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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES (ECA)


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DA COMUNICAÇÃO

VINICIUS GOMES CASTANHO VIEIRA

Superman - O Retorno
Análise do filme

São Paulo – SP
2010

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VINICIUS GOMES CASTANHO VIEIRA

Superman - O Retorno
Análise do filme

Trabalho apresentado na disciplina


Estética das Mídias, ministrada pela
Profa Dra. Maria Cristina Castilho Costa,
no curso de Especialização em Gestão da Comunicação,
da Universidade de São Paulo (USP)

São Paulo – SP
2010

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Parte I – Apresentação

1. Título da obra:

Superman – O Retorno (título original: Superman Returns).

Ficha técnica
SUPERMAN o retorno. Direção: Bryan Singer. Intérpretes: Brandon Routh, Kate
Bosworth, Kevin Spacey. [S.I.]: Warner Bros Pictures, 2006. 1 DVD (154min), son.,
color.

2. Por que escolhi esta obra?

O filme marcou a retomada do personagem em uma produção


cinematográfica depois de um período de 19 anos. Superman é um personagem
fictício de histórias em quadrinhos criado nos Estados Unidos, em 1938, pelo
roteirista Jerome (Jerry) Siegel e o cartunista Josheph (Joe) Shuster. Desde sua
primeira aparição, na revista Action Comics #1, se tornou um dos mais fortes ícones
da chamada “cultura-pop”, sendo conhecido em diversos países.
Deu origem a adaptações em diferentes meios de comunicação de massa
(cinema, rádio, televisão, literatura e vídeo-game, por exemplo). Além disso, as
editoras de quadrinhos criaram mais super-heróis neste período, se baseando em
diversas de suas características.
Dentre as versões do personagem, umas das consideradas mais bem
sucedidas por crítica e público é “Superman – O Filme”, lançado nos cinemas em
1978. De acordo com o site omelete.com.br, o filme “é considerado, ainda hoje, a
versão definitiva do personagem pela maioria dos fãs e pelo grande público de modo
geral (...) tornando-se um marco na história do cinema e o padrão para adaptações
de quadrinhos de super-heróis.

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A produção originou três sequências: enquanto “Superman II – A Aventura
Continua” (1980) foi igualmente bem sucedida, “Superman III” (1983) e “Superman
IV – Em Busca da Paz” (1987) foram alvos de críticas desfavoráveis. Nos anos
seguintes ao último filme, o personagem ganhou novas adaptações nos quadrinhos,
desenhos animados e seriados de televisão.
Alguns projetos cinematográficos foram avaliados neste período pelo estúdio
Warner Bross Pictures e pela editora DC Comics (proprietária dos direitos autorais
do personagem), mas acabaram sem desenvolvimento. Até que em 2002, o diretor
Bryan Singer foi contratado para comandar a produção de “Superman - O Retorno”.
Decidiu-se então que os dois últimos filmes da franquia seriam
desconsiderados, fazendo com o “O Retorno” se apresentasse como uma nova
sequência de “Superman II”. A produção usou diversas referências aos dois filmes
originais da série e a elementos históricos do herói, aspectos ressaltados pela
campanha de divulgação antes de durante sua exibição, com ações intensas de
publicidade, jornalismo e licenciamento de produtos.

3. Descrição de meu primeiro contato com ela

Em 14 de julho de 2006, data de estréia do filme nos cinemas em circuito


mundial. Assisti ao filme em uma sala de exibições em Sorocaba (SP), na última
sessão do dia (por volta das 22h15), com todos os ingressos disponíveis esgotados.
As expectativas dos espectadores quanto às menções aos filmes originais
começam pela abertura, uma atualização da tecnológica das utilizadas nas
produções anteriores, com a exibição dos créditos durante a música “Superman”.
Composta e regida pelo maestro John William para o filme de 1978, acabou adotada
como tema musical oficial do super-herói.
As referências aos demais filmes ou aos diversos momentos da trajetória do
personagem desde sua criação continuam a aparecer durante os 154 minutos do
filme, permitindo uma associação direta por quem assistiu às produções anteriores
ou acompanha o personagem por outros tipos de mídia.

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Parte II – Aspectos Históricos

1. O que conseguiu descobrir sobre o autor (es) da obra?

Diretor, criador do argumento original e supervisor do roteiro, Bryan Singer


nasceu em Nova Iorque (EUA), em 17 de setembro de 1965. Uma das principais
características atribuídas ao seu trabalho é o desenvolvimento das características e
conflitos psicológicos dos personagens, mesmo em filmes de ação. Antes de
“Superman – O Retorno”, dirigiu dois filmes de super-heróis aclamados pela crítica e
de sucesso junto ao público: X-Men (2000) e X-Men 2 (2003).
Entre os principais prêmios internacionais recebidos pelo cineasta estão o
Grande Prêmio do Júri - Drama, no Sundance Film Festival, por "Linha Direta"
(1993), nos EUA; Já por “Os Suspeitos” (1995), recebeu o Bafta de “Melhor Filme”,
na Inglaterra; “Melhor Diretor”, no Festival Internacional de Seattle (EUA); e a
indicação de “Melhor Filme Estrangeiro” ao Cesar, na França.
Produtor do filme, John Peters em 2 de junho de 1945, na Califórnia (EUA).
Desde 1976, atuou como produtor ou produtor executivo em mais de 40 filmes, por
exemplo, “Ali” (2001), “As Loucas Aventuras de James West” (1999), “Batman – O
Retorno” (1992), “Batman” (1989), “Rain Main” (1988), “A Cor Púrpura” (1985) e
“Flashdance” (1983). Além de Singer, o roteiro foi desenvolvido por mais dois
profissionais, habituais colaboradores do diretor: Michael Dougherty e Dan Harris.

