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A Dimensão Social do Judo na Formação do Jovem

Prof. Engº António Lopes Aleixo


Presidente da FPJ

Trabalho apresentado
The Second International Judo Federation
World Judo Conference

Introdução

O Judo, um desporto, uma escola da vida e uma paixão é uma modalidade de


elevado valor educativo para a juventude que lhe proporciona grandes sensações de
prazer, de alegria, de conhecer vários amigos que os ajudarão a progredir, a
melhorar, a tornar-se mais perfeito, mais destro, mais ágil, mais forte.

O Judo é uma actividade que se pode praticar de várias maneiras, é uma grande
família, é um treino e uma educação que permite realizar progressos físicos e mentais.
Através desta actividade a juventude torna-se mais forte, mais flexível, mais ágil, mais
rápida. Aumenta o domínio que os jovens têm sobre eles próprios, sobre o seu espírito
de decisão, a sua tenacidade face às dificuldades ou à fadiga.

Origem do Judo e Valores

O Judo é uma invenção puramente japonesa que data do final do


século XIX. O seu fundador, Mestre Jigoro Kano, pretendeu criar um
instrumento de progresso físico e mental, de amizade e de entreajuda
nas nossas relações com os outros.

A educação, no Japão, tinha encontrado a sua expressão mais nobre no Budo, o


ideal dos samurais. O próprio Mestre Kano tinha estudado em duas escolas de jiu-jitsu
que reclamavam desse mesmo ideal, tendo recolhido no seu país a herança das
técnicas de combate tradicionais e das preocupações de educação total do
indivíduo, tanto na sua vertente física como mental. Soube dar-lhe uma forma
adaptada à vida moderna, sem perda de originalidade e sem o abandono do valor
das tradições. Soube impor ao Japão, e depois ao mundo inteiro, esta nova disciplina.

Foi graças a ele que o judo se tornou o único desporto de origem não ocidental
praticado hoje em dia em todo o mundo. Os lemas através dos quais exprimiu os
objectivos essenciais da prática,

"máxima eficácia mínimo esforço"

"prosperidade e benefícios mútuos",

permanecem actuais. Os valores do domínio individual, de tenacidade no esforço, de


cortesia, de igualdade de espírito na vitória e na derrota, que devemos procurar no
tatami, contribuem largamente para desenvolver uma personalidade apreciada por
todos.

Permanência dos Valores

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O Judo atravessou fronteiras, conquistou todos os países, penetrou em todas as
culturas. Desde o princípio do século instalou-se na Europa. No seu início o Judo levou
algum tempo a implantar-se.

Em Portugal, a chegada a Lisboa, em 1958, do Mestre Kioshi Kobayashi foi decisiva.

Apesar das limitações sócio-politícas que se viviam no país, e não apenas no domínio
das actividades físicas, o Judo português não deixou de prosperar: hoje mais de 12 000
praticantes de todas as idades fazem regularmente Judo em Portugal, distribuindo-se
por 18 regiões e 400 clubes ligados àFederação Portuguesa de Judo.

Todos estes agentes da modalidade são transmissores dos valores essenciais do Judo,
consubstanciados no código moral: delicadeza, coragem, sinceridade, controlo de si,
honra, modéstia, amizade e respeito.

Estes valores permanecem hoje tão actuais


como na época do mestre Jigoro Kano.

O Judo é escola da vida, as graduações e


os dans permitem-nos medir passo a passo,
os nossos próprios progressos nas três
componentes do Judo:

O shin, o gi e o tai

O objectivo dos professores não é apenas a


formação de campeões ou das técnicas
do Judo, mas ajudar os jovens a sentirem-se
bem na sua vida quotidiana, a viverem em
harmonia no ambiente que os rodeia, a
serem cidadãos em pleno.

Em Portugal o Judo transformou-se num verdadeiro desporto para todos, em que


cada um é capaz de encontrar o seu lugar, fazer amigos, progredir, triunfar à sua
medida, ganhar prazer, manter ou melhorar a sua condição física e exprimir e
desenvolver a sua personalidade, no pleno respeito da personalidade dos outros.

O Judo tem uma identidade própria, com valores, normas e símbolos que o distinguem
no quadro da dinâmica cultural de outras modalidades, sendo de facto uma
actividade de elevado valor educativo.

É importante que o jovem compreenda que no Judo podem coexistir as duas vias,
competição e expressão técnica, que apreciam por meios diferentes o mesmo valor
combinado sin-ghi-tai.

O “mental”: shin

Desde o início, o professor ensina o jovem a respeitar o cerimonial, a tornar-se mais


atento, mais paciente e mais corajoso. Hoje em dia vemos que a cortesia nos mais
pequenos pormenores e o respeito pelo adversário e pelo Judo tornam o jovem mais
forte. O jovem desenvolve o seu “mental”, a sua força mental: saber querer e querer
no bom sentido.

A técnica: ghi

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O jovem passa horas a aprender, a repetir, a explorar as subtilezas de um grande
número de acções complexas, de ataque e de defesa. Com a ajuda do professor
começa a aprender os “princípios”. O jovem desenvolve os conhecimentos e o
repertório técnico; adquire habilidade e perícia e é cada vez mais exímio na
execução técnica e no seu próprio aperfeiçoamento, procurando constantemente
progredir.

O valor do combatente: tai

Todo o tempo de esforço, espírito de


sacrifício, trabalho que o jovem
dedica ao Judo proporciona-lhe um
corpo vigoroso e de forma
harmoniosa. É o desenvolvimento das
capacidades do combatente.

