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UFF/PROAC/NEAMI
Niterói, RJ - 2010
Copyright © 2009 by Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves
Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal F
luminense
Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - N
iterói, RJ - Brasil
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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.
Comissão Editorial
Presidente: Mauro Romero Leal Passos
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
Gizlene Neder
Heraldo Silva da Costa Mattos
Humberto Fernandes Machado
Juarez Duayer
Livia Reis
Luiz Sérgio de Oliveira
Marco Antonio Sloboda Cortez
Editora filiada à
Renato de Souza Bravo
Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Tania de Vasconcellos
Sumário
Introdução......................................................................... 7
Unidade 1
Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas........................ 9
Unidade 2
Coesão textual...................................................................21
Unidade 3
Coerência textual................................................................32
Unidade 4
Argumentação....................................................................41
Unidade 5
Fichamento, resumo e resenha................................................53
Unidade 6
Relatório e projeto..............................................................63
Unidade 7
Artigo científico e monografia de conclusão de curso......................75
Unidade 8
O domínio da norma-padrão...................................................81
Introdução
Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-
dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para
a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical,
vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.
O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase
nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização
textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma
e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que
escolhemos.
Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos,
atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-
jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com
argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.
Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-
diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-
to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório,
para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.
Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-
tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se
analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no
meio universitário.
Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar
os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-
vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para
o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade
e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.
Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos
textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são
coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.
Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma
cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você
executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo
que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.
Um abraço,
Os autores
Unidade 1 maior, de textos informativos. Tal diferença nos
objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do
interlocutor (quem ouve ou lê) implica também
Gêneros e tipos textuais – macro diferenças na estruturação do texto e na organi-
zação da informação. Veja que, por ser um mate-
e microestruturas
rial didático, este texto que você está lendo tem
características muito próprias, como uma lin-
Apresentando a unidade guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-
ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente
e apresentar informações que são lidas e descar-
B
em-vindo! Você está iniciando o seu curso tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-
de análise e produção de texto acadêmi- te já há novas notícias –, tende a ser um texto
co. Neste curso você vai aprender primei- muito mais breve. Além disso, a maior parte das
ro a reconhecer e depois a produzir os diversos reportagens de um jornal têm caráter narrativo,
gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai isto é, verbos que indicam ação, personagens,
aprender olhando, examinando, entendendo e narrador etc. Já este manual tem caráter expo-
depois redigindo os diversos textos que circu- sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa
lam no mundo acadê- ideias abstratas de modo lógico.
mico. Como já dizia Como você pode perceber, existem inúme-
Confúcio (151 a.C.): ros gêneros textuais com os quais convivemos,
“O que eu ouço, eu es- dentro e fora da universidade. Neste manual,
queço. O que eu vejo, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-
eu lembro. O que eu cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe
faço, eu entendo.” a seguir os fatores que determinam as caracte-
rísticas de forma e conteúdo de cada um desses
Definindo os objetivos gêneros:
Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-
Ao final desta unidade, você deverá ser cas, do ponto de vista cultural, social, político
capaz de: e econômico, bem como aos graus de conheci-
1. compreender a noção de tipo mento compartilhado entre o produtor e o re-
textual e de gênero textual; ceptor dos textos, no momento da produção e
2. reconhecer os tipos textuais ex- recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-
positivo e argumentativo; ção oral face a face, nos textos de escrita aca-
3. identificar tipos e funções dos parágrafos; dêmica o produtor e o leitor geralmente estão
4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará- situados em diferentes momentos e é, portanto,
grafos. necessário explicitar as informações básicas
para contextualizar a informação.
Conhecendo os Lugar: Designa o lugar físico da produção
gêneros textuais e recepção dos textos (escola, escritório, casa,
empresa, mídia), bem como a posição social do
De acordo com os Parâme- produtor e do receptor na interação (aluno, em-
tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín- pregado, redator, jornalista, professor, cliente,
gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. amigo). Você, quando escrever um texto acadê-
O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-
vida real, inserida numa moldura comunicativa pel social diferentes dos lugares físicos e sociais
de interlocutores e intenções. Assim, dependen- dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.
do do tipo e do teor da informação que quere- Objetivo da interação: Qual o efeito que
mos comunicar, utilizamos gêneros diferentes, o seu texto deve e espera produzir no recep-
geralmente convencionados em sociedade. tor, isto é, para que serve o texto? Quando você
Perceba, por exemplo, que a finalidade escreve um texto, quais são as suas intenções?
deste manual é diferente da de um jornal, em- Será que a sua intenção comunicativa vai ser
bora ambos sejam agrupados em uma categoria igual à interpretação do seu possível leitor?
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Canal: Que canal é utilizado para a intera- retornou a Brasília por volta das 17h15.
ção entre o produtor e o receptor do texto: pa- O presidente sobrevoou as cidades de Ita-
pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon- jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região
ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras em que as pessoas passam mais da metade do
palavras, qual o meio que você vai utilizar para ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina,
a transmissão da mensagem? temos que pedir a Deus para parar de chover.”
Grau de formalidade da situação: A conju- Lula assinou, nesta quarta, uma medi-
gação dos quatro fatores acima vai determinar o da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-
grau de formalidade da situação. Numa interação dar na recuperação de estradas, casas e para
face a face entre amigos, num bate-papo, o nível ações da Defesa Civil e das Forças Armadas.
de formalidade é bem baixo. Uma interação face O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-
a face num julgamento no tribunal vai ser muito tarina, mas também outros estados que venham a
mais formal. Igualmente, um gênero de escrita sofrer com as fortes chuvas previstas para o ve-
acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal rão.
do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado Luciana Rossetto
entre colegas de trabalho.
Conhecendo os
tipos textuais
Exercitando
Antes de avançar para um novo assunto, Os diferentes tipos textuais não são mutuamente
que tal pôr em prática o que você acabou de ver exclusivos. De forma geral, um gênero textual é
na unidade? Se você encontrar dificuldades para composto de vários tipos textuais, dependendo
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui das diferentes funções que o autor quer atingir.
estudado. No exemplo usado na Atividade 1, pode-se no-
tar que o gênero notícia utiliza-se de estruturas
Atividade 1 narrativas, para contar o que foi feito pelo pre-
Leia atentamente o texto abaixo e respon- sidente Lula, e de estruturas descritivas, para
da às seguintes perguntas: descrever a situação das cidades nas enchentes
1. Que informações sobre a realidade brasileira e algumas medidas implementadas para tentar
esse texto recupera? resolver o problema. Como vários tipos de or-
2. A quem se destina o texto? Quais são as carac- ganização textual podem ocorrer em um mesmo
terísticas que evidenciam o destinatário? gênero, busca-se caracterizar o seu modo de or-
3. Que conhecimentos são necessários para que ganização predominante. Assim, no exemplo aci-
o leitor compreenda as informações subentendi- ma, o modo de organização textual predominan-
das no texto? te é o narrativo, com verbos usados geralmente
4. A que gênero esse texto pertence? Quais são no pretérito perfeito, como se vê no seguinte tre-
as características principais da composição des- cho da notícia:
se gênero? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu
uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira
“É a pior calamidade ambiental que (26) no aeroporto de Navegantes, em Santa Cata-
já enfrentamos”, diz Lula, em SC rina, após sobrevoar a região afetada pela chuva
nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental
O presidente Luiz que já enfrentamos”, afirmou. Ele retornou a
Inácio Lula da Silva deu Brasília por volta das 17h15.
uma entrevista coletiva No restante do texto, vários verbos na
na tarde desta quarta- terceira pessoa do pretérito perfeito também
-feira (26) no aeropor- ocorrem, como: sobrevoou e assinou. Pode-se
to de Navegantes, em afirmar então que o gênero notícia utiliza-se pre-
Santa Catarina, após sobrevoar a região afetada dominantemente do modo de organização narra-
pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamida- tivo para relatar os fatos ocorridos.
de ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele Os tipos textuais são caracterizados pelas
sequências linguísticas predominantes (esco-
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Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas
para uso e regulação de comportamentos.
No meio acadêmico, podem ser encontra- ários de campo, teses, dissertações, monogra-
dos todos os tipos textuais, concretizados em fias, artigos de divulgação científica, resumos
gêneros textuais diferentes. Um relatório, por de artigos, de livros, de conferências, resenhas,
exemplo, utiliza-se de características descriti- comentários, projetos, manuais de ensino, bi-
vas, para avaliar algo. A metodologia encontra- bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-
da em um artigo, por sua vez, é predominan- tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários,
temente narrativa, pois apresenta a sucessão bibliografias comentadas, índices remissivos,
dos passos adotados por um pesquisador na glossários etc.
condução de seu estudo. Um resumo é um texto
expositivo, em que se apresentam, de forma im- Modalidade oral: palestras, conferências,
pessoal, as informações presentes em um outro debates, entrevistas, seminários, apresentações
texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma em congressos, arguições etc.
tese defendida acerca de determinado assun-
to, possui características predominantemente
argumentativas. Este manual, como os demais
materiais didáticos, além do caráter obviamen- Exercitando
te expositivo, tem também uma feição injunti- Antes de avançar para um novo assunto,
va, na medida em que ensina como proceder na que tal pôr em prática o que você acabou de ver
escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da na unidade? Se você encontrar dificuldades para
vida universitária, como a arguição, por exem- realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
plo, estão intimamente ligados ao tipo textual estudado.
chamado dialogal, em que a interação locutor-
-interlocutor é primordial. Atividade 2
Veja a seguir outros gêneros discursivos do Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-
domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita são e horizonte de investimento em carteiras
quanto na modalidade oral da comunicação. imunizadas: uma análise sob a perspectiva das
entidades de previdência complementar”, retira-
Modalidade escrita: temos artigos cien- do da READ – Revista Eletrônica de Administra-
tíficos, relatórios científicos, notas de aula, di- ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o
modo de organização textual nele predominan-
Voltar ao sumário te? Justifique suas respostas.
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da violência na contemporaneidade. Atente para inicial que situa a tese no tema geral ao
os diferentes recursos usados em cada parágra- qual pertence. Como no exemplo abai-
fo e perceba que uma mesma temática pode ser xo, a ambientação pode ser a definição
introduzida de diferentes maneiras. Com a práti- de um conceito-chave para a argumen-
ca, você logo selecionará as estratégias com que tação acerca do tema proposto.
se sente mais à vontade.
Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-
1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in- trangimento físico ou moral exercido sobre al-
trodução, apresenta-se primeiramente guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade
a tese e logo a seguir enumeram-se os de outrem; coação”. Tal definição explicita uma
argumentos que serão desenvolvidos faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-
ao longo do texto (cada um desses ar- são moral. Do mesmo modo como a agressão fí-
gumentos corresponderá a cada um dos sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e
parágrafos de desenvolvimento subse- a injúria deixam sequelas para sempre, devendo
quentes). Veja o exemplo abaixo: haver, portanto, preocupação social no combate
a esse problema.
É indiscutível que a violência cresce de
forma exponencial nos dias de hoje, como não 3. Questionamento(s) – A ambientação
cessam de informar os meios de comunicação. pode também ser composta por per-
Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui- guntas que convidem o leitor à reflexão
tetura urbana, como a construção de grades por acerca do tema. No entanto, tome o cui-
toda a parte, em uma tentativa de prender a si, dado de, após essas perguntas, afirmar
já que o assustador Outro não cabe por inteiro na sua tese. Não deixe também de respon-
cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, der a todas as perguntas ao longo de
com a popularização do ofício de “segurança” e seu texto.
a quase extinção de profissões que exigem con-
fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo Medidas punitivas são o suficiente para
vendedor de porta em porta, que hoje não ganha coibir o aumento da violência? A história já pro-
mais do que um grito repelente por trás do “olho- vou que não. Assim como o senso comum tem
-mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor
outros fenômenos que nos escapam na discussão do que remediar”, estudos provam que países
da violência, geralmente suscitada por tragédias que investiram em educação tiveram reduções
veiculadas na mídia. mais significativas de índices de violência do que
Nesse caso, a primeira frase do parágrafo aqueles que destinaram sua verba à construção
é também a tese do texto (ponto de vista princi- de presídios.
pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois
exemplos que serão explorados em detalhe nos 4. Citação – A ambientação também
próximos dois parágrafos de desenvolvimento. pode apresentar uma citação de alguém
Por fim, veja que a frase de conclusão (última famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr
do parágrafo) serviu para retomar e resumir as entre aspas uma fala que não é propria-
ideias anteriormente apresentadas, às quais se mente sua. Tal recurso tem a vantagem
somou um dado novo: a predominância de tra- de se valer da autoridade do discurso
gédias no discurso midiático sobre violência. alheio, que pode ser posto em diálogo
Tenha sempre em mente que uma frase de con- com o seu.
clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o
que foi dito antes, deve conter alguma informa- “A não-violência absoluta é a ausência
ção nova, que justifique sua existência. Do con- absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A
trário, o texto torna-se repetitivo. não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-
posição para tudo o que vive. É o amor na sua
2. Definição – Nesse tipo de introdução, perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao
antes de se apresentar a tese, faz-se referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser
uma ambientação, isto é, uma afirmação possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa
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e consciente, o que deve se dar em todas as situa- Ao falarmos sobre violência, alguns discur-
ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje sos apontam-na como sendo uma problemática
símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a contemporânea. Porém, a história do descobri-
despeito das evidentes dificuldades para que isso mento e da colonização do Brasil é marcada por
se efetive. uma violência que muitas vezes esquecemos: o
massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma
5. Sequência de frases nominais – Um profunda e atenta essa mortandade que está no
recurso interessante para iniciar um início da história escrita sobre o país, podemos
texto é fazer uma enumeração de frases não só compreender o passado da nossa forma-
nominais (sem verbo), separando-as ção, mas entender também a violência presente,
por ponto final. Por ser um recurso di- em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-
ferente, isso chama a atenção do leitor. ta, e pensar em intervenções que combatam esse
Como sempre, a presença da tese logo problema nos dias de hoje.
após essa ambientação é fundamental.
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o sentido do que o crítico quis dizer para realçar blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda
qualidades inexistentes de um filme. observa com desconfiança, procurando enten-
O que inquieta o “New York Times” agora é der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-
o fato de que os grandes estúdios de Hollywood mentação. Em todo caso, é possível observar que
preferem recorrer a críticas publicadas em blogs alguns produtores já utilizam frases retiradas de
do que em jornais. Escreve o diário: sites e blogs para divulgação de seus filmes.
“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Maurício Stycer
Internet em busca de frases para usar em publi-
cidade porque há uma variedade muito grande Parágrafos de desenvolvimento
de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa.
Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo Como quaisquer outros parágrafos, os de
sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-
do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação ses de suporte e, às vezes, frases de conclusão.
a alguns gêneros de filmes”. O que os difere dos parágrafos de introdução
Em outras palavras, raciocina o “New York e conclusão é seu caráter menos abrangente e
Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e mais específico: enquanto no início e no final
blogs porque eles tratam os filmes de forma mais do texto dá-se preferência por apresentar ideias
generosa e complacente que os jornais. O gran- gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser
de diário americano está, evidentemente, fazen- marcado por parágrafos de caráter mais deta-
do uma generalização injusta, já que há também lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-
muitos críticos em jornais que funcionam mais rizada, as informações que sustentam a tese do
como “animadores de torcida” do que, propria- texto. Desse modo, é importante que você evite
mente, como analistas sérios e isentos. parágrafos de desenvolvimento extremamente
Em todo caso, dois entrevistados do jor- curtos, os quais contenham apenas a apresen-
nal reforçam a tendência de recorrer a sites e tação de uma ideia. Como o próprio nome já
blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-
de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi- sentando causas, consequências, contrastes etc.
chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-
críticos de cinema e a maioria das boas críticas dade sobre Coesão, como estabelecer relações
são encontradas online”. desse tipo entre as frases e as orações.
Já Mike Vollman, presidente de marketing
da MGM e United Artists, afirma que vai prefe- O parágrafo de conclusão
rir se basear mais em blogs do que na revista
“Time” para promover o remake do filme “Fama”. O parágrafo final é a conclusão, uma parte
“A realidade, e lamento dizer isso para você, é muito importante do seu texto. Concluir um tex-
que os jovens que vão ao cinema são mais in- to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar
fluenciáveis por um blog do que por um crítico o assunto abordado ao longo dele. Na síntese,
de jornal”. você escreve um resumo dos principais assun-
A reportagem, em resumo, confirma as tos ou argumentos discutidos no corpo do texto.
previsões mais pessimistas dos que enxergam Outra forma de concluir é reformulando a ideia
na revolução promovida pela nova mídia um si- principal do seu texto em outras palavras. No co-
nal de empobrecimento e decadência cultural. mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista
Ainda assim, o próprio “New York Times” reco- sobre o problema enfocado no texto. Como esse
nhece que há sites “sérios”, publicando textos comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é
sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os essencial que você redija uma mensagem impor-
jornais ditos de prestígio. tante e impactante, que o leitor vá lembrar.
E o Brasil? – algum leitor perguntará. O Para que seu texto seja bem-sucedido,
problema, ainda que em grau menor, até porque não basta que você comece bem e explique com
a indústria de cinema nacional é minúscula, se clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja
comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain- satisfatória, a impressão final do leitor não será
da estamos, pelo que observo, numa etapa ante- boa, o que revela a importância de caprichar na
rior. Há um crescimento impressionante de sites e elaboração do último parágrafo.
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Lembre-se de que, caso você tenha inicia- É inegável que a tecnologia trouxe vanta-
do seu texto com uma analogia, é interessante gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-
que essa mesma analogia seja revisitada na con- mem a tenha manipulado de tal forma a perder
clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia o controle sobre sua criação. Os heróis digitais
com uma pergunta, é interessante que a respos- confundem-se com os vilões, que deletam aos
ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir poucos o sentido de humanidade de nossa so-
um exemplo de texto dissertativo em que a con- ciedade.
clusão e a introdução completam-se mutuamen- (retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-
te, reiterando a tese do autor: bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)
Homem Virtual
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social para reverenciar a terra dos cariocas, Em 2003, a UNESCO assumiu a ‘Carta da Terra’
pois, apesar de notórios problemas de seguran- como instrumento educativo e referência ética
ça pública, “o Rio de Janeiro continua lindo”. para o desenvolvimento sustentável. Participa-
4. A astronomia é uma ciência fascinante. ram ativamente de sua concepção humanista
Desenvolvida a partir da astrologia, segundo a pensadores do mundo inteiro. É preciso que
qual os astros influenciariam o destino humano, a ONU assuma este documento que qualquer
a astronomia hoje pouco se parece com essa mo- pessoa pode ler e comentar na Internet (basta
dalidade adivinhatória. Em lugar de mapas as- consultar: ‘carta da terra’). É o esboço de uma
trais, telescópios de alta potência e cálculos ma- ‘declaração dos direitos da Terra’ e toda a hu-
temáticos muito precisos analisam o movimento manidade é chamada a conhecê-la e praticá-la”.
dos corpos celestes, deixando aos corpos huma-
nos que cuidem eles mesmos de seus destinos.
5. A adaptação animal é imprescindível
para a sobrevivência das espécies. Darwin per-
cebera isso quando postulou sua teoria da Se-
leção Natural, segundo a qual apenas o mais
adaptado sobreviveria. O homem, por exemplo,
fisicamente frágil, teve de se adaptar para sobre-
viver às intempéries e ao hostil ambiente, desen-
volvendo a tecnologia.
6. A intensa miscigenação teve importan-
tes consequências para a formação do povo bra-
sileiro. Porém, quando falamos em miscigenação, Referências
muitos reduzem a exemplos simplistas o fenôme-
no de hibridação cultural, como a diferentes re- ABREU, A. S. Curso de Redação. São Paulo: Ática,
ceitas culinárias ou às origens distintas de vocá- 3ª ed., 1991.
bulos de nossa língua. Tal visão apaga o quanto BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Lingua-
da visão de mundo que os brasileiros têm, em to- gem. São Paulo: Hucitec, 1987.
das as esferas da vida pública e privada, é fruto ________. Estética da criação verbal. São Paulo:
da mistura de uma série de culturas. Martins Fontes, 1992.
BARROS, M. Novos desafios para o planeta. Dis-
Atividade 4 – Segue abaixo a introdução ponível em: <http://www.procamig.org.br/home.
do texto original. php?sessao=0003>. Acesso em 15 jun. 2009.
“Levantamento do jornal The Salt Lake GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna.
Tribune indica que ao menos 55 críticos de cine- Rio de Janeiro: FGV, 1981.
ma foram demitidos ou mudaram de área na im-
FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São
prensa americana desde 2006. O dado, citado em Paulo: Papirus, s.d.
reportagem na edição dominical do ‘New York
HALLIDAY, M.A. K; HASAN. Language, context
Times’, ilumina um aspecto da crise que afeta and text: aspect of language in a social-semiotic
os jornais americanos e, em particular, ajuda a perspective. Deakin University Press. Oxford:
compreender uma mudança significativa que OUP 1989.
vem ocorrendo na relação de Hollywood com a Homem virtual. Disponível em: <http://www.puc-
imprensa”. -rio.br/vestibular/repositorio/redacoes/reda-
cao18.html>. Acesso em 15 jun. 2009.
Atividade 5 – Segue abaixo a conclusão MACHADO, S. J.; PINTO, A. C. F. Dimensão e
do texto original. horizonte de investimento e carteiras imuni-
“Para quem vive uma busca espiritual, o zadas: uma análise sob a perspectiva das enti-
cuidado amoroso com a Mãe Terra, com a água e dades de previdência complementar. Revista
Eletrônica de Administração. Disponível em:
com todo ser vivo fazem parte do testemunho de
<http://read.adm.ufrgs.br/edicoes/resumo.
que Deus é amor, está presente e atuante no uni- php?cod_artigo=618&cod_edicao=63&titulo_
verso. Apesar de todas as agressões e crimes co- p=a&acao=busca&pagina=l>. Acesso em 15 jun.
metidos contra o Planeta, ainda podemos salvá-lo. 2009.
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20
MOURA, M. L. S.; FERREIRA, M. C. Projetos de RIBEIRO, Jefferson. Lula repassa terras da União
pesquisa. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005. a Roraima e diz que está pagando dívida. O GLO-
BO, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.
ROSSETTO, L. ‘É a pior calamidade ambiental
com/Noticias/Politica/0,,MUL975896-5601,00.
que já enfrentamos’, diz Lula, em SC. O GLOBO,
html>. Acesso em 15 jun. 2009.
