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Pedro Demo1
Brasília, UnB, novembro de 2000.
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO........................................................................p. 02
II. QUANTOS SÃO NO PAÍS.....................................................p. 04
III. PERFIL DA FORMAÇÃO......................................................p. 21
IV. O SALÁRIO DOS DOCENTES.............................................p. 35
V. DOCENTES POR NÍVEL DE ENSINO E IDADE...................p. 50
VI. VIDA DE PROFESSOR.........................................................p. 55
PARA CONCLUIR.......................................................................p. 61
BIBLIOGRAFIA............................................................................p. 62
1
Professor Titular da Universidade de Brasília. PhD em Sociologia pela Alemanha, 1971. Pós-doutor pela UCLA, Los
Angeles.
2
I. INTRODUÇÃO
2
“Professor básico”, para os fins deste trabalho, incluem os professores dos três níveis básicos: educação infantil,
ensino fundamental e médio. O MEC exclui da educação básica a educação infantil.
3
Sobre esta discussão veja: DEMO, P. 1989. Metodologia Científica em Ciências Sociais. Atlas, São Paulo, capítulo
sobre “positivismo e empirismo”. DEMO, P. 1985. Investigación Participante – Mito y realidad. Kapelusz, Buenos Aires. MINAYO,
M.C.S. 1996. O Desafio do Conhecimento – Pesquisa qualitativa em saúde. HUCITIC, São Paulo.
3
como se fossem, de si, algo maléfico. Com certeza, é muito pouco o que podemos
inferir dos dados, mas este pouco vale a pena trabalhar, dentro do melhor espírito
crítico possível. O dia-a-dia de cada professor não pode aparecer nessas mensurações,
mas tão-somente grandes traços, extremamente genéricos, e que permitem delinear
perfil tentativo, sempre sujeito a contra-interpretações e a contra-inferências. As contra-
interpretações vão por conta da quadro teórico de referência que sustenta a análise,
além do contexto ideológico de cada analista. Já as contra-inferências correm à conta
da tessitura dos dados, dos procedimentos de coleta e tratamento, bem como da
concepção dos questionários para levantamentos.
Dificilmente se pode fazer deste tipo de análise algo muito prazeroso, porque o
manuseio de dados empíricos, ainda que sempre a nível da maior simplicidade
percentual, representa, como regra, uma atenção cansativa. Mesmo assim, temos a
convicção de que é produtivo passar em revista esta oferta do INEP, porquanto
possibilita reforçar os traços mais gerais da vida do professor básico e imprimir aos
esforços teóricos tonalidade um pouco mais concreta. Uma restrição mais conhecida é
a dificuldade de evitar dupla contagem, já que o mesmo docente pode atuar em mais de
um nível ou modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento. Tomando em
conta que muitos professores trabalham em vários turnos (por vezes até três) e em
vários lugares, não se tem clareza satisfatória sobre o número.
4
4
MEC/INEP/SEEC. 1998. Censo do Professor – Brasil tem 1,6 milhão de professores na educação básica. Brasília,
1998, mim., 9 pp.
6
5
BRZEZINSKI, I. 1996. Pedagogia, Pedagogos e Formação de Professores. Papirus, Campinas. LELIS, I.A. 1988. A
Formação da Professora Primária: Da denúncia ao anúncio. Cortez, São Paulo. VILLA, F.G. 1998. Crise do Professorado – Uma
análise crítica. Papirus, Campinas.
7
b) na zona rural predominam cifras municipais, a começar pelo país: 75.9% dos
docentes básicos, vindo a seguir a presença estadual com 22.4%; a partir daí, as cifras
para o país se tornam residuais, inclusive na rede particular, com somente 1.3%; nas
regiões, a maior cifra está no Nordeste rural, com 88.9% dos docentes básicos, vindo a
seguir o Centro-Oeste com 76.1%, o Norte com 63.8%, o Sul com 61.9%, e o Sudeste
com 55.5%; neste sentido, chama a atenção que 42% dos docentes básicos com
atuação na zona rural sejam mantidos pelos estados no Sudeste, a maior cifra da
tabela para este caso.
Esta situação também é dúbia. Sendo tendência zona rural ter apenas ensino
fundamental, sob esta ótica o Nordeste estaria, mais que as outras regiões, cumprindo
a lei, segundo a qual o ensino fundamental é obrigação primordial dos municípios. O
Sudeste, ao contrário, embora seja a região mais rica, estaria mais distante desta
norma. Na prática, a questão é muito diferente: no Nordeste sucede sobretudo a
relegação da educação básica para os municípios, sob alegações de que a rede
estadual não teria condições, acentuando a miséria municipal, que, naturalmente, tem
condições ainda menores. Já em outras regiões, a rede estadual se preocupou mais
com a educação básica e não esperou pelos municípios, o que leva a verificar presença
mais forte, também na zona rural. Vale lembrar que a rede estadual mantém, no
Nordeste, apenas 9.4% dos docentes básicos na zona rural, enquanto, nas outras
regiões, esta cifra é sempre superior aos 20%, com realce maior para o Sudeste que
anota 42% de docentes básicos sustentados pela rede estadual.
5. Olhando o panorama geral dos docentes básicos distribuídos pelas
dependências administrativas, seria possível aventar, preliminarmente:
a) a presença pública estatal é absoluta, restando para a rede particular apenas
12.6% dos docentes;
b) embora existam ainda cifras elevadas de docentes atuando na zona rural,
sobretudo em regiões mais pobres, não ultrapassam mais os 30%, denotando o ímpeto
acelerado da urbanização;
c) a maior rede, em termos de docentes, ainda é a estadual para o país; quanto
às grandes regiões, vale a mesma regra, com exceção do Nordeste; a municipalização,
8
neste contexto, ainda está por acontecer, até porque, onde aparecem cifras elevadas
da rede municipal, trata-se sempre de regiões mais pobres;
d) talvez ainda se possa afirmar que a presença da atuação estadual tende a
ser uma garantia de maior compromisso com a educação básica; dito pelo avesso, a
municipalização facilmente toma o rumo da relegação.
6. Passando para o plano das grandes regiões, a Tabela 2 revela o perfil geral
do Norte, com seus respectivos estados (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará,
Amapá e Tocantins). Para começar, o peso desta região é o menor de todos, porquanto
apenas 7.1% dos docentes básicos aí atuam. Somente 1/4 deles exerce suas
atividades na zona rural, o que não deixa de ser bastante surpreendente para uma
região com densidade populacional muito rarefeita. O estado que manifesta mais
docentes na zona rural é o Pará, com 35.2%, uma cifra inesperada, se compararmos
com a do Estado do Amazonas, que revela só 22.9%. Neste caso, possivelmente o
efeito da Zona Franca de Manaus, como se sabe, apressou em demasia o êxodo rural,
tornando Manaus extremamente inchada. Por outra, o peso da cifra do Pará é
considerável, porque é o estado que detém o maior número de docentes básicos na
região, a saber, 42.2.%, não muito longe da metade.
Tabela 2: Número de Docentes por Dependência Administrativa, na Região Norte – 1997.
Unidades Funções Docentes
da Localização Total Federal Estadual Municipal Particular Não
Federação informado
Brasil Total 1617611 0,6% 50,6% 34,2% 12,6% 1,9%
Urbano 80,4% 0,7% 58,0% 25,9% 15,4% 0,0%
Rural 17,7% 0,3% 22,4% 75,9% 1,3% 0,0%
N/informado 1,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% -
Norte Total 7,1% 0,8% 58,8% 31,6% 5,2% 3,5%
Urbano 70,9% 1,1% 71,3% 20,4% 7,2% 0,0%
Rural 25,6% 0,1% 32,1% 67,2% 0,5% 0,0%
Rondônia Total 10,5% 0,0% 70,5% 16,7% 10,1% 2,7%
Urbano 89,1% 0,0% 76,1% 12,6% 11,3% 0,0%
Rural 8,2% 0,0% 32,1% 67,9% 0,0% 0,0%
Acre Total 6,2% 0,5% 69,9% 21,4% 3,9% 4,2%
Urbano 72,1% 0,6% 75,9% 18,0% 5,4% 0,0%
Rural 23,7% 0,1% 64,2% 35,7% 0,0% 0,0%
Amazonas Total 19,1% 1,3% 56,4% 34,7% 6,6% 0,9%
Urbano 76,1% 1,7% 71,1% 18,7% 8,5% 0,0%
Rural 22,9% 0,0% 10,0% 89,2% 0,7% 0,0%
Roraima Total 3,5% 3,7% 89,2% 2,7% 1,6% 2,7%
9
Com respeito aos docentes particulares, a região é aquela que menos os tem,
como víamos (5.2%). O destaque fica para Rondônia, com 10.1%, vindo a seguir
Amazonas com 6.6%, ficando os outros estados abaixo da média da região. Em
Roraima, docentes particulares são apenas 1.6%. Provavelmente, este tipo de relação
teria algo a ver com a pobreza da região, embora, em estados mais novos que foram
Territórios antes, sob administração federal, a oferta estadual possa deter qualidade
mais satisfatória.
