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RESUMO
O estudo em questão visa discutir a dança como conteúdo estruturante nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica do Paraná (DCE) a fim de apontar avanços e limites,
bem como potencializar reflexões que contribuam com a prática pedagógica do
professor. Por meio da análise das DCE (desde sua concepção, no ano de 2003, até
seu processo de reformulações), e de outras obras que foquem a dança como
conteúdo de ensino, foi possível identificar carências e potencialidades do documento
oficial para o ensino da referida manifestação cultural. A análise desse documento
poderá subsidiar a SEED com vistas ao aperfeiçoamento da proposta que orienta a
ação docente na escola.
Palavras-chave: Educação Física. Diretrizes Curriculares. Dança. Escola.
ABSTRACT
This study aims to discuss the dance as structuring content in the Basic Education
Curriculum Guidelines of Parana (EDC) to indicate progress and limits, as well as
reinforce ideas that contribute to the teacher's pedagogical practice. Through analysis of
EDC (since its conception in 2003 until its reformulation process), and other works that
focus as the dance content of education, were unable to identify needs and potentials of
the official document for the teaching of that cultural event. The analysis of this
document may subsidize the SEED with a view to improving the proposal that guides
the teaching activities at school.
Key words: Physical Education. Curriculum Guidelines. Dance. School.
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo elaborado como exigência parcial para a conclusão do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
*
Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada na Escola Estadual Almirante Barroso/Rondon-
PR, e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
**
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Professora do Departamento de
Educação Física da UEM. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
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2
O Dia‐a‐dia Educação é um Portal Educacional do Paraná que favorece o uso dos serviços disponíveis na rede
pública. Está atrelado a uma série de iniciativas de capacitação e ao desenvolvimento de metodologias adequadas
à utilização da internet pelos educadores, alunos e escola. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Disponível
em: http://diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso em: 09 ago. 2007.
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4
Documento caracterizado como um texto de trabalho. Destina-se a uma circulação restrita localizada
no âmbito do processo de reforma curricular do Estado do Paraná.
5
Retirado do documento Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental/Educação Física. Disponível
em:
http://diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/institucional/def/pdf/def_construcao_diretrizes_curriculares
.pdf. Acesso em: 09 agos. 2007.
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Muito se discute na escola ″em que disciplina a dança seria ensinada? Arte? Educação Física? Em
uma disciplina dedicada exclusivamente à dança? [...] E... quem estaria habilitado para ensinar dança? O
bacharel em dança? Ou este deveria, necessariamente, ter cursado licenciatura? O licenciado em
Educação Artística? O licenciado em Educação Física? Os artistas? Os pedagogos estariam aptos a
trabalhar essa disciplina nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental?″ MARQUES, Isabel A. Dançando
na escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p.16.
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apontando a produção histórica e cultural dos povos, relativos à ginástica, à dança, aos
desportos, aos jogos, bem como às atividades que correspondam às características
regionais.
A partir de 2003, o Estado do Paraná estabelece uma linha de ação prioritária de
retomada da discussão coletiva do currículo, cuja concepção adotada é a de que
“currículo é uma produção social, construído por pessoas que vivem em determinados
contextos históricos e sociais” (DCE 2005, versão preliminar). Dessa forma, a proposta
de reformulação das diretrizes constou de seis fases já descritas anteriormente.
No início do ano letivo de 2005, chega às escolas públicas do Paraná a versão
preliminar das Diretrizes Curriculares de Educação Básica do Paraná (DCE) para que
professores e equipes pedagógicas pudessem avaliar o que foi consensuado nesse
documento, rever o que precisava ser alterado, complementado, substituído ou
mantido, já que a característica intrínseca de qualquer currículo é a constante
necessidade de atualização.
