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Thiago de Mello
Zilda Arns Neumann
última conferência, Haiti, 2010
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Ca
Os Estados Partes são instados a
desenvolver estratégias baseadas em
direitos, coordenadas e multissetoriais, a
fim de que o interesse superior a criança
seja sempre o ponto de partida no
planejamento e na prestação de serviços.
5
Apresentação
Introdução
I. O desafio da mudança
Em maio de 2002, a 27ª Sessão Especial da Assembleia das Nações 8 III. Princípios e diretrizes
Unidas aprovou o documento Um Mundo para as Crianças,
no qual os Chefes de Estado e de Governo e representantesdos 12 IV. Ações finalísticas
países participantes se comprometem a trabalhar para construir
um mundo mais justo para as crianças. O Brasil também assinou 13 1.
Crianças com Saúde
o documento. O compromisso começa aqui: um Brasil mais 15 2.
Educação Infantil
justo para suas crianças. 17 3.
A Família e a Comunidade da Criança
sumário
20 4.
Assistência Social a Crianças e suas Famílias
“Nós, Chefes de Estado e de Governo estamos decididos a 24 5.
Atenção à Criança em Situação de Vulnerabilidade:
aproveitar essa oportunidade histórica para mudar o mundo Acolhimento institucional, Família acolhedora, Adoção
para as crianças. 27 6.
Do Direito de Brincar ao Brincar de todas as Crianças
29 7.
A Criança e o Espaço – a Cidade e o Meio Ambiente
Convocamos todos os membros da sociedade para juntarem-se 33 8.
Atendendo à Diversidade: Crianças Negras, Quilombolas e Indígenas
a nós, em um movimento mundial que contribua à criação de 37 9.
Enfrentando as Violências contra as Crianças
um mundo para as crianças apoiando-nos nos compromissos 42 10.
Assegurando o Documento de Cidadania a todas as Crianças
com os princípios e objetivos seguinte: 45 11.
Protegendo as Crianças da Pressão Consumista
49 12.
Controlando a Exposição Precoce da Criança aos
1. Colocar as crianças em primeiro lugar Meios de Comunicação Social
2. Erradicar a pobreza – investir na infância 54 13.
Evitando Acidentes na Primeira Infância
3. Não abandonar nenhuma criança
4. Cuidar de cada criança 60 V. Ações meio
5. Educar cada criança Medidas estratégicas para realização do Plano Nacional pela Primeira Infância
6. Proteger as crianças da violência e da exploração
7. Proteger as crianças da guerra 65 1.
Formação dos Profissionais para a Primeira Infância
8. Combater o HIV/AIDS (proteger as crianças) 69 2.
O Papel dos Meios de Comunicação Social
9. Ouvir as crianças e assegurar sua participação 73 3.
A Atuação do Poder Legislativo
10. Proteger a Terra para as crianças”. 77 4.
A Pesquisa sobre a Primeira Infância
81 5.
Planos Estaduais e Municipais pela Primeira Infância
85 VI. Financiamento
93 VIII.Avaliação
97 IX. Autores
apresentação
Rede Nacional Primeira Infância1 entrega ao Governo e à Ele foi construído num processo de ampla participação social e
sociedade brasileira esta sugestão de Plano Nacional pela Primeira política, à luz da diretriz constitucional expressa § 7° do art. 227
Infância, que propõe ações amplas e articuladas de promoção e – de “participação da população, por meio de organizações repre-
realização dos direitos da criança de até seis anos de idade nos sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações em
próximos doze anos2. todos os níveis” –, em três etapas: (a) elaboração da versão preli-
minar pelas instituições que compõem a Rede Nacional Primeira
apresentação
apresentação
Neste Plano estão traçadas as diretrizes gerais e os objetivos Infância, (b) processo de análise, crítica, ajustes e complementa-
e metas que o País deverá realizar em cada um dos direitos da ções pela internet, em reuniões e em audiências públicas do qual
criança afirmados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da participaram organizações governamentais e não governamen-
Criança e do Adolescente, pelas leis que se aplicam aos diferentes tais, especialistas, técnicos, pesquisadores e trabalhadores “de
setores, como educação, saúde, assistência, cultura, convivência campo” nos diversos direitos da criança e (c) análise e sugestões
familiar e comunitária e outros que lhe dizem respeito. Ele deve do CONANDA, à luz das diretrizes da Conferência Nacional da
ser entendido como expressão da vontade nacional de cumprir os Criança e do Adolescente para a formulação do Plano Nacional
compromissos internacionais assumidos pelo País em documen- dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sucessivas redações, in-
tos como a Convenção dos Direitos da Criança, o Plano de Edu- corporando as sugestões, eram apresentadas para análise e apro-
cação de Dacar 2000/2015, os Objetivos do Milênio, a Convenção vação da Rede Nacional Primeira Infância.
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, documentos dos
quais o Brasil é signatário e com os quais está comprometido. Ele Duas novas etapas estão previstas: (a) análise e aperfeiçoamento
se articula, também, com outros Planos e compromissos nacio- pelo Poder Executivo e seu encaminhamento, como projeto de lei,
nais: Plano Nacional de Educação, Plano Nacional de Saúde, Plano ao Congresso Nacional e (b) análise, aperfeiçoamento e aprova-
Nacional de Assistência Social, Plano Nacional de Cultura, Plano ção, por lei, pelo Congresso Nacional.
Nacional de Combate à Violência contra a Criança, Plano Nacional
de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adoles- O marco final deste Plano é o Ano do Bicentenário da Indepen-
centes à Convivência Familiar e Comunitária etc. e se atualizará e dência do Brasil, cuja celebração ficará mais digna e honrosa se pu-
complementará com outros planos que venham a ser elaborados. dermos estampar um panorama de vida e desenvolvimento mais
justo para todas as nossas crianças.
1. Articulação nacional de organizações de sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes 2. Considera-se o início em 2011 e o término em 2022 – bicentenário da República Federativa do Brasil,
e de organizações multilaterais que atuam na promoção da primeira infância como item prioritário na uma data símbolo para uma sociedade que se quer democrática, inclusiva, que acolhe, protege e promove
defesa dos direitos da criança e do adolescente. A Rede foi constituída em maio de 2006 e contava, no suas crianças nos primeiros seis anos de vida.
início de 2010, com 70 organizações membro.
14 15
introdução
nvestir na infância é responder ao presente e, simultaneamente, lançar as e cidadão que vive aqui e agora. Sábio é o paradigmático artigo 227 da Cons-
bases do futuro. tituição Federal, que atribui à família, à sociedade e ao Estado a responsabili
dade perante os direitos da criança.
Priorizar a infância, no conjunto de muitas outras demandas, é uma estratégia
inteligente para obter ganhos sociais e econômicos superiores aos gerados por A Família, por mais que esta tenha se modificado na sua estrutura, nas formas
qualquer outro investimento. No entanto, para as crianças, mais importante de exercer suas funções e nos papéis intrafamiliares em relação à produção das
do que preparar o futuro é viver o presente. Elas precisam viver agora e na condições materiais e culturais de sobrevivência e na função geracional, con
forma mais justa, plena e feliz. Se a infância, segundo o verso de Péguy3, é “o tinua sendo a instituição primordial de cuidado e educação dos filhos, mor-
tempo das silenciosas preparações”, uma vez que “a criança é o pai do homem”4, mente nos seus primeiros anos de vida. Nos casos de vulnerabilidade, compete
ela é, igualmente, o agora, como poeticamente a definiu Gabriela Mistral5: ao Estado garantir à família as condições para exercer essa função (ECA, art.
“Para elas não podemos dizer ‘amanhã’: seu nome é ‘hoje’”. 23).
introdução
introdução
A ambivalência da infância – presente e futuro – exige que cuidemos dela A Sociedade tem várias formas de atuar na garantia dos direitos da criança. En-
agora pelo valor de sua vida presente, e, simultaneamente, mantenhamos o tre elas, estão as de: a) participar, por meio de organizações representativas, na
olhar na perspectiva do seu desenvolvimento rumo à plenificação de seu pro- formulação das políticas e no controle das ações (de saúde – art. 198, III; de as-
jeto de existência. sistência social – art. 204, II; de educação – art. 213; de todos os direitos – art.
227, § 7º da CF); b) integrar conselhos, de forma paritária com representantes
Em que pese ser a criança prenúncio e preparação da vida adulta– e esse sen- governamentais, com funções de planejamento, acompanhamento, controle
tido de crescimento exerça fascínio, fundamente esperanças e arregimente social e avaliação; c) assumir a execução de ações, na ausência do Poder Pú
investimentos na primeira infância – é necessário ver, também, na criança um blico ou em parceria com ele; d) desenvolver programas, projetos e ações com-
valor em si mesma. A infância constitui uma etapa da vida com sentido e con- preendidas no conceito de responsabilidade social e de investimento social
teúdo próprios. Adultos inteligentes, criativos, empreendedores, com ampla privado; e) promover ou participar de campanhas e ações que promovam o
flexibilidade mental, são antes consequência que objetivos da ação nos pri- respeito à criança, seu acolhimento e o atendimento de seus direitos.
meiros anos de vida. Por isso, não olhamos para as crianças na perspectiva
do adulto que desejamos que sejam, mas como cidadãs, sujeitos de direitos O Estado, por sua vez, tem o dever de ser a garantia maior dos direitos de
enquanto crianças. Entendê-la como pessoa-em-desenvolvimento implica seus cidadãos desde seus primeiros anos de vida. Para isso, ele elabora leis,
conferir plenitude ao momento da infância por ela ter sentido em si mesma e, formula políticas, desenvolve programas. A vontade política e as decisões go-
adicionalmente, nessa mesma dinâmica, situá-la num processo de formação vernamentais criam, localizam e mobilizam os recursos necessários, mesmo
cuja meta é o sempre mais adiante. em situações de crise e escassez. Assim, se cumpre a determinação da Carta
Magna de que os direitos da criança e do adolescente devem ser assegurados
Se, de uma parte, é confortante imaginarmos um cenário ao alcance de nossa com absoluta prioridade (art. 227). Segundo o ECA (art. 4º, parágrafo único),
própria vida, de pleno desenvolvimento de nossas crianças, de outra parte, “a garantia de prioridade compreende:
é imperioso construí-lo diariamente, persistentemente. Sonho de futuro sem
ação no presente é ficção, alienação e projeção irresponsável. Ao contrário, a a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias,
ação-hoje, inserida na perspectiva daquele cenário, impregna de dignidade o b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública,
hoje de nossas vidas. c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas e
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
Este Plano6 fala para cada governante, para cada político, técnico, profissional proteção à infância e à juventude”.
3. Charles Péguy, poeta e escritor francês (1873-1914). 5. Gabriela Mistral, pseudônimo de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, Poetisa,
4. William Wordsworth (poeta inglês, 1770-1850). A frase foi retomada por Sigmund Freud (1856-1939) professora e diplomata chilena (1889-1957), Prêmio Nobel de Literatura em 1945.
para explicar a relevância das experiências infantis que marcam a vida adulta. 6. Desta parte em diante, a expressão “Plano Nacional pela Primeira Infância” equivalerá às expressões
“projeto de Plano”, “esboço de Plano”, “proposta de Plano”.
16 17
o desafio
da mudança
o desafio da
mudança Um problema que vem aumentando nos últi-
mos anos é o número de bebês nascidos de mães
adolescentes, com menos de 15 anos. Em 1994,
I
A política de orientação, apoio e incentivo ao alei- nasceram 17,6 mil, mas em 2006 eles já somaram
tamento materno vem conseguindo aumentar o 27,6 mil, ou seja, passou-se de 6,9 para 9,4 filhos
aleitamento materno exclusivo até quatro meses. de adolescentes para cada mil nascidos vivos. Eles
O apoio governamental à ampliação da licença constituem um grupo de alta vulnerabilidade e de
A taxa de mortalidade infantil caiu, entre 1997 e maternidade para seis meses, visando ao aleita- atenção mais complexa do que as demais crianças.
2007, de 31,9 para 19,3 por mil nascidos vivos e, en- mento materno exclusivo durante esse período, é
o desafio da mudança
tre menores de cinco anos, de 30,4, no ano 2000, uma clara demonstração da importância que a po- 2. O que o Brasil está fazendo por
A realidade da primeira para 23,1, em 2007. A porcentagem de óbitos en- lítica de saúde dá a essa prática. No entanto, esta suas crianças
infância no Brasil tre menores de 1 ano por causas mal definidas ainda se encontra muito aquém do recomendado.
reduziu-se de 12,3, no ano 2000, para 5,3, em 2005. As últimas décadas do século passado e a primei-
Há vários diagnósticos e estudos sobre a situação A redução maior se deu na região Nordeste, que Cerca de 8 milhões de crianças de quatro meses ra deste século XXI foram palco de amplas e pro-
da infância no Brasil7. Os dados estatísticos e análi- baixou de 21,8 para 6,2. Mas a taxa de mortalidade a seis anos frequentavam creche e pré-escola, em fundas mudanças no quadro jurídico, nas políticas
ses qualitativas têm melhorado sensivelmente nos materna notificada cresceu de 52,3, em 2000, para 2008, sendo inexpressiva a diferença entre meninos sociais, nas ações governamentais e na participa-
últimos anos, possibilitando um conhecimento 53,4 em 2005. Também aqui, na probabilidade de e meninas. Em 2007, havia 9 milhões de crianças ção da sociedade brasileira relativas à proteção, à
mais real das condições de vida e desenvolvimen- morrer no início da vida, a desigualdade de renda de até três anos sem atendimento em creche e 2 promoção e à participação da criança. O progresso
to das crianças. Nos diferentes capítulos temáticos registra suas marcas: a mortalidade infantil en- milhões sem pré-escola. A baixa oferta de creches que o Brasil fez nesses campos nos últimos anos
deste Plano é apresentada uma breve análise da re- tre crianças filhas de mães negras é cerca de 37% públicas se torna mais grave pelo fato de afetar é reconhecido nacional e internacionalmente. A
alidade, suficiente para estabelecer seus objetivos maior do que entre as filhas de mães brancas; e, predominantemente as crianças de mães trabalha- Constituição Federal de 1988 é o marco de um
e metas. entre as indígenas, chega a ser 138% mais alta do doras, das famílias de renda mais baixa. Inúmeros novo olhar político, pedagógico e social para a
que entre as crianças brancas. Do total de crian- problemas de saúde, desnutrição, violência, aban- criança: ela passa a ser considerada cidadã, sujeito
O Brasil tem aproximadamente 20 milhões de ças e adolescentes indígenas, 63% são crianças de dono, restrições ao desenvolvimento e aprendiza- de direitos e a família, a sociedade e o Estado são
crianças com idade entre zero e seis anos, corres- até seis anos de idade que vivem em situação de gem poderiam ser evitados se as famílias pudes- declarados responsáveis por garantir, com absolu-
pondendo a 10,6% da população total. Segundo a pobreza. sem contar com serviços públicos de qualidade, ta prioridade, os seus direitos. O termo “menor” é
Pnad 2006, ao redor de 11,5 milhões de crianças de em centros de saúde, centros de assistência social substituído pela expressão “criança e adolescente”,
até seis anos viviam em famílias com renda men- Nos últimos cinco anos, a desnutrição entre crian- e estabelecimentos de educação infantil, além de sem distinção econômica, social, jurídica, familiar
sal abaixo de ½ salário mínimo per capita, o que, ças de menos de 1 ano diminuiu em torno de 60%, políticas de segurança, saneamento, lazer e apoio ou de qualquer outra índole.
na época, equivalia à metade das crianças vivendo mesmo assim, há cerca de 60 mil desnutridas. A à organização comunitária em suas áreas de resi-
nessa situação. Os níveis de desigualdade de renda proporção de crianças com baixo peso para a idade dência. O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei
e de pobreza sofreram queda expressiva nos últi- caiu, entre 2000 e 2006, de 12,7% para 3,5%, ou seja, 8.069, de 1990, dá um passo à frente, com a criação
mos anos: cerca de 17,2 milhões de pessoas saíram teve uma redução de 72,4%. O Sistema Nacional Os esforços para que todas as crianças sejam re- do sistema de garantia dos direitos, a instituição de
da condição de extrema pobreza por conta dos de Segurança Alimentar e Nutricional – SISVAN, gistradas logo após o nascimento e tenham sua conselhos paritários (governo e sociedade) para a
benefícios previdenciários e assistenciais, represen- recentemente criado, é um mecanismo sólido para certidão vêm dando resultados palpáveis: o subre- formulação, acompanhamento e controle social da
tando uma redução de 44,1% no número estimado enfrentar os problemas nutricionais e de alimen- gistro diminuiu de 30,3%, em 1995, para cerca de política de atenção à criança e ao adolescente, a
de indigentes no país8, o que beneficia diretamen- tação, com repercussão benéfica direta sobre a 11%, em 2009. Mesmo assim, o número daquelas
te as crianças, que passam a ter melhor qualidade qualidade de vida das crianças. No entanto, “A inse- que não têm esse direito assegurado ainda é muito
de vida e condições mais adequadas de desenvol- gurança alimentar prossegue, para 37.5% dos lares alto. Novamente aqui é enorme a diferença entre
vimento. Mesmo assim, de cada cinco crianças e brasileiros, cifra inaceitável para uma nação rica os Estados.
8. IBGE, PNAD, 2006.
adolescentes de até 17 anos, pelo menos uma ain- como o Brasil”10. Desdobrando essa média nacio- 9. Desenvolvimento Infanto-Juvenil no Brasil e seus
da vive em uma família sem renda suficiente para nal, verifica-se a acentuada diferença regional (25% Determinantes, Ricardo Barros e outros, Ipea, 2009, versão
garantir a satisfação das necessidades nutricionais para a região Sul e 55% para o Nordeste), também preliminar, citado por Situação da Infância Brasileira 2009,
básicas de seus membros9. As chances de viver na presente na renda familiar, na escolaridade da mãe Brasília, DF : UNICEF, 2009.