Na zona rural, predominam docentes municipais, em proporções muito
elevadas nas unidades mais tradicionais, destacando-se Amazonas, com 89.2%,
restando para os estaduais a cifra de apenas 10%. Pará chega a 68.5%, mas, de
qualquer maneira, ainda mostra 31.1% de docentes estaduais, enquanto Tocantins, de
modo similar, apresenta 76.4% de docentes municipais e 21% de estaduais, na zona
rural. Já os estados mais novos mudam muito de figura: Roraima acusa 99.4% de
docentes estaduais na zona rural, ou seja, praticamente todos, seguido de Amapá com
82.6%; Acre mostra também uma predominância de docentes estaduais na zona rural,
com 64.2%, mas já aprecem 35.7% de docentes municipais. O perfil de Rondônia na
zona rural se assemelha aos estados tradicionais: 67.9% de docentes municipais e
32.1% de docentes estaduais.
8. Neste sentido, a região é bastante heterogênea, como seria de esperar, pela
própria história de cada unidade federada. Enquanto os estados mais novos, mantendo
uma presença mais forte do sistema estadual, poderiam postar-se melhor, os mais
tradicionais acusam o perfil complicado de predominância de redes municipais,
sobretudo na zona rural, indicando maiores dificuldades. Este tipo de situação denota
bem a problemática de fundo da municipalização prevista na Constituição e na LDB:
não pode ser feita pela via da relegação, no sentido de a rede estadual livrar-se das
escolas e docentes de ensino fundamental e educação infantil6. As condições do Pará,
para tomar o exemplo mais manifesto, sinalizam grandes desafios para a
municipalização: além de, na zona urbana, os docentes serem em quase 30%
municipais, na zona rural atingem a quase 70%. Este perfil parece ainda mais grave no
6
BRZEZINSKI, I. (Org.). 1997. LDB Interpretada: Diversos olhares se entrecruzam. Cortez, São Paulo. SAVIANI, D.
1997. A Nova Lei da Educação. Cortez, São Paulo. DEMO, P. 1998. A Nova LDB - Ranços e avanços. Papirus, Campinas, 6a ed.
11
Amazonas, que teria 89% de docentes municipais na zona rural, embora a zona rural
tenha uma dimensão menor.
9. A tabela 3 aponta a situação dos docentes no Nordeste, onde existem 9
unidades federadas: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
O Estado de maior peso quantitativo é Bahia, com 23.9% dos docentes dentro
da região, e o menor é Sergipe, com somente 4%. Entre esses extremos temos:
Pernambuco com 14%, Ceará com 15.3%, Maranhão com 13.1%, Paraíba com 8.8%,
Piauí com 7.7%, Rio Grande do Norte com 7.4%, e Alagoas com 5.9%. A zona rural é a
mais presente do país, com 31.6% dos docentes, ficando para a zona urbana 66.3%.
Os Estados, em termos de presença rural, se classificam assim: Maranhão com 37.2%,
Ceará com 36.7%, Alagoas com 35.2%, Bahia com 33.5%, e Piauí com 30.2%, todos
acima dos 30%; abaixo dos 30% temos: Paraíba com 28.4%, Pernambuco com 25.9%,
Sergipe com 25.4%, e Rio Grande do Norte com 21%.
Tabela 3: Número de Docentes por Dependência Administrativa, no Nordeste - 1997.
Unidades Funções Docentes
Da Localização Total Federal Estadual Municipal Particular Não
Federação Informado
Brasil Total 1617611 0,6% 50,6% 34,2% 12,6% 1,9%
Urbano 80,4% 0,7% 58,0% 25,9% 15,4% 0,0%
Rural 17,7% 0,3% 22,4% 75,9% 1,3% 0,0%
N/informado 1,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,9%
Nordeste Total 29,2% 0,7% 36,8% 49,6% 10,8% 2,1%
Urbano 66,3% 0,9% 51,0% 32,6% 15,6% 0,0%
Rural 31,6% 0,3% 9,4% 88,9% 1,5% 0,0%
Maranhão Total 13,1% 0,4% 32,6% 53,6% 9,7% 3,6%
Urbano 59,2% 0,6% 49,7% 34,6% 15,1% 0,0%
Rural 37,2% 0,2% 8,5% 89,1% 2,2% 0,0%
Piauí Total 7,7% 0,9% 43,9% 39,5% 9,7% 6,0%
Urbano 63,8% 1,3% 64,1% 20,1% 14,5% 0,0%
Rural 30,2% 0,3% 10,0% 88,1% 1,6% 0,0%
Ceará Total 15,3% 0,4% 26,4% 58,0% 13,7% 1,5%
Urbano 61,8% 0,5% 41,0% 37,0% 21,4% 0,0%
Rural 36,7% 0,1% 2,8% 95,7% 1,3% 0,0%
Rio Grande Total 7,4% 1,0% 49,2% 38,5% 10,0% 1,2%
do Norte Urbano 77,8% 1,3% 57,5% 28,4% 12,8% 0,0%
Rural 21,0% 0,1% 21,5% 79,5% 0,3% 0,0%
Paraíba Total 8,8% 0,9% 40,5% 48,3% 9,8% 0,6%
Urbano 71,0% 1,0% 51,3% 34,0% 13,7% 0,0%
Rural 28,4% 0,5% 14,2% 85,1% 0,2% 0,0%
12
7
DEMO, P. 1996. Um Brasil Mal-Educado. Champagnat (Univ. Católica), Curitiba.
14
Sul apresenta uma estruturação mais favorável, mesmo que a presença de 65% de
docentes municipais na zona rural pudesse indicar um caminho mais penoso. Não se
há de comparar estas condições com as outras regiões mais pobres, porque é notório
que uma dose importante dos municípios revela capacidade muito mais garantida de
auto-sustentação. Apesar das pequenas diferenças, é viável afirmar, com as devidas
cautelas, que no Sul seria praticável um processo razoável de municipalização.
18. No Centro-Oeste, como mostra a Tabela 6, temos logo uma questão
específica, que é a inclusão do Distrito Federal, ou seja, de uma unidade federada de
porte muito diverso do “normal”. Os outros estados são: Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso e Goiás. O peso da zona rural é pequeno, em torno dos 10%, aumentando mais
sobretudo no Mato Grosso com 16.8% e em Goiás com 11.6%. No Distrito Federal a
zona rural é de apenas 3.7%, em termos de docentes básicos. Docentes particulares
comparecem, na média regional, com algo similar ao Sul, ou seja, 13.7%. Esta cifra é
muito influenciada pelo Distrito Federal, que acusa 22.7% de docentes particulares,
sendo notória a presença de escolas particulares em Brasília. São menos expressivas
em Goiás, com 9.8%, mas merecem atenção em Mato Grosso do Sul, com 17.4%.
Tabela 6: Número de Docentes por Dependência Administrativa, Centro-Oeste - 1997.
Unidades Funções Docentes
da Localização Total Federal Estadual Municipal Particular Não
Federação Informado
Brasil Total 1617611 0,6% 50,6% 34,2% 12,6% 1,9%
Urbano 80,4% 0,7% 58,0% 25,9% 15,4% 0,0%
Rural 17,7% 0,3% 22,4% 75,9% 1,3% 0,0%
N/informado 1,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,9%
Centro- Total 6,9 0,6% 58,5% 25,7% 13,7% 1,4%
Oeste Urbano 87,8 0,6% 64,0% 20,0% 15,5% 0,0%
Rural 10,8 0,4% 22,2% 76,1% 1,3% 0,0%
Mato Grosso Total 18,6 0,4% 46,9% 34,7% 17,4% 0,6%
do Sul Urbano 90,8 0,4% 50,6% 30,2% 18,8% 0,0%
Rural 8,5 0,3% 11,2% 85,5% 3,0% 0,0%
Mato Grosso Total 21,3 1,1% 58,4% 27,7% 11,4% 1,4%
Urbano 81,8 1,2% 68,9% 16,4% 13,5% 0,0%
Rural 16,8 1,0% 12,3% 84,9% 1,7% 0,0%
Goiás Total 43,3 0,3% 57,4% 31,0% 9,8% 1,4%
Urbano 87,0 0,4% 63,0% 25,4% 11,2% 0,0%
Rural 11,6 0,0% 23,0% 76,4% 0,6% 0,0%
Distrito Total 16,9 0,6% 74,4% 0,0% 22,7% 2,3%
Federal Urbano 94,0 0,7% 75,2% 0,0% 24,1% 0,0%
Rural 3,7 0,0% 99,4% 0,0% 0,6% 0,0%
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Fonte: MEC/INEP/SEEC
Nota: O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um
estabelecimento de ensino. Sem "Não informado" nos Estados.
