se prazerosamente com a prática da intercomunicação.
A gente tem tanta coisa para fazer, que nem se lembra do computador, vai
resolvendo as coisas, quando vê terminou o expediente. Fizemos o curso junto
com os professores, mas faltou continuidade. Estamos sempre com lápis e papel
na mão (diretora, escola A).
o trabalho da equipe diretiva, principalmente o da coordenadora pedagógica nas suas árduas tarefas
de rotina e também como motivadora dos professores. As facilidades que o editor de texto e a
confecção de slides oferecem são surpreendentes. Penso que um processo de aceleração da cultura
tecnológica na escola deveria começar hierarquicamente, para que o exemplo mantenha a
coerência entre o que se quer que os outros façam e o que nós fazemos na escola.
Pelo exposto a escola procura inovar e atualizar-se com relação à educação em todos os
aspectos, procurando superar as formas tradicionais de ensinar que já não se justificam mais, o que
demanda uma preocupação maior com as formas de ensinar e aprender em uma sociedade
interconectada. Procura, assim, um maior entendimento sobre o paradigma que possibilita a
construção do conhecimento integrado, em que educadores possam contar com as tecnologias da
informação e comunicação, atuando como parceiras dos professores e alunos na busca de
interpretação crítica da informação. Parece ser uma proposta pedagógica bem conduzida, que
oportuniza, em seu viés, a subjetividade, os equipamentos cognitivos, as tecnologias intelectuais e
a valorização da afetividade.
Nunca antes uma geração infantil viveu num mundo tão diversificado, cheio de
luzes, imagens, sons e estímulos que as sintonizam com a cultura de seu tempo.
Elas estão vivendo num mundo adulto, direcionado para o consumo e o para o
computador. É com estas crianças que estamos interagindo hoje na sala de aula
(orientadora educacional).
92
Nesta fala percebe-se a preocupação em acompanhar o mundo das crianças que já nascem
numa cultura tecnológica. Para que possamos interagir com a geração que hoje está nos bancos
escolares precisamos viver num processo de atualização constante, ressignificar as novas formas
de linguagem e, com elas, criar novas formas de ensinar e de aprender. Nossa visão de mundo pode
influenciar e contribuir para direcionar novos horizontes em cada participante da instituição
escolar que caminha ao nosso lado.
Estamos numa caminhada em que a cada dia se aprende mais e se procura acertar
a partir dos erros. Tenho muito presente que somente a busca de informações
num ambiente telemático não garante a qualidade de ensino. O que dá
consistência à navegação e assegura a concretização de aprendizagem
significativa são os projetos pedagógicos com caráter interdisciplinar, mediados
pelos professores. Estes dão ao aprender um sentido novo. Já fizemos algumas
experiências e na seqüência vamos aprendendo com os erros e acertos.
Uma das monitoras do laboratório, como a coordenadora pedagógica, também acha que é
o início de uma caminhada e muitos aspectos precisam ser repensados analisados e melhorados.
Os laboratórios são muito utilizados, mas não por todos os professores. Mesmo
desafiados pelos projetos interdisciplinares, alguns ainda resistem em utilizar a
informática, com a abundância de recursos que disponibilizamos. Aos poucos
vamos aperfeiçoando, corrigindo falhas e buscando novas estratégias. “É na
caminhada que aprendemos a caminhar”. Estamos começando. Tudo é muito
recente na informática educativa (monitora).
Para este professor, trabalhar com a informática na escola traz a idéia de inovação, um
meio para minimizar as dificuldades do dia-a-dia escolar, o que, de certa forma, valoriza os
professores como sujeitos na difícil tarefa de educar. Todo o professor de sala de aula, principiante
ou experiente, tem grande necessidade de ser incentivado a conhecer o novo, a buscar atualização
94
profissional para que tenha mais perspectivas, tanto no trabalho como na vida particular. Isto dará
maior significação ao seu papel como mediador do processo de construção de conhecimento.
A gente não entende muito ainda, mas boa vontade é o primeiro passo e contagia.
Gosto de levar meus alunos no laboratório de informática. Já selecionei na
seqüência os conteúdos da série para transmitir aos alunos. São bons programas
para explorar com meus alunos (5ª série, Matemática).
A fala deste professor reforça um trabalho linear, com programas prontos para
“transmitir” aos alunos, mas quando se refere à exploração dos programas pode-se entender que no
ato de “explorar” haja construção de conhecimento, o que vai depender da forma como o professor
vai encaminhar as atividades. Se há dificuldade também há boa vontade, como diz a professora, o
fato de valorizarem a informática como uma nova possibilidade mostra a disponibilidade de iniciar
algumas relações possíveis, para que os alunos deixem de ser meros copiadores repetidores,
constituindo-se em sujeitos pesquisadores.
Foi difícil no começo, mas meu trabalho está melhor. Hoje os alunos já sabem
utilizar vários programas no computador, pesquisam, selecionam as informações
e montam seu trabalho utilizando o Power Point ou outros programas. Eles
desenvolvem muitas habilidades e até o senso estético, quando usam cores,
imagens e letras diferentes. Noto que são mais criativos na sala de aula e quando
precisam pedem para voltar ao laboratório. Ouço muito eles (prof. 8ª série).
A
o ouvir os alunos, valorizar suas falas e atender seus pedidos, cria-se uma cumplicidade entre o
professor e os alunos, que gera um comprometimento solidário a partir do qual estabelecem-se
melhores condições para a aprendizagem e também uma relação de respeito entre professor e
aluno.
Para mim foi muito bom. A informática otimizou o trabalho de planejamento das
aulas; das provas e também no jeito de dar as aulas. A monitora do laboratório é
ótima. Cada vez que vou lá aprendo um pouco. Aprendo também com os alunos.
Ouço muito eles e daí todos aprendemos, mas eles sabem que é importante tirar
boas notas, e não podemos ficar só no computador (3ª série, Séries Iniciais)
Neste caso também há diálogo na sala de aula, o que é muito bom e demonstra que já ouve
uma caminhada, porém a forma como o professor se refere a planejamento de provas e que o aluno
“tem” que tirar boas notas, demonstra uma forte tendência a uma avaliação que mede o
conhecimento via prova escrita e não como processo. Neste sentido, o conhecimento aparece como
revelação de verdades que exigem memorização e percepção sua lógica própria.
mecânica de conteúdos informacionais num modelo linear, sem vínculo com a realidade dos
alunos e suas características peculiares e sem motivação para levá-los a pensar. Por terem se
constituído e trabalhado assim, isto lhes dá segurança, o que é compreensível e demonstra sua
preocupação em acertar, repetindo aquilo que no seu entendimento, pode dar certo. Na seguinte
fala, a situação se repete e o computador não interfere para uma mudança de metodologia.
O ritmo da escola, os rituais diários, o silêncio exigido na sala de aula, tudo leva gente a se
acostumar e a sistemática é por nós assimilada passivamente. Na escola não sinto estímulo
para mudar. Até vou no laboratório, mas o monitor toma conta dos meus alunos.(prof. 3ª
série).
Concordo com esta professora apenas em parte, porque dizer que a escola não dá estímulo
para mudar é complicado, quando se sabe que há preocupação em proporcionar reuniões de
estudos como neste caso. O problema talvez se encontre na forma como são coordenadas ou
conduzidas estas reuniões, mas depende também da disposição do professor em tirar proveito
destes espaços de estudo. Sabe-se que a sistemática institucionalizada tem tradição e que pode ser
questionada. Já andamos muito no sentido de dar outros significados ao modo de fazer educação,
mas sabemos que os avanços e conquistas não dependem apenas da escola. Há uma complexa
relação de fatores que aí interferem e se constituem em tema para laboriosas pesquisas. O caso
abaixo também se enquadra nesta maneira de pensar.
Se o professor não entrar na lógica da escola, fica difícil e ele vai encontrar barreiras com
a direção e com os colegas. A gente acaba se dando mal. Para mudar precisa de estudo,
97
fundamentação, criar coragem. Eu ainda não cheguei lá, talvez mais adiante eu consiga. A
gente ganha tão pouco, que nem pensa em continuar estudando (profº. 6ª série).
Com o baixo salário, continuar os estudos está na maioria das vezes fora das
possibilidades dos professores. Muitos professores demonstram estar tentando superar a visão
tradicional, mas por força do instituído, dos hábitos, das bases curriculares, da necessidade de
avaliar por pesos, dar nota, aprovar ou reprovar, acabam caindo novamente na mesma lógica. No
entanto, a qualidade do ensino pode melhorar sensivelmente através de trabalhos coletivos que
contemplem a investigação e a pesquisa no próprio ambiente de trabalho, dando maior importância
à multiplicidade cultural que existe dentro da sala de aula. Isto amenizaria questões como o
isolamento, as incertezas, a alienação e a falta de motivação, como sugerem os depoimentos
seguintes.
Aos poucos as coisas andam e vão tomando o formato desejável. Sinto que meus
colegas têm muita dificuldade, então ajudo eles com o que sei. Também aprendo
com os colegas mais ousados, aqueles que nunca tiveram medo. Eu já aprendi
para me defender. Quando tivermos Internet vai ser melhor (6ª série, Língua
Portuguesa).
Nas falas acima está presente uma pré-disposição para a mudança. Estabelecendo com os
professores os objetivos a serem perseguidos, eles se sentirão autores na construção do processo
pedagógico. Penso que o mais importante é rever e atualizar os paradigmas que norteiam os
conteúdos e procedimentos, tornando-os válidos para a clientela, no meio histórico cultural em que
vivem. A partir disso os procedimentos irão se atualizando e a informática será percebida numa
perspectiva de ensino e aprendizagem desafiadora. O professor, neste caso já está superando os
paradigmas que se baseavam no trabalho individual fragmentado. Nos tempos atuais, a
responsabilidade é compartilhada, é comunicativa e participativa. Significa trabalhar em conjunto,
construindo espaços de intersubjetividade e compreensão recíproca, importando-se com a fala dos
alunos. Isto sugere apreciação, valorização de diferentes saberes, avaliação de objetivos que
permitem considerar aspectos pessoais e subjetivos e melhores condições para exercitar a
expressão e a criatividade.
98
Quando dou pesquisa, já dou os sites escolhidos previamente. Isso facilita para os
alunos e eu já sei o que vai aparecer nos trabalhos”. (profª. 5ª série), ou ainda,
Utilizo sempre o laboratório de informática, mas levo metade da turma cada vez,
porque têm poucos computadores e para mim o trabalho tem que ser individual.
Acho difícil avaliar quando o trabalho é em grupo, também não gosto de muita
conversa em aula. Seleciono os programas e todos fazem o trabalho conforme
vou dando as ordens. Já dei quase todo o conteúdo da série (profª, 5ª série).