7. Os estudos do UNICEF sobre a situação da infância no Brasil
pobreza são bem maiores para as crianças negras, e no fator étnico (a insegurança alimentar é duas fornecem, a cada ano, um novo panorama com os dados mais
10. Oliver De Schutter, Relator Especial das Nações Unidas sobre o
direito à alimentação, na Missão ao Brasil, entre 12 e 18/10/2009, em
uma evidente situação de discriminação, de origem vezes maior em famílias negras). recentes. Os desta seção constam, com suas respectivas fontes, http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G10/111/28/
histórica e que só aos poucos vem sendo revertida. da Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 PDF/G1011128.pdf?OpenElement
O mesmo vale para as que vivem em áreas rurais. – O Direito de Aprender – potencializar avanços e reduzir
O desenvolvimento da primeira infância no Brasil, desigualdades. Brasília, DF : UNICEF, 2009 e Situação Mundial
da Infância 2008 – Caderno Brasil. Brasília DF : UNICEF, 2008.
portanto, se faz sob a marca da desigualdade.
20 21
substituição da doutrina da situação irregular pela
doutrina de proteção integral. Em seguida, são ela-
boradas, num processo amplamente participativo,
as leis setoriais de saúde, educação, assistência so- tos. O CONANDA é o órgão responsável pela
cial, entre outras, nas quais as especificidades da definição das diretrizes que orientam a política
criança são consideradas. Na sequência, são for- de atenção integral e pelo acompanhamento e ça. Criada em 2003 para acompanhar a im-
muladas as políticas públicas sociais e criados pro- controle das ações que põem essa política em plementação dos compromissos descritos no
I
gramas setoriais para a primeira infância. O novo prática. Os Conselhos Estaduais, Distrital e Mu- Termo Presidente Amigo da Criança, é formada
enfoque substitui o viés assistencialista pela con- nicipais dos Direitos da Criança e do Adolescen- por organizações da sociedade civil e por qua- 9. O Selo UNICEF Município Aprovado vem
cepção de uma assistência social voltada à garantia te têm suas competências específicas, definidas tro organismos intergovernamentais (UNICEF, comprovando eficiência na mobilização pelos
dos direitos básicos. Em síntese, a visão da criança em lei, em articulação e sintonia com o Conse- UNESCO, OIT e PNUD). Sua função é monitorar direitos das crianças e dos adolescentes. Jun-
objeto de atenção e cuidados cede lugar à da crian- lho Nacional. O Poder Público – por meio dos o Plano de Ação Presidente Amigo da Criança e tos, o Pacto e o Selo mobilizam os governos e
ça sujeito de direitos. órgãos de Segurança Pública, Ministério Públi- do Adolescente – PPACA e analisar os avanços a sociedade pela melhoria de vida de crianças e
o desafio da mudança
co, Poder Judiciário e Defensoria Pública – e a das metas nas áreas de educação, saúde e pro- adolescentes do Semiárido nas áreas de saúde,
Entre os avanços recentes, destacam-se: sociedade civil – por meio dos Conselhos Tute- teção, tendo como referência os relatórios anu- educação e p roteção.
lares e Centros de Defesa – desenvolvem ações ais enviados pelo governo e as metas descritas
1. O Sistema de Garantia dos Direitos da Crian- articuladas e harmônicas, visando à garantia no documento “Um mundo para as Crianças” 3. O que o Brasil quer fazer por
ça e do Adolescente: É a articulação das instân- dos direitos e à responsabilização dos agentes. e faz recomendações ao governo, apoiando a suas crianças
cias públicas governamentais e da sociedade ci- sociedade civil no controle social das ações go-
vil com a finalidade de zelar pela aplicação dos 3. As políticas, planos e programas setoriais es- vernamentais. A dimensão que a Rede adqui- O Estado – no âmbito do governo federal, dos go-
instrumentos normativos e o funcionamento pecíficos para a primeira infância ou que a riu no país, ao replicar-se em redes estaduais, a vernos estaduais e do Distrito Federal e dos gover-
dos mecanismos de promoção, defesa e con- incluem em seu escopo. Eles estão presentes quantidade de entidades que entram nessas re- nos municipais – vai atender com prioridade ab-
trole, para a efetivação dos direitos da criança na saúde, da educação, da assistência social, dos des locais e a diversidade de programas e ações soluta o compromisso constitucional de garantir à
e do adolescente, nos níveis federal, estaduais, direitos humanos, da cultura e dos direitos da monitoradas fazem dela um instrumento estra- criança o direito
distrital e municipais. Dele particpam o os Con- criança e do adolescente, da cultura. tégico para melhorar a situação das crianças e
selhos Nacional, Estaduais, Distrital e Munici- adolescentes no País. à vida,
pais de Direitos da Criança e do Adolescente, o 4. Investimento crescente de recursos finan- à saúde,
Juizado da Infância e da Juventude, a Defensoria ceiros na infância e adolescência. A criança 7. O Observatório Nacional dos Direitos da à alimentação,
Pública, as Secretarias e órgãos de Segurança e é atendida no contexto dos programas globais, Criança e do Adolescente, na Secretaria Es- à educação infantil,
Justiça, o Ministério Público, os Centros de De- mas precisa, também, de programas específicos pecial de Direitos Humanos, reúne e serve de ao brinquedo,
fesa e os Conselhos Tutelares. como grupo etário, em função de suas necessi- fonte de consulta sobre legislação, estatísticas, à informação,
dades de crescimento e desenvolvimento. Entre indicações científicas, políticas e institucio- à cultura e à diversidade cultural,
2. A política de atendimento dos direitos da 2006 e 2009, dobrou o investimento em pro- nais; registra iniciativas, difunde boas práticas, à dignidade,
criança e do adolescente. Ela é composta pe- gramas de atenção à criança e ao adolescente. monitora projetos e elenca indicadores, com ao respeito,
las políticas públicas, especialmente as políticas Nesse período, os recursos do Orçamento pas- o objetivo de facilitar o acompanhamento e a à liberdade e
sociais básicas, pela política de assistência social saram de R$ 28,9 bilhões para 56,6 bilhões11. No avaliação as políticas sociais e programas foca- à convivência familiar e comunitária
e pela política de proteção especial (destinada entanto, a primeira infância ainda ocupa um dos nos direitos da infância e da adolescência.
àqueles que têm seus direitos extremamen- fragmento inexpressivo: dos programas, apenas O Observatório, atualmente focado na redu- e agir, por todos os meios de que dispõe, para que
te violados). A Secretaria Especial de Direitos um é voltado diretamente à primeira infância ção e prevenção da violência contra a criança ela
Humanos – SEDH e o Conselho Nacional dos e dois a incluem em seu escopo (Fundeb e Sa- e o adolescente, tem potencial para ampliar o
Direitos da Criança e do Adolescente – CO- lário Educação). O primeiro representa apenas diálogo, estimular analises e pesquisas e ações não seja vítima de negligência,
NANDA articulam e apoiam as ações desenvol- 0,079% do total. conjuntas com vistas ao aperfeiçoamento das
vidas pelos órgãos que têm atribuições relativas políticas públicas nos âmbitos federal, estadual, não seja discriminada em razão de gênero,
à promoção: ministérios, secretarias estaduais 5. Os Fundos da Criança e do Adolescente. Fo- distrital e municipal. etnia, cor, idade, condição familiar, condição
e municipais de políticas sociais, secretarias de ram criados para incrementar, de forma com- econômica, crença religiosa, localização geo-
direitos humanos ou órgãos equivalentes, enti- plementar, o orçamento dos programas, proje- 8. O Pacto Nacional Um mundo para a crian- gráfica de sua residência,
dades de antiemdn4rto e conselhos dos direi- tos e ações voltadas para o fortalecimento da ça e o adolescente do Semiárido, de iniciati-
política de atendimento dos direitos da criança va do UNICEF, assinado pelo Presidente da Re- não seja explorada pelo trabalho infantil, como
e do adolescente. pública, por ministros, pelos governadores dos objeto sexual, como ator de promoção comer-
11 Estados do Semiárido, parlamentares, em- cial,
6. A Rede de Monitoramento Amiga da Crian- presários e representantes da sociedade civil, é
11. Fonte: SIAFI – Contas Abertas. Atualizado em 11/3/2020.
Ver detalhes em www.investimentocrianca.org.br/SimIC/
um exemplo de ação intersetorial, coordenada não seja vítima de violência física, moral, psi-
investimentoCrianca.aspx e integrada. cológica, cultural, econômica ou sequestro, no
ambiente familiar, escolar ou social
22 23
não sinta opressão psicológica, física ou moral e
I
municipais,
1. Abrangência: O Plano Nacional pela Primeira cada ente federado. A articulação entre os planos
Infância abarca todos os direitos da criança de nacional, estaduais, distrital e municipais se dará
até seis anos de idade; segundo os princípios constitucionais da autono-
mia dos entes federados e do regime de colabo-
2. Participação social na sua elaboração: o pro- ração. Espera-se que todos passem pelo debate e
cesso de elaboração envolveu grande número de aprovação do correspondente Poder Legislativo.
entidades da sociedade civil, além de setores go-
vernamentais, e organismos intergovernamen- 2. Características internas
tais, além de pais, militantes da área dos direitos
da criança, profissionais de diferentes setores; O conteúdo do Plano Nacional pela Primeira Infân-
cia tem quatro dimensões:
3. Plano de Estado: a participação da sociedade
na sua construção, a aprovação pelo Poder Le- 1. Dimensão ética, de compromisso pessoal e
gislativo e o longo prazo desvinculam o plano profissional em dar o melhor de nós mesmos
de um determinado partido político e de um e da competência administrativa dos governos
governo em particular e o ligam às funções per- para que as crianças brasileiras sejam felizes e
manentes do Estado na prestação de um ser- alcancem o melhor de si mesmas.
viço essencial para uma população específica
– que são as crianças pequenas. Ele transcende, 2. Dimensão política, que diz respeito à respon-
assim, a visão de Plano de Governo; sabilidade da Nação brasileira e de cada uma
de suas unidades federadas (Estados, Distrito
4. Longa duração: doze anos (2011 a 2022) é um Federal e Municípios) para com todas as suas
horizonte de tempo razoável para alcançar um crianças de até seis anos de idade e
patamar justo de qualidade de vida e direitos
cumpridos para a primeira infância no Brasil; 3. Dimensão científica, embasada nos aportes
das várias ciências, que, nos últimos cinquenta
5. Aprovação por lei: a tramitação como projeto anos e tão proficuamente no presente, estão
de lei no Congresso Nacional enseja ampliação investigando os processos e os fatores determi-
do debate político sobre a primeira infância e nantes e os condicionantes do desenvolvimen-
os desafios da nação frente às suas crianças de to e da formação da criança;
até seis anos de idade, bem como aperfeiçoa-
mentos neste Plano. Aprovado, adquire status 4. Dimensão técnica, baseada em experiências
de lei, de cumprimento obrigatório; reconhecidas como de boa qualidade nos di-
versos campos da atividade profissional no
6. Descentralização: em coerência com o sistema
federativo brasileiro, o Plano Nacional pela Pri-
atendimento dos direitos das crianças em suas
diferentes circunstâncias de vida.
princípios e
O Plano Nacional pela Primeira Infância
é uma carta de compromisso do Brasil
com suas crianças.
diretrizes
26
princípios e nistração pública, devem ser decididos segundo a
diretrizes
primazia absoluta dos direitos da criança e do ado-
lescente.
III Princípios
Os parâmetros das ciências e a visão humanista
devem articular-se nas ações dirigidas à criança.
Assim, pediatria, neurociências, pedagogia, psico-
Os direitos afirmados na Convenção dos Direitos
da Criança, na Constituição Federal, no Estatuto da
Criança e do Adolescente são de todas as crianças.
logia, psicanálise, antropologia, ciência jurídica…, No entanto, situações de vulnerabilidade individu-
Este Plano é “para” as crianças. Elas são a razão e o de um lado, e, de outro, sentido da vida, valores al e social, maior necessidade econômica de famí-
princípios e diretrizes
motivo das ações aqui definidas. Portanto, é pre- humanos, aspirações e desejo de realização, cuida- lias, de Municípios, Estados ou Regiões requerem
ciso focar o olhar na pessoa das crianças em suas do com a Terra… se complementam. políticas de proteção especial e impõem urgência
realidades concretas de vida: elas têm um rosto, Criança sujeito, indivíduo, único, com maior para a ação do Estado. Têm prioridade aque-
um nome, uma história, vínculos afetivos e sociais, valor em si mesmo. A articulação das ações. les que, sem essa atenção pública, estão ou esta-
um destino a ser construído com liberdade e con- riam privados de direitos fundamentais. Essa é uma
fiança. A criança tem um “rosto”. Olhar para ele e enxergá- A articulação deve ocorrer em três âmbitos: (a) nas condição para que a igualdade como princípio uni-
lo é compreender a verdadeira essência do ser hu- ações dos entes federados (União, Estados, DF e versal possa tornar-se igualdade real.
Estatísticas, descrições globais de problemas, com- mano que se forma desde sua gênese e se realiza ao Municípios), (b) nos setores da administração pú-
parações, taxas e índices são construções abstratas longo da vida. blica (educação, saúde, assistência, cultura, justiça Dever da família, da sociedade e do
que ajudam no planejamento das intervenções etc.) e (c) na relação governo e sociedade. Estado.
mais urgentes e adequadas, mas elas são frias, A diversidade étnica, cultural, de gênero,
distantes e insensíveis ao drama de uma criança geográfica. Esse princípio tem três consequências: A família é a instituição primordial de cuidado e
concreta, de uma família, de um grupo social que educação da primeira infância. Mas a sociedade e
vive o problema ou sucumbe a ele. Quando se me- Esse princípio abre o olhar para as várias infâncias (a) evita duplicidade, o Estado também são responsáveis por suas crian-
lhoram estatísticas de mortalidade infantil não se que existem em nosso País. E é às múltiplas formas (b) racionaliza a utilização dos recursos públicos, ças. Cabe ao Estado formular e implementar po-
muda um número apenas, mas se salva a vida de de ser criança que as políticas devem ser sensíveis. evitando desperdícios e líticas econômicas e sociais que dêem às famílias
crianças; quando se expande o atendimento em (c) aumenta a eficiência e a eficácia dos esforços condições de cumprir aquela função primária, bem
creches e pré-escolas de qualidade não se atinge A integralidade da criança. governamentais. como realizar ações voltadas especificamente às
uma meta apenas, mas se incluem crianças na tra- crianças, visando ao atendimento de seus direitos.
jetória educacional e se lhe assegura base sólida de Impõe-se superar a visão fragmentada da criança. A sinergia das ações.
êxito; quando se restabelecem os laços familiares Uma visão holística, integrada, senão imediata- 2. Diretrizes políticas
ou os vínculos afetivos de uma criança com seus mente do “todo”, pelo menos progressivamente Quando as ações dirigidas às crianças podem ser
pais, responsáveis ou cuidadores, se dá à criança mais abrangente, vai ajudar a ver as interrelações articuladas no espaço e no tempo, alcançam maior 1. Atenção à prioridade absoluta dos direitos da
novamente a chance de constituir-se como sujeito, ou intersecções que foram artificialmente afasta- eficiência e eficácia: gasta-se menos e se alcan- criança na Lei de Diretrizes Orçamentária –
seguro e confiante. das como campos específicos de atividades profis- çam resultados mais consistentes. Não se trata de LDO, no Plano Plurianual – PPA e no Orçamento.
sionais distintas. transformar a creche num centro de saúde ou de A determinação constitucional e a opção polí-
Vale essa lógica para cada um dos direitos da crian- atribuir a um ambulatório hospitalar as funções de tica de situar a criança (como também o ado-
ça. Esse enfoque determina uma atitude humana A inclusão. um estabelecimento de educação infantil, mas de lescente) no topo das prioridades do Estado
solidária e corresponsável e dá uma nova visão encontrar as complementaridades de serviços e as acarretam a obrigação de incluir e manter na
à ação política do governo em relação à infância Uma sociedade inclusiva abraça todos e cada um possibilidades de expansão das ações em cada um LDO e no PPA as determinações para que os
brasileira: não se trabalha por números, mas por dos indivíduos, nas suas expressões próprias, se- dos lugares em que as crianças são atendidas – em Orçamentos anuais assegurem os meios finan-
pessoas. gundo as quais cada um é si próprio e diferente dos casa, na creche ou na pré-escola, no centro de saú- ceiros para que essa prioridade seja efetivada na
demais; abarca todos e cada um dos grupos étnico- de, no hospital, no consultório médico, nos espa- prática. As crianças estão nos nossos corações,
Os princípios a seguir orientarão o olhar, a atenção raciais, sociais e culturais; manifesta zelo pela igual- ços institucionalizados do brincar. nas leis e no discurso…, mas se não estiverem
e as ações que visam à proteção e promoção dos dade e pela especificidade de direitos na diversida- no orçamento, suas vozes e as nossas ecoarão
direitos das crianças de até seis anos, indicados por de de gênero. Para que a sociedade brasileira seja A prioridade absoluta dos direitos da no vazio.
este Plano. uma sociedade inclusiva, todas as crianças devem criança.
dela participar, desde o começo da vida, como su-
jeitos de pleno direito. O princípio estampado no art. 227 da Constituição
Federal, regulamentado pelo art.4º do ECA, tem
que ser levado às suas consequências. As ações e
os recursos financeiros, nos três níveis da admi-
28 29
2. Articulação e complementação dos Planos na-
cional, estaduais, distrital e municipais pela pri-
meira infância: cada esfera elabora seu Plano, de
tal maneira que todos estejam articulados e se
complementem, respeitadas as competências
respectivas.
III
3. Manutenção de uma perspectiva de longo prazo:
É preciso persistir por vários anos nos objetivos 3. Diretrizes técnicas
e metas para garantir condições dignas de vida
e promotoras do desenvolvimento pleno a to- 1. Integralidade do Plano, abrangendo todos os
das as crianças brasileiras. direitos da criança no contexto familiar, comu-
nitário e institucional.
princípios e diretrizes
30
crianças com
saúde
O estado de saúde da criança
tem relação com os direitos básicos à 3. Linhas e ações estratégicas
saúde, à nutrição e à alimentação, ao
desenvolvimento e à proteção especial 3.1. Atendimento pré-natal
ausência de doenças, privilegiando a atenção mé- mento Conjunto, inclusive na rede p rivada.
dica curativa. Hoje, afirma-se a visão holística, sen- 3. Garantir a proteção contra o tétano neonatal
do a saúde “o completo bem-estar físico, mental e através da imunização das gestantes no pré- 5. Apoiar o parto natural com segurança e reduzir
social e não apenas a simples ausência de doença” natal. as taxas de cesáreas desnecessárias.
