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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO

PROCESSO: 0000279-22.2010.5.14.0001
CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO (00279.2010.001.14.00-1)
ÓRGÃO JULGADOR: 2ª TURMA
ORIGEM: 1ª VARA DO TRABALHO DE PORTO VELHO - RO
1º RECORRENTE: MIÉCIO DE NEGREIROS BONILHA JUNIOR
ADVOGADOS: ROSECLEIDE MARTINS NOÉ E OUTRO
2ª RECORRENTE: TAM LINHAS AÉREAS S/A
ADVOGADOS: BIANCA BASSÔA REINSTEIN E OUTROS
1ª RECORRIDA: TAM LINHAS AÉREAS S/A
ADVOGADOS: BIANCA BASSÔA REINSTEIN E OUTROS
2º RECORRIDO: MIÉCIO DE NEGREIROS BONILHA JUNIOR
ADVOGADOS: ROSECLEIDE MARTINS NOÉ E OUTRO
RELATOR: DESEMBARGADOR CARLOS AUGUSTO
GOMES LÔBO
REVISORA: JUÍZA CONVOCADA ARLENE REGINA DO
COUTO RAMOS

I – RECURSO OBREIRO. HORAS EXTRAS. BANCO DE


HORAS. INSTITUIÇÃO MEDIANTE INSTRUMENTO
COLETIVO NEGOCIADO. VALIDADE. É válido o banco de
horas instituído mediante instrumento coletivo negociado,
mormente quando são observados os critérios estabelecidos
pelo art. 7º, inciso XIII, da Constituição da República, bem
assim pelo art. 59, §2º, da Consolidação das Leis do Trabalho.
Na hipótese dos autos, não comprovou o obreiro que prestava
horas extras não computadas no banco de horas, tampouco
que a prática dessa modalidade de compensação de horas
causava-lhe prejuízos, a constituir abuso de direito do
empregador, na forma do art. 187. Recurso a que se nega
provimento, nesse ponto.
INTERVALO INTRAJORNADA. NÃO CONCESSÃO.
PAGAMENTO COM ACRÉSCIMO DO ADICIONAL PREVISTO
PARA AS HORAS EXTRAS. Sendo habitual a prática de horas
extras, ultrapassada a jornada de 6 (seis) horas estabelecida,
faz jus o obreiro ao descanso intervalar de 1 (uma) hora por
dia, consoante estabelece o art. 71, “caput”, da CLT. Destarte,
sendo inobservado pelo empregador o intervalo intrajornada,
nos períodos de alta temporada, quando, comprovadamente,
havia a prática de trabalho em sobrejornada, faz jus o
empregado ao pagamento de 1 (uma) hora extra por dia, com
acréscimo do adicional previsto em norma coletiva da
categoria, eis que mais benéfica ao empregado. Ressalta-se
que o banco de horas não se presta a compensar o intervalo
intrajornada suprimido. Recurso obreiro parcialmente provido.
INTERVALO PARA DESCANSO PREVISTO NO ART. 384 DA
CLT. MULHER EMPREGADA. DESTINÁRIA EXCLUSIVA. O
art. 384 da CLT, consoante reiteradas decisões do C. TST, foi
plenamente recepcionado pela Constituição, sendo, pois,
devido à mulher empregada antes de iniciar a prestação de
serviços em sobrejornada. O tratamento aparentemente
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desigual conferido pela dispositivo em destaque não fere o art.


5º, inciso I, da Constituição da República, visto que a intenção
da norma foi justamente reduzir a desigualdade existente entre
os trabalhadores do sexo masculino e feminino, conferindo
tratamento mais consentâneo com as necessidades físicas e
biológicas da mulher. Desse modo, o tratamento diferenciado
conferido à mulher trabalhadora pelo artigo em comento busca,
justamente, conferir efetividade ao Princípio da Isonomia que,
como se sabe, confere tratamento igual àqueles em igual
situação e tratamento desigual aos desiguais, na exata medida
de suas desigualdades.
DESCANSO INTERSEMANAL. NÃO OBSERVÂNCIA DO
PERÍODO MÁXIMO DE SETE DIAS. ÔNUS DA PROVA. Por
se tratar de fato constitutivo de um direito seu, é do empregado
o ônus de provar que o descanso intersemanal não foi
concedido no período máximo de sete dias, a teor dos artigos
818 da CLT e 333, inciso I, do CPC. Não provando o contrário,
não há como afastar a veracidade das anotações contidas nos
cartões de ponto carreados pelo empregador.
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. TEMPO
EXTREMAMENTE REDUZIDO DE EXPOSIÇÃO AO RISCO.
APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 364, ITEM I, PARTE FINAL.
Sendo extremamente reduzido o período de exposição ao
risco, não faz jus o empregado ao adicional de periculosidade.
No caso dos autos, o contato com explosivos e inflamáveis,
além de esporádico era extremamente reduzido, cerca de
apenas 02 (dois) minutos, como atestou a prova pericial,
motivo pelo qual improcede o pagamento de adicional de
periculosidade.
II – RECURSO PATRONAL. DESCONTOS INDEVIDOS DE
SEGURO DE VIDA E VALE-REFEIÇÃO. MULTA
CONVENCIONAL. Prevendo a Convenção Coletiva de
Trabalho a concessão de seguro de vida e vale-refeição sem
qualquer contrapartida do empregado, restam indevidos os
descontos efetuados pelo empregador sob tais rótulos,
cabendo, pois, restituição ao empregado dos valores
descontados. Tais descontos ensejam, inclusive, o pagamento
de multa convencional em favor do reclamante, por
descumprimento de cláusula normativa, conforme previsão
contida em instrumento coletivo negociado.