Vou muito pouco ao laboratório de informática. Têm alunos que já sabem tudo
de informática e de Internet, eles foram descobrindo por si e vão embora. Mas
99
tem aluno que não consegue fazer quase nada no laboratório e também não tem
interesse lá na sala de aula. O que eu posso fazer se eu também entendo pouco de
computador? (prof. 8ª série).
A pressão diária de trabalhar com muitas turmas, em várias escolas, em todos os turnos,
desestabiliza os professores que estão em sala de aula. Constatei que a maioria deles encontra-se
nesta situação, o que os impossibilita de apropriar-se das novas tecnologias pela educação e de
certa forma justifica a resistência.
Ser professor nunca foi uma tarefa fácil, principalmente na escola pública, mesmo se
tomarmos como base outras épocas e outros países onde os professores têm maior prestígio pelo
que representam como profissionais. Os órgãos competentes não têm se preocupado com um bom
salário, reconhecimento, condições de trabalho e formação continuada dos professores.
Simplesmente introduzir as novas tecnologias na escola significa melhorar a qualidade de ensino?
Trabalhar informática com os alunos num ambiente com a idéia de disciplina tradicional
rígida que se tem é impossível. Temos que chegar à produção de outro tipo de ordem onde não
basta ter acesso às informações e as inovações tecnológicas. É necessário saber o que fazer com as
informações e para isso o professor precisa saber organizá-las e analisá-las. E nesse aspecto é que
se faz importante outro tipo de relação professor-aluno, por exemplo, a relação sugerida pelo
paradigma da ação comunicativa.
Encontrei muitos casos semelhantes a este, mas aos poucos, vendo o resultado dos
colegas e o interesse dos alunos, as coisas vão mudando. Muitos já descobriram, através de
oficinas de informática, que é fascinante abrir e conhecer os computadores e que dentro deles não
há nenhum cérebro superdotado. São apenas placas, fibras, fios e os minúsculos e famosos chips. O
caminho da experimentação é demorado, equivocado, e às vezes decepcionante, pela
imprevisibilidade dos acontecimentos. Porém, é um caminho necessário. Por exemplo:
Quem está estimulado e „a fim‟, busca as coisas por si, se envolve, estimula seus
alunos e aprende por si e com eles. Vou pouco no laboratório. Seria bom se
trabalhássemos com projetos interdisciplinares, mas temos pouquíssimo tempo
para nos reunir com os outros professores da série (8ª série, Matemática).
Muitos professores ainda estão na fase do medo, da adaptação. Os mais ousados, como
em qualquer situação, vão mais longe. Há os que idolatram as novas tecnologias, alguns são
neutros e outros contra. No entanto, mesmo timidamente, outros estão conquistando um espaço a
ser ampliado de acordo com o interesse de cada um. Empurrados pelo ritmo desgastante de uma
rotina repleta de atividades, a tendência da maioria dos professores é fazer apenas uma leitura
superficial dos fatos e continuar dando suas aulas como sempre, a não ser que surjam ações
101
Percebe-se a falta de tempo e até vontade política para oportunizar aos professores o
repensar de sua ação, o que exigiria um maior investimento no seu projeto pessoal de vida, com a
possibilidade de avançar em direção a sua formação, buscando outro sentido a sua prática.
Muitas conquistas caem por terra com a mudança das equipes diretivas. Muitos projetos
são deixados de lado. A escola desta professora teve o laboratório implantado com os cursos
iniciais e depois não houve continuidade. Com a mudança de direção, outros projetos tiveram
prioridade e o projeto do laboratório estacionou. Às vezes as questões político-partidárias acabam
interferindo no pedagógico.
torno delas, de forma que se valorizem as culturas locais sem fragmentá-las. Precisamos buscar as
possibilidades de transformação de processos onde todos, em algum nível, somos responsáveis.
O projeto pedagógico da escola sugere o trabalho por projetos como uma estratégia de
ensino para que o aluno possa construir seu conhecimento de forma global. Esta decisão mudou a
direção das ações pedagógicas individuais, aproximando os professores dos saberes dos alunos. A
experiência de projetos interdisciplinares se realiza na escola há dois anos, inicialmente com as
sextas, sétimas e oitavas séries, na abordagem proposta por Ivani Fazenda complementada por
outros autores. Esta forma de trabalhar está possibilitando a constituição de um coletivo de
professores articulados na reflexão de sua própria ação, onde cada professor é parceiro, aprendiz e
orientador ao mesmo tempo.
Através dos projetos a informática passa a fazer parte do discurso e da prática dos
professores e dos alunos no cotidiano das salas de aula. Todos têm que interagir com a informática
de uma ou de outra forma pois a sistematização dos temas abordados e pesquisados, são
socializados no Power Point.
A partir das observações e conversas com os professores percebi que muitos utilizam
estratégias variadas para adequar suas aulas aos programas, chegando a criar situações
problematizadoras muito interessantes. Outros já elaboram seus próprios softwares de acordo com
os conteúdos e assuntos trabalhados, mas há também professores que não gostam ou não se sentem
aptos a trabalhar no laboratório de informática. Mesmo assim estão começando a se familiarizar e
a interagir com as novas tecnologias, por que os alunos já estão inseridos numa cultura tecnológica
e a partir dos projetos interdisciplinares, os professores não têm como ignorá-las.
Esse processo na prática não é tão simples e exige muito estudo. Realizar
projetos cujos temas são sugeridos pelos próprios alunos exige várias reuniões de
planejamento e também na seqüência dos trabalhos (profª. 7ª série, Língua
Portuguesa).
No final uma linguagem artística escolhida pelo grupo, sintetizou cada tema em
forma de performance, dramatização, painel, poesia ou instalação para evitar
apresentações mecânicas e envolver os alunos de forma menos convencional e
mais criativa. Os alunos foram muito criativos. Surpreenderam. (profª. 7ªsérie,
Arte).
É muito legal trabalhar com a informática. Elaboramos junto aos alunos os projetos e os
alunos podem consultar vários sites, rever programas que já vimos sobre o assunto, ver, observar e
comparar as informações, daí cada grupo elabora seu trabalho, sua pesquisa (profª. 6ª série,
Ciências).
Antes havia na escola o mito de que um bom trabalho dependia do fato de se possuir
ferramentas e materiais didáticos. Percebe-se agora que as mudanças mais profundas, ainda que
lentas, dependem de conquistas como a construção de uma nova relação professor-aluno. Entendo
que trabalhar com projetos interdisciplinares nossa relação com os alunos se modifica, melhora.
(profª. 8ª série, Língua Portuguesa).
104
Assim pelas palavras dos professores e monitores pode-se ter uma idéia de como as
mudanças podem acontecer através de experiências que vão acontecendo junto à reflexão,
momento de transição que exige uma desacomodação às vezes sofrida porque vai rompendo
lentamente com o instituído, o que exige coragem. Coragem para assumir o que deu certo e
repensar as falhas.
Segundo os professores, na sala de aula, com os alunos, os debates são promovidos para
somar, questionar, discordar, se indignar e ter também a coragem de duvidar. As informações estão
na Internet, numa avalanche de textos e imagens, mas também continuam nos livros, jornais,
revistas e até na TV. O aluno vai atrás e o professor também. Mas informação sem reflexão não
muda comportamentos. Se não for dispensado tempo à pesquisa que leva a questionamentos, ao
diálogo e à reflexão, vão se repetir os discursos de sempre. Os alunos continuarão sendo
bombardeados por textos prontos e as novas tecnologias continuarão sendo apenas o máximo da
moda em nossos dias. Porém, se complementada com a pedagogia da ação comunicativa, a
linguagem da informática poderá chegar a aprendizagens interessantes de uma forma amigável e
convidativa como se expressa a professora abaixo:
Chama a atenção nesta fala, o fato do aluno “não saber mais viver sem o computador”, o
que significa que ele já faz parte do mundo informatizado. No entanto a angústia e desconforto que
revelam muitos professores, seguramente demonstra o quanto este “novo mundo” se coloca como
problema.
106
Tem professor que vem toda semana com a gente no laboratório. Esses são
“massa”, outros vêm só de vez em quando e outros não vem nunca. Destes eu
tenho pena, porque eu acho que eles não sabem mexer, trabalhar com os
computadores. Nesta parte, nós ganhamos deles e até podemos ensinar (5ª série).
A educação alienada faz com que o professor e o aluno não se tornem aptos à crítica sobre
suas práticas, o que os impossibilita de conquistar ou criar novos espaços de atuação. Nesse
sentido não há avanços nem esperança de um mundo diferente e melhor, nem a possibilidade de
gerar agentes transformadores e capazes de conquistar novos espaços de criação, porque os alunos
não conseguirão estabelecer as relações necessárias, se estas não vierem mediadas pela ação do
professor. Tanto para o uso dos múltiplos programas disponíveis no computador, como para o uso
da Internet a mediação do professor é indispensável.
Tem professor que é esperto no laboratório, mas os mais velhos não gostam de
dar aula que precisa de computador, mesmo assim acompanham a gente e o
técnico nos orienta. Gosto mesmo é de joguinhos, mas isto, nos deixam fazer só de vez
em quando. Eu acho que deveríamos jogar muito mais. Pra jogar também se raciocina (6ª
série).
Deviam colocar logo a Internet para nós, daí teria mais emoção, a gente poderia
entrar na rede e viajar pelo mundo todo (6ª série).
107
Fico pensando no que vai dar esse negócio de poder fazer tudo pela Internet. A
gente não tem mais privacidade, comecei a me cuidar, mas adoro visitar sites
diferentes (8ª série).
Sabemos que uma geração de estudantes não dura muitos anos e as fileiras estão sempre
sendo reabastecidas. Muitas crianças que ingressam na escola hoje são capazes de estabelecer uma
comunicação simbólica com a tecnologia, interagindo com o atual que acontece e o virtual que
existe, com mais facilidade do que nós. Eles se organizam socialmente de maneira mais complexa
e já não conseguem imaginar um mundo sem computadores. A tecnologia não os assusta, pelo
contrário, os atrai, estimula e contagia, daí a necessidade de conhecê-la e de compreendê-la, para
saber dosar e evitar os excessos. Nós professores precisamos sair do nosso lugar e chegar ao
mundo do aluno para que ele tenha espaço de se revelar e ser entendido nos seus desejos, sonhos e
anseios.
Depois que veio informática pra escola eu melhorei muito em tudo. Pena que só
alguns professores levam a gente no laboratório. Eu gosto de ir lá fora de hora de
aula. Já aprendi muita coisa sozinho. Isso vai me ajudar quando eu precisar
trabalhar.(8ª série).