26. nov. 2008. Disponível em: <http://g1.globo.
com/Noticias/Brasil/0,,MUL880093-5598,00-E+A STYCER, M. Crítico de cinema: profissão em extin-
+PIOR+CALAMIDADE+AMBIENTAL+QUE+JA+EN ção? Disponível em: <http://colunistas.ig.com.br/
FRENTAMOS+DIZ+LULA+EM+SC.html>. Acesso mauriciostycer/tag/critico-de-cinema/>. Acesso
em 15 jun. 2009. em 15 jun. 2009.
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Unidade 2 Definindo os objetivos
N
esta unidade, identificamos, ilustramos 3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com-
e comentamos os recursos mais eficazes prometam a coesão do discurso;
para aumentar a coesão entre as partes 4. produzir textos mais coesos.
dos parágrafos e dos textos.
Antes de iniciarmos propriamen-te o tema Conhecendo a
desta unidade, observe a letra de música abai- coesão textual
xo, que muito se relaciona com o assunto desta
unidade. Muitas vezes, ao escrever-
mos, temos boas ideias, mas sentimos dificul-
dades para relacioná-las. Se não tomarmos cui-
A linha e o linho dado, podemos acabar por lançar no papel uma
(Gilberto Gil) série de frases gramaticalmente corretas, mas
que não se relacionam de forma clara entre si.
Para que um conjunto de frases se torne um tex-
É a sua vida que eu quero bordar na minha to, é preciso que haja coesão: que as ideias se
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha entrelacem, completando-se e retomando-se, de
E a agulha do real nas mãos da fantasia modo que as frases sigam um fluxo lógico e con-
Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia tínuo, não parecendo blocos isolados. Quando
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor um texto está coeso, temos a sensação de que
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor sua leitura “flui” com facilidade.
O ziguezague do tormento, as cores da alegria A origem do termo texto remete a tecido:
A curva generosa da compreensão um texto, como um tecido, deve entretecer seus
Formando a pétala da rosa, da paixão fios de ideias, de modo que, nos pontos em que
A sua vida, o meu caminho, nosso amor essas ideias se tocam, se estabeleça a coesão tex-
Você a linha e eu o linho, nosso amor tual. Para entender isso melhor, observe o con-
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa to abaixo, escrito por Clarice Lispector. Em sua
Reproduzidos no bordado composição, a autora, para encadear as partes do
A casa, a estrada, a correnteza texto de forma clara e criativa, utiliza-se de uma
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza série de estratégias linguísticas, de modo a evitar
a repetição sistemática de palavras e a ligar de
O texto acima revela a intimidade entre a li- forma lógica as ideias. Para fins didáticos, desta-
nha e o linho, não só no plano da forma (por cau- camos apenas alguns dos mecanismos de coesão
sa da estrutura parecida das duas palavras do que aparecem nesse texto, os quais serão explo-
título), mas também no plano do significado (de- rados mais aprofundadamente ao longo da unida-
vido a ambas as palavras pertencerem ao campo de. Por enquanto, reflita sobre a importância das
da costura). Observe que o conteúdo dialoga di- palavras em destaque na composição do conto.
retamente com a noção de coesão textual, que es-
tudaremos nesta unidade, afinal é o fenômeno da Uma esperança
coesão que “costura” as partes de um texto, ga-
rantindo-lhe coerência e clareza. Nas próximas Aqui em casa pousou uma esperança. Não
seções, você estudará os mecanismos que deve a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusó-
empregar em seus textos, para que sejam sem- ria, embora mesmo assim nos sustente sempre.
pre coesos e bem articulados.
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Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto. Antes de avançar para um novo assunto,
Houve um grito abafado de um de meus que tal pôr em prática o que você acabou de ver
filhos: na unidade? Se você encontrar dificuldades para
– Uma esperança! e na parede, bem em realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
cima de sua cadeira! Emoção dele também que estudado.
unia em uma só as duas esperanças, já tem ida-
de para isso. Antes surpresa minha: esperança é Atividade 1
coisa secreta e costuma pousar diretamente em Observe o resumo abaixo, referente ao
mim, sem ninguém saber, e não acima de minha artigo “Pedagogia de projetos”, de Lúcia He-
cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era lena Alvarez Leite. Após uma primeira leitura
indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde para tomar ciência do sentido global do texto,
não poderia ser. destaque, em uma segunda leitura, algumas
– Ela quase não tem corpo, queixei-me. das expressões que estabelecem coesão entre
– Ela só tem alma, explicou meu filho e, as ideias apresentadas no resumo. Proceda de
como filhos são uma surpresa para nós, desco- maneira semelhante à apresentada na análise do
bri com surpresa que ele falava das duas espe- conto de Clarice Lispector.
ranças. RESUMO: A discussão sobre Pedagogia de
[...] Projetos não é nova. Ela surge no início do século,
Foi então que farejando o mundo que é com John Dewey e outros pensadores da chamada
comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão es-
Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. An- tava embasada numa concepção de que “educação
dando pela sua teia invisível, parecia transladar- é um processo de vida e não uma preparação para
-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. a vida futura e a escola deve representar a vida pre-
Mas nós também queríamos e, oh! Deus, quería- sente – tão real e vital para o aluno como o que ele
mos menos que comê-la. Meu filho foi buscar vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).
a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem Os tempos mudaram, quase um século se
saber se chegara infelizmente a hora certa de passou e essa afirmação continua ainda atual. A
perder a esperança: discussão da função social da escola, do signi-
– É que não se mata aranha, me disseram ficado das experiências escolares para os que
que traz sorte... dela participam foi e continua a ser um dos as-
– Mas ela vai esmigalhar a esperança! res- suntos mais polêmicos entre nós, educadores.
pondeu o menino com ferocidade. As recentes mudanças na conjuntura mundial,
[...] com a globalização da economia e a informatiza-
ção dos meios de comunicação, têm trazido uma
Para encadear os aconteci- série de reflexões sobre o papel da escola dentro
mentos da narrativa, mos- do novo modelo de sociedade, desenhado nesse
trando que todos estão re- final de século.
lacionados ao animal chamado esperança, a É nesse contexto e dentro dessa polêmi-
autora utilizou uma série de palavras e expres- ca que a discussão sobre Pedagogia de Projetos,
sões que remetem à criatura que dá título ao hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão
conto: uma esperança, a clássica, que, a outra, sobre uma postura pedagógica e não sobre uma
o inseto, ela, entre outras. Assim, o texto não técnica de ensino mais atrativa para os alunos.
peca pela repetição desnecessária de palavras.
O encadeamento dos fatos referentes a Conhecendo os recursos
essa criatura também é garantido por outras de coesão textual
palavras, que estabelecem relações de senti-
do entre os acontecimentos da narrativa; entre Para conectar e relacionar as
elas, destacam-se e, mas, e então. No trecho partes de um texto, vários mecanismos podem
“Pequeno rebuliço: mas era indubitável”, a pa- ser adotados. A seguir, encontram-se os dois
lavra mas estabelece uma oposição entre as ca- principais tipos de recursos de que você pode
racterísticas atribuídas ao rebuliço: pequeno, se valer para garantir coesão e legibilidade àqui-
porém indubitável. lo que escreve:
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1. Coesão referencial
A coesão referencial é estabelecida por
meio de expressões que retomam ou antecipam
ideias. Esse tipo de coesão serve para evitar a re-
petição desnecessária de termos, além de garan-
tir que uma informação nova esteja conectada a
outra que já havia sido mencionada. Tal articu-
lação pode se dar basicamente de duas formas,
como estudaremos a seguir: Você já deve ter passado por problemas
enquanto escrevia, porque não queria repetir
1.1. Emprego dos pronomes na coesão desnecessariamente uma palavra. Evitar a reu-
referencial tilização excessiva de determinada expressão
Observe o trecho abaixo, retirado do arti- garante elegância ao seu texto, revelando uma
go “Esporte e saúde”, de Selva Maria Guimarães elaboração cuidadosa. Os pronomes, como você
Barreto. Preste atenção ao papel dos pronomes viu, são bastante úteis para esse fim, pois per-
(em negrito) na articulação do texto. mitem o encadeamento de ideias e podem subs-
tituir os termos a que se remetem. Observe a
Esporte e Saúde seguir como tal recurso foi empregado no artigo
“Esporte e saúde”.
Nos cursos de Educação Física está ocor- “Nos cursos de Educação Física está ocor-
rendo uma revolução, que vem provocando rendo uma revolução, que vem provocando
questionamentos sobre alguns conceitos: o que questionamentos sobre alguns conceitos [...]”
se tenta expor criticamente hoje é a relação No trecho acima, o pronome que evitou a
entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infe- repetição de revolução. Assim, a autora ganhou
lizmente, não é a mais usual, pois geralmente é em coesão, pois o trecho, sem o pronome, ficaria
substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhe- da seguinte forma:
cimento popular, uma relação que aparenta ser Nos cursos de Educação Física está ocorren-
uma verdade absoluta, quando não, obrigato- do uma revolução. A revolução vem provocan-
riamente, é. Os novos conceitos trabalhados do questionamentos sobre alguns conceitos.
relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, De maneira semelhante, o texto apresenta
de maneira a levantar o debate para refletirmos o período abaixo:
sobre os mesmos. “O Esporte, como conceito, é considera-
O Esporte, como conceito, é conside- do uma atividade metódica e regular, que asso-
rado uma atividade metódica e regular, que cia resultados concretos referentes à anatomia
associa resultados concretos referentes à dos gestos e à mobilidade dos indivíduos”.
anatomia dos gestos e à mobilidade dos indi- Tal frase poderia ser desdobrada em duas
víduos. Esta é a conotação que podemos cha- outras, mas isso atrapalharia uma leitura fluente
mar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas do texto, tornando-o repetitivo. Observe:
mídias em geral, representada por pessoas O Esporte, como conceito, é considerado
executando gestos extremamente mecaniza- uma atividade metódica e regular. A ativida-
dos, uniformes, com um certo gasto de energia de metódica e regular associa resultados con-
para produzir um determinado tipo de movi- cretos referentes à anatomia dos gestos e à mobi-
mento repetidas vezes. São gestos plásticos, lidade dos indivíduos.
muito organizados, moldados e com muitas re- Há outros pronomes como esses (prono-
gras, para que se possa obter algum resultado mes relativos), que ligam duas orações e evitam
prático. O Esporte pode ser encarado, dentro a repetição de termos, como você verá a seguir:
de outras ópticas, tanto como o Esporte vei-
culado nas mídias, como uma atividade dentro l ONDE – Esse pronome relativo, embora
de um grupo de amigos (na escola, na rua ou empregado com frequência nos textos veicu-
qualquer local). lados pela mídia, tem um uso bastante restri-
[...] to: segundo a gramática tradicional, tal pro-
nome pode apenas indicar a noção de “lugar”.
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consequentemente, danos à saúde e à economia. [...] já havia sido citado. No entanto, se o texto também
Existem diversos casos em que a propaganda e falasse de cosméticos, seria necessário buscar ou-
publicidade de medicamentos têm apresenta- tra forma de estabelecer coesão, pois “produtos” en-
do estes produtos como soluções rápidas para globa tanto “medicamentos” quanto “cosméticos”.
diversos problemas de saúde que acometem a Tal relação pode ser definida da seguinte forma:
população, sem levar em consideração o risco
sanitário intrínseco que todo produto medica-
mentoso possui.
Para evitar a repetição desnecessária de pala-
vras, o autor usou expressões
como “produto medicamentoso”
e simplesmente “produto” para
se referir a medicamento, garan-
tindo a coesão textual. Veja a seguir algumas es-
tratégias para o bom uso de itens do léxico a fim
de tornar seus textos mais coesos. Essa estratégia garante que o leitor recu-
pere a relação entre as partes do texto sem que
1.2.1. Uso de sinônimos o autor precise repetir desnecessariamente pala-
Essa é a estratégia a que mais recorremos vras. Você deve tomar cuidado, porém, para não
enquanto escrevemos, embora nem sempre seja usar um hiperônimo vago demais, como “coisa”,
fácil encontrar um sinônimo. Dificilmente um por exemplo. Tal palavra poderia ser interpretada
par de sinônimos pode ser considerado perfeito, como se referindo a praticamente qualquer item
isto é, com um elemento podendo ser trocado mencionado no texto, gerando grave ambiguidade.
pelo outro em qualquer contexto. Quando você
leu o texto acima, deve ter se perguntado por 1.2.3. Uso de perífrases
que o autor não usou a palavra “remédio” para A perífrase é uma construção complexa
se referir a “medicamento”. Tal substituição não para designar algo para o qual há uma expressão
foi feita, pois, como acabamos de ver, esse não mais simples. No caso do texto analisado, o au-
é um par de sinônimos perfeitos. Segundo o tor poderia ter empregado uma perífrase para re-
Grande Dicionário Português ou Tesouro da Lín- meter a “medicamentos”, escrevendo, por exem-
gua Portuguesa, de Domingos Vieira, “Remédio plo, “substâncias empregadas no tratamento de
tem um sentido mais amplo que medicamento. uma afecção ou de uma manifestação mórbida”.
O remédio compreende tudo o que é emprega- Para isso, o uso de dicionários e de boas fontes
do para a cura de uma doença. [...] O exercício de consulta é imprescindível, de modo que você
pode ser um remédio, porém nunca é um medi- possa apresentar informações precisas.
camento”. A perífrase permite que você acrescente
Assim, é preciso ter cuidado no uso de novos dados ao tópico sobre o qual você está
sinônimos, especialmente no texto acadêmico, escrevendo, como propusemos ao criar a perí-
do qual se espera grande precisão. No texto que frase “substâncias empregadas no tratamento
estamos analisando, o autor preferiu utilizar de uma afecção ou de uma manifestação mórbi-
“produtos medicamentosos” como sinônimo de da”. Nesse caso, tal construção acrescentaria ao
“medicamentos”. texto uma informação sobre a função do medi-
camento.
1.2.2. Uso de hiperônimos O uso das perífrases pode ser útil para
Um hiperônimo é uma palavra com sentido você reforçar seu ponto de vista ao longo de um
mais genérico do que uma outra, chamada de hipôni- texto dissertativo. Veja a seguir dois exemplos:
mo. O significado de um hiperônimo contém o signifi-
cado de vários hipônimos ao mesmo tempo, como no Exemplos:
caso de “produtos” (hiperônimo) e “medicamentos” (a) Deve ser permitido o porte de armas
(hipônimo), palavras retiradas do artigo aqui anali- a civis, pois a sociedade está cada vez mais vio-
sado. Ao se referir a “produtos”, o autor nos remete lenta. É impensável a vida em uma grande socie-
diretamente a “medicamentos”, único produto que dade sem esses instrumentos que garantem a
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10% por hora em temperatura ambiente. Esse da pelas células do corpo como fonte de energia,
consumo pode ser ainda mais acelerado se a logo é necessário manter sua concentração no
amostra estiver contaminada com microrganis- sangue em equilíbrio.
mos ou em ambientes quentes (COLES, 1984; (b) A glicose é constantemente aproveita-
KANEKO, 1997). da pelas células do corpo como fonte de energia,
Logo na primeira frase, portanto é necessário manter sua concentração
as duas principais ideias (o no sangue em equilíbrio.
aproveitamento da glicose e (c) A glicose é constantemente aproveita-
a necessidade de manter sua da pelas células do corpo como fonte de energia;
concentração equilibrada são é necessário, pois, manter sua concentração no
ligadas pelo conectivo “por isso”. A escolha sangue em equilíbrio.
dele estabelece entre essas ideias uma relação (d) A glicose é constantemente aproveita-
de conclusão, de modo que, em consequência da pelas células do corpo como fonte de energia,
do constante aproveitamento da glicose, seja de modo que é necessário manter sua concen-
necessário manter sua concentração no sangue tração no sangue em equilíbrio
em equilíbrio. Observe que em (c) há uma construção
Observe agora o período: “A primeira op- pouco comum na fala cotidiana. Geralmente, a
ção é mais confiável, entretanto, por gerar maio- palavra “pois” é empregada para introduzir uma
res custos, seu uso fica restrito aos laboratórios causa. Na frase que estamos analisando, no en-
de análises clínicas e hospitais”. Nessa frase, há tanto, esse conectivo está introduzindo uma con-
mais de um conectivo estabelecendo relações ló- sequência. Para isso, deve ser posicionado após
gicas entre as ideias. A palavra “entretanto”, por o verbo da oração em que se encontra.
exemplo, indica uma oposição, contrastando a Outros conectivos que expressam rela-
confiabilidade (aspecto positivo) e a restrição ções de consequência (ou conclusão) são assim,
(aspecto negativo) das técnicas laboratoriais de então, por conseguinte, em vista disso.
monitoramento da glicose. Já a palavra “por” in- Se você inverter a estrutura dessa frase,
dica um valor de causa, de modo que a geração passando o conectivo para a outra oração, não
de maiores custos é o motivo de restringir tais haverá mais ideia de consequência, mas sim de
técnicas. Por fim, o conectivo “e” tem valor de causa. Na verdade, essas ideias estão intima-
adição, somando os locais a que se restringem mente relacionadas. Observe:
as técnicas laboratoriais de monitoramento da (a) É necessário manter a concentração
glicose: clínicas e hospitais. de glicose no sangue em equilíbrio, porque ela
A seguir apresentamos as principais é constantemente aproveitada pelas células do
ideias que os conectivos podem acrescentar ao corpo como fonte de energia.
encadeamento da frase. (b) É necessário manter a concentração
de glicose no sangue em equilíbrio, pois ela é
2.1. Relação de causa-consequência constantemente aproveitada pelas células do
Essa é uma das relações mais comuns na corpo como fonte de energia.
construção de um texto. É possível estabelecê-la (c) É necessário manter a concentração
por uma série de mecanismos diferentes. Como de glicose no sangue em equilíbrio, visto que ela
exemplo, vamos retomar uma frase do texto. é constantemente aproveitada pelas células do
“A glicose é constantemente aproveitada corpo como fonte de energia.
pelas células do corpo como fonte de energia, (d) É necessário manter a concentração
por isso é necessário manter sua concentração de glicose no sangue em equilíbrio, já que ela
no sangue em equilíbrio”. é constantemente aproveitada pelas células do
Conforme você já viu, esse conectivo in- corpo como fonte de energia.
troduz uma ideia de consequência a algo que ha- Observe que em (b) o emprego da palavra
via sido dito antes. Essa frase poderia também “pois” corresponde ao uso mais frequente na lín-
ter sido dita de outras formas. Veja: gua. Nesse caso, para expressar ideia de causa,
esse conectivo deve ser posicionado antes do
Exemplos: verbo da oração em que se encontra.
(a) A glicose é constantemente aproveita- Outros conectivos que expressam relações
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de causa são dado que, como, uma vez que, por- opção de mudar o conectivo de oração para ex-
quanto, por, por causa de, em vista de, em vir- pressar uma mesma oposição. No entanto, em-
tude de, devido a, por motivo de, por razões de. bora a relação entre as ideias continue sendo de
oposição, a ênfase muda. Veja:
2.2. Relação de oposição
Observe a frase: Exemplos:
“A primeira opção é mais confiável, en- (a) A primeira opção é mais confiável, mas
tretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica seu uso fica restrito aos laboratórios de análises
restrito aos laboratórios de análises clínicas e clínicas e hospitais.
hospitais”. (b) Embora a primeira opção seja mais
A palavra “entretanto” realça o contraste confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios
que há entre a confiabilidade e a restrição da “pri- de análises clínicas e hospitais.
meira opção”. Tal frase poderia ser reescrita de vá- O conectivo “mas” e seus equivalentes,
rias outras formas, mantendo seu sentido básico. vistos acima, introduzem a oração a que se quer
dar ênfase. O conectivo “embora” e seus equiva-
Exemplos: lentes, vistos a seguir, reduzem a importância do
(a) A primeira opção é mais confiável, mas, fato expresso pela oração que introduzem.
por gerar maiores custos, seu uso fica restrito Veja agora construções equivalentes às de (b).
aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.
(b) A primeira opção é mais confiável, Exemplos:
porém, por gerar maiores custos, seu uso fica (b.1) Apesar de que a primeira opção seja
restrito aos laboratórios de análises clínicas e mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-
hospitais. rios de análises clínicas e hospitais.
(c) A primeira opção é mais confiável, no (b.2) Mesmo que a primeira opção seja
entanto, por gerar maiores custos, seu uso fica mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-
restrito aos laboratórios de análises clínicas e rios de análises clínicas e hospitais.
hospitais. (b.3) Ainda que a primeira opção seja
(d) A primeira opção é mais confiável, mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-
todavia, por gerar maiores custos, seu uso fica rios de análises clínicas e hospitais.
restrito aos laboratórios de análises clínicas e (b.4) Posto que a primeira opção seja mais
hospitais. confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios
(e) A primeira opção é mais confiável, de análises clínicas e hospitais.
contudo, por gerar maiores custos, seu uso fica (b.5) Não obstante a confiabilidade da pri-
restrito aos laboratórios de análises clínicas e meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-
hospitais. rios de análises clínicas e hospitais.
Veja que, embora todos esses conectivos (b.6) Malgrado a confiabilidade da primei-
expressem basicamente a mesma ideia, têm um ra opção, seu uso fica restrito aos laboratórios
comportamento sintático diferente: à exceção de análises clínicas e hospitais.
de “mas”, todos os outros têm mobilidade na (b.7) A despeito da confiabilidade da pri-
oração, podendo ser posicionados em diferentes meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-
locais da frase. rios de análises clínicas e hospitais.
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frase poderia ser escrita de outras maneiras. go “A dependência química”, de Júlio Cruz. Iden-
Exemplos: tifique o valor semântico dos conectivos em des-
(a) Esse consumo pode ser ainda mais taque e sugira outros que possam substituí-los,
acelerado caso a amostra esteja contaminada sem acarretar mudanças no significado básico:
com microrganismos ou em ambientes quentes. A série de capítulos penosos protagoniza-
(b) Esse consumo pode ser ainda mais ace- da pelo ator global Fábio Assunção traz à baila
lerado, desde que a amostra esteja contaminada mais uma vez a discussão da temática que mais
com microrganismos ou em ambientes quentes. tem afligido nossa sociedade nos últimos anos:
(c) Esse consumo pode ser ainda mais ace- a dependência química. Uma síndrome caracte-
lerado, contanto que a amostra esteja contamina- rizada pelo uso de substâncias psicoativas nas
da com microrganismos ou em ambientes quentes. quais se incluem o álcool, a maconha, a cocaína
e o crack, em troca das sensações de tranquilida-
2.4. Relação de finalidade de e de prazer.
Observe agora o seguinte trecho retirado Avaliando a intermitente ampliação deste
do texto: “Níveis glicêmicos alterados (elevação panorama, pode-se perceber quão complexa é a
ou redução) trazem consequências negativas matéria e constatar que a dependência química
para o corpo e a maneira mais adequada de re- já faz parte de nossas estatísticas mais nefastas,
duzir essas complicações é tentando manter o quando grifam o expressivo número de aciden-
equilíbrio. Para isso se faz necessário realizar tes de trânsito e crimes que têm origem no uso
medições da glicemia”. das drogas.