CONTEÚDOS ESTRUTURANTES
2006 2007 2008
Ensino Fundamental Ensino Médio Educação Básica Educação Básica
Manifestações esportivas Esporte Esporte Esporte
Manifestações ginásticas Ginástica Ginástica Ginástica
Manifestações estético- Dança Dança Dança
corporais na dança e no
teatro
Jogos, brinquedos e Jogos Jogos, brinquedos e Jogos e brincadeiras
brincadeiras brincadeiras
Lutas Lutas Lutas
Quadro 1 - Conteúdos Estruturantes da disciplina de Educação Física, referente ao
período de 2006 a 2008.
As DCE, no que se refere à dança, devem ser uma alternativa para que os
professores que desconhecem as especificidades da dança como área do
conhecimento possam atuar de modo que não comprometam o trabalho artístico-
educativo em sala de aula. Para o Ensino Fundamental, a corporalidade, entendida
como construção histórica e social do corpo, e a cultura escolar, entendida como um
conjunto de práticas e condutas institucionalizadas, formas de vida e cotidiano da
escola, dão base à discussão sobre os conteúdos estruturantes.
Conforme observado no Quadro 2, em 2006, para o Ensino Fundamental, a
dança aparece como manifestação estético-corporal, juntamente com o teatro e os
elementos específicos a ser ensinados nessas duas manifestações. O Quadro 2
apresenta os conteúdos para o ensino fundamental.
Biodança
Danças afro-brasileiras
Danças com variações
Funk
Quadro 4 – Conteúdo estruturante dança para a educação básica referente aos anos de
2007 e 2008.
sendo reduzidas se pensarmos que até mesmo as danças folclóricas, não pautadas,
necessariamente, nesse potencial da criação, são criadoras, à medida que focam uma
organização que tem ensejo individual/coletivo de expressão, em que a subjetividade, o
jeito próprio de cada um, estão presentes neste conjunto de ações.
Ainda em 2008, um novo quadro de conteúdos básicos e específicos é
apresentado por série para a disciplina de Educação Física com o objetivo de auxiliar a
implementação das DCE e a organização da proposta pedagógica da disciplina naquilo
que a constitui como conhecimento especializado e sistematizado. O Quadro 5 auxilia a
pensar sobre estas questões.
sentido, exemplos de como essa comunicação poderia ser feita auxiliaria o docente a
pensar sua prática e a visualizar os elementos articuladores realmente “articulados” e
não separados em “gavetas” isoladas em forma e conteúdo.
Outro ponto observado é que os PCNs em dança trazem mais elementos do que
o apresentado pelas diretrizes, pois nos seus grupos de conteúdos abarcam essa
manifestação em seus diferentes aspectos: como expressão e comunicação humana,
como manifestação coletiva e como produto cultural e apreciação estética.
As várias mudanças ocorridas nas DCE (quatro no total) durante dois anos
(2007 e 2008) dificultaram a investigação do documento. Porém, pode-se considerar
um avanço, pois se reconhece a necessidade de “movimento” próprio desse
documento oficial a partir das colaborações advindas dos professores da educação
básica. Significam um avanço por dar continuidade a um processo que norteia as
ações pedagógicas da Educação Básica do Estado do Paraná, principalmente pelo
exercício coletivo dos professores participantes, expondo suas experiências docentes,
porém, limitadas, já que não contavam com intenso preparo para essas discussões.
Pelo fato de haver carência de um estudo aprofundado da dança não houve
participação concisa e intensa dos professores. Como criar/construir no vazio? Como
propor sem alicerces que garantam uma densa reflexão e sistematização teórica?
Muito ainda precisa ser feito em relação à dança, embora as condições iniciais já
tenham sido postas. A rotatividade de professores envolvidos na construção das DCE
e, talvez, a falta de professores especialistas no trato educacional com a dança,
preocupados em intensificar e qualificar o debate dos professores envolvidos,
preparando-os para pensar criticamente a elaboração de um documento oficial que
realmente oriente o trato com a dança na escola, dificultam a sistematização e o
aprofundamento de tais propostas. Assim, algumas ações político-educacionais devem
ser concretizadas no sentido de evitar esta lacuna e contribuir com uma orientação que
dê condições ao professor de materializar esse conhecimento em sua prática
pedagógica.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
linguagem expressiva própria. Isto se dá pelo fato dela – a dança – estar atrelada ao
pensamento pedagógico brasileiro, dualista e racional, quando, há séculos, tem
valorizado o conhecimento linear, intelectivo e racional em detrimento do conhecimento
sintético, sistêmico, corporal e intuitivo.