19. Como o Distrito Federal é um caso à parte, será mais prático analisar em si.
Primeiro, o predomínio da esfera estadual chega a 74.4% e não apresenta nada na
esfera municipal, porque não existe em sua estrutura administrativa. Evidentemente
que esta configuração deturpa as médias da região de modo definitivo. Segundo, a
inexistência da estrutura municipal acaba apontando para o lado mais favorável das
escolas do Distrito Federal, conhecido por sua oferta elevada de educação, tanto na
rede particular, quanto na pública. Terceiro, na zona urbana a presença do docente
particular aproxima-se de 1/4, ou seja, de cada quatro docentes, um é particular.
Quarto, a zona rural, embora pequena, abriga apenas docentes estaduais, ao lado de
um resíduo estatístico particular, indicando uma oportunidade certamente diferenciada.
Como se verá mais tarde, no Distrito Federal também vigoram os maiores salários,
donde seria de esperar que abrigasse a melhor oferta educacional do país.
20. Quanto aos outros Estados, também existe predomínio acentuado da
estrutura estadual: em Mato Grosso do Sul aparece a cifra menor, com 46.9% de
docentes estaduais, contra 34.7% de municipais; em Goiás já são maioria, com 57.4%
(contra 31% municipais) e mais ainda em Mato Grosso, com 58.4% (contra 27.7%
municipais). Já não é o caso da zona rural, que revela sempre uma concentração
expressiva de docentes municipais: 76.4% em Goiás, 84.9% em Mato Grosso, e 85.5%
em Mato Grosso do Sul. Esta situação insinua que a zona rural é menos bem tratada
que a zona urbana, marcando-a com ofertas empobrecidas.
21. Os dados disponíveis permitem, olhando para as tabelas anteriores, sugerir:
a) sabemos apenas de modo aproximado o número de docentes, porque
trabalhamos, no fundo, com o conceito de “função docente”; esta situação, por outra,
também é paradigmática, no sentido de que não é ainda uso entre nós que um docente
se dedique a uma escola só e somente oito horas por dia; para ganhar a vida é mister
multiplicar-se em várias jornadas, sem falar que existem docentes que apenas dão
aulas, cá e lá, como “biscateiros”, na prática; este tipo de dedicação parcelar pode ter
seu lado atraente, porque flexível, mas revela sobretudo o estigma de uma profissão
relegada;
20
8
GADOTTI, M./ROMÃO, J.E. (Org.). 1993. Município e Educação. Cortez, São Paulo. ÁVILA, V.F. 1993.
Municipalização para o Desenvolvimento. UFMS/PREG, Campo Grande.
21
1. Ainda que não se possa fazer ilação direta e sobretudo mecânica entre nível
de formação e qualidade do docente, principalmente porque é sempre possível
questionar o que se entende por “formação”, de modo geral aceita-se como um dos
indicadores mais próximos. Com efeito, as teorias da aprendizagem valorizam muito o
professor, embora não mais como “auleiro”, pois a simples transmissão do
conhecimento pode ser feita de modo mais pertinente e atraente pelos meios modernos
de comunicação, ou pela parabólica que já está chegando às escolas públicas. O
professor é requisitado como “orientador” do processo de aprendizagem do aluno,
estabelecendo-se a velha equação maiêutica: para que um aluno possa aprender bem,
é mister que o professor saiba aprender bem. Professor é o especialista da
aprendizagem, não do ensino, pois esta última especialidade torna-se eletrônica9.
Colocando as coisas nestes termos, as instituições de formação dos
professores básicos (magistério, pedagogia e licenciaturas) representam, como
tendência arraigada, o que há de menos “formativo”, pelo menos com respeito à
aprendizagem. Persistem teimosamente no repasse reprodutivo de conhecimento,
ignoram a instrumentação eletrônica, não sabem elaborar e pesquisar com mão própria.
Não são contemporâneas, embora devessem ser instâncias típicas da
contemporaneidade. Com tais cautelas, fazemos uma análise incipiente dos dados a
seguir, que precisam ser tomados como indicações aproximativas e tentativas10.
2. A Tabela 7 revela perfil genérico dos graus de formação dos docentes
básicos do país e da Região Norte, destacando: docentes que possuem o grau
fundamental (ensino fundamental) incompleto e completo; que possuem grau médio;
que possuem graduação completa; e os que estariam acima da graduação, em duas
9
DEMO, P. 1998. Questões para a Teleducação. Vozes, Petrópolis.
10
BECKER, F. 1993. A Epistemologia do Professor – O cotidiano da escola. Vozes, Petrópolis. GARCIA, W. et alii.
1991. Professor Leigo: Institucionalizar ou erradicar? Cadernos SENEB 3. Cortez, São Paulo.
22
agressivo. Somente 16.4% dos docentes são graduados (abaixo da média regional) e
pouco mais de 4% têm alguma pós-graduação (também abaixo da média regional). Ao
lado de mais da metade de docentes leigos na zona rural, aparece ainda a cifra de
45.6% para normalistas, deixando docentes graduados quase que como resíduo. É
difícil não retirar a conclusão de que a questão dos docentes, sobretudo na zona rural,
ainda não foi enfrentada minimamente nesse estado.
Já no Amazonas, as condições são similares. Docentes inabilitados na zona
rural sobem a 56.8%, sendo que 42.8% possuem tão-somente o ensino fundamental
incompleto. Aqui temos um caso típico de contratação precária de docentes, ainda que
a desculpa das grandes distâncias e das áreas rarefeitas tenha algum sentido. Na
prática, parece que a zona rural está literalmente abandonada. Na zona urbana, a
situação seria bem diferente: docentes inabilitados são praticamente inexistentes (1%).
Embora predomine a normalista (67.8%), também aparece a cifra de 25.2% de
docentes graduados.
No Acre, docentes inabilitados na zona rural atingem a cifra astronômica de
60.3%, embora predominem docentes com ensino fundamental completo, ao contrário
do Amazonas. Na zona rural o problema é bem menor: docentes inabilitados seriam
pouco mais de 7%. Situação similar pode-se ver em Tocantins: quase 60% dos
docentes da zona rural são inabilitados, ainda que na zona urbana esta cifra desça para
7%. Trata-se de uma situação muito precária, sobretudo na zona rural, onde teríamos
apenas 35.2% de docentes normalistas. Por conta disso, esse estado mostra a menor
taxa de docentes graduados para o total na Região, com 10.4%. Esta constatação
recoloca a análise anterior: estados mais tradicionais apresentam estruturas mais
tradicionais. Tomando em conta Roraima, que ainda não foi visto neste momento de
análise, sua tessitura é bem diferente, apesar de também conter áreas muito rarefeitas
e grandes distâncias: na zona rural, docentes inabilitados são quase 20%, uma cifra
elevada, mas na zona urbana é de apenas 2%. Mesmo que este perfil esteja muito
abaixo daquele do Amapá, indica um cuidado um pouco mais visível com a educação
básica, talvez porque o estado seja mais recente.
7. A Tabela 8 apresenta o Nordeste, em termos de formação dos docentes,
onde as precariedades também costumam ser ostensivas. Primeiro, trata-se de uma
27
região com peso muito maior no concerto nacional, já que detém quase 30% dos
docentes (o Norte detém apenas 7.1%). Segundo, não se coloca muito acima do Norte,
havendo estados em situação ainda mais precária, sobretudo na zona rural. Pouco
mais de 15% dos docentes ainda são leigos, para o total da Região; quase 60% são
normalistas ou similares, havendo apenas 20.6% de docentes graduados e por volta de
somente 5% de pós-graduados, o que denota um perfil extremamente atrasado. A
diferença entre zona rural e urbana é também gritante: no caso de docentes
inabilitados, na zona urbana seriam apenas pouco mais de 3%, enquanto na zona rural
sobem para mais de 40%, uma cifra certamente alarmante. O predomínio da normalista
é marcante em todos as circunstâncias. Levando-se em conta que todos os estados
possuem estruturas universitárias, por vezes diversificadas, parece estranha a presença
tão débil de docentes graduados na educação básica.