O Espirito do Judo

O Dojo

Para cada desporto existe um espaço próprio, para o Judo temos o Dojo, lugar onde
se pratica a modalidade. O Dojo é um lugar de estudo, de aprendizagem e de
repetição, um atelier. O que é que construímos? Ele mesmo! Mas para isto é preciso
começar por construir o Dojo.

O Código Moral

Uma lista de valores essenciais que é preciso fazer respeitar e as virtudes que ele
deverá adquirir.

A Cortesia é um valor que se impõe desde o início no jovem judoca sob a forma de
uma "etiqueta" simples mas rigorosa. É através deste valor que o jovem compreende
as implicações das suas atitudes. No fundamental, é um conjunto de regras que
determinam o comportamento de um grupo social e que convém respeitar.

A Coragem dos heróis é aquela que é obtida fruto de uma acção pontual. No Judo
a coragem é de outra ordem: o saber começar (sem objectivo), continuar sem
resultado e nunca desistir (sem esperança).

A Sinceridade, saber ser verdadeiro, exprimir-se sem desvirtuar o pensamento.


Obriga a um grande conhecimento e aceitação de si próprio. A sinceridade exprime-
se no judo, quanto à prática do combate em realizá -lo com o espirito isolado do
resultado.

O Controlo de Si, particularmente


das suas emoções, para ficar
centrado e preservado ao máximo as
sua potencialidades, sem entrar na
excitação ou na apatia.

A Honra, dignidade moral em


relação a si e aos outros, que permite
em especial ao jovem judoca não
aceitar ganhar, a qualquer custo.

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A Modéstia, saber que se pode ganhar hoje e perder amanhã, saber colocar o ego
no seu lugar, para funcionar em harmonia com os outros.

A Amizade, onde todas as horas passadas


em conjunto a transpirar, procurar, opor-se
no respeito, não são ilusórios, nem são o fim
das relações de cumplicidade muito úteis
para o desenvolvimento do indivíduo e da
sociedade.

O Respeito, do tapete, do professor, dos


princípios, da integridade física dos outros e
do seu valor humano, de si mesma, é uma
das peças fundamentais do sucesso do judo
e do seu alto valor educativo.

Etiqueta, é um conjunto de regras de um cerimonial em prática numa colectividade


instituição política.

A prática do Judo nos Jovens deve contribuir para:

• Desenvolver de forma global e harmoniosa os jovens, nas dimensões física,


intelectual, emocional e social, assim como para a sua formação cívica;
• Garantir a saúde e segurança nas actividades desenvolvidas;
• Propiciar as oportunidades de desenvolvimento pessoal e social, através da
integração no grupo e do desenvolvimento da sua auto-estima;
• Proporcionar oportunidades para que os jovens possam viver, experiências
agradáveis, fazer novos amigos, aprender novas habilidades, adquirir hábitos
de auto-disciplina e persistência e aprender a cooperar e a competir com
lealdade;
• Garantir a todos os jovens a oportunidade de se aperfeiçoarem, conferindo ao
mesmo tempo, q à ueles que manifestem aptidões fora do comum, a
possibilidade de poderem prosseguir, se o desejarem, para níveis mais elevados
do rendimento desportivo;
• Privilegiar a criação do gosto pela prática, a aprendizagem correcta e
consistente das técnicas, o enriquecimento do "vocabulário" motor e o
desenvolvimento geral das capacidades motoras, por oposição à valorização
excessiva da vitória e do resultado, que conduzem facilmente ao treino
intensivo;
• Evitar apresentar a vitória e as medalhas como as únicas referências de
sucesso, devendo, pelo contrário, encorajar e elogiar o esforço efectuado e o
progresso individual conseguido por cada praticante, independentemente dos
resultados alcançados;
• Orientar as expectativas dos praticantes num sentido realista, obstando ao
aparecimento de perspectivas exageradas para o seu desenvolvimento futuro,
moderando, em particular, o aparecimento de "estrelas prematuras".
• Desenvolver atitudes saudáveis perante a vitória e a derrota, garantindo que
estas são encaradas como "faces distintas da mesma moeda",
fundamentalmente através do recurso a duas mensagens: "ganhar não é tudo
nem a única coisa" e "perder não constitui obrigatoriamente um fracasso".

Em Conclusão

Hoje em dia, a ausência de valores essenciais e a generalização da falta de valores é


um problema cada vez mais preocupante em todos os países do mundo.

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Observa-se que noções como a vitória a qualquer custo conduz indubitavelmente ao
doping, a agressividade sem respeitar os outros, etc. são banalizados por exemplos
vindos de todos os ramos de actividade, tanto no plano nacional como o
internacional e largamente difundidos por diversos meios de comunicação.
Tudo isso pode ampliar enormemente a importância da nossa disciplina.
Como foi referido, o sistema de desenvolvimento moral e cultural que é também a
dimensão do Judo pode constituir uma oposição significativa a uma tal situação.
Aí está, sem dúvida, uma oportunidade para o desenvolvimento do nosso desporto e
há que aproveitar essa oportunidade.
Do nosso ponto de vista, todos os planos para a captação de novos judocas devem
colocar em evidência o enorme potencial educativo do nosso desporto.
Na sociedade actual, a combinação mais interessante para o desenvolvimento
integral do indivíduo é sem dúvida a associação da educação académica com, no
plano desportivo, o nosso desporto.

Há que divulgar e potenciar esta verdade!

Bibliografia

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JANICOT, D., POUILLART, G. (1999), Judo - a Técnica, a Táctica, a Prática, Editorial


Estampa.

MATSUMOTO, DAVID (1999), O Homem Chamado Jigoro Kano, Judo - Revista Técnica
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