Com o propósito de não entender a dança somente como corpo em movimento,
numa visão reducionista de homem e de cultura, pautada meramente nos aspectos
biológicos, utilitários e mercadológicos, nos propusemos a analisar como o conteúdo de
dança é tratado nas DCE, bem como em outras abordagens teórico-metodológicas, a
fim de apontar avanços e limites dessa proposta, e assim, potencializar reflexões que
contribuam com a ação docente.
Para subsidiar a análise do conteúdo estruturante dança nas Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná, servimo-nos de dois questionamentos: a concepção
proposta nas DCE permite ampliar as possibilidades de intervenção na prática
docente? Os conteúdos estruturantes, os básicos, os específicos e os elementos
articuladores destacados nessas diretrizes visam ao aprofundamento e diálogo com as
diferentes manifestações corporais, nesse caso, em específico, a dança?
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, baseadas na pedagogia
histórico-crítica, com pressupostos teóricos do materialismo histórico dialético (que
confere aos seus conteúdos o conceito de cultura corporal), tem como suporte a idéia
de seleção, organização e sistematização do conhecimento acumulado historicamente
acerca do movimento humano para ser transformado em saber escolar. Entretanto, no
que se refere ao conteúdo estruturante dança, não dá conta de levar os professores a
entender a dança em suas especificidades, sejam elas conceituais, históricas ou
técnicas, bem como a visualizar este complexo campo de conhecimento ao fazer
apenas alguns recortes teóricos. Elas dificultam ao professor a visualização de que
para cada dança existe uma técnica corporal diferenciada, construída normativamente
pelos membros de uma coletividade, aceita e (re)significada na relação com o outro.
Ainda, oferecem conceitos vagos (ou ausentes) quanto aos tipos de dança existentes,
bem como possibilidades metodológicas diferenciadas, que vão desde uma forma
tradicional e tecnicista de ensinar dança até formas progressistas que não se
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devem estar claramente postas nas Diretrizes. Esse “pensar a dança” se traduz em
estudá-la a partir de diferentes fontes disponibilizadas, como artigos, livros, teses e
dissertações, documentários, Folhas, Objeto de Aprendizagem Colaborativa, telas,
fotografias, entre outros, realizando uma espécie de “estado da arte”, ou seja, de um
mapeamento teórico que identifique, na contemporaneidade, como se constitui esse
campo do conhecimento a partir dos pesquisadores que investigam essa temática na
escola, das abordagens metodológicas possíveis nesse trato, das ações políticas para
um ensino crítico, dos problemas identificados na prática cotidiana do professor, dos
conhecimentos indispensáveis de ser elegidos e outros possíveis mediante os distintos
contextos.
Diante das condições do sistema de ensino do país, da diversidade de cultura,
seria irrealista pretender vincular a abordagem de cada dança a séries determinadas,
num programa curricular fechado. Porém, a flexibilidade presente nos conteúdos
básicos/específicos, a princípio, procura considerar as diferenciadas condições das
escolas, levando em conta, também, a disponibilidade de recursos humanos. Mas esta
flexibilidade pode, em certa medida, comprometer a função básica da escola e da
própria diretriz, que é garantir o acesso aos bens culturais historicamente produzidos,
sistematizando e transmitindo diferentes saberes a fim de evitar que a cultura
produzida pelo próprio homem o aprisione.
Entre os problemas identificados em relação à dança nas diretrizes como área
do conhecimento da educação física, estão:
7 REFERÊNCIAS