Quando penso na escola lembro dos colegas, dos amigos, do recreio, das salas, do nome
das matérias. Estudar é um detalhe. Agora com a informática ficou melhor. As professoras
pensam que a gente gosta de estudar.(8ª série).
O ponto essencial para os alunos maiores é que eles vão à escola para passar para a série
seguinte, concluir o ano, conseguir emprego e ter dinheiro. A questão do saber fica implícita. Não
108
havendo muito interesse, o dia-a-dia da aula fica muito chato e cansativo. E nós professores
gostamos de estudar?. Se quisermos alunos pesquisadores precisamos ser exemplo, tendo explícito
em nossa prática o prazer pela busca, pela pesquisa, pela ação e reflexão da ação. Precisamos
ensinar aos alunos que o saber tem valor dando sentido aos saberes.
4 UM NOVO OLHAR
Concluo que o computador e outros aparatos tecnológicos não podem ser considerados
apenas dispositivos técnicos ou objetos de estudo, mas meios pelos quais inventamos incursões
110
diversas pelo mundo digital que interferem no mundo real, transformando-o. A informática
tornou-se um ambiente aberto à exploração e à pesquisa, num processo dinâmico que admite a
adição de novos elementos a todo o momento. Sua inclusão na escola poderá levar o conhecimento
a alcançar níveis mais complexos, já que a possibilidade de simulação virtual propicia ao indivíduo
experiências diversas daquelas oferecidas pela tradição oral e pelas tecnologias que a precederam.
No entanto há necessidade de relativizar nossa postura diante delas, tornando-as mais uma forma
de repensar o mundo que nos cerca.
As análises foram sendo construídas pelo gradativo clarear do pensar com a ajuda dos
interlocutores. Muitas coisas que agora aparecem, estavam invisíveis pela irreflexão que nos
acomete a rotina diária.
111
Ao optar pela abordagem da pedagogia da ação comunicativa neste novo olhar que
dirijo à escola, busco como referência os estudos realizados por teóricos, fundamentados na
reflexão filosófica de Habermas, por concordar que, “resgatada e devidamente identificada, a
racionalidade comunicativa mostra-se atuante no processo de reprodução da sociedade do ponto de
vista de suas estruturas simbólicas: as tradições culturais, as solidariedades sociais e as identidades
pessoais” (BOUFLEUER, 1998, p.17).
Nesse entendimento, percebe-se o espaço da escola como um lugar privilegiado para que
a teoria da ação comunicativa seja explicitada e vivenciada. Pelo sentido pedagógico que evoca,
ela pode resultar numa das possíveis soluções ou âncoras para tornar mais fecunda a prática
educativa. Há um apelo para que os agentes educativos busquem a explicitação de suas convicções
e o desafio de reconstruir sua identidade teórico prática, no momento em que: “os objetivos gerais
da educação se colocam na perspectiva de uma integração social em que se buscam reproduzir e
renovar as tradições culturais, estabelecer solidariedades e os padrões de convivência e socializar
as novas gerações, permitindo o desenvolvimento de identidades pessoais” (BOUFLEUER, 1998,
p. 17).
Atualizar-se em novas tecnologias, fazer parte da rede, no meu entender poderá legitimar
as escolas na busca de uma maior valorização como instituição. Hoje possuir um laboratório de
informática é um atributo que agrega valor à escola, demonstrando uma abertura a novas formas de
comunicação e de organização em seu interior, para, tornando-se parte de um contexto maior,
compartilhar saberes e contribuir para a busca de identidade individual e coletiva. Castells afirma
113
que numa instituição há uma construção de identidade, “quando os atores sociais, utilizando-se de
qualquer tipo de material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redimir
sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social”
(2001b, p. 24). Neste sentido convém distinguir o que se entende por identidade e por papel de uma
determinada instituição. “Identidades organizam significados enquanto papéis organizam funções.
Defino significado como a identificação simbólica, por parte de um ator social, da finalidade da
ação praticada por tal ator” (idem, p.23), o que significa que uma instituição pode organizar-se em
torno de uma identidade desejada, que a qualifique e seja auto-sustentável ao longo do tempo e do
espaço, conferindo-lhe uma nova forma de poder, justificando que,
A nova forma de poder reside nos códigos da informação e nas imagens de representação
em torno das quais as sociedades organizam suas instituições e as pessoas constroem suas
vidas e decidem o seu comportamento. Este poder encontra-se nas mentes das pessoas.
Por isso o poder na Era da Informação é a um só tempo identificável e difuso. Sabemos o
que ele é, contudo não podemos detê-lo. Porque o poder é uma função de uma batalha
ininterrupta pelos códigos culturais da sociedade. Quem, ou o que quer que vença a
batalha das mentes das pessoas será vitorioso, pois aparatos rígidos e poderosos não serão
capazes de acompanhar, em um prazo razoável, mentes mobilizadas em torno do poder
detido por redes flexíveis e alternativas. Tais vitórias podem ser efêmeras, pois a
turbulência dos fluxos de informação manterão os códigos em movimento (CASTELLS,
2001b, p.423. grifos do autor).
A chegada das novas tecnologias na escola gerou contentamento enquanto novidade, sinal
de atualização, o que elevou a auto-estima de toda a comunidade escolar, mas ao mesmo tempo
desestabilizou a rotina, provocando mudanças que despertaram subjetividades múltiplas nos
agentes educacionais e também nos alunos sinalizando que “a introdução de computadores nas
escolas, antes mesmo de apresentar os primeiros resultados desejados, coloca em evidência a
necessidade de se refletir sobre uma série de problemas, que vão desde a preparação dos
professores até a falta de recursos para a compra de equipamentos” (BRANDÃO, 1995, p. 2).
114
No contexto pesquisado, pode-se dizer que as novas tecnologias estão ainda em fase de
inserção. Sua presença já desencadeou algumas transformações. Novas discussões, novos conflitos
e, a partir deles, novos entendimentos, novas buscas passaram a fazer parte do ambiente escolar,
garantidas pelas vivências e saberes trazidos pela singularidade de cada um. Novos papéis e novas
relações interpessoais, incluindo as de poder, estabelecem-se entre todos os envolvidos no
processo escolar, a começar pela análise do modelo pedagógico adotado pelo corpo docente, o que
provoca mudanças conceituais nas concepções de educação aí veiculadas. Constata-se que estas
mudanças estão acontecendo de forma bastante lenta, o que pode ser considerado normal, pois
sabemos que os saberes pedagógicos se elaboram a partir dos desafios que emergem da prática.
A informatização foi um dos caminhos encontrados pelas equipes diretivas das escolas
em questão para resgatar sua identidade na dimensão da ampliação da auto-estima de sua
comunidade escolar. Uma das opções para adaptar-se a esta nova realidade é resgatar a
intencionalidade coletiva dos sujeitos. Sem uma ressignificação do fazer pedagógico, que se inicia
115
pela compreensão crítica da sociedade atual, será difícil avançar significativamente nas práticas
educativas, pois a educação se insere no seu contexto mais amplo. Dotar o espaço escolar de
equipamentos de informática e disseminar seu uso entre os alunos exige uma pedagogia um tanto
quanto possível condizente com a versatilidade e interatividade que caracterizam estas tecnologias.
A escola, imersa na realidade e na cultura da comunidade local a que deve servir, precisa
de um processo de conversação intenso, direto, contínuo e combinado com seus constituintes
internos e externos, pois
sem a contínua e persistente conversação com sua comunidade externa primeira, não pode
a escola ter sua própria identidade E não pode tê-la, sobretudo, sem o ativo processo direto
e imediato de conversação que a faz comunidade específica, isto é, sem a compreensão e
atuação combinadas de seus constituintes internos enquanto sujeitos coletivos
organizados: os educandos e os educadores. São eles que, na especificidade da ação
educativa explícita e continuada, constroem o ser outro da escola como grupo social
determinado em sua complexidade interna e nas inter-relações de seus grupos de iguais
(MARQUES, 1999, p. 19).
Cada escola tem sua caminhada com relação à informática, ancorada em referenciais
definidos previamente ou não, respeitando uma racionalidade que permite aprender durante o
processo, num esforço de acertar e estar aberto a mudanças no procedimento e estratégias de
apropriação do saber e das habilidades que o computador exige, uma vez que as aplicações deste
tipo de instrumento no campo educativo são várias e dependem, entre outras coisas, do contexto no
qual se opera e dos objetivos que se desejam alcançar.
d) interação homem-máquina;
e) ambiente favorável à arte e à criatividade
f) programa de formação continuada de professores;
g) novas formas de organização pedagógica.
Cada um dos pontos acima será brevemente analisado, para um melhor entendimento e
contextualização. No entanto, fica claro que nenhum deles existe separadamente. Todos estão
interligados, interferindo entre si.
Um fato interessante é que muitos professores não quiseram expressar suas idéias
oralmente, alguns não aceitaram gravações, o que é um direito. Ao se disporem a responder as
117
questões por escrito tiveram a oportunidade de pensar, refletir sobre o que iam responder. Nestes
casos a reflexão aparece como um exercício implícito de reconstituição das ações desenvolvidas.
Falar e escrever encontram-se em diferentes níveis de cumplicidade, uma vez que a fala, como
expressão de pensamento, envolve domínios que não bastam à escrita. Na fala existem sentidos
que podem ser mais bem interpretados e ressignificados no movimento do diálogo, apontando-nos
indícios importantes da reflexão implícita e do próprio entendimento dos professores com relação
ao tema. Entendo que isso ocorre porque no exercício de sua ação cotidiana, sua escrita e registros
estão bastante ligados ou limitados a elaborações formais. Ao demonstrar interesse nos resultados
da pesquisa, penso que os professores demonstram abertura para um novo conhecimento sobre sua
realidade impelidos a renovar seus entendimentos e aperfeiçoar sua ação pedagógica.
A primeira postura é própria de professores muito resistentes ao novo, que tentam ignorar
a presença dos computadores na escola. Mas percebe-se, que mesmo assim, são por eles
desafiados. Parece estarem ainda centrados no paradigma ontológico, presos ao fixo, imutável.
Desterritorializados de sua formação sentem muita dificuldade para agir num ambiente
informatizado. Encontram-se alheios ao processo de apropriação das novas tecnologias,
apresentando resistência, talvez porque estas ainda não fazem parte de sua vida e o desconhecido
sempre causa receio. O medo do computador ou o desconhecimento de seu valor, não despertou
neles a curiosidade para conhecê-lo, o que pode ser compreendido e visto como uma atitude
cautelosa. Talvez não tenha sido oportunizado tempo necessário para dominar tecnicamente a
máquina e analisar os programas para construir práticas mais conseqüentes, adaptar-se e viver as
primeiras experiências, como, por exemplo, evidencia a seguinte fala:
Sei que tem aluno com computador em casa e que já sabe utilizá-lo, mas não
tenho queda para esse tipo de trabalho. Prefiro agir com segurança. Sempre dei
118
Sempre levo meus alunos no laboratório. Uso muitos softwares para transmitir e
fixar os conteúdos para meus alunos. Ainda não aprendi tudo, mas aos poucos
vou me aperfeiçoando. Quando vier Internet será ainda melhor (profª de
Ciências, 6ª série).