2. Influências e antecedentes da obra.

A criação do Supeman aconteceu em 1938, período histórico denominado “A


Grande Depressão”, no qual os Estados Unidos passavam por grave recessão
econômica, desde a crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
Paralelamente, as histórias em quadrinhos vinham alcançando destaque no
mercado cultural norte-americano, atingindo um considerável volume de leitores.
Segundo Rahde (1996), as histórias em quadrinhos representam a evolução
de uma necessidade de comunicação humana observada desde a Pré-História, em
usar imagens como técnica narrativa e de produção de cultura. Os recursos teriam
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se desenvolvido mais a partir de 1830, por meio da imprensa. A autora destaca a
“revolução e invasão da imagem que aparecia por toda parte” e formou um “cenário
de iconografia e explosão de cores”, que possibilitou a “valorização do artista e fator
de grande influência sobre a história em quadrinhos”.
Neste contexto, Rahde aponta o surgimento dos “comics” verdadeiramente
modernos na França, em 1889, até que adquiriram o formato atual nos Estados
Unidos, a partir de 1896, quando as tiras de jornais passaram a ter personagens
constantes, sequência narrativa das imagens e indicativos dos diálogos através de
balões. Santos (2002) cita os balões como um dos recursos visuais típicos dos
quadrinhos desenvolvidos ao longo dos anos, juntamente com requadros,
onomatopéias, recordatório, metáforas visuais e linhas cinéticas.
O autor aponta os elementos como formadores de uma iconografia
característica das histórias em quadrinhos, que “articulam os elementos verbais e
visuais para constituir a narrativa seqüencial impressa”. Sendo assim, possibilita a
criação de um “repertório simbólico facilmente percebido e decodificado pelo público,
(...) fruto do desenvolvimento da imprensa e das técnicas de reprodução gráfica”.
Rahde cita que as histórias em quadrinhos, o cinema e os desenhos
animados surgiram simultaneamente no final do século XIX, “a partir da união da
imagem, presente na expressão humana, com a linguagem escrita e posteriormente
falada, pela evolução do cinema sonoro, ao final da segunda década do século XX”.
De forma complementar, Santos aponta semelhanças entre os quadrinhos,
pelo fato de as ilustrações garantirem a continuidade das cenas, recurso
denominado como vinheta, apresentadas em ângulos como nos filmes (câmera alta
ou baixa, planos médios e close-up, por exemplo). O autor menciona analogias
entre os quadrinhos e a edição cinematográficas, apontadas por Umberto Eco, pois
“a montagem das HQs não tende a resolver uma série de enquadramentos imóveis
num fluxo contínuo, como no filme, mas realiza uma espécie de continuidade ideal
através de uma fatual descontinuidade”.
Santos acredita que tais características dos quadrinhos possibilitam “a quebra
do continuum em poucos elementos essenciais”, fazendo uso então da imaginação
do público, que “prontamente, vai estabelecendo os elos, preenchendo os vazios,
enxergando os momentos descartados entre uma vinheta e outra, com sua fantasia”.

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Rahde defende que a linguagem dos quadrinhos desperta no leitor, de forma
inconsciente, “sensações de profunda significação cultural e social”, anteriores à
razão. Para que a mensagem seja compreendida, a autora acredita que o
desenhista da imagem necessita “interagir com o consumidor uma vez que o artista
estará evocando imagens armazenadas nas mentes de ambos: comunicador e
leitor”. Rahde evoca tais características reforçando as histórias em quadrinhos como
“literatura de comunicação visual da cultura de massa”, que acabam por “influenciar
os leitores em esferas psicológicas e sociais”.

2.1 Superman x Übermensch

Jerry Siegel e Joe Shuster apresentaram um Super-Man em 1932, na história em


quadrinhos “The Reign of the Super-Man” (“O Reino do Super-Homem”), publicada
nos Estados Unidos pela revista Science Fiction #3. O personagem possuía
características diferentes das apresentadas pelo herói atual: tratava-se de um vilão,
com fortes poderes telepáticos, que tinha por objetivo dominar o mundo. O
documentário “Look, up in the sky! – The amazing story of Superman” menciona a
origem judaica de Siegel e Shuster e que a fonte de inspiração para o personagem
teria sido o conceito de Übermensch, apresentado pelo filósofo Friederich Nietzsche
na obra “O Anti Cristo”.
De acordo com Coelho (2008), Nietzsche define o Übermensch como um
meio de “atingir um estado de perfeição humana ou pelo menos buscá-lo, física e
mentalmente”. Sendo assim, o filósofo vê no cristianismo a contrariedade do que
acredita: sentimentos como o contentamento, a compaixão e humildade contrariam a
natureza humana, interrompendo a evolução da espécie. Para o homem atingir seu
potencial máximo, deve negar a questão moral, pois ela fere os instintos humanos e
impede a seleção natural dos seres vivos mais aptos, com base nos conceitos de
Charles Darwin.
Após a publicação do primeiro Super-Man, Siegel e Shuster desenvolveram o
Superman, com características opostas ao original. A nova criação se tratava de um
herói em sua tradição clássica, inspirado por personagens bíblicos e mitológicos,
como Sansão e Hércules, usando extraordinárias habilidades físicas para lutar
“contra a tirania e a injustiça social”. O personagem passou a usar o uniforme azul