(OMS). Essa visão implica ações intersetoriais e
interdisciplinares. As ações de saúde devem ser transversais, opera- 4. Preparar a gestante para o parto e a maternida- 6. Assegurar a presença de um pediatra treinado
cionalizadas em todos os níveis de atenção, desde de, enfatizando o apoio psicológico. em reanimação neonatal em todos os partos
As proposições deste Plano se baseiam na Agenda a saúde básica, o atendimento pré-natal, o parto e institucionais.
de Compromisso para a Saúde Integral da Criança, o puerpério, até o acompanhamento do desenvol- 5. Criar estratégias e ações interdisciplinares no
acrescidas do propósito de aperfeiçoar e comple- vimento da criança, bem como os serviços espe- pré-natal com o objetivo de melhor configurar 7. Qualificar a assistência ao parto domiciliar e ar-
mentar aspectos específicos da saúde da criança. cializados. o universo psicossocial da mãe e sua rede de ticular o cuidado à equipe de atenção básica de
sustentação com especial atenção à gestante saúde; capacitar parteiras tradicionais e doulas
1. Princípios e estratégias 2. Do panorama atual a uma com sintomas de depressão, à mãe adolescente onde necessário e desenvolver critérios simples
situação melhor e à gestante vítima de violência. de identificação de risco, para a transferência a
O estado de saúde da criança tem relação com os tempo para um serviço de maior complexidade
direitos básicos à saúde, à nutrição e à alimentação, A mortalidade infantil pode ser considerada o in- 3.2. Atenção obstétrica e neonatal humanizadas quando necessário.
ao desenvolvimento e à proteção especial quando dicador mais sensível para medir o nível de saúde
necessário. Em vista disso, devem ser incentivadas de uma população. Segundo os dados da RIPSA12, 1. Organizar o acesso, adequar a oferta de serviços 8. Executar programas de preparação dos pais vi-
e apoiadas diretrizes das políticas públicas que pro- no período de 1990 a 2007, o Brasil reduziu a taxa e fortalecer a Rede Hospitalar, incluindo a ex- sando à paternidade responsável.
movam ações integradas para a saúde da gestante de mortalidade infantil em 59,7% (de 47,1/1.000 pansão e qualificação de hospitais dereferência
e da criança até seis anos. Essas ações referem-se à nascidos vivos para 19,3/1.000). Essa redução indi- para as gestantes e recém-nascidos (RN) de 9. Ampliar o número de Hospitais Amigo da Crian-
humanização, ao acesso aos serviços e à qualifica- ca que o país está a caminho para alcançar a meta risco. ça e, nestes, dar a devida atenção ao vínculo
ção da atenção à saúde da mulher e da criança. Elas 4 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mãe-bebê e estimular o envolvimento do pai
também dizem respeito a uma melhor integração estabelecida para o ano de 2015. Entretanto, os 2. Apoiar a articulação da equipe de referência na atenção neonatal.
dos vários serviços e a uma efetiva participação da dados nacionais ocultam as enormes desigualda- com o serviço de saúde onde ocorrerá o par-
família e da comunidade como agentes promoto- des regionais, em particular as relacionadas a po- to, envolvendo ambas as equipes no pré-natal 3.3. Aleitamento materno e alimentação infantil.
res de saúde. pulações vulnerabilizadas pela pobreza, indígenas e cuidado no puerpério, e na realização de alta
e afrodescendentes das Regiões Norte e Nordeste conjunta. O aleitamento materno é um fator crucial para
Nesse contexto, é fundamental a capacitação dos do país. Outra questão relacionada à mortalidade o crescimento e desenvolvimento adequado do
profissionais de saúde da primeira infância, por infantil é a prevalência da mortalidade neonatal 3. Garantir, antes da alta, o agendamento da bebê, sendo uma das ações mais eficientes na re-
meio da formação inicial e da educação continua- precoce durante a primeira semana de vida. A aná- consulta de puericultura e de puerpério ou o dução da mortalidade infantil e no fortalecimento
da e a valorização de sua profissão. lise da causa de óbitos realizada pelo Ministério da deslocamento de profissional, em especial da do vínculo entre mãe e filho. É fundamental que
Saúde durante o ano de 2006 observou que 71% atenção básica, até à residência da puérpera e
A criança, ao nascer, é absolutamente dependen- desses óbitos poderiam ter sido evitados por uma do recém-nascido, visando reduzir os riscos de
te do ambiente humano que a ampare e atenda adequada assistência à gestante, no parto e ao re- mortalidade neonatal.
12. Rede Interagencial de Informações para a Saúde/MS.
às suas necessidades físicas e emocionais. Quando cém-nascido. 13. Dentre elas, a iniciativa mais recente do Ministério da Saúde é
esse ambiente é desfavorável, seu desenvolvimento a instituição da Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis
está em risco, torna-a vulnerável a problemas so- Várias ações, que este Plano considera relevantes, com o objetivo de construir novas ofertas de cuidado humanizado
ciais, emocionais e cognitivos. estão em andamento13. Para seguir avançando na à saúde e fortalecer aquelas tradicionalmente dirigidas a
direção de um cenário de mais saúde para todas as mulheres e crianças, na perspectiva do vínculo, do crescimento e
desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos.
crianças, este Plano apresenta as seguintes linhas
e ações.
34 35
sejam asseguradas às gestantes e ao bebê as condi-
ções favoráveis de amamentação, em sintonia com
a recomendação internacional de que o aleita-
mento materno seja exclusivo até os seis meses de 3.5. Vigilância à saúde pela equipe de Atenção
idade e que, daí em diante, outros alimentos sejam Básica
introduzidos de forma gradual, mantendo o leite
materno até os dois anos de idade. 1. Intensificar o cuidado com o recém-nascido e 2. Inserir a atenção e os cuidados com o desenvol-
a puérpera na primeira semana após o parto, vimento psíquico nos programas de assistência
ações
finalísticas
1. Ampliar a Rede Nacional de Bancos de Leite Hu-
mano nos hospitais/maternidades que tenham
aumentando a cobertura desse atendimento e
reforçando a vinculação da mulher e do recém-
materno-infantil de saúde pública;
3. Formar equipes interdisciplinares de cuidados à 3. Desenvolver programas de atenção integral à
unidades de terapia intensiva ou cuidados in- nascido à unidade básica de saúde. criança nas unidades de saúde materno-infantil saúde das crianças, adaptados às realidades das
termediários aos recém-nascidos e implantar 2. Qualificar e sensibilizar as equipes de atenção e de atendimento exclusivo à criança, em espe- comunidades indígenas, quilombolas e outras
serviços de coleta nas unidades de saúde. básica para a realização de visitas domiciliares cial integrar profissionais de saúde mental na comunidades isoladas, ou de grande vulnerabi-
crianças com saúde
2. Aprovar no setor público e incentivar no setor desde a primeira semana de vida do bebê, vi- equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Fa- lidade.
privado a licença maternidade até os seis meses sando à estimulação para o desenvolvimento mília (NASF).
de vida do bebê. ótimo da criança, à atenção e ao apoio a crian- 3.9. Ações conjuntas e intersetoriais
3. Apoiar a alimentação complementar ao leite ças com necessidades especificas. 3.7. Controle e assistência.
materno após o 6º mês de vida e o seguimento 3. Capacitar as equipes para a atenção às famílias 1. Realizar, em creches e pré-escolas, ações de pro-
dos 10 passos para a alimentação saudável. de crianças com déficit nutricional ou sobre- 1. Expandir a estratégia de Atenção às Doenças moção de saúde articuladas com as da educa-
peso, e para a identificação de sinais de maus Prevalentes na Infância (AIDPI). ção e dos setores do desenvolvimento social, da
3.4. Alimentação saudável, combate à tratos e negligência. 2. Capacitar profissionais de saúde e mobilizar ges- cultura e do desenvolvimento agrário.
desnutrição e anemias carenciais e prevenção do tores, com prioridade nas regiões Norte e Nor- 2. Promover maior articulação dos programas
sobrepeso e obesidade infantil 3.6. Acompanhamento do Crescimento e deste visando reduzir a Transmissão Vertical do governamentais de estimulação do desenvolvi-
Desenvolvimento HIV/AIDS mento infantil com os realizados por organiza-
A implementação da Política Nacional de Ali- 3. Prestar apoio psicossocial às crianças soropositi- ções não-governamentais.
mentação e Nutrição e da Estratégia Global para A Caderneta de Saúde permite aos profissionais e vas e a seus cuidadores.
a Alimentação de Bebês e Criança da Primeira In- à família o acompanhamento do processo de cres- 4. Reduzir a prevalência da sífilis congênita, apoi 4. Atenção à saúde mental
fância, da OMS/UNICEF, contribuem para garantir cimento e desenvolvimento da criança e a detec- ando e esclarecendo os casais sobre a detecção
o direito à alimentação e a segurança alimentar e ção precoce de problemas que possam afetar sua e tratamento da gestante e seu companheiro. A saúde mental é resultante do conjunto de situa-
nutricional. saúde, nutrição, capacidade mental e social. Por ela 5. Promover a saúde auditiva e ocular com especial ções em que a criança vive. Dentre elas, o cuidado
também se acompanha o programa de vacinação. atenção aos testes de triagem. no início da vida é o determinante mais importan-
Em vista das mudanças de comportamento rela- As consultas pediátricas são um momento privi- 6. Promover a saúde bucal. te. O laço afetivo é a forma mais estruturante do
cionadas à dieta e atividades físicas que agravaram legiado para o acompanhamento do desenvolvi- 7. Fomentar as medidas necessárias para a detec- desenvolvimento humano e da comunicação da
a incidência da obesidade infantil, devem-se inten- mento global das crianças e detecção de possíveis ção precoce de doenças crônicas graves como o criança com o outro. A privação da relação afetiva
sificar: riscos no campo de saúde mental. Por isso, é funda- diabetes tipo 1 em toda a população infantil, e contínua e de boa qualidade pode levar ao adoe-
mental promover a capacitação dos profissionais desenvolver programa de atendimento médico cimento e à morte. Daí a importância da sensibi-
1. Ações visando à redução da desnutrição crôni- de saúde para essas ações. E disponibilizar a Cader- específico. lização e da capacitação dos profissionais com os
ca e da desnutrição aguda em áreas de maior neta de Saúde da Criança em todas as Unidades quais a criança se relaciona, na área de saúde, da
vulnerabilidade. de Saúde Básica, Maternidades, Hospitais e consul- 3.8. Cuidados para grupos específicos e crianças educação infantil, de abrigos e outros.
2. Campanhas de informação, educação e comu- tórios médicos. Essas ações de caráter preventivo com deficiência.
nicação para uma alimentação adequada em podem reduzir custos com atendimentos de maior Para a promoção da saúde mental na primeira in-
quantidade e qualidade, promovendo práticas complexidade. 1. Promover e realizar estudos e pesquisas com fância o PNPI indica as seguintes ações:
alimentares e estilos de vida saudáveis. o objetivo de prevenir, detectar e tratar o mais
Outras medidas: precocemente possível as dificuldades de de- 4.1. Atenção à gestante
1. Capacitar e qualificar a família e os cuidadores senvolvimento.
de crianças da rede social extrafamiliar, favore- 2. Desenhar, implementar e fortalecer progra- A gestação é um período de intensas mudanças
cendo a construção de vínculos afetivos com a mas intersetoriais de saúde integral e educação físicas e psíquicas, e, consequentemente, de gran-
mãe, ou sua figura substituta, o pai, a família e a especializada dirigidos às crianças com defi- de vulnerabilidade emocional. Daí a necessidade
rede social. ciência ou com transtornos globais do desen- de lhe dar atenção às suas necessidades físicas e
volvimento, dos quais participem a família e a psicológicas. Os profissionais das equipes de base
comunidade. devem ser capacitados para observar e acolher as
manifestações de insegurança e ansiedade da ges-
tante. As depressões pós-parto, um sério problema
36 37
de saúde pública em razão de sua alta incidência e
educação infantil
dos riscos que representam para o desenvolvimen-
to do bebê, na maioria das vezes já se prenunciam
durante a gravidez. Muitas das tensões emocionais 4.5. Serviços complementares: Assistência Social e
da gravidez podem ser aliviadas por uma escuta Educação
atenciosa e aberta da parte dos profissionais. Os
agentes de saúde básica, desde que preparados, Além dos serviços de saúde básica, os de educação
podem desempenhar essa função. e de assistência social são os que primeiro detec-
ações
finalísticas 4.2. Preparação e atenção ao parto
tam os sinais de risco para a criança. Por essa razão,
o aumento de estabelecimentos que prestam esses
serviços e a capacitação dos profissionais que ne-
A preparação para o parto favorece o estabeleci- les atuam são cruciais na saúde mental de nossas
mento do vínculo com o bebê após o nascimento. crianças.
crianças com saúde
4.3. Apoio ao pai e à família Para o tratamento dos distúrbios precoces do de-
senvolvimento e da constituição psíquica das crian-
Durante o período pré-natal, o apoio do pai e da ças faz-se necessário ampliar o número dos centros
família é muito importante. É importante incluir o de atendimento especializado, com equipes multi-
pai nos programas de promoção de saúde da ges- profissionais atuando interdisciplinarmente. Além
tante e do bebê, pois a paternidade envolve mu- dessa expansão, é oportuno inserir tais equipes nos
danças no papel social e familiar do homem, com serviços já existentes, em especial na rede de aten-
repercussões às vezes marcantes em seu estado ção psicossocial composta pelos Centros de Aten-
psicológico e em seu relacionamento com a com- ção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSI) e outros
panheira. serviços ligados ao SUS.
38
Desde a mais tenra idade,
(todas as crianças) devem ser r enda familiar, baixo índice de desenvolvimento
incentivadas a participar da vida da educação básica – IDEB, entre outros);
cultural da sociedade 2. A educação infantil é um direito da criança. E 9. Às famílias que optem por cuidar e educar seus
em que vivem. sua oferta é dever do Estado. Ela será assegura- filhos de até três anos em casa, o Estado ofere-
da a toda criança que dela necessite ou por ela cerá apoio e orientação;
ações
finalísticas
ONU – Conferência de Cúpula sobre a Criança, 1990. demande, por meio de sua família ou de seus
responsáveis. A partir dos quatro anos comple- 10. Em atenção ao princípio constitucional e às de-
tos, até cinco anos e onze meses de idade, as terminações legais de integração das crianças
crianças estão obrigadas a frequentar a educa- com deficiência no sistema regular, bem como
ção infantil; à política da educação inclusiva, serão ofere-
educação infantil
40 41
a família e a
c) a faixa etária do nascimento até cinco anos
e onze meses deve ser entendida como um
período único, sequencial, evitando-se as
comunidade da criança
segmentações de conteúdo de aprendiza-
gem, entre creche e pré-escola ressaltando-
se, da mesma maneira, que o ingresso das 3. Estabelecer um Programa Nacional de Forma-
crianças de seis anos no ensino fundamental ção dos Profissionais de Educação Infantil (ini-
não pode levar à negação das características cial e continuada), que conte com a participa-
ações
finalísticas
da primeira infância, ainda presentes.
d) a ludicidade deve estar sempre presente nas
ção da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, que realize as seguintes metas:
relações e ações educacionais, tanto na sua
dimensão de cuidado quanto de educação, a) em cinco anos, 70% dos dirigentes de ins-
de modo que o processo educacional ocor- tituições de educação infantil possuam a
educação infantil
42
Em benefício da criança é Objetivos e metas
preciso reforçar as funções familiares 1. Ir ao encontro das famílias para construir com
e as condições necessárias para elas práticas sociais que lhes dêem maiores pos-
sibilidades de participar de transformações na
exercê-las. direção de melhoria na sua qualidade de vida e,
consequentemente, na de suas crianças.
ações
finalísticas
2. Valorizar, por meio de políticas públicas de
apoio, a unidade familiar como locus próprio
termo família é entendido, neste texto, de produção de identidade social básica para a
num sentido amplo, de modo a evitar qualquer criança.
exclusão. Ele diz respeito ao sentimento que as
a família e a
comunidade da criança
pessoas têm e que emerge de formas particulares 3. Adotar, em cada município, metodologias e téc-
de se relacionarem entre si. A noção de família vin- nicas que propiciem, os espaços de atendimen-
cula-se, pois, a algo que pertence ao mundo social, to às famílias, o fortalecimento do sentimento
das relações humanas, em suas diferentes formas de família e de infância, que torne possível unir
de organização e parentesco. São relações de soli- as pessoas para “viverem em comum”, dando
dariedade e compromisso entre os seus membros. expressão viva ao sentido de comunidade.
Por dizer respeito a um sentimento, o termo famí-
lia pode ser estendido a todo agrupamento hu- Este Plano inclui ações por meio das quais o Esta- 4. Utilizar os espaços mais adequados para o en-
mano que se autodenomina assim e por emergir do pode assistir às famílias no cumprimento de contro com os grupos familiares, entre os quais:
e pertencer ao mundo das relações humanas, ele é suas funções primordiais de cuidado, socialização (a) os locais que as famílias já frequentam, apro-
histórico e cultural. e educação conforme está na Constituição Federal, veitando-se das unidades de saúde, as institui-
art. 227. A decisão por essas ações se fundamenta ções de educação infantil e do serviço social, as
Na sociedade moderna, foram surgindo institui- nos seguintes pressupostos: igrejas, as associações de moradores e outros;
ções de diversos tipos e funções, às quais a família (b) o próprio domicílio, nas visitas às famílias,
foi atribuindo parcial ou totalmente, as funções • A família é, na sociedade atual, a instituição que como vem sendo feito por programas de gover-
que lhe eram inicialmente exclusivas em relação desempenha o papel central e insubstituível de no e de organizações da sociedade civil.
aos filhos pequenos. É possível dizer que hoje, a atender às necessidades de desenvolvimento da
família vem renunciando excessivamente ao que criança. 5. Estabelecer com os grupos familiares uma rela-
lhe compete como direito e como dever: zelar, pro- ção de valorização, de respeito, de alteridade,
mover e assumir o cuidado e a educação de seus • A família precisa ser valorizada nas suas possibi- evitando-se assumir o seu papel, promovendo
filhos pelo menos nos primeiros anos de vida. Às lidades de discutir, refletir e definir seu próprio o encontro entre o conhecimento sistematiza-
instituições sociais cabe apoiar e partilhar as fun- projeto de vida, e isto inclui a forma de criar e do dos profissionais e o saber cotidiano da fa-
ções e ações da família no cuidado e educação das educar suas crianças. mília em prol do aprendizado dos dois.
crianças. Em benefício da criança, portanto, é pre-
ciso reforçar as funções familiares e as condições • É preciso construir novas práticas sociais com 6. Construir formas comunitárias que respeitem a
necessárias para exercê-las. as famílias, de caráter coletivo, participativo e diversidade cultural para o enfrentamento dos
solidário, que envolvam instituições, associa- problemas vividos pelas famílias dos estratos
Entende-se então, neste Plano, família como o ções e movimentos da comunidade. mais baixos de renda, de sorte que as próprias
grupo primário que acolhe, apoia e acompanha a famílias, num processo coordenado de discus-
criança em seu lar, e que satisfaz suas necessidades • O trabalho de apoio e fortalecimento das fa- são, ajuda e compromisso mútuos, vão criando
de saúde, alimentação, afeto, brincadeiras, comuni- mílias deve ser pautado no estabelecimento de e ampliando suas possibilidades de participa-
cação, segurança e aprendizagem e conquista pro- relações dialógicas. ção social, principalmente no que diz respeito
gressiva de autonomia nos anos iniciais da vida. ao cuidado e educação de suas crianças.