Nesse contexto, o conectivo “para isso” Levar à sociedade um maior número de
estabelece que a manutenção do equilíbrio é a informações significará permitir compreender
finalidade (ou objetivo) das medições da glice- que a dependência química é uma doença e
mia. Veja, abaixo, como essas ideias poderiam não uma opção de vida, e que essa doença gera
ser reunidas em apenas uma frase, por meio de consequências danosas ao indivíduo e às pes-
diferentes conectivos. soas que dele estão próximas. Faz-se relevante
compreender que a doença não se inicia com a
Exemplos: dependência química, pois, de antemão, o usuá-
(a) Para que se mantenha o equilíbrio, faz- rio já se encontra doente existencialmente, indo
-se necessário realizar medições da glicemia. procurar nas drogas a cura de suas feridas mais
(b) A fim de que se mantenha o equilíbrio, íntimas, fato reconhecido pela Organização Mun-
faz-se necessário realizar medições da glicemia. dial de Saúde.
(c) Com o objetivo de manter o equilíbrio, Por outro lado, a falta de transmissão de
faz-se necessário realizar medições da glicemia. notícias precisas acaba gerando conceitos erra-
(d) Com o intuito de manter o equilíbrio, dos, tanto sobre o usuário da droga quanto so-
faz-se necessário realizar medições de glicemia. bre o mito que ela tem de solucionar problemas.
Observe, por fim, que há outras relações Nesse sentido, saliente-se que os familiares do
lógicas que podem ser estabelecidas por conec- usuário são de fundamental importância para o
tivos, como adição, tempo, conformidade, com- aprendizado de quais atitudes se devem tomar
paração, proporcionalidade etc. perante tal problema, mesmo porque muitos
dos dependentes químicos iniciam seu relacio-
namento com drogas exatamente no lugar onde
se suporia que estariam mais seguros: dentro de
Exercitando seus próprios lares.
Antes de avançar para um novo assunto,
que tal pôr em prática o que você acabou de ver Glossário
na unidade? Se você encontrar dificuldades para
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui l Pronome – palavra que substitui ou
Voltar ao sumário
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a seguir algumas das palavras/expressões que fundamental”. Essa citação do poeta brasileiro
estabelecem coesão no resumo de Lúcia Helena Vinícius de Moraes revela-se não só politicamen-
Alvarez Leite: Ela, outros pensadores, nessa épo- te incorreta, mas também caduca nos dias atuais.
ca, e não, vida futura/vida presente, e, o que, ele, A atualidade enxerga a mulher sob uma nova
ou, nesse contexto, dessa polêmica, isso... perspectiva, não mais atrelada à sua constitui-
ção física, como um objeto, mas voltada para
Atividade 2 aspectos como força de trabalho, produção inte-
l Este é o país onde moro/ Este é o país lectual e igualdade de direitos. Ela revela, assim,
em que moro. mudanças profundas em sua constituição.
l Este é o país que se chama Brasil. Comentário: Novamente, trata-se de uma
l Não se sabe onde está o livro de que construção ambígua. A que palavra o pronome
dependo para fazer o trabalho. (Observe que as “ela” remete? A “atualidade” ou a “mulher”?
preposições – DE, no caso – são atraídas pelo pro- Atividade 4 – “primeiro edifício no país”,
nome relativo) “construção”, “iniciativa”, “projeto” e “edifício”.
l Perguntei-lhe o nome em que se baseou Atividade 5
para tomar sua decisão. (Observe que as prepo- l E – relação de adição, podendo ser rees-
sições – EM, no caso – são atraídas pelo prono- crito o trecho com “além de”;
me relativo) l Quando – relação de tempo, podendo
Os Estados Unidos, cujos soldados alega- ser reescrito o trecho com “no momento em que
vam defender sua pátria, conduziram uma in- grifam” ou “ao grifarem”;
cursão destruidora no Iraque. (Observe que o l E não – relação de oposição, podendo
pronome CUJO nunca é seguido por um artigo e ser reescrito o trecho com “em vez de”;
geralmente indica uma relação de posse) l Pois – relação de causa (ou explicação),
l O corpo humano é percorrido por um podendo ser reescrito o trecho com “visto que”,
sistema circulatório, pelo qual são conduzidos “já que”, “porque” etc.;
os nutrientes às células. (Observe que as prepo- l Por outro lado – relação de oposição,
sições – POR, no caso – são atraídas pelo prono- podendo ser reescrito o trecho com “todavia”,
me relativo) “contudo”, “entretanto”, “no entanto” etc.;
l O verbo concorda com o sujeito, cujo l Tanto quanto – relação de adição, po-
núcleo não pode ser uma preposição. dendo ser reescrito o trecho com “não só sobre
l O Brasil foi descoberto pelos portugue- o usuário da droga, mas também sobre o mito”;
ses, em cujos navios foi transportado pau-brasil. l Para – relação de finalidade, poden-
(Observe que as preposições – EM, no caso – são do ser reescrito o trecho com “a fim de que se
atraídas pelo pronome relativo) aprendam” ou “para que se aprendam”;
l Mesmo porque – relação de causa, po-
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Unidade 3 Assim, a coerência transforma uma sequ-
ência de palavras em texto e não em um amon-
toado desconexo de vocábulos. Essa sequência
Coerência textual é entendida como texto quando o leitor é capaz
de percebê-la como um todo com significado,
que lhe comunica alguma ideia. Compare os
Apresentando a unidade exemplos abaixo para entender mais claramente
a noção de coerência.
N
esta unidade, você estudará mecanis- Exemplos:
mos que garantem que um texto faça (a) Sapato. Água. Estudar. Todavia.
sentido, os quais evitam ruídos na co- (b) Vim. Vi. Venci.
municação entre as pessoas. Para escrever bem, Enquanto em (a) o conjunto de palavras
além de ter boas ideias, é preciso apresentá-las não é capaz de veicular uma mensagem, não
de forma clara, de modo que não se contradigam constituindo um texto, em (b), a mensagem é
e não estabeleçam relações ilógicas entre si. clara e coerente, embora o texto seja bastante
curto e simples.
Definindo os objetivos Um leitor só é capaz de conferir coerência
a um texto, isto é, torná-lo coerente, quando leva
Ao final desta unidade, você deverá ser em conta os contextos de produção e recepção,
capaz de: pois algumas leituras apenas fazem sentido se
1. compreender a noção de coerência textual e soubermos de antemão quando, onde, para quem
sua importância para uma boa e por quem o texto foi produzido. Dizer, hoje em
legibilidade dos textos; dia, que a Terra é achatada e plana é absoluta-
2. identificar as principais estra- mente incoerente, pois não corresponde à rea-
tégias textuais que asseguram lidade, segundo nosso atual conhecimento de
coerência ao discurso; mundo. No entanto, na Idade Média, tal afirmati-
3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com- va era interpretada como coerente, já que estava
prometam a coerência do discurso; de acordo com o discurso científico da época.
4. identificar informações implícitas no discurso; De maneira semelhante, a frase “Navios
5. produzir parágrafos e textos mais coerentes. brasileiros entravam portugueses na Baía da
Guanabara” parece incoerente a um primeiro
Conhecendo a olhar, se pensarmos que o verbo nessa oração
coerência textual é “entrar”, referindo-se a uma ação passada. Po-
rém, uma leitura mais atenta confere coerência
Talvez você já tenha a esse texto, percebendo que se trata do verbo
se deparado com alguma leitura que não com- “entravar”, indicando uma ação presente.
preendeu muito bem. Isso pode ter acontecido Agora que você entendeu o que é coerên-
por falta de familiaridade com o assunto do tex- cia, precisa compreender quais são as estraté-
to ou por desconhecimento de certas palavras gias que garantirão a seu texto essa qualidade.
e construções gramaticais nele encontradas. No Na próxima seção, você encontrará algumas re-
entanto, a dificuldade para compreender o texto gras que devem ser obedecidas para se redigir
também pode ter sido causada por problemas um texto coerente.
na coerência das ideias que o constituem.
Coerência é uma palavra utilizada no co- Definindo as regras de coerência textual
tidiano com o sentido de “condição para que
algo seja compreensível”. Quando lemos ou 1. Regra da repetição (ou regra da coe-
ouvimos informações confusas, dizemos que rência sintática) – Ao longo da exposição das
aquilo não faz sentido, pois está incoerente. Em ideias, é preciso que as partes do texto se conec-
um contexto mais técnico, coerência significa a tem entre si, de modo que cada nova informação
condição para que um texto seja interpretado remeta à antiga. Dessa forma, ao mesmo tempo
por um indivíduo em uma situação específica. em que avança em termos de conteúdo, o texto
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deve sempre explicitar a relação de cada nova sim, o texto avança na condução das ideias, não
informação com as anteriores, para que o leitor se tornando repetitivo.
não se perca na leitura. Observe o mesmo trecho de “A convergên-
Observe como isso é feito no trecho abai- cia dos aspectos de inclusão digital: experiência
xo, retirado do artigo “A convergência dos aspec- nos domínios de uma universidade”, agora aten-
tos de inclusão digital: experiência nos domínios tando para a aplicação da regra da progressão:
de uma universidade”, de Barbara Coelho Neves. “A Sociedade da Informação, formalizada
Atente, principalmente, para as palavras em des- nos inventos de uma série de máquinas inteli-
taque: gentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mun-
“A Sociedade da Informação, formaliza- dial, origina novas responsabilidades para todos
da nos inventos de uma série de máquinas in- os atores sociais nela inseridos. Tais responsabi-
teligentes criadas ao logo da Segunda Guerra lidades representam a necessidade da provisão
Mundial, origina novas responsabilidades para do fluxo de informações que permita desde a
todos os atores sociais nela inseridos. Tais res- geração de novos conhecimentos até o efetivo
ponsabilidades representam a necessidade da exercício da cidadania pela sociedade civil.
provisão do fluxo de informações que permita Várias iniciativas de instituições – man-
desde a geração de novos conhecimentos até o tidas com recursos de origem privada, pública
efetivo exercício da cidadania pela sociedade ou mista de mecanismos nacionais e interna-
civil. cionais – têm contribuído com a criação de es-
Várias iniciativas de paços que proporcionam tipos de acessos varia-
instituições – mantidas com dos a informação eletrônica”.
recursos de origem privada, O primeiro parágrafo do trecho falava so-
pública ou mista de mecanis- bre necessidades decorrentes do advento da so-
mos nacionais e internacio- ciedade da informação. O segundo reafirma tais
nais – têm contribuído com a criação de espaços necessidades, mas adiciona uma nova informa-
que proporcionam tipos de acessos variados à ção: a contribuição de instituições para suprir
informação eletrônica”. tal demanda. Assim, o desenvolvimento do texto
No trecho acima, as frases estão bem re- avança, ao mesmo tempo em que mantém liga-
lacionadas entre si, o que garante coerência ao ções com ideias anteriores.
texto. A expressão “tais responsabilidades” re- Você deve ter percebido que, na constru-
mete diretamente a “novas responsabilidades”, ção de um texto coerente, combinam-se as re-
presente na frase anterior. gras da repetição e da progressão. Assim, deve
Além disso, a transição entre parágrafos haver um equilíbrio entre informações “velhas”
também se dá de forma clara. Apesar de se dizer (já conhecidas pelo leitor) e novas, sendo os
geralmente que mudamos de parágrafo quando dois grupos expostos de forma intercalada. Caso
encerramos um assunto, é preciso perceber que contrário, há problemas de comunicação: um
os parágrafos devem estar relacionados entre texto com excesso de informações velhas tem
si, interligando esses tópicos distintos. No texto baixa informatividade, não agregando conheci-
aqui analisado, a expressão “criação de espaços mento ao leitor. Por outro lado, o excesso de in-
que proporcionam tipos de acessos variados à formações desconhecidas pelo leitor pode obs-
informação eletrônica” está intimamente ligada truir completamente a compreensão do texto.
ao parágrafo anterior, pois funciona como uma Note, no entanto, que as informações serão “ve-
solução para a “necessidade da provisão do flu- lhas” ou novas de acordo com o leitor, de modo
xo de informações que permita desde a geração que, ao escrever, você precisa ter bem definido
de novos conhecimentos até o efetivo exercício a quem se destina seu texto, para poder selecio-
da cidadania pela sociedade civil”. nar e organizar bem as ideias.
Para que isso fique mais claro, atente para
2. Regra da progressão – Ao mesmo tem- os exemplos abaixo, retirados de Koch e Trava-
po em que um texto precisa retomar, por meio glia (2008, p. 86).
de mecanismos coesivos, termos que já haviam
sido mencionados, é preciso que haja renovação Exemplos:
dos conteúdos, com progressão semântica. As- (a) O oceano é água.
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(b) O oceano é água. Mas ele se compõe, Ao completar três meses de vigência, a lei
na verdade, de uma solução de gases e sais. do álcool zero no trânsito (Lei 11.705/08) já pou-
(c) O oceano não é água. Na verdade, ele é pou centenas de vidas no Brasil. Para continuar
composto de uma solução de gases e sais. salvando vidas, a ação dos órgãos de trânsito
A primeira frase deve ser evitada em um nas três esferas de governo federal, estadual e
texto acadêmico, pois seu conteúdo é óbvio municipal e a conscientização e mudança de ati-
e nada acrescenta ao leitor, que se perguntará tude da população são imprescindíveis.
qual a intenção do autor ao escrever algo forma- Desde sua entrada em vigor, a lei diminui a
do apenas por informações por ele já conheci- incidência de acidentes de trânsito, mesmo sob
das. Por outro lado, mesmo que esteja correta, muita discussão. A lei é popular, positiva e eficaz
a terceira construção causará dúvidas no leitor, mesmo sem campanhas permanentes. Imagine
visto que provavelmente não há nela nenhu- se o poder público fizer a sua parte! O que é la-
ma informação por ele conhecida para situá-lo mentável é assistir a alguns incautos torcendo
quanto ao enunciado. Ambas as frases em (c) pelas mortes no trânsito como forma de fazer
veiculam ideias absolutamente novas, o que pre- valer o seu desejo de beber e dirigir.
judica a compreensão; se não conhecemos boas O fato é que a perigosa mistura do álcool
referências do autor, podemos até achar que se com a direção, que antes da lei era responsável
enganou enquanto escrevia. por 60% das mortes e após a lei, por 40%, conti-
Para um texto acadêmico, a melhor opção nua muito presente. Um dos efeitos da nova lei é
seria (b), pois há um equilíbrio entre informação provocar uma mudança de atitude de todos nós
“velha” (oceano formado por água) e nova (ocea- no volante, de forma semelhante à aplicação das
no formado por gases e sais). Sempre que tiver leis que tornaram obrigatório o uso do cinto de
de escrever, tenha em mente a importância de segurança e a obrigatoriedade do uso do capace-
balancear trechos com alta e baixa informativida- te pelos motociclistas.
de, para que a leitura possa fluir com facilidade. Outro ponto a considerar é que, segun-
do a Organização Mundial da Saúde, cada país
terá o número de mortes no trânsito que estiver
disposto a tolerar. A Lei nº 11.705/08 demonstra
Exercitando que a sociedade não está mais disposta a tole-
Antes de avançar para um novo assunto, rar tantas mortes evitáveis no trânsito. Mesmo
que tal pôr em prática o que você acabou de ver quando há um efeito considerável na redução de
na unidade? Se você encontrar dificuldades para acidentes devido à entrada em vigor de uma lei,
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui esse efeito pode ser anulado após certo tempo,
estudado. se houver percepção pública de impunidade e/
ou desconhecimento da lei vigente.
Atividade 1 [...]
Leia atentamente o artigo abaixo, escrito
por Beto Albuquerque. Apesar de atender às nor- 3. Regra da não contradição (ou coerência
mas da gramática tradicional, o texto incorre em semântica) – Um texto coerente não pode con-
uma falha, pois desobedece às regras da progres- tradizer uma informação apresentada por ele
são e da repetição, segundo as quais uma parte anteriormente. Nesse aspecto, é importante to-
do texto deve avançar em termos temáticos, mas mar cuidado quando você for apresentar visões
sempre relacionando as informações novas ao opostas acerca de uma mesma questão, procedi-
que já havia sido dito. Identifique no artigo em mento comum em textos acadêmicos. Para que
questão o trecho em que o autor lança uma ideia essa contraposição de perspectivas não se torne
inesperada ao leitor, mas sem explicá-la em mais paradoxal, é importante explicitar que se trata
detalhes ou contextualizá-la em relação ao senti- de diferentes visões sobre um mesmo tema, de-
do global do texto. fendidas por pessoas distintas, e não posiciona-
mentos contraditórios daquele que escreve.
Incrível: tem gente torcendo por Veja o parágrafo a seguir, retirado do artigo
mortes no trânsito [25/09/2008] “Concepções de professores de enfermagem so-
bre drogas”, de Gertrudes Teixeira Lopes e Haly-
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a. “É realmente apropriado que nos reu- Essa segunda camada contém as informações
namos aqui hoje, para homenagear Abraham implícitas, que não vêm claramente expressas
Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de em um texto, mas são necessárias para sua
troncos que ele construiu com suas próprias compreensão. Quando escreve, um autor deixa
mãos”. (Político, em um discurso, homenagean- determinadas informações sugeridas nessa se-
do Lincoln) gunda camada, mas não claramente ditas, seja
b. “Damos cem por cento na primeira par- por brevidade, ironia ou mesmo necessidade de
te do jogo e, se isso não for suficiente, na segun- camuflar certos posicionamentos, como na épo-
da parte damos o resto”. (Yogi Berra, jogador ca da ditadura militar.
norte-americano de beisebol, famoso por suas Se um leitor é capaz de identificar e enten-
declarações esdrúxulas) der o que está implícito no texto, pode reconsti-
c. “Substituição de bateria: substitua a tuir, em parte, a intenção do autor. Veja o exem-
bateria velha por uma nova”. (Instrução em um plo abaixo, retirado do editorial “Efeito prático”,
manual elétrico) da Gazeta do Povo:
d. “[...] este Conselho resolve: a) que uma Surge uma notícia capaz de devolver a fé
nova cadeia seja construída; b) que a nova ca- aos que já tinham perdido as esperanças de ver
deia seja construída com os materiais da velha a ética prevalecer na vida pública: a Advocacia-
cadeia; c) que a velha cadeia seja usada até que -Geral da União espera reaver aos cofres do Es-
a nova esteja pronta”. (Resolução da Junta dos tado R$ 110 milhões desviados, em todo o país,
Conselheiros, Canto, Mississipi, 1800) por meio de licitações irregulares e superfatura-
e. “Por que deveriam os irlandeses ficar de mento na compra de unidades móveis de saú-
braços cruzados e mãos nos bolsos enquanto a de. [...] Os processos também têm o importante
Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falan- objetivo de afastar da vida pública aqueles que,
do em um comício em Dublin, em 1902, sobre a comprovadamente, não seguem os princípios
guerra dos Boeres) básicos da impessoalidade e da moralidade –
f. “Quando um grande número de pessoas essenciais quando se trata de
não consegue encontrar trabalho, o resultado é o atuar em nome de toda a socie-
desemprego”. (Calvin Coolidge, presidente ameri- dade. Felizmente, já não se pode
cano em 1931) dizer que o Brasil varre toda a
g. “Acho que os senhores pensam que, em sujeira para debaixo do tapete.
nossa diretoria, metade dos diretores trabalha e Investigações e processos cor-
a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, rem às mancheias. Falta-nos
acontece justamente o contrário”. (Diretor de em- agora acabar com a pizza e extrair efeitos práti-
presa, defendendo os membros de seu staff) cos da caça aos corruptos. A recuperação de R$
110 milhões será um bom começo.