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com um enorme “S” no peito, completado por capa, botas e uma espécie de “sunga”
em vermelho – inspirado pelo herói espacial dos quadrinhos Flash Gordon.
Superman ganhou origem alienígena e uma segunda identidade civil quando não
combatia o crime, a do jornalista Clark Kent (assim como as aventuras em
quadrinhos do herói mascarado Zorro).
Mesmo com as modificações, várias editoras se recusaram a publicar as
histórias do personagem durante seis anos, período em que dominavam os
quadrinhos norte-americanos heróis de ficção científica, espadachins, faroeste ou
detetives contra gângsteres. Em 1938, a DC Comics publicou as aventuras do
personagem na edição de lançamento da revista Action Comics#1, com grande
sucesso de públicos. Nos meses seguintes, estima-se que as tiras de jornal do herói
tinham 20 milhões de leitores, até que em 1939, obteve sua revista própria, cuja
primeira edição vendeu mais de um milhão de exemplares.
Para Coelho, as mudanças feitas por Siegel e Shuster, de certo modo,
mantiveram parte dos ideais propostos por Nietzsche. O Superman não tinha muitos
dos super-poderes atuais, mas era um homem com as capacidades humanas
evoluídas ao máximo (saltos, resistência à dor, força, velocidade, por exemplo). E
apesar de Siegel e Shuster serem judeus, o herói se aproximou dos ideais cristãos
abominados por Nietzsche, inclusive demonstrado em sua origem extraterrena.
Krypton era um planeta com onde as pessoas tinham o grau máximo da capacidade
intelectual, mas, movidos pela ambição, os próprios habitantes provocaram sua
destruição.
Entre as citações bíblicas mais recorrentes no Superman, estão as
comparações com Moisés, que quando criança foi enviado pelos pais para
atravessar um rio dentro de um cesto, com a missão de liderar a libertação dos
hebreus da dominação egípcia. Já o bebê Kal-El teve a vida salva por seu pai Jor-El
antes da destruição de Krypton, sendo colocado em uma nave com destino a Terra,
com a missão de inspirar e proteger o planeta. Ao pousar na cidade de Smallville,
acabou adotado pelo casal Martha e Jonathan Kent, responsáveis por ajudá-lo a
escolher cumprir seu destino.

Em meio à crise econômica dos Estados Unidos no final da década de 1930,


Superman acabou adotado pelo público como “símbolo da esperança num país em

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dificuldade”, sendo o marco inicial de uma nova era dos super-heróis nos
quadrinhos. Suas aventuras acabaram adaptadas para o rádio em 1940, programa
que em um ano atingiu 20 milhões de ouvinte e criou vários elementos incorporados
posteriormente às revistas, como a habilidade de voar, personagens importantes
(por exemplo, o fiel amigo Jimmy Olsen, fotógrafo do jornal Planeta Diário) e a
Kryptonita (mineral originário de Krypton e único elemento capaz de derrotá-lo, com
a retirada de seus poderes).
A partir daí, o Kryptoniano se tornou uma marca poderosa, com inúmeros
produtos destinados aos fãs. O documentário “Look – up in the sky!” aponta que o
único personagem capaz de rivalizar com ele na época em potencial de consumo
nos Estados Unidos era o camundongo Mickey Mouse, ícone maior da Walt Disney.
Nogueira (1998) interpreta os ícones e ídolos da cultura de massa como
detentores de “espaço e um poder simbólicos e alegóricos capazes de sintetizar
idéias e anseios”, com forte potencial de persuasão. Com isto a sociedade solidifica
valores éticos por meio de “seres completamente excluídos da ordem do humano,
meramente ficcionais, mas delineados em função dos valores morais e requisitos
narrativos mais diversos”.
O autor defende o alter-ego Clark Kent como “uma forma de aproximar o herói
do comum cidadão, dar-lhe uma credibilidade sem a qual seria difícil ao leitor ou ao
espectador vulgar fazer a ponte entre a realidade e a ficção, entre o reino da
aventura, das forças míticas e milagrosas e o quotidiano de fraquezas e incertezas.
Em razão destes atributos morais, Nogueira destaca o fato de o Superman te
passado por uma série de atualizações ao longo de 72 anos de existência,
consolidando um processo de mitificação.
As primeiras mudanças passaram a ser observadas com mais intensidade a
partir da década de 1940. A participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra
Mundial levou transformou o personagem em instrumento de motivação às tropas
aliadas, como “símbolo de bondade e responsabilidade social”. Apesar de o
Superman ter enfrentado nos quadrinhos soldados do Eixo e, até mesmo, Adolph
Hitler e Joseph Stalin pessoalmente, o herói nunca derrotou os adversários em uma
batalha final – recurso para manter os combatentes estimulados a confiar nas
próprias forças, como afirma “Look – up in the sky!”.

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Com o término da guerra, a bipolaridade Capitalismo x Socialismo na
geopolítica mundial e a expansão dos bens culturais de consumo norte-americanos,
o Superman adquiriu características do “imigrante estadunidense por excelência”:
alguém capaz de encarar uma sociedade estranha à sua origem e aspirar à
grandeza.
Nesta década, os super-poderes do herói alcançaram proporções
gigantescas, como as habilidades de vôo (antigo sonho da humanidade, simbolizado
pelo mito greco de Ícaro), visão de raio-x, visão de calor, super-sopro e uma
infinidade de Kryptonitas além da verde, cada uma capaz de um efeito colateral
diferente. Neste período também foi criado seu arquiinimigo Lex Luthor, o
estereótipo do “cientista louco por dominar o mundo”. Nos anos 1980, Luthor passou
a ser descrito como um empresário multimilionário e inescrupuloso.
Ao longo das décadas, as diferentes adaptações continuaram nos quadrinhos
rádio, televisão e cinema, sendo o grande destaque a série de televisão norte-
americana “As aventuras do Superman”, estrelada pelo ator George Reeves, entre
1952 e 1959. A partir dos anos 1960 e 1970, o personagem viveu relativa
decadência e desinteresse do público, década em que os Estados Unidos sofreram
um impacto de grandes acontecimentos históricos, como o assassinato do
presidente John Kennedy, a Guerra do Vietnã, conflitos raciais e o escândalo
Wathergate envolvendo o presidente Richard Nixon.
A situação desfavorável, aparentemente permaneceria. Até que em 1974, os
produtores Alexander e Ilya Salkind adquirem os direitos de produção de um longa-
metragem sobre o Superman. Conforme mencionado na apresentação desta
análise, o projeto representou um marco definitivo na indústria cinematográfica.

