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PASSO 01
Considerações Sobre uma Abordagem Comportamental para a Psicologia
Objetivos:
1. Definir, identificar e distinguir explicações mentalistas e internalistas de
explicações funcionais externalistas do comportamento;
2. Discorrer sobre as críticas ao mentalismo.
1 Inferir é supor, com base em fatos observados, a ocorrência de um fato não observado. Maria verificou que João
estava deitado no sofá, imóvel e com os olhos fechados. Ela inferiu que João estava dormindo. Apesar de a inferência
fazer parte da atividade científica (na formulação de hipóteses, por exemplo), a construção de conhecimento
científico requer verificação. Uma parte do conhecimento da Psicologia é constituída de inferências a respeito de
“instâncias psíquicas” (como Id, Ego, Superego) formuladas a partir da observação de comportamentos. Conflitos
entre o Id e o Superego jamais foram observados. Eles são inferências a partir de certos padrões comportamentais
diretamente acessados.
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Mais tarde veremos que o fato de um evento não ser diretamente observado por outras pessoas não é um
impedimento real para não interpretá-lo e estudá-lo cientificamente. Somos incapazes de observar diretamente
eventos muito pequenos, como partículas físicas elementares, ou muito grandes, como o cosmos inteiro, ou eventos
que ocorrem em espaços de tempo muito longos, como a evolução das espécies. Ainda assim, para cada um desses
exemplos foi possível conceber formas de investigação científica. Os problemas com os conceitos mentais
tradicionais decorrem da interpretação não materialista dos eventos psicológicos concretos ocorrendo sob a pele de
cada um e da tomada de tais eventos como causas diretas da ação humana observada do que propriamente sua
localização (ver, a propósito, Tourinho, 1999).
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Quando duas datas foram apresentadas, a primeira especificará o ano da edição original e a segunda o ano da edição
consultada.
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4 Essas teorias podem ser denominadas de internalistas ou mentalistas porque consideram os eventos mentais ou
internos como causas autônomas dos comportamentos observáveis, o que é uma visão radicalmente diferente da
defendida pelos analistas do comportamento, onde os eventos internos são, quando muito, elos intermediários em
uma cadeia envolvendo ações públicas e privadas, mas tendo sua origem e estando suas variáveis relevantes
igualmente fora do organismo que se comporta. Assim, se dizemos que uma ação, como o correr, é “movida” por um
pensamento, em uma análise do comportamento verifico que tanto o “pensamento” quanto o “correr” (ambos) foram
criados e são mantidos no intercâmbio com o mundo público (histórico e imediato) e mesmo que estejam encadeados
(pensar correr) há coisas que aconteceram antes do pensar e que também o controlam, coisas que residem fora do
organismo (ambiente público, histórico e imediato pensar correr). Por que você pensa lingüisticamente em
português e não em uma língua eslava? Quando você estuda outra língua um bom sinal de progresso é “pensar na
língua estrangeira”. O pensar verbal parece ter, então, uma existência atrelada a uma história particular de interação
com o mundo social e não ocorre espontaneamente em um universo interior refratário e indevassável. Outro exemplo,
o pensamento matemático não exige um treinamento prévio ou basta “pensar”, como basta “respirar”?
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O que não é o mesmo que dizer que ela ignora eventos concretos ocorridos sob a pele (“internos”) de cada um. Não
está em discussão a existência de eventos psicológicos ou comportamentais subjetivos, mas apenas sua natureza e sua
posição em uma cadeia causal ampla (Skinner, 1945).
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Uma explicação mentalista incorre em diversos erros lógicos e carece de uma base
empírica sólida demonstrada e demonstrável. Duas das objeções mais graves ao modo
de explicação mental foram sinalizadas por Ryle (1949/1969) e por Skinner
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Observe que podemos identificar pelo menos dois tipos de “pensar”: um essencialmente verbal e outro perceptual.
No primeiro ocorre uma descrição, privada, do mundo através de uma língua qualquer. Quando você “fala com você
mesmo” em um nível tão baixo que somente você mesmo é afetado pelo que está fazendo. Uma outra forma de
pensar parece envolver apenas comportamentos perceptuais, como “ver”, “ouvir”, “tatear”, etc. Quando você
“lembra” do rosto do seu melhor amigo quando ouve o nome dele, você está agindo de forma perceptual, no caso
“ver”, na ausência do estímulo original. Em ambos os casos, estamos diante de coisas que os organismos fazem no
intercâmbio com seus mundos.
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existência com base em inferências feitas a partir do próprio evento que se pretende
explicar.
Como dito anteriormente, o grande problema com as explicações mentalistas é a
atribuição de uma causa interna a um comportamento. A fim de evitar tal equivoco, os
analistas do comportamento restringem suas explicações ao estabelecimento de relações
funcionais entre eventos (no Passo 04 será apresentada uma versão mais detalhada do
conceito de relação funcional). Deste modo, para estes cientistas do comportamento,
tanto o comportamento visível, quanto os comportamentos encobertos (eventos
privados) devem ser entendidos a partir de suas relações com o ambiente.
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Skinner, B. F. (1965). Science and human behavior. New York: The Free Press.
Publicado originalmente em 1953.