Identificando informações implícitas Observe que em momento algum do texto
o autor fala explicitamente da história brasileira
Agora que você já conhece os princípios marcada pela corrupção impune. No entanto, tal
que tornam um texto coerente, precisa enten- ideia está implícita na frase “Felizmente, já não
der a importância de reconhecer informações se pode dizer que o Brasil varre toda a sujeira
implícitas em um texto, pois a incapacidade de para debaixo do tapete”. O emprego da palavra
percebê-las pode obstruir sua leitura. “já” sugere que não se pode mais falar dessa im-
Quando lemos, atentamos para uma série punidade no Brasil, mas que um dia isso já foi
de informações que estão claramente expressas comum. Segundo o autor, hoje o Brasil não varre
em determinadas escolhas de palavras, certas mais a sujeira para baixo do tapete, embora no
construções gramaticais etc. Essas informações passado a corrupção passasse despercebida, o
ficam claras em uma primeira leitura, pois estão que está implícito no texto. Assim, além de noti-
sendo explicitamente apresentadas ao leitor. ciar a recuperação dos R$ 110 milhões, o autor
Por outro lado, um bom leitor não cons- tem a intenção de criticar o passado de impuni-
trói sentidos a partir só das informações explí- dade na corrupção.
citas, pois deve atentar também para uma se- No caso acima, apesar de a informação so-
gunda camada, mais profunda, de significação. bre a antiga impunidade não estar explicitamen-
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te apresentada no texto, há uma “pista” (tam- construção do trecho abaixo, retirado do artigo
bém chamada de marca linguística) deixada “Europa diverge sobre combate ao aquecimento
pelo autor, para que percebamos esse sentido. global”:
Trata-se, como vimos, da palavra “já”. Quando Os líderes europeus se reúnem nesta quin-
o leitor pode se basear em uma marca linguísti- ta-feira em Bruxelas profundamente divididos so-
ca para entender o que está implícito, chama-se bre como cumprir suas promessas de combate ao
essa informação implícita de pressuposto. aquecimento global. Mesmo assim, eles não admi-
Por outro lado, há certas informações im- tem a hipótese de fracasso do acordo.
plícitas que não são sinalizadas por pistas no A União Europeia está dividida entre os
texto. Logo, o leitor deve, com seu conhecimento países mais pobres do leste e os mais ricos da
prévio, preencher as lacunas deixadas pelo au- parte ocidental do continente. Apesar das di-
tor, de modo a tornar clara a leitura. Nesse caso, vergências, até o fim de semana os presidentes
chama-se a informação implícita de subentendido. e primeiros-ministros precisam tomar decisões-
É impossível, quando se escreve um texto, -chave para a elaboração de um pacote de leis
explicar absolutamente tudo o que envolve as sobre alterações climáticas que valerá para os
ideias expostas. Por motivos de concisão, sele- 27 países-membros.
cionamos as informações principais e deixamos De um lado, estão Polônia, que ameaça ve-
a cargo do leitor inferir as outras. Por exemplo, tar o pacote; Alemanha, que não quer que sua
ao relatar o que fizemos durante o dia, não es- indústria pague para poluir; e a Itália, que consi-
crevemos: “Primeiro pus o pé esquerdo no chão; dera o plano ambicioso demais. De outro, a Grã-
depois o direito; depois o esquerdo; depois o -Bretanha diz que o pacote acabará resultando
direito. Depois calcei um pé de chinelo. Depois em ganhos para as empresas.
calcei o outro”. Seria impossível comunicar qual- Ao ler o texto, você provavelmente não se
quer coisa se os textos fossem tão detalhados. deu conta, mas, caso não soubesse previamen-
Assim, é tarefa do leitor perceber e recons- te que Polônia, Alemanha, Itália e Grã-Bretanha
truir mentalmente as informações auxiliares su- são países europeus, esse trecho não teria feito
bentendidas, sem que o autor tenha de explicitá- qualquer sentido para você. Talvez tivesse até
-las. Todavia, quem escreve tem de se preocupar achado que os posicionamentos desses países
se o leitor tem conhecimento suficiente para fossem reações da comunidade internacional
preencher sozinho os subentendidos. Veja que (fora da Europa) à reunião da União Europeia.
um livro de matemática para a graduação não ex- Assim, perceba a importância de compreender
plica aos alunos como se multiplicam números, bem o que está subentendido para ser um leitor
mesmo que isso seja um conhecimento necessá- eficiente. Às vezes, o subentendido é facilmente
rio para resolver determinada atividade propos- recuperável. Caso contrário, na hipótese de o lei-
ta pelo livro, como, por exemplo, uma equação. tor não ter conhecimento prévio suficiente para
Em vez disso, o autor assume que os alunos sa- entender o que está implícito, é melhor o autor
bem multiplicar sem ajuda e não esmiúça esse explicitar suas ideias.
procedimento.
Todavia, se uma professora do Ensino
Fundamental não relembra aos alunos como se
faz uma multiplicação, muitos não conseguem Exercitando
resolver uma equação. Perceba, assim, a neces- Antes de avançar para um novo assunto,
sidade de avaliar se determinada informação que tal pôr em prática o que você acabou de ver
deve estar implícita ou explícita no texto. Na na unidade? Se você encontrar dificuldades para
escrita acadêmica, geralmente escrevemos para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
pessoas conhecedoras – pelo menos em termos estudado.
gerais – do assunto de que trata nosso texto. As-
sim, por exemplo, em um artigo sobre Literatura, Atividade 3
um aluno universitário não precisa afirmar que Os tempos verbais são uma espécie de
Machado de Assis é um autor brasileiro. Muito marca linguística que funciona como “pista”
provavelmente, o leitor já sabe disso. para o leitor, apontando para determinadas in-
Observe agora o uso de subentendidos na formações implícitas no texto. A partir dos ver-
Voltar ao sumário
39
bos destacados em negrito, identifique que pres- b. A regra da não contradição é desrespei-
supostos seus tempos verbais sugerem. tada, pois já ter feito 100 % de alguma coisa e
ainda ter mais a fazer são ideias contraditórias.
a. c. A regra da progressão é desrespeitada,
pois a mesma informação é repetida duas vezes,
Manutenção com foco no negócio sem acréscimo de informação nova.
Joubert Flores d. A regra da relação é desrespeitada, pois é
impossível respeitar concomitantemente os dois
Não faz muito tempo, quando se falava de últimos comandos da resolução do Conselho.
manutenção em indústrias, a ideia que se forma- e. A regra da não contradição é desrespei-
va na mente das pessoas era a do conserto de tada, pois é impossível cruzar os braços com as
algo, de reparo de alguma falha e, não raro, en- mãos no bolso ao mesmo tempo. Uma ideia ex-
volvia interrupção da produção e a utilização de clui a outra automaticamente.
prestadores de serviços. Era algo que se fazia f. A regra da progressão foi desrespeitada,
reativamente, ou seja, depois de os problemas te- pois a mesma informação é afirmada duas vezes,
rem surgido. Prevenção era uma expressão pou- sem acréscimo de dados relevantes.
co ouvida em fábricas e manufaturas em geral. g. A regra da progressão é desrespeitada,
[...] pois “justamente o contrário” daria no mesmo
que a informação anteriormente mencionada.
b.
l Atividade 3
Boa Sorte, Congresso Brasileiro de a. O uso recorrente de verbos no pretérito
Medicamentos imperfeito, tempo verbal que, nesse caso, indica
Jávier Godinho ações passadas rotineiras que não mais ocor-
rem no presente, sugere uma mudança. Assim,
Um dia alguém escreverá, com honesti- no passado raramente havia preocupação com
dade e detalhes, a história da indústria de me- a manutenção em indústrias. Embora o trecho
dicamentos no Brasil. Sendo verdadeiro e cri- analisado não explicite, pelo uso do pretérito
terioso, com certeza, nela incluirá o nome de imperfeito percebe-se que houve uma mudança
Benedito Vicente Ferreira, o Benedito Boa Sor- nessa situação. Logo, há o pressuposto de que a
te, o goiano que, durante todo seu mandato de preocupação com a manutenção em indústrias é
senador, com unhas e dentes, defendeu no Con- hoje frequente.
gresso, contra o apetite insaciável das multina- b. O uso dos verbos no futuro do presente
cionais, os então oprimidos, débeis, incipientes sugere nesse texto que, até então, a história da
e desprotegidos laboratórios nacionais. indústria de medicamentos nunca foi contada.
[...]
Glossário
Respostas às atividades
l Informatividade – qualidade do que se
ideia nem explica como tal desejo seria satisfei- tica é qualquer estrutura gramatical ou palavra
to, em comparação a todo o texto, que se refere usada por um autor na composição do texto. São
aos benefícios trazidos pela “Lei Seca”. essas marcas que permitem que o leitor com-
-preenda o sentido do texto.
l Atividade 2
Voltar ao sumário
40
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Ediouro, 1995.
Voltar ao sumário
Unidade 4 gumentação, vamos retomar o que a distingue
da exposição.
No modo de organização expositivo, os tex-
Argumentação tos são predominantemente informativos, levando
o leitor a conhecer algo. É o que se observa no tex-
to a seguir:
Apresentando a unidade
Pena de morte
N
esta unidade, apresentamos e ilustramos A pena de morte é um tipo de punição apli-
o modo textual argumentativo, com que cado pelo Estado em casos de crimes hediondos.
você já teve contato inicial na primeira É a punição máxima que um criminoso recebe,
unidade. Argumentar é uma competência mui- sendo utilizada em mais de cinquenta países. As
to importante na hora de discutir ideias, pois o execuções mais utilizadas são:
exercício do debate permite que novas perspec- Lapidação ou Apedrejamento: Forma de
tivas sejam conhecidas e ocorra um saudável execução bastante antiga e ainda utilizada em
intercâmbio de informações. países como Afeganistão, Nigéria, Irã, Arábia
Saudita, Paquistão e Sudão. Consiste em enter-
Definindo os objetivos rar a vítima até a altura do peito e atacá-la com
pedras pequenas até a morte.
Ao final desta unidade, você deverá ser Fuzilamento: Forma de execução bastante
capaz de: usada em guerras, sendo utilizada na China, So-
1. compreender o fenômeno da argumentação mália, Vietnam, Bielorrússia, Taiwan e Uzbequis-
e os diversos tipos de argu- tão. Consiste em disparar várias armas de fogo
mentos que há; contra o condenado de uma só vez.
2. identificar em um texto os Cadeira Elétrica: Forma de execução in-
argumentos utilizados pelo ventada pelos Estados Unidos ainda utilizada
autor para sustentar seu pon- na Flórida, Alabama, Carolina do Sul, Nebraska,
to de vista; Virgínia e Tennessee. Consiste em sentar e amar-
3. redigir parágrafos argumentativos consistentes. rar o condenado na cadeira, molhá-lo com uma
solução condutora e aplicar choques de 20.000
Conhecendo o modo watts até a morte.
de organização textual Forca: Forma de execução bastante antiga
argumentativo e ainda utilizada no Iraque, Japão, Egito, Paquis-
tão, Cingapura e Jordânia. Consiste em colocar
Como você viu brevemente na primeira unida- uma corda num poste de madeira e em seguida
de deste manual, um texto pode ser composto por amarrá-la ao pescoço do criminoso. O mesmo é
mais de um modo de organização textual. colocado em pé sobre uma cadeira que é retirada,
Assim, diversos gêneros abrangem a ar- fazendo com que o condenado morra por asfixia.
gumentação, pois é muito frequente, quando es- Injeção Letal: Forma de execução mais rá-
crevemos, precisarmos justificar determinadas pida utilizada nos Estados Unidos, Japão, Guate-
colocações e posicionamentos. mala, Tailândia e Filipinas. Consiste em aplicar
A argumentação é um modo de organiza- uma grande quantidade de substâncias químicas
ção textual que visa à defesa de pontos de vista, que anestesiam levemente o condenado e parali-
por meio da apresentação de provas, exemplos, sam o diafragma, os pulmões e o coração.
refutações de opiniões opostas etc. Mesmo fora Você acabou de ler um trecho do artigo
do domínio acadêmico, estamos o tempo todo “Pena de morte”, de Gabriela Cabral. O texto
argumentando, quando queremos explicar por acima é claramente expositivo, pois tem como
que preferimos um time, por que tomamos de- objetivo informar o leitor sobre um assunto. No
terminada atitude, por que deixamos de fazer texto que estamos analisando, o tema central é a
algo. Argumentar é explicitar o porquê de algo. pena de morte. Assim, observe que o parágrafo
Porém, antes de analisarmos detidamente a ar- de introdução apresentou uma definição, embo-
Voltar ao sumário
42
ra simplificada, do que é pena de morte. Nesse e complexo. Há sempre algum caminho obscu-
sentido, é importante chamar a atenção para o ro na lei que justifica a impunidade de pessoas
fato de que a maneira de construir o texto preci- comprovadamente culpadas. Paulo Maluf passou
sa levar em conta quem vai lê-lo. O texto acima apenas um mês na prisão, o juiz Nicolau passa os
foi retirado de um site voltado para alunos da dias em sua mansão, os irmãos Cravinho e Suzane
Educação Básica, logo não seria interessante uti- Richthofen estão de volta às ruas... Esta é a ima-
lizar uma definição técnica e complexa de pena gem que a justiça brasileira passa à população.
de morte. Radicalizar, porém, não é a solução. Muitos
Além disso, como esse é um texto expositi- defendem a pena de morte e a prisão perpétua
vo, é preciso perceber que, ao passar as informa- no Brasil. Não é o caminho. Enquanto não esti-
ções, o autor tenta se manter o mais imparcial pos- ver presente uma estrutura confiável e eficiente,
sível. Veja que, ao longo do texto, a organização que dê garantias ao cidadão de bem do cumpri-
das ideias enumera de forma isenta algumas das mento correto de sua função, não será a maior
mais conhecidas técnicas de execução, sem envol- ou menor rigidez de uma outra lei que intimidará
vimento pessoal do autor com aquilo que escreve. a ação dos que sabem que não serão atingidos.
Já no modo argumentativo, você procu- Crimes e criminosos existem e existirão
ra convencer, muito mais do que informar, por em todas as partes do mundo. A resposta das so-
meio de argumentos consistentes e lógicos. É o ciedades às suas agressões é que dá a dimensão
que se observa no texto a seguir, intitulado “Vio- de sua seriedade e o exemplo aos que pensam
lência e impunidade andam juntas”, de Maurício em agir de forma semelhante.
Forneck. Atente para as diferenças principais en- Esse texto, diferente do anterior, pode ser
tre ambos os textos: considerado predominantemente argumentati-
vo, pois, por meio dele, o autor defende um posi-
Violência e impunidade andam juntas cionamento pessoal diante do tema discutido: a
relação entre violência e impunidade.
Há muito tempo, es- Em um texto argumentativo, o autor visa
tudiosos, políticos e inte- a provar/negar determinado ponto de vista, cha-
lectuais brasileiros tentam mado, em um contexto mais técnico, de tese.
buscar respostas para as Assim, diferente da exposição, a argumentação
causas da crescente e in- pressupõe envolvimento do autor, que deve lan-
terminável onda de violência que assusta nosso çar mão de diferentes argumentos para susten-
país. Por mais que soluções sejam discutidas, tar seu posicionamento. Isso faz com que o texto
por mais que medidas sejam tomadas e por mais argumentativo seja sempre parcial, pois o autor
interesse que haja na população em mudar tal visa a convencer o leitor acerca de algo.
quadro, nada parece surtir efeito. A cada minuto Em “Violência e impunidade andam jun-
somos “brindados” com uma nova notícia de es- tas”, o primeiro parágrafo do texto já apresenta
tupro, homicídio ou sequestro. A principal cau- a tese que será defendida, expressa na seguinte
sadora desse estado de descontrole tem apenas frase: “A principal causadora desse estado de
um nome: impunidade. descontrole tem apenas um nome: impunidade.”
O que realmente intimida um criminoso é As frases que antecedem essa servem para situar
a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato. a tese no contexto maior sobre o qual fala o texto:
O indivíduo pratica o crime pois sabe, de ante- a violência. Desse modo, as primeiras frases do
mão, que a probabilidade de ser preso é peque- texto descrevem brevemente o panorama malsu-
na. Logo, o nascimento de um crime reside na cedido das discussões anteriores sobre violência,
deficiência das autoridades que o deviam coibir. enquanto o último período do parágrafo introdu-
Uma polícia despreparada e corrupta é um in- tório revela o ponto de vista do autor, segundo o
centivo às mentes mal-intencionadas. qual a violência é resultado da impunidade.
Some-se a isso a morosidade e a compla- Veja que, ao escrever seu texto argumen-
cência com o crime de nosso sistema penal. Um tativo, você deve, logo de início, apresentar ao
réu, além de poder levar anos até ser julgado, en- leitor que posicionamento defenderá ao longo
contra atalhos e falhas em uma legislação confu- da argumentação, de modo a tornar claro o seu
sa, de um ordenamento jurídico despadronizado objetivo ao redigir o texto. Isso é importante
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para situar a pessoa que lerá seu texto e para tativo está presente na maior parte das situa-
que você mesmo não se perca ao longo da es- ções cotidianas de comunicação, mas, no meio
crita, evitando se desviar do tópico central ou acadêmico, ele se concentra primordialmente
mesmo cair em contradição. nos gêneros texto de opinião e ensaio.
Agora observe os argumentos emprega- Texto de opinião é um termo bem gené-
dos pelo autor para defender seu ponto de vista. rico que abrange produções textuais voltadas
A primeira frase do segundo parágrafo à defesa de um ponto de vista. Geralmente es-
sintetiza a argumentação nele contida: “O que ses textos não empregam a primeira pessoa do
realmente intimida um criminoso é a certeza do singular, preferindo-se formas mais impessoais.
castigo que sofreria pelo seu ato”. Veja que a fra- Assim, em vez de “defendo”, dá-se preferência a
se apresenta o tópico do parágrafo, como uma construções como “defendemos”, “defende-se”
pequena introdução. Assim, o autor do texto que ou “é defendido”. A extensão do texto é variá-
estamos analisando desenvolve no segundo pa- vel, mas o aprofundamento da argumentação é
rágrafo o argumento de que um criminoso só se bem menor do que em um ensaio, podendo ca-
sente intimidado pela certeza do castigo. Obser- ber as reflexões em uma ou duas laudas. Grosso
ve que tal afirmação respalda a tese defendida modo, pode-se dizer que um texto de opinião tem
pelo autor, de que a impunidade é a principal estrutura parecida com suas redações disserta-
causa da violência no país. tivo-argumentativas do Ensino Médio, embora
O terceiro parágrafo, para apresentar se espere maior capacidade de argumentação e
outro argumento que justifique o ponto de vis- abstração de um aluno universitário.
ta exposto no texto, inicia-se com a expressão O ensaio é um texto de mais fôlego, exigin-
“some-se a isso”. Tal construção expressa ideia do reflexões mais maduras, profundas e pesquisa
de adição entre as informações de ambos os sobre determinado tema, para que a argumenta-
parágrafos, de modo que o argumento que o ção leve em consideração estudos e posiciona-
terceiro parágrafo apresenta auxilie o segundo mentos de especialistas a cerca da questão dis-
para sustentar a tese. O tópico frasal novamente cutida. Dessa forma, o ensaio é um texto longo,
sintetiza o argumento desenvolvido no terceiro podendo ser inclusive dividido em subseções
parágrafo: a morosidade e a complacência com para facilitar a organização das ideias.
o crime de nosso sistema penal. Tais fatores tam- Basicamente, o ensaio deve conter ele-
bém reforçam o papel central da impunidade na mentos pré-textuais (resumo/abstract), pelo me-
manutenção da violência no Brasil. nos três seções na parte textual, a serem nomea-
O quarto parágrafo, por outro lado, apre- das com subtítulo (introdução, desenvolvimento
senta uma ressalva, modalizando o discurso. e conclusão) e elementos pós-textuais (referên-
Ao afirmar que “radicalizar, porém, não é a so- cias bibliográficas e, caso necessário, anexos).
lução”, o autor expressa seu posicionamento
de que, apesar de a impunidade ser nociva, não
adianta radicalizar as medidas punitivas. Veja
que, para introduzir tal ressalva ao que foi dito Exercitando
ao longo do texto, foi utilizado o conectivo po- Antes de avançar para um novo assunto,
rém, de valor opositivo. que tal pôr em prática o que você acabou de ver
Por fim, no último parágrafo do texto, o na unidade? Se você encontrar dificuldades para
autor concluiu seu posicionamento perante o realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
tema, reafirmando a tese ao dizer que “a respos- estudado.
ta das sociedades às suas agressões é que dá a
dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que Atividade 1
pensam em agir de forma semelhante”. Quando Observe o texto a seguir, retirado do jor-
você escrever seus textos argumentativos, não nal O Globo, de 5/11/08. Como editorial, trata-se
deixe de, na conclusão, reafirmar o posiciona- de um texto predominantemente argumentativo,
mento defendido ao longo do texto. Assim, intro- apresentando as características gerais que estu-
dução e conclusão apresentam um paralelo, que damos até agora nesta lição. Identifique, no tex-
garante ao texto unidade e progressão. to: a) o tema; b) a tese defendida pelo autor; e
O modo de organização textual argumen- c) os argumentos que ele emprega para justificar
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suas vidas. Embora os pais de Hannah tenham do editorial da Gazeta do Povo, e identifique o
apoiado sua decisão, foi a própria menina que método de raciocínio (indutivo ou dedutivo)
fez a escolha. Segundo o bioeticista e chefe da empregado pelo autor para chegar à conclusão
Divisão Técnico-Científica do INCA, Dr. Carlos de que os provões são necessários para garan-
Henrique Debenedito, as crianças têm após os tir equilíbrio entre quantidade e qualidade no
8 anos um desenvolvimento cognitivo, ou seja, acesso à Educação Superior.
uma capacidade de ouvir e compreender. “A
partir desta idade, são capazes de ter uma po- Provões necessários
sição definida sobre qualquer assunto, mesmo
que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para O Ministério da Educação fez a coisa certa:
esclarecer questões na mente. O grau de matu- cortou o número de vagas oferecidas por quatro
ridade intelectual nessa idade permite uma de- cursos de medicina em três estados (Rio Grande
cisão consciente e, no caso da menina britânica, do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro) porque não
acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido ofereciam condições de dar boa formação pro-
para que ela pudesse resolver sua própria vida”. fissional aos seus futuros alunos. As deficiências
Nesse trecho, a autora do artigo cita a fala das instituições de ensino, todas particulares,
do Dr. Carlos Henrique Debenedito, o qual apre- foram constatadas por meio do Exame Nacional
senta seu ponto de vista sobre o caso da menina de Desempenho do Estudante (Enade): elas fa-
Hannah Jones. Veja que, antes de o biocientista zem parte de um grupo de 17 escolas classifica-
posicionar-se diante desse caso específico, seu das com as medíocres notas 1 e 2 no certame
raciocínio parte de uma afirmação mais ampla, do ano passado. A decisão do MEC vai ao en-
que se refere a todas as crianças após os oito contro da indiscutível necessidade de promover
anos de idade: “A partir desta idade, são capazes o equilíbrio entre quantidade e qualidade. Se
de ter uma posição definida sobre qualquer as- é importante proporcionar a chance para que
sunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar mais estudantes ingressem no ensino superior,
dúvidas para esclarecer questões na mente. O mais importante ainda é garantir-lhes ensino de
grau de maturidade intelectual nessa idade per- padrão minimamente aceitável – princípio que
mite uma decisão consciente”. deve valer não só para os que almejam a carreira
Só depois de fazer uma afirmação de na- médica, como foi o caso – como para os futuros
tureza mais geral, o chefe da Divisão Técnico- engenheiros, professores, dentistas... Nesse sen-
-Científica do INCA define seu posicionamento tido, a criação, no governo de Fernando Henri-
quanto à possibilidade de decisão de Hannah que Cardoso, dos exames de desempenho das
Jones: “no caso da menina britânica, acredito escolas brasileiras, de que níveis sejam, revela-
que tudo deve ter sido bem esclarecido para -se como um instrumento indispensável para a
que ela pudesse resolver sua própria vida”. Isso melhoria geral da qualidade
mostra a aplicação de sua ideia mais geral – a do ensino no país. Deve-
capacidade de decisão das crianças com mais riam ser mais respeitados
de oito anos – a uma situação particular: o caso pelos próprios estudantes,
de Hannah, a qual, segundo ele, tem capacidade que tanto resistem aos “pro-
cognitiva para tomar sua decisão. vões”.