• Uma base de apoio às famílias é construída com
uma política social que erradique a miséria e a 7. Preparar os futuros pais, incluindo no currículo
pobreza, supere o assistencialismo, o individua- do ensino médio os conteúdos, com dinâmicas
lismo e a visão setorizada das necessidades dos apropriadas, para a construção dos sentimen-
indivíduos. tos, pensamentos, conhecimentos e autocon-
fiança, para assumirem a paternidade e a ma-
ternidade responsáveis desde a gestação da
criança.
44 45
a criança na Em cenários de desigualdade
econômica e social, desemprego,
assistência social condições precárias de moradia, de
saneamento básico, de instabilidade
familiar, a distância entre o desejo, o
direito e o dever dos pais de cuidar
e educar seus filhos se torna
mais difícil, senão, em casos
específicos, impossível.
47
2.2. Rede e serviços à criança de até seis anos na 2.3. A Proteção Social Especial e as ações Assistência às famílias, garantindo-lhes uma renda 3. Objetivos e metas22
assistência social direcionadas às crianças mínima, e educação infantil em tempo integral,
apoiada pelo serviço sócio-educativo da Assistên- 1. Alcançar a cobertura dos serviços de enfren-
O SUAS regula e organiza em todo território nacio- Ocorrências de negligência, abandono, ameaças, cia Social, são ações complementares nessa área. tamento de situações de negligência, violência
nal as ações sócio-assistenciais, disciplinadas pela maus tratos, violências físicas, psíquicas, discrimi- doméstica e as demais situações de exploração
Norma Operacional Básica – NOB17. Duas funções nações sociais e violação aos direitos humanos e 2.5. Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à de crianças, abrangendo, em 2012, a todas as
se destacam: a de defesa social e institucional, que sociais caracterizam situações de risco pessoal e Exploração Sexual20 crianças até 6 anos de idade.
visa dar à família acesso a informações sobre os di- social e exigem intervenção do Estado. Quando 2. Universalizar, até 2015, o acompanhamento e o
ações
finalísticas
reitos da criança e a de vigilância social, para que
as crianças estejam protegidas das perversas con-
há crianças envolvidas nessas situações elas são in-
cluídas em ações de proteção social especial e de
O atendimento é feito no CREAS. A intervenção
profissional deve proporcionar à família, à criança
desenvolvimento de ações de prevenção à fra-
gilização dos vínculos afetivos com as famílias
sequências da pobreza e a salvo da negligência, proteção básica. e ao adolescente espaço de escuta, expressão e di- das crianças em abrigos.
omissão, exploração, discriminação, crueldade e álogo, procedendo, ainda, aos encaminhamentos 3. Universalizar, até 2022, o acompanhamento das
opressão. A PSE presta atendimento a crianças que se en- necessários. famílias das crianças de até seis anos inseridas
a criança na
assistência social
contram em situação de: contingência, necessitan- no BPC, por meio de serviços sócio-educativos
A Proteção Social Básica – PSB e a Proteção Social do de cuidados especializados em decorrência de Nos casos de violência ou abuso intrafamiliar, a in- e desenvolvimento de ações socioassistenciais e
Especial – PSE oferecem serviços sócio-assistenciais deficiência; risco pessoal e social, por ocorrência tervenção deve contribuir para a reconstrução das de convivência para essas crianças.
nos Centros de Referência da Assistência Social – de violência física ou psicológica; abuso ou explo- relações e papéis familiares, superação de padrões 4. Universalizar, até 2015, o acompanhamento das
CRAS18 e Centros de Referência Especial da Assis- ração sexual e outras. O atendimento pode-se dar violadores de relacionamento, fortalecimento dos famílias inseridas no Programa Bolsa-Família e
tência Social – CREAS. A PSB tem como foco de na própria família, quando elas podem ali perma- vínculos e restabelecimento da função protetiva que não estão cumprindo as condições estabe-
ação o trabalho com famílias e o desenvolvimento necer, ou fora do núcleo familiar, quando assim for da família, entre outros. Nos casos de exploração lecidas, priorizando as famílias com crianças de
de ações para a população que vive em situação determinado pela autoridade competente. sexual comercial, que envolve redes de crime or- até seis anos.
de vulnerabilidade social, decorrente de pobreza. ganizado, o acompanhamento deve incluir: (a) 5. Ampliar a cobertura de ações sócio-educativas
Ela opera no CRAS e inclui o Programa de Atenção No âmbito da primeira infância, o CREA respon- busca ativa, (b) articulação com o Sistema de Ga- e de convivência à crianças em situação de tra-
Integral à Família – PAIF. sabiliza-se pelos serviços: (a) de enfrentamento à rantia de Direitos e de Segurança Pública, para balho infantil, alcançando a erradicação total
violência, ao abuso e à exploração sexual contra proteger a vítima e responsabilizar os agressores dessa situação até 2015.
Além do atendimento individual da família (aco- crianças e adolescentes; (b) de orientação e apoio comunicando a autoridade competente, por meio 6. Garantir, até 2015, o restabelecimento do vín-
lhimento no CRAS, entrevistas e visitas domicilia- especializado a famílias onde crianças e adolescen- de relatório, nos casos em que haja a necessidade culo familiar e comunitário de 100% das crian-
res), existe o trabalho com os grupos sócio-educa- tes têm seus direitos violados. de afastamento do agressor do ambiente familiar, ças abrigadas por situação de pobreza.
tivo, de convivência familiar e de desenvolvimento ou da criança21, (c) acompanhamento psicossocial, 7. Estabelecer, até 2012, diretrizes nacionais e
familiar. Entre as ações dirigidas especificamente Os serviços de alta complexidade oferecem aten- (d) encaminhamento e fortalecimento do proces- prestar apoio técnico e financeiro aos Municí-
para as crianças de até seis anos, estão: (a) os Ser- ção especializada e atendimento personalizado em so de inserção social, de superação de estigmas e pios para que estes realizem programas de ca-
viços do PAIF, que combina ações e serviços sócio- pequenos grupos, moradia transitória, casas lar, al- preconceitos e (e) encaminhamento para serviços pacitação de todos os profissionais, que traba-
assistenciais de prestação continuada, destinados bergues, famílias acolhedoras, entre outros, até que de acolhimento, quando necessário. lham em instituições de acolhimento (abrigos).
a assegurar a proteção social básica às famílias, (b) seja viabilizado o retorno à família de origem, ou 8. Ampliar a cobertura de atendimento do Pro-
o Programa Bolsa Família – PBF, (c) as ações co- encaminhamento para família substituta, quando Uma estratégia importante para enfrentar esses grama de Erradicação do Trabalho Infantil, er-
financiadas pelo Piso Básico de Transição – PBT e for o caso. problemas e avançar na solução que vem sendo radicando, até 2015, todas as situações de tra-
(d) o Serviço Sócio-educativo. dada é aperfeiçoar os mecanismos de integração balho infantil de crianças menores de seis anos.
2.4. Erradicação do Trabalho Infantil do SUAS com o Sistema Nacional de Atendimento
No atendimento às crianças e suas famílias são Sócio-educativo (SINASE) e com o Sistema de Ga-
priorizadas crianças com deficiência, procurando Embora o trabalho infantil afete poucas crianças rantia de Direitos
desconstruir preconceitos e romper a lógica da ins- menores de seis anos, onde ele ocorre deve ser
21. Para maiores detalhes, ver: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria
titucionalização. drasticamente extinto, em defesa do direito á in- de Estado dos Direitos Humanos. Departamento da Criança e do
fância. As crianças pequenas vítimas da violência Adolescente. Plano Nacional de Enfrentamento ao Abuso e
desse trabalho fazem parte da infância explorada19. Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Brasília, 2002.
19. Em 2006, havia 213 mil crianças entre cinco e nove anos
E também: CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA –
de idade no trabalho infantil (1,3% da população nessa faixa
CONANDA, CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CNAS.
etária (IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. PNAD
17. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária.
2006. Primeiras Análises. Demografia, educação, trabalho,
à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Norma Brasília, 2006.
previdência, desigualdade de renda e pobreza. Brasília/Rio de
Operacional Básica NOB/SUAS: construindo as bases para a 22. As metas constam do Plano Decenal de Assistência Social –
18. Unidade pública estatal, que atua como pólo de referência, Janeiro, setembro de 2007).
implantação do Sistema Único de Assistência Social. Resolução nº SUAS, 2007–2017 e são, aqui, ampliadas até 2022.
coordenador e articulador da proteção social especial de 20. Esse tema é detalhado no capítulo IV.9: Enfrentando as
130, de 15 de julho de 2005.
média complexidade; no qual são ofertados orientação, apoio Violências contra as Crianças.
especializados e continuados a indivíduos e famílias com direitos
violados. Os serviços têm a família como foco das ações, visando
potencializar a capacidade de proteção e socialização de seus
membros.
48 49
O Estatuto da Criança e do
atenção à criança em situação de vulnerabilidade Adolescente, em consonância com
acolhimento institucional, o preceito constitucional assevera
em seu artigo 19 que “toda criança e
família acolhedora e adoção adolescente tem direito de ser criado
e educado no seio de sua família”.
51
1. Diretrizes
do direito de brincar
ao brincar de todas
Um dos maiores desafios para toda entidade de
acolhimento é cuidar da criança em um espaço co-
letivo sem perder a dimensão de singularidade e in- 2. Profissionalizar o atendimento nos abrigos por
dividualidade de cada criança. Para atender a essa
diretriz, será necessário desenvolver a sensibilidade
meio de formação e capacitação continuada de
seus dirigentes, coordenadores, equipe técnica, as crianças
e capacidade de atenção da educadora em relação educadores e auxiliares.
ações
finalísticas
a cada uma das crianças sob seus cuidados.
3. Elaborar parâmetros de qualidade e monito-
Os objetivos em relação aos cuidados especiais nos ramento para os serviços de acolhimento ins-
abrigos derivarão de três eixos de mudanças de titucional contemplando não apenas aspectos
concepções, abaixo explicitadas, como diretrizes físico-estruturais dos abrigos e número máximo
atenção à criança em situação de vulnerabilidade
acolhimento institucional, família acolhedora e adoção
básicas em relação aos cuidados institucionais. de crianças por unidade, como também a ava-
liação do desenvolvimento global da criança
1. O abrigo como dever do Estado: do assistencialis- (dimensão física, psíquica e emocional) e do
mo à noção de direito do cidadão; trabalho com a família de origem.
2. O abrigo deve ser organizado para atender ao
desenvolvimento global das crianças que ali se 4. Garantir o efetivo trabalho com a família de ori-
encontram; gem da criança desde o momento da chegada
3. O abrigo, par ser medida provisória, deve prio- desta no abrigo.
rizar ações que promovam o retorno da criança
ao convívio familiar. 5. Acompanhar o processo de retorno da criança
à família, pelo menos por um ano após este re-
2. Objetivos torno ter ocorrido.
2.1. Objetivos gerais em relação às famílias 6. Elaborar parâmetros mínimos para a criação de
protocolos para avaliação e acompanhamento
Coerente ao pressuposto de que o abrigamento continuado da criança abrigada, garantindo-se
deva ser medida de exceção aplicada somente nos assim, a preservação de sua história e a atenção
casos em que, tendo o Estado efetivamente propi- singularizada.
ciado o apoio psicossocial à família, esta se mostra
impossibilitada de bem exercer sua função, aco- 2.3. Objetivos específicos em relação aos
lhem-se aqui objetivos gerais contemplados em Programas de Famílias Acolhedoras
outros tópicos deste Plano e que vão ao encontro
da necessidade de prevenir o abrigamento por meio 1. Promover campanhas para esclarecimento do
do fortalecimento das famílias. Programas Famílias Acolhedoras visando am-
pliar o número de famílias para o acolhimento.
2.2. Objetivos específicos em relação aos
cuidados nos abrigos 2. Capacitar profissionais para desenvolver a me-
todologia do Programa Famílias Acolhedoras.
1. Garantir, no prazo máximo de 2 anos, o cum-
primento das normas básicas de recursos hu- 3. Criar dotação orçamentária para pagamento
manos do MDS (NOB–RH) que indicam a ne- de subsidio financeiro às famílias acolhedoras.
cessidade de uma equipe técnica composta de
1 psicólogo e 1 assistente social para cada 20 2.4. Objetivos específicos em relação aos
crianças. processos de adoção
52
Toda criança tem o direito ao descanso
e ao lazer, a participar de atividades
de jogo e recreação apropriadas à sua • Oferecer espaços lúdicos que atendam às de-
idade e a participar livremente da vida mandas da infância e que contemplem a diver-
sidade cultural, de padrões de comportamento,
cultural e das artes. crenças e valores.
• Criar espaços lúdicos de interatividade, criativi-
ações
finalísticas Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança, da ONU
dade, expressão de desejos e opiniões e cons-
trução de valores coletivos, democratizando o
• Elaborar diretrizes que orientem a construção
de espaços formais de educação infantil, sendo
acesso a eles. Particular atenção deve ser dada um requisito indispensável a existência de áreas
à criação e ao acesso e uso desses espaços por externas com equipamentos condizentes com a
crianças com necessidades especiais. atividade lúdica da criança de até 6 anos.
do direito de brincar
ao brincar de todas as crianças
rincar é o melhor caminho para uma edu- • Valorizar a produção de conhecimento por • Envolver a comunidade em todas as etapas de
cação integral. Seus benefícios para a criança in- profissionais que atuam em atividades lúdicas, construção do espaço, possibilitando que ma-
cluem o desenvolvimento físico, cognitivo, emocio- bem como na área de bens culturais direciona- nifestem suas necessidades, principalmente as
nal e de valores culturais, bem como a socialização r ecusada. Profissionais da educação infantil, espe- dos às crianças. crianças e seus familiares, e capacitar represen-
e o convívio familiar. cialmente, devem contar, em seus cursos de for- • Formar profissionais que atuam diretamente tantes dessa comunidade para acompanhar o
mação, com meios que os possibilitem reviver a com a criança para compreenderem as etapas funcionamento ou desempenhar funções na-
Quando uma criança brinca, ela entra em contato brincadeira em si próprios. de desenvolvimento infantil e a relevância do queles espaços.
com suas fantasias, desejos e sentimentos, conhece ato de brincar. • Criar, nos dois primeiros anos deste Plano, edi-
a força e os limites do próprio corpo e estabelece O resgate da dimensão lúdica torna o adulto mais • Ampliar a discussão sobre a importância do tais específicos de incentivo à cultura, que esti-
relações de confiança com o outro. No momento sensível aos processos de desenvolvimento da brincar e a produção cultural para a primeira mulem, em lugares de baixo poder aquisitivo,
em que está descobrindo o mundo, ao brincar tes- criança, aproximando a teoria que estudaram da infância, visando formadores de opinião e to- projetos de trabalhos em arte para e com as
ta suas habilidades e competências, aprende regras prática que deve ser exercida. A partir dessa vi- madores de decisão. crianças.
de convivência com outras crianças e com os adul- vência, esses profissionais se sentem aptos a atuar • Promover a inserção do brincar nas políticas • Incluir nos programas de formação continuada
tos, desenvolve diversas linguagens e formas de ex- como mediadores no brinquedo e em outras ativi- públicas para a Educação Infantil. de professores e profissionais que atuam com
pressão e amplia sua visão sobre o ambiente que a dades infantis. crianças de até 6 anos, das três esferas governa-
cerca. Brincando, brincando, constitui sua identi- Metas mentais, conteúdos, informações e práticas que
dade sem se basear em um modelo único (às vezes É preciso, no entanto, precaução contra o uso de- os habilitem a perceber e valorizar, na realiza-
carregado de rótulos e preconceitos), pois tem a masiadamente instrumental da brincadeira, o que • Elaborar, no prazo de dois anos, um documen- ção de seu trabalho, o lúdico como forma de
oportunidade de experimentar as situações de ma- pode desfigurá-la, desencantando-a. A plenitude to referência que consolide as estratégias uti- desenvolvimento e aprendizagem da criança.
neiras diferentes daquelas vividas no mundo “real”. da brincadeira reside em sua espontaneidade, no lizadas pela sociedade civil e pelos programas • Criar oficinas do brincar, visando ao resgate e
caráter desafiador, no arrebatamento, no misté- governamentais direcionados a crianças de 0 a à vivência lúdica dos adultos que atuam com
Tudo isso enquanto se diverte. rio e na surpresa — precisamente aquilo que nela 6 anos, com programas, ações e boas práticas crianças de até 6 anos.
atrai, envolve e faz crescer. Também este cuidado de garantia do direito de brincar. • Realizar anualmente, em datas significativas
A brincadeira ocupa um papel decisivo nas rela- — o de equilibrar-se entre a brincadeira “solta” e • Fazer um levantamento de espaços públicos para os direitos da criança, campanhas de in-
ções entre a criança e o adulto. Atividades lúdicas a brincadeira orientada — deve ser aprimorado disponíveis, governamentais e das comunida- formação e sensibilização da sociedade, sobre a
em ambientes protegidos também diminuem a pelos profissionais, para que a educação infantil des, e prepará-los de forma adequada para que importância do brincar.
exposição das crianças aos riscos sociais, e as ins- seja bem-sucedida. sejam transformados em lugares do brincar das • Disseminar brinquedotecas nas comunidades
trumentalizam para reagirem de forma saudável a crianças de até 6 anos: espaços culturais, cine- de baixo poder aquisitivo, para ampliar e diver-
situações complexas e ameaçadoras. Objetivos mas, museus, praças, parques, entre outros. Au- sificar as oportunidades de interação das crian-
mentar gradualmente a oferta destes espaços. ças de até 6 anos com crianças de idades supe-
Apesar de o brincar ser um ato livre e espontâneo • Priorizar o direito ao brincar, considerando a riores, avós e outras pessoas da comunidade.
da criança, é preciso que o adulto o potencialize criança como sujeito desse direito, com suas Nessas brinquedotecas, sempre que possível,
para que alcance resultados mais profundos. Não necessidades e características próprias. deve existir um espaço de fabricação e conserto
se trata de, apenas, “deixar brincar”, como se a es- • Reconhecer o brincar como a forma privilegia- de brinquedos artesanais.
pontaneidade realizasse a plenitude do brinquedo. da de expressão da criança.
