You are on page 1of 6

Microbiologia 1

Aula 7. MICOBACTÉRIAS

As micobactérias são bacilos aeróbios estritos e álcool-ácido resistentes (BAAR).


Não são Gram positivas nem Gram negativas, isto é, são fracamente coradas pelos
corantes utilizados na coloração de Gram. O termo “álcool-resistente” se refere à
capacidade do organismo de reter o corante carbolfucsina, independente do tratamento
subseqüente com uma mistura de etanol e ácido clorídrico. A alta concentração de lipídeos
(aproximadamente 60%) presente na parede celular torna as micobactérias álcool-ácido
resistentes.
O gênero Mycobacterium contém grande número de espécies, microorganismos
saprófitas que não causam tuberculose e microorganismos parasitos, incluindo os dois
principais patógenos humanos, Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium leprae. Várias
evidências sugerem que a preferência de M. tuberculosis pelos pulmões está relacionada
com a tensão de CO2 neste órgão. As células bacterianas são de crescimento lento, imóveis
e não esporuladas. São germes intracelulares facultativos que proliferam no interior dos
macrófagos.
A temperatura ótima de crescimento das micobactérias é variável. As que crescem
melhor em temperatura inferior a 37º C, como Mycobacterium marinum e M. ulcerans,
geralmente causam somente uma infecção cutânea, uma vez que a temperatura da pele é
mais baixa que a das regiões mais profundas do organismo. Presume-se também que a
localização preferencial da lepra nas extremidades do corpo (dedos, nariz, lóbulos da
orelha) esteja relacionada com sua preferência a temperaturas baixas.
No seguinte quadro estão relacionadas as micobactérias de importância médica

Espécies Crescimento em Temperatura Modo de transmissão


meios bacteriológicos preferida in
vivo (o C)
M. tuberculosis Lento (semanas) 37 Gotículas respiratórias
M. bovis Lento (semanas) 37 Leite de animais infectados
M. leprae Nenhum 32 Contato prolongado
M. marinum Lento (semanas) 32 Água
Complexo M. avium- Lento (semanas) 37 Solo e água
intracellulare.
Complexo M. fortuitum- Rápido (dias) 37 Solo e água
chelonei

Mycobacterium tuberculosis.-
Microbiologia 2

Este organismo causa a tuberculose, doença que causa no mundo inteiro mais
mortes que qualquer outro agente microbiano. Aproximadamente um terço da população
mundial está infectado com esta bactéria; a cada ano estima-se que três milhões de
pessoas morram por tuberculose e que ocorram cerca de 8 milhões de casos novos.

Transmissão e epidemiologia:
O microorganismo é geralmente transmitido por gotículas de secreções (tosse)
provenientes de uma pessoa com tuberculose ativa; pode sobreviver nestas gotículas e no
escarro seco por longos períodos (até seis semanas). Quando inalada, a bactéria atinge o
pulmão onde produz pneumonite não específica.
Nos EUA, a tuberculose é quase que exclusivamente uma doença humana. Em
países desenvolvidos, M. bovis também causa tuberculose no homem, esta bactéria é
encontrada no leite de vaca, que, se não for pasteurizado, pode causar tuberculose
gastrintestinal no ser humano. A tuberculose é devida á reativação nos indivíduos idosos,
ou em pessoas malnutridas. O risco de infecção é maior nas populações carentes, com
moradia e nutrição precárias.

Patogênese:
A infecção por M. tuberculosis geralmente se inicia no parênquima dos lobos
pulmonares inferiores, passando em seguida para os nódulos linfáticos da região hilar, de
onde é levada para vários órgãos e tecidos, pela corrente sanguínea. Estes focos são
encontrados principalmente nos órgãos e tecidos onde uma tensão apropriada de O2
favorece a proliferação da bactéria, isto é, ápices pulmonares, rins, extremidades dos ossos
longos, nódulos linfáticos, etc. Embora a bactéria esteja viva nestes focos, ela se encontra
em estado de latência, uma vez que não se multiplica ou o faz de maneira irregular.
M. tuberculosis não produz toxinas e não contém endotoxina na parede celular; esta
bactéria sobrevive dentro de um vacúolo celular chamado fagossoma e consegue escapar à
ação de enzimas degradativas das células do sistema imune.