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seleção dos países que empregou para respaldar de publicidade 141 SoHo Square baseia-se em
sua tese: Estados Unidos, Alemanha, Holanda e dados estatísticos de pesquisa que encomen-
Inglaterra são todos países desenvolvidos que dou ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das
têm organizações políticas democráticas mun- classes C e D são as que mais acreditam que o
dialmente reconhecidas. Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009,
3. Argumentação por dados estatísticos com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na
Para provar o que se diz, dados estatís- classe A, o percentual verificado foi de 41%”.
ticos são comumente utilizados, visto que são
fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhe- 4. Argumentação por testemunho de au-
cimento público. É preciso tomar cuidado, no toridade
entanto, para selecionar quais dados serão usa- Nos textos de escrita acadêmica, é muito
dos, citando a fonte de que foram retirados. frequente que, para respaldar sua tese, o autor
Veja abaixo como o uso de valores numé- se refira a pesquisas anteriores, de outros pes-
ricos calculados por agências especializadas foi quisadores. Para isso, cite a fonte de onde re-
usado no artigo “Mulheres das classes C e D são as tirou a citação empregada em seu texto, tendo
que mais creem que Brasil vai melhorar em 2009”: cuidado de empregar como argumento as pala-
vras de alguém reconhecido como conhecedor
Mulheres das classes C e D são as da causa discutida.
que mais creem que Veja abaixo como esse recurso foi empre-
Brasil vai melhorar em 2009 gado na argumentação do artigo “Produção cien-
tífica no Brasil sobe, mas não o número de paten-
De acordo com pesquisa realizada pelo tes”, do qual transcrevemos o trecho a seguir:
IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 A produção científica brasileira subiu de
SoHo Square, as mulheres das classes C e D são 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os ar-
as que mais acreditam que o Brasil não está bem, tigos científicos publicados no mundo, mas esse
mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e conhecimento ainda não se traduz na prática.
44%, respectivamente. Na classe A, o percentual Quando se analisa o registro de patentes nos Es-
verificado foi de 41%. tados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero.
Além disso, a pesquisa intitulada “O So- “O Brasil está muito atrás de outros países
nho é maior que o medo – Panorama sobre o que até produzem menos artigos científicos. Di-
comportamento de compra das mulheres brasi- ficilmente um País que produz ciência não faz as
leiras” apurou que 41% das mulheres da classe duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas
C e 36% da D avaliam que a economia brasileira não é o caso do Brasil”, disse Jorge Guimarães,
está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise. presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento
Na opinião do presidente da agência que de Pessoal de Ensino Superior (Capes).
encomendou o estudo, Mauro Motryn, os núme- O autor do artigo, em sua argumentação, de-
ros mostram que as mulheres de menor poder nuncia o baixo número de patentes registrado no
aquisitivo parecem não querer acreditar na cri- Brasil, apesar da alta produção científica. Para de-
se. “Elas estão tão felizes de finalmente terem en- fender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo,
trado no mercado de consumo que até fecham o autor se vale das palavras de uma autoridade no
o bolso agora [...] Mas estão esperando muito a assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coorde-
volta do crédito no início do ano para poderem nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino
continuar comprando.” Superior (Capes). A própria instituição por ele pre-
Mauro Motryn tem um ponto de vista sidida é reconhecida internacionalmente como re-
claro diante do comportamento das mulheres ferência no que diz respeito à pesquisa científica.
das classes C e D em relação à crise econômi-
ca: “Elas estão tão felizes de finalmente terem 5. Argumentação por contra-argumentação
entrado no mercado de consumo que até fe- Muitas vezes, ao redigir um texto argu-
cham o bolso agora [...] Mas estão esperando mentativo, você já imagina quais serão os pos-
muito a volta do crédito no início do ano para síveis posicionamentos contrários de alguns
poderem continuar comprando.” Para justificar leitores. Para fortalecer sua argumentação,
esse posicionamento, o presidente da agência você pode citar essas visões diferentes da sua e
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Respostas às atividades
l Atividade 1
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Tese: “é importante que os deputados te- uma prudente preocupação diante da forte rela-
nham consciência da necessidade de conceder ção entre alcoolismo e acidentes de trânsito. No
aos cientistas brasileiros, o mais rapidamente primeiro mês após a implantação da lei, o IML
possível, a liberdade de que eles necessitam (Instituto Médico Legal) de São Paulo registrou
para desenvolver pesquisas na área das células- uma redução de 63% no número de óbitos cau-
-tronco embrionárias”. sados por acidentes de trânsito. De modo seme-
Argumento 1: “já está fazendo surgir apli- lhante, dados do Ministério da Saúde garantem
cações práticas concretas, que demonstram seu que os resgates do Samu (Serviço de Atendimen-
potencial curativo fantasticamente promissor”. to Móvel de Urgência) caíram em 24% desde o
Argumento 2: “os eleitores da Califórnia início da nova legislação.
aprovaram a emenda 71, que destina US$ 3 bi- d) Com a alteração no código de trânsito
lhões às pesquisas com células-tronco”. que baixa para dois decigramas de álcool por li-
Argumento 3: “embriões congelados há tro de sangue o limite tolerado por lei, o governo
pelo menos três anos nas clínicas de fertiliza- Lula conseguiu implementar uma drástica redu-
ção — embriões descartados que, com qualquer ção nos índices de acidentes de trânsito. Segun-
tempo de congelamento, vão acabar no lixo”. do Flavio Adura, presidente da Abramet (Asso-
Argumento 4: “Também algum dia será ciação Brasileira de Medicina de Tráfego), “A lei
preciso admitir a clonagem com fins terapêuti- evita que, diariamente, cinquenta pessoas mor-
cos, hoje vedada, e que é particularmente pro- ram, que trezentas fiquem feridas e que cento e
missora”. vinte fiquem com alguma sequela. São duzentas
internações hospitalares a menos e uma econo-
l Atividade 2 – O autor emprega o méto- mia diária estimada em quarenta e cinco milhões
do indutivo em sua argumentação, pois parte de reais”.
de um caso particular – a ação do MEC sobre e) Muitos alegam que a redução do limi-
algumas instituições privadas de ensino – para te de álcool permitido no sangue de motoristas
defender uma ideia mais geral: a necessidade é uma medida descabida do governo, visto que
das ações decorrentes do diagnóstico levanta- acarreta redução de lucros para donos de bares
do pelos provões. e consequente desemprego. No entanto, é impro-
cedente tal colocação, visto que essa mesma ló-
l Atividade 3 – Exemplos de possíveis res- gica conduziria à conclusão de que é necessário
postas: que haja mais acidentes para que mais profissio-
a) A despeito das discussões sobre direito nais da área de saúde possam estar empregados.
à liberdade de consumo, a redução do limite de
álcool permitido no sangue de motoristas tem Atividade 4
de ser encarada como uma decisão razoável do TEXTO 1 “As mudanças foram muito mo-
governo. Afinal, há que se considerar, sobretu- destas”, Evanildo Bechara
do, o principal motivo que conduziu à adoção de 1. Era necessária uma reforma em que a
tal medida: o automóvel, veículo criado no sécu- maneira de grafar as palavras ajudasse as pesso-
lo XIX para servir ao homem como meio de loco- as a pronunciá-las corretamente.
moção eficaz, tornou-se arma nos séculos XX e 2. Hoje, com a rede escolar, com o rádio, com
XXI graças à sua associação com o consumo de a televisão é diferente. Esses meios de comunicação
bebidas alcoólicas. ajudam mais na difusão da pronúncia correta do
b) Além da clara redução das mortes em que a ortografia.
acidentes de trânsito, a implantação da Lei Seca 3. Basta ver que há casos em que as pes-
traz outras consequências benéficas a reboque, soas pronunciam a palavra de um jeito diferente
como, por exemplo, a diminuição dos valores de do indicado pela grafia.
apólices de seguros. Havendo menos acidentes,
as seguradoras poderão cobrar valores mais TEXTO 2 “Nó górdio é a vaidade e a peque-
baixos para seus clientes, atingindo até 10% de nez”, Ângela Dutra de Menezes
redução, o que pode, inclusive, aumentar o mer- 1. As diferentes versões do nosso idioma
cado consumidor desse tipo de serviço. não anulam a realidade de sua unidade.
c) A adoção da Lei Seca no Brasil revela 2. Ou assumimos as diferenças que nos
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Unidade 5 nizada de produção de conhecimento científico
estabeleceu-se no país. No centro desse proces-
so estiveram a reforma universitária, institucio-
Fichamento, resumo e resenha nalizando a pós-graduação, e a estruturação de
um sistema de apoio e financiamento à pesqui-
sa e aos pesquisadores nas universidades e nos
Apresentando a unidade centros de pesquisa governamentais.
O CNPq, a Capes, a FINEP e as fundações
de amparo à pesquisa (FAPs) foram e são agentes
N
esta unidade, vamos apresentar e discu- executores dinâmicos do processo. A Sociedade
tir a forma e o conteúdo do fichamento, Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a
do resumo e resenha, a partir de exem- Academia Brasileira de Ciências (ABC) desempe-
plos de cada gênero, explicitando o seu papel na nharam papel fundamental no convencimento e na
atividade acadêmica. mobilização das mentes e dos esforços para que
o processo se estabelecesse e se desenvolvesse.
Definindo os objetivos Como indicador sinalizando efetivos re-
sultados desse sistema, temos hoje a taxa de 2%
Ao final da unidade, você deverá ser capaz de participação da produção nacional de traba-
de: lhos científicos na produção mundial – resultado
1. distinguir fichamento, resu- bastante significativo, pois mostra que o nosso
mo e resenha; sistema básico de produção de ciência está do
2. ler e compreender textos “tamanho econômico do país”, já que esse índice
em cada um desses gêneros; é basicamente o mesmo da participação do PIB
3. produzir textos em cada brasileiro no mundial.
um desses gêneros; Notável também no período foi a constitui-
4. justificar a relevância dessas competências. ção de casos específicos de sucesso no que se
refere às ciências aplicadas e à pesquisa tecnoló-
Conhecendo o gica. São exemplos emblemáticos desses casos o
fichamento, o resumo sistema Embrapa nas atividades agropecuárias;
e a resenha a rede Petrobras, capitaneada pelo Cenpes e com
destaque para a Coppe/UFRJ, na indústria petro-
Fichamento, resumo e resenha são gêneros lífera; a tradicional Fiocruz no Sistema de Saúde
textuais muito recorrentes na vida universitária, Pública; o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e a
pois, na interação com um texto acadêmico, é Embraer na indústria aeronáutica; o Inpe na pro-
comum que o leitor tenha de produzir um novo dução de previsões de tempo e articulando uma
texto escrito, estabelecendo um claro diálogo en- rede industrial de construção de satélites artifi-
tre ambos. Assim, um bom desempenho acadêmi- ciais; e o sistema Cnen – Eletronuclear na tecno-
co passa, necessariamente, pela intimidade com logia nuclear.
esses gêneros textuais e com a própria escrita Estabelecida uma plataforma básica im-
científica, que tem características próprias, como portante, a responsabilidade de ampliação com
temos visto ao longo das unidades. qualidade e atenção às demandas e necessida-
Assim, antes de analisarmos as características do des da sociedade e do desenvolvimento do País,
fichamento, do resumo e da resenha, vamos ana- pelo seu bom e pleno funcionamento, é grande.
lisar um artigo científico, o qual poderia, por sua Implica o enfrentamento de desafios que mere-
vez, ser fichado, resumido e/ou resenhado pelo cerão dedicação e esforços iguais ou maiores
leitor. que aqueles já dedicados à construção do siste-
ma básico.
Os desafios do desenvolvimento da Lanço aqui vários deles, cuja superação é
ciência e da tecnologia no país crucial para saúde e bom funcionamento do pró-
Marco Antonio Raupp prio sistema, para o reconhecimento de sua uti-
lidade pela sociedade e para que as atividades
Nos últimos 50-60 anos, a atividade orga- dos cientistas contribuam também para o equi-
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líbrio social e regional no País. O primeiro deles o desafio de melhor distribuirmos as atividades
é a deficiente educação básica e média. Requer de C,T&I no País, contribuindo para a superação
o engajamento da comunidade científica para a das desigualdades regionais.
sua superação, além da cidadania, obviamente. Outro importante desafio a ser enfrentado
Não podemos nos furtar à participação, espe- reside na separação existente tradicionalmente
cialmente na questão do ensino das Ciências e entre o sistema universitário e as atividades de
das Matemáticas. pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empre-
As nossas melhores universidades devem sas. Existem honrosas exceções de colaboração
priorizar a formação de bons professores, e em e temos avançado bastante na aproximação, mas
boa quantidade. Isso não vem ocorrendo. Pelo muito ainda resta a fazer para que o fluxo de
contrário, a formação de professores está cada transformação do conhecimento em riqueza seja
vez mais sendo relegada àquelas mais destituí- otimizado, desde o aspecto cultural, passando
das de condições e qualidades. A expectativa pelo operacional, até o marco legal.
positiva é que a nova Capes estimule esse mo- Além do estímulo à participação eventual
vimento. de pesquisadores em projetos de interesse da
Educação de qualidade é o mais importan- empresa, mecanismos como incubadoras de
te requisito para a inclusão social. A ampliação empresas nascentes nas universidades, parques
de vagas nas universidades públicas, sem perder tecnológicos congregando universidades, cen-
a qualidade, é outro grande desafio. A vaga em tros de pesquisas e empresas com interesse em
instituição pública é a que de fato está aberta tecnologia e inovação, e mestrados profissio-
para os filhos da nova classe média, e o atendi- nais, podem ser estimulados por políticas públi-
mento da demanda por profissionais de ensino cas para criar pontes de cooperação, em benefí-
superior e técnico é condição sine qua non para cio da economia do País. O sistema universitário
o desenvolvimento do País. Basta comparar de pesquisa terá, certamente, o reconhecimento
o número de engenheiros que formamos com da sociedade por essa postura.
aquele da China para que entremos em “estado Finalmente, menciono o desafio de superar
de choque”. um gargalo que decorre do fato de a C&T ser ati-
Os dez mil doutores que o nosso sistema vidade recente em nosso País, e que é transversal
de pós-graduação forma anualmente certamente a todas as outras, sua superação sendo importan-
nos darão condições de garantir essa expansão, te para a boa fluência de todas as outras supera-
especialmente na esfera das universidades tec- ções. Tal é a questão no marco legal para o exercí-
nológicas e escolas técnicas, tão necessárias. cio dessas atividades.
A ciência brasileira está 60% localizada Legislações desenvolvidas em outras épo-
na Região Sudeste. Por razões estratégicas e de cas e situações, voltadas para outros propósitos,
justiça federativa, é uma situação que não pode são confrontadas e/ou questionadas sistematica-
perdurar, constituindo-se num desafio para o mente pelas atividades demandadas pelo desen-
planejamento estratégico e a política de ciência volvimento científico e tecnológico do País. São
e tecnologia (C&T). Temos que redirecionar in- exemplos a coleta de material biológico de nossa
vestimentos federais e estimular as FAPs locais. biodiversidade, o uso de animais em experimen-
Isso, de fato, já vem ocorrendo em estados como tos científicos, a coleta e o uso de células-tronco
Amazonas, Pará e Bahia, mas em outros com embrionárias, as impropriedades legais na coope-
alguma tradição houve retrocesso. Em regiões ração entre entidades científicas públicas e em-
como a Amazônia, o semi-árido e a Plataforma presas privadas, o regime “ultra-rápido” nas im-
Continental Marinha, o conhecimento científico portações de insumos científicos, e muitos outros.
é absolutamente necessário para uma interven- Alguns avanços estão ocorrendo, como a
ção econômica sustentável – ambientalmente nova lei que regulamenta o uso de animais em
e socialmente –, preservando o patrimônio do pesquisa, a decisão do Supremo Tribunal Federal
País. É imperativa a atuação do Sistema de Ciên- (STF) sobre células-tronco, a Lei de Inovação e a
cia e Tecnologia nessas áreas, e sua expansão, Lei do Bem. Mas entendemos que uma revisão
contemplando essa atuação, é vital, até para geral para identificação de gargalos, incluindo aí
justificar os investimentos da sociedade nas um estudo sobre o status institucional das orga-
nossas atividades. O aspecto estratégico impõe nizações de pesquisa, o regime de contratação
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sertação, tese e ensaio. Mas há outros tipos de dro teórico no qual vai desenvolver o artigo, se-
resumo, como o que sintetiza as ideias básicas de leciona os conceitos centrais, mostra o perfil da
uma aula. Temos também os resumos estendidos, proposta de análise, sinaliza que vai falar de três
de duas ou três páginas, que são solicitados por momentos da trajetória da teoria, bem como de
algumas instituições de pesquisa e que são ver- perspectivas para o futuro. Veja que as palavras-
dadeiros artigos densos, com dados analisados -chave retomam o conteúdo do resumo.
e interpretados.
Perceba que, apesar de semelhantes, ficha-
mento e resumo são gêneros textuais indepen-
dentes, com características próprias: enquanto Exercitando
aquele é formado por trechos do texto fichado, Antes de avançar para um novo assunto,
que são transcritos literalmente, este é compos- que tal pôr em prática o que você acabou de ver
to por paráfrases. Isso quer dizer que, em um na unidade? Se você encontrar dificuldades para
resumo, repetem-se as ideias do texto a ser re- realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
sumido, mas não suas frases. Assim, enquanto estudado.
um fichamento é formado por frases soltas, um
resumo tem de ter coesão entre suas estruturas Atividade 2
internas, como vimos na Unidade 2. A partir do que você acabou de estudar,
Agora, vamos ler e observar as partes do elabore um resumo do artigo “Os desafios do
resumo seguinte, sobre teoria crítica de discur- desenvolvimento da ciência e da tecnologia no
so e texto: país”, de Marco Antonio Raupp. Lembre-se de
Revista Linguagem em (Dis)curso, destacar as ideias principais do texto e parafra-
volume 4, número especial, 2004 seá-las, isto é, redigi-las com suas próprias pala-
vras. Não se esqueça de que seu texto deve ser
TEORIA CRÍTICA DO coeso e coerente.
DISCURSO E TEXTO
Características da resenha1
Izabel Magalhães
Passemos agora às características da re-
Resumo: senha. O objetivo da resenha é despertar o inte-
O propósito deste artigo é apresentar uma resse em ler a obra e oferecer uma primeira aná-
agenda para o debate e a pesquisa da teoria crí- lise crítica do seu conteúdo. A resenha contém
tica do discurso, relacionando-a, por um lado, três partes: pré-textual, textual e pós-textual. Na
à teoria social crítica e, por outro, à linguística parte pré-textual, constam o título e a autoria da
sistêmico-funcional. Conceitos centrais na teo- resenha. Em seguida, os dados da obra: autoria,
ria crítica do discurso são os de prática social, título, local de publicação, editora, ano, edição,
evento social, gênero discursivo e texto. A aná- número de páginas e volume, se houver.
lise de discurso textualmente orientada (ADTO) A parte textual contém as credenciais do
é uma proposta de compreensão das práticas resenhado, sua nacionalidade, formação acadê-
sociais na concepção dialética do discurso, en- mica e principal obra publicada. Destaca as con-
volvendo gêneros discursivos e a construção de clusões a que a autoria da obra chegou, ou que o
sentidos nos textos: ações (gêneros), represen- resenhista localizou, descreve de forma sucinta
tações (discursos), identificações (estilos). Três os capítulos ou partes em que se divide a obra.
momentos significativos do desenvolvimento da Expõe os métodos de coleta e análise, os instru-
teoria são apresentados, assim como são desta- mentos de coleta e organização dos dados e do
cados pontos para futuras pesquisas. modo de apresentação dos resultados.
Palavras-chave: O resenhista indica a referência teórica da
teoria crítica; discurso; prática social; tex- autoria, com a corrente de pensamento a que se
to; gênero; transdisciplinaridade. filia e dos autores privilegiados. Critica a obra
Observe que a autora abriu mão da tarefa a partir do ponto de vista da coerência entre a
de contextualizar o trabalho, começando direta-
mente pelo objetivo do mesmo. Localiza o qua-
1
Contamos com a participação de Ana Paula Alves na elaboração
das características da resenha.
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58
tese central e a sua sustentação, e a partir do urgência, Ana Pizarro abre a coletânea questio-
emprego de métodos e técnicas específicas. nando a situação cultural da modernidade tar-
Por fim, avalia o mérito da obra, sua origi- dia na América Latina. Em seguida, sua reflexão
nalidade e contribuição para o desenvolvimento volta-se aos questionamentos centrados no cam-
da ciência, por apresentar novas ideias e resulta- po da história. A partir deste campo cria pon-
dos, ou por utilizar abordagem inovadora e rele- tes com a historiografia literária, com a relação
vante. Na parte pós-textual constam as referên- história e ficção, e ainda propõe interrogar os
cias da bibliografia consultada pelo resenhista. espaços, tempos, períodos históricos e regiões
Alguns editores exigem que a resenha seja culturais do subcontinente. Ao longo dos capítu-
precedida por um resumo, outros não. No caso da los a reflexão avança para questões conceituais
resenha seguinte, que foi publicada na Revista Gra- que frequentam a crítica cultural da atualidade,
goatá, da UFF, a autora optou por apresentar um como as problemáticas ligadas à mestiçagem e
resumo do livro resenhado ao longo do texto. ao hibridismo, as de deslizamentos causados
por viagem e exílio, além de problemas levanta-
O sul e os trópicos dos a partir das vanguardas históricas dos anos
Livia Reis 20. Também o papel desempenhado pelas pri-
meiras escritoras no início do século XX é mo-
Última obra da escritora chilena, publica- tivo para a arguta reflexão da escritora chilena
da originalmente na Espanha em 2005, O sul e que encerra o volume com uma análise sobre o
os trópicos, ensaios de cultura latino-americana, impacto da indústria de bens culturais, a TV e o
mantém-se fiel ao espírito questionador e polê- cinema na cultura periférica.
mico presente na obra anterior de Ana Pizarro Todos os temas elencados aparecem em
e, ao mesmo tempo, avança em algumas dimen- um, às vezes em mais capítulos discutidos, res-
sões ainda pouco contempladas em trabalhos gatados, reavaliados, redimensionados sob di-
anteriores. Em permanente diálogo com críticos versos ângulos e olhares. Por trás da preocupa-
de seu tempo, como García Canclini e Cornejo ção com a construção de um arcabouço teórico
Polar, os ensaios que compõem a coletânea tra- que dê sustentação a uma historiografia literá-
zem inquietações com questões basilares dos ria aberta aos estudos de cultura, sua relação
estudos de cultura na América Latina, como por com os imaginários e sua vinculação com a
exemplo, a complexa e controversa noção de história, os ensaios se encaixam conduzindo a
América Latina e suas articulações culturais e reflexão e a leitura pelos diferentes espaços da
históricas em torno da unidade e diversidade, geografia cultural latino-americana. No entanto,
além das constantes preocupações com uma his é no capítulo 11, “Áreas culturais da modernida-
toriografia literária da e para a América Latina. de tardia”, que a autora coloca sua mais recen-
De certa forma a obra de Ana Pizarro é te preocupação: a incorporação e reivindicação
herdeira daqueles que primeiro pensaram o con- da Amazônia, espaço privilegiado da cultura do
tinente e buscaram conceber uma nova história continente, tradicionalmente isolada dos estu-
literária: Martí, González Prada, Mariátegui, Pedro dos latino-americanos.