1 RELATÓRIO

Trata-se de recursos ordinários interpostos pelo reclamante/primeiro


recorrente, às fls. 346/360, e pela reclamada/segunda recorrente, às fls.
361/366, em face da sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara do Trabalho de
Porto Velho, às fls. 336/343, a qual julgou parcialmente procedentes os pleitos
formulados pelo reclamante, condenando a reclamada a proceder a restituição
dos descontos efetuados nos salários do reclamante a título de seguro de vida
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e vale-refeição, bem como a pagar multa convencional pelo descumprimento


de cláusula normativa.

Insurge-se o reclamante quanto à improcedência dos pleitos de horas


extras, intervalo intrajornada, intervalo do art. 384 da CLT, descanso
intersemanal e adicional de periculosidade.

Por sua vez, sustenta a reclamada serem indevidas as condenações


impostas a título de seguro de vida, restituição de vale-refeição, bem como a
multa convencional, reiterando as alegações insertas em sua peça de
resistência.

Contrarrazões pela TAM, às fls. 374/394, pela manutenção da r.


sentença, sem prejuízo do recurso interposto.

Contrarrazões pelo reclamante, às fls. 398/403, pela manutenção da r.


sentença.

Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, na


forma regimental (art. 89).

2 FUNDAMENTOS

2.1 Admissibilidade

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço de ambos os


recursos ordinários.

2.2 Mérito

2.2.1 Do recurso obreiro

2.2.1.1 Das horas extras e intervalo intrajornada

Sustentou o reclamante, na inicial, que laborou para a reclamada de 1º/


03/2007 a 06/11/2010, sendo contratado para exercer a função de despachante
de bagagens, mas que, na realidade, desempenhou diversas funções na
empresa.

Alegou, ainda, que laborou em sobrejornada, com compensação, que


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se dava através de banco de horas, de forma abusiva e absurda, pois não


proporcionava a programação de seu lazer no dia de folga e que a
imprevisibilidade do tempo de jornada e do número de horas a compensar
gerava-lhe insegurança, nociva à saúde mental, física e social, sendo inegável
nessa medida, que o banco de horas instituído configura abuso de direito, na
forma do art. 187 do Código Civil, além de ser inconstitucional. Aduziu,
também, a existência de horas extras prestadas e não registradas,
especialmente nos meses de alta temporada, e que nesse período lhe eram
concedidas 4 folgas compensatórias no mês e que não lhe era concedido
intervalo intrajornada. Por diversas vezes não lhe foi assegurado o descanso
semanal, segundo alega o reclamante. Por cumular a função de agente de
reserva, fazia jus ao intervalo previsto para esse tipo de trabalho, conforme
cláusula 17º da CCT.

Requereu o pagamento de horas extras, do intervalo intrajornada, do


intervalo previsto em norma coletiva aos agentes de reserva, bem como do
intervalo previsto no art. 384 da CLT, de aplicação analógica, salientando,
quanto a este ponto do pedido, a igualdade de tratamento conferida pela
Constituição Federal a homens e mulheres.

Em recurso, reitera os pedidos acima elencados, utilizando-se,


basicamente, dos mesmos argumentos.

Em sua peça de resistência, alega a reclamada que as horas extras


eram devidamente compensadas, na forma de banco de horas instituído com
base no art. 59, §2º da CLT e art. 7º, inciso XIII da CR, não sendo tal prática
abusiva, posto que os empregados sabem antecipadamente o dia da
compensação. Impugna o pleito de concessão do intervalo do art. 384 da CLT,
pois aplicável apenas às trabalhadoras, sem malferir o princípio da isonomia, já
que a intenção do legislador trabalhista foi diminuir as desigualdades
existentes. Questiona, ainda, o pleito de pagamento de intervalo intrajornada
de 1 (uma) hora, ao argumento de que a jornada de trabalho era de apenas
(seis) horas, sendo o descanso intervalar legal de 15 (quinze) minutos
devidamente concedido, e que eventual prorrogação da jornada não enseja a
concessão de intervalo superior, uma vez que as horas excedentes à sexta
diária já são remuneradas como extras. Quanto ao descanso semanal, aduz
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que, quando o empregado laborou aos domingos, houve a devida


contraprestação ou a compensação, salientando que, consoante legislação
pertinente, o descanso semanal deve ser concedido preferencialmente aos
domingos e não obrigatoriamente nesses dias. Acrescenta, ainda, que o
reclamante não laborou na função de agente de reservas, razão pela qual é
indevido o intervalo de 10 (dez) minutos por atividade repetitiva, destinada aos
exercentes desse tipo de atividade.

Pois bem.

O tópico em destaque, por constituir matéria fática, exige uma análise


criteriosa das provas constantes dos autos.

De plano, rejeito a alegação do reclamante/recorrente de que o juízo de


primeiro grau deveria ter aplicado a mesma sistemática inserta na Súmula n.
338, item III, do C. TST, que versa sobre a inversão do ônus da prova, caso
não sejam juntados os cartões de ponto pela empresa que conte com mais de
10 empregados, eis que, no caso dos autos, houve a juntada dos controles de
frequência, não havendo que se falar, ainda, que o registro era realizado em
descompasso com a legislação em vigor. Ademais, ao alegar a irregularidade
no registro da jornada, cabia ao reclamante provar tal alegação, o que não
vislumbro no presente caso. Acrescento, ainda, que não há nada nos autos,
sequer uma única evidência, de que o relógio de ponto tenha sido devassado
e/ou alteradas as marcações.