Casos Clínicos:
São variáveis, muitos órgãos podem estar envolvidos. Febre, fadiga, sudorese noturna e
perda de peso são comuns. A tuberculose pulmonar causa tosse e hemoptise; ocorre
adenite cervical micobacteriana que se apresenta com linfonodos inchados e endurecidos,
geralmente unilaterais. A tuberculose miliar se caracteriza pela presença de lesões
múltiplas disseminadas semelhantes a semente de sorgo. A meningite tuberculosa e a
osteomielite tuberculosa especialmente a vertebral (doença de Pott) são importantes formas
de disseminação.
Microbiologia 3

A maioria das infecções é assintomática, a manifestação da doença depende da


resposta imune mediada por células do hospedeiro. Por exemplo, pacientes HIV-Aids têm
uma taxa muito elevada de reativação ou infecção assintomática prévia e rápida progressão
da doença. Nesses pacientes a doença não tratada tem uma taxa de mortalidade de 50%.
O tempo necessário para a reativação de um foco de infecção latente é bastante
variável, podendo ser meses ou anos. Em muitos indivíduos permanece latente por toda
vida. Existem na literatura diversos estudos sobre a provável influência da idade, sexo,
fatores étnicos e constituição genética. De qualquer modo, os fatores que realmente
predominam no processo de reativação não são bem conhecidos, mas estão ligados a uma
diminuição das defesas do organismo. A doença é geralmente associada com falta de
higiene e condições de moradia em locais aglomerados.

Diagnóstico:
O diagnóstico pode ser feito pelo exame microscópico de esfregaços corados pelo
Ziehl-Neelsen e pela cultura. O material clínico selecionado para exame depende da
localização da doença; em infecções pulmonares, colhe-se o escarro; nas urinárias, a urina.
A cultura é o método de escolha para o diagnóstico das infecções por micobactérias,
porque além de permitir o diagnóstico específico, possibilita o isolamento da bactéria para a
realização de testes de sensibilidade aos antibióticos.
A pesquisa de hipersensibilidade tardia também é um recurso de diagnóstico
bastante útil. Esta pesquisa é feita pelo teste de Mantoux, que consiste na injeção
intradérmica, na face anterior do antebraço, de 0,1 mL de tuberculina ou PPD (purified
protein derivate). Considera-se o teste positivo quando aparece, em 48 horas, no local da
injeção, uma área endurecida de pelo menos 5 mm de diâmetro. O teste de Mantoux
positivo não indica doença, mas apenas hipersensibilidade tarde que pode ser originada de
uma infecção primária (assintomática) ou de uma tuberculose curada. O teste negativo
indica que o indivíduo não deve ter tido contato com o bacilo da tuberculose, ou teve
contato e nunca desenvolveu a doença.

Tratamento:
As drogas mais usadas no tratamento da tuberculose costumam ser divididas em
drogas de primeira e segunda linha. As de primeira linha são as preferidas, por serem mais
ativas e menos tóxicas, e as de segunda linha são menos ativas e mais tóxicas. As drogas
de primeira linha são isoniazida, pirazinamida, estreptomicina e etambutol. São
consideradas de segunda linha o ácido para-amino-salicílico (PAS), etionamida (derivado
de ácido micólico) e os seguintes antibióticos: canamicina, viomicina, capreomicina e
amicacina.

Imunidade:
Microbiologia 4

No Brasil, a vacina usada é a BCG (bacilo de Calmette-Guérin), que é uma mutante


atenuada do Mycobacterium bovis. Embora cause infecção no homem, esta mutante não
provoca doença. A proteção conferida pela vacinação não é total, mas é bastante
satisfatória. Os indivíduos vacinados adquirem hipersensibilidade tardia, passando a reagir
positivamente ao teste de Mantoux.

Mycobacterium leprae
Este microorganismo é também conhecido como bacilo de Hansen, é agente causal
da lepra, uma doença degenerativa capaz de causar deformações nos pacientes. Calcula-
se que existam 12 milhões de leprosos no mundo.
Como as demais micobactérias, o bacilo da lepra é ácido-álcool resistente (BAAR). Ainda
não foi cultivada em laboratório, nem em meio artificial ou em culturas de células. Pode ser
cultivada na sola do pé de camundongos onde prolifera formando granulomas; os tatus
colaboram com a manutenção da bactéria in natura.

Transmissão: a infecção é adquirida pelo contato prolongado com pacientes com lepra
lepromatosa, que dissemina grandes quantidades de M. leprae nas secreções nasais e nas
lesões cutâneas onde pode permanecer latente por vários meses ou décadas. O período
de incubação é de 12 a 14 dias.
Patogenia: O organismo se replica intracelularmente, em geral no interior dos histiócitos
(macrófagos da pele), nas células endoteliais e nas células de Schwann dos nervos.
O M. leprae afeta principalmente a pele e o tecido nervoso; as formas cutâneas de lepra
resultam na produção de numerosos nódulos endurecidos. As formas neurais resultam em
paralisia e anestesia dos nervos periféricos; pacientes com esta forma de lepra são
passíveis de ferimentos nas extremidades com o desenvolvimento de infecção secundária e
danos estéticos graves. Na seguinte tabela está o resumo das características de cada tipo
de lepra.