2.1 Superman – O Filme

Os produtores pretendiam rodar dois filmes do Superman simultaneamente,


onde a trajetória do herói seria narrada em contornos épicos, tendo em mãos um
orçamento alto para os padrões da época em Hollywood (cerca de US$ 40 milhões).
Ilya Salkdin declarou ao documentário “Look – up in the sky!” que a construção do
filme seguiu três atos: Krypton, em que os diálogos seguiram tons baseados em
William Shakespeare; Smallville, com visual inspirado nos trabalhos do pintor

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realista Norman Rockwell, consagrado por retratar os costumes dos Estados Unidos;
e Metrópolis, megalópole onde Clark Kent / Superman vive sua vida adulta e cenário
da maior parte da ação, tendo Nova Iorque como modelo.
O roteiro dos filmes é de autoria de Mário Puzo, roteirista do filme de grande
sucesso “O Poderoso Chefão”, com a colaboração de Tom Mankiewicks. A produção
contratou dois atores consagrados para papéis de destaque: enquanto Marlon
Brando interpretou Jor-El, Gene Hackman assumiu o posto do vilão Lex Luthor. A
escalação dos atores vem de encontro ao que diz Nogueira sobre o Star System,
onde um desejo mercantil ou cultural cria a necessidade por novos signos e
entidades, “no limiar entre a humanidade e o endeusamento”.
A direção do filme ficou a cargo de Richard Donner, considerado pela
indústria cinematográfica e crítica um profissional competente, especialmente depois
do sucesso “A Profecia”. Completaram a equipe técnica o maestro John Williams,
para compor a trilha sonora, John Barry para os efeitos especiais, Geofrey Unsworth
para a fotografia e o roteirista dos quadrinhos Elliot S! Maggin.
O principal argumento proferido por Donner durante as filmagens era
“verossimilhança”: o diretor exigia convencer o público que, apesar de ser ficcional, a
história do filme poderia perfeitamente ser real. Até mesmo o slogan usado na
divulgação do filme seguiu este sentido: “Você vai acreditar que o homem é capaz
de voar”.
Para interpretar o protagonista, o diretor optou em escalar um ator
desconhecido, para que “o intérprete não ofuscasse o personagem”. Após realizar
testes de elenco, optou por Christopher Reeve, papel que repetiu nas três produções
seguintes e consagrou sua carreira. Também escolhida por meio de testes, Margot
Kidder viveu a jornalista Lois Lane, par romântico do Superman desde a década de
1940.
Após atrasos nas filmagens, “Superman – O Filme” estreou em 15 de
dezembro de 1978, recebendo críticas positivas, arrecadando mais de US$ 120
milhões. Devido a problemas orçamentários, o primeiro filme foi lançado antes da
conclusão do segundo, filmado em cerca de 70% até então.
Os realizadores admitiram que investiram em um abordagem bíblica do
personagem. O planeta Krypton tinha visual futurista, onde os atores trajaram roupas
reflexivas e cenário com minúsculas bolas de vidro, mas falavam forma eloqüente e

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as falas de Jor-El eram recheadas de metáforas cristãs. Diante da eminente
destruição do planeta, “Pela capacidade dos homens para o bem”, Jor-El enviara
para a Terra seu único filho, “a luz que indicaria o caminho para que se tornassem
um grande povo”.
Após a nave de Kal-El ser encontrada em Smallville por Martha e Jonathan
Kent, cena em que o garoto demonstra sua super-força levantando o carro do casal,
a narrativa avança para a adolescência do protagonista. A participação dos pais
adotivos na criação de Clark é ressaltada, inclusive numa frase em que Jonathan
afirma que o filho estava na Terra “por algum motivo especial, que, definitivamente
não seria se exibir”. A morte de Jonathan marca o amadurecimento de Clark, que
parte em busca de seu destino.
A partir de um cristal que o acompanhara em sua nave, forma-se no Ártico a
Fortaleza da Solidão, local onde mantém contato com o espírito de Jor-El e aprende
sobre sua missão, de “inspirar a humanidade através de seus atos”. A exemplo da
história de Jesus Cristo relatada na Bíblia, há outra passagem de tempo, onde Clark
reaparece adulto, já trajando o tradicional uniforme do Superman.
Donner enfocou o filme no romance do Superman e Lois Lane e a dicotomia
entre o personagem-título com o alter ego Clark Kent. O site Omelete.com.br credita
à atuação de Christopher Reeve fator fundamental para o sucesso do projeto,
classificado como “proeza única”:

“No lado heróico, Reeve decidiu não exagerar, permitindo que a fantasia agisse por si
própria. Os tempos haviam mudado desde a interpretação de George Reeves na
série televisiva, portanto acreditava que um Super-Homem mais humilde seria ideal.
Para Clark Kent, inspirou-se no ator Cary Grant, compondo um tipo desajeitado e
inseguro. A química funcionou perfeitamente, conforme o modelo dos quadrinhos.
Lois ficava deslumbrada na presença do Super-Homem, e não se impressionava com
Clark. A cena em que o Super-Homem voa com Lois Lane e ouvimos seus
pensamentos é de uma beleza incomparável e encanta qualquer um.”