Pois bem.

Observo que os controles de frequência carreados aos autos, às fls.


154/205, revelam que a jornada de trabalho do reclamante sempre foi de 6h de
trabalho, sendo certo que em alguns meses havia a prestação se serviços em
sobrejornada. Constato, outrossim, que havia o registro de horas extras a
compensar, inclusive a 100%, bem como da efetiva compensação de jornada.
De igual forma, à vista das fichas financeiras juntadas pela reclamada (fls.
141/153), depreendo que o reclamante recebia a remuneração pelas horas
extras prestadas.

Como bem acentuado pelo juízo de primeiro grau, o reclamante não


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declinou com precisão quais os meses em que houve prestação de serviços


em sobrejornada sem a devida contraprestação, bem como, a quantidade de
horas extras prestadas e não registradas corretamente no banco de horas,
tampouco há elementos nos autos que permitam ao juízo chegar a qualquer
conclusão nesse sentido. Ademais, a impugnação genérica do reclamante e
destituída de qualquer elemento probatório é incapaz de desconstituir a prova
produzida pelo reclamado com a juntada dos cartões de ponto e as fichas
financeiras, no sentido de que as horas extras trabalhadas foram remuneradas
e/ou compensadas.

Contudo, passo a analisar o depoimento das partes e a prova


testemunhal colhida nos autos.

Em depoimento pessoal, relatou o reclamante:

que foi contratado pela reclamada em março/2007, para


exercer a função de despachante de voo que exerceu até o
final do contrato, em 06/1/2010, data em que foi dispensado;
que de março/2007 até outubro/2008 trabalhou das 23h às 5h,
com intervalo de 15 minutos; que de junho a meados de agosto
e de 16 de novembro até após o carnaval (período de alta
estação), não havia intervalo de 15 minutos; que no período da
alta estação normalmente trabalhava até às 9h; que além de
despachante de voo acumulava as funções de agente de
vendas na loja do aeroporto, agente de aeroporto que
trabalhava no “chek in” e agente de bagagens (extravio e
danificação de bagagens); que após outubro/2008 trabalhava
das 9h às 15h, com intervalo de 15 minutos para refeição; que
no período da alta estação não tinha o intervalo de 15 minutos
e trabalhava até às 17h/18h; que havia compensação de
jornada da seguinte forma: a cada 40 horas extras ou 60 horas
extras, recebia um ou dois dias de folga, mas que sempre
havia prejuízo em razão da jornada limitada de 6 horas; que
nem sempre essa jornada era registrada no cartão de ponto;
quem fazia o registro no controle de ponto era a supervisora da
reclamada; que o depoente somente no final do mês assinava
o cartão de ponto; que não havia pagamento de horas extras.
(“ipsis litteris”, fls. 331) (grifei)

Por sua vez, informou a preposta da empresa reclamada:

que tanto o supervisor da reclamada quanto o gestor de


recursos humanos tem a senha de acesso ao controle de ponto
dos empregados; que não tem registro do intervalo intrajornada
de 15 minutos, mas apenas do início e do fim da jornada de 6
horas; há um travamento automático antes e após o registro de
saída, só podendo ser liberado o controle pelo supervisor ou
gestor; que atualmente a reclamada, no interior do aeroporto,
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os empregados da reclamada tem as seguintes funções:


agente de aeroporto, despachante de voo e agente de
bagagens; que nos períodos de alta estação, julho a dezembro,
a empresa não concede férias a seus empregados; quando
necessário os empregados fazem jornada extraordinária; que o
reclamante era agente de aeroporto, o que incluía todas as
atividades da empresa dentro do aeroporto. (“ipsis litteris”, fls.
331/332) (grifos acrescidos)

A primeira testemunha, Sr. Fredson Ferreira Martins, ouvida como


informante do juízo, por ser amigo íntimo do reclamante, declarou:

que o informante e o reclamante começaram a trabalhar em 1º/


3/2007; que o reclamante exercia a função de despachante,
bem como as funções de agente de aeroporto, agente de
bagagem; que o reclamante e o informante trabalhavam na loja
da TAM no aeroporto, inclusive vendendo passagens; que
também exerciam as funções de agente de rampa ajudando a
retirada de bagagens; que só trabalhou com o reclamante no
ano de 2009; que o reclamante e o depoente trabalhavam das
9h às 15h/16h quando fechavam a loja; que às vezes não
tinham o intervalo de 15 minutos para refeição; que de
novembro a fevereiro e de 15 de junho a 10 de agosto,
períodos de alta estação, trabalhavam até às 17h/18h; quando
trabalhavam até mais tarde, em razão de atrasos de voos, o
reclamante e o depoente batiam o ponto e voltavam a
trabalhar; que na venda de passagens aéreas, operavam o
serviço por computador. (“ipsis litteris”, fls. 332) (sem grifos no
original)