A mediação do adulto pode prolongar o caminho • Incentivar o lúdico como inesgotável conteúdo
trilhado pela criança. E essa função mediadora de aprendizagem da criança sobre si mesma,
requer preparação. É preciso resgatar a dimen- sua cultura e as relações com os outros, sem
são lúdica do adulto, muitas vezes esquecida ou que sua função subsidiária de recurso didático
ou procedimento para organizar o processo de
educação esvazie o verdadeiro sentido que ele
tem para a criança.
54 55
a criança Devemos somar forças para gerar uma
sociedade sustentável global baseada
e o espaço no respeito pela natureza, nos direitos
humanos universais, na justiça
a cidade e o meio ambiente econômica e numa cultura da paz.
Carta da Terra. Preâmbulo.
57
Os progressos que o Brasil tem feito nos últimos
anos na redução das desigualdades entre as Regi-
ões, entre pobres e ricos e no acesso a bens como
educação e saúde repercutem na melhoria das
condições ambientais e na qualidade de vida e de-
senvolvimento das crianças. No entanto, as ações, A presença das crianças na cidade mostra inúme-
nesse campo, devem associar-se a outras, indicadas ras possibilidades de construir e reconstruir os es-
neste Plano, que tomem a primeira infância como paços e equipamentos urbanos. Elas ensinam que
ações
finalísticas
foco. Entre essas ações estão as de saúde pública,
de educação infantil, de apoio às famílias, entre
A realidade social está dada: há um aumento do
tempo de permanência de crianças de 0 a 6 anos
estes podem ser utilizados de muitas maneiras
com diferentes funções.
outras. Qualquer reducionismo, nesse problema de idade dentro das instituições escolares, devido a
social complexo, revela-se inócuo e estéril24. inserção cada vez maior das mulheres no mercado Na multidão de estranhos que transitam diaria-
de trabalho. Assim, a criança participa e é inserida mente pelos espaços urbanos, os olhos não se cru-
a criança e o espaço
a cidade e o meio ambiente
2. A cidade no espaço público pela via da escolarização. zam, as pernas não param, as bocas não conversam 3. Sociedade sustentável
e o silêncio das palavras paira sobre uma cidade de
Às crianças são destinados dois espaços: a casa, ou É importante pensar em uma rede de integração sons ininterruptos. As cidades que tem crianças Esta seção aborda o direito da criança viver numa
o espaço privado, e instituições de acolhimento entre a escola e a cidade, através de uma proposta circulando e ocupando os espaços públicos vivem sociedade sustentável e participar de sua constru-
e atendimento, ou espaço público. Na cidade, há pedagógica que extrapole os muros da escola para a experiência inédita e reveladora do resgate das ção.
dois principais espaços destinados a elas: os par- utilizar o meio urbano e social como agente edu- relações entre as pessoas. As crianças são persona-
ques infantis e os estabelecimentos de educação cativo. Afinal, a escola não é a única via de apren- gens decisivos no espaço urbano: podem exercer 3.1. Sustentabilidade social, sustentabilidade do
infantil (creche e pré-escola), respectivamente dizagem, mas sim uma entre muitas possibilidades um papel humanizador da cidade. planeta Terra
como espaço do brincar e espaço educativo. Ou de se adquirir conhecimento. A escola integrada
seja, as crianças ocupam o lugar que os adultos com os espaços públicos – ruas, parques, praças, Para compreender a importância da presença das O desenvolvimento trouxe e continua produzindo
prescrevem, que a sociedade lhes reserva e que a museus – promove a participação e alfabetização crianças na cidade é preciso ver a cidade como um melhoria nas condições de vida da humanidade e é
administração simbólica lhes indica. urbana das crianças. espaço educador, com possibilidades de aprendi- o grande objetivo dos governos, dos cientistas, dos
zagens formais e informais. Todo e qualquer lugar, técnicos, dos trabalhadores, enfim, de todo o mun-
As crianças passam mais tempo nos espaços pri- Esta rede de integração se sustenta em três pilares espaço ou elemento urbano é potencialmente cul- do. Mas, no seu bojo, comportamentos que acaba-
vados do que nos públicos. Essa privatização da promovidos pela escola: conhecimento, ocupação, tural, histórico e educativo. Uma esquina, uma rua ram demonstrando-se adversos à vida, ameaçam o
infância oculta e restringe a condição social da participação e intervenção nos espaços e equipa- ou uma praça podem possibilitar aprendizagens próprio desenvolvimento. A lista desses comporta-
criança. mentos urbanos pelas crianças. O primeiro passo tão ricas quanto museus ou livros. mentos é enorme e continua crescendo em diver-
é possibilitar às crianças passeios urbanos para que sificação e gravidade: consumismo e desperdício,
Com o surgimento das escolas, a socialização e a conheçam os espaços e equipamentos urbanos de Não é pelo fato de as crianças falarem diferente destruição de florestas e nascentes de água, uso
aprendizagem das crianças, que antes aconteciam sua cidade. Na medida em que realizam estes pas- do adulto, utilizarem meios de expressões e lin- de produtos tóxicos na produção de alimentos e
no espaço público, numa troca intergeracional, seios, elas vão ocupando os espaços urbanos dan- guagens que próprias, que devem ser consideradas no controle de insetos, poluição e acúmulo de lixo,
passam a se dar predominantemente nos espaços do visibilidade a sua presença na cidade. A partir inaptas a participar e contribuir com a cidade. Pelo emissão de gases poluentes e destruição da cama-
específicos e segregados entre sujeitos pertencen- do momento em que as crianças conhecem a cida- contrário, por trazerem sua diferença e um outro da de ozônio, efeito estufa, aumento da tempera-
tes à mesma condição geracional: a infância. de, elas começam a participar e intervir nos espa- ponto de vista, são capazes de apontar uma outra tura e aceleração do degelo das calotas polares e
ços e equipamentos urbanos, participando da (re) perspectiva, de ver a cidade muitas vezes oculta geleiras, extinção de espécies da flora e da fauna,
A delimitação de lugares determinados para as criação da cidade. aos olhos dos a dultos. desequilíbrio na cadeia da vida…
crianças na cidade denuncia uma situação de ex-
clusão urbana da infância, já que elas não são vistas As ruas e praças como local da sociabilidade inter- As crianças estão nesse meio. Não apenas seu fu-
como atores sociais pertencentes e com direito à geracional desaparecem e passam a desempenhar turo depende de medidas que hoje sejam tomadas
cidade. Para reverter esta situação é preciso enxer- a função de uma ponte de ligação entre um espaço para aplicar o conceito de sustentabilidade, quan-
gar e tratar as crianças como sujeitos capazes de privado e outro, fazendo do espaço público um in- to seu presente já se encontra comprometido. Se é
24. Essa afirmação se baseia no documento Vigilância da Saúde
opinar, sugerir, criar e dar um rosto mais humano à terstício e um não-lugar. Ambiental – Dados e Indicadores Selecionados, 2006, do
justa a preocupação com a sobrevivência da huma-
cidade: soprando-lhe a vida de sua presença, seus Ministério da Saúde, e IDB 2007 Brasil – Indicadores e Dados nidade, é justo também voltar o olhar para a infân-
movimentos, suas vozes, sorrisos e brincadeiras. A relação lúdica e imaginativa que as crianças es- Básicos para a Saúde, editada pela RIPSA – Rede Interagencial cia, comprometendo-se a trabalhar pela qualidade
tabelecem com a cidade, atribuindo outros signifi- de Informações para a Saúde. Ministério da Saúde e OPAS – do ambiente para aquelas que estão chegando á
cados e usos aos espaços e equipamentos urbanos, Organização Panamericana de Saúde. vida.
precisa ser vista pelos adultos como ações criativas
e lúdicas da infância e não como transgressões, A maioria dos governos e das organizações da so-
ações não permitidas. ciedade já compreendeu que é preciso, urgente e
possível reverter esse caminho de autodestruição.
É preciso, entretanto, compreender que as crianças
estão nesse meio não apenas como vítimas
58 59
indefesas; elas estão como sujeito, capazes de con- 5. Objetivos e metas
tribuir, a seu modo e a seu tempo, na construção
de uma sociedade sustentável, de um planeta sus- 1. Determinar que as políticas que tratam dos es-
tentável e, com os adultos, celebrar a vida, com jus- paços urbanos dêem atenção às características
tiça, paz e alegria. físicas, sociais e de aprendizagem das crianças
de até seis anos de idade;
3.2. Educação ambiental
2. Estabelecer, em adequado instrumento legal,
ações
finalísticas
A problemática ambiental é uma das discussões
mais urgentes da nossa sociedade, uma vez que a
que os Planos Diretores das cidades prevejam
espaços públicos para as crianças que atendam
frequência com que ocorrem as novas formas de da indústria que já passaram pelo seu primeiro uso às necessidades e características das diferentes
agressão à natureza é cada vez maior. e finalidade. À medida que a educação ambiental idades (praças, brinquedotecas, postos de saú-
assume o processo de formadora de identidade de e de assistência, instituições de educação in-
a criança e o espaço
a cidade e o meio ambiente
O item 14 dos princípios da Carta da Terra, que cultural, o interesse por essas questões faz com que fantil, áreas de lazer coletivo etc.);
propõe sejam integrados, na educação formal e na a educação desperte para possíveis soluções para a
aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, problemática ambiental, concretizando um proje- 3. Determinar, por instrumento legal, que os pro-
valores e habilidades necessárias para um modo de to em defesa do meio ambiente. jetos de loteamento reservem espaços próprios
vida sustentável, recomenda: “Prover a todos, espe- para equipamentos sociais que atendam aos
cialmente a crianças e jovens, oportunidades edu- A educação ambiental começando na educação direitos das crianças à saúde, assistência, educa-
cativas que lhes permitam contribuir ativamente infantil é a melhor maneira de estimular a prática ção e lazer;
para o desenvolvimento sustentável.” de atitudes e a formação de novos hábitos com re-
lação à utilização dos recursos naturais e favorecer 4. Incentivar a realização de atividades abertas, ao
Na lei 9.795/99, que institui a Política Nacional de a reflexão sobre a responsabilidade ética com o ar livre, nas cidades, especialmente nos bairros,
Educação Ambiental – PANEA, a promoção da Planeta. vilas, favelas ou áreas de escassas oportunida-
educação ambiental é colocada como obrigação des e espaços de lazer;
de todos os segmentos da sociedade e da edu- 4. Ações
cação formal e informal. Ela deve ser promovida 5. Incluir nos cursos de formação de professores
desde a educação infantil, de forma transversal e O Estatuto da Cidade tem como uma das suas di- o estudo sobre as questões relativas à susten-
multidisciplinar, evitando ser tratada como uma retrizes a garantia do direito a cidades sustentáveis, tabilidade da sociedade e ao desenvolvimento
disciplina isolada e à parte dos valores e das atitu- entendido como direito à terra urbana, à moradia, de práticas de educação de crianças de até seis
des cotidianas da vida. ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, anos sobre essa temática;
ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e
O currículo da educação infantil geralmente inclui ao lazer, para as gerações presentes e as futuras, de 6. Realizar oficinas com profissionais que defi-
duas áreas de trabalho relacionadas ao ambiente: acordo (art, 2º, inciso I). Entre as ações do Estado nem, criem, organizem, administrem espaços
(a) conhecimento, por meio de experiências con- para garantir um ambiente com qualidade de vida (arquitetos, urbanistas, designers de interiores,
cretas, da natureza e dos problemas que a estão para as crianças, estão: especialistas em meio ambiente etc.) visando à
afetando e (b) ressignificação de materiais, pela criação e ao desenvolvimento de projetos que
transformação e reutilização. 1. A formulação e aplicação de políticas de ocu- respeitem a presença e participação dos cida-
pação e uso do espaço que atendam aos direi- dãos de até seis anos de idade;
A primeira área é relativamente recente e consiste tos de moradia, saúde, segurança, movimento,
em explorar e conhecer os espaços naturais. A se- brinquedo; 7. Elaborar diretrizes que orientem a construção
gunda é a reciclagem de materiais da natureza ou 2. Ações diretamente voltadas à melhoria das de espaços lúdicos para a criança de zero a seis
condições de moradia das famílias sem renda anos;
ou de renda insuficiente para possuir, com re-
cursos próprios, uma moradia digna; 8. Ampliar/criar ofertas de disciplina na formação
3. Saneamento básico; dos Arquitetos engenheiros, urbanistas, paisa-
4. Educação ambiental (educação para uma so- gistas, relativas à infância;
ciedade sustentável);
5. Campanhas de conscientização e formação 9. Promover uma rede de integração entre a es-
de comportamentos em relação à proteção cola e a cidade, possibilitando a participação
e restauração a terra, ao meio ambiente, ao urbana das crianças.
consumo.
60 61
atendendo a Assegurar o direito à diferença implica
o respeito às personalidades e aos
projetos individuais da existência, bem
diversidade como a consideração e valorização dos
diferentes saberes e culturas.
crianças negras, quilombolas e indígenas
63
Saúde
Projetos que visam trabalhar com a educação das 2. Divulgar pesquisas que apontam o cunho dis- odem ou não fazer. Há uma intensa rede de rela-
p
relações étnico-raciais questionam estereótipos de criminatório de algumas práticas em saúde cionamentos exclusivos das crianças, que envolve
ações
finalísticas
beleza, padrão de humanidade, fontes de conhe-
cimentos únicas. Essas vivências contribuem para
(por exemplo, o menor tempo nas consultas
pediátricas com mães e filhos negros).
ensino-aprendizagem, brincadeiras e responsabili-
dades. Em geral, as crianças maiores são responsá-
a construção de uma autoestima positiva pela cri veis pelo cuidado das menores, numa cadeia que
ança negra e possibilita à criança branca repensar 3. Divulgar para os profissionais de saúde de chega aos bebês. É comum haver grupos compos-
Torna-se importante destacar que apesar da re- valores e concepções. modo geral, independente de sua formação, as tos apenas por crianças, cuidando-se, educando-se
atendendo à diversidade
crianças negras, quilombolas e indígenas
conhecida importância das condições socioeco- fragilidades de saúde dos negros (por exemplo, e divertindo-se entre si. Essas responsabilidades
nômicas para as condições de saúde, elas por si 1.1 Objetivos e metas anemia falciforme e hipertensão). não vêm em oposição ao “ser criança”, o lúdico não
só não explicam algumas desigualdades. É reco- é antagônico à aquisição de responsabilidades e
nhecido que a mortalidade infantil no Brasil vem Educação 2. Crianças indígenas à importância da realização de pequenas tarefas.
apresentando queda significativa nas últimas dé- Como agentes de suas próprias relações, partici-
cadas, contudo ao ser desagregados por cor, os da- 1. Promover, sistemática e continuamente, nas Os povos indígenas como um todo, em especial pando de maneira plena da vida comunitária, as
dos revelam a desigualdade nas mortes de crian- instituições de educação infantil, estudos, de- as crianças indígenas, permanecem como sujeitos crianças também têm sua contribuição. Colaborar
ças negras e brancas. Mulheres negras são menos bates e pesquisas, com a participação da co- invisibilizados nas políticas públicas. Enquanto a com a vida da parentela é próprio do aprender a
cuidadas durante seu período gestacional, o que munidade, sobre a diversidade étnico-racial e Constituição brasileira sublinha a diversidade e a “ser índio”, no sentido de tornar-se um humano
leva a maiores riscos a mãe e ao bebê. A política o papel da educação infantil na promoção da multiculturalidade que nos constitui como nação, para os seus.
de promoção da igualdade racial, formulada e im- igualdade. os povos tradicionais inseridos no território, ago-
plementada a partir de 2003 vem mudando esse ra nacional e outrora originário, são cercados pelo A faixa de idade até seis anos corresponde à fase
quadro, principalmente na saúde, na educação e, 2. Rever os currículos, propostas pedagógicas processo colonizador. em que a educação das crianças ocorre prioritaria-
na cultura, mas ainda persistem situações dado seu e materiais didáticos da educação infantil de mente na vida familiar e comunitária. Por volta dos
enraizamento histórico. sorte a que não incorram em discriminação Para visualizar as crianças indígenas, é mister per- cinco anos, algumas começam a ser inseridas na
étnico-racial, 3. Incluir nos cursos de formação ceber os limites da aplicação da noção de infância educação formal fornecida pelo Estado. Contudo,
Deste modo, quer nos processos educacionais, inicial e educação continuada dos profissionais em seus respectivos povos. Uma criança que nasce estes limiares etários não são um bom parâmetro
quer nos de saúde, o racismo é reproduzido e per- da educação infantil as questões relativas às não é logo feita humana. Ela passa por um longo para caracterizar as realidades indígenas.
petuado, atingindo de forma perversa e intensa crianças negras, capacitando-os para a reedu- processo de transformação e adaptação de seu
a criança negra no período da primeira infância. cação das relações étnico-raciais. corpo para que mostre desenvoltura na vida social. Considerando que as crianças inseridas na rede
Combater os mecanismos de manutenção das de- de ensino estadual recebem a merenda escolar, é
sigualdades étnico-raciais é trabalhar por uma so- 3. Incluir nos cursos de formação inicial e educa- A “primeira infância” seria mais elástica para os importante considerar que essa alimentação seja
ciedade justa e equânime para todos. ção continuada dos profissionais da educação povos indígenas, não se restringindo à idade nem oferecida com a variedade, na quantidade e com
infantil as questões relativas às crianças negras, ao imaginário da infância como uma etapa da vida adequação às realidades alimentares de cada povo.
