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A RUPTURA NA TRADrCÃü
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481 INGLATERRA, AMÉRICA E FRANÇA, FINAL DO SÉCULO XVIII E COMEÇO DO SÉCULO XIX
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Não foi apenas como pintor que Goya afirmou a sua independência das
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convenções do passado. Tal como Rembrandt, produziu um grande
número de gravuras, a maioria delas numa nova técnica chamada aquatinta,
a qual permite não só traçar as linhas características da água-forte mas
também criar manchas s~mbreadas. O fato mais impressionante nas gravuras
de Goya é não serem ilustrações de qualquer tema conhecido, bíblico,
histórico ou genre. A maioria delas consiste em visões fantásticas de bruxas e
aparições sobrenaturais. Algumas pretendem ser acusações contra os
poderes da estupidez e da reação, da crueldade e da tirania, de que Goya foi
testemunha na Espanha, e outras parecem apenas dar forma aos pesadelos
do artista. A Fig. 320 representa um dos mais assombrosos de seus sonhos
- a figura de um gigante sentado à borda do mundo. Podemos aferir o seu
tamanho colossal pela minúscula paisagem do primeiro plano, e apreciar
como ele reduziu casas e castelos a meros pontos. Podem.os fazer a nossa
imaginação esvoaçar em tomo dessa medonha aparição, a qual é desenhada
com uma clareza de contornos que leva a supor um estudo do natural. O
monstro parece descansar numa paisagem enluarada como um íncubo
maligno. Estaria Goya pensando na triste sina do seu país, na sua opressão
por guerras e pela loucura humana? Ou estaria simplesmente criando uma
imagem como se cria um poema? Pois esse foi o mais notável efeito da
ruptura com a tradição: os artistas sentiam-se agora livres para passar ao
papel suas visões pessoais, algo que até então só os poetas costumavam
fazer.
O mais notável exemplo dessa nova abordagem da arte foi o poeta e
místico inglês William Blake (1757-1827), que era onze anos mais moço
que Goya. Blake, um homem profundamente religioso, vivia num mundo
de sua própria criação. Desprezava a arte oficial das academias e recusava-se
a:aceitar seus padrões. Muitos o consideravam completamente louco;
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