8. A primeira marca constrangedora aparece, nos estados, no fato de que
existem cifras elevadíssimas de docentes com ensino fundamental incompleto na zona
rural, uma espécie de “docente leigo ao quadrado”. O estado que tem a cifra menor é
Pernambuco, com 10.4% (ao lado de outros 7.7% com ensino fundamental completo),
seguindo-se Rio Grande do Norte com 15.4% (ao lado de outros 13.8% com ensino
fundamental completo). Temos aí os dois únicos estados que apresentam cifras
inferiores a 20% para docentes inabilitados com ensino fundamental incompleto na
zona rural.
Tabela 8: Número de Docentes por Grau de Formação, Brasil e Região Nordeste - 1997.
Unidades Grau de Formação
da Localiz. Total Fundamental Médio Gradua. Aperf./ Mestr./ Não
Federação Incompl. Completo Especial. Doutor. Informado
Brasil Total 1617611 3,7% 3,3% 43,9% 36,6% 11,4% 0,5% 0,5%
Urbano 80,4% 0,6% 1,2% 41,3% 42,4% 13,4% 0,6% 0,5%
Rural 17,7% 17,8% 13,2% 55,1% 10,6% 2,6% 0,1% 0,6%
N/inform. 1,9% 4,4% 3,6% 47,5% 33,5% 9,9% 0,5% 0,6%
Nordeste Total 29,3% 9,2% 6,7% 57,9% 20,6% 4,9% 0,2% 0,5%
Urbano 66,3% 1,2% 2,4% 60,4% 28,5% 6,9% 0,3% 0,4%
Rural 29,7% 26,0% 15,8% 52,7% 4,2% 0,7% 0,1% 0,6%
Maranhão Total 13,1% 13,2% 6,8% 68,4% 9,2% 1,7% 0,1% 0,6%
Urbano 59,2% 0,9% 2,1% 79,9% 13,9% 2,6% 0,2% 0,4%
Rural 37,2% 33,0% 14,3% 49,6% 1,8% 0,4% 0,0% 0,8%
Piauí Total 7,7% 13,6% 7,1% 61,6% 15,1% 2,2% 0,1% 0,4%
Urbano 63,8% 1,3% 2,3% 71,7% 21,1% 3,1% 0,1% 0,4%
28
Santa Total 22,0% 0,9% 2,3% 45,3% 32,5% 17,9% 0,6% 0,5%
Catarina Urbano 76,6% 0,5% 1,5% 39,8% 36,3% 20,6% 0,8% 0,5%
Rural 19,2% 2,3% 5,6% 66,5% 17,6% 7,5% 0,1% 0,4%
Rio Grande Total 40,2% 0,4% 1,0% 31,0% 50,0% 16,5% 0,7% 0,4%
do Sul Urbano 81,9% 0,1% 0,3% 25,8% 53,7% 18,9% 0,8% 0,4%
Rural 16,7% 1,8% 4,0% 56,0% 32,7% 5,0% 0,1% 0,4%
Fonte: MEC/INEP/SEEC
Nota: O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um
estabelecimento de ensino. Sem "Não informado" nos Estados.
14. A Região como um todo, entretanto, manifesta uma folgada preponderância
de docentes graduados e pós-graduados, acima dos 60% (40.4% de graduados, e
22.1% de pós-graduados). É interessante notar que esta é a maior cifra do país em
termos de docentes pós-graduados. Na zona rural, entretanto, a normalista prepondera
com 57%, embora a cifra de mais de 7% de pós-graduados possa impressionar, por sua
vez. A situação mais confortável aparece no Rio Grande do Sul: além de possuir cifras
pequenas de docentes inabilitados, também na zona rural (5.8%), revela 50% de
docentes graduados, mais 17% de pós-graduados, para o total. Na zona rural, todavia,
a normalista prepondera com 56%, mas é interessante notar que há quase 40% de
docentes graduados e pós-graduados, distanciando-se, neste particular, bastante dos
outros dois estados.
Os outros dois estados manifestam cifras mais elevadas de docentes pós-
graduados (aperfeiçoamento e especialização), chamando a atenção o caso do Paraná:
28.8% de docentes com pós-graduação lata, o maior da Região, vindo a seguir Santa
Catarina com 17.9%. Quanto ao Paraná, esta situação é tipicamente contraditória:
enquanto avança na oferta de pós-graduação a seus docentes básicos, mantém mais
de 20% de docentes inabilitados na zona rural. No todo, porém, seria possível dizer que
a região caminha para a sofisticação docente e seria capaz de, num tempo razoável,
superar não só os docentes inabilitados, mas igualmente a normalista.
15. O Centro-Oeste, por sua vez, torna a análise mais difícil porque é uma
região viesada pela presença do Distrito Federal. Suas médias, entretanto, colocam-se,
como regra, na média nacional, permanecendo, como é o caso geograficamente, entre
o Sudeste e o Sul, de um lado, e Norte e Nordeste, de outro. Na zona rural, embora não
muito expressiva (10.8%), ainda havia quase 30% de docentes inabilitados, mas isto é
problema localizado sobretudo em Mato Grosso e Goiás (29.4%, e 36.3%,
33
Federal Urbano 94,0 0,1% 0,1% 23,2% 58,2% 16,7% 1,0% 0,7%
Rural 3,7 0,0% 0,0% 33,7% 48,0% 17,2% 0,1% 1,0%
Fonte: MEC/INEP/SEEC
Nota: O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um
estabelecimento de ensino. Sem "Não informado" nos Estados.
Mato Grosso, por sua vez, tem quase 30% de docentes inabilitados na zona
rural, mais 57.2% de normalistas; docentes graduados e pós-graduados na zona rural
estão por volta dos 10%. Para o total do estado, a normalista comparece com 45.6%, e
os graduados e pós-graduados com 36.6%, o que já evidencia uma posição menos
confortável. Em situação ainda menos vantajosa está Goiás, a começar pela cifra
enorme de docentes inabilitados na zona rural: 36.3% (pouco mais de 1/3). As
normalistas dominam a cena em 59.6% para o total, restando apenas por volta de 32%
de docentes graduados e pós-graduados.
17. Este capítulo sobre a formação docente revela, outra vez, grandes
disparidades regionais, além do descaso pelo interior rural, onde vigem ainda cifras
alarmantes de docentes inabilitados. Em muitos estados, entretanto, torna-se patente a
tendência a preferir docentes graduados e pós-graduados às normalistas, o que
indicaria o caminho previsto na LDB. Como regra, porém, este requisito está muito
longe de ser viável11.
Todavia, uma coisa é a formalidade da titulação, outra é a qualidade docente.
Os dados em nada garantem a esta, mesmo quando se trata de pós-graduação. O
cenário nacional ainda está marcado por um processo muito pouco qualitativo de
aprendizagem12.
11
BARRETO, A.M.R.F. 1991. A geografia do professor leigo: situação atual e prespectivas. Agosto. IPEA. Brasília.
Textos para discussão 223. BARRETO, A.M.R.F. 1991. Professores do ensino de 1º grau: quem são, onde estão e quanto ganham.
In: Estudos em Avaliação Educacional. Fundação Carlos Chagas. Jan.-Jun., p. 11-43.
12
MOREIRA, A.F.B. (Org.). 1994. Conhecimento Educacional e Formação do Professor. Papirus, Campinas. PÁTIO –
Revista Pedagógica. 1998. Formação Docente: O desafio da qualificação cotidiana. Ano I, No 4, fev./abr., Artes Médicas, Porto
Alegre. TRIVIÑOS, A.N.S. 1996. Cone Sul - Sistemas Educacionais, Formação de Professores. Sagra, Porto Alegre.
35
13
COLCLOUGH, C. 1996. Education and the Market: Which parts of the neoliberal solution are correct? In: World
Development, Vol. 24, No 4, p. 589-610. DAVIES, S & GUPPY, N. 1997. Globalization and Educational Reforms in Anglo-American
Democracies. In: Comparative Education Review, Vol. 41, No 4, Nov., p. 435-459. EHRENBERG, R.G. & BREWER, D.J. 1994. Do
School and Teacher Characteristics Matter? – Evidence from high school and behind. In: Economics of Education Review, Vol. 13,
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Developing Countries. McGill University, Quebec, September. ELMORE, R.F. 1996. Getting to Scale with Good Educational
Practice. In: Harvard Educatioinal Review, Vol. 66, No 1, p. 1-26.
36
Faixas salariais em R$ %
Menos de 50 1.5
50 a 100 4.8
101 a 250 21.9
251 a 400 20.0
Subtotal 48.2
401 a 600 17.6
601 a 1000 20.4
1001 a 1500 6.5
1501 a 2000 2.2
Mais de 2000 1.9
Subtotal 48.6
Fonte: MEC/INEP/SEEC
14
CARNOY, M. 1992. Razões para Investir em Educação Básica. UNICEF, Brasília.