Característica Lepra tuberculóide Lepra lepromatosa


Tipo de lesão Uma ou poucas lesões com Muitas lesões com marcada
pouca destruição tecidual destruição dos tecidos.
Número de bacilos álcool- Poucos Muitos
ácidos
Probabilidade de trans- Baixa Alta
missão de lepra
Resposta mediada por Presente Reduzida ou ausente
células para M. leprae
Teste cutâneo para Positivo Negativo
lepromina.

Na lepra tuberculóide aparecem lesões cutâneas hipopigmentadas, endurecimento


superficial dos nervos e um efeito anestésico significativo nas lesões da pele. Na lepra
Microbiologia 5

lepromatosa, ocorrem lesões cutâneas nodulares múltiplas, resultando na característica


aparência leonina. Após o início da terapia, os pacientes com lepra lepromatosa
frequentemente desenvolvem o eritema nodoso leproso que é interpretado como um sinal
de que a imunidade mediada por células está sendo restaurada.
A aparência desfigurada da doença se deve a vários fatores: a) a anestesia da pele
resulta em queimaduras e outros traumatismos, que frequentemente se tornam infectados;
b) a reabsorção dos ossos ocasiona a perda da forma do nariz e das pontas dos dedos; 3)
a infiltração da pele e dos nervos ocasiona endurecimento e enrugamento da pele. Na
maioria dos pacientes com uma única lesão cutânea, a doença se resolve
espontaneamente.

Diagnóstico laboratorial:
• Na lepra lepromatosa, os bacilos são facilmente demonstrados pela coloração de Ziehl-
Nielsen de lesões cutâneas ou de secreções nasais. Macrófagos contendo muitos
bacilos álcool-ácido resistentes são vistos na pele. Na forma tuberculóide, poucos
organismos são observados, e a presença de granulomas é suficiente para o
diagnóstico.
• O teste de Mitsuda é realizado inoculando-se na pele do braço do paciente 0,1mL de
lepromina e verificando-se após 30 dias, a reação desenvolvida. A lepromina é uma
suspensão de bacilos da lepra, optidos do leproma (granuloma da lepra) mortos pelo
calor. Quando o teste é positivo, há a formação de um nódulo no local da injeção, com
diâmetro superior a 5 mm, apresentam também uma área de endurecimento, após 24 -
48 horas da injeção. Os indivíduos Mitsuda postivo são mais difíceis de adquirir
infecção, e caso desenvolvam será a forma mais benigna (tuberculóide); os indivíduos
Mitsuda negativos apresentam risco de desenvolver a forma mais grave (lepromatosa).

Tratamento: atualmente as drogas mais usadas no tratamento da lepra são a dapsona,


rifampicina e clofamizina, utilizadas em combinação: ou seja as três drogas para a lepra
lepromatosa e dapsona – rifampicina para a forma tuberculóide. Trata-se os pacientes por 2
anos como mínimo ou até as lesões estarem livres de organismos.
Microbiologia 6

Micoplasmas

Os micoplasmas são um grupo de organismos pequenos sem parede celular, do


qual Mycoplasma pneumoniae é o patógeno principal. São os menores organismos de vida
livre medem apenas 0,3 µm de diâmetro; como não apresentam parede celular, se coram
fracamente pela coloração de Gram. Possuem uma membrana celular que contém
colesterol, sendo a única bactéria com este tipo de membrana. Como não apresentam
parede celular, adotam formas diversas.

Mycoplasma pneumoniae → causa a pneumonia “atípica”. O termo “atípica” significa que


a bactéria causadora não pode ser isolada em meios de cultura de rotina em laboratórios de
análises clínicas ou que a doença não se assemelha à pneumonia pneumocócica. O
estabelecimento deste quadro clínico é gradual, normalmente, iniciando com tosse, dor de
garganta ou dor de ouvido e produção de pequena quantidade de catarro sem sangue.
Sintomas como febre, dor de cabeça, mal-estar e mialgias não são marcantes. A doença se
resolve espontaneamente em 10 a 14 dias.

Diagnóstico laboratorial: normalmente é realizado pelo cultivo de amostras de escarro; o


tempo necessário para o aparecimento das colônias é de, aproximadamente uma semana,
em meios especiais.
Testes sorológicos são a base do diagnóstico; entretanto, apenas metade dos pacientes
com pneumonia causada por Mycoplasma apresentará resultados positivos.

Tratamento: é feito com eritromicina, azitromicina, ou tetraciclina. Essas drogas diminuem


a duração dos sintomas, apesar de a doença se resolver espontaneamente. As penicilinas
são ineficientes, pois o microorganismo carece de parede celular.

You might also like