O Lex Luthor recebeu no filme características diferentes dos quadrinhos, que


permitiu a Gene Hackman uma interpretação mais irreverente. Ao contrário de uma
figura psicótica com motivações dúbias, o vilão tem personalidade mais linear, sendo

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um “gênio criminoso” que vive no subsolo de Metróplis e arquiteta um plano para
destruir a Califórnia, para enriquecer com a venda de terras recém-adquiridas.
Na conclusão do filme, Superman contraria orientação de Jor-El em não
interferir no curso da história. Depois de Lois Lane morrer vitimada por uma
avalanche provocada pelo plano de Luthor, o herói reverte um movimento de rotação
da Terra, para voltar o tempo e salvar a amada. O trecho é interpretado pela crítica
como importante para mostrar a humanidade do personagem, que venceu um
grande desafio motivado pelo amor.
Em razão de desentendimentos, Richard Donner foi afastado da direção de
“Superman II – A Aventura Continua”. O diretor Richard Lester concluiu os 30%
restantes às filmagens, acrescentou à história elementos de humor e modificou a
concepção de algumas cenas de ação, tornando-as mais dinâmicas. Com a saída do
diretor, Marlon Brando também deixou a produção, inutilizando seqüencias filmadas
por ele.
No segundo filme, além de Luthor, Superman enfrenta três vilões
kryptonianos liderados pelo General Zod, que pretendem dominar a Terra. Os
invasores haviam sido banidos de Krypton após serem julgados pelo conselho de
sábios do planeta, denunciados por Jor-El por traição, ficando presos em um portal
na Zona Fantasma, que por uma falha de segurança acaba enviado à Terra.
Superman acaba se culpando pelo episódio, pois enquanto ele se negou a
dominar o mundo, os vilões alienígenas colocam em prática sem dilemas morais ou
de consciência. O comportamento da tropa de Zod acaba por refletir os
pensamentos de Nietzsche citados por Coelho: por serem mais fortes, os
kryptonianos teriam todo o direito de comandar o planeta.
Quanto ao romance com Lois Lane, o filme abordou aspectos considerados
polêmicos pelos fãs, pois Clark Kent revela sua identidade secreta e abre mão dos
poderes para viver como “cidadão comum” ao lado de Lois. O casal chega a
promover um jantar romântico na Fortaleza da Solidão, inclusive com a sugestão de
uma relação sexual no interior do local. No decorrer do filme, Clark retoma os
poderes diante da destruição provocada por Zod e seus aliados. Em uma das
últimas cenas do filme, Clark dá um beijo em Lois, que depois demonstra ter se
esquecido do segredo que ele havia lhe revelado, fato que não fica absolutamente
claro para o público.

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A produção de “Superman – O Retorno” considerou o filme uma sequência de
“Superman II”, se inspirando em elementos dos dois longa metragens. Entretanto, os
pontos contestados do segundo filme foram desprezados pela equipe,
principalmente quanto à revelação da identidade secreta do herói.

3. Quando foi a público?

Em 14 de julho de 2006, lançado em circuito mundial de cinema.

4. Como repercutiu?

Segundo informações da Warner Bros Pictures, arrecadou mais de US$ 391


milhões, sendo cerca de US$ 200 milhões nos Estados Unidos, país o 6º filme com
maior público durante 2006.
Apesar da grande arrecadação gerada pelo filme por meio das bilheterias de
cinema, vendas de produtos licenciados, DVDs e trilha sonora, especialmente no
mercado internacional, o filme ficou abaixo das expectativas do estúdio, que
esperava números mais expressivos em território americano.
A fidelidade da produção a “Superman – O Filme”, ironicamente, foi a principal
causa das reações da crítica e do público, favoravelmente ou desfavoravelmente.
Enquanto alguns exaltaram os efeitos emotivos provocados pelas referências e
lembranças afetivas, outros sentiram a falta de mais ação e dinamismo à história, a
exemplo dos filmes atuais de super-heróis.
Diante dos números, Warner e DC Comics concluíram que o filme se
aproximou dos fãs mais velhos, mas se afastou dos adolescentes, alvo principal das
superproduções cinematográficas, por representarem o mercado consumidor de
maior potencial.
Em 2009, as empresas consideraram “Superman – O Retorno” como o
fechamento do ciclo cinematográfico iniciado por Richard Donner em 1978, apesar
dos contratos de equipe técnica e elenco preverem continuações. A editora e o
estúdio afirmaram na ocasião ter interesse em desenvolver novas histórias do herói

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no cinema. Mas, até o presente momento, nenhuma decisão a respeito foi
anunciada. A Warner deve iniciar um novo filme do Superman até 2011, sob o risco
de perder os direitos sobre o personagem, devido a processo movido pelas
herdeiras de Jerry Siegel e Joe Shuster.

5. Fontes de informação disponíveis.

Verificar Bibliografia, apresentada ao final da análise.

6. Avaliações críticas. Premiações.

Entre as premiações recebidas nos Estados Unidos e Europa, “Superman – O


Retorno” ganhou o Saturn Awards (Melhor Filme de Fantasia, Melhor Ator, Melhor
Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Música), Spike TV Scream Awards ('Melhor Super-
Herói) e Empire Awards (Melhor Ator Revelação), além de indicações na categoria
“Melhores Efeitos Visuais” no Bafta e no Oscar.
Com relação à crítica, alguns veículos de imprensa fizeram elogios. A revista
Empire, por exemplo, deu “Cinco Estrelas” ao filme e o descreveu como "o melhor
entretenimento popular desde que a trilogia ‘O Senhor dos Anéis’ terminou"; a
revista Newsweek afirmou que "Comparados ao champanhe de Singer, os filmes de
aventuras de super-heróis mais recentes são simples cidras espumantes”; Já o
crítico norte-americano Leonard Maltin comentou em seu website: "Bryan Singer nos
trouxe um novo filme que celebra as tradições de Superman em um filme que de
alguma maneira parece novidade. Superman Returns é completamente envolvente e
altamente divertido."
Por outro lado, o jornalista americano Roger Ebert definiu o filme como
“moroso e sem brilho em que até mesmo as sequências de grandes efeitos parecem
sistemáticas ao invés de emocionantes; o jornal San Francisco Chronicle observou
que "Superman Returns não tem razão de ser, ao não ser o fato de que é verão, e
os gráficos de computador melhoraram desde os dias de super-herói de Christopher
Reeve”.