15
CASTELLS, M. 1997. The Power of Identity - The information age: Economy, society and culture. Vol. II. Blackwell,
Oxford. CASTELLS, M. 1997. The Rise of the Network Society - The information age: Economy, society and culture. Vol. I.
Blackwell, Oxford. CASTELLS, M. 1998. End of Millenium – The information age: economy, society and culture – Vol. III.
37
16
MATOS, H.M.L. 1997. Estruturas Acadêmicas Corporativas: Desafio para o planejamento estratégico? In: Ensaio –
Avaliação e Políticas em Educação. Vol. 5, abr./jun., p. 161-190. SOUZA, P.R. 1989. Os riscos do corporativismo na educação. In:
Em Aberto. INEP/MEC. Jul./Set., p. 25-28.
38
Saltam aos olhos pelo menos duas incongruências: de uma parte, salários
federais muito elevados comparativamente, e dentro deste campo absurdamente
desiguais, já que a distância entre o melhor e o pior é astronômica; de outra parte, com
respeito aos patamares mais elevados, um fosso inacreditável para com as outras
estruturas públicas, como se funcionários federais fossem uma ilha à parte. Ao lado
dessas duas incongruências mais visíveis, aparecem outras duas: não existem salários
realmente dignos de nota, nem na esfera federal; a iniciativa privada tende a pagar mal.
Do ponto de vista dos salários estaduais, o panorama assim se delineia:
a) o melhor salário médio estadual está no Distrito Federal (R$ 1281,82 por
mês), uma unidade federada muito particular, pelo próprio fato de não ter estrutura
municipal e depender, para este caso, da União; já não tem o nível do melhor salário
médio federal, e por isso talvez pudesse ser tachado como mínimo desejável;
Distrito Federal 1281,82 Mato Grosso 514,39 Pará 419,93 Piauí 307,13
Amapá 968,00 Rio G. Sul 508,78 Espírito Santo 415,78 Acre 305,53
São Paulo 707,73 Alagoas 445,83 Pernambuco 409,08 Maranhão 298,17
Rondônia 623,88 Amazonas 437,68 Mato G. Sul 388,02 Tocantins 285,56
Roraima 592,53 Ceará 436,09 Rio de Janeiro 366,36 Rio G. Norte 242,92
Paraná 581,69 Santa Catarina 433,96 Bahia 362,83 Paraíba 199,89
Minas Gerais 551,28 Sergipe 420,21 Goiás 307,57
sob esta ótica os salários pagos em São Paulo, mesmo sendo o estado mais rico do
país, é muito reduzido e fala pelo descaso dos sistemas frente aos docentes;
c) o quarto e o quinto salário médio estão em Rondônia (R$ 623,88) e Roraima
(R$ 592,53), o que levaria a concluir que no Norte, por razões de origem federal dos
estados e pela necessidade de atrair docentes, entre outras, os salários possuem
outras referências; chama a atenção, entretanto, que Paraná, com baixo salário federal,
tenha um salário médio estadual mais elevado (R$ 581,69); é muito baixo também o
salário médio de Mato Grosso do Sul, por ser um estado com características mais
visíveis de qualidade, como víamos anteriormente (R$ 388,02);
d) indizível é também o salário médio estadual de Rio de Janeiro, com R$
366,36 por mês, praticamente metade do de São Paulo, e, em todos os sentidos,
baixíssimo para um estado com tanta história cultural, política e econômica no país; o
descaso pela educação básica torna-se aqui patético;
e) depois do Rio de Janeiro, aparecem 8 estados, todos nordestinos com
exceção de Goiás, com salários médios que vão desde R$ 362,83 para Bahia, até R$
199,89 para Paraíba, o menor de todos os estaduais; Paraíba parece ser o caso mais
gritante: tem quase sempre o menor salário médio: federal (R$ 148,19), estadual (R$
199,89), municipal (R$ 127,28) e particular (R$ 269,41).
b) algo similar poder-se-ia dizer de Rio de Janeiro, que acusa um salário médio
municipal de R$ 480,39 por mês, acima do estadual, ainda que não se compare com o
de São Paulo; mesmo o de São Paulo, com quase mil reais, ainda é muito reduzido
para a função; talvez se pudesse dizer que o único salário médio que se poderia levar
em conta é o de São Paulo, por ser o mais elevado comparativamente, ainda que
insuficiente em si; neste sentido, os salários médios municipais representam um festival
de ofertas inadequadas;
c) a inadequação culmina no Piauí, com um salário médio de R$ 116,77, ou
seja, em torno do salário mínimo ou menos, mostrando a face abusiva extremada do
pagamento dos docentes de 1a a 4a série; os piores salários, como de uso, concentram-
se no Nordeste; com algumas exceções, os melhores comparecem no Sudeste e Sul.
a) como seria de esperar, São Paulo volta à dianteira, com um salário médio de
R$ 970,79 por mês, seguido do Distrito Federal com R$ 826,47 por mês; de partida é
mister dizer que nenhum salário médio particular é satisfatório, o que revela sobretudo a
perversidade do mercado, sem falar no discurso da “qualidade total” que prega,
contraditoriamente, a importância da formação de “recursos humanos” para o mercado;
provavelmente, a escola particular se esconde atrás da escola pública, que também
paga mal, fazendo uma “dobradinha” útil aos dois sistemas;
b) em seis estados nordestinos aparecem salários médios abaixo de R$ 300,00
por mês (Piauí, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Maranhão), revelando
uma indignidade próxima daquela municipal e do interior; como, porém, escola
particular é quase inexistente na zona rural, trata-se tendencialmente de salários
médios urbanos, e que, por isso mesmo, são ainda mais indignos;
São Paulo 907,79 Acre 635,01 Rondônia 492,80 Piauí 294,69
Distr. Federal 826,47 Paraná 632,98 Goiás 471,82 Alagoas 288,55
Minas Gerais 749,81 Rio de Janeiro 613,35 Mato G. Sul 455,25 Rio G. Norte 272,30
Rio G. Sul 718,00 Pará 540,12 Tocantins 445,99 Paraíba 269,41
Roraima 714,46 Amazonas 529,05 Bahia 337,61 Ceará 259,40
Santa Catarina 696,81 Mato Grosso 525,53 Sergipe 318,95 Maranhão 241,90
41
c) apenas 14 estados pagam mais que R$ 500,00 por mês em média; nesta
“turma” vemos algumas surpresas, como Amazonas, Pará, Acre, Amapá e Roraima;
estes estados do Norte encontram-se em situação bem mais confortável, se
comparados aos nordestinos.
7. Por fim, é igualmente preciso dizer que a reserva de salários médios
menores para docentes de 1a a 4a série também é uma injustiça clamorosa, porque
inverte a ordem de importância das coisas, sacralizando categorias odiosas. Em grande
parte, esta discriminação se funda na diferença de formação (trata-se quase sempre da
normalista ou similar, com formação média), o que já seria razão mais que suficiente
para elevar este patamar, urgentemente, ao nível superior, homogeneizando por cima,
não por baixo. Entretanto, o disparate maior está em não reconhecer que as séries
iniciais são as mais decisivas. Se houvesse um docente “maior”, seria este, sem dúvida.
8. A Tabela 14 refere-se aos salários médios dos docentes de 5a a 8a série,
revelando, desde logo, que no plano federal são mais elevados e menos discrepantes.
O maior deles está em Santa Catarina, com R$ 1867,84, e o menor no Rio Grande do
Norte, com R$ 634,60 por mês. Ademais, são também sensivelmente melhores que o
salário médio federal dos docentes de 1a a 4a série. Mesmo assim, a falta de critério
dentro do mesmo sistema salta à vista, não só porque entre o melhor e o pior há uma
diferença de três vezes, como também porque sua determinação deve ter ficado à
mercê das lutas específicas em cada estado.
De todos os modos, se é possível pagar salários deste porte no sistema federal,
seria o caso esperar um esforço maior nos outros sistemas, até porque, diante da
importância da profissão para a cidadania e para o mercado, não seria absurdo pedir
um salário de R$ 2000,00 por mês. Somente um tipo de salário neste nível permitiria ao
docente dedicar-se apenas a suas lides, com alguma folga para montar sua biblioteca,
participar de seminários e encontros, munir-se da devida instrumentação eletrônica, e
assim por diante.
42
a a
Tabela 14. Ensino Fundamental – 5 a 8 série - Salário Médio (Reais) dos Docentes
por Dependência Administrativa, segundo Estados - 1997.