Dois contextos – o educacional e o de saúde – me- capacitando-os para a reeducação das relações limitada ao lúdico, à inocência ou à carência de co- Ela cresce em importância dada a desnutrição pre-
recem uma consideração especial, dado seu papel étnico-raciais. nhecimentos. sente em comunidades indígenas e o alto índice de
na produção e reprodução do racismo, bem como mortalidade infantil, a ela associada. O Programa
na reeducação das relações étnico-raciais e de 4. Na aquisição de brinquedos e outros materiais O processo de aprendizagem é direcionado pela Nacional de Alimentação Escolar – PNAE teve re-
atendimento que respeita o princípio da igualdade. pedagógicos para a educação infantil por parte autonomia de cada criança em buscar o que quer cente modificação que determinou adequação aos
do Governo (ex. no Programa Nacional de Ma- saber e compreender. Não há uma pedagogia padrões alimentares dos povos indígenas e comu-
A educação infantil deve possibilitar o aprendi- terial Didáticos), incluir bonecas negras, perso- punitiva, que castiga e coage. As crianças apren- nidades quilombolas27.
zado das relações étnico-raciais de forma lúdica, nagens negros e jogos expressivos da diversida- dem rapidamente o que é perigoso ou não, o que
pois o brincar é o eixo da prática pedagógica. É por de étnica, sem discriminação de raça ou cor.
meio dela que as diferentes culturas passam a ser
conhecidas, compreendidas e integradas na visão 5. Oferecer incentivo à produção e à divulgação
27. Lei 11.947, de 16 de junho de 2009. Desde o ano de 2003,
da criança. A cultura se torna viva nas canções, nas de pesquisas voltadas para a diversidade huma- as escolas que têm alunos indígenas recebem um valor per
brincadeiras, nos jogos, nas danças e nas produ- na, com ênfase na população negra. capita para a merenda escolar 100% superior ao da merenda das
ções artísticas. A cultura afrobrasileira, bem como crianças não indígenas e por um período de 200 dias/ano.
outras culturas, entra no cenário das instituições
de educação infantil por meio dos contos, das his-
tórias dos mais velhos.
64 65
Atualmente, o problema da segurança alimentar
encontra-se ligado à questão da terra cujos efeitos
secundários são uma mudança na vida comunitá-
ria como um todo. Os índios e suas crianças ficam
reféns de uma comida que “não alimenta como an-
tigamente” – como a carne adquirida por meio da
compra e não pela caça, que é “remosa”, é “fraca”. 2.1. Diretrizes
Reféns dos banhos que não são na água corren-
ações
finalísticas
te dos rios que “envelhecem” e “adoecem”. Reféns
de uma terra poluída com agrotóxicos, “morta”,
1. Rever e atualizar as Diretrizes Curriculares Na-
cionais de Educação Escolar Indígena, de 1999, do
que não gera mais os frutos e animais que antes Conselho Nacional de Educação, incluindo a Edu-
existiam. cação Infantil, contando com a experiência de pes-
soas que atuam nessa área.
atendendo à diversidade
crianças negras, quilombolas e indígenas
A adoção de crianças indígenas tem sido objeto 3. Os cursos de formação de docentes indígenas e
de polêmica, que a Lei 12.010, aprovada em agosto seu impacto na aprendizagem das crianças peque-
de 2009, pretende dirimir. Ela insere um novo ca- nas devem ser avaliados conjuntamente pelo go-
pítulo no ECA, regulamentando essa questão, A verno e representações indígenas.
Convenção nº 169 da OIT, sobre povos indígenas e
tribais em países independentes, determina que os 4. Cabe ao Estado orientar e auxiliar os povos indí-
governos devem consultar os povos interessados, genas a formular as Diretrizes para a formação de
mediante procedimentos apropriados e, particu- seus professores de educação infantil sempre res-
larmente, pelas suas instituições representativas, peitando o conjunto de referências conceituais e
sempre que tenham em vista medidas legislativas pedagógicas que se vêm firmando como consenso
ou administrativas capazes de afetá-los direta- entre os povos indígenas e as instituições forma-
mente (art. 6º). O art. 231 da Constituição Federal doras.
expressa o mesmo princípio, ao reconhecer “aos
índios sua organização social, costumes, línguas, 2.2. Objetivos e metas
crenças e tradições…”.
1. Criar novos cursos de formação de professores
No caso específico das crianças indígenas, o Plano de educação infantil, contemplando as especifici-
Nacional pela Primeira Infância propõe que se dades culturais da criança indígena.
ouçam as mulheres das diferentes comunidades,
pois elas são as articuladoras diretas do trato com 2. Criar novas estratégias para capacitação de pro-
as crianças, especialmente na fase inicial da vida. fessores de educação infantil que já atuam em tur-
Além delas, um trabalho em conjunto com os mas de crianças indígenas.
Agentes Indígenas de Saúde (AIS) também é im-
portante. São eles os principais canais para veicular 3. Estabelecer programas de atendimento e de edu-
as demandas específicas das crianças de cada povo, cação de crianças indígenas fiéis e coerentes com
atendendo a realidades diferenciadas. uma visão de infância específica, única, repleta de
particularidades, próprias da cultura de cada povo.
referencial conceitual e marco legal seguintes princípios: (c) Atualização permanente dos profissionais
que atuam junto à criança de até seis anos
A Organização Mundial de Saúde afirma que vio- oficiais. A participação começa no escutar e levar 1. Reconhecimento da criança como sujeito de visando prevenir, identificar, tratar e enca-
lência é o uso da força física ou do poder real ou em em consideração as opiniões e desejos da criança. direitos; minhar os casos de violência.
ameaça contra si próprio, contra outra pessoa ou 2. Valorização e promoção da participação infan-
contra um grupo ou uma comunidade, que resul- Este capítulo se refere às violências que ocorrem til; 2. Promoção de ambientes seguros e qualidade de
te ou tenha qualquer possibilidade de resultar em nos espaços de socialização da criança, ou seja, in- 3. Valorização das capacidades e competências vida que incluem:
lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desen- trafamiliar, institucional e comunitária. As diferen- das famílias na resolução de seus próprios con-
volvimento ou privação. tes formas de violência são assim conceitualizadas flitos e problemas; (a) Fortalecimento e integração de políticas de
quanto à sua natureza: 4. Primazia da responsabilidade do Estado no fo- atenção à família: planejamento familiar,
Quando se trata de direitos humanos, estabelece- mento de políticas púbicas integradas para o pré-natal, pós-natal, creches públicas, saúde
se uma relação entre esses sujeitos de direitos e os Violência física: qualquer ação ou omissão, enfrentamento às violências; mental, e demais serviços e atendimento à
responsáveis por assegurá-los – a família, o Estado única ou repetida, não acidental, capaz de pro- 5. Promoção da Cultura da Paz. primeira infância;
e a sociedade. Apesar de a legislação brasileira ser vocar dano físico, psicológico, emocional ou in- (b) Articulação do setor saúde com outros se-
uma das mais avançadas no mundo em relação à telectual contra a criança. O dano provocado 3. Objetivo tores governamentais e com a sociedade em
proteção das crianças (Constituição Federal e Es- pode variar de uma lesão leve à consequência geral, inclusive para cumprimento da notifi-
tatuto da Criança e do Adolescente, bem como os extrema da morte. Proteger as crianças de até seis anos contra todas cação compulsória, prevista no Estatuto da
tratados internacionais dos quais o Brasil é signatá- as formas de violência que coloquem em risco a Criança e do Adolescente;
rio), as leis que expressam essa proteção não estão Violência psicológica: é toda a ação que causa sua integridade física e psicológica, nos âmbitos (c) A integração da rede de atendimento do se-
presentes no cotidiano de uma parcela significativa ou pode causar dano à autoestima, à identida- familiar, institucional e comunitário, por meio de tor saúde com o setor jurídico (promotorias
da população infanto-adolescente. de ou ao desenvolvimento da pessoa. Dela fa- recomendações que visem o fortalecimento e a públicas, delegacias especializadas, varas da
zem parte as ameaças, humilhações, agressões efetiva operacionalização do Sistema de Garantia justiça, conselho tutelar e instituições liga-
A violência praticada na família constitui a maior verbais, cobranças de comportamento, discri- de Direitos (SGD). das à universidades que prestam servidos de
parte dos registros de violência contra a criança. A minação, isolamento, destruição de pertences advocacia);
violência intrafamiliar, manifestada por acidentes e ou objetos de estima e apego para a criança. 4. Recomendações gerais
agressões, representa a primeira causa de morte de 3. Fortalecimento do Sistema de Informação para
crianças de um a seis anos no Brasil28. Cerca de 200 Negligência: é a omissão de responsabilidade As recomendações do Plano Nacional pela Pri- Infância e Adolescência – SIPIA. O SIPIA, cria-
mil crianças e adolescentes declararam ter sofrido de um ou mais membros da família em relação meira Infância para o enfrentamento das violên- do em 1997, com base no ECA, visando gerar
agressão física e, em 80% dos casos, os autores de às crianças, quando deixam de prover as neces- cias contra a criança pequena estão pautadas na informações, para subsidiar a adoção de deci-
violência eram parentes e conhecidos29. sidades básicas para seu desenvolvimento físi- valorização de relações dialógicas de cooperação sões governamentais sobre políticas para crian-
co, emocional, social ou cognitivo. e negociação entre a criança, seus pares e adultos. ças e adolescentes, garantindo-lhes acesso à
A participação da criança desde a primeira infân- pretendendo que este modelo oriente e subsidie cidadania.
cia nas ações que visem enfrentar a violência in- Violência sexual: o abuso sexual é descrito as políticas públicas articuladas para a primeira
trafamiliar e suas consequências é uma estratégia como toda situação em que uma criança é uti- infância, visando garantir o fortalecimento de
fundamental para a construção de uma política lizada para gratificação sexual de outra pessoa, identidade de meninos e meninas como atores
efetiva. Essa participação deve ocorrer nas rela- geralmente mais velha. Ele é cometido através sociopolíticos.
28. De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade
ções de convivência familiar e comunitária, como da força, engano, suborno, violência psicológica (SIM), Ministério da Saúde in UNICEF, 2005, p. 21 e 22.
também nas políticas públicas e nos programas ou moral. A exploração sexual é caracterizada 29. Segundo o livro Impacto da Violência na Saúde dos
pela relação sexual de uma criança com adul- Brasileiros (2005), publicado pela Secretaria de Vigilância em
tos, mediada pelo pagamento em dinheiro ou Saúde, do Ministério da Saúde. (UNICEF, 2005, p. 22).
68 69
4. Reconhecimento dos castigos físicos e humilhan-
tes como formas de violência contra a criança, assegurando o documento de
sendo, portanto, uma violação aos seus direitos
fundamentais com impacto no desenvolvimen- cidadania a todas
as crianças
to infantil saudável.
1. Estímulo à participação infantil nas decisões 2. Adoção de estratégias de prevenção que levem
dos estabelecimentos educacionais e institui- em conta as potencialidades dos atores envolvi-
ções que frequentam; dos no processo, privilegiando o fortalecimento
das capacidades e competências da família;
2. Transformação dos estabelecimentos educa-
cionais em polos de prevenção – ponto de re- 3. Estímulo à participação infantil nas decisões e
ferência e integração entre unidades de saúde, espaços da comunidade, por meio de consulta
comunidades e o ambiente estudantil; com as crianças até os seis anos de idade.
70
A criança será registrada
imediatamente após seu nascimento e
terá direito, desde o momento em que
nasce, a um nome, a uma nacionalidade
e, na medida do possível, a conhecer 6. No âmbito da cultura: incluir orientações aos
pais nos materiais informativos dos órgãos de
seus pais e a ser cuidada por eles. cultura;
ações
finalísticas
A Campanha e a Semana Nacional de Mobilização
para o Registro Civil de Nascimento têm contri- 7. No âmbito do esporte: incorporar, em seus ma-
Art. 7º da Convenção sobre os Direitos da Criança. buído para registrar expressivo número de pesso- teriais informativos, orientação às famílias pro-
as, de todas as idades. Para aumentar seu efeito, é movendo a sensibilização social nas programa-
importante que sejam orientadas para as localida- ções esportivas destinadas às populações em
assegurando o documento
de cidadania a todas as crianças
72 73
protegendo as crianças
13. No âmbito da segurança: (a) imprimir e distri-
contra a pressão
consumista
buir folhetos informativos sobre registro civil
e instalar estandes em postos policiais e dele-
gacias e serviços de assistência às famílias dos
detentos em cadeias municipais.
ações
finalísticas Sempre que necessário, organizar mutirões para o
registro civil em locais de maior incidência de sub-
registro ou de difícil acesso, promovendo o deslo-
camento gratuito de serviços cartoriais, em articu-
assegurando o documento
de cidadania a todas as crianças
lação com cooperativas, associações, organizações 4. Criar estruturas que garantam o bom funciona-
sindicais etc. mento dos cartórios;
74
A educação deve ajudar o
homem a inserir-se criticamente no
processo histórico e libertar-se pela
conscientização da síndrome do ter e
da escravidão do consumismo.
ações
finalísticas Paulo Freire.
3. Promover a reflexão, com os educadores, sobre
os valores e hábitos da sociedade de consumo e
de seus próprios hábitos de consumo.
decisórios das compras da família, segundo pes- As crianças brasileiras estão entre as que mais as-
quisa da Interscience30. sistem televisão no mundo. Segundo dados do Ibo- 2. Sensibilizar os educadores e os estabelecimen-
pe – 200831, a média de horas que as crianças das tos de educação infantil para a questão do con-
classes A, B e C passam na frente da “telinha” é de sumismo na infância e a sustentabilidade do
4 horas, 54 min e 19 segundos – o que significa que planeta.
elas ficam mais tempo do seu dia em frente às telas
do que na escola.
76 77
controlando a exposição precoce de Estar parado diante da TV
vai na contramão do processo de
crianças aos meios de desenvolvimento na primeira infância,
pois a criança pequena aprende por
comunicação meio do corpo, do movimento,
da atividade.
Análise da situação
Com a entrada da mulher no mercado de trabalho,
e considerando o caso de o pai também estar em- a ssociações. Pesquisas sobre os efeitos neurofisio-
pregado, ambos passam a maior parte do dia fora lógicos da assistência à televisão mostram o eletro-
de casa. Além disso, a mãe arca, frequentemente, encefalograma em baixa atividade. A falta de movi-
com uma dupla jornada, pois tem que se ocupar mentos dos olhos ao ver televisão revela um estado
das atividades domésticas. Com isso, as crianças, de semi-hipnose.
principalmente na faixa etária de quatro meses a
três anos, por falta de creches, ficam cada vez mais Não raro, as crianças assistem a uma programação
sozinhas ou sob os cuidados de irmãozinhos, tias, televisiva não apropriada para a sua faixa etária,
avós, empregadas domésticas ou vizinhas. Em casa, provocando desejos, atitudes, comportamentos
passam grande parte do tempo diante da televisão, próprios de idades superiores. Isso contribui para o
já apelidada de “babá eletrônica”. TV, computador fenômeno da “adultificação” das crianças, além da
e aparelhos de jogos eletrônicos estão preenchen- erotização precoce, do estresse e do consumismo.
do um número cada vez maior de horas diárias das
crianças. O “medo da rua”, por causa da violência A exposição precoce à TV tem sido reforçada pela
urbana, restringe, ainda mais, o uso de espaços de veiculação de canais exclusivos para crianças, que
convivência e lazer, como parques infantis, praças, se anunciam como a melhor alternativa por ter um
ruas e calçadas, brinquedotecas. conteúdo criado especialmente para elas. Em razão
disso, muitos pais têm optado por deixar seus filhos
As crianças estão ficando diante da televisão cada assistirem TV mesmo quando ainda muito peque-
vez mais tempo e a partir de idade cada vez me- nos. Inobstante seu conteúdo voltado à primeira
nor. Estar parado diante da TV vai na contramão infância, esses canais não primam pelo respeito às
do processo de desenvolvimento na primeira in- etapas e características do desenvolvimento in-
fância, pois a criança pequena aprende por meio fantil e não estão livres dos apelos comerciais. Eles
do corpo, do movimento, da atividade. Ela precisa são um convite para que as crianças entrem cada
movimentar-se, experimentar, descobrir e criar a vez mais cedo no mercado de consumo, seja pelas
partir da manipulação de objetos, enfim, ela pre- mensagens publicitárias, seja pelo merchandising.
cisa brincar. Assim ela constrói a sua identidade, a
autoconfiança, a iniciativa, o interesse pelo mun- Constata-se uma tendência de criação de canais
do ao seu redor. E todas essas são precondições do de televisão exclusivos para crianças de zero a
aprendizado escolar posterior. três anos. Os defensores dessas TVs e programas
argumentam que, como as crianças assistirão TV
Grande parte dos estudos e pesquisas indica que a de qualquer maneira, o melhor é que vejam uma
exposição precoce à TV pode causar danos ao de- programação especialmente desenvolvida para sua
senvolvimento e à aprendizagem32. faixa etária.
79
2. Objetivos e metas
1. Promover o debate sobre a exposição precoce
de crianças à mídia em todos os setores da so- evitando acidentes
No entanto, a exposição precoce e extensa de
crianças pequenas à TV recebeu diversas críticas
de especialistas33. Embora há tempo estes venham
debatendo sobre sua nocividade na infância em
ciedade, mas especialmente dentro das associa-
ções médicas, de psicólogos, de professores;
cana de Pediatria recomenda que nenhuma crian- 3. Auxiliar os educadores a conscientizar os pais
ça menor de 2 anos de idade assista TV35. acerca dos males que o excesso da mídia pode
causar, bem como informar os educadores
Alguns programas preconizam ser uma boa opção sobre propostas alternativas à TV, ao computa-
educacional para os bebês, porque a programação dor e ao vídeo game que podem e devem ser
especialmente elaborada para eles favoreceria o estimuladas nas crianças (brincadeiras estimu-
aprendizado (por meio de repetições, apresenta- lem o movimento e a imaginação, como “faz-
ção de cores, formas etc.). Sobre essa firmação há de-conta”, excursões, teatros de bonecos, de
o contra-argumento de diversos estudos de que os fantoches, ao ar livre etc.);
bebês aprendem mais com experiências reais do
que com o que vêem na televisão. A habilidade de 4. Proibir a existência de TVs em creches, bem
crianças de 12, 15 ou 18 meses de imitar sequên- como regulamentar o seu uso nas pré-escolas,
cias de várias etapas, como agitar um chocalho a sempre dentro da função de meio pedagógico;
partir de imagens televisionadas, é mais lenta que a
habilidade de aprender a partir de eventos obser- 5. Articular as ações descritas neste capítulo às
vados ao vivo. A interação com outra pessoa é um da educação infantil, especialmente às que se
meio mais eficaz de aprender do que ver passiva- referem à expansão dos estabelecimentos edu-
mente cenas, imagens e objetos e ouvir comandos cacionais para as crianças de 0 a 6 anos;
numa tela de televisão.