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Parte III – Aspectos Lingüísticos e Tecnológicos

1. Linguagem dominante.

Linguagem áudio-visual, concebida para exibição cinematográfica.


Posteriormente, adaptada para exibição doméstica nos formatos DVD e Blu-Ray.

2. Suporte de divulgação.

Divulgação com recursos publicitários e jornalísticos, para veiculação em


internet, televisão, fotografia e mídia impressa; Material gráfico impresso, para
disponibilização em cinemas e pontos com grande circulação de pessoas, como
ônibus e outdoors; Licenciamentos de produtos: alimentícios, editoriais, brinquedos,
vestuário, áudio-visuais, entre outros; Mídia espontânea, estimulada pelos recursos
mencionados anteriormente.

3. Referências e citações a outras obras do mesmo gênero.

A concepção de “Superman – O Retorno” considerou o filme como


continuidade de “Superman II”. O diretor Bryan Singer, que se declara fã do herói
desde a infância, comandou a produção então partindo da premissa de “respeito ao
passado e a consciência universal que todo mundo tem sobre o icônico
personagem”. Ação da história levou em conta os temas dos filmes de 1978 e 1980,
mas com pequenas alterações e atualizações, com ênfase à relação de Superman e
Lois Lane. A trilha sonora concebida por John Williams, por exemplo, passou por
releitura pelo compositor John Ottman.
Superman retorna à Terra depois de cinco anos ausente, período em de
reflexão pessoal sobre suas origens e sua missão no planeta. Neste intervalo de
tempo, Lois seguiu sua vida: se tornou mãe de Jason, um garoto com pouco menos
que cinco anos; ficou noiva de Richard Withe, sobrinho do editor do jornal Planeta
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Diário, Perry Withe; profissionalmente, recebeu o Pulitzer, o máximo do jornalismo
norte-americano, pela reportagem “O mundo precisa do Superman?”.
Enquanto isto, Lex Luthor havia deixado a cadeia e se casado com uma idosa
milionária, que falece no início do filme e o nomeia como único herdeiro, dando início
então ao seu maior plano, que pode torná-lo o homem mais poderoso do planeta. A
partir do cristal kryptoniano que formou a Fortaleza da Solidão, ele formaria um novo
continente para, a exemplo do primeiro filme, lucrar com a venda de terras.
Entretanto, o plano atual é mais ambicioso, pois a energia desprendida pelo cristal
deixaria os Estados Unidos submersos.
A exemplo do que destacaram Nogueira e Rahde a respeito das histórias em
quadrinhos, o filme busca o inconsciente do público, procurando uma identificação
subjetiva por meio de elementos pré-adquiridos. Somando-se aos elementos visuais
e textuais do personagem buscados no cinema e em quadrinhos, “Superman – O
Retorno” remete a situações e acontecimento referentes à produção do filme e, até
mesmo, com o “star system” da produção original.
Assim como Richard Donner, Bryan Singer entregou a função de protagonista
a Brandon Routh, ator estreante, com características físicas semelhantes às de
Christopher Reeve (reforçadas pelo uso de lentes de contatos azuis durante as
filmagens e o estilo de interpretação).
O desempenho de Reeve nos filmes entre 1978 e 1987 fez com que ele fosse
encarado por muitos como a “encarnação definitiva do Superman”, aspecto
reforçado por uma situação pessoal. Em 1995, o ator ficou tetraplégico devido à
queda de um cavalo. Até falecer, em 2004, Reeve empregou sua imagem e recursos
financeiros ao tratamento de pessoas com paralisias e pesquisas científicas na área.
Em mais uma referência ao filme original, o papel de Lex Luthor coube
novamente a um ator consagrado, Kevin Spacey, enquanto a novata Kate Bosworth
interpretou Lois Lane. Ainda participam da produção dois atores da série de
televisão “As Aventuras do Superman”, da década de 1950: Eva Marie Saint (ex-Lois
Lane), como Martha Kent, e Frank Langella, que aparece em uma cena como
garçom, contracenando com Clark Kent e Jimmy Olsen (seu personagem na série).
Além disso, um material gravado na década de 1970 por Marlon Brando foi
recuperado digitalmente e usado em “Superman – O Retorno”, por meio da

17
reprodução holográfica do rosto e da voz do ator na Fortaleza da Solidão ou
somente do áudio, nos pensamentos do protagonista.
Antes dos créditos iniciais, a abertura do filme explica em texto o surgimento e
desaparecimento do Superman, seguida da imagem da narração de Jor-El sobre a
imagem da Fortaleza da Solidão e uma representação da explosão de Krypton.
Enquanto o bebê Kal-El está sendo enviado à Terra, o pai afirma que sempre estará
lhe acompanhando, mesmo depois de sua morte, remetendo a princípios do
cristianismo: “Fará da minha força à sua e verá a minha vida através de seus olhos,
assim como será a sua vista através dos meus. O filho transforma-se no pai e o pai
transforma-se no filho”.