Unidade da Dependência Administrativa
Federação Federal Estadual Municipal Particular
Santa Catarina 1867,84 456,98 543,98 788,24
Mato Grosso 1711,78 496,89 393,12 623,15
Rio Grande do Sul 1597,99 542,97 470,69 754,00
Maranhão 1546,97 335,35 207,93 278,45
Alagoas 1480,19 544,13 240,92 328,82
Rio de Janeiro 1479,72 373,09 573,14 700,77
Paraíba 1477,03 248,90 254,77 308,18
Piauí 1475,45 328,02 273,57 367,55
Minas Gerais 1398,89 696,20 649,97 923,47
Roraima 1391,03 623,92 - 670,45
Pará 1375,94 631,71 431,62 806,59
Sergipe 1365,35 562,15 439,76 378,99
Distrito Federal 1270,77 1413,07 - 1077,08
Acre 1220,63 393,99 451,21 753,29
Goiás 1213,45 385,96 536,67 652,36
Ceará 1197,18 546,98 252,55 362,86
Pernambuco 1106,33 519,66 352,51 441,28
Espírito Santo 999,38 414,06 625,80 760,07
Amazonas 991,09 480,58 446,87 821,86
Paraná 980,80 700,27 562,56 748,85
Mato Grosso do Sul 772,24 430,87 387,70 532,70
Bahia 674,51 413,16 308,26 421,35
Rio Grande do 634,60 292,08 253,88 413,30
Norte
Rondônia - 769,64 415,56 693,20
Amapá - 1114,30 557,95 774,14
Tocantins - 380,35 293,43 569,66
São Paulo - 765,13 1066,05 1055,19
Fonte: MEC/INEP/SEEC
9. Ordenando os salários médios pela ótica estadual, aparece o seguinte perfil
de modo geral:
a) o Distrito Federal, como é conhecido, paga o melhor salário médio público do
país, com R$ 1413,07 por mês, para docentes de 5a a 8a série; segue Amapá, que
sempre mantém uma posição mais confortável, com R$ 1114,30 por mês; aqui temos
os dois únicos salários médios acima de mil reais;
b) o terceiro salário encontra-se em Rondônia, mas a uma distância
considerável, sendo pouco mais da metade daquele do Distrito Federal, com R$
769,64; ao lado de Rondônia, pagam em torno de R$ 700,00 por mês em média São
Paulo, Paraná e Minas Gerais; o sétimo lugar ocupado por Pará, ainda que mostre um
43
c) somente Roraima paga ainda salário médio acima de R$ 600,00 por mês,
vindo a seguir 5 estados que pagam acima de R$ 500,00 por mês (Sergipe, Ceará,
Alagoas, Rio Grande do Sul e Pernambuco); o fato de aparecerem quatro estados
nordestinos, sinaliza que está ocorrendo aí uma política mais adequada de
remuneração dos docentes e mostra que também em situações economicamente
menos favoráveis é possível obter resultados mais compatíveis, desde que exista
decisão política também;
d) por outra, Paraíba revela o menor salário médio estadual, com apenas R$
248,90 por mês, em torno de dois salários mínimos; também Rio Grande do Norte paga
abaixo de R$ 300,00 por mês; outros 6 estados pagam abaixo de R$ 400,00 por mês,
entre os quais também está Rio de Janeiro, coisa que não seria de esperar; Santa
Catarina também paga muito mal, com somente R$ 456,98 por mês;
e) estas discrepâncias ostensivas (entre o maior e o menor salário médio há
uma diferença de mais ou menos seis vezes) revelariam que o maior problema para
remunerações adequadas está na decisão política, ou seja, no compromisso dos
governos estaduais para com a educação básica e seus docentes; o caso mais
clamoroso parece ser o do Rio de Janeiro; seja como for, não há nenhuma média
satisfatória nos estados, nem no Distrito Federal, mostrando que, apesar de visíveis
melhorias, sobretudo em estados nordestinos, estamos ainda muito longe de um
patamar minimamente decente de salários estaduais.
10. Olhando para o perfil dos salários médios municipais, podemos destacar
o seguinte, de modo geral:
a) São Paulo acusa um salário médio superior a mil reais (R$ 1066,05), muito à
frente do segundo salário médio municipal, que é o de Minas Gerais, com R$ 649,97
44
por mês; os dois seguintes salários médios são do Espírito Santo, com R$ 625,80, e do
Rio de Janeiro, com 573,14 por mês, ou seja, os quatro melhores salários médios
municipais estão no Sudeste; é certo que a diferença entre o salário de São Paulo e o
do Rio é escabrosa (quase duas vezes menor no Rio), mas não deixa de ser algo
interessante que essa região teria arrumado melhor os salários municipais,
correspondendo à sua posição nacional;
b) há mais quatro estados que pagam acima de R$ 500,00 por mês: Paraná,
Amapá, Santa Catarina e Goiás; a seguir aparecem seis que pagam acima de R$
400,00; depois comparecem mais quatro estados com salários municipais acima de R$
300,00; e por fim, estão aqueles estados que pagam salários médios municipais
inferiores (Tocantins, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Maranhão),
sendo o mais baixo o do Maranhão, com apenas R$ 207,93 por mês; os últimos lugares
são ocupados por estados nordestinos, com exceção de Tocantins, o que mostra uma
discrepância entre decisões estaduais e municipais; por exemplo, no caso do Ceará,
seu salário médio estadual é praticamente duas vezes superior ao municipal;
São Paulo 1066,05 Goiás 536,67 Mato Grosso 393,12 Rio G. Norte 253,88
Minas Gerais 649,97 Rio G. Sul 470,69 Mato G. Sul 387,70 Ceará 252,55
Espírito Santo 625,80 Acre 451,21 Pernambuco 352,51 Alagoas 240,92
Rio de Janeiro 573,14 Amazonas 446,87 Bahia 308,26 Maranhão 207,93
Paraná 562,56 Sergipe 439,76 Tocantins 293,43 Roraima -
Amapá 557,95 Pará 431,62 Piauí 273,57 Distr. Federal -
Santa Catarina 543,98 Rondônia 415,56 Paraíba 254,77
2000,00, a iniciativa particular paga muito mal, ficando também bastante abaixo dos
salários médios estaduais no Distrito Federal.
Distrito Federal 1077,08 Espírito Santo 760,07 Goiás 652,36 Sergipe 378,99
São Paulo 1055,19 Rio G. Sul 754,00 Mato Grosso 623,15 Piauí 367,55
Minas Gerais 923,47 Acre 753,29 Tocantins 569,66 Ceará 362,86
Amazonas 821,86 Paraná 748,85 Mato G. Sul 532,70 Alagoas 328,82
Pará 806,59 Rio de Janeiro 700,77 Pernambuco 441,28 Paraíba 308,18
Santa Catarina 788,24 Rondônia 693,20 Bahia 421,35 Maranhão 278,45
Amapá 774,14 Roraima 670,45 Rio G. Norte 413,30
Distrito Federal 1467,18 Sergipe 700,12 Maranhão 511,63 Espírito Santo 409,38
Amapá 1191,78 Roraima 664,88 Mato Grosso 506,91 Goiás 406,10
Rondônia 834,07 Alagoas 645,93 Acre 501,24 Rio de Janeiro 385,06
São Paulo 762,25 Ceará 623,25 Santa Catarina 456,24 Piauí 353,04
Pará 743,99 Rio G. Sul 562,78 Bahia 454,68 Rio G. Norte 317,33
Minas Gerais 739,08 Amazonas 544,66 Mato G. Sul 439,64 Paraíba 277,05
Paraná 719,18 Pernambuco 515,59 Tocantins 436,49
mais confortáveis de estados como Amapá e Rondônia mostram que a decisão política
estadual é fator essencial para a melhoria das remunerações docentes.
São Paulo 909,13 Amapá 589,56 Sergipe 475,02 Piauí 259,91
Acre 692,89 Goiás 574,57 Mato G. Sul 450,13 Rio G. Norte 246,90
Minas Gerais 645,90 Rio de Janeiro 559,46 Roraima 412,00 Alagoas 234,73
Rio G. Sul 640,37 Espírito Santo 551,72 Bahia 362,86 Maranhão 214,38
Pará 638,01 Mato Grosso 546,28 Ceará 350,03 Paraíba 194,24
Paraná 613,95 Santa Catarina 545,34 Pernambuco 341,70 Distr. Federal -
Amazonas 601,94 Rondônia 489,13 Tocantins 341,60
são sempre superiores aos municipais, mas, no fundo, nada disso justifica pagamentos
tão aviltados.