A terceira postura, contrastando com os enfoques anteriores, refere-se aos professores que
utilizam os computadores como um meio para viabilizar o desenvolvimento de habilidades de alto
nível. Preocupam-se com a aprendizagem, estimulando a pesquisa, a investigação, a imaginação e
a criatividade. Trabalham na perspectiva da construção do conhecimento. Estão mais atualizados,
buscando novas alternativas, novos paradigmas. Isto mostra que é possível a articulação de um
grupo de professores disposto a modificar sua prática e a qualificar sua ação pela superação de
dificuldades diante do novo, acreditando na renovação de sua ação. Assim, o professor se faz na
sua caminhada, nas buscas, nas suas inquietações, ansiedades, proezas e, por que não dizer, na
audácia de arriscar junto a seus colegas e alunos, como o exemplo que segue.
Não me atrevo a dizer que os professores, ao assumirem uma ou outra postura com
relação ao uso das novas tecnologias, têm a mesma postura com relação a outras situações.
Teoricamente, ou seja, a partir dos Projetos Político Pedagógicos, as abordagens mediacionais
cognitivas e sócio-culturais são as eleitas pelas escolas em questão, mas na prática percebem-se
equívocos que ocorrem, talvez, pela inexistência de uma reflexão a partir da teoria articulada com
as práticas pessoais. A tendência natural é imitar modelos prontos que deram certo, mas nem
sempre são aplicáveis a todas as realidades. Entendo que não seja prioritário o domínio de uma ou
mais abordagens educacionais, mas saber situar-se nas práticas que utiliza, fazendo articulações
entre as mesmas. As escolas têm suas propostas pedagógicas, mas percebe-se que na sala de aula
prevalece a postura educacional individual de cada sujeito, ou seja, aquilo que lhe dá segurança,
independente de constar em tratados de pedagogia.
A partir de suas próprias condições e vivências, a elaboração que cada professor faz de
determinada abordagem é individual e intransferível. Um mesmo professor ora prioriza a
construção do conhecimento, ora a reprodução de informações desarticuladas da realidade dos
alunos assumindo atitudes e posições com diferentes enfoques.
120
Alguns ainda lutam sozinhos e isolados contra condições adversas, por isso se mostram
pouco dispostos e não incapazes de avançar. Às vezes o conhecimento não é recriado, muito menos
faz parte das necessidades e interesses dos alunos. É grande o descompasso entre o que os
professores declaram preferir em termos teóricos e práticos e o que eles têm condições de realizar
de fato. Para que um laboratório de informática faça diferença numa escola, é necessário que o
professor o entenda como algo útil para seu trabalho e saiba orientar-se na escolha responsável de
seu uso. Como expressa Brandão,
Portanto, de nada adiantará a escola apropriar-se dos recursos tecnológicos como um fim,
usando-os para a transmissão de informações e conteúdos, se a preocupação continuar centrada no
ensino conteudista e transmissor. A escola só terá uma nova identidade se mudar o enfoque, se
centrar a preocupação na aprendizagem, estimulando a pesquisa, a investigação, a imaginação e a
criatividade. A escola como instituição, com especial responsabilidade da equipe diretiva,
desempenha o importante papel de desafiar os professores a pensar, refletir e atualizar sua prática
pedagógica.
A investigação realizada não esgota a questão, mas, sim, pode levantar a hipótese de que a
maneira como o professor esteve submetido ao longo de seu próprio processo de escolarização
contribui decisivamente para a estruturação de sua metodologia. Para que o professor se torne
121
sujeito de sua prática não basta romper com metodologias superadas. Ele precisa romper com as
representações tradicionais do que seja um bom professor, recriando a imagem que se quer do
professor no paradigma emergente. Não se trata apenas de nos atualizarmos e nos informarmos, o
que é também importante. Sem dúvida torna-se cada vez mais necessário estarmos abertos a mudar
nossas estruturas de hábitos e formas de reagir diante das coisas, dos fatos e das pessoas, com
flexibilidade e versatilidade.
Hoje diante das rápidas mudanças, ou nos adaptamos de uma forma ágil , flexível e
versátil, ou encontraremos muita dificuldade. Como chegaremos a isso? Num oceano de
informações e incertezas, nós professores precisamos buscar informações de boa qualidade e
paradigmas atualizados, aprendendo a separar aquilo que dispersa daquilo que é essencial e pode
servir para melhorarmos a nossa qualidade de vida na esfera individual, escolar e social.
Penso que como educadores precisamos estar sempre aprendendo e evoluindo junto a
nossos pares, tendo presente que: “as novas tecnologias da informação e da comunicação, mais do
que recursos a que importa apelar, significam, para a educação escolar, especialmente para a sala
de aula, desafios outros que se imprimem às distintas articulações de linguagens, ao mundo, à
sociedade, à cultura e às identidades sociais singulalarizadas” (MARQUES, 1999, p. 19). Marques
nos desafia ainda, ao dizer que “imersa em sua cultura-ambiente, a escola é, por ela, penetrada, não
podendo, por isso, colocar-se à margem dos dinamismos sociais, sob pena de se condenar à inércia
e à defasagem histórica” (1999, p. 19).
122
É importante que haja abertura para as novas articulações de linguagem, pois elas não se
excluem, mas complementam-se, podendo ancorar o reencantamento do nosso fazer pedagógico, o
que contribui para a autovalorização pessoal do professor, pois “ninguém encontra lugar ao sol na
sociedade do conhecimento sem flexibilidade adaptativa” (ASSMANN, 1998, p. 22).
Administrar uma escola tem a ver com todo o processo social, com as leis, acordos
políticos, relações e normas que regem uma instituição, constituindo-se sem dúvida numa ação
política quando busca um ensino de qualidade.
123
Cada estabelecimento de ensino com seu perfil, sua individualidade e identidade própria,
tem como sujeitos sua mantenedora, uma equipe diretiva, um corpo docente e um discente,
funcionários, pais e colaboradores como ONGS e outras instituições da comunidade, similares ou
não, portanto envolve como sujeitos, além do Estado como sistema, a comunidade em geral,
estabelecendo-se entre eles relações de poder. Cada sujeito envolvido tem seu poder explícito ou
implícito, a partir de sua atuação no lugar que ocupa, como diz Foucault,
Numa instituição escolar, a organização espacial, o regulamento meticuloso que rege sua
vida interior, as diferentes atividades aí organizadas, os diversos personagens que aí
vivem e se encontram, cada um na sua função, um lugar, um rosto bem definido – tudo
constitui um bloco de capacidade-comunicação-poder. Trata-se de três tipos de relações
que, de fato, estão sempre imbricados uns nos outros, apoiando-se reciprocamente e
servindo-se mutuamente de instrumento (1995, p. 241).
Se as ações são encaminhadas numa visão estratégica, poderá ocorrer resistência. Para
Foucault, a resistência gera o poder e o poder gera resistência, mas ambos precisam coexistir. Se o
primeiro tem positividade porque constrói subjetivamente hábitos, saberes e valores, o segundo é
positivo porque, ao questionar, pode regular o poder. Saber e poder estão implicados, não podem
ser vistos separados, porque
Portanto, a forma como o poder e a capacidade da equipe diretiva são instaurados, poderá
ser fator decisivo nas relações que se estabelecem na escola. Como afirma Papert (1994, p. 60) “A
organização hierárquica de uma escola está intimamente ligada à sua concepção da educação e em
particular ao seu comprometimento com modos hierárquicos de pensar sobre o próprio
conhecimento”. É a partir daí que acontecem as comunicações que regulam e conduzem todo o
processo escolar no encaminhamento e efetivação das ações e objetivos a que se propõe. Hoje se
precisa refletir profundamente sobre as relações de poder aí exercidas e seu significado para a
construção dos sujeitos envolvidos.
As equipes diretivas das escolas públicas têm em suas mãos um bem coletivo a que todos
devem ter acesso de forma democrática. Para dirigir um espaço tão complexo e marcado por
diferenciações, exige-se hoje uma sábia descentralização que conduza a um aumento de
responsabilidade e de capacidade de inovação. O que dificulta às vezes, é que a tensão entre as
soluções a curto e longo prazo é alimentada pelo domínio do efêmero e do espontâneo atraindo a
atenção para os problemas imediatos. Embora haja consciência da necessidade de estudo e de
planejamento coletivo, as atribuições diárias normais são demandas que pretendem respostas e
soluções rápidas. Para que cada ação seja contemplada a contento, exigem-se estratégias pacientes,
baseadas na negociação a partir dos envolvidos, ouvindo-os, entendendo-os e motivando-os a
refletir sobre as concepções defendidas para que as práticas sejam coerentes.
125
quadro de uma intersubjetividade específica, que supõe sujeitos diferentes que buscam
entender-se sobre si mesmos e sobre seus mundos e, desde situações desiguais, progridem
na direção da igualdade da relação política, em que se constituem em cidadãos capazes de
se conduzirem com a autonomia exigida por suas corresponsabilidades (MARQUES,
1995, p. 109).
126
A partir da nova LDB20, Lei nº 9394/96, as escolas públicas vivem uma maior autonomia
com relação à elaboração de suas propostas político-pedagógicas, o que caracteriza um avanço no
sentido de democratizar a escola, de dar maior poder de decisão e liberdade de ação às equipes
diretivas, estendendo-se isso aos demais segmentos nela inseridos. Portanto, o institucionalizado
oferece abertura para que o espaço das ações seja ampliado. Sua elasticidade será tanto maior
quanto maior for nossa vontade política. A escola se reconstrói através da ótica dos agentes aí
envolvidos desde que consigam captar a dimensão da mudança. Como escreve Brandão,
Neste sentido a equipe diretiva constitui-se no vetor para que transformações aconteçam.
Foi valiosa a iniciativa de implantar um laboratório de informática, mas para que ele venha
realmente contribuir para uma mudança positiva na identidade da escola é preciso que o Projeto
Político Pedagógico lhe dê sustentação e que fique assegurada a intencionalidade dos projetos
elaborados pelo corpo docente, mesmo que haja troca das equipes diretivas. O poder de visão dos
agentes educacionais presentes na escola é que vai dar uma direção mais ou menos inovadora em
todo o complexo escolar a partir da utilização da informática educativa. É imprescindível investir
na formação dos professores que atuam no Laboratório de Informática e dos que estão em sala de
aula, disponibilizando tempo e um programa adequado para a informática educativa. Como?