Henrique Ureña, posteriormente Angel Rama e Entendendo a região amazônica como su-
Antonio Candido. Todos estes intelectuais propu- porte de nosso imaginário mítico, para além das
seram questões que conduziram a questionamen- questões ecológicas e ambientais, o texto de Ana
tos densos e complexos a respeito da cultura e da Pizarro constrói uma reflexão que entende esta
literatura latino-americana e terminaram por for- região tão rica e abandonada, espaço dividido
mular novas propostas metodológicas, mediante por oito países do continente, como um dos “es-
os câmbios e os deslocamentos de seus objetos paços culturais que configuram a fragmentada
de estudo. unidade do continente e que, historicamente,
Ancorada na noção de “sistema literário” tem contribuído no desenho de nosso imaginá-
forjada por Candido, que perpassa os debates rio cultural”.
propostos, a autora abre um leque de questiona- Ana Pizarro se serve de todos estes te-
mentos que alavancam suas reflexões em torno mas para desenvolver sua delicada e perspicaz
de temas que exigem urgência no cenário da crí- análise da cultura latino-americana do último sé-
tica da cultura na América Latina. A partir desta culo. A obra, além da pertinência dos estudos,
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59
desenvolvidos sempre com delicadeza e profun- Cornejo Polar terá bons motivos para ler O sul e
didade, vem envolvida em uma linguagem aces- os trópicos.
sível que conduz o raciocínio de seu leitor ao A partir da contextualização da obra em
questionamento a respeito de temas que estão relação a outros discursos que gravitam em
a nossa volta, em nosso dia-a-dia cultural sem, torno do mesmo tema, a resenhista explicita a
no entanto, abrir mão de uma grande erudição temática principal do livro: “inquietações com
que faz com que a autora esteja em permanente questões basilares dos estudos de cultura na
diálogo com críticos de sua época e do passado. América Latina, como por exemplo, a complexa
Acreditamos que O sul e os trópicos já te- e controversa noção de América Latina e suas
nha o seu lugar nos estudos de literatura e cul- articulações culturais e históricas em torno da
tura no Brasil, sobretudo hoje, momento em que unidade e diversidade, além das constantes
assistimos a um sensível crescimento dos estu- preocupações com uma historiografia literária
dos comparativos, ao mesmo tempo em que va- da e para a América Latina”.
mos construindo um processo de incorporação A seguir, o texto apresenta breve síntese
do mundo hispânico e caribenho à nossa cultu- das partes que compõem a obra, destacando
ra brasileira. Este processo também pode ser como se estabelece o percurso lógico que enca-
percebido na medida em que começamos a nos deia as ideias apresentadas acerca da América La-
identificar e nos sentir parte deste continente. tina. O trecho abaixo, retirado da resenha, ilustra
Podemos observar, pelo lado inverso, o mesmo esse procedimento de análise estrutural da obra.
processo que descreve Ana Pizarro, de incorpo- Nele destacamos algumas estruturas que ajudam
ração do bloco luso falante aos estudos literá- a ordenar a enumeração das partes da obra.
rios latino-americanos. Ancorada na noção de “sistema literário”
Este é outro mérito de O sul e os trópicos. forjada por Can dido, que perpassa os debates
Repetindo o movimento que teve início na trilo- propostos, a autora abre um leque de questio-
gia América Latina, palavra, literatura e cultura namentos que alavancam suas reflexões em tor-
(Unicamp, 1995), este livro incorpora o Brasil, no de temas que exigem urgência no cenário da
sua literatura e cultura, seus processos de de- crítica da cultura na América Latina. A partir
senvolvimento, vanguarda e modernidade, que desta urgência, Ana Pizarro abre a coletânea
são analisados em conjunto com os diferentes questionando a situação cultural da modernida-
países do bloco hispânico e do Caribe. de tardia na América Latina. Em seguida, sua
Com isso, damos boas vindas à primeira reflexão volta-se aos questionamentos centrados
edição brasileira de O sul e os trópicos: ensaios no campo da história. A partir deste campo cria
de literatura e cultura latino-americana. pontes com a historiografia literária, com a rela-
Analisemos brevemente a resenha. Logo no ção história e ficção, e ainda propõe interrogar
início do texto, introduzindo o livro de que fala, os espaços, tempos, períodos históricos e regiões
Livia Reis contextualiza a obra analisada entre as culturais do subcontinente. Ao longo dos capítu-
demais produções da autora Ana Pizarro, sobre los a reflexão avança para questões conceituais
quem algumas informações são apresentadas, que frequentam a crítica cultural da atualidade,
como sua nacionalidade e suas áreas de atuação. como as problemáticas ligadas à mestiçagem e
Tais informações são imprescindíveis em uma ao hibridismo, as de deslizamentos causados por
boa resenha, pois as credenciais do autor estão viagem e exílio, além de problemas levantados
entre os principais argumentos para convencer a partir das vanguardas históricas dos anos 20.
alguém a ler, ou não, determinada obra. Também o papel desempenhado pelas primeiras
Ainda no primeiro parágrafo do texto de escritoras no início do século XX é motivo para a
Livia Reis, a autora situa O sul e os trópicos em arguta reflexão da escritora chilena que encerra
relação à produção intelectual de outros críticos o volume com uma análise sobre o impacto da
contemporâneos, como García Canclini e Cor- indústria de bens culturais, a TV e o cinema na
nejo Polar. Perceba que essa é uma importante cultura periférica.
estratégia de composição textual, visto que a au- Para evidenciar que se trata de uma se-
toridade que se atribui aos dois autores citados quência lógica de partes da obra, a resenhista
passa a se estender à obra de Ana Pizarro. Des- optou por relacionar suas ideias por meio de
se modo, um leitor que admire García Canclini e conectivos que expressam sucessão, como “a
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60
partir de”, “em seguida”, “e ainda”, “ao longo sintetizar as ideias principais do texto e apresen-
de”, “também”. A esse caráter sequencial, so- tar também uma crítica a ele.
mam-se os verbos utilizados para apresentar os Respostas às atividades
componentes do livro, como “abre”, “volta-se”, Nesta unidade, todas as atividades pro-
“avança” e “encerra”. postas diziam respeito à produção textual. Dis-
Após ter introduzido e desenvolvido a re- cuta com seu professor/tutor que procedimento
senha, coube a Livia Reis concluí-la, o que fez rei- será adotado para entrega/correção dos textos
terando e sintetizando as ideias principais do li- redigidos em aula.
vro na seguinte frase: “uma reflexão que entende É preciso apontar, porém, que há, neces-
esta região tão rica e abandonada, espaço dividi- sariamente, um certo grau de similaridade nas
do por oito países do continente, como um dos respostas a serem apresentadas, já que todos os
‘espaços culturais que configuram a fragmenta- textos produzidos devem dialogar com o artigo
da unidade do continente e que, historicamente, “Os desafios do desenvolvimento da ciência e
tem contribuído no desenho de nosso imaginário da tecnologia no país”, apresentado no início da
cultural’”. Observe que, para dar maior impacto unidade. Assim, são destacadas abaixo as ideias
à sua conclusão, a resenhista optou por empre- principais desse texto, que deveriam aparecer
gar uma citação direta de O sul e os trópicos. em qualquer fichamento, resumo ou resenha.
Uma resenha não está completa se, após l “Nos últimos 50-60 anos, a atividade or-
com uma informação que supostamente inte- sultados desse sistema, temos hoje a taxa de 2%
ressaria a maior parte de seus leitores: publi- de participação da produção nacional de traba-
cada em um periódico brasileiro, a resenha da lhos científicos na produção mundial”.
autora será lida majoritariamente por brasilei- l “Notável também no período foi a cons-
ros, os quais provavelmente se interessam pela tituição de casos específicos de sucesso no que
situação de seu país no panorama latino-ameri- se refere às ciências aplicadas e à pesquisa tec-
cano. Ao encerrar a resenha com uma informa- nológica”.
ção adicional que fala diretamente aos anseios l “Estabelecida uma plataforma básica im-
da maior parte de seus leitores, a autora é bem- portante, a responsabilidade de ampliação com
-sucedida em seu objetivo de divulgar O sul e os qualidade e atenção às demandas e necessidades
trópicos e incentivar sua leitura. da sociedade e do desenvolvimento do País, pelo
seu bom e pleno funcionamento, é grande”.
l “As nossas melhores universidades de-
que tal pôr em prática o que você acabou de ver des públicas, sem perder a qualidade, é outro
na unidade? Se você encontrar dificuldades para grande desafio”.
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui l “A ciência brasileira está 60% localizada
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61
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Unidade 6 desempenhadas com eficácia. É com base nos
resultados de relatórios que projetos ou pla-
nos são reafirmados ou reajustados, sempre
Relatório e projeto visando a uma maior excelência na realização
de determinada atividade.
No ambiente acadêmico, os re-
Apresentando a unidade latórios têm um papel prepon-
derante na condução de pes-
quisas. É por meio deles que
N
esta unidade, orientamos você sobre orientadores e agências fomen-
como redigir um relatório, em geral, e tadoras e incentivadoras à pesquisa podem ga-
sobre como redigir um relatório de pes- rantir que tempo, esforço e recursos materiais
quisa, em particular. Nesta etapa do curso, você sejam empregados de forma produtiva, otimizan-
vai conviver com o mundo das ideias, que se for- do os resultados da atividade acadêmica. Além
ma, em parte, graças aos relatórios produzidos disso, a produção de relatórios, como atividade
em diferentes áreas da atividade humana. Além de avaliação do trabalho próprio ou alheio, torna
disso, vai conhecer também como se elabora um mais agudo o olhar crítico. Assim, desenvolve-se
projeto de pesquisa, um dos primeiros passos a capacidade de identificar pontos positivos e
no longo percurso da construção do conheci- negativos e de trabalhar de modo proativo para
mento científico. a redução destes.
Observe que um relatório pode ser exigi-
Definindo os objetivos do ao final de um processo, funcionando como
um balanço do que se fez e produziu, ou mesmo
Ao final desta unidade, você deverá ser durante o próprio processo, de modo a avaliar
capaz de: se é satisfatória a maneira como determinada
1. ler criticamente um relatório, reconhecendo atividade está sendo conduzida. Caso você este-
suas partes componentes; ja produzindo um relatório no meio do processo,
2. produzir seus próprios rela- é importante ressaltar que quaisquer resultados
tórios; são ainda inconclusivos, sendo preciso chegar
3. ler criticamente um projeto, ao final do processo para poder criticar com cer-
reconhecendo suas partes com teza os procedimentos adotados.
ponentes; Para tornar mais claro o que vimos até
4. produzir seus próprios projetos. agora, analisaremos um relatório (adaptado)
de pesquisa de iniciação científica, apresenta-
Conhecendo o relatório do por duas alunas da PUC-RJ.
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64
Este estudo tem sido desenvolvido desde pesquisa, artigos, teses e dissertações ou livros
2005 e seus eixos principais de análise nessas de outros autores que também se dedicam ao es-
interações são: a identidade, a autoridade e a di- tudo da infância, seja através de pesquisas rea-
versidade. lizadas no Brasil, como em Martins Filho (2006),
Ao observarmos esses eixos visamos sa- Freitas (2006) e Delgado (2007), seja através de
ber quem são esses adultos e crianças e como pesquisas realizadas em outros países, como as
eles se reconhecem nesses espaços onde há de Sirota (2001, 2005, 2006), Corsaro (1985, 2003,
tanta desigualdade. Queremos também enten- 2005) e Sarmento (2000).
der a construção nas interações da percepção
do outro, que se constitui socialmente em fon- Estratégias metodológicas:
te de discriminação (por exemplo: como se dá Nossas estratégias metodológicas foram:
a inclusão nos locais observados), e perceber observação intensiva, fotografias, entrevistas e
como é a questão da distribuição do poder en- interações a partir de produções culturais das
tre adultos e crianças diante da contempora- e para as crianças. Através disso, pretendemos
neidade. fazer com que a criança seja vista, percebida, ob-
servada em nosso campo.
Fundamentação teórica: A pesquisa foi realizada em vinte esco-
A pesquisa contou com aportes teóricos las das redes pública, particular e comunitária,
das áreas de estudos da linguagem e estudos sendo cinco creches, sete escolas exclusivas
culturais, filosofia, psicologia, antropologia de educação infantil e oito escolas de ensino
e sociologia da infância, que nos ajudaram a fundamental com turmas de educação infantil,
construir concepções de homem, infância e todas situadas no Município do Rio de Janeiro.
educação. Delineamos um referencial com base Foram realizados, inicialmente, estudos de caso
na teoria crítica da cultura e da modernidade, simultâneos nessas instituições, como etapa ex-
em especial em Benjamin (1987a, 1987b), na ploratória, e, em seguida, com maior densidade
concepção de linguagem de Bakhtin (1988a, em seis destas instituições (duas creches, duas
1988b, 1992) e na ideia de formação social da escolas de educação infantil e duas escolas de
consciência e sua ligação com a cultura, assim ensino fundamental que têm turmas de educa-
como expresso por Vigotski (1987, 1998, 1999), ção infantil). A escolha foi pautada pelo critério
considerando a produção de leitores e pesqui- da positividade do trabalho.
sadores das obras destes autores. Os principais A observação dá suporte na descrição
teóricos de nossas discussões e reflexões são, densa para conhecermos as ações, as interações,
portanto, Lev Vigotski, Mikhail Bakhtin e Walter as práticas e os valores éticos/preconceitos que
Benjamin. as permeiam e as orientam; e compreendermos
Os estudos da linguagem e estudos cultu- como se lida com identidade, autoridade e diver-
rais ajudaram a entender que o outro ocupa um sidade, tendo como foco as ações dos adultos,
papel muito importante na construção do nosso as relações entre adultos e crianças e as trocas
conhecimento. Já a antropologia fez perceber os entre as crianças. Há o desafio metodológico de
significados que o outro atribui. E a sociologia observar crianças nas atividades cotidianas em
da infância contribuiu para a metodologia de contextos institucionais, tendo em vista que,
pesquisa com crianças. muitas vezes, as ações nesses espaços são con-
Para Bakhtin, a pesquisa em ciências hu- duzidas e tuteladas pelos adultos. Assim, busca-
manas é sempre estudo de textos, e o objeto da mos construir um olhar sensível, para ver e ouvir
pesquisa, nas ciências humanas, é sempre um as crianças: entender a linguagem para além do
sujeito. Porém, é preciso procurar manter um que era dito, compreender os significados do cor-
afastamento, uma distância do campo para que po e seus movimentos, as tensões e apreensões,
possamos conseguir captar o real da melhor for- os sentidos do choro, do riso, das disputas, das
ma possível. Sendo assim, é de extrema impor- demonstrações de carinho ou raiva e dos mo-
tância que texto e contexto estejam sempre em mentos de partilha. O mesmo é válido para as
harmonia. entrevistas, entendidas como um espaço para a
Realizamos, ainda, uma revisão bibliográ- escuta do outro.
fica que nos levou à discussão de relatórios de [...]
Voltar ao sumário
65
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Pau- psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fon-
lo, Martins Fontes,1992, 2003. tes, 1998. (tradução Paulo Bezerra).
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. VIGOTSKI, L.S. Psicologia da arte. São Paulo, Mar-
São Paulo, Hucitec, 1988a. tins Fontes, 1999 (tradução Paulo Bezerra).
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colas de educação infantil e duas escolas de en- b. Sintetize em algumas frases o procedi-
sino fundamental que têm turmas de educação mento metodológico adotado pelo pesquisador.
infantil). A escolha foi pautada pelo critério da c. Identifique verbos marcadamente narra-
positividade do trabalho”. tivos que foram empregados na elaboração da
Perceba que os verbos acima destacados metodologia. Em que tempo verbal eles se en-
estão predominantemente no pretérito perfeito contram?
do modo indicativo, expressando ações que fo- d. A pesquisa científica é marcada pela au-
ram realizadas no passado pelos pesquisadores. tocrítica. Em que partes do texto pode-se iden-
Já os adjetivos destacados em negrito descre- tificar um posicionamento dessa natureza por
vem, restringem ou explicam os procedimentos parte do autor do relatório?
metodológicos ou o objeto analisado nessa etapa.
Dando continuidade à Metodologia, o re- a observação do desenvolvimento
latório que estamos analisando possui uma se- típico da comunicação não-ver-
ção intitulada Atividades realizadas enquanto bal: subsídios para a promoção
bolsistas, que complementa os procedimentos
do uso da linguagem no autismo
metodológicos já mencionados. Veja que, nessa
parte do texto, predomina também o modo de Aluno: Gilberto Bruzzi Desiderio
organização textual narrativo-descritivo, com Orientadora: Carolina Lampreia
verbos no pretérito perfeito e adjetivos.
Na sequência, todo relatório deve apre- Introdução
sentar Conclusões ou Discussão dos Resultados, O autismo é concebido como um trans-
mesmo que esses sejam ainda parciais. Nesse torno do desenvolvimento e é caracterizado
momento, apresentam-se os resultados da pes- basicamente por falhas na interação social e na
quisa, os quais devem ser interpretados à luz de comunicação tanto verbal quanto não-verbal
teorias coerentes e organizados da forma mais (DSM-IV-TR; Diagnostic and Statistical Manual of
apropriada. Para isso, pode-se adotar o forma- Mental Disorders, 2002). Seu diagnóstico deve
to da prosa, da lista (pontuada ou numérica), de ser feito antes dos 36 meses de idade, sendo que
tabelas, gráficos ou figuras, dependendo do teor tem sido buscada uma identificação mais preco-
da informação a ser compilada. ce, visando a uma intervenção também precoce
Por fim, trabalho acadêmico algum está que permita minorar os possíveis efeitos do pre-
completo sem as Referências bibliográficas de juízo biológico subjacente. Para o fim da identi-
que o pesquisador se valeu para conduzir seu ficação precoce antes dos 2 anos de idade, têm
estudo. A fim de sistematizar de maneira práti- sido desenvolvidos instrumentos específicos e
ca e acessível esse tipo de informação, é impor- realizados estudos de vídeos familiares (LAM-
tante que se respeitem os padrões prescritos PREIA, no prelo).
pela ABNT. Os estudos do desenvolvimento típico
dos diversos comportamentos de atenção com-
partilhada que surgem a partir dos 9 meses de
idade também têm servido de referência, mos-
Exercitando trando que as falhas no apontar declarativo por
Antes de avançar para um novo assunto, parte da criança autista e no seguir o apontar
que tal pôr em prática o que você acabou de ver do adulto podem estar ligadas a distúrbios de
na unidade? Se você encontrar dificuldades para linguagem e do jogo simbólico, que servem de
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui marcadores do autismo (BARON-COHEN, ALLEN
estudado. & GILLBERG, 1992).
Atividade 1 Esses vários estudos de identificação pre-
Agora que você conhece a estrutura de um coce, assim como os de intervenção precoce,
relatório de pesquisa, analise o relatório abaixo usam preferencialmente categorias discretas de
e responda às seguintes perguntas: observação e treinamento. Por outro lado, alguns
a. Destaque do relatório a questão central estudos do desenvolvimento típico da intersubje-
de estudo, os objetivos gerais e específicos da tividade e da comunicação inicial não-verbal, tais
pesquisa. como os de Stern (1977; 1992), Hobson (2002) e
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68
Bates (1976; 1979), adotam uma metodologia que percepção amodal (STERN, 1992), de tomar a in-
enfoca a observação dos aspectos qualitativos formação recebida de uma modalidade sensorial
da passagem de uma habilidade a outra. Estes es- e de alguma maneira traduzir para uma outra
tudos não apenas registram a aquisição de uma modalidade sensorial. A percepção amodal per-
nova habilidade em determinado momento do mite que uma coisa vista, ouvida e tocada possa
desenvolvimento mas descrevem as condições de fato, através da coordenação de informações
em que ela surge em termos das atividades nas que vêm de várias modalidades perceptuais di-
quais a criança está envolvida e a participação ferentes (como visão, tato, audição...), ser sen-
do adulto. Eles descrevem a passagem de uma tida como parte de uma fonte externa única.
habilidade a outra quando, por exemplo, a crian- Essa capacidade é fundamental para que o bebê
ça passa a substituir o gesto pela vocalização possa experienciar um senso de eu e de outro
que já a acompanhava. emergentes, que possibilita que, por volta dos
Em suma, para que se possa melhor com- dois meses, o bebê se encontre em uma nova si-
preender em que consistem as falhas iniciais tuação bem mais social. Situação essa em que o
de desenvolvimento no autismo, que acarretam bebê sorri, vocaliza, faz contato ocular em res-
posteriormente suas características mais bási- posta aos comportamentos exagerados e repe-
cas, torna-se necessário conhecer os aspectos tidos da mãe que apresenta algumas alterações
qualitativos e descritivos do desenvolvimen- na linguagem, nas expressões faciais e jogos de
to típico, assim como os aspectos afetivos da esconde-esconde. Mãe e bebê regulam, então,
comunicação inicial. Isto poderá vir a permitir mutuamente os interesses e sentimentos um do
uma identificação precoce mais fidedigna assim outro através de padrões rítmicos, sinais multi-
como uma intervenção precoce mais eficaz. modais, equiparação de expressão vocal, facial
e gestual.
A comunicação afetiva [...]