Distrito Federal 1424,05 Pará 841,67 Mato G. Sul 688,66 Sergipe 474,20
Amapá 1149,15 Rondônia 794,96 Santa Catarina 683,59 Ceará 422,80
Acre 1056,11 Paraná 794,67 Roraima 632,97 Piauí 398,50
São Paulo 984,83 Rio G. Sul 773,52 Tocantins 602,66 Paraíba 389,60
Amazonas 907,07 Goiás 755,94 Bahia 495,46 Alagoas 371,54
Espírito Santo 878,55 Rio de Janeiro 725,59 Pernambuco 491,05 Maranhão 324,04
Minas Gerais 873,44 Mato Grosso 695,73 Rio G. Norte 488,81
17
MELCHIOR, J.C.A. 1998. Mudanças no Financiamento da Educação no Brasil. Autores Associados, Campinas.
18
LARA, T.A. 1996. A Escola que não Tive... O Professor que não Fui... Cortez, São Paulo. PIMENTA,
S.G./GONÇALVES, C.L. 1990. Revendo o Ensino de 2o Grau, Propondo a formação de professores. Cortez, São Paulo. VILLA, F.G.
1998. Crise do Professorado – Uma análise crítica. Papirus, Campinas.
50
1. Em termos gerais, este tipo de dado pode servir para especificar as situações
concretas com maior detalhe, partindo da seguinte hipótese de trabalho: em particular
no ensino fundamental e por ser obrigatório, uma diferença muito grande entre o
número de docentes que trabalham na 1a a 4a série, e os outros que trabalham na 5a a
8a série, pode revelar que o fluxo escolar está obstruído de alguma forma. Como na 5a
a 8a série os professores são por matéria, e seriam, assim, mais numerosos
naturalmente, esperaríamos que, numa situação equilibrada, houvesse mais docentes
no segundo espaço. Esta expectativa não é linear, e por isso não pode passar de uma
hipótese analítica preliminar.
Uma observação pertinente é a de que o número de docentes na Tabela 16
passa para 1,5 milhão, em vez de 1,6 como nas outras tabelas anteriores, o que aguça
ainda mais a polêmica em torno do número real de docentes. Por referir-se somente
aos regentes de sala de aula, já seria de esperar um decréscimo, mas incomoda que a
diferença esteja por volta de 73 mil. Levando-se em conta ainda que o mesmo docente
pode trabalhar em mais de um estabelecimento – como consta da nota da Tabela 16 -,
é bem possível que o número real de docentes não ultrapasse a 1,5 milhão. É sempre
muito difícil saber quanto docentes trabalham em mais de um estabelecimento e em
vários níveis de ensino, mas, tomando em conta que os salários são, como regra, muito
baixos, os docentes são obrigados a desdobrar-se em vários turnos, o que favorece a
dupla contagem nos levantamentos.
2. Seja como for, a Tabela 16 mostra que os docentes se concentram, em 40%,
na oferta de 1a a 4a série, vindo a seguir a oferta de 5a a 8a série com 28.2%, o ensino
médio com 15.5%, e por fim o pré-escolar e as classes alfabetização com 13.3%.
Significa dizer que o acúmulo de docentes no nível de 1a a 4a insinua um represamento
evidente e bastante acentuado, e que poderia servir, em termos comparativos, para
51
expressar situações mais e menos avançadas no país. Neste sentido, nota-se que o
Norte aumenta esta concentração para 49% (quase metade), o Nordeste atinge o ponto
mais alto de 49.5%, permanecendo abaixo dos 40% nas outras três regiões, com leve
vantagem para o Sudeste: 34.1% para o Sudeste, 35.2% para o Sul, e 35.9% para o
Centro-Oeste.
Leve-se em conta ainda que a participação relativa dos docentes na 5a a 8a
série estando acima dos 30%, indicaria uma relação mais saudável com a situação
anterior, podendo-se tomar como protótipo o que ocorre na média do Sudeste: 34.1%
para docentes na 1a a 4a série e 31.2% para docentes na 5a a 8a série. Esta condição é
similar à das regiões Sul e Centro-Oeste, embora o Sudeste também leve alguma
vantagem em docentes alocados no ensino médio (19.5%). Existem estados que
revelam a situação mais esperada, e que seria a de haver mais professores na 5a a 8a
série, como é o exemplo do Distrito Federal: 25.7% de docentes na 1a a 4a série, e
30.1% na 5a a 8a série. Nesta situação estão também: São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul.
3. Estados como Minas Gerais ainda estão longe desta marca: apresenta
42.2% de docentes na 1a a 4a série, e apenas 28.7% na 5a a 8 a série. As situações mais
precárias se encontram no Nordeste:
a) Alagoas e Ceará mostram cifras abaixo dos 20% para docentes de 5a a 8a
série; embora a relação não possa ser linear, porque esta cifra é sempre influenciada
também pelos docentes do pré-escolar e das classes de alfabetização, de um lado, e,
de outro, pelos docentes do ensino médio, indicam enormes taxas de perda de alunos a
partir da 5a série do ensino fundamental; no caso do Ceará pode-se dizer a seu favor
que existem 20.2% de docentes no pré-escolar e nas classes de alfabetização;
Tabela 16. Docentes por Nível de Ensino, por Estados – 1997.
Unidade Nível de Ensino
a a
da Total Pré e 1 a 5 a Médio Não
a a
Federação CA 4 8 informado
BRASIL 1544145 13,3% 40,0% 28,2% 15,5% 3,2%
NORTE 111160 13,8% 49,0% 22,9% 10,4% 3,9%
Rondônia 11411 12,2% 41,8% 28,4% 13,7% 4,0%
Acre 5742 11,5% 51,4% 22,5% 8,7% 6,0%
Amazonas 21609 16,4% 43,5% 25,6% 10,8% 3,7%
Roraima 3733 11,3% 43,4% 28,2% 12,9% 4,2%
Pará 50047 14,9% 54,1% 19,0% 8,7% 3,3%
52
Tabela 17. Número de Docentes por Faixas Etárias, Regiões e Dependência Administrativa - 1997.
Dependência Faixas Etárias
Regiões Total menos 20 a 25 a 30 a 35 a 40 a 45 a mais Não
Administrativa de 20 24 29 34 39 44 49 de 49 Inf.
Brasil Total 1617611 1,3% 9,3% 15,7% 19,4% 17,1% 15,0% 11,3% 8,5% 2,4%
Federal 0,6 0,2% 2,0% 10,5% 19,1% 19,2% 21,2% 15,3% 10,8% 1,9%
Estadual 50,6 0,5% 6,1% 12,5% 17,8% 18,3% 18,0% 14,2% 10,5% 2,1%
Municipal 34,2 2,6% 13,3% 18,9% 20,9% 15,8% 11,8% 7,9% 5,8% 3,0%
Particular 12,6 1,6% 12,0% 19,9% 21,3% 15,2% 11,5% 8,7% 7,8% 2,1%
Não/inf. 1,9 1,5% 10,6% 17,0% 20,3% 16,6% 13,7% 10,0% 7,2% 3,1%
Norte Total 7,1 1,2% 10,5% 18,0% 20,0% 17,5% 14,5% 9,0% 6,1% 3,4%
Federal 0.8 0,1% 1,3% 10,3% 18,2% 18,9% 22,0% 17,6% 9,5% 2,1%
Estadual 58,8 0,4% 6,5% 15,8% 19,7% 19,6% 17,5% 10,8% 7,1% 2,7%
Municipal 31,6 2,5% 16,9% 20,9% 20,1% 14,3% 10,1% 6,0% 4,5% 4,7%
Particular 5,2 2,0% 14,8% 22,6% 22,7% 14,5% 9,3% 6,3% 5,0% 2,8%
Nordeste Total 29,3 2,6% 11,4% 15,8% 18,2% 16,6% 14,4% 10,3% 7,7% 3,1%
Federal 0.7 0,3% 1,7% 11,3% 20,3% 18,6% 21,5% 14,2% 6,6% 2,3%
Estadual 36,8 0,4% 3,4% 8,6% 15,5% 20,2% 20,9% 16,3% 12,3% 2,3%
Municipal 49,6 4,2% 16,6% 19,4% 19,5% 14,6% 10,6% 6,6% 4,9% 3,6%
Particular 12,9 2,6% 15,7% 23,3% 21,0% 13,7% 9,4% 6,2% 5,3% 2,8%
Sudeste Total 40,3 0,6% 7,5% 14,7% 19,9% 17,1% 15,4% 12,6% 10,1% 2,0%
Federal 0,5 0,1% 1,3% 7,5% 17,1% 19,5% 21,6% 16,9% 14,2% 1,8%
Estadual 58,2 0,4% 6,7% 13,2% 18,5% 9,5% 16,8% 14,1% 11,0% 2,0%
Municipal 24,8 0,9% 8,6% 16,7% 22,4% 17,1% 13,5% 10,6% 8,1% 2,1%
Particular 14,9 0,9% 9,2% 17,1% 21,2% 16,3% 13,3% 10,5% 9,8% 1,8%
Sul Total 16,5 1,1% 9,0% 16,2% 19,8% 17,6% 15,3% 11,3% 8,0% 1,8%
Federal 0,9 0,2% 3,1% 12,6% 20,1% 19,8% 19,7% 13,9% 9,3% 1,4%
Estadual 49,7 0,6% 5,9% 12,3% 17,7% 18,4% 18,4% 14,7% 10,2% 1,8%
Municipal 34,5 1,6% 12,2% 20,1% 22,2% 17,3% 12,4% 7,4% 4,9% 1,9%
Particular 13,1 1,7% 12,1% 20,8% 21,3% 14,7% 10,8% 8,7% 8,1% 1,8%
Centro- Total 6,9 1,4% 11,0% 17,5% 19,8% 16,9% 14,8% 9,7% 6,0% 2,9%
Oeste Federal 0,6 0,0% 3,7% 12,8% 19,9% 18,7% 21,2% 13,7% 7,6% 2,4%
Estadual 58,5 1,1% 9,3% 15,2% 18,4% 17,6% 17,0% 11,6% 7,1% 2,7%
Municipal 25,7 1,6% 12,2% 20,0% 21,7% 16,4% 12,3% 7,4% 4,6% 3,7%
Particular 13,7 2,5% 15,9% 22,6% 22,0% 14,6% 9,8% 6,1% 4,2% 2,3%
Fonte: MEC/INEP/SEEC. Sem “Não informado” para as regiões.