Talvez as palavras de Boufleuer nos ajudem a buscar a resposta:
Quando os membros de uma escola se põem a discutir seu projeto político pedagógico,
eles estão preocupados, acima de tudo, em esclarecer um sentido geral que oriente o
conjunto de suas ações. Um sentido geral que possa ser expressão de uma
intencionalidade coletiva, isto é, de um consenso, e que confira ao processo educativo
uma perspectiva de unidade e de coerência (1998, p. 94).
20
Lei Nacional de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
127
propício em que “todos os sujeitos são ouvintes e falantes, isto é, todos devem escutar o que os
demais têm a dizer, como também tem o direito de exporem suas opiniões” (Habermas, apud
BOUFLEUER, 1998, p. 94-95). Habermas complementando ainda que:
A
pós os cursos técnicos iniciais sobre informática educativa, os avanços nas discussões variaram de
escola para escola, mas não aparecem propostas claras e consistentes sobre o tema no Projeto
Político Pedagógico de nenhuma delas, demonstrando que falta a definição de objetivos para o uso
do laboratório de informática com fins educativos. Para uma reversão do quadro atual neste
sentido, três considerações poderão ser levadas em conta.
A nova missão que é solicitada aos professores não é saber utilizar única e exclusivamente
meios informáticos em suas atividades, mas reconhecer que a presença dos computadores
em Educação só é válida enquanto elemento instrumental à consecução dos verdadeiros
objetivos educacionais que (neste caso) dependem da participação de estratégias
integradas (1995, p. 30).
Depois de tomadas as decisões integradas será mais fácil fazê-las acontecer, pois todos
serão co-autores das mesmas. A busca de apoio junto aos órgãos públicos para que as ações
definidas pela escola se efetivem é uma alternativa, como foi o caso da escola “A” que demonstra
ter avançado bastante, após buscar apoio no Núcleo de Tecnologia Educacional junto ao
PROINFO. Pelo que constatei durante a pesquisa, sem o incentivo financeiro e pedagógico das
mantenedoras e seus setores competentes, pouca coisa as escolas podem fazer.
Em segundo lugar, o trabalho que vem sendo realizado nas escolas que têm laboratório de
informática, mas não têm conexão com a Internet, tem seu valor como período de transição em que
professor e aluno estão se familiarizando com a máquina e suas possibilidades. No entanto é muito
restrito. Com a Internet a contribuição será muito maior. A utilização dos computadores em redes
propiciará a formação de uma massa crítica de pessoas que trazem elementos novos para a
discussão de qualquer assunto na sala de aula, como afirma Marques:
21
Os programas, projetos e ações do MEC estão disponíveis na Internet.http//www.mat.unb.b/ed/MEC.
Sanmya TAJRA em seu livro Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor da atualidade
(2000, p16-18) traz uma síntese comentada das ações governamentais na área da informática no Brasil no Brasil.
129
Os
alunos poderão fortalecer vínculos sociais, buscar dados, coletar informações que poderão ser
socializadas, discutidas e analisadas no coletivo escolar. É um caminho de ida e volta. Ao mesmo
tempo em que existe um grupo presencial, onde o usuário se situa fisicamente, existe um grupo
virtual, onde ele se coloca como receptor. Estando ligado na rede não está desligado do mundo.
Nas palavras de BONILLA,
somente quem está dentro de uma rede é que tem a possibilidade de mexer, discutir,
pensar a respeito. O que acontece no ciberespaço não é através da imagem, é o imaginário,
mesmo que de uma maneira dispersa, diferenciada, fragmentada. Muitas pessoas têm a
imagem de que no espaço virtual não se faz uma assembléia com todo mundo e ai perde-se
o aspecto coletivo. Não perde, ele aparece de uma outra maneira, completamente
diferente, mas não deixa de ser extremamente coletiva (1995, p. 15)
É claro que a Internet é importante. Com ela a escola estará conectada ao mundo,
mas o problema são os gastos para sua manutenção (diretora escola C).
Em terceiro lugar, a utilização da informática como meio de trabalho não deveria ser
estimulada somente aos professores, mas também às equipes diretivas. É incoerente e contraditório
o fato de as equipes diretivas não utilizarem a informática nas suas atividades diárias, uma vez que
dispõe das máquinas. Se a apropriação e aplicação prática do computador começar por elas
mesmas, estará se estabelecendo uma relação na horizontalidade e, independente do setor em que o
professor atua na escola, ele estará se familiarizando com a informática, o que significaria partir de
dentro da escola a promoção do incentivo e a difusão das possibilidades da informatização,
130
Criou-se uma interseção polêmica entre mito e realidade, ciência e especulação, desejos e
temores que reflete não apenas o difícil equilíbrio entre o real e o imaginário ou formas de
opiniões antagônicas, mas o dualismo sempre existente quando se analisa a introdução de
novas tecnologias em Educação: de um lado a renúncia, a desconfiança, o pessimismo, ou
a atitude de servir-se do meio unicamente como instrumento acessório e sub-utilizado; de
outro lado, a paixão, o entusiasmo, a esperança, a tendência de reinterpretar
repentinamente os problemas estruturais da escola com base em correlações, onde a
tecnologia assume o papel de variável independente (BRANDÃO, 1995, p. 27).
Projetar os equipamentos na escola, de forma mais dinâmica foge aos riscos de apenas
comprá-los numa visão de um futuro tecnológico utópico, porque as ações e métodos se alteram,
com a tendência de reinventar o repetido e alterar o regularmente estabelecido. Não há um modelo,
uma proposta única a ser seguida. O importante é que se veja a informática na educação, não
apenas como uma forma de preparar sujeitos para o mercado de trabalho, mas na perspectiva de
usar o potencial criativo da tecnologia, projetar finalidades pedagógicas e também otimizar todos
os setores da escola, de forma que ela realmente melhore a qualidade do trabalho aí realizado.
Quando a coordenadora pedagógica diz que: “na escola nada mudava, agora temos um
laboratório de informática, é um privilégio!” (escola C), temos que admitir que um laboratório de
informática não é um privilégio, é uma conquista, é algo a construir. A partir das novas tecnologias
pode se pensar e fazer representações, que são o produto da ciência prática, construir coisas reais
ou imaginárias, virtuais. Elas se configuram em novos dispositivos que exigem mudanças de
hábitos de pequenas ações que trazem não raro, grandes resultados. Ruim seria não fazer parte
deste jogo tecnológico. Neste sentido pode até ser considerado privilégio, no entanto Brandão
alerta: “(...) dizer que a formação informática dos professores é privilegiada não basta: é
importante que se resguardem também aspectos ligados à dimensão pedagógica e não apenas à
131
tecnológica daquilo que se poderia culminar com a redefinição de um novo perfil do professor”
(1995, p. 34).
Surgem a cada dia novas obras que refletem questões sociais, culturais e econômicos
intervenientes ao processo de interação dos sujeitos com as novas tecnologias, levando ao
entendimento de que cultura e tecnologia são cumulativas e a partir delas os seres humanos foram
capazes de somar grandes quantidades de experiências e ampliar sua visão de mundo. Uma grande
quantidade de estruturas, fenômenos e processos complexos que podiam ser concebidos apenas
intelectualmente, hoje são possíveis pela imagem digital. Lévy adverte que devemos pensar a
mutação cultural ligada à informação na perspectiva de uma nova ideografia afirmando que “uma
nova inteligência entre os sentidos e a inteligência abstrata está em vias de construção (...) as
técnicas da imagem induzem a uma nova arte de ver” (1998, p. 22).
Na sala de aula, com os alunos, os aspectos citados pelo autor podem ser combinados, os
debates passarão a ser promovidos, para juntos, professores e alunos, poderem pensar, questionar,
discordar, indignar-se e ter também a coragem de duvidar.
Muitos professores já estão inseridos e sintonizados neste novo contexto como, por
exemplo, percebemos na seguinte fala:
O que noto é que têm pessoas que não estão abertas. Não é por causa da Internet.
O problema é o gerenciamento do tempo e aí entra na questão de valores, o que as
pessoas consideram importante. Se a ferramenta é ágil, as pessoas também têm
que ser. Na alternativa virtual, tudo é possível, tudo encanta. É como se fosse
uma mágica. Isto agrega valor (monitora, escola D).
Os alunos, que desde pequenos têm acesso ao uso de videogames, jogos eletrônicos,
computador e nele a Internet, têm muito a ensinar aos professores ainda despreparados para isso.
Ao chegarem na escola já estão habilitados a utilizar qualquer instrumento tecnológico, o que não
acontece com o professor.
Frente às novas tecnologias o professor pode colocar-se como aprendiz no mesmo nível,
ou num nível inferior ao do aluno. Esta assimetria pode aproximá-los da máquina, criando um
contexto onde o lúdico, o jogo, a investigação e a busca do novo, serão vetores de mudanças muito
positivas. O aluno não precisa do professor para ganhar o instrumento, mas vai precisar dele para
regular seu uso, porque
135
Assim abrem-se muitas possibilidades no espaço físico, no espaço virtual e nas relações
afetivas. Por exemplo, o aluno do meio rural citado na página119, que usa computador para
registrar os negócios do pai e consultar a Internet para informar-se, mostra que as novas
tecnologias possibilitam um alargamento de informações sem precedentes. A escola não pode
deixar de perceber-se imersa na realidade de seu entorno, porque sua identidade se constrói com a
conversação com a comunidade externa próxima fundamentada na cultura. Nós educadores
precisamos considerar a produção de conhecimento espontâneo que acontece fora da escola,
valorizá-la e estabelecer uma relação pedagógica recíproca, sempre ao mesmo tempo, na outra
posição, pois
dá-se a aprendizagem escolar no quadro de uma intersubjetividade específica, que supõe
sujeitos diferençados à busca de se entenderem sobre si mesmos e sobre seus mundos e
que, desde situações desiguais, progridem na direção da igualdade da relação política,
onde se constituem em cidadãos capazes de se conduzirem com a autonomia exigida por
suas co-responsabilidades (MARQUES, 1999, p.152).
Às vezes a assimetria invertida acontece também em outros aspectos, não só com relação
às novas tecnologias. O professor poderá inverter essa assimetria através do conhecimento, da
136
experiência e da construção de uma cultura pessoal, o que deveria constituir-se num movimento
permanente. As convicções de cada um precisam buscar a elevação do pensamento e do espírito
para o universal e a superação de si mesmo, mediante o investimento no seu projeto pessoal de
vida.
Frente ao computador exige-se hoje, uma nova postura de cada professor diante de si, do
aluno e do ato de conhecer. Para obtermos o esclarecimento necessário, precisamos conhecer os
prós e contras e analisar posições diversas.