A segunda testemunha do reclamante, Sra. Luzia de Souza Oliveira,


indagada, respondeu que:

trabalhou de 2007 até fevereiro/2010 para a reclamada; que a


depoente trabalhava na loja da reclamada, enquanto o
reclamante trabalhava no “chek in”, setores diferentes; que o
reclamante trabalhava normalmente das 9h às 15h, com
intervalo de 15 minutos; que na alta temporada ficavam até às
17h/18h e também não tinham o intervalo de 15 minutos; que a
alta temporada se dá de 15 de novembro até meados de
fevereiro e de 15 de junho até o início de agosto; que o
reclamante exercia a função de despachante de voo; que
geralmente o reclamante fazia outras atividades, até por
determinação da reclamada que pretendia ter empregados
multi funcionais; que o reclamante fazia atendimento na loja,
reserva de voo e emissão de passagens aéreas e trabalhava
no setor de liberação de bagagens; que havia compensação de
jornada da seguinte forma: os empregados acumulavam horas
de trabalho e a empresa concedia um ou dois dias de folga e
se sobrassem horas os empregados podiam compensar
chegando mais tarde ao trabalho; que assinavam os controles
de ponto somente no final do mês. (“ipsis litteris”, fls. 332)
(grifei)
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A primeira testemunha da reclamada, Sra. Lizandra Figueiredo Alves,


que também foi ouvida na qualidade de informante do juízo, disse em
depoimento:

que a função do reclamante era de despachante, mas também


atendia voo, atendia os passageiros no desembarque e se
necessário também no embarque; que caso necessário, abria
processo de bagagens (falta ou danificação de bagagens); que
o reclamante não efetuava vendas de passagens aéreas; que o
reclamante trabalhava das 9h às 15h, com 15 minutos de
intervalo par almoço, mas sempre de 30 a 40 minutos de
refeição, após o voo; que em casos de cancelamento e atraso
de voos, havia necessidade de horas extras, inclusive com o
reclamante, o que era compensado posteriormente; que o
reclamante trabalhava no “chek in”; que a reclamada exige que
seus empregados sejam multi funcionais sabendo fazer todos
os serviços do aeroporto; que o período de alta temporada na
reclamada são junho e julho e dezembro e janeiro, devido o
alto movimento de passageiros; que mesmo no período de alta
temporada os empregados só faziam horas extras em caso de
cancelamento ou atraso de voos; que a depoente exerce a
função de agente de aeroporto desde 15/5/2007, quando foi
admitida; que a depoente trabalha das 9h às 15h; que no início
do contrato de trabalho da informante o reclamante trabalhava
à noite. (“ipsis litteris”, fls. 333) (sem grifos no original)

Pois bem.

Dos depoimentos pessoais do reclamante e preposta da reclamada,


bem como das declarações das testemunhas e informantes judiciais, embora
haja algumas incoerências, é possível extrair algumas premissas. A primeira de
que, de fato, no período de alta temporada, todos os empregados da
reclamada, inclusive o reclamante, laboravam em sobrejornada. Extraio, ainda,
pelo cotejo da prova testemunhal, que o período de alta temporada
compreendia o ínterim de meado de novembro a meado de fevereiro, e de
meado de junho até o início do mês de agosto, o que perfaz um período anual
de 3 (três) meses e meio. A segunda premissa que se revela a partir da prova
testemunhal, aliada aos depoimentos das partes, é no que tange à jornada de
trabalho do reclamante nos períodos de alta estação. Com efeito, a jornada do
reclamante, nesse período, ao que depreendo, iniciava-se às 9h, encerrando-
se às 17h/18h, sem intervalo intrajornada, o que perfaz um total de 3 (três)
horas extras por dia, já que a jornada pactuada era de 6 (seis) horas, como
informou a própria preposta da empresa. Às horas extras soma-se, ainda, o
tempo destinado ao intervalo intrajornada, porquanto restou evidenciado que o
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reclamante não usufruía tal descanso no período de alta estação. Destarte,


tendo em vista que a jornada de trabalho do reclamante, no período de alta
estação, ultrapassava 6 (seis) horas, deveria ter lhe sido destinado um intervalo
intrajornada de no mínimo 1 (uma) hora por dia de trabalho.

Resta, pois, incontroversa a prestação de labor em sobrejornada nos


períodos de alta temporada, bem como o número de horas extras prestadas.
Contudo, como confessado pelo próprio reclamante em depoimento pessoal,
quando acumulava um número expressivo de horas extras, de 40 (quarenta) a
60 (sessenta), a empresa concedia-lhe compensação de 1 (um) ou 2 (dois)
dias. Tal afirmação é corroborada, inclusive, pela declaração de sua
testemunha.

Diante disso, cumpre verificar se tal compensação era feita nos moldes
exigidos pela legislação trabalhista, bem como pelo Texto Constitucional.

Pois bem.

Sobre a compensação de jornada, dispõe o art. 7º, inciso XIII, da


Constituição Federal, “verbis”:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além


de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(“omissis”)

XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas


diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva de trabalho;

Já a Consolidação das Leis do Trabalho, no §2º do art. 59 da CLT,


vaticina que a compensação das horas extraordinárias devem ser
compensadas no período máximo de 1 (um) ano.

No caso dos autos, como afirmado pelo reclamante, a compensação se


dava sempre que o obreiro acumulava 40 (quarenta) ou 60 (sessenta) horas
extras, portanto, tudo leva a crer que a compensação se dava dentro do lapso
temporal exigido pela legislação trabalhista.

Há certa controvérsia na doutrina e na jurisprudência, contudo, quanto


ao título legitimador da compensação de jornada.
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Para parte da doutrina e jurisprudência, a compensação de jornada


somente seria possível mediante previsão em instrumento coletivo negociado,
sendo imprestável para tal fim o acordo individual entabulado entre o próprio
empregado e a empresa.