6. Promover debates públicos sobre a qualidade
As crianças pequenas são aprendizes sensoriais: da mídia dirigida às crianças, buscando-se o
precisam de interações com o mundo real. Preci- compromisso das emissoras com programas
sam tocar, sentir, ver, ouvir, explorar objetos e ter educativos e que respeitem as etapas e caracte-
contato com pessoas e animais36. E como a apren- rísticas do desenvolvimento infantil.
dizagem nos primeiros anos de vida é integral, inte-
grada ou global, a manipulação de objetos (puxar,
empurrar, apertar, sentir o cheiro e a textura de
objetos etc.) promove simultaneamente o desen-
33. Bebés que vêem muita TV correm riscos –
volvimento afetivo, cognitivo e motor. A televisão http://dn.sapo.pt/2007/05/01/sociedade/
não é capaz de oferecer essas experiências. bebes_veem_muita_televisao_correm_ri.html
(acessado em 10/01/2008)
Em vista disso, é importante e urgente que o tema 34. Ver: Linn, Susan. Crianças do Consumo: a infância
da exposição precoce à TV e do tempo cada vez roubada. Tradução, Cristina Tognelli. São Paulo: Instituto Alana,
2006. Página 77.
mais extenso diante dela nos anos iniciais da vida
35. AAP Discourages Television for Very Young Children
seja colocado na agenda pública de debates na so- http://www.aap.org/advocacy/archives/augdis.htm e
ciedade brasileira e se torne objeto das políticas http://www.aap.org/advocacy/releases/oct05studies.htm
públicas e da atividade legislativa. (acessado em 10/01/2008);
http://kidstvmovies.about.com/od/childrenstvnewsinfo/a/
babytvdvd.htm Babies and TV (acessado em 10/01/2008).
36. Farta bibliografia é citada na versão complete do PNPI sobre
as pesquisas que fundamentam essas afirmações.
80
os acidentes são consequências de Ações que previnam atropelamento, afogamento
da mortalidade infantil, com ações fundamentais damente com seus respectivos objetivos e metas. cipais causas dessa morbidade e de seus agen-
de melhoria da qualidade de vida das famílias e, tes causadores, servindo de base para tomada
especificamente, das crianças. Contudo, há uma Segundo aquele relatório, 95% das cerca de 850 mil 3.1. Na área da saúde de decisões em políticas públicas.
área que vem recebendo atenção precária – a pre- mortes de crianças por acidentes no mundo acon-
venção de acidentes após o primeiro ano de vida, tecem em países em desenvolvimento. Nesses paí- A prevenção de acidentes na primeira infância 3.2. Na área da educação infantil
quando a criança fica mais exposta a eles. ses, as crianças vivem em condições mais perigosas deve ser adotada como tema de saúde pública.
– residem em casas com maior risco de incêndios, Nesse contexto, Ampliar a oferta de educação infantil também é
As Lesões Não Intencionais – LNI, popularmente janelas desprotegidas, parapeitos e escadas sem uma importante estratégia para diminuir a proba-
conhecidas como acidentes, e que na área médi- segurança, além de locais de trânsito intenso. Tal 1. Orientar e sensibilizar os pais e responsáveis bilidade de que crianças até seis anos sofram lesões
ca são chamadas de traumas, são uma das maiores descrição pode ser aplicada à realidade brasileira. por crianças sobre prevenção de acidentes des- não intencionais. Nesta perspectiva, e em conso-
vilãs na primeira infância. A dimensão do proble- de o início da gestação. nância com os princípios de escolas promotoras de
ma ressalta do seguinte dado: entre os anos 2000 O problema também se reflete no alto número saúde:
e 2007, mais de 25 mil meninos e meninas morre- de internamento nos hospitais públicos. Em 2005, 2. Incentivar a associação, por meio da Caderne-
ram antes de completar seis anos de idade, vítimas mais de 35 mil vítimas de acidentes com menos de ta de Saúde, da prevenção de acidentes com o 1. Enfatizar, nos padrões de construção, infra-es-
de acidentes. Dentre as principais causas estão os quatro anos de idade deram entrada na Rede SUS40. acompanhamento do crescimento e desenvol- trutura e funcionamento, que os espaços físi-
acidentes de trânsito – pedestres, ocupantes de Estima-se que esses dados representem cerca de vimento. cos públicos e privados para o atendimento de
veículos e ciclistas –, afogamento, sufocação, quei- 70% do total de internamento41. crianças sejam adequados ao estágio e processo
madura, queda e intoxicação37. 3. Reforçar a temática da prevenção de acidentes de desenvolvimento psicomotor e à vulnerabili-
Considerar apenas os fatores socioeconômicos se- na qualificação e sensibilização das equipes de dade de seus usuários em relação às lesões não
A Política Nacional de Redução da Morbimortal- ria reducionista. Conhecer as particularidades do atenção básica para a realização de visitas do- intencionais.
diade por Acidentes e Violências38 enfatiza que desenvolvimento infantil também é um bom ca- miciliares desde a primeira semana de vida.
as causas externas – acidentes e violências – são minho para compreender porque as crianças, prin- 2. Estimular a inclusão da temática “prevenção
responsáveis pelo maior número de anos poten- cipalmente as com menos de seis anos, estão em 4. Realizar campanhas educativas, informativas e de acidentes na infância” com visão interdisci-
ciais de vidas perdidas (APVP). Vale salientar que, maior risco de sofrer acidentes. de comunicação à população, abordando a im- plinar nas diretrizes curriculares nacionais e nas
de acordo com dados do Ministério da Saúde, das portância da prevenção de acidentes para uma propostas pedagógicas dos estabelecimentos
3.299 crianças de zero a seis anos mortas por cau- 2. Diretrizes infância saudável. de educação infantil.
sas externas (BRASIL, 2007), 86% foram vítimas de
acidentes, 6% de violências e, em 8%, a intenção As decisões e ações para prevenir acidentes na pri-
não foi determinada. meira infância devem pautar-se pelos princípios e
diretrizes deste Plano no que diz respeito ao olhar
37. Ministério da Saúde - DATASUS 40. Estudo de Mortalidade e Hospitalizações por Acidentes
Mais do que fatalidades ou tragédias do destino, que se propõe para a criança. As diferentes ações 38. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por com Crianças no Brasil, coordenado pela ONG CRIANÇA SEGURA
os acidentes são consequências de causas multifa- que visem a evitar acidentes na primeira infância Acidentes e Violências (BRASIL, 2001, p.4). e realizado pela Dra. Maria Helena de Mello Jorge, da Faculdade
cetadas: relacionadas à moradia, à falta de espaços têm que estar em consonância com os princípios e 39. World Report on Child Injury Prevention, desenvolvido de Saúde Pública da USP, Dra. Maria Sumie Koizumi, da Escola
de lazer, à precariedade do sistema de saúde e de ações de promoção da saúde42, com o conceito de pela Organização Mundial da Saúde e UNICEF. Disponível em: de Enfermagem da USP, e a mestranda Vanessa Luiza Tuono, da
Faculdade de Saúde Pública da USP. Foram utilizadas fontes de
educação. Esse somatório letal tem maior ocorrên- escola promotora de saúde. http://www.who.int/violence_injury_prevention/child/injury/
world_report/en/index.html dados do IBGE e do Ministério da Saúde, por meio do Sistema
cia na população de baixa renda, como constatou de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e do Sistema de
o relatório mundial sobre prevenção de acidentes O ECA afirma a importância de iniciativas neste Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
na infância39, de 2008, da OMS/UNICEF. sentido: “a criança e o adolescente têm direito à 41. Fonte: Rede Interagencial de Informações para a Saúde
proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação (RIPSA), 2007.
de políticas sociais públicas que permitam o nas- 42. Carta de Ottawa, 1986, aprovada pela Primeira Conferência
Internacional sobre a Promoção da Saúde, realizada em Ottawa
cimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
em 21 de novembro de 1986.
em condições dignas de existência” (art. 7°).
82 83
3. Inserir a temática prevenção de acidentes e pri-
meiros socorros no currículo do curso de peda-
gogia e na formação de funcionários dos esta-
belecimentos de educação infantil a fim de que
possa ser trabalhada de forma interdisciplinar
na prática pedagógica.
3.3. No âmbito da família e da comunidade 3.6. Em relação ao meio ambiente e aos espaços
da criança
As ações de suporte previstas neste Plano para que
as famílias cumpram suas funções primordiais de 1. Promover a adoção de normas de segurança
cuidado, socialização e educação contribuirão para em todos os espaços públicos e privados nos
a prevenção de acidentes na primeira infância. quais as crianças vivem e naqueles que elas fre-
quentem.
3.4. Na área da atenção às crianças em situação
especial: acolhimento institucional, família 2. Atualizar permanentemente a legislação e por
acolhedora e adoção em prática medidas que garantam o cumpri-
mento das determinações legais relativas à se-
1. Assegurar que nos parâmetros de qualidade e gurança da criança no transporte de veículos
monitoramento para os serviços de acolhimen- automotores particulares e públicos, com espe-
to institucional sejam contemplados a adapta- cial vigilância sobre os de transporte escolar.
ção dos espaços físicos e adoção de práticas de
cuidados de acordo com o desenvolvimento 3. Estabelecer normas de segurança contra aci-
psicomotor das crianças. dentes com crianças a serem cumpridas na
construção de residências unifamiliares, de
2. Inserir o tema prevenção de acidentes e pri- conjuntos residenciais, de centros de educação
meiros socorros nos cursos de formação e de infantil e outros espaços públicos frequentados
educação continuada dos dirigentes, coorde- por crianças.
nadores, equipe técnica, educadores e auxilia-
res de abrigos e também para os profissionais 4. Promover ações de incentivo para a fabricação
de desenvolvimento do Programa de Famílias e comercialização de equipamentos que visem
Acolhedoras. à prevenção de acidentes.
84
ações meio
V s estratégias assinaladas por este Plano são os
fatores, os momentos e as formas decisivas para
ações meio
(b) mobilizar os Estados e os Municípios para ela- (c) a coordenação geral do Plano pelo Conselho
borarem seus planos estaduais e municipais e, Nacional dos Direitos da Criança e do Adoles-
finalmente, para cente – CONANDA,
(c) pôr em prática o Plano Nacional, com continui- (d) a designação do “lugar” político e administrati-
dade até 2022. vo da coordenação do Plano. A complexidade
da coordenação e do envolvimento de todos os
Para alcançar esses três objetivos, o Plano Nacio- organismos envolvidos nos direitos da criança
nal pela Primeira Infância identifica cinco áreas requer uma coordenação abrangente e global.
estratégias: (a) a formação dos profissionais para a A Secretaria de Direitos Humanos, da Presidên-
primeira infância, (b) a atuação dos meios de co- cia da República pode ser esse lugar. Critérios
municação social, (c) a atenção do Poder Legisla- importantes para o êxito desse empreendimen-
tivo na formulação de leis e no acompanhamento to são de que esse órgão
e fiscalização das ações, (d) o desenvolvimento da
pesquisa sobre a primeira infância no País e (e) a a) tenha sido designado formalmente pelo
elaboração de planos estaduais, distrital e munici- Presidente da República, por meio de um
pais pela primeira infância, em consonância com o decreto, como responsável pela coordena-
plano nacional. ção e implementação do Plano,
Além dessas áreas, outras ações com incidência po- b) tenha boa articulação com os diferentes ór-
lítica apontarão e abrirão caminhos, darão apoio e gãos governamentais (ministérios da área
reforço às decisões políticas em prol da realização social e econômica), com o poder legislati-
do Plano. vo, com o ministério público, com as organi-
zações da sociedade civil,
Entre elas, o Plano destaca:
c) disponha de estrutura técnica para aten-
(a) a Mobilização social, na qual a Rede Nacional der às demandas setoriais e da sociedade
Primeira Infância está empenhada, articulando- civil, tanto nos aspectos técnicos quanto
se com outras redes, movimentos, fóruns, orga- financeiros,
nizações e instituições,
formação dos
d) esteja sempre aberto à participação e
profissionais para
a primeira infância
86
Uma das nossas maiores tarefas
parece dizer respeito a como gerar
nas pessoas saberes políticos, anseios
políticos, desejos políticos.(…).
De que modo poderíamos encontrar
ações alternativas de trabalho que propiciem
meio um contexto favorável para
que isso ocorra?
formação dos profissionais
para a primeira infância
Paulo Freire.
Dessa forma, é fundamental: a) aprimorar a forma-
ção dos profissionais que atuam diretamente com
a criança; b) apoiar a produção de conhecimento
sobre o desenvolvimento infantil em diversas áreas
Um maior investimento em práticas relacionadas à de formação profissional, c) articular os profissio-
primeira infância através de ações de extensão e es- nais da saúde e da educação que já trabalham com
tágios também deveria ser uma preocupação dos o tema e d) divulgar esse conhecimento produzido
Formação acadêmica dirigentes universitários. A importância dessa ati- para os demais profissionais, mesmo aos que não
vidade está em aproximar os estudantes da comu- trabalham diretamente com as crianças pequenas.
A formação, neste capítulo, é considerada em re- nidade e das diferentes realidades sociais. Ademais,
lação a dois grupos de profissionais: os que atuam ela é um espaço em que a comunidade universitá- Uma maneira de divulgar essas informações é os
nas áreas de educação, saúde, assistência social e ria tem a oportunidade de realizar trocas, apren- professores da Psicologia, Pedagogia, Medicina,
aqueles que atuam em áreas que, de uma forma como exemplo os cursos de Arquitetura e Enge- dendo com o público alvo da intervenção. Agindo Nutrição, Enfermagem, entre outras áreas, ofere-
ou de outra, têm pontos de interface com as três nharia Civil. A elaboração de projetos residenciais, assim, não raro eles percebem o quão equivocados cerem aos alunos de outros cursos disciplinas que
primeiras. de escolas e de espaços de recreação e lazer, deve estão, muitas vezes, em relação à realidade de fora abordam o desenvolvimento infantil. Tais discipli-
considerar também as demandas, necessidades, dos muros da academia. Mais importante ainda, nas seriam eletivas. Ademais, cursos de extensão e
A formação dos profissionais que atuam direta- características de desenvolvimento e as atividades a partir dessa nova perspectiva, os professores especialização podem ser realizados para os profis-
mente com a criança precisa ser revista na pers- das crianças pequenas. Entretanto, disciplinas que universitários têm a chance de rever o conteúdo sionais das mais diversas áreas. Um arquiteto pode
pectiva de ampliar e aprofundar sua base de co- abordam esses assuntos, em geral, não constam e modo de transmitir esse conhecimento para os ser especialista em projetos de escolas de educação
nhecimentos, aperfeiçoar qualidades e habilidades dos currículos desses cursos. futuros profissionais que estão formando. infantil, por e xemplo.
e desenvolver sua prática. Fisioterapeutas de crian-
ças pequenas, por exemplo, se adequariam melhor Ademais, é importante rever a maneira como o co- Além da mudança nos currículos de formação exis- Outra maneira de difundir o conhecimento a res-
a seu trabalho se, durante seu processo formativo, nhecimento sobre a infância é transmitido nos cur- tentes, é preciso ampliar o número de programas peito da primeira infância entre os acadêmicos de
temáticas relacionadas ao desenvolvimento infan- sos de graduação, repensando, de maneira espe- de formação continuada, envolvendo profissionais áreas que não a saúde, a educação, a medicina, o
til fossem mais aprofundadas e em maior quanti- cial, a visão de infância e criança que é ensinada nas de diferentes áreas, projetos multidisciplinares e serviço social, a psicologia é fomentar o desenvol-
dade. Até mesmo o curso de pedagogia carece de disciplinas por exemplo sobre desenvolvimento transdisciplinares que discutam as necessidades e vimento de estudos sobre o assunto. Projetos se-
revisão de sorte a formar professores mais seguros infantil e direitos da criança. Isso porque as crian- demandas da primeira infância. Esses podem ser guindo o exemplo da bolsa oferecida pela ANDI
e confiantes em suas capacidades para cuidar e ças costumam ser vistas como seres incompletos uma importante fonte de conhecimento e forma- – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, a
educar crianças pequenas, desde os primeiros me- e excluídos do mundo adulto, ao passo que são ção, além de possibilitar que todas as ações volta- qual visa a estimular os estudantes de jornalismo e
ses de vida. atores sociais que possuem pensamento crítico. Se das para a criança tenham um enfoque integral da demais cursos a realizarem pesquisas que abordem
esses profissionais enxergam a criança na sua espe- infância e utilizem abordagens transdisciplinares
Em relação aos outros profissionais, é necessário cificidade ela será atendida segundo seus interesses atentas para a complexidade das ações de cuidado
que sua formação aborde conhecimentos sobre di- e características. É fundamental que essa visão da e educação na primeira infância.
reitos da criança e desenvolvimento infantil de for- criança em desenvolvimento seja transmitida para
ma a garantir que a especificidade desta faixa etá- que todos os profissionais, mesmo os que não tra-
ria seja considerada em seus projetos de trabalho, balham diretamente com a primeira infância, pos-
na sua atividade profissional cotidiana. Tomemos sam, através de seu trabalho, contribuir para que as
crianças sejam tratadas como sujeitos de direitos e
não como ”adulto em miniatura”, “futuro adulto”
ou alguém que não conta.
88 89
a relação entre Mídia/Comunicação e as políticas
públicas destinadas a garantir os direitos de crian-
ças e de adolescentes são bastante eficazes.
2. Objetivos e metas
1. Promover debates nas instituições de ensino
superior, públicas e privadas, sobre as proble-
ações
meio
máticas da infância no Brasil e no mundo, delas
fazendo parte a prevenção de deficiência e a in-
e stabelecimentos públicos municipais de ensi-
no, de saúde, de assistência social, de cultura
clusão das crianças com deficiência. etc.