22
Valdemar Setzer- professor do departamento de ciência da computação da USP, autor de “Introdução à Rede
Internet e seu Uso”(ed. Edgar Blucher, 1994).
23
Rogério Costa – professor de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC de São Paulo, autor de “Limiares
do Contemporâneo” (ed. Escuta).
137
abstrações virtuais”. Argumenta ainda que a “escola do futuro” deveria ser “mais humana e não
mais tecnológica”.
No contraponto, Costa afirma que “talvez o que mais prejudique o aprendizado seja a
própria idéia que temos de aprendizagem”. Se acreditarmos que alguém possa produzir
conhecimento de modo diverso do que é proposto pelo sistema professor-aluno como, por
exemplo, ao fazermos relações a partir de informações dispersas, a Internet pode e só vai
beneficiar. Para ele a idéia de “exploração” por si já é um convite à reflexão sobre a aprendizagem,
como a concebemos até agora, argumentando que “a própria atividade de exploração dos mundos
virtuais requer um aprendizado. Isso nos leva a crer que o ensino tradicional terá um papel
importante a desempenhar nesse aspecto: ensinar o aluno a ser ele próprio o explorador de seu
universo de interesses”. Costa acha ainda que o ensino tradicional e o ensino virtual podem
complementar-se perfeitamente e que o fato de sermos provocados a pensar sobre o assunto “nos
leva a crer que nossa relação com o ensino presencial se tornará cada vez mais complexa, mais
crítica e, esperamos, mais rica em mudanças e inovações (SETZER & COSTA, 2000).
de alto nível. Conforme Lèvy, “Nem a salvação nem a perdição residem na técnica. As técnicas
projetam no mundo material nossas emoções, nossas intenções e projetos. Os instrumentos que
construímos nos dão poderes, mas, coletivamente responsáveis, a escolha está em nossas mãos”
(2000, p.17). Qual o sentido de tudo isso para a escola?
Precisamos nos deixar impregnar pelo espírito dos nossos tempos, que vêm criando toda
uma cultura que privilegia a informática em todos os campos de ação. Só então as novas
tecnologias se farão vida e terão sentido, passando ao uso comum.
A grande maioria dos professores, entre os quais me incluo, vem de uma geração, que na
sua formação escolar e acadêmica sequer imaginavam a possibilidade de utilizar um computador
como recurso pedagógico, o que nos coloca na condição de aprendizes e pesquisadores
permanentes. A posição dos professores não tem sido só de estranhamento, mas de defesa frente à
dificuldade de incorporação mecânica. Apesar disso, tenta compreendê-la, colocando-se numa
permanente reconstrução, buscando uma cumplicidade com a máquina, que possibilite seu uso
para tarefas nobres, pois,
Muitos desconhecem que as interfaces24 homem/máquina são tão interativas que muitos
alunos aprendem a operar um computador sem muito auxílio externo. Por serem curiosos e
ousados eles vão explorando comandos, descobrindo suas relações e estruturas de execução, o que
lhes possibilita transformar várias formas de organização simbólica. O que a maioria dos alunos
traz para a aula é um maior domínio da habilidade técnica de manuseio e interação com a máquina,
por terem um maior domínio do meio sócio-cultural cercado de novas tecnologias.
Segundo Chaves, citado por Cunegatti, “o computador de fato exerce grande atração
sobre a criança. O que se deve fazer é explorar essa atração em direções positivas e desejáveis”
(2003, p. 87). Mas para direcionar positivamente os alunos, o professor também precisa dominar as
habilidades técnicas do computador. No entanto percebe-se que para os adultos são muitas as
barreiras, principalmente as psicológicas ligadas ao pensamento lógico visível. Como afirma
Sacks, citado por Marques (1999, p 35), “é muito difícil criar uma fluência visual associada ao
uso do computador depois da idade dos catorze anos, tanto quanto é árduo aprender
fluentemente uma nova língua após certa idade limite”. Operar um microcomputador exige
interação com uma linguagem e uma organização espacial apta ao pensamento lógico visível que
envolve situações espaciais complexas, exigindo uma alternância mental que foge da linearidade a
que estávamos acostumados.
24
Interface é a forma particular do computador comunicar-se com a pessoa, por símbolos e ícones.
140
Questões como essa podem ser tomadas como exemplo, pois apontam para a dificuldade
concreta dos professores e acabam por transformar-se em angústia para eles e, com certeza, para os
alunos também. Isto reforça a idéia de que mudanças não acontecem movidas pela autoridade, mas
por aprendizagens motivadas e desenvolvidas por programas de qualidade. A escola já é um
espaço difícil e a forma como chegaram as tecnologias podem torná-la mais difícil ainda, porque
chegaram cercadas de expectativas nem sempre realizáveis. Para Brandão,
Facilita o fato de poder utilizar o computador25 mesmo sem saber como funciona, pois ele
se resume numa caixa por onde passa a programação e o usuário entra em programas aplicativos ou
softwares prontos para a interação. O que precisamos é saber algumas informações sobre os
equipamentos (hardware) para poder ligá-lo, desligá-lo e entrar nos programas. È interessante
também conhecer e dominar alguns termos específicos, os mais usados hoje já são de uso comum,
começando a fazer parte de nossa cultura, sem dificuldades nas trocas de mensagem. Isto é o
começo para entrar num mundo cheio de surpresas e possibilidades que não se esgotam, tendo
presente que inicialmente não precisamos criar programas, mas poderemos chegar lá. Além disso
25
Os computadores são todos baseados em uma CPU (abreviatura de Unidade Central de Processamento,
em inglês). A CPU é o cérebro do computador, responsável pela execução dos programas com base em
processadores (ou chips).
141
encontram-se sempre manuais de instruções atualizadas de como proceder diante das novidades
que vão surgindo. Como muito bem pondera Cunegatti
Estas palavras nos mostram que o conflito gerado pela censura que recebemos das
pessoas ao errar alguma coisa, nos inibe e nos deixam temerosos ao lidar com situações
desconhecidas, porém o computador jamais vai nos censurar e além disso ele é interativo, vai
apontando caminhos. Precisamos ter coragem, paciência, humildade e persistência. SABBI nos
lembra que
Corpo e mente são parte do mesmo sistema e atuam um sobre o outro. Nossos
pensamentos afetam instantaneamente a nossa tensão muscular, a respiração, as sensações
e as emoções, que, por sua vez, afetam os nossos pensamentos. Quando aprendemos a
mudar um deles, aprendemos a mudar o outro. Tudo o que acontece no plano dos
sentimentos e das emoções afeta os nossos pensamentos e a nossa fisiologia. Se uma
pessoa pode fazer algo, todos podem aprender a fazê-lo também. (...) Muita gente pensa
que certas coisas são impossíveis, sem nunca terem se disposto a fazê-las (2002, p. 163).
maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho”. O computador é interativo porque permite
a reação de seu usuário. Ele reage às suas ações, possibilitando a interrupção de uma seqüência de
informações e de reorientação com precisão de um fluxo informacional em tempo real, como no
caso dos hiperdocumentos informáticos ou matrizes de informação, que podem gerar muitas
partidas ou percursos diferentes de acordo com a vontade de seu interlocutor. Talvez as primeiras
experiências sejam difíceis, mas aos poucos a interação permite uma certa autonomia que leva a
descobertas gratificantes que estimulam novas buscas (2000, p. 79-85).
Hoje podemos encontrar referências para todo e qualquer assunto de nosso interesse
pessoal ou coletivo na Internet pois há uma infinidade de navegações possíveis. Lévy ainda afirma
que:
A „pilhagem‟ na Internet pode apenas ser comparada com o vagar em uma imensa
biblioteca-discoteca ilustrada, com o acréscimo da facilidade de acesso, do tempo real, do
caráter interativo, participativo, impertinente e lúdico. Essa midiateca é povoada, mundial
e aumenta constantemente. (...) Cabe apenas a nós continuar a alimentar essa diversidade
e exercer nossa curiosidade para não deixar dormir, enterradas no fundo do oceano
informacional, as pérolas do saber e do prazer – diferentes para cada um de nós – que esse
oceano contém (2000, p. 91-92).
o quanto ela facilitaria suas atividades rotineiras enquanto ela não for amplamente analisada,
discutida e utilizada.
Portanto, não podemos nos omitir de aprender a interagir com os novos instrumentos
tecnológicos postos em nosso meio. A capacitação dos professores para atuar nos laboratórios de
informática depende da aprendizagem contínua de conhecimentos e habilidades tecnológicas
incorporadas ao seu ambiente sócio-institucional, a escola.
(...) a violência, cada vez mais, tem sido ligada aos efeitos da mídia eletrônica. Crianças
que fazem arte desenvolvem sua inteligência prática, por isso na maioria das vezes são
socialmente competentes. Podemos dizer que elas sabem se “defender”. Elas são
habilidosas em adaptarem-se a situações novas porque vêm o que deve ser feito e como
fazê-lo. Elas também tem um instinto para saber o que vai, ou o que não vai dar certo e,
além disso, são facilmente aceitas (HARMSTRONG e CASEMENT, 2001, p.181).
Fazer arte exige autocontrole, zelo, persistência e motivação e para isso nossas emoções
podem nos ajudar a avançar, estacionar ou até retroceder, dependendo do quanto somos capazes de
mobilizá-las, o que se aplica a todos os aspectos de nossa vida. Desenvolver essa habilidade com
pouca idade produz conseqüências benéficas a curto e longo prazo para a evolução social e
intelectual da criança, pois torna as pessoas autoconfiantes, capazes de lidar com estresse e
frustração, perseverando frente a pequenas e grandes dificuldades. Para obter e curtir a satisfação
de um trabalho artístico pronto, o aluno passa por todo o processo de elaboração do mesmo,
desenvolvendo a habilidade de saber esperar, o que equilibra suas experiências de vida frente às
novas tecnologias, pois no computador e no videogame, ela obtém respostas imediatas e rápidas.
Harmstrong e Casement (2001, p.180), afirmam que “a habilidade de adiar a gratificação, o que é
um aspecto importante da inteligência emocional é algo que todos os estudantes de arte logo
aprendem, sendo também uma parte essencial do crescimento”. Para Davis Mc Gee, 26 “a
verdadeira mágica das artes, é que elas dão às crianças a disciplina interna de que necessitam para
administrar suas vidas”.
26
Diretor de uma escola de Toronto, Canadá, que além de equipada tecnologicamente, tem dado certo, por ter a arte
como estratégia para atingir sucesso em todos os sentidos (Armstrong &Casement, 2001, p.178).
146
A simples modernização dos recursos tecnológicos, por si só, não produzem melhoria na
educação e nem estimulam a criatividade. Muitas imagens vêm prontas e são facilmente
reproduzidas em quantidade e bem sabemos que o estereótipo é danoso ao homem e à sociedade.