Tal corrente de interpretação assenta-se na tese de que o “caput” do


art. 7º da Constituição trata de condições mais favoráveis aos trabalhadores e
o atual regime de compensação, como previsto no art. 59, §2º, da CLT, com
redação dada pela Lei 9.601, que introduziu o denominado "banco de horas", é
prejudicial aos mesmos, uma vez que permite seja ajustada a compensação
em período de um ano (redação dada pela Medida Provisória 2.164-41/2001) e
não mais dentro da mesma semana (redação original do art. 59, §2º, da CLT)
ou do mesmo mês (interpretação jurisprudencial ampliativa do art. 59, §2º, da
CLT em sua redação original) ou mesmo do período de 120 dias, como
determinado pela Medida Provisória 1.709, de 1998.

Por outro lado, no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho predomina


o entendimento de ser suficiente para legitimar a compensação de jornada o
acordo individual. Nesse sentido, é a redação da Súmula n. 85, item I, daquela
Corte, “in verbis”:

SÚMULA 85 – COMPENSAÇÃO DE JORNADA. (Incorporadas


as Orientações Jurisprudenciais ns. 182, 220 e 223 da SDI-I –
Res. 129/2005 – DJ 20.4.2005)

I – A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada


por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção
coletiva.

Coaduno do entendimento do C. TST, expresso no verbete sumular


acima transcrito, mesmo porque, a meu ver, a compensação de jornada
constitui medida favorável ao empregado, na medida em que amplia seus dias
de disponibilidade familiar e social, através do ajuste na distribuição das horas
trabalhadas, sem elevação da quantidade de horas laboradas durante a
semana. Em razão disso, não seria crível que a Constituição, pretendendo criar
ordem jurídica mais favorável aos empregados, como disposto no “caput” do
art. 7º, restringisse a pactuação de fórmula mais benéfica aos mesmos.

Fora dos domínios dessa discussão, o certo é que há Convenção


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Coletiva de Trabalho celebrada entre as categorias profissional e econômica


representativas das partes prevendo a possibilidade de compensação de
jornada, o que, a teor do disposto no art. 7º, inciso XIII, da Constituição
Federal, autoriza a utilização desse instrumento.

Com efeito, as cláusulas 10.3, 10.4, 10.6, 10.7, 10.8 e 10.9 da


Convenção Coletiva de Trabalho 2007/2009 (fls. 207/219) e 2008/2010 (fls.
220/232) autorizam a compensação de jornada, ao disporem:

10.3. Para efeito de compensação de horas extras, as horas


extras trabalhadas em dias úteis serão consideradas com
100% de adicional e as trabalhadas em domingos e feriados
serão consideradas com 150% (cento e cinqüenta por cento);

10.4. O dia da compensação será fixado de comum acordo;

10.6. O aumento de horas de trabalho acima da jornada


normal, até o máximo de 02 (duas) horas, poderá ser
determinado pelas Empresas desde que compensem
equitativamente o acréscimo com redução de horas ou dias de
trabalho. O referido aumento, desde que compensado, não
obrigará o acréscimo de salário ou pagamento de adicional;

10.7. A compensação das horas extraordinárias se fará até o


último dia do mês subsequente àquele em que tenha ocorrido a
prorrogação da jornada de trabalho. Caso não sejam
compensadas, deverão ser pagas no mês imediatamente
posterior ao mês estipulado para compensação;

10.8. A compensação das horas extraordinárias poderá ser


efetuada em período superior ao estabelecido no item 10.7.,
mediante acordo entre a empresa interessada e o Sindicato
Nacional dos Aeroviários;

10.9. Na forma do artigo 59 da CLT fica dispensado acordo


individual para prorrogação ou compensação de horário, face o
acordado coletivamente. (fls. 209/210 e 222/223)

Destarte, havendo autorização para instituição de banco de horas no


âmbito da empresa reclamada e não tendo o reclamante provado a
irregularidade por ele apontada na forma de compensação da jornada, há que
se ter por legítima a compensação levada a efeito, razão por que improcede o
pleito de horas extras.

Por outro lado, a conclusão acerca da validade do banco de horas, e,


consequentemente, da compensação das horas extras prestadas, não significa
dizer que o intervalo intrajornada não concedido também era objeto de
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compensação. Quanto ao intervalo intrajornada, não se deve aplicar o mesmo


entendimento.

Com efeito, a compensação das horas laboradas em sobrejornada, por


intermédio de banco de horas, não aproveita os intervalos intrajornadas não
concedidos, haja vista que o descanso intervalar é destinado ao repouso e
alimentação do empregado, sendo certo que sua supressão ou concessão a
menor implica o pagamento integral do referido período, acrescido do adicional
previsto para as horas extras, consoante entendimento sedimentado do C.
TST, através da Orientação Jurisprudencial n. 307 da SBDI-I.

Colho, nesse sentido, jurisprudência recente do C. TST:

RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO. BANCÁRIO.


HORAS EXTRAS. CONTRATAÇÃO DE TRABALHO
SUPLEMENTAR APÓS A ADMISSÃO. O acórdão regional
dissente do entendimento vertido na parte final do item I da
Súmula 199/TST, segundo o qual não se configura a hipótese
de pré-contratação se a pactuação de serviço suplementar
ocorre posteriormente à admissão. Recurso de revista
conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA DA
RECLAMANTE. INTERVALO INTRAJORNADA. CONCESSÃO
PARCIAL. JORNADA SUPERIOR A SEIS HORAS. Decisão
regional em dissonância com as Orientações Jurisprudenciais
307 e 380 da SDI-I/TST, no sentido de que, -após a edição da
Lei nº 8.923/94, a não-concessão total ou parcial do intervalo
intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, implica o
pagamento total do período correspondente, com acréscimo
de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora
normal de trabalho (art. 71 da CLT)- e -ultrapassada
habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o
gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando
o empregador a remunerar o período para descanso e
alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo
adicional, na forma prevista no art. 71, -caput- e § 4, da CLT- .
Revista conhecida e provida, no tema. (...) (Processo: RR –
1266600-44.2002.5.09.0652; data de julgamento: 23/06/2010;
Relatora Ministra: Rosa Maria Weber; 3ª Turma; data de
divulgação: DEJT 20/08/2010) (não há grifos no original)

Desse modo, considerando que no período de alta temporada a


jornada de trabalho do obreiro ultrapassava as 6 (seis) horas, consoante prova
testemunhal, deveria o empregador ter-lhe concedido 1 (uma) hora por dia a
título de intervalo intrajornada. Como assim não procedeu o empregador, faz
jus o obreiro ao pagamento de 1 (uma) hora por dia efetivamente trabalhado,
com acréscimo do adicional de 60% (sessenta) por cento, previsto em norma
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coletiva (cláusula 10.1), e reflexos sobre férias + 1/3, 13º salário, aviso prévio e
repouso semanal remunerado, haja vista que, no período de alta estação, a
prestação de horas extras era habitual.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso obreiro, apenas para


deferir-lhe 1 (uma) hora extra por dia efetivamente trabalhado, com adicional de
60% (sessenta por cento), a título de intervalo intrajornada não concedido, com
reflexos sobre férias + 1/3, 13º salário, aviso prévio e repouso semanal
remunerado.

2.2.1.2 Do intervalo previsto no art. 384 da CLT e do descanso


intersemanal

Não subsiste o pleito obreiro de concessão do intervalo previsto no art.


384 da CLT, posto que, ao contrário do que alega, o tratamento aparentemente
desigual conferido pelo prefalado dispositivo não fere o art. 5º, inciso I, da
Constituição da República, visto que a intenção da norma é justamente reduzir
a desigualdade existente entre os trabalhadores do sexo masculino e feminino,
conferindo tratamento mais consentâneo com as necessidades físicas e
biológicas da mulher. Desse modo, o tratamento diferenciado conferido à
mulher trabalhadora pelo artigo em comente busca, justamente, conferir
efetividade ao Princípio da Isonomia que, como se sabe, confere tratamento
igual àqueles em igual situação e tratamento desigual aos desiguais, na
medida de suas desigualdades.

Corrobora esse entendimento as seguintes decisões do TST:

(…) 4. HORAS EXTRAORDINÁRIAS. INTERVALO


INTRAJORNADA. ARTIGO 384 DA CLT. DIREITO DO
TRABALHO DA MULHER. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
IGUALDADE PREVISTO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
INEXISTÊNCIA. Por disciplina judiciária, curvo-me ao
entendimento do Tribunal Pleno desta Corte que,
reconhecendo a constitucionalidade do artigo 384 da CLT de
que trata do intervalo de 15 minutos garantido às mulheres
trabalhadoras antes da prestação de horas extraordinárias,
considerou que a concessão de condições especiais à mulher
não fere o princípio da igualdade entre homens e mulheres
contido no artigo 5º, I, da Constituição Federal. Assim, não
sendo concedido á reclamante o referido intervalo, são devidas
horas extraordinárias a ele pertinentes. Precedentes desta
Corte. Recurso de revista conhecido e não provido. (Processo:
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RR – 174400-02.2005.5.04.0383; data de julgamento:


18/08/2010; Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo
Bastos; 2ª Turma; data de divulgação: DEJT 03/09/2010);

(…) INTERVALO DO ART. 384 DA CLT. DESCUMPRIMENTO.


RECONHECIMENTO DE MERA INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
QUE O PAGAMENTO DO PERÍODO SEJA EFETUADO
COMO HORAS EXTRAS. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART.
71, § 4.º, DA CLT. PROVIMENTO. O art. 384 da CLT afirma
ser obrigatória a concessão à mulher de intervalo de quinze
minutos, no mínimo, antes do início do período extraordinário
do trabalho, o que se estabelece por se tratar de medida de
higiene, saúde e segurança do trabalho. Outrossim, tendo esta
Corte entendido que o referido artigo foi recepcionado pela
nova Ordem Constitucional, tem reiteradamente determinado
que se confira ao intervalo em apreço o mesmo tratamento que
se dá aos casos em que houve desrespeito ao intervalo
intrajornada previsto no art. 71, da CLT, deferindo-se o
pagamento das horas correspondentes com o acréscimo de
50%. Entende-se, assim, que a decisão recorrida, ao adotar o
entendimento de que o descumprimento da previsão do art.
384 da CLT constitui mera infração administrativa, terminou por
violar o referido dispositivo legal, devendo ser provido o Apelo
para que seja determinado o pagamento das horas
correspondentes, com adicional de 50%, e reflexos de direito,
mediante aplicação analógica do disposto no art. 71, § 4.º, da
CLT. Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido.
(Processo: RR – 54800-14.2006.5.04.0007; data de
julgamento: 18/08/2010; Relatora Ministra: Maria de Assis
Calsing; 4ª Turma; data de divulgação: DEJT 27/08/2010);

TRABALHO DA MULHER. PRORROGAÇÃO DA JORNADA.


INTERVALO DO ARTIGO 384 DA CLT. O Pleno desta Corte
Superior, em sessão realizada no dia 17/11/2008, rejeitou
incidente de inconstitucionalidade do artigo 384 da CLT,
concluindo por sua atual vigência e aplicabilidade. Nesse
sentido, dúvidas não restam de que deve ser garantido às
empregadas o pagamento relativo aos períodos de intervalo
não concedidos pela empresa, em desconformidade com o
referido dispositivo. Recurso de Revista conhecido e provido.
(Processo: RR – 495200-04.2008.5.09.0069; data de
julgamento: 10/08/2010; Relator Ministro: Flavio Portinho
Sirangelo; 7ª Turma; data de divulgação: DEJT 20/08/2010).

Em sendo assim, improcede o pleito de concessão do pagamento do


intervalo previsto no art. 384 da CLT.

Da mesma forma, improcede o pleito de pagamento em dobro do


período destinado ao descanso intersemanal, porquanto não provou o
reclamante a inobservância de tal período de repouso a cada sete dias, ao
contrário do que aduz. Assim, por ser seu o ônus da prova, a teor dos artigos
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818 da CLT e 333, inciso I, do CPC, cabia ao reclamante provar que o repouso
semanal não era concedido pelo menos 1 (uma) vez por semana, encargo do
qual não se desvencilhou. Ademais, os cartões de ponto e fichas financeiras
juntados pela reclamada dão conta de que nos dias em que o labor foi prestado
em domingos houve compensação ou pagamento de horas extras a 100%,
sendo as alegações do reclamante, por destituídas de prova, insuficientes para
desconstituir a prova documental produzida pela reclamada.

Portanto, improcede, também, o pleito de descanso intersemanal.

2.2.1.3 Do adicional de periculosidade

Alegou o reclamante, na inicial, que no decorrer do contrato de trabalho


ficava exposto, de forma permanente e intermitente, à materiais inflamáveis e
explosivos, na medida em que permanecia em área de risco, no período em
que as aeronaves estavam em solo para desembarque, abastecimento,
descarregamento e embarque, e que jamais recebeu adicional de
periculosidade.

Por sua vez, em contestação, sustentou a reclamada que o obreiro


jamais ficou exposto a qualquer material inflamável ou explosivo, haja vista que
não laborava em área de risco, assim considerada pela NR 16, porquanto seu
labor sempre se deu no interior do aeroporto, sendo, por esse motivo, indevido
o pretendido adicional.

O laudo pericial concluiu que o reclamante faz jus ao adicional de


periculosidade, posto que quando auxiliava no descarregamento das
bagagens, ficava exposto a agentes explosivos e inflamáveis (combustíveis),
laborando em área considerada de risco.

Valendo-se de sua autonomia e da livre apreciação das provas para


formação de seu convencimento, bem como da não vinculação ao laudo
pericial, como preceitua o art. 436 do CPC, o juízo julgou improcedente o pleito,
amparado, inclusive, pela Súmula n. 364, item I, do TST.

Acertada a decisão de primeiro grau.

Com efeito, a orientação do C. TST, representada pela Súmula n. 364,


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item I, é no sentido de que o adicional de periculosidade é indevido quando a


exposição ao risco seja por período extremamente reduzido.

Eis o teor do referido verbete sumular:

SÚMULA 364 – ADICIONAL DE PERICULOSIDADE –


EXPOSIÇÃO EVENTUAL, PERMANENTE E INTERMITENTE.
(Conversão das Orientações Jurisprudenciais ns. 5, 258 e 280
da SDI-1 – Res. 129/05 – DJ 20.4.05)

I – Faz jus ao adicional de periculosidade o empregado exposto


permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a
condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se
de forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que,
sendo habitual, dá-se por tempo extremamente reduzido. (ex-
OJs n. 05 – Inserida em 14.3.1994 e n. 280 – DJ 11.8.03)

No caso concreto, em que pese a conclusão pericial ser no sentido de


que o reclamante laborava em área de risco, o “expert” esclareceu que o
reclamante não executava atividades durante o abastecimento de aeronaves
de forma habitual na área de risco.

Ademais, ainda de acordo o laudo pericial, o tempo de exposição do


reclamante em área de risco era de apenas 2 (dois) minutos, pois apenas
eventualmente ali comparecia, somente quando tinha necessidade de levar
alguma bagagem especial que era colocada no cofre, sendo certo que essa
não era a regra, mas sim a exceção, pois normalmente não auxiliava na carga
e descarga de bagagens.

É bem verdade que esse magistrado, em diversas oportunidades, tem


reconhecido o direito dos aeroviários, que laboram em área de risco, assim
considerada as imediações do local onde a aeronave é abastecida, ao
adicional de periculosidade, com base no art. 193 c/c NR 16 e anexos da
Portaria n. 3.214, de 08/06/1978, do MTE. Contudo, “in casu”, não há como
afastar o entendimento constante da parte final do item I da Súmula 364 do
TST.

Ora, se o reclamante apenas eventualmente laborava em área de risco,


quando era deslocado para levar alguma bagagem especial a ser colocada no
cofre, e se sua permanência no local durava apenas 2 (dois) minutos, como
concluiu a perícia (fls. 282), é certo que o período em área de risco era
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extremamente reduzido, sendo inafastável o entendimento do TST nesse caso.

Destarte, improcede o pleito de adicional de periculosidade, razão por


que mantenho a r. sentença nesse ponto.

2.2.2 Do recurso patronal

2.2.2.1 Dos descontos a título

Inconforma-se a reclamada com as condenações a título de restituição


dos descontos de seguro de vida e vale-refeição, bem como pagamento de
multa convencional por descumprimento de cláusula normativa.

Sustenta que a ausência de insurgência do reclamante, durante todo o


curso do contrato de trabalho, evidencia a autorização tácita quanto aos
descontos. Acrescenta, ainda, que os descontos deram-se de forma lícita.