2. Incrementar, com iniciativas do Conselho Na- 7. Estimular a produção nas instituições de ensino
formação dos profissionais
para a primeira infância
cional de Educação, dos órgãos colegiados que superior de trabalhos acadêmicos sobre a pri-
reúnem reitores, diretores, professores e alunos meira infância, contando com a parceria de ins-
de ensino superior, a revisão dos currículos dos tituições da sociedade civil que atuam na pro-
cursos superiores de graduação, visando à in- moção dos diferentes direitos da criança.
clusão de disciplinas sobre desenvolvimento
infantil, diversidade cultural na infância, a ci- 8. Sistematizar em manuais e cartilhas o conheci-
dade e a criança, criança e sociedade, infância mento produzido nas pesquisas e disseminá-las
e mídia, direitos da criança, produção cultural entre os professores ou facilitar o acesso aos
para crianças entre outras, que sensibilizem, in- técnicos e educadores.
formem e preparem os diferentes profissionais
para atenderem aos direitos da criança em seus 9. Oferecer bolsas de estudo em nível superior a
campos de trabalho. estudantes dos cursos de Arquitetura, Enge-
nharia Civil, Urbanismo, Cinema, Teatro, Jorna-
3. Estimular, por meio de projetos de incentivo, a lismo, Rádio, Direito e outros, para formação de
criação de cursos de pós-graduação sobre de- profissionais.
senvolvimento infantil.
10. Garantir que os cursos de formação de profes-
4. Aumentar o número de projetos de extensão, sores para atuar nas instituições de educação
ensino e pesquisa que envolvam professores e infantil, tenham como objetivo a compreensão
alunos de diversas áreas de formação, visando à da instituição de educação infantil como espa-
atuação conjunta e multidisciplinar, principal- ço coletivo de educar e cuidar de crianças com
mente nas Unidades de Educação Infantil exis- idade entre zero e cinco anos e onze meses. E
tentes nas Universidades. também que visem o compromisso profissional
com o bem-estar e o desenvolvimento inte-
5. Oferecer consultorias às redes municipais de gral das crianças; o domínio das estratégias de
educação infantil nas diversas áreas do conhe- acesso, utilização e apropriação da produção
cimento e da prática social de atenção à pri cultural e científica do mundo contemporâ-
meira infância. neo e a apropriação do instrumental necessário
para o desempenho competente de suas fun-
6. Estimular a criação de parcerias/convênios ções de cuidar/educar as crianças.
com o Poder Público Municipal para a criação
de campo de estágio, pesquisa e extensão nos 11. Realizar um estudo sobre a viabilidade de ins-
tituir trabalho social durante um semestre,
para os estudantes de ensino superior dos cur-
sos que tenham relação com algum direito da
criança. A instituição dessa prática proporcio-
naria ao aluno de graduação a oportunidade
de entrar em contato com as reais necessidades
das crianças pequenas e com as demandas que os meios de
chegam diariamente aos profissionais que tra-
balham com a primeira infância.
comunicação social
90
os meios de
comunicação social
ações
meio
ções em novelas, programas de TV, programas
de Rádio, as Rádios Comunitárias que influen-
ciem o pensamento, as atitudes, as relações dos
adultos com as crianças).
Concepção da comunicação 3. Eixo Político – advocacy: envolve dois grandes
os meios de comunicação social
como ferramenta para a âmbito de ação: (a) mobilização da sociedade 2. Mobilização dos decisores nas esferas nacional,
implementação de políticas para pressionar e (b) sensibilização dos toma- estadual e municipal sobre o Plano Nacional
públicas dores de decisão. Neste ponto, destaca-se o (via grande mídia e ações de advocacy para
articular de maneira acertada uma ampla estraté- papel do Poder Legislativo, e, em seu meio, a conscientização e mobilização em favor do
Por definição, uma política pública qualquer – de gia comunicacional. Do contrário terá dificuldades Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da PNPI).
um plano nacional à compra de carteiras para uma em entrar na agenda pública e, uma vez lá, poderá Criança e do Adolescente é fundamental.
escola – precisa ser de conhecimento dos cidadãos não ser adequadamente compreendido pelas par- 3. Mobilização dos Estados, do Distrito Federal e
e cidadãs e demais partes interessadas. Para tan- tes interessadas ou, mais além, poderá se transfor- 4. Comunicação programática – sistema e dis- dos Municípios para que elaborem seus pró-
to, precisa ser levado à esfera pública de debates. mar em mais uma importante carta de intenções, ponibilização de informação sobre a Primeira prios planos pela primeira infância.
E isso depende umbilicalmente do componente padecendo, porém, do acompanhamento atento Infância: produção da informação que se quer
comunicacional. A política será tão mais “pública” da sociedade quanto à sua execução por intermé- comunicar e planejamento de públicos a serem 4. Capacitação permanente das fontes para se co-
quanto mais amplamente conhecida e, espera-se, dio dos veículos noticiosos. atingidos (sociedade em geral, esferas de gover- municarem (interação com mídia/comunica-
escrutinada ela for. Muitas plataformas comuni- no – executivo, legislativo, judiciário, sociedade ção institucional individual e coletiva articulada
cacionais podem gerar este tipo de resultado – a Considerando que a comunicação desempenha civil organizada, academia, setor privado, etc.). por meio da Rede Nacional Primeira Infância).
publicização de uma política: campanhas publici- papel ímpar na socialização dos cidadãos e cidadãs
tárias, comunicação direta em escolas e outros pú- alvo de um plano com estas características, ela não 5. Sustentabilidade – continuidade do processo, 5. Criação de mecanismos de participação da so-
blicos, comunicação comunitária, merchandising pode ser vista apenas como um elemento central mantendo a mobilização pela causa). ciedade civil no monitoramento da implemen-
social, mídia noticiosa. Estas estratégias não são ex- para o agendamento, compreensão e monitora- tação do Plano Nacional pela Primeira Infãncia.
cludentes, ao contrário, mas, certamente, almejam mento e avaliação das políticas elaboradas pelo 6. Elaboração de proposta orçamentária e estra-
resultados diferenciados. Plano. Ela própria deve ser alvo de atenção particu- tégias para garantir, anualmente, o aporte de 4. Conteúdos transmitidos na
lar: seus efeitos (positivos e negativos) sobre o de- recursos necessários no Orçamento da União. grande mídia
A mídia noticiosa, ator que merece relevo especial, senvolvimento integral das crianças estão ampla-
contribui para qualificar e particularizar a estraté- mente documentados pela pesquisa internacional 3. Estratégias Deverão ser definidas e divulgadas diretrizes e re-
gia de comunicação. O jornalismo tem por função na área.Logo, não existe política adequada para a comendações que orientem a regulação dos con-
agendar os temas prioritários nas democracias primeira infância que ignore o papel dos meios de 1. Mobilização da sociedade em geral sobre a Pri- teúdos audiovisuais produzidos para o público in-
contemporâneas; informar contextualizadamente comunicação. meira Infância, com previsão dos diversos pú- fantil. Ou seja, uma política pública de classificação
a todos e todas, mas especialmente aos tomadores blicos a serem atingidos (campanha publicitária indicativa do que é transmitido, seja na programa-
de decisão e formadores de opinião, acerca destes 2. Plano de comunicação que informe e coloque a sociedade em clima fa- ção televisiva, seja na publicidade, ou nos filmes.
mesmos temas; monitorar e fiscalizar as ações de vorável à aprovação do Plano Nacional – orien-
atores públicos relevantes. Note-se que um Plano 1. Diagnóstico/mapeamento do que já foi feito tações, informações, campanhas em matérias
Nacional para a Primeira Infância somente ganhará em termos de comunicação do tema, resgatan- de interesse da família e bebê, da criança de até
a dimensão de uma política pública se conseguir do a experiência e produções que tiveram obje- três anos, inserções de temas, problemas, solu-
tivo semelhante ao deste Plano.
92 93
a atuação do a atuação do
poder legislativo poder legislativo
defesa dos direitos de crianças e adoles
centes começou a ganhar mais força, na agen-
da pública do Brasil, no final da década de 1980,
com a participação dos movimentos sociais nas
discussões da Assembleia Nacional Constituinte A aliança estabelecida entre sociedade civil e Parla-
para a elaboração da Carta Magna de 1988. Nes- mento foi, aos poucos, se consolidando e produziu
se período de intensa efervescência política e de- novas vitórias no campo dos direitos e garantias
mocrática no Brasil, a sociedade civil organizada fundamentais para a população infanto-juvenil.
conseguiu estabelecer uma sólida e produtiva par- Dois exemplos são significativos nos últimos anos:
ceria com o Poder Legislativo, influenciando nas o processo de discussão e elaboração da Lei de Di-
discussões para a produção da Constituição que retrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, e do
ficou conhecida como “Cidadã”. Houve vitórias em Plano Nacional de Educação (PNE), de 2001. Mais
vários campos. Na área dos direitos da população recentemente, a sintonia fina entre os movimentos
infanto-juvenil, mais especificamente, essa aliança sociais e os parlamentares identificados com a de-
resultou nas garantias estabelecidas pelos artigos fesa dos direitos das novas gerações e da educação
227 e 228 da Constituição, que tratam da doutri- de qualidade se fez presente na luta pela aprova-
na da proteção integral. Essa parceria prosseguiu e, ção e aprimoramento do Fundo Nacional de Ma-
dois anos depois da promulgação da Constituição nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
de 1988, rendeu outro fruto: o Estatuto da Criança e Valorização do Magistério (Fundeb), analisado
e do Adolescente (ECA) – Lei n° 8.069, de 13 de pelo Congresso entre os anos de 2005 e 2007. Essa
julho de 1990. intensa articulação entre sociedade civil e Parla-
mento foi responsável por importantes conquistas
Cientes da responsabilidade do Poder Legislativo no texto do Fundeb, entre os quais a inclusão da
no cumprimento do novo ordenamento jurídico educação do nascimento aos três anos de idade e o
no que diz respeito aos direitos da infância e da piso salarial profissional nacional para o magistério
adolescência, um grupo de deputados e senado- da educação básica. Os professores de educação
res que participou ativamente das discussões na infantil são beneficiários diretos dessa nova me-
Constituinte e durante a elaboração do ECA criou, dida, que melhora a remuneração da maioria dos
em 1993, em parceria com os movimentos sociais, profissionais da primeira etapa da educação básica.
a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente do Congresso Nacional. A Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente desempenhou papel
protagônico nesses processos atuando como uma
instância de articulação política para a defesa das
questões relacionadas com esse segmento popula-
cional e para a criação de uma cultura de respeito
aos direitos humanos no Congresso Nacional.
95
É de fundamental importância ter em mente que
essa participação poderá se dar em diversos cam-
ações
meio
pos e em vários momentos desse processo, a saber:
a pesquisa
sobre a primeira infância
96
a pesquisa sobre a
primeira infância
ações
meio
a pesquisa sobre a
primeira infância
98 99
planos
estaduais e municipais
pela primeira infância
organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil, que compreende
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
cípios, é regida por dois princípios fundamentais:
autonomia dos entes federados e cooperação
técnica.
e municipais pela
aprovação.
primeira infância
101
financiamento
Não podemos postergar a inversão
nas crianças até que sejam adultas,
nem esperar que cheguem à escola
(ensino fundamental), quando
poderia ser muito tarde.
VI James Heckman, Prêmio Nobel de Economia, 2005.
financiamento
acompanhamento e
controle
104
acompanhamento
e controle
VII • nstituir um sistema nacional de acom-
panhamento e controle do PNPI, que será ge
rido pelos órgãos existentes no Poder Público.
A SEDH, da Presidência da República, e o
acompanhamento e controle
avaliação
exercer um papel destacado nele. Ela poderia
receber reforço de outras organizações dedi-
cadas mais especificamente à primeira infância
e, assim, constituir um setor da Rede especifi-
camente para o Plano Nacional pela Primeira
Infância.
106
avaliação
VIII avaliação tem duas funções:
autores
ção de programas sociais, necessariamente com
experiência com a primeira infância. Organismos
Internacionais, como UNESCO, UNICEF, OPAS po-
dem ser convidados para essa avaliação.
108
autores
Organizações
Coordenador de elaboração • Vital Didonet
Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI
Autores • Participaram da construção desse Plano Nacional pela Primeira Infância, em equipe, Aliança pela Infância
individualmente, em audiências e debates públicos, em reuniões de trabalho, por meio da internet os Associação Brasileira de Educação e Cultura – ABEC
IX
seguintes profissionais e organizações: Associação Comunitária Monte Azul
Associação Espírita de Voluntários de Itu Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti – AEVI
Profissionais Associação Espírita Lar Transitório de Christie – AELTC
Adelaide Jóia Gustavo Amora Marilda Duarte Associação Nacional das Unidades Universitárias Federais de Educação Infantil – ANUUFEI
Adriana Friedmann Halim Girade Marilena Flores Martins Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê – ABEBÊ
Alessandra Françoia Helga Cristina Hedler Marina de Oliveira Naves Ato Cidadão
autores
Alessandra Schneider Inês Prata Girão Maura Luciane Avante Educação e Mobilização Social
Alfredo Souza Dorea Iole Cunha Matilde Ferreira Carvalho Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Infância e Juventude
Alice Duarte de Bittencourt Iradj Eghrari Monica Mumme Centro de Criação de Imagem Popular – CECIP
Amélia Bampi Irene Rizzini Nayana Brettas Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT
Ana Lúcia Ferraz Amstalden Isadora Garcia Neilza A. Buarque Costa Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem – CPPL
Ana Luiza (sobrenome?) Ivan de Oliveira Mello Nelson Diniz de Oliveira Centro de Referência da Cultura Negra – Belo Horizonte
Ana Mattos de Brito Almeida Ivone Alves de Oliveira Neilza Costa Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância – CIESPI
Ana Néca Jane Santos Ordália Almeida CNBB – Pastoral da Criança
Ana Paula Lazzaretti de Souza Janete Aparecida Giorgetti Valente Patrícia Andrade Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS
Ana Rosa Beal João Augusto Figueiró Patrícia Santana Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais
Andrei Bastos Josefa Nunes Pinheiro Paula Saad Criança Segura Brasil
Ângela Maria Rabelo Barreto Juliana Marques Petrocelli Paula Tubeli EDEN – Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Humano
Angélica Goulart Laís Fontenelle Pereira Polyanna Santiago Magalhães Escola de Gente
Anna Flora Werneck Lara Elena Ramos Simielli Priscila Fernandes Magrin Federação das Escolas Waldorf no Brasil – FEWB
Antonia Fernanda Jalles Laurista Correa Filho Rachel Niskier Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – FNDCA
Antônio Márcio Lisboa Leilá Leonardos Raulê de Almeida Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Congresso Nacional
Antônio Pedro Soares Leila Maria de Almeida Regina Orth de Aragão Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança e do Adolescente
Arlete P. de Souza Leny Trad Renata Rocha Fundação Carlos Chagas
Carolina Costa Rezende Lídia Cristina Silva Barbosa Renata Sanches Fundação Nacional do Índio – FUNAI/MS
Cisele Ortiz Liése Gomes Serpa Renate Keller Ignácio Fundação ORSA
Claudia Mascarenhas Fernandes Ligia Cabral Barbosa Renildo Barbosa Fundação Xuxa Meneghel
Cláudia Regina Filatro Lilian Vasconcelos Rita Coelho Fundo Cristão para Crianças
Claudinéia Aparecida Morais do Amaral Luciana O’Reilly Rodrigo Schoeller de Moraes Instituição Beneficente Conceição Macedo – UBCM
Creusa Rosa Miguel Lucimar Dias Reis Rosângela Gonçalves de Carvalho Instituto Alana (Projeto Criança e Consumo)
Cristina Albuquerque Lucimar Rosa Dias Sandra Assis Brasil Instituto Amigos de Lucas
Cristina d’Ávila Reis Luiz Gomes Filho Sílvia Daffre Instituto Avisa-lá
Danielle de Oliveira Luiza Batista de Sá Leitão Sílvia Esteves Instituto Berço da Cidadania
Dirce Barroso França Luzia Torres Gerosa Laffite Sílvia Koller Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Edda Araújo Márcia Barr Soeli Terezinha Pereira Instituto C&A
Edna Maria Alves Fernandes Marcia Mamede Stela Maris Lagos Instituto da Infância – IFAN
Edna Rodrigues Arthuso Marcio Sanches Tamara Amoroso Gonçalves Instituto EcoFuturo
Eleonora Ramos Marco A. G. Figueiredo Tânia Ramos Fortuna Instituto Noos
Elizabet Ristow Nascimento Margarida Nicoletti Valéria Aguiar Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS
Elizabeth Tunes Maria Cristina Correa Lopes Hoffmann Valéria Brahim Instituto Viva a Infância
Ely Harasawa Maria de Lourdes Magalhães Vania Izzo Instituto WCF – Brasil
Fernanda Ferreira Maria do Carmo Bezerra Alves Martins Vera Melis Paolillo Instituto Zero a Seis – Primeira Infância e Cultura de Paz
Fernanda Jalles Maria Luzinete Moreira Vilmar Klemann IPA Brasil – Associação Brasileira pelo Direito de Brincar
Francisca Maria Oliveira Andrade Maria Malta Campos Vital Didonet MATERNE – Assessoria e Consultoria para a Primeira Infância
Fúlvia Rosemberg Maria Thereza Marcílio Vivian Furh Ministério da Educação – MEC
Gabriela Azevedo de Aguiar Mariana Balen Viviane Aparecida da Silva SEB-COEDI Secretaria de Educação Básica – Coordenação de Educação Infantil
Giovana Barbosa de Souza Mariana Nunes Ferro Gomes Zuleica Albuquerque SECAD/Educação Indígena
Glória Maria ......... Marianna Olinger SEESP/Secretaria de Educação Especial
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Ministério da Saúde – MS
SAS/DAPE, Coordenação Nacional de Saúde Mental, Saúde da Criança, Aleitamento Materno
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS/SNAS
DBA, DPSE e DPSB
Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil – MIEIB
Movimento Luta Pró-Creche, de Belo Horizonte
ODH Projeto Legal; ONG Pró-Crianças e Jovens Diabéticos
IX
Ordem dos Advogados do Brasil, Seção RJ – OAB/RJ – Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária
Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar – OMEP Brasil
Organização Panamericana de Saúde – OPS
Pantákulo – Assessoria, Consultoria e Projetos Ltda.
Plan Internacional do Brasil
Prefeitura de Porto Alegre-RS
autores
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