As formas elaboradas postas como referência e valor em si, geralmente deixam de ser um devir
auto-realizador da pessoa, porque foram submetidas às formas externas, alheias a ela. Além disso
não há somente recepção, como nos casos, por exemplo do rádio e da televisão, mas o usuário pode
interferir e imediatamente reconstruir, se aprendeu a ser inventivo e criador. Uma forma artística se
identifica com a vivência e a experiência do sujeito que a produz com seu corpo, suas mãos, sua
emoção. Através da simulação proporcionada pelo computador o indivíduo internaliza regras de
conduta de seu grupo social que passa a nortear seu desempenho, ou ainda cria resistência acerca
destas e procura rompê-la. De acordo com suas experiências reais, ele terá condições de superar
certas ações impulsivas, aprendendo a planejar soluções.
variadas, pois “O homem é um ser criativo, realiza-se pela criatividade. Como tal, também
autocria-se, produz sua própria forma e identidade a partir de si mesmo. Expressa-se por forma
própria e é, em algum grau, sempre forma em produção” (SABBI, 1986, p. 29).
Os professores geralmente não vêem muita razão para estudar teorias. Mas é justamente
por meio delas e seu confronto com o fazer diário, que poderemos refletir sobre o entendimento
que temos das coisas e fazer a crítica às limitações que existem na sala de aula. A teoria associada
à reflexão nos possibilita de sermos mais críticos, mais autônomos e competentes e,
principalmente, a não nos acostumarmos a conviver com as contradições entre e o que gostaríamos
de fazer e o que efetivamente podemos fazer. Muitos professores, privados desta revitalização,
continuam marcando passo.
148
A escola ao oferecer espaço para que os professores possam repensar sua ação, oportuniza
também que cada professor faça um maior investimento no seu projeto pessoal de vida, com a
possibilidade de avançar em direção a sua formação, buscando outro sentido à sua prática. Assim,
o professor poderá atualizar-se culturalmente incorporando novas idéias e instrumentos,
explorando-os em seu fazer cotidiano, pesquisando e fazendo-se na sua caminhada, a partir de suas
aspirações, ansiedades, inquietações, proezas e, por que não dizer, na audácia de arriscar-se, junto
a seus colegas, pois “o professor pesquisador cria/recria a sua profissão no contexto da prática”
(MALDANER, 2000, p. 391). Desta forma, a pesquisa torna-se importante referência na formação
continuada dos professores dando outro sentido ao fazer pedagógico.
Muitas teorias e práticas já anunciam uma maior reflexão sobre a ação pedagógica no
sentido de evidenciar as posições tomadas no percurso pessoal e profissional, como no movimento
sugerido por Schön, citado por CampoS et al (2001, p.196-7), fundamentado no desenvolvimento
de uma prática reflexiva em três idéias centrais:
a) o conhecimento na ação – é o conhecimento que está presente nas ações profissionais,
carregadas de um “saber escolar” e um enfrentamento das situações do cotidiano que revelam um
conhecimento “espontâneo, intuitivo, experimental” revelado por meio de ações espontâneas e
habilidades;
b) reflexão na ação – pode ser vista como um momento que gera mudança a partir de
uma pausa para a reflexão do momento presente, para encontrar respostas às situações inesperadas;
c) reflexão sobre a reflexão na ação – é o distanciamento para refletir sobre a ação
presente, marcada pela intenção de se refletir produzindo uma descrição verbal da reflexão na
ação, refletindo sobre as mesmas, o que pode gerar modificações em ações futuras a partir da
compreensão do problema. Para SCHÖN (1988) ao refletir na ação encontramos soluções para os
problemas emergentes, o que evita a aplicação de soluções criadas fora do nosso contexto.
Quando o professor diz “não conseguimos levar os nossos projetos com o sucesso que
pretendemos. Sabemos que muitas coisas nos amarram, mas não sabemos bem por onde começar”
(prof. Língua Portuguesa, 7ª série), ele está evidenciando a necessidade de refletir sobre sua
149
realidade imediata, para definir qual o problema que o incomoda. Num trabalho coletivo dentro da
escola, podem formar-se grupos em torno de interesses comuns e afinidades por disciplinas, séries
ou níveis de ensino e seguir os passos sugeridos por Schön. Assim organizados, os professores
podem desenvolver atividades de discussão e reflexão, planejamento e estudo. Ao partilharem a
realidade, esta pode ser percebida de vários pontos de vista, que levados à discussão coletiva
podem ser confrontados e mediados pela palavra em constante construir/desconstruir significados
e produção de sentidos.
Com as novas tecnologias na escola um novo momento de formação continuada pode ser
iniciado. Sem reflexão o computador se torna apenas objeto de consumo para impressionar, para
fazer de conta que a escola que o possui é uma escola atualizada. O mercado determinou que ele
viesse parar na escola. Para se opor a essa lógica é preciso investir no processo de refletir, dialogar
sempre abrindo um debate amplo e contínuo, enfrentar o que é difícil, arriscar a pensar e
estabelecer caminhos a serem perseguidos coletivamente em todas as questões que envolvem a
cidadania.
As reuniões pedagógicas necessárias para articular a demanda diária da escola não têm se
constituído num espaço capaz de articular a reflexão sobre a atuação do professor. É preciso
também outro tipo de intervenção que promova uma nova perspectiva de interação entre
professores, para pesquisar e refletir sobre os problemas encontrados na prática, na tentativa de
superá-los. A defasagem entre o ideal e o possível pode ser abreviada pela ação comunicativa que
150
se estabelece na busca de novas formas de organização pedagógica. Por isso defendo o espaço para
estudo no horário de trabalho das instituições públicas. Muitos perguntarão: Em que horário
faremos nossos estudos? Como acharemos tempo para a formação continuada? No meu entender,
este problema também pode ser resolvido coletivamente pelas equipes diretivas e professores, com
o especial comprometimento da coordenação pedagógica em priorizar ações desta natureza.
O modelo de escola que temos passa por um momento de transição onde o individual e o
coletivo estão sendo repensados. Ao se trabalhar com o coletivo dos alunos já há evidências de
uma preocupação com as diferenças individuais, de forma que cada aluno já pode falar de suas
particularidades, expressar-se e enriquecer o seu coletivo. Mas isto é um processo que não é tão
simples quando ainda se tem um elevado número de alunos numa turma. Há necessidade de
repensar esta questão, buscar novas formas de ensinar e aprender em uma sociedade
interconectada, que efetivou uma quebra na linearidade da informação existente na escrita da
imprensa, devido à introdução das escolhas de caminhos viabilizadas pelos conceitos em redes.
Neles a linearidade não existe, sempre há muitos movimentos. Quem compõe a linearidade são os
usuários. As aulas não poderão mais ser iguais para todos. Para cada turma haverá uma nova
relação e um momento de aprendizagem diferente.
A inclusão do computador no trabalho escolar traz uma nova forma de pensar e debater
sobre uso da comunicação em geral que com seus mecanismos, tenta inserir a instituição
educacional no mundo globalizado, tornando-a um espaço vivo, que prepara o sujeito para a vida
sabendo lidar com o acúmulo de informações. Isto exige que se redimensionem os parâmetros
disciplinares de forma que todos tenham voz e vez para falar de si, do seu processo individual que
é parte do coletivo e valorizar este coletivo local. Neste sentido, o computador pode ser encarado
como uma mídia, um meio de inter-relacionamento que ao ganhar conexões com todo o mundo,
valoriza e consolida as relações próximas. Para Vigotsky “o aprendizado desperta vários processos
151
internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com
pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros” (2000, p. 117).
Portanto, aprender é um processo social e tanto alunos como professores aprendem com seus
pares.
Mesmo que o uso do computador seja um processo individual, duas pessoas não batem no
mesmo teclado, não dão comandos ao mesmo tempo - e que depois haja a socialização dos
momentos individuais, num debate presencial, o usuário está se socializando com um
outro grupo, virtual, de uma outra maneira. Portanto, nunca existe este momento
completamente individual com o computador ligado em rede. Mesmo que estejamos nos
socializando com informações, estamos nos socializando com o mundo, porque o que
mais fazemos quando usamos um computador, depois que aprendemos a operá-lo, são
leituras e comunicações. Temos apenas que tomar cuidado para que o coletivo próximo,
físico, não se perca (1995, p. 16).
Muitas vezes o saber dos professores centra-se no conhecimento exclusivo acerca de sua
disciplina, e não raro aqueles acumulados no curso de formação. É óbvio que ele precisa dominar o
conhecimento que é o objeto de ensino e aprendizagem, os procedimentos didáticos a ele
pertinentes (atividades, analogias, explicações e ilustrações, situações, problemas e formas de
representações) e também ter um conhecimento curricular que compreende a organização e
estruturação dos conhecimentos escolares e seus respectivos instrumentos, como livros, textos,
propostas curriculares e todo tipo de material instrucional (jogos pedagógicos, material para
manipulação, vídeos, softwares, CD-roms, etc...), mas ele precisa ter também um saber relativo às
demais questões da prática docente.
27
Centre pour la Recherce et I‟Innovation dans I‟Enseignement-entre outras finalidades encoraja a cooperação entre os
países da OCDE (Organization de Cooperation et Développement Economique) no campo da pesquisa e da inovação
no ensino.
154
Nem sempre o nível interdisciplinar é o ideal, mas busca-se o possível de ser efetivado de
acordo com as condições reais, quando se tem por objetivo a “interação” como fator principal para
uma mudança de atitude frente a um fato a ser conhecido. Silveira entende ser “uma certa filosofia,
uma mesma concepção de ciência, a mesma valorização estética, a busca de uma lucidez e um rigor
originário da participação na mesma ideologia”(1998, p. 9), o elo que vai unir os professores
especialistas nas diversas disciplinas que compõem os projetos. Importa a coragem de inovar, pois
recíproco. Como conseqüência os alunos estarão mais capacitados para enfrentar problemas que
transcendem os limites de uma disciplina concreta, detectar, analisar e solucionar problemas novos
e a motivação para aprender é muito maior. Ela pontua que
De acordo com esta afirmação, fica claro que trabalhar numa abordagem de projetos
interdisciplinares é estar realizando uma ação pedagógica comunicativamente concebida, onde “os
educadores e educandos se inserem no processo em que são reproduzidas as tradições culturais,
renovadas as solidariedades e socializadas as novas gerações” (BOUFLEUER, 1998, p.86).
Habermas complementa que os professores,
já não aparecem então como causadores que dominam situações com o auxílio de ações
responsáveis, mas sim como produtos das tradições, em que se encontram, dos grupos
solidários a que pertencem e dos processos de socialização nos quais se desenvolvem
(HABERMAS apud BOUFLEUER, 1998, p. 86).