4. Signos mais evidentes.

Diversas cenas do filme foram produzidas para remeter ao espectador


referências históricas do Superman, nos quarinhos ou no cinema, muitas destas
imagens trabalhadas na divulgação prévia do filme. Um dos exemplos mais claros é
a cena onde Superman segura um carro sobre a cabeça, impedindo que se
chocasse contra o asfalto, reprodução fiel da capa de Action Comics#1.
O reencontro de Superman e Lois Lane depois de cinco anos da ausência do
herói remete ao momento em que os dois se conheceram nos quadrinhos na década
de 1940, ocasiões em que ele impediu a queda de um avião com ela passageira. A
diferença é que em “Superman – O Retorno” o salvamento acontece dentro de um
estádio durante um jogo de beisebol que estava sendo transmitido ao vivo pela
televisão. Esta sequência do filme é longa, marcada por uma trilha sonora de tensão
e emoção – com milhares de pessoas vibrando pela volta do Superman,
acompanhando seu retorno pessoalmente ou pela televisão.
O fato de o filme ser uma continuação de “Superman II”, mesmo lançado 26
anos depois dele, fez com os figurinos, caracterização dos personagens e cenários
perdessem seu caráter temporal. Apesar de remeter aos elementos visuais
presentes em 1978 e 1980, foram acrescidos objetos cênicos atuais em 2006, como
computadores, automóveis, celulares e, inclusive, os traços e tecidos usados na
confecção do uniforme do Superman.

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Entre as cenas que mais remetem ao filme original, vale destacar o “vôo
romântico” de Superman e Lois sobre Metrópolis, que igualmente busca um apelo
emocional ao humanizar o herói junto à mulher amada, cena completada pela trilha
sonora envolvente. Outro aspecto de humanização é o sentimento de culpa de
Superman a si próprio, em razão dos conflitos ocorridos no mundo durante sua
ausência, principalmente, a absolvição de Lex Luthor pelo herói não estar presente
no julgamento do vilão, onde seria ouvido como testemunha.
Uma inovação proporcionada pelo filme, mas com menções ao passado do
personagem, é a revelação ao público que Jason é filho de Lois e do Superman,
mencionando implicitamente a relação sexual apenas sugerida entre o casal em
“Superman II”. Os poderes do garoto se manifestam quando era mantido juntamente
com Lois como refém por capangas de Lex Luthor, quando mesmo acometido por
crise de asma, mostra força descomunal ao empurrar um piano para proteger a mãe.

5. Tecnologia empregada.

Audiovisual: filmagem, edição de som e imagem, efeitos especiais e


tratamento do material em estúdio, por meio de tecnologias digitais.

6. Predomínio de mídias analógicas ou digitais?

Digitais.

7. Uso de metáforas.

Bryan Singer, em entrevista concedida a Skelton (2008), define comparações


entre a história de Superman e Jesus Cristo, idéia que estaria presente nos
quadrinhos, mas se consolida depois do filme de 1978. O diretor compara os super-
heróis à mitologia do século XX, a exemplo do que representaram no passado mitos
lendários da cultura judaico-cristã, como o Rei Arthur: Neste caso filme buscaria
ressaltar semelhanças com retorno de um salvador, para se sacrificar em favor das
pessoas menos favorecidas.

19
Mas desde que ouvi Marlon Brando pronunciar essas palavras, o personagem, fez de
uma forma de celebração, tinha uma qualidade adicional messiânica de que ele não
tem, necessariamente, quando eu estava assistindo a série de televisão 1950 (...)
‘Eles podem ser um grande povo, Kal-El, eles desejam ser. Só falta a luz para
mostrar o caminho. É por esta razão, acima de tudo, a sua capacidade para o bem,
que enviei-lhes meu filho único’ ”

8. Aspectos de conteúdo.

Informações detalhadas nos tópicos anteriores.

Parte IV – Aspectos estéticos e formais

1. Qual o ponto alto da obra?

A sequência final do filme: começa com o Superman hospitalizado em estado


de coma; os esforços dos médicos em reanimá-lo; a comoção causada pelo fato; a
visita de Lois e Jason ao hospital; a retomada do herói ao seu estado de saúde
natural; a visita dele ao filho; a despedida de Lois; cena de encerramento remetendo
a “Superman I e II”.

2. Qual a emoção que busca despertar no público?

A narrativa evoca a emoção do espectador em tons épicos, onde a aventura e


o drama se desenvolvem com base no romance, através da combinação dos
diálogos, fotografia, montagem, efeitos especiais e trilha sonora, sem deixar de lado
aspectos realistas. O filme começa com a sociedade questionando a necessidade da
presença do Superman, o que provoca a reflexão do herói e a retomada de sua
missão.