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cuidador, sem objetivos relacionados especifi- como uma tentativa frustrada de interação. Para
camente à pesquisa, apenas para documentar cada episódio, procurou-se identificar as catego-
eventos cotidianos do bebê. rias de análise anteriormente definidas e assina-
As categorias de análise de vídeos foram lar suas ocorrências em uma folha de registro. A
assim definidas: duração de cada episódio de interação não foi
1. Categorias discretas: sorriso (parceiro previamente estipulada. Os episódios eram inter-
sorri para o outro ou responde ao sorriso do ou- rompidos quando se passavam cinco segundos
tro, retribuindo o sorriso imediatamente); con- sem que um dos parceiros da díade respondesse.
tato ocular (parceiro dirige sua atenção visual
para o outro e olha diretamente para sua face e Conclusão
nos seus olhos); vocalização (um dos parceiros As categorias de análise utilizadas podem
emite sons); permitir o rastreamento de falhas básicas encon-
2. Categorias afetivas – I: engajamento afe- tradas no desenvolvimento de bebês com risco
tivo: grau de conexão emocional entre o bebê e de autismo. A metodologia de análise das cate-
seu cuidador (GARCÍA-PEREZ, LEE & HOBSON, gorias discretas está bem elaborada. Contudo, a
2007). A avaliação será subjetiva e pontuada metodologia para as categorias afetivas precisa
em 3 níveis: sem conexão emocional, alguma de mais tempo de treinamento, já que estas ca-
conexão, conexão emocional forte; fluxo da in- tegorias foram recentemente reformuladas para
teração: harmonia do intercâmbio entre o bebê que melhor se adequassem às novas necessida-
e seu cuidador (GARCÍA PEREZ, LEE & HOBSON, des da pesquisa. Isso porque os resultados aqui
2007). A avaliação será subjetiva e pontuada em obtidos permitiram a elaboração de um novo
3 níveis: intercâmbio mínimo, pouco harmonio- projeto de pesquisa “A investigação de sinais
so (requer esforço por parte da mãe para fazer precoces de risco de autismo em bebês com ir-
com que ocorra intercâmbio), muito harmonio- mãos autistas”, que deverá procurar analisar in-
so (intercâmbio relaxado e regular); terações mãe-bebê com o objetivo de identificar
3. Categorias afetivas – II: intensidade (o possíveis indícios de risco de autismo antes dos
nível de intensidade do comportamento do par- 12 meses de idade.
ceiro é o mesmo que o do outro, independen-
temente do modo ou forma de comportamento Agradecimento
– p. ex., a altura da vocalização da mãe iguala Os autores deste trabalho agradecem
a força de um abrupto movimento de braço do ao CNPq pelo apoio financeiro (Bolsa PIBIC –
bebê – STERN, 1992); timing (uma pulsação re- 2007/2008).
gular, no tempo, é igualada – p. ex., a inclinação
da cabeça da mãe e o gesto do bebê obedecem à Referências
mesma batida – STERN, 1992); forma (algum as-
1. Baron-Cohen, S., Allen, J. & Gillberg, C. (1992)
pecto espacial de um comportamento é igualado Can Autism be Detected at 18 Months? The Nee-
– p. ex., a mãe toma emprestada a forma vertical dle, the Haystack, and the CHAT. British Journal
do movimento para-cima-para-baixo do braço do of Psychiatry, 161, 839-843.
bebê e a adapta a seu movimento de cabeça – 2. Bates, E. (1976) Language and context. The ac-
STERN, 1992). quisition of pragmatics. N.Y.:
O procedimento para a análise dos vídeos Academic Press. 3. Bates, E. (1979) The emer-
consistiu, primeiramente, em assistir às filma- gence of symbols. Cognition and communica-
gens recolhidas como um todo e em seguida des- tion in infancy. N.Y.: Academic Press.
tacar as cenas consideradas aptas, ou seja, cenas 3. DSM-IV-TR (2002) Manual diagnóstico e esta-
em que fosse possível visualizar a face do bebê tístico de transtornos mentais. trad. Dayse Ba-
e do cuidador simultaneamente. Em um segundo tista, 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
momento eram destacados, das cenas aptas, epi- 4. Hobson, P. (2002) The cradle of thought. Lon-
sódios de interação ou de tentativa de interação. don: Pan books.
Cada episódio tinha início sempre quando havia 5. Lampreia, C. (no prelo) Algumas considerações
solicitação por parte de um dos integrantes da sobre a identificação precoce no autismo. In: Te-
díade. Se não houvesse, após cinco segundos, mas em Educação Especial. São Carlos, São Paulo:
resposta do parceiro, o episódio era considerado EDUFSCar.
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11. relatório final – qual é o sumário provisó- A bacia hidrográfica do rio Pacoti, respon-
rio do relatório sobre a pesquisa. sável pela maior oferta potencial de água para
Para você entender melhor como essas a região metropolitana de Fortaleza e objeto do
partes se relacionam na construção de um proje- presente estudo, não foge à regra, apresentando
to de pesquisa, apresentamos um modelo (adap- sérios problemas de degradação dos recursos
tado), retirado do site <br.geocities.com/sergio- hídricos, dada a expansão das atividades agríco-
fk/minicurso.pdf>. Logo após o texto, segue uma las e atualmente da urbanização.
breve análise sobre ele. Dessa forma, tornam-se necessários es-
tudos que contribuam para um maior conheci-
Exemplo de projeto de pesquisa mento de seu potencial hídrico, sua utilização e
(condensado) conservação, para que as gerações futuras pos-
sam também usufruí-los visando atender às suas
BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO próprias necessidades.
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) – PIBIC/CNPq Área de estudo
Período de vigência: setembro/98 a julho /99
Título: RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA A área de estudo compreende a bacia
HIDROGRÁFICA DO RIO PACOTI-CEARÁ: POTEN- hidrográfica do rio Pacoti, uma das bacias me-
CIALIDADES, USO ATUAL E DEGRADAÇÃO AM- tropolitanas do Estado, localizada próximo à
BIENTAL cidade de Fortaleza. Ocupa uma área aproxima-
Pesquisador: FUCK Júnior, Sérgio Cesar da de 700 km2, onde se destacam o rio Pacoti e
de França – aluno de graduação do curso de Ba- seus contribuintes de maior porte: os riachos
charelado em Geografia/CCT/UECE. Baú e Água Verde, afluentes pela margem es-
Orientador: LIMA, Timóteo Sérgio Ferrei- querda. Nessa bacia foram construídos inúme-
ra – professor do Departamento de Geociências/ ros açudes, dentre os quais destacam-se o sis-
CCT/UECE. tema Pacoti-Riachão-Gavião e o açude Acarape
Colaboradora: Veríssimo, Maria Elisa Za- do Meio.
nella – professora do Departamento de Geogra- O rio Pacoti nasce na serra de Baturité,
fia/CC/UFC. sendo a maior parte da bacia (alto e médio cur-
so) representada por rochas do embasamento
Introdução cristalino. Seu baixo curso encontra-se sobre
terrenos sedimentares representados pela For-
A água é um dos recursos mais importantes mação Barreiras e Dunas e Paleodunas da Planí-
à sociedade humana, constituindo-se em elemen- cie Litorânea, onde são amplas as planícies alu-
to básico à sua sobrevivência e ao desenvolvimen- vionares que margeiam o rio principal.
to econômico e social. A sua utilização tem-se in-
tensificado nas últimas décadas, tendo em vista o Objetivo geral
seu crescente uso, quer seja no abastecimento de
áreas urbanas, industriais e rurais, na irrigação, Este projeto tem como objetivo estudar
quer nas atividades de lazer, entre outras. os recursos hídricos superficiais e subterrâneos
da bacia do rio Pacoti, suas potencialidades, uso
Problema/justificativa atual e degradação ambiental.
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Unidade 7 metodologia, cronogramas etc. para o estudo
que você pretende conduzir. E você ainda estu-
dou como produzir um relatório sobre sua pes-
Artigo científico e monografia de quisa – parcial ou final –, o qual será lido por seu
conclusão de curso orientador e por eventuais agências de fomento.
No entanto, sua pesquisa não pode ficar
restrita a esse pequeno círculo de leitores. A
Apresentando a unidade partir de agora, você aprenderá como redigir um
artigo científico, gênero que serve à divulgação
de estudos e seus resultados no meio acadêmi-
N
esta unidade, vamos estudar artigos co. Observe que, sem divulgação, sua pesquisa
científicos e monografias de conclusão não cumpre o objetivo de ajudar a evolução da
de curso, textos de mais fôlego que se ciência, pois só se ela for conhecida por outros
exigem de graduandos no fim de seus cursos. pesquisadores poderá ser usada como referên-
Além de analisarmos as partes que compõem es- cia para futuros estudos.
ses gêneros, vamos compreender sua relevância Assim, se queremos que nosso trabalho
na vida acadêmica e as regras específicas que seja reconhecido e útil aos demais, devemos
norteiam sua produção. apresentá-lo em congressos e seminários ou
publicá-lo na forma de artigos científicos em pe-
Conhecendo os objetivos riódicos especializados. Veja que, mesmo que
você opte por expor seu trabalho oralmente em
Ao final da unidade, você deverá ser capaz de: congressos, costuma-se exigir do congressista
1. identificar as características principais uma versão escrita de seu texto, na forma de um
de artigos científicos e mono- artigo, o qual é publicado em anais do evento.
grafias de conclusão de curso; No que diz respeito à publicação em perió-
2. analisar criticamente dicos, a primeira coisa que se deve esclarecer é
artigos científicos e monogra- que toda área tem os seus, impressos ou digitais,
fias de conclusão de curso; os quais divulgam resultados e métodos de pes-
3. dominar as técnicas quisas de forma bem mais detalhada e sistemá-
para produzir seus próprios artigos científicos e tica do que relatórios. Uma boa pesquisa biblio-
sua monografia de conclusão de curso. gráfica alia a leitura dos clássicos em torno de
uma determinada questão, os quais geralmente
Conhecendo o artigo científico estão publicados na forma de livros, e a leitura
dos mais recentes estudos sobre essa mesma
No começo de nossas unida- questão, frequentemente publicados na forma
des, você estudou aspectos de artigos científicos.
da textualidade presentes Há dois tipos de artigo científico: a) arti-
em qualquer tipo de tex- gos originais ou de divulgação, que apresentam
to, como coesão, coerência, tipologia textual e temas ou abordagens originais, em relatos de
gêneros discursivos, o que permitiu que você caso, comunicações ou notas prévias; b) ar-
desenvolvesse ainda mais suas capacidades de tigos de revisão, que analisam e discutem tra-
escrita e leitura. balhos já publicados e revisões bibliográficas.
Em seguida, você estudou o fichamento, o Em todo caso, ambos devem seguir as mesmas
resumo e a resenha, três gêneros básicos na vida orientações gerais, que apresentaremos mais à
acadêmica, os quais servem como ferramentas frente na unidade, junto com as orientações ge-
de estudo e sistematização do conhecimento ad- rais para a elaboração da monografia.
quirido. É por meio desses gêneros que você po-
tencializa sua leitura de referências teóricas, pos-
sivelmente usadas em suas futuras pesquisas.
Depois, você aprendeu como elaborar um Exercitando
projeto, estruturando de forma clara seu plano Antes de avançar para um novo assunto,
de pesquisa, o qual define objetivos, hipóteses, que tal pôr em prática o que você acabou de ver
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criando o contexto da pesquisa, e que na análise Segue abaixo um modelo de capa que
dos dados e nas conclusões se enfatize o tom ar- pode facilmente ser adaptado à sua monografia.
gumentativo, defendendo pontos de vista e suge-
rindo aplicações.
As qualidades básicas do estilo acadêmico
devem estar presentes no artigo científico e na
monografia. Portanto, o texto deve ser marcado
por concisão, coerência, coesão e clareza, aspec-
tos já estudados neste curso, além de ser escrito
na modalidade culta, tema da próxima unidade.
A estrutura do artigo científico e da mono-
grafia segue o que se esboçou anteriormente no
projeto de pesquisa, o qual já supõe uma pesquisa
de campo e/ou de revisão bibliográfica. No entan-
to, cabe ressaltar que um artigo tem dimensões
menores que a de uma monografia, devendo, por-
tanto, se centrar em um recorte mais específico.
Vejamos a seguir as partes componentes
do artigo científico e da monografia:
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1.b.3. Folha de rosto (verso) – Nessa par- 2.2. Desenvolvimento – Nessa etapa,
te da monografia, inclui-se a ficha catalográfica, metodologia e revisão da literatura são etapas
isto é, os dados necessários para a arquivação imprescindíveis, bem como a apresentação e a
do trabalho na biblioteca. Tal ficha não é elabo- discussão dos resultados. Para ratificar sua ar-
rada pelo aluno, mas sim pela biblioteca da ins- gumentação, é importante apresentar outros
tituição. pontos de vista e pesquisas de relevância, citan-
1.b.4. Dedicatória/Agradecimentos – Este é do os pesquisadores por elas responsáveis.
um elemento opcional, no qual se prestam ho- A citação é um importante elemento no
menagem e agradecimentos às pessoas que con- trabalho acadêmico, podendo ser feita de for-
tribuíram, de alguma forma, para a execução do ma direta ou indireta. Uma citação direta é uma
trabalho. transcrição literal do texto de outro autor, res-
1.b.5. Epígrafe – Folha em que o autor apre- peitando-se fielmente o original. Uma citação in-
senta uma citação, seguida de indicação de auto- direta é uma paráfrase de trecho de outro texto.
ria, relacionada com a matéria tratada no corpo Ambas, no entanto, exigem que se informe a fon-
do trabalho. te de onde a citação foi retirada.
1.b.6. Resumo e palavras-chave na língua Algumas instituições adotam o sistema
vernácula – Este é um elemento obrigatório, numérico, em que a fonte é enunciada em nota
que deve seguir as normas indicadas na uni- de rodapé. O sistema alfabético, no entanto, é
dade referente ao gênero resumo. Em linhas muito mais frequente, em que se apresentam
gerais, não há diferenças significativas em no corpo do texto, entre parênteses, o autor e o
comparação ao resumo e às palavras-chave do ano (e a página, em caso de citação direta). Para
artigo científico. identificar o autor, utiliza-se o último sobrenome
1.b.7. Resumo e palavras-chave em língua em maiúsculas.
estrangeira moderna – O inglês, o espanhol e o
francês são as mais frequentes, mas há periódi- Exemplos:
cos que admitem ou restringem determinadas
línguas. Citação direta
1.b.8. Sumário – Este é um elemento obri- É preciso perceber que “conceituar ‘uni-
gatório, que permite ao leitor conhecer a estru- versidade’ significa indicar atributos de natu-
tura geral do trabalho. Tome o cuidado de uti- reza técnico-científica e de natureza filosófica
lizar com bom senso o recurso de dividir seu para atingir um domínio amplo e mais profundo”
texto em capítulos, seções e subseções. Tal re- (BARROS; LEHFELD, 2007, p.11).
curso deve garantir clareza a seu texto, não frag-
mentação excessiva. Citação indireta
1.b.9. Listas de ilustrações, tabelas, abre- É preciso perceber que o termo “univer-
viações, símbolos ou qualquer outro elemento sidade” pressupõe atributos técnico-científicos
recorrentemente utilizado no texto. e filosóficos que garantem um domínio amplo e
mais profundo (BARROS; LEHFELD, 2007).
2. Elementos textuais do artigo e da mo- Atente para a necessidade de estabelecer
nografia – Quanto aos elementos textuais, ou ao coesão entre a citação e o texto por você escrito.
texto propriamente dito, artigo e monografia são Uma série de citações mal entrelaçadas com a
gêneros bem semelhantes, os quais se dividem monografia ou o artigo pode causar a má impres-
em introdução, desenvolvimento e conclusão. são de uma “colcha de retalhos”. A citação deve
Em todos eles, usa-se a fonte Times New Roman, dar embasamento a sua argumentação, sendo
em tamanho 14, adotando-se espaçamento de essencial que ela se integre de forma harmônica
1,5 cm entre as linhas. ao restante do texto.
Outro ponto fundamental a ser observado
2.1. Introdução – Nessa etapa, como é o tamanho do texto citado, caso você opte pela
já vimos na unidade sobre projeto e relatório forma direta. Se a citação é curta (até 3 linhas),
de pesquisa, devem constar contextualização, é apresentada entre aspas, no corpo do parágra-
situação-problema, justificativa e objetivos da fo que a introduz. Observe, acima, o primeiro
pesquisa. exemplo.
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No entanto, se a citação for longa, deverá dos são: o nome e o sobrenome do autor, o nome
ser apresentada em um parágrafo separado dos do livro/do artigo, o nome do periódico de onde
demais por uma “linha”, em fonte de tamanho foi tirado o artigo, a edição, a editora, a cidade e a
10 e espaçamento simples entre as linhas. Veja o data de publicação. Veja o modelo abaixo:
exemplo a seguir: SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título:
subtítulo. Edição. Local de publicação: Editora,
Exemplo: ano de publicação.
A extensão é uma função importante da uni- O título do livro ou do periódico deve sem-
versidade, pois, por meio dela, pre aparecer em itálico ou negrito. Caso seja neces-
sário apresentar o nome do artigo e depois o do
a universidade vem atender a sua respon- periódico em que ele foi publicado, apenas o nome
sabilidade social, isto é, desde que ultra- do periódico vem em itálico ou negrito. Observe:
passe seus próprios domínios, para pres- SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título
tar serviços voltados para a melhoria da do artigo: subtítulo. Título do periódico. Edição.
população. Nesse sentido, a universida- Local de publicação: Editora, ano de publicação.
de possui uma dívida social para com Essas são apenas regras gerais para a sis-
o povo: deve trabalhar para a melhoria tematização de suas referências bibliográficas.
dos padrões de saúde, educação e cultu- Para informações mais detalhadas, consulte a
ra, tratando de combinar os direitos dos NBR-6023, da ABNT.
indivíduos com os direitos da coletivida-
de (BARROS; LEHFELD, 2007, p. 11). 3.2. Apêndices – Nessa parte do texto,
incluem-se documentos elaborados pelo autor a
Veja que, apesar da semelhança na forma fim de complementar o texto principal.
de apresentar a fonte, a citação direta longa,
além das diferenças já mencionadas, não empre- 3.3. Anexos – Nessa parte do texto, apre-
ga aspas. Além disso, é preciso utilizar um recuo sentam-se documentos não elaborados pelo au-
de 4 cm da margem esquerda. tor, os quais servem de fundamentação e ilustra-
ção para o texto principal.
2.3. Conclusão – Nessa etapa, você deve
traçar as considerações finais de seu trabalho,
revisitando os principais pontos do desenvolvi-
mento. Além disso, é muito importante que você Exercitando
explicite as contribuições e as limitações de seu Antes de avançar para um novo assunto, que
trabalho, bem como possibilidades de desdo- tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-
bramentos futuros, em pesquisas posteriores. dade? Se você encontrar dificuldades para realizar
a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.
3. Elementos pós-textuais
Atividade 3
3.1. Referências bibliográficas – Essa é Você agora vai elaborar um pequeno arti-
uma seção de extrema importância em um tra- go científico, o qual, se bem redigido, pode in-
balho acadêmico. Há inclusive avaliadores que, clusive ser enviado para periódicos da sua área
antes mesmo de lerem os elementos textuais, especializados em textos de graduandos. Para
analisam as referências bibliográficas utilizadas isso, parta do projeto de pesquisa que você ela-
pelo pesquisador, pois estas denotam a capaci- borou na unidade 6, desenvolvendo o que você
dade de seleção de referenciais teóricos relevan- já havia esboçado de forma sucinta no projeto.
tes para uma área do conhecimento.
É preciso que você seja cuidadoso na sis- Respostas às atividades
tematização de suas referências bibliográficas, As atividades desta unidade envolviam
pois a clareza e o método garantem ao leitor a produção de textos acadêmicos, como relató-
possibilidade de encontrar esses textos também, rios e um artigo científico. Peça ao tutor da disci-
caso se interesse por utilizá-los em suas próprias plina que os corrija e, em seguida, escreva uma
pesquisas. Os principais elementos a serem cita- segunda versão a partir dessa correção.
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Unidade 8 todo, mesmo usando gírias, não realizando con-
cordâncias gramaticais... afinal, a norma-padrão
O domínio da norma-padrão (também chamada de norma culta, ou dita culta)
é apenas uma das muitas variedades que há de
Apresentando a unidade nosso idioma.
No entanto, é preciso perceber também
Até aqui, você estudou os principais fenô- que a norma-padrão goza de maior prestígio em
menos da textualidade (coesão, coerência, tipo- nossa sociedade, sendo ela a adotada em docu-
logia textual e gêneros textuais) e os principais mentos, na maior parte dos veículos midiáticos
gêneros da escrita acadêmica (fichamento, resu- e também no meio acadêmico. Sendo este um
mo, resenha, projeto, relatório, artigo e mono- curso que visa a desenvolver as habilidades de
grafia). Agora, vai lapidar o que já sabe sobre a escrita acadêmica, seu foco claramente é o do-
norma-padrão e conhecer regras práticas para mínio da norma-padrão, mas isso não quer dizer
que seu texto obedeça às regras dessa variação que conhecer e dominar as demais variedades
linguística a que se filia a escrita acadêmica. linguísticas do Português não seja importante.
Aliás, como disse Evanildo Bechara, “o falante
Definindo os objetivos deve ser poliglota em sua própria língua”.
Para tentar sistematizar as principais re-
Ao final desta unidade, você deverá ser gras prescritas pela norma culta, dividimo-las,
capaz de: a seguir, nos tópicos pontuação, concordância,
1. comunicar-se, com facili- regência, crase e reforma ortográfica.
dade, segundo as regras da
norma-padrão; Conhecendo as
2. revisar seus próprios tex- principais regras de
tos, no que diz respeito a as- pontuação
pectos de concordância, pontuação, regência e
ortografia. Uma das principais dúvidas na hora da escrita é o
uso da vírgula, pois a ideia de que “ela marca uma
Conhecendo a impor- pausa curta para respirar” representa uma sim-
tância da norma culta plificação excessiva, a qual conduz a erros. Veja,
a seguir, um breve resumo sobre quando usar ou
Você já deve ter percebi- não esse sinal de pontuação.
do que a língua portuguesa não é uniforme,
variando de acordo com o tempo, o espaço e a. Onde não podemos pôr vírgula
aspectos sociais. Um brasileiro e um português Relembremos que o texto é constituído
têm formas diferentes de se expressar. Um avô de parágrafos, que os parágrafos se formam por
e um neto fazem uso de variedades da língua períodos e que os períodos são compostos por
que diferem em alguns pontos. Artistas e cien- orações. Essas são cadeias contínuas, constitu-
tistas usam muitas vezes termos específicos de ídas por segmentos identificáveis e separáveis.
suas áreas de atuação, os quais podem parecer Esses segmentos, por sua vez, mantêm entre si
incompreensíveis a alguém que não pertença graus específicos de coesão.