Especificamente quanto aos descontos a título de vale-refeição, aduz


que, ao contrário do entendimento esposado pelo juízo de origem, não há na
CCT dos aeroviários qualquer proibição quanto à participação do empregado
no custeio da alimentação. Ademais, alega a reclamada, a empresa reclamada
é cadastrada junto ao PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), o que
autoriza a participação do empregado no custeio da alimentação.

Por tais razões, além de entender serem indevidas as restituições,


sustenta ser indevida a multa convencional, por não ter havido o
descumprimento de cláusulas normativas.

Sem razão a reclamada.

Como é sabido, ao empregador é vedado efetuar quaisquer descontos


nos salários do empregado, a não ser que decorra de adiantamentos ou sejam
autorizados por dispositivos legais ou Convenção Coletiva de Trabalho,
consoante preceitua o art. 462, “caput”, da CLT.

“In casu”, é incontroverso que o empregador, a partir de dezembro de


2008, a reclamada passou a descontar do salário do reclamante as quantias
mensais de R$9,14 (nove reais e quatorze centavos) e R$39,00 (trinta e nove
reais) a título de seguro de vida e vale-refeição, respectivamente.
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As cláusulas n. 05 e 07 da CCT 2008/2010, em vigência quando da


rescisão do contrato de trabalho do reclamante, preveem o pagamento de vale-
refeição e seguro de vida aos empregados abrangidos pelo referido
instrumento coletivo negociado, nos seguintes termos:

05 – VALE REFEIÇÃO

As empresas fornecerão, a partir de 01 de dezembro de 2008,


vale refeição no valor de R$9,96 (nove reais e noventa e seis
centavos), para os aeroviários com jornada de trabalho de 06
(seis) horas, e de R$13,58 (treze reais e cinquenta e oito
centavos), para os aeroviários com jornada de trabalho de 08
(oito) horas, exceto quando a empresa fornecer refeição
através de serviços próprios ou de terceiros, ressalvadas as
condições mais favoráveis.

07 – SEGURO

As empresas pagarão a partir de 01 de dezembro de 2008, um


seguro de vida em benefício de seus empregados aeroviários,
sem ônus para os mesmos, cobrindo morte e invalidez
permanente, total ou parcial, no valor de R$8.640,00 (oito mil
seiscentos e quarenta reais). (fls. 221)

Já a cláusula n. 08, institui multa pelo descumprimento de qualquer


outra cláusula prevista no instrumento coletivo negociado que prejudique os
empregados:

08 – MULTA POR DESCUMPRIMENTO DO ACORDO

Por descumprimento de qualquer cláusula desta Convenção,


em prejuízo de algum aeroviário determinado, a empresa
infratora pagará, a partir de 01 de dezembro de 2008, multa no
valor de R$73,45 (setenta e três reais e quarenta e cinco
centavos), em favor do aeroviário prejudicado. (fls. 222)

Quanto ao seguro de vida, resta patente a proibição de qualquer


desconto nos salários dos empregados a esse título, haja vista que a cláusula
normativa foi imperativa ao instituído sem qualquer ônus para os empregados.
Portanto, inquestionável que os descontos efetuados nos salários do
reclamante a partir de dezembro de 2008 sob o rótulo de seguro de vida são
indevidos, devendo, por essa razão, serem restituídos.

Não obstante isso, não há prova nos autos de que o reclamante tenha
celebrado outro seguro de vida que não aquele instituído pela empresa,
tampouco que tenha autorizado o desconto em seus salários, mesmo porque a
reclamada não juntou nenhum documento nesse sentido.
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Outra não pode ser a conclusão acerca dos descontos de vale-


refeição. Com efeito, a interpretação que faço em relação à cláusula quinta da
CCT 2008/2010 é no sentido de que o vale-refeição foi instituído sem qualquer
contrapartida dos empregados, passando a integrar a remuneração destes,
mormente por inexistir no texto da referida cláusula autorização para desconto
do respectivo valor. Diante disso, restam devidas as restituições dos valores
descontados a título de vale-refeição.

Por ter a reclamada procedido aos descontos de valores a título de


seguro de vida e vale-refeição, não há dúvida de que infringiu as cláusulas
quinta e sétima da CCT 2008/2010, porquanto tais normativos preveem a
instituição daqueles benefícios sem qualquer contrapartida dos empregados.
Destarte, é devida a multa no valor de R$73,45 (setenta e três reais e quarenta
e cinco centavos), conforme cláusula oitava da CCT 2008/2010.

Recurso patronal improvido em todos os seus pontos.

2.3 Conclusão

Dessa forma, conheço dos recursos ordinários interpostos; no mérito,


dou parcial provimento ao apelo obreiro, para o fim de deferir-lhe 1 (uma) hora
extra por dia, efetivamente, trabalhado, com adicional de 60% (sessenta por
cento), a título de intervalo intrajornada não concedido, com reflexos sobre
férias + 1/3, 13º salário, aviso prévio e repouso semanal remunerado; e nego
provimento ao recurso patronal.

3 DECISÃO

ACORDAM os Magistrados integrantes da 2ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 14ª Região, à unanimidade, conhecer dos recursos
ordinários; no mérito, dar parcial provimento ao recurso ordinário obreiro e
negar provimento ao apelo patronal, nos termos do voto do Relator. Sessão de
julgamento realizada no dia 27 de outubro de 2010.

CARLOS AUGUSTO GOMES LÔBO


DESEMBARGADOR RELATOR

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