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Logo após sua primeira aparição pública, a população volta a se sentir
segura, em razão da presença do herói. O fator e a ficção ideal mencionados por
Nogueira, onde o super-herói é uma “súmula dos atributos mais elevados e dos
poderes mais intangíveis que o comum cidadão nunca irá possuir (...) de superar
obstáculos aparentemente inultrapassáveis ou perigos supostamente irremediáveis,
restituindo a ordem, exterminando medos e reorganizando o caos”.
Após a batalha com Lex Luthor, que utiliza Kryptonita para derrotar o herói de
forma humilhante, colocando sua vida em risco. Mesmo assim, Superman recebe
ajuda de Lois e Richard, supera a dor e os riscos pessoais e impede as
possibilidades de êxito do plano de Luthor, até entrar em estado de morte aparente,
em citação à série de quadrinhos “A Morte do Superman”, publicada em 1995,
seguida seis meses depois por outra série, com a saga da ressurreição, apesar do
enredo destas revistas não terem influenciado o filme diretamente.
Confirmada a notícia, imediatamente, os cidadãos comuns vêem a segurança
representada pelo herói ameaçada, provocando uma comoção popular pelo seu
restabelecimento, com uma multidão se colocando em frente ao Hospital de
Metrópolis, com cartazes, faixas, presentes e orações. Nogueira associa o trecho ao
fato dos super-heróis ocuparem no imaginário popular função de “objeto de
adoração, identificação e culto quase religioso, no interior das narrativas, mas,
também pelos leitores”.
Ainda no hospital, Superman é despertado do coma após a visita de Lois e
Jason, quando a jornalista lhe sussurra ao ouvido que é o pai do garoto, informação
que a criança termina o filme desconhecendo. A conclusão do filme remete à
humanização do herói: Superman visita Jason em seu quarto e, enquanto o menino
dorme, repete as palavras de influência cristã ditas a ele por Jor-El na primeira cena
do longametragem: “Fará da minha força à sua e verá a minha vida através de seus
olhos, assim como será a sua vista através dos meus. O filho transforma-se no pai e
o pai transforma-se no filho”.
Ao deixar a casa, tem sua presença notada por Lois e se despede da amada,
deixando entender que sempre estaria próximo a eles. O encerramento acontece
quando Superman voa fora da órbita da Terra e se despede do espectador, com um
movimento de cabeça para a esquerda, com um olhar e um sorriso confiantes ao fim

21
da música tema, da mesma maneira que Christopher Reeve encerrou os filmes
anteriores.

3. Qual o estilo predominante?

Épico, onde a aventura e o drama se desenvolvem a partir do enredo de um


romance.

4. Aspectos intertextuais.

Além dos aspectos históricos e específicos sobre cinema e histórias em


quadrinhos mencionados desde o início da análise, Bryan Singer enfatiza os
elementos cristãos existentes no filme, creditados por ele como “referência clara ao
retorno do salvador” e o “sacrifício em cumprir seu destino de proteger a
humanidade”. O diretor defende estes aspectos espirituais como essenciais à
longevidade do personagem, lembrando o fato do “último filho de Krypton” ter seu
lado humano assim como Jesus Cristo, no caso dele, simbolizado pelo amor a Lois
Lane.
Singer se lembra de uma fala de Jor-El em 1978, "Ele não estará sozinho. Ele
nunca vai estar sozinho”, retomada em 2006 quando Superman questiona Lois pela
reportagem premiada: "Você escreveu que o mundo não precisa de um salvador.
Mas todos os dias eu ouço as pessoas gritando por um."
Entre as referências mais claras, o diretor menciona o retorno do Superman à
terra depois de cinco anos, quando Martha o encontra em Smallville e o toma em
seus braços desacordado, lembrando Jesus nos braços de Maria depois da Via
Sacra. A passagem bíblica teve inúmeras representações ao longo da história,
sendo a escultura Pietá, de Michelângelo uma das mais conhecidas.
Já a Fortaleza da Solidão acaba associada à viagem de Cristo ao deserto,
local onde comunga espiritualmente com o Pai. Desta forma, quando Luthor se
apossa do cristal originário da Fortaleza e mantém contato com o espírito de Jor-El
demonstra sua natureza completamente oposta ao herói, distante de quaisquer
parâmetros morais e espirituais, assim como Nietzsche define o Übermensch.

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As características comportamentais e psicológicas de Luthor, neste contexto,
permitem compará-lo à figura bíblica de Lúcifer, inclusive pela completa calvície,
como em algumas representações do mito. A impiedade do vilão transmite à sua
batalha final com o herói semelhanças ao Calvário de Cristo, onde Superman é
espancado, agredido, humilhado e esfaqueado pelas costas, por uma lâmina de
Krypitonita. Ao cair na água depois da luta, ouve mentalmente Jor-El dizer que há
desafios maiores dos que aquele que está enfrentando.
No limiar de suas forças, Superman voa fora da órbita da terra para eliminar
os equipamentos de destruição de Luthor. Exausto depois da missão cumprida,
retorna ao planeta desacordado, em uma posição que lembra a representação
clássica da crucificação de Jesus, momento apontado por Singer como proposital,
“levado a ele pela própria narrativa”. A cena que revela sua saída do coma remete à
ressurreição de Cristo, pois a enfermeira encontra o leito hospitalar vazio e as
vestes como si tivessem sido recém usadas, assim como o Santo Sepulcro.

5. Identifique algum aspecto de grande beleza formal.

“Superman – O Retorno” foca temas mais adultos, privilegiando os conflitos


psicológicos às cenas de ação, o que acabou agradando ao público mais velho,
conhecedor dos filmes originais. A beleza plástica do filme se faz pelo visual do
longametragem, captadas por modernas câmeras imagens e um detalhado design
de produção e efeitos especiais, dos menores detalhes aos momentos grandiosos
sem deixar de lado tons realistas, complementados pela trilha sonora
cuidadosamente trabalhada em cada momento do filme.

Conclusão

“Superman – O Retorno” se vale de elementos religiosos, mitológicos,


históricos, psicológicos e da cultura de massa para conquistar o espectador pelo
lado emocional. A combinação dos diferentes aspectos resulta em uma produção
voltada, essencialmente aos fãs do personagem, que o acompanham em diferentes
mídias de longa data.

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Como define Nogueira, o filme se vale de arquétipos: “uma entidade com a
qual é possível uma identificação permanente, um ser de contornos mais ou menos
precisos, com um valor fundador”. Singer ainda defende que o Superman representa
para o grande público um lado altruísta, uma espécie de “luz no fim do túnel”.

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25
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SUPERMAN II. Direção: Richard Lester. Intérpretes: Christopher Reeve, Gene


Hackman, Margot Kidder. [S.I.]: Warner Bros Pictures, 1980. 1 DVD (127min), son.,
color.

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Anexos

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