da Tabela). Entretanto, para o Brasil, apenas 10,9% postavam-se acima deste nível. A
Região Sudeste apresentava o melhor desempenho, com 14,8% de alunos que
superavam o nível 250, atingindo seu máximo em Minas Gerais, com 22,9%. Nas
Regiões Norte e Nordeste, tomadas como um todo, é praticamente inexistente
desempenho acima deste nível. O Distrito Federal, geralmente decantado como terra da
melhor escola pública no Brasil, apresentava apenas 10,5% de alunos que superavam
o nível 250, de todos os modos muito abaixo de Minas Gerais.
Na 8a série, o nível em tela será o de 325, superado, no Brasil, apenas por
7,6% dos alunos. As Regiões Norte e Nordeste acusavam cifras quase imperceptíveis,
com exceção gritante do Piauí, com 15,2%, bem acima da média nacional, o que
também sugere haver algum problema na coleta dos dados. O melhor desempenho
surgia no Paraná, com 12,0% de alunos superando o nível 325. Na 3a série do ensino
médio, o desempenho em matemática mostrava-se ainda mais precário: apenas 5,3%
dos alunos superavam o nível 400. Os destaques ficaram para Minas Gerais, com
22,8%, e Piauí, com 15,2%. O Distrito Federal alcançava apenas 8.7% de alunos acima
do nível 400. Chama a atenção também a precariedade da aprendizagem no Rio de
Janeiro, o pior Estado da Região Sudeste: alunos que superavam o nível 400 na 3a
série do ensino médio eram 0,1, quer dizer, praticamente ninguém. Relembrando os
baixos salários pagos neste Estado, é algo intrigante que logo o Estado que implantou a
Escola Integral (Darcy Ribeiro e Brizola) apresente rendimentos escolares tão pífios e
situação tão vexatória com respeito aos professores.
Ademais, tem sido comum ultimamente sofismar a aprendizagem, no sentido de
promover continuamente os alunos sem maiores cuidados. Os dados, em alguns
lugares, melhoraram muito, mas dificilmente refletem a realidade. Tanto a correção do
fluxo, quanto a promoção continuada, se não forem bem feitas, provocam uma farsa
que não vai durar. A questão essencial da escola é a aprendizagem, não a promoção.
Existe nisso, certamente, uma boa intenção, que é a de evitar, por todos os meios
lícitos, a reprovação, que, como os dados também confirmam, não serve para facilitar a
aprendizagem. Nestes termos, programas destinados a regularizar o fluxo escolar,
arrumando as idades dos alunos de maneira pelo menos proximamente correta, bem
como programas que se destinam a superar o risco de reprovação através de todos os
58
19
DEMO, P. 1998. O Desafio da Aprendizagem dos Alunos no Brasil: Uma análise preliminar dos resultados do
59
encurtados são favorecidos, o que acaba retratando a injustiça secular de relegar para
segundo plano os docentes iniciais. De certa maneira, ainda vale entre nós que, para
dar aula para criança, qualquer pessoa serve. Não entrou em cena a exigência
estritamente profissional. Enquanto as profissões mais prestigiadas recebem na
universidade cursos de cinco anos pelo menos, pedagogia já se cansa com três.
Sobretudo, imagina-se que um estudo encurtado possa garantir a competência em
jogo. Definitivamente, é mister reconhecer que tais cursos só têm uma finalidade clara:
pagar mal.
Observa-se também que, nos interiores, entra-se no sistema educacional mais
jovem, talvez por pressão sócio-econômica, o que, por sua vez, também estigmatiza a
profissão, seja no sentido de chance pequena entre poucas, seja no de chegar logo à
aposentadoria feminina, seja no de ter de viver com salários por vezes indizíveis. Os
dados, entretanto, indicam um horizonte cada vez mais claro e talvez definitivo: se há
escolas que pagam melhor em regiões muito pobres e se há estados que estão
melhorando sensivelmente as remunerações dos docentes, parece evidente que a
decisão política começa a tornar-se fator central. Certamente, esta não funciona
sozinha também, porque é mister ter recursos. Todavia, decisão política quer
igualmente dizer capacidade de reordenar o uso de recursos, já que, no Brasil, o maior
problema não é a falta, mas o mau uso. Com toda certeza, anda faltam recursos para
uma oferta qualitativa, mas é possível redirecionar recursos de maneira mais
estratégica.
Haveria, neste sentido, dois desafios maiores e urgentes:
a) buscar fontes alternativas de financiamento da educação, diretamente
voltadas para a melhoria salarial, desde que sempre acoplada com a melhoria do
rendimento escolar dos alunos;
b) cuidar da formação dos docentes, favorecendo processos mais exigentes e
qualitativos, por exemplo, à luz do "instituto superior de educação" imaginado na LDB,
com o objetivo de quebrar os vezos passados de encurtamento, obsolescência e
secundarização.
SAEB/95. In: Educação em Revista, Faculdade de Educação da UFMG, No 27, jul., p. 57-72.
60
Em termos de formação, deve-se dizer, sem peias, que não se trata mais de
apenas reformar as estruturas vigentes. É o caso claro de ultrapassá-las, passando
para um outro lado, no qual a qualidade da formação seja redefinida à luz da
aprendizagem efetiva. Suporte teórico não falta, oriundo hoje de inúmeras disciplinas,
sobretudo da bio-psicologia, mas igualmente da lingüística, da física e da matemática
não linear, e assim por diante. Consta aí aquele tipo tão sonhado, por exemplo por
Gramsci, de aprendizagem politicamente centrada, capaz de formar um cidadão com
capacidade de história própria, individual e coletiva. Não é mais um discurso apenas
das ciências humanas.
61
PARA CONCLUIR
Uma das ações mais pertinentes promovidas pelo Ministério da Educação nos
últimos tempos - pelo menos a partir desta década de 90 - é o cuidado em produzir
dados sobre a realidade nacional em termos de educação. Entre muitas agruras e por
vezes desentendimentos, é digno de nota o esforço nesta parte. Embora o suporte
técnico não faça mecanicamente a decisão política, é condição necessária. Para
resolver problemas é mister sabê-los bem. Por outro lado, os dados só melhoram se
forem usados e consequentemente criticados. Neste sentido, mais do que resistir a
avaliações, é prudente fazê-las bem, tanto para não mistificá-las, quanto para não fugir
delas.
Tais dados não substituem, por sua vez, outros tipos de pesquisa, que possam
descer ao detalhe, como são aquelas orientadas por métodos mais qualitativos. Os dois
lados se complementam, porque, a rigor, não há dois lados. Toda pesquisa qualitativa
precisa de alguma base empírica, e toda pesquisa empírica só é relevante se pelo
menos insinuar faces qualitativas da realidade.
62
BIBLIOGRAFIA