O centro dos acontecimentos não será mais a sala de aula, porque o trabalho por projetos
interdisciplinares pode tornar-se uma forma de organização extensiva na medida em que traz à
discussão uma forma coletiva de articulação para a aprendizagem, respeitando os diferentes ritmos
individuais dentro do coletivo. Nesta perspectiva possibilitam que professor e aluno busquem
elementos para fazer uma nova crítica à sociedade e aos valores contemporâneos, tendo, não só,
mas também, as novas tecnologias utilizadas como recurso educativo. Elas favorecem a
aprendizagem quando as estratégias didáticas estão associadas aos interesses dos educandos.
Fontana (1997, p. 24) discute a necessidade de uma nova compreensão do professor sobre
a intencionalidade da ação, uma vez que os alunos são parceiros na mudança de uma prática
156
pedagógica. Neste sentido Maldaner complementa: “Se eles não estiverem disponíveis para uma
nova experiência, todo o esforço do professor será inútil ”( 2000, p. 39).
Antes havia na escola o mito de que um bom trabalho dependia do fato de se possuir
materiais didáticos. Percebe-se agora que as mudanças mais profundas, ainda que lentas,
dependem de conquistas como a construção de novas propostas de trabalho que melhorem
a relação professor-aluno (professor, escola D),
ela demonstra estar disposta ao diálogo, a uma busca de entendimento, ou seja, a uma
ação comunicativa, e que o trabalho com projetos interdisciplinares marca o início de muitas
transformações. As experiências nascem às vezes débeis, frágeis, limitadas, mas aos poucos vão
acumulando valiosos ensinamentos.
No meu entender, o que precisamos é sentar em pequenos grupos e, de acordo com cada
realidade e a partir do caminho já construído, continuar a pensar, discutir e estudar, sendo críticos e
ousados. Com certeza muitas possibilidades serão vislumbradas, não por meio das máquinas, mas,
sim, pelo resultado das dinâmicas estabelecidas a partir delas.
O professor em serviço é o ponto básico sobre o qual convergem muitas pesquisas atuais,
formando-se a consciência de que não se pode esperar que novas gerações de professores cheguem
à escola para que as mudanças e rupturas ocorram e de que é urgente refletir e elaborar novos
sentidos para os significados que os professores dão a sua ação em desenvolvimento.
157
Pesquisar exige o constante aprender o aprender o cotidiano da escola, o que ocorre num
processo dinâmico entre as diferentes experiências pedagógicas. Para Maldaner, “o professor
pesquisador cria/recria a sua profissão no contexto da prática” (2000, p. 391). Ao pesquisar é
necessário que se vislumbre os limites existentes entre o que seria a pesquisa ideal dentro do
espaço da escola e as reais condições dadas nesse espaço.
Sabemos que os professores possuem uma extensa rotina de trabalho que exige
envolvimento pedagógico em domicilio, como planejamento de aulas, elaboração e correção de
provas entre outras atividades. Por isso mesmo o desenvolvimento da habilidade de utilizar
programas que o computador oferece, como o Word, o Excel, o Power Point é fator de extrema
importância para facilitar estas atividades. Buscar subsídios na Internet também otimiza o trabalho
e amplia a visão do professor. Nunca se teve tanto o recurso, tanta informação num único
instrumento.
28
Relatório Edgar Faure, publicado em 1972.
158
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção inicial da investigação foi detectar os fatores que dão sustentação à inserção
das novas tecnologias no meio educacional. A problematização foi buscada a partir da ótica dos
agentes da educação, cujos dados que foram sendo construídos ao longo do processo pelo
compartilhamento e valorização das experiências docentes e, por vezes, no respaldo teórico como
mediação entre o trabalho idealizado e as condições reais de realização o que levou à ampliação do
160
campo empírico. Sobre esta intenção faço algumas considerações no intuito de sistematizar
aspectos importantes que se fizeram presentes durante o processo.
fatores favoráveis ao sucesso das novas tecnologias, apontando a escola como espaço em potencial
para sua articulação, desde que os agentes da educação também se articulem para pensar sua
prática.
As escolas públicas mostram que os professores estão abertos ao novo, mas não estão
otimistas em relação à possibilidade de mudanças no ambiente escolar, principalmente pela
carência de condições financeiras para a implementação dos laboratórios de informática e pelas
dificuldades de ordem política e pedagógica para modificar o instituído.
No âmbito escolar, aposta-se na atuação conjunta da equipe diretiva, com especial apoio
da coordenação pedagógica, no sentido de reorganizar os tempos e espaços da escola para uma
efetiva formação continuada dos professores em serviço, com a organização de pequenos grupos
reunidos por afinidades (séries ou níveis), oportunizando encontros de estudos. Acredito nesta
possibilidade por que as novas tecnologias mobilizam competências sociais e cognitivas no
sentido do estabelecimento de relações mais comunicativas e cooperativas que exigem um
163
redesenho da formação e do exercício docente. Isto poderá, em muitos casos, levar a romper com
os paradigmas ultrapassados baseados na transmissão de informações, para dar lugar à construção
do conhecimento.
Neste sentido as ações coletivas mostram ser um suporte às ações individuais, porque
onde há possibilidades, há também limitações a serem superadas. Num mesmo grupo, há
diferentes ritmos de envolvimento, de interações e de entendimento, que precisam ser respeitados e
compreendidos. Acredito no potencial de mudanças a serem geradas pela reflexão sobre a ação,
possibilitando uma nova consciência pedagógica, numa atitude compartilhada de mediação pela
palavra do outro, porque não é fácil para ninguém abandonar seguras práticas e aventurar-se
sozinho ao novo e desconhecido. Ao explicitar nossas dúvidas e dificuldades, elas se tornam mais
fáceis de ser superadas. O outro, no caso, pode ser o colega professor que compartilha a mesma
164
realidade, o técnico ou o teórico que fundamentam nossas ações ou o aluno que nos alimenta com
seus saberes, anseios e esperanças.
ressignificá-lo com o olhar do presente, refazendo minha “autopoiésis” numa reconstrução que
chegou a uma leitura mais reflexiva e crítica da minha própria caminhada, somando as
experiências acumuladas ao longo dos anos. Percebi que os professores compartilham ansiedades e
conflitos semelhantes aos meus. Por ter conseguido superar muitas dificuldades, não só mas
também com relação à informática, consegui entendê-los e talvez até motivá-los. Nas suas falas
identifiquei meus desejos, angústias e anseios, muitos supridos, outros não. Foi uma minuciosa
revisão e reconstrução de conceitos e valores importantes para minha constituição profissional e
pessoal. Sua realização ajudou-me a clarear mais a rica e complicada teia das relações do mundo
escolar e do mundo da vida. Por isso teve sabor de dor e de prazer ao mesmo tempo. Depois de
muita leitura e escrita, alegria e sofrimento, espero que, além do desfrute, esta produção sirva
também para novas leituras, reflexões, entendimentos e produções, num mundo em constante
mudança.
Aprendi que paciência e humildade são fundamentais para desvendar cada vez mais as
profundezas desconhecidas dos temas que nos interessam. Hoje sei que só o tempo e muito estudo
sufocarão minha insatisfação e ansiedade. Com a ampliação da razão e da sensibilidade, abrem-se
os canais do conhecimento e da imaginação numa ação interativa. Tudo está reorganizando-se,
refazendo-se, transformando-se continuamente, numa constante construção/reconstrução que nos
mantêm atentos à vida, para podermos perceber o tempo que passa e as mutações que acontecem..
Assim, permeada de reflexões, a escrita deste trabalho aconteceu no ritual metálico das
teclas do computador, este instrumento tão questionado que me encanta, mas às vezes ainda me
espanta. Em sua companhia enfrentei meus próprios limites e entendi os seus ao percorrer
caminhos e as infovias da cibercultura. Ao concluir esta fase, sei que tenho ainda um longo
caminho a percorrer, o que exigirá tempo e paciência, pois algumas respostas que busquei
desdobraram-se em novas inquietações, onde às indagações e às respostas somam-se mais
perguntas, sempre novas, o que nos coloca em permanente investigação e pesquisa.
166
A partir desta experiência, um aspecto ao qual passo a dar maior importância é a questão
da escrita. Nós professores escrevemos pouco. Nos preocupamos em ensinar o aluno a escrever, a
refletir, a fazer registros. E nós registramos nossas experiências, especialmente as pedagógicas? A
grande maioria dos professores não gosta de escrever. Busca textos prontos, às vezes sem
preocupar-se com a autoria. Ao ter meu projeto de mestrado aprovado fiquei feliz. O reencontro
com os mestres me renovou. Aulas, aulas, leituras e mais leituras e tudo ia bem. Mas na hora de
escrever... poucas vezes as palavras fluíam fáceis e descontraídas. Geralmente se escondiam, se
enovelavam e era difícil arrancá-las. Sempre achava outras coisas para fazer. Interferências,
fugas... Foi difícil concentrar-me e entrar inteira num assunto tão complexo.
Enfim comecei a escrever. De vez em quando parava, buscava diálogo e apoio com os
personagens coadjuvantes desta caminhada, colegas, professores, amigos. Pincéis e tinta também
fizeram parte das pausas na escrita. Nunca havia pintado tantas telas em tão pouco tempo. Com as
energias renovadas, começava de novo. O saudoso Mario Osorio Marques, em muitas aulas me
abordava: - “Como está a escrita? Escrever é preciso Edite, não pense para escrever, escreva
para pensar”. Eu respondia que ia indo, devagar... Um dia ele falou: - “Você é a legítima
inflamada como diz seu nome. Tudo o que termina em „ite‟ é inflamação. Sua dissertação está aí
dentro, inflamando cada vez mais. Daqui a pouco ela vem a „furo‟. Daí quero ver você faceira, dar
o “grande abraço” . Vai ser muito bom, tenho certeza”.
Concluída a dissertação, ele, meu co-orientador, não está mais aqui para comemorar
comigo. No entanto, tenho clareza de que ele foi meu “Grande Mestre”. Mesmo depois de sua
partida, muito tenho dialogado com ele através de seus livros e da lembrança agradável de nossas
conversas. Uma das coisas importantes que ele me ensinou, além de que “escrever é preciso”, é
que “nos constituímos com as pessoas que nos tocam profundamente”.
167
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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171
Isto
é só a
ponta de um
iceberg submerso.
O verdadeiro poema
Está embaixo deste verso.
(Luís Fernando Veríssimo, da série “Poesia numa hora dessas”? )
172
ANEXOS
173
ANEXO 1
a).Nome da escola:
b).Número de alunos:
c) Endereço:
d).Mantenedora:
e) Entrevistado: