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BREVE REVISÃO – BRIEF REVIEW

POSIÇÃO DO VETORCARDIOGRAMA NO DIAGNÓSTICO


CARDIOLÓGICO NO SÉCULO XXI

Prof. Andrés Ricardo Pérez Riera


Responsável pelo setor de EletroVetorcardiografia da Faculdade de Medicina do ABC
Santo André – São Paulo – Brasil

Endereço para correspondência:


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Conceito: O vetorcardiograma (VCG) não é nada mais que a projeção em um plano (frontal,

horizontal e sagital) das alças (alça P, QRS e T) resultantes de unir os extremos dos chamados

vetores instantâneos manifestos planares conseqüência da somatória algébrica de múltiplos

vetores instantâneos dos potenciais bioelétricos gerados pelo coração durante um ciclo cardíaco.

Conceito de Vetor: trata-se de uma unidade de grandeza com direção ou caminho, sentido ou

orientação e módulo, magnitude ou intensidade usada em eletrovetorcardiografia para

representar um dipolo ora de despolarização ora de repolarização.

Todo vetor possui um inicio e fim denominados respectivamente origem e extremidade. Jamais

deveríamos empregar o termo vulgar “cauda” e “farpa”.

A vetorcardiografia fundamenta-se no conceito do dipolo único como uma aproximação

equivalente originada no coração e que utiliza as chamadas derivações ortogonais corrigidas

as que empregam derivações nos três planos do espaço: frontal, horizontal e sagital.

A denominação de ortogonais obedece a que são perpendiculares entre sim e corrigidas porque

utilizam artifícios técnicos de resistências e múltiplos conexões que corrigem a falta de

homogeneidade do campo elétrico do coração.


Estas derivações assim como os três planos cruzam-se entre sim em um ponto denominado E

formando um ângulo de 900. Por convenção a do plano horizontal designada com a letra X (eixo

das X de esquerda a direita); a vertical com a letra Y dirigida de baixo para cima; e a do plano

sagital com a letra Z dirigida de trás para frente.

A derivação X corresponde aproximadamente à derivação bipolar DI e a precordial V6 e dá

informações sobre a orientação esquerda-direita com a parte positiva em 00 (esquerda) e a

negativa em + - 1800 (direita).

A vertical Y corresponde a unipolar do plano frontal aVF. Esta derivação fornece informações

sobre a orientação inferior-superior sendo a parte positiva inferior (+ 900) e a negativa superior (-

900).

As derivações do plano sagitais Z seguem no sentidas póstero-anterior sendo sua parte positiva

posterior (-900) e a negativa anterior (+ 900 correspondente aproximadamente a derivação V2).

Posição do VCG em relação ao ECG no diagnóstico cardiológico

1) Fornece informação tridimensional da atividade elétrica e demonstra mais claramente do

que o ECG, da orientação e magnitude das forças em cada momento1;

2) Proporciona uma melhor idéia do que o ECG de magnitude e direção das forças;

3) Possui maior sensibilidade do que o ECG na detecção de sobrecargas atriais;

4) Sensibilidade e especificidade superior que o ECG no diagnóstico da SVE2. De 70 casos

autopsiados com SVE o VCG foi capaz de reconhecer 61%. De 100 casos autopsiados

com SVE estudados por Abbott-Smith3 o VCG foi capaz de diagnosticar 50% com

apenas 11,7% de falsos positivos.

5) Pode esclarece os casos duvidosos de área eletricamente inativa septal ou anteroseptal,

que certas SVE de tipo sistólica ocasionam no ECG (SVE com QS em V1, V1 e V2 ou V1,

V2 e V3). Assim, na ausência de área eletricamente inativa, os cometas dos 10 a 20 ms

iniciais da alça QRS inscreveram-se sem retardo4;

6) Maior correlação com o ecocardiograma que o ECG na determinação da massa do VE5;


7) Superior que o ECG e o ecocardiograma para o diagnóstico das sobrecargas de

câmaras associadas a áreas eletricamente inativas6;

8) Sensibilidade diagnóstica superior em relação ao ECG nos infartos associados a

bloqueios divisionais esquerdos. Ex: Área eletricamente inativa inferior associada a

bloqueio divisional ântero-superior esquerda ou póstero-inferior esquerdo. Mesmo assim,

pode resultar difícil o diagnóstico de infarto quando existe BDASE7;

9) Na presença de infarto inferior, o VCG pode brindar informações adicionais que o ECG

pode não mostrar como associação com infarto anterior, SVE e BDASE8. ;

10) Maior sensibilidade do que o ECG para o diagnóstico de infarto inferior9; Estudos mais

recentes, concluem contrariamente que o VCG não melhora a sensibilidade diagnóstica

no infarto diafragmático10. Apesar disto, a questão está longe de estar resolvida uma vez

que trabalhos mais modernos insistem em afirmar a maior sensibilidade diagnóstica do

VCG. Assim, Edenbrandt e col, compararam o desempenho dos critérios de diagnóstico

do ECG e VCG em 65 pacientes que foram vítimas de Infarto do miocárdio inferior, em

quem se realizará estudos hemodinâmicos e cintilografia com Thalium-201,

comparando-se com 351 pessoas normais, a sensibilidade do VCG foi de 69% e a do

ECG de 43%. Esta diferença foi altamente significativa (P menor que 0.001). Entre as

pessoas normais, detectou-se apenas 3 falsos positivos11.

11) Maior sensibilidade para o diagnóstico de múltiplos infartos associados a bloqueios

divisionais esquerdos12;

12) A monitorização vetorcardiográfica contínua durante a angioplastia eletiva é um método

promisor para a detecção imediata de pacientes com risco aumentado de desenvolver

infarto relacionado ao procedimento. A monitorização vetorcardiográfica de 169

pacientes foi iniciada 5 minutos antes do início do procedimento e terminada 30 minutos

depois da primeira insuflação do balão. Empregando critérios de supradesnivelamento

do segmento ST, a sensibilidade do VCG em detectar risco aumentado de IAM

relacionado ao procedimento foi de 93%, a especificidade de 56% e o valor preditivo

negativo de 99%13;
13) Elevada sensibilidade na determinação da severidade na estenose aórtica valvar

congênita. Assim, um vetor máximo no plano horizontal maior que 4mV e um indicador

muito confiável de estenose severa (pressão sistólica intraventricular esquerda >200

mmHg). Voltagem até 2.2mV indica estenose leve (<130 mmHg)14;

14) Em relação às arritmias pode ser superior ao ECG apenas em certas dromótropas:

bloqueios de ramo, divisionais e na pré-excitação ventricular com feixe anômalo em

paralelo. Assim, o VCG é um método de grande utilidade no estudo nas alterações da

repolarização durante a pré-excitação ventricular uma vez que nós permite conhecer

com elevada sensibilidade o local de origem da via acessoria15;

15) Acurácia diagnóstica geral 15% superior do que o ECG16;

16) Recentemente, demostramos que a vetorcardiografia pode ser de inestimável valor na

síndrome de Brugada. (Assim, pode permitir o diagnóstico diferencial naqueles casos

com extremo desvio a esquerda do SÂQRS no plano frontal (9,5% dos casos na

síndrome de Brugada). O método permite diferenciar o distúrbio dromótropo ocorrido no

território na vía de saída do ventriculo direito ou bloqueio divisional superior ou

subpulmonar do ramo direito do BDASE. Também o VCG nos permite verificar a

ausência de BIRD ou BCRD na presença de síndrome de Brugada17;

17) Resulta extremamente promissora a utilização do VCG computadorizado com o

denominado modelo TJ-IV, o qual permite eliminar os problemas de medições das ondas

do QRS, a rlação comprimento e largura da onda T e as áreas espaciais dos vetores.

Este método mostrou elevada acurácia e grande velocidade de procesamento18;

18) De grande valor na análise das modificações ocorridas após a ablação percutânea com

álcool na miocardiopatia hipertrófica forma obstrutiva não responsiva as drogas. O micro

infarto septal resultante ocasiona em todos os casos patentes de BCRD, diferentemente

da miotomia/miectomia19.
Conclusões

Apesar de todas estas vantagens, estudos mais recentes assinalam que o VCG e o ECG de 12

derivações possuem capacidade diagnóstica muito similar quando bem empregada à

eletrocardiografia20. Mesmo admitindo que este conceito seja verdadeiro, acreditamos que com a

finalidade de ensino e pesquisa, a vetorcardiografia deva permanecer no “arsenal” diagnóstico

para compreensão dos fenômenos elétricos acontecidos no mundo tridimensional em que

estamos imersos.

A vetorcardiografia teve um importante impacto no progresso da eletrocardiografia, mais nunca

foi amplamente empregada na prática diária.

Atualmente, muitos poucos centros a empregam no dia-dia.

Esperamos não ser “os últimos dos moicanos”; em honra a ciência a vetorcardiografia não pode

morrer!!!.

Referências

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