àquele determinado grupo social. A oração possui dois segmentos essen-
O mesmo vale para a escrita acadêmica, ciais, sujeito e predicado. Sujeito nomeia o item
a qual tem particularidades que você deve do- de que se fala e predicado diz aquilo que se fala
minar para se comunicar bem com seus pares. sobre o sujeito. Logo, não cabe separação entre
Depois de ter lido tantos textos acadêmicos ao os dois segmentos, em hipótese alguma, mesmo
longo deste curso, você pode notar similarida- que o sujeito seja longo e, na leitura, sejamos le-
des entre eles, como, por exemplo, a obediên- vados a fazer uma pausa após enunciá-lo.
cia praticamente unânime à norma-padrão. É
importante notar, no entanto, que essa não é a Exemplo:
única forma de se comunicar em Língua Portu- O representante da turma de formandos do
guesa: fazemo-nos entender no dia a dia o tempo turno vespertino produziu um discurso excelente.
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Você pode ser tentado a pôr vírgula após nhos no final do verão passado.
“vespertino”, mas deve evitar isso, a todo custo, Como, na frase original, o adjunto adver-
visto que “o representante da turma de forman- bial “no final do verão passado” estava desloca-
dos do turno vespertino” é o sujeito da frase. do, foi isolado por vírgula.
Também no interior do predicado, há uma b.2. Enumeração de elementos – toda lis-
conexão muito forte entre o verbo e seus comple- ta deve ter seus elemento separados por vírgula.
mentos. Logo, nesse caso, não faz sentido separá- No entanto, se algum desses elementos já possui
-los por uma vírgula. No exemplo acima, é impos- uma vírgula, utiliza-se ponto e vírgula para orga-
sível ocorrer uma vírgula após “produziu”. nizar a enumeração.
b. Onde devemos pôr vírgula Exemplos:
Comprei bananas, cenouras e laranjas.
b.1. Elementos intercalados/deslocados Comprei bananas, que têm potássio; cenou-
– ainda pensando na forte relação entre sujeito ras, que possuem vitamina A; e laranjas, que são
e verbo e entre verbo e complemento, é preciso ricas em vitamina C.
destacar que qualquer elemento que se imponha
entre eles precisa ser marcado por vírgula. Veja: b.3. Explicação de um termo antecedente
– muitas vezes, quando estamos escrevendo
Exemplo: um texto, precisamos esclarecer um termo uti-
A pomba, em vez de cantar, arrulha. lizado. Essas explicações vêm, geralmente, entre
A relação entre o sujeito “a pomba” e o vírgulas, como você pode ver abaixo.
verbo “arrulha” foi interrompida por um termo
intercalado, o qual deve sempre ser marcado Exemplo:
entre vírgulas. Caso você ache difícil perceber Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes,
se um elemento está intercalado, um expedien- é um herói emblemático.
te interessante é passar a oração para a ordem Na frase acima, “o Tiradentes” desem-
direta. Caso, na frase original, haja algum termo penha função sintática de aposto, explicando
deslocado, cabe separá-lo por vírgula (a menos o antecedente “Joaquim José da Silva Xavier”.
que se trate de um sujeito). Recebe, portanto, vírgula. Além disso, veja que
termos explicativos alteram a ordem direta. No
Exemplo: caso analisado, por exemplo, o aposto está en-
A pomba, em vez de cantar, arrulha. tre o sujeito e o verbo, mas a ordem direta não
Essa frase, passada para a ordem direta, prevê a inserção de nenhum termo entre essas
ficaria assim: estruturas. Isso confirma a necessidade da vírgu-
A pomba arrulha em vez de cantar. la para isolar o aposto. Observe agora o próximo
Como houve o deslocamento de um termo exemplo.
na frase original, esse deve ser isolado por vírgulas.
Exemplo:
OBSERVAÇÃO: A ordem direta em Joaquim José da Silva Xavier, que ficou
português é: SUJEITO + VERBO + conhecido historicamente como Tiradentes, é um
COMPLEMENTOS VERBAIS + ADJUNTOS herói emblemático.
ADVERBIAIS Na frase acima, a oração “que ficou conhe-
cido historicamente como Tiradentes” explica o
Para ficar ainda mais claro, veja outro termo antecedente, sendo chamada de oração
exemplo de vírgula para marcar o deslocamento adjetiva explicativa, segundo a Gramática tradi-
de um termo: cional. Por explicar algo que já havia sido mencio-
nado e ser semelhante a um aposto, essa oração
Exemplo: também deve sempre vir isolada por vírgulas.
No final do verão passado, poucas andori- Note ainda que expressões corretivas ou
nhas reencontraram seus ninhos. explicativas, tais como “isto é”, “ou melhor”, “ou
Na ordem direta, essa frase se apresenta- seja”, “por exemplo” etc., devem ser separadas
ria da seguinte forma: por vírgulas, porque também retificam/explicam
Poucas andorinhas reencontraram seus ni- uma informação que já foi mencionada.
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anos 60 quando estava a 394 metros abaixo do Para que essa explicação se torne mais cla-
nível do mar. Segundo o Banco Mundial as águas ra, observe o exemplo abaixo.
estão hoje a 420 metros abaixo do nível do mar.
Se esse ritmo for mantido o lago desaparecerá Exemplo:
em 50 anos e prejudicará o setor do turismo. Segundo a assessoria, o problema do atraso
[...] foi resolvido em pouco mais de uma hora, e quem
faria conexão para outros Estados foram alojados
Conhecendo as em hotéis de Campinas.
principais regras de Novamente, o comprimento da frase acar-
concordância retou uma falha de concordância verbal. Erro-
neamente, o autor empregou a forma verbal
Em português, há dois grandes fenômenos de con- “foram”, possivelmente influenciado pela proxi-
cordância: a verbal, que se dá entre o verbo e o midade com o substantivo “Estados”. Contudo,
sujeito, relacionada à flexão de número e pessoa; o núcleo do sujeito é “quem”, o que exigiria a
e a nominal, que se dá entre o substantivo e os flexão “foi”.
seus modificadores nominais (adjetivos, prono- Outra frequente causa de erros de con-
mes, artigos e numerais), relacionada à flexão de cordância se deve também ao desrespeito a
gênero e número. sua regra geral. Enquanto, nas frases anterio-
O princípio geral que a norma culta esta- res, a dificuldade se devia ao comprimento do
belece para a concordância é bastante simples: período, analisamos agora os possíveis proble-
verbos devem concordar com o sujeito e os mo- mas acarretados pelo uso da ordem inversa.
dificadores nominais devem concordar com o Veja:
substantivo que acompanham.
Exemplos: Exemplos:
O meu primeiro carro vermelho quebrou. Segue anexo as duas consultas.
Os meus primeiros carros vermelhos que- Sumiu todos os meus discos.
braram. Desapareceu completamente os sinais de
Embora tal regra seja bastante simples e trânsito.
de conhecimento geral, sua aplicação torna-se As frases acima envolvem construções na
um pouco mais complexa em frases de maior ordem verbo-sujeito, em que desrespeitamos
comprimento, pois os termos que concordam a relação com o sujeito, pois tendemos a inter-
entre si podem estar afastados por elementos pretar o que vem depois do verbo como objeto.
intercalados. No texto acadêmico, tal situação é Tal desatenção conduz a erros, em que se deixa
muito frequente, pois a complexidade das ideias de concordar o verbo com seu sujeito. Para que
a serem expostas por vezes exige frases compos- as frases acima ficassem corretas, seria preciso
tas por mais de uma oração subordinada. Veja: reescrevê-las assim:
Exemplo: Exemplos:
As relações dos ecologistas com uma gran- Seguem anexas as duas consultas.
de empresa que desrespeitava as normas de pre- Sumiram todos os meus discos.
servação ambiental começa a melhorar, para o Desapareceram completamente os sinais de
benefício da humanidade. trânsito.
Em uma frase maior, como a apresentada É também preciso perceber que, além
acima, é mais frequente o desvio de concordân- dessas regras gerais, há uma série de casos es-
cia, pois sua extensão dificulta a identificação peciais no tema concordância, em que se torna
das relações sintáticas no período. No exemplo difícil identificar quais termos devem concordar
acima, o autor da frase confundiu-se ao empre- entre si em uma frase. A seguir, apresentamos
gar o verbo “começa” no singular, provavel- os casos mais frequentes que geram dúvidas
mente achando que seu sujeito é “preservação nos alunos. Porém, esta lista não se pretende
ambiental”. No entanto, o núcleo do sujeito é exaustiva. Caso você queira mais informações,
“relações”, o que exigiria que o verbo estivesse procure uma gramática ou fale com seu profes-
na forma “começam”. sor/tutor.
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g) “Anexo” – essa é uma palavra de uso mui- i) Acrescentou-se à pesquisa dois fatores
to frequente, principalmente no corpo de e-mails. primordiais para a compreensão dos fenôme-
Tome o cuidado de flexioná-la, concordando com nos envolvidos. No entanto, precisa-se ainda de
o substantivo que designa o que está anexo. mais evidências para chegar a resultados con-
clusivos.
Exemplos:
Segue anexo o arquivo. Conhecendo as principais regras
Segue anexa a foto. de regência
Seguem anexos os arquivos.
Seguem anexas as fotos. O uso de uma língua cria construções relativamen-
te fixas, que merecem menção. Um exemplo muito
comum dessas “cristalizações” é a relação que ver-
Exercitando bos e nomes estabelecem com a preposição. Veja
Antes de avançar para um novo assunto, que que o verbo “gostar” é sempre acompanhado da
tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni- preposição “de”, enquanto o verbo “acreditar” exi-
dade? Se você encontrar dificuldades para realizar ge a preposição “em”.
a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado. Provavelmente, você não pensa sobre isso
Atividade 2 quando está falando ou escrevendo, pois essa é
Identifique entre as frases abaixo aquelas que pos- uma associação automática feita pelos usuários
suem desvios de concordância quanto ao que pres- do idioma. O problema é que a norma-padrão
creve a norma-padrão. Reescreva esses períodos exige certas associações entre verbos/nomes e
de acordo com a norma culta. preposições que não usamos no dia a dia.
a) O projeto de integração que vêm reali- Um exemplo claro é o do verbo “ir”. A
zando as frágeis democracias uruguaia, argenti- maioria dos falantes diz “Vou no dentista”, em-
na e brasileira é um esforço inegavelmente signi- bora a norma-padrão exija que o verbo “ir” seja
ficativo para o Cone Sul. acompanhado pela preposição “a”, como em
b) Haviam registros de um sistema de exa- “Vou ao dentista”. Na escrita acadêmica, você
mes competitivos elaborados por comunidades deve seguir as determinações da norma culta,
indígenas para selecionar os caçadores mais pois essa é a variante linguística que tem mais
preparados. prestígio na vida universitária.
c) Ignorância, preconceito e tradição man- Assim, listamos abaixo alguns verbos com
têm vivas uma série de ideias que dificultam a os quais você deve tomar cuidado, pois a norma
implementação de programas direcionados a culta prescreve para eles preposições diferentes
crianças superdotadas. das que usamos com maior frequência. Lembre-
d) São extremamente importantes, para -se de que esta não é uma lista exaustiva. Caso
se criar um ambiente favorável ao trabalho em você precise de mais informações, busque-as em
grupo, a criação de espaços de convivência e so- uma gramática, em sites confiáveis ou junto a
cialização dentro das empresas. seu professor ou tutor.
e) Até 2015, 50% dos recursos energéticos
e de matéria-prima serão economizados por uma 1. Aspirar
empresa que pretende investir 160 milhões de a) no sentido de “cheirar”, não exige pre-
dólares num projeto. posição.
f) Os Estados Unidos liderou durante dé- Exemplo:
cadas o bloco ocidental, em rivalidade à extinta Aspiro um delicioso perfume.
União Soviética. b) no sentido de “almejar”, exige a prepo-
g) É preciso ver que as águas contamina- sição “A”.
das, o ar carregado de poluentes e as florestas Exemplo:
devastadas pode acarretar o superaquecimento Aspiro a uma promoção de emprego.
do planeta.
h) Ovos e leite bovinos tiveram aumento 2. Assistir
considerável de preço nos últimos três meses a) no sentido de “ajudar”, não exige pre-
em decorrência da crise econômica mundial. posição.
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Exemplo: Exemplos:
Madre Teresa de Calcutá assistia os pobres. As crianças obedecem aos regulamentos.
b) no sentido de “ver”, exige a preposição O aluno desobedeceu ao professor.
“A”.
Exemplo: 7. Preferir – exige dois complementos:
Não assistimos ao show. um sem preposição e o outro com a preposição
c) no sentido de “pertencer”, exige a pre- “A”. Observe que a norma-padrão condena o uso
posição “A”. de expressões de reforço, como “mais”, “muito
Exemplo: mais” etc., junto com esse verbo.
Esse direito não assiste a você. Exemplo:
d) no sentido de “morar”, exige a preposi- Prefiro estudar a sair à noite.
ção “EM”.
Exemplo: 8. Proceder
Assisto em Cuiabá. a) no sentido de “ter fundamento”, não
exige preposição.
3. Chegar/Ir – Ambos exigem a preposição Exemplo:
“A” e não a preposição “EM”. Suas queixas não procedem.
Exemplo: b) no sentido de “originar-se”, exige a pre-
A pesquisa chegou a resultados relevantes. posição “DE”.
Exemplo:
4. Implicar Esses queijos procedem da França.
a) no sentido de “causar”, não exige pre- c) no sentido de “executar”, exige a prepo-
posição. sição “A”.
Exemplo: Exemplo:
Esta decisão implicará sérias consequências. Os pesquisadores procederam a uma aná-
b) no sentido de “envolver”, possui dois lise criteriosa.
complementos: um direto e um indireto com a
preposição “EM”. 9. Visar
Exemplo: no sentido de “mirar”, não exige preposição.
Implicou o negociante em esquemas corruptos. Exemplo:
c) no sentido de “antipatizar”, exige a pre- Disparou o tiro visando o alvo.
posição “COM”. b) no sentido de “almejar”, exige a prepo-
Exemplo: sição “A”.
Minha mãe implica com minha desorgani- Exemplo:
zação. Viso a uma situação melhor.
A seguir, acrescentamos duas observa-
5. Informar ções importantes acerca do fenômeno da re-
Esse verbo, como a maioria dos demais, não ad- gência, baseadas em dúvidas que a maioria das
mite dois objetos indiretos. Assim, você deve op- pessoas tem na hora de escrever. Essas obser-
tar por um dos modelos abaixo. vações dizem respeito a quase todos os casos
Exemplos: de regência, não se restringindo a determinado
Informei o resultado a você. verbo ou nome.
Informei você do resultado.
Veja que o uso de preposição entre am- Regência entre orações
bos os complementos verbais gera uma frase
incorreta, como em “Informei a você do re- Em períodos compostos, mantém-se o fe-
sultado”. Essa regra vale para outros verbos, nômeno da regência, observando-se que alguns
como “comunicar”, “avisar”, “certificar” e “no- conectivos atraem as preposições.
tificar”.
Exemplos:
6. Obedecer/desobedecer – exigem a pre- A pesquisa a que nos referimos foi iniciada
posição “A”. em abril.
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Os dados de que dependemos serão coleta- em “LO”. Caso o verbo termine em “M” ou “ÕE”,
dos em uma segunda etapa. permanece inalterado, mas o pronome transfor-
Há esperanças de que a situação melhore. ma-se em “NO”.
Note que, na primeira frase, o verbo “re-
ferir-se” exige a preposição “A”, a qual é atraída
pelo conectivo “QUE”. Na segunda e na terceira
frases, o verbo “depender” e o substantivo “es- Exercitando
perança” exigem a preposição “DE”, também Antes de avançar para um novo assunto,
atraída pelo conectivo “QUE”. A supressão de que tal pôr em prática o que você acabou de ver
qualquer uma dessas preposições seria um des- na unidade? Se você encontrar dificuldades para
vio do que rege a norma-padrão, devendo ser realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
evitada em textos acadêmicos. estudado.
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e) A QUE x À QUE ou A QUAL x À QUAL h) A meta a qual visamos parece cada vez
– essa regra está intimamente ligada ao que es- mais inatingível.
tudamos anteriormente na seção de regência, i) Dia a dia a tecnologia favorece o acesso a
pois combina as preposições ao uso de conecti- informação de todo o mundo.
vos entre orações. Para verificar quando usar o j) Chegar a esta cidade não é gratificante
acento grave nesses casos, utilize o expediente como chegar a Ouro Preto ou a Brasília de JK.
da troca pelo masculino. Lembre-se de que, ao k) Chegaremos cedo a Paraíba, mas não
empregar esse mecanismo, só receberá acento podemos deixar de ir a Belém.
grave a frase cuja versão no masculino apresen-
te a combinação “AO”. Veja: Conhecendo as novas
regras de ortografia
Exemplos:
A promoção a que aspiro surgirá em breve. A partir de janeiro de 2009,
= O cargo a que aspiro surgirá em breve. entrou em vigor a nova ortografia da Língua
Margaridas, as quais têm pétalas brancas, Portuguesa. Trata-se de uma série de mudanças
alegram-me. = Jasmins, os quais têm pétalas introduzidas pelo Acordo Ortográfico da Língua
brancas, alegram-me. Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de de-
Não entregue o pacote à moça de verde, zembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola,
mas à que está de preto. = Não entregue o pacote São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
ao moço de verde, mas ao que está de preto. Moçambique e, posteriormente, por Timor Les-
A promoção à qual aspiro surgirá em bre- te. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto
ve. = O cargo ao qual aspiro surgirá em breve. Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995. Observe
Como as demais regras estudadas nesta que não foram eliminadas todas as diferenças
unidade, essa lista não se pretende conclusiva, ortográficas entre os países lusófonos, mas es-
discriminando apenas os casos mais frequentes tas se reduziram bastante.
de dúvidas no que diz respeito ao uso do acento Vale ressaltar também que as mudan-
grave. Caso você queira mais informações, con- ças são apenas ortográficas, ou seja, na forma
tinue sua busca em gramáticas, sites da Internet, como se escrevem algumas palavras. Não se
ou junto a seu professor ou tutor. trata, como se ouve falar equivocadamente,
de uma “nova gramática”, ou um “novo por-
tuguês”. Além disso, as transformações valem
estritamente para a grafia, não havendo qual-
Exercitando quer mudança na forma como se pronunciam
Antes de avançar para um novo assunto, que as palavras.
tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni- A seguir, enumeramos as principais mu-
dade? Se você encontrar dificuldades para realizar danças trazidas pelo acordo.
a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado. 1. As letras K, W e Y foram reintroduzidas
no alfabeto, embora nunca tivessem desapareci-
Atividade 4 do dos nossos dicionários.
Observe as frases abaixo. Algumas delas 2. Não se usa mais o trema para indicar
deveriam ter recebido acento grave, mas outras que o “U” é pronunciado nas sequências QUE,
não. Identifique quais precisam ser acentuadas. QUI, GUE, GUI.
a) Aspiro a uma vida tranquila no campo.
b) Desconheço a lei a que te referes. Exemplos: cinquenta, aquífero, aguentar,
c) Estudo a noite, então saio as pressas linguiça.
para chegar logo a casa. Observação: Em palavras estrangeiras e
d) A escola fica próxima aquele restaurante, suas derivadas, como “Müller” e “mülleriano”,
a uns 200 metros de distância. respectivamente, o trema permanece.
e) A partir de agosto, começo a fazer dieta. 3. Os ditongos abertos ÉI e ÓI só con-
f) Como você chegou a essas conclusões? tinuam acentuados nas oxítonas. Nas paroxíto-
g) Assistimos hoje a violência crescente nas, os acentos que marcavam esses encontros
nas metrópoles. vocálicos foram abolidos.
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Mundial, o custo estimado do canal está entre i) Acrescentaram-se à pesquisa dois fato-
US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões. res primordiais para a compreensão dos fenôme-
Mira Edelstein, que trabalha em Tel-Aviv nos envolvidos. No entanto, precisa-se ainda de
para a organização Amigos da Terra no Oriente mais evidências para chegar a resultados con-
Médio, corrobora a opinião de Zaslavsky. “Israel clusivos.
quer passar a imagem de que coopera com Jor-
dânia e a Autoridade Palestina em um projeto Atividade 3 – Seguem abaixo as frases de-
de paz”, disse. Segundo a ativista, o objetivo da vidamente corrigidas.
Autoridade Palestina que controla a Cisjordânia a) O delegado procedeu ao interrogatório
também é político. “Como os palestinos estão dos suspeitos.
em um território ocupado, querem assegurar pe- b) A chegada a uma conclusão foi crucial
rante a comunidade internacional seu direito ao para que ficássemos aliviados.
Mar Morto”, afirmou. c) Esta pesquisa visa a um esclarecimento
Com 200 quilômetros de extensão, o canal de questões socioeconômicas.
ligaria o Mar Vermelho e o norte da Jordânia e en- d) Aspiramos a soluções para este pro-
viaria 950 bilhões de litros de água por ano ao Mar blema.
Morto, cujo encolhimento anual de 80 centímetros e) Maiores estudos podem implicar resul-
ameaça o equilíbrio ambiental e o futuro abasteci- tados mais confiáveis.
mento local. “Israel, Jordânia e Autoridade Pales- f) Prefere-se a pesquisa quantitativa à qua-
tina estão perdendo (,) por ano (,) 375 bilhões de litativa.
litros de água de seus aquíferos para compensar g) Informei-lhe que não há mais proble-
o recuo do Mar Morto”, afirmou Salameh. mas./ Informei-o de que não há mais problemas.
Localizado no ponto mais baixo da Terra, h) Avisei-o de que já está tudo bem./ Avi-
o nível do Mar Morto diminuiu 26 metros desde sei-lhe que já está tudo bem.
os anos 60, quando estava a 394 metros abaixo i) O apoio de que necessitávamos chegou
do nível do mar. Segundo o Banco Mundial, as antes do esperado.
águas estão (,) hoje (,) a 420 metros abaixo do j) Temos medo de que esse problema não
nível do mar. Se esse ritmo for mantido, o lago tenha solução.
desaparecerá em 50 anos e prejudicará o setor k) O acontecimento em que tínhamos fé
do turismo. não se realizou.
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PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASIL