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Neste trabalho, será apresentada uma introdução à história do pensamento econômico, com a
evolução sumária da Economia através dos tempos, com o objetivo de mostrar que o dia-a-dia das
pessoas não está dissociado do aspecto econômico. Tanto a segurança física, a manutenção da vida,
como a alimentação e outras necessidades básicas constituem a preocupação fundamental dos seres
vivos. Desde que acorda todas as manhãs, o homem procura satisfazer suas necessidades: toma o
seu banho, veste-se, alimenta-se, lê o jornal, utiliza-se de um meio de transporte e se dirige para o
trabalho. Para pagar por esses bens que consume, para ter um mínimo de conforto, ele precisa de
uma renda, que normalmente vem de seu trabalho.
Sempre foi assim através dos tempos. Nas comunidades primitivas, o homem preocupava-se
com a caça , a pesca e com a segurança do lar. A mulher cuidava pessoalmente da casa e dos filhos,
ou administrava os serviços executados por serviçais. Havia uma divisão do trabalho, que
naturalmente variava em parte de uma comunidade para outra, de acordo com os costumes. Essa
divisão do trabalho evoluiu através dos tempos. Parte dos bens e serviços obtidos domesticamente
passaram a ser produzidos fora da casa ou da comunidade, por pessoas que se especializavam em
determinadas profissões; estes foram os artífices ou artesãos. Mais tarde, surgiram as fábricas e o
trabalho passou a ser assalariado, dando início ao modo de produção capitalista.
A Economia surgiu como ciência através de Adam Smith (1723-1790), considerado o pai da
Economia Política. Sua obra, A Riqueza das Nações, publicada em 1776, constituiu um marco na
história do pensamento econômico. Antes disso, a Economia não passava de um pequeno ramo da
filosofia social, como atestam as contribuições do abade e filósofo francês Turgot (1727-1781),
como será visto adiante. Com o Mercantilismo (1450-1750), as idéias econômicas conheceram
algum desenvolvimento, mas na Antigüidade e na Idade Média as relações econômicas eram
bastante simples, como será visto a seguir.
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Relatório Pesquisa da área de História Econômica, realizada no NEP PUCRS.
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Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da PUCRS. Doutor em Economia pela USP.
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caça, à pesca ou à agricultura: eles precisavam trocar os produtos que fabricavam por alimentos e
peles para vestuário. Aos poucos, o trabalho de alguns homens passou a ser suficiente para atender
às necessidades de um conjunto cada vez maior de pessoas. As trocas se intensificaram, portanto,
entre artesãos, agricultores, caçadores e pescadores. A economia adquiria maior complexidade à
medida que as relações econômicas realizadas em determinadas localidades alcançavam
comunidades cada vez mais distantes. As trocas colocavam em contato culturas diferentes, com
repercussões locais sobre os hábitos de consumo e a estrutura produtiva.
Mais tarde, com o surgimento dos líderes comunitários, formaram-se as classes dos soldados,
dos religiosos, dos trabalhadores e dos negociantes. Com a divisão do trabalho e as especializações,
ficou bem nítida a formação dos diferentes agentes econômicos: governo, consumidores,
produtores, comerciantes, banqueiros. O sistema bancário tornou-se importante com o surgimento
da moeda, que passou a circular como meio de troca. Na medida em que ela era depositada nos
bancos, passou a ser emprestada mediante o pagamento de juros.
Contudo, entre os filósofos gregos, com grande influência no mundo antigo, havia restrições
filosóficas aos empréstimos a juros, ao comércio e ao emprego do trabalho assalariado. A busca de
riqueza era considerada como um mal, tendo em vista que a ambição é um vício. Esse pensamento
dificultava o desenvolvimento da economia. De outra parte, na Grécia antiga, como em Roma, a
maior parte da população era composta por escravos, que realizavam todo o trabalho em troca do
estritamente necessário para sobreviver em termos de alimentos e vestuário. Os senhores de
escravos apropriavam-se de todo o produto excedente às necessidades de consumo dos
trabalhadores. A economia era quase exclusivamente agrícola; o meio urbano não passava de uma
fortificação com algumas casas, onde residiam os nobres, ou chefes militares.
Para os gregos, a Economia constituía apenas uma pequena parte da vida da cidade, onde se
desenrolava a vida política e filosófica, constituindo segundo eles os verdadeiros valores do
homem. Por essa razão, a obtenção de riqueza constituía um objetivo bastante secundário na vida
dos cidadãos. Para eles, a questão primordial consistia na discussão acerca da repartição da riqueza
entre os homens e não como ela se obtinha.
Segundo a filosofia grega, o grande objetivo do homem era alcançar a felicidade, que se
encontrava no seio da família e no convívio no interior da cidade, através da interação entre os
cidadãos. A busca da felicidade, no entanto, não devia se restringir ao prazer, porque seria voltar à
condição de animal e de escravo. A honra era importante na medida em que mostrava ao homem os
verdadeiros valores da vida. Segundo eles, embora o comércio não fosse considerado como uma
atividade natural, as trocas não eram condenáveis pois permitiam a diversificação das necessidades
humanas e levavam à especialização dos produtores. Entretanto, como o comércio era uma
atividade que não possuía limites naturais e a moeda facilitava as trocas, criava-se uma classe de
comerciantes ricos. Segundo eles, essa possibilidade de riqueza fácil corrompia os indivíduos, que
passavam a dar prioridade à busca da riqueza, em prejuízo da prática das virtudes. Pela lógica
grega, tornava-se portanto condenável toda prática que levasse à acumulação de moeda, como a
existência de trabalho remunerado e a cobrança de juros nos empréstimos.
No pensamento de Platão o comércio e o crescimento econômico associavam-se com o mal e
com a infelicidade dos homens. Para ele, o trabalho era indigno porque retirava do cidadão o tempo
que ele precisava para o lazer e a prática das atividades políticas e filosóficas. Na livro A República,
de Platão, os cidadãos que exerciam altos cargos públicos não deviam “trabalhar” para não “poluir a
própria alma”. Eles precisavam ignorar o dinheiro, desvencilhar-se da propriedade de bens e esposa,
buscando o que necessitavam na comunidade. Sendo o trabalho necessário para a atividade
produtiva, ele precisava ser realizado por escravos. A classe inferior, que trabalhava, podiam
possuir bens e trocá-los, bem como acumular riquezas dentro de certos limites para não se tornarem
maus trabalhadores. Ele condenava o empréstimo a juros, pois o ganho provém da moeda
acumulada e, segundo ele, ela devia ser usada apenas para facilitar as trocas.
Aristóteles compartilhava da maioria das idéias de seu mestre Platão, mais rejeitou a
comunidade de bens por considerá-la injusta por que não compensava o indivíduo segundo o seu
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trabalho. Como os indivíduos não são iguais, eles não deviam ter a mesma participação na posse
dos bens. Concluía Aristóteles que a comunidade acabava produzindo mais conflitos do que a
desigualdade em si. Segundo ele, o indivíduo devia preocupar-se mais com aquilo que lhe pertence
e não com a partilha dos bens existentes. A comunidade, ao desestimular a propriedade, produz a
pobreza. Considerava que o trabalho agrícola devia ser reservado aos escravos, ficando os cidadãos
livres para exercer a atividade política no interior da cidade.
Para a maioria da população, a cidade constituía um local de refúgio em caso de ataques
inimigos. Constituía também um local de compras, em que o camponês levava seus produtos para
vender e abastecia dos gêneros de primeira necessidade, sobretudo de bens manufaturados. Porém,
as cidades da Antigüidade eram pequenas e insalubres, salvo algumas capitais e centros
administrativos. A urbanização expandiu-se um pouco com o desenvolvimento das trocas
comerciais. Surgiram cidades relativamente grandes, para os padrões da época, como Atenas,
Esparta, Tebas, Corinto e Roma. Devido à pobreza do solo para o cultivo, a navegação tornou-se
uma necessidade crucial para os gregos, a fim de aumentar as riquezas de suas cidades, que eram
independentes politicamente umas das outras.
No mundo grego antigo justificava-se a escravidão pela idéia de que alguns homens possuíam
uma inferioridade inata. Esse regime de trabalho atrasou o desenvolvimento da humanidade, pois,
como o trabalho era considerado tortura, os escravos nada faziam para aumentar a sua eficiência. O
domínio da Filosofia sobre o pensamento econômico implicava nas idéias de igualdade entre os
cidadãos e no desprezo pela riqueza e o luxo. O homem devia procurar o aprimoramento de sua
alma, dedicando a maior parte de seu tempo à meditação, com prejuízo de sua atividade econômica.
Necessitava levar uma vida simples, o que não favorecia o consumo e a produção. Essa posição
filosófica dificultava, portanto, o desenvolvimento das relações econômicas. A busca e a posse de
riquezas era sinônimo de vaidade, orgulho e luxúria.
Já entre os romanos o pensamento econômico estava ligado à política e ao aumento dos
domínios nacionais. O espírito imperialista dos romanos levou à expansão das trocas entre Roma e
as nações conquistadas. A riqueza era sempre bem-vinda, o que se obtinha pela dominação: os
povos conquistados eram obrigados a produzir os bens que os romanos necessitavam consumir. Os
romanos, por seu turno, construíram muitas estradas e aquedutos na Europa e partes da África, com
o fim de facilitar o transporte e o abastecimento das tropas; essas construções possuíam, portanto,
um fim político e não econômico.
Roma surgiu em torno de 750 a.C. e entre 260 e 146 a.C. ela conquistou a atual Itália, ao vencer
seu rival Cartago (reino da África do Norte, que criou colônias na Itália e Espanha). Posteriormente
(Séculos I e II), ela transformou a Grécia em uma província romana e conquistou sucessivamente a
Ásia Menor, a Judéia, a Síria, a Espanha e a Gália. Este foi o primeiro império. O segundo império
romano estendeu-se entre os Séculos III e V da era cristã. As artes se desenvolveram desde o
primeiro império. As cidades se organizavam em torno de um centro político, o fórum. Em volta do
fórum, ficavam os mercados, os templos, os banhos públicos e os teatros. O abastecimento urbano
de água era feito por aquedutos, que eram estruturas áreas sustentadas por grandes pilares. As águas
desciam das fontes pelos aquedutos e abasteciam as termas, os edifícios públicos e os domicílios.
Com a fundação de Constantinopla em 330 d.C. e a transferência da corte romana para essa
cidade, Roma entrou em decadência. Houve uma substancial redução dos gastos públicos e redução
da massa salarial da cidade. O comércio foi enfraquecido, assim como as atividades econômicas,
parte das quais havia mudado para a nova capital. O Império do Oriente era uma potência
industrial, enquanto o Império do Ocidente definhava em termos econômicos. As rotas comerciais
que levavam a Roma foram abandonadas e as invasões dos bárbaros ajudou a afundar o Império do
Ocidente.
Ocidente, no ano de 476, e a queda de Constantinopla, tomada pelos turcos em 1453. Esse período
caracteriza-se particularmente pela pulverização política dos territórios e por uma sociedade
agrícola dividida entre uma classe nobre e uma classe servil, que se sujeitava à primeira. A
economia conhece um retrocesso, principalmente entre os séculos V ao XI. As trocas passaram a se
realizar em nível local, entre Senhor e os servos; as antigas estradas romanas deixaram de ser
conservadas e tornaram-se intransitáveis (Hugon,1988, p. 45).
Na base do sistema feudal estava o servo, que trabalhava nas terras de um senhor, o qual, por
seu turno, devia lealdade a um senhor mais poderoso, e este a um outro, até chegar ao rei. Os
senhores davam a terra a seus vassalos para serem cultivadas, em troca de pagamentos em dinheiro,
alimentos, trabalho e lealdade militar. Como retribuição a essa lealdade, o senhor concedia proteção
militar a seu vassalo.
O servo não era livre, pois estava ligado à terra e a seu senhor, mas ele não constituía sua
propriedade, como o escravo. As trocas restringiram-se ao nível regional, entre as cidades e suas
áreas agrícolas. A cidade, com seus muros, constituía o local de proteção dos servos, em caso de
ataque inimigo. Aos poucos, porém, passou a ser o local onde se realizavam as trocas, o mercado.
Desenvolveram-se o comércio, as corporações de ofício, surgindo a especialização do trabalho.
Com as Cruzadas, a partir de 1096, expandiu-se o comércio mediterrâneo, impulsionando cidades
como Gênova, Pisa, Florença e Veneza.
A Teologia católica exerceu um poder muito grande sobre o pensamento econômico da Idade
Média. A propriedade privada era permitida, desde que fosse usada com moderação. Resulta desse
fato a tolerância pela desigualdade. Havia uma idéia de moderação na conduta humana, o que
levava às concepções de justiça nas trocas e, portanto, de justo preço e justo salário. Nenhum
vendedor de um produto ou serviço poderia tirar proveito da situação e ganhar acima do valor
considerado normal, ou justo. “O justo preço é aquele bastante baixo para poder o consumidor
comprar (ponto de vista econômico), sem extorsão e suficientemente elevado para ter o vendedor
interesse em vender e poder viver de maneira decente (ponto de vista moral)” (Hugon, 1988, p. 51).
Similarmente, o justo salário é aquele que permite ao trabalhador e sua família viver de acordo
com os costumes de sua classe e de sua região. Essas noções de justiça na fixação de preços e
salários implicava também a idéia de justiça na determinação do lucro. Em outras palavras, o justo
lucro resultava da justiça nas trocas: ele não devia permitir ao artesão enriquecer. Havia, portanto,
julgamentos de valor na conduta econômica, ou seja, a Filosofia e a Teologia dominavam o
pensamento econômico. Foi mais tarde que o racionalismo e o positivismo tomaram conta do
pensamento econômico, já no século XVIII.
O empréstimo a juros era condenado pela Igreja, idéia que vem de Platão e Aristóteles, pois
contrariava a idéia de justiça nas trocas: o capital reembolsado seria maior do que o capital
emprestado. Por não serem cristãos, os judeus receberam permissão para emprestar a juro, razão
pela qual se explica a sua predominância no setor financeiro, em muitos países. A partir de 1400, no
entanto, as exceções ampliaram-se com o crescimento das atividades manufatureiras e do próprio
comércio na era mercantilista.
1.3 MERCANTILISMO
enfraquecimento dos feudos e a centralização da política nacional. Aos poucos, foi se formando
uma economia nacional relativamente integrada, com o Estado central dirigindo as forças materiais
e humanas, constituindo um organismo econômico vivo. O governo central forte passou a criar
universidades e a realizar grandes empreendimentos, como as navegações que abriram as mentes
das pessoas.
No plano internacional, as descobertas marítimas e o afluxo de metais preciosos para a Europa
deslocaram o eixo econômico do Mediterrâneo para novos centros como Londres, Amsterdã,
Bordéus e Lisboa. Até então, a idéia mercantilista dominante era a de que a riqueza de um país
media-se pelo afluxo de metais preciosos (metalismo). O afluxo excessivo de ouro e prata provocou
inflação na Espanha, cuja taxa chegou a 20% ao ano na Andaluzia, entre1561/1582 (Sachs e
Larrain, 1995, p. 820).
Com a idéia de garantir afluxos significativos de ouro e prata para os seus países, os
Mercantilistas sugeriam que se aumentassem as exportações e que se controlassem as importações.
Entre os principais autores Mercantilistas, podem ser citados (ver Hugon, 1988, p. 59 e
seguintes):
a) Malestroit (Paradoxos sobre a moeda, 1566): segundo ele, o aumento do estoque de metais
preciosos não provocava inflação;
b) Jean Bodin (Resposta aos paradoxos do Sr. Malestroit, 1568): para ele, maior quantidade de
moeda gerava aumento do nível geral de preços;
c) Ortiz (Relatório ao rei para impedir a saída de ouro, 1588): ele afirmava que, quanto mais
ouro o país acumulasse, tanto mais rico ele seria;
d) Montchrétien (Tratado de economia política, 1615): ensinava que o ouro e a prata suprem
as necessidades dos homens, sendo o ouro muitas vezes mais poderoso do que o ferro;
e) Locke (Conseqüências da redução da taxa de juro e da elevação do valor da moeda,
Londres, 1692): argumentava que os metais preciosos precisavam permanecer no país.
f) Thomas Mun (Discurso sobre o comércio da Inglaterra com as Índias orientais, 1621).
Através dessa obra, Mun exerceu grande influência sobre o colonialismo inglês.
Na França, o Mercantilismo manifestou-se pelo Colbertismo, idéias derivadas de Jean Baptiste
Colbert (1619-1683), segundo as quais as disponibilidades de metais preciosos poderiam aumentar
pelas exportações e pelo desenvolvimento das manufaturas. Colbert foi Ministro das Finanças de
Louis XIV e chegou a controlar toda a administração pública. Protegeu a indústria e o comércio.
Trouxe para a França importantes artesãos estrangeiros, criou fábricas estatais, reorganizou as
finanças públicas e a justiça, criou empresas de navegação e fundou a Academia de Ciências e o
Observatório Nacional da França. Com a proteção à indústria, as exportações seriam mais regulares
e com maior valor. Com esse objetivo, os salários e os juros passaram a ser controlados pelo Estado,
a fim de não elevar os custos de produção e poder assegurar vantagens competitivas no mercado
internacional. O Colbertismo implicava na intervenção do Estado em todos os domínios e
caracterizava-se pelo protecionismo, ou seja, pela adoção de medidas pelo governo para proteger as
empresas nacionais contra a concorrência estrangeira. Seu pensamento encontra-se na sua obra
Cartas, instruções e memórias, 1651 a 1669.
Outro importante autor francês que se afastou do pensamento mercantilista foi Richard
Cantillon (Ensaio sobre a natureza do comércio em geral, 1730). Cantillon viu no trabalho e na
terra os principais fatores da formação da riqueza nacional. A moeda ingressa no país pelo fato do
valor das exportações ser maior do que o valor das importações. Contudo um excesso de moeda
eleva os preços internamente, o que provoca o encarecimento das exportações e o barateamento das
importações, gerando posteriormente déficit na balança comercial e a saída de ouro e prata do país.
Na Espanha, o Mercantilismo não teve esse caráter desenvolvimentista da França, mas foi mais
puro em sua essência, ou seja, a preocupação central era simplesmente obter o ingresso no país de
metais preciosos, seja pelo comércio internacional (maximização das exportações e controle de
importações), seja pela exploração de minas nas colônias. A preocupação central do governo era
financiar a pesquisa e a exploração de ouro e prata na América espanhola.
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No Feudalismo, além das trocas serem basicamente locais e regionais, elas não formavam o centro do sistema econômico, como no
Mercantilismo. O feudo era muito fechado em si mesmo e as relações externas limitavam-se ao estritamente necessário.
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O capital é um dos fatores de produção utilizados para facilitar o trabalho humano e aumentar a
sua produtividade, ou seja, para permitir a obtenção da maior quantidade possível de produto por
trabalhador, durante determinado período de tempo. Ele é constituído pela soma de bens,
monetários e não monetários, possuídos por uma pessoa ou por uma empresa, constituindo um
patrimônio, e que tem como finalidade gerar uma renda, através de aplicações financeiras ou por
seu emprego na produção, com o fim de produzir outros bens e gerar lucro.
absoluto pelo aumento das quantidades vendidas por unidade de tempo. Assim, se ele vender 16,5
mil unidades de produto por mês, ao preço de R$ 2 a unidade, o volume de vendas montaria a R$
33.000. Descontando as compras de mercadorias e os gastos com mão-de-obra e outros materiais
(R$ 30.000), o lucro absoluto seria igual a R$ 3.000, o que asseguraria a taxa de lucro de 10%.
Se as vendas aumentarem para 20 mil unidades do produto por mês, as receitas totais subirão
para R$ 40.000. Os lucros absolutos crescerão se os custos aumentarem menos do que
proporcionalmente, digamos para R$ 35.500, o que daria um lucro absoluto de R$ 4.500 e uma taxa
de lucro de 12,7%. Assim, os lucros absolutos aumentam com a taxa de lucro (receitas elevando-se
mais do que os custos) e com o crescimento das quantidades vendidas e dos preços de venda.
Desse modo, no Mercantilismo, o capital comercial era constituído pelas mercadorias a serem
vendidas e pelos gastos necessários por essa atividade, como aquisição de escravos e sua
manutenção, ou o pagamento de salários aos empregados. O capital se reproduzia na forma de
dinheiro (D), mercadoria (M) e uma quantidade maior de dinheiro (D’), ou seja: D → M → D’. O
lucro monetário sendo igual a (D’ – D), sendo D’ maior do que D, a taxa de lucro assume a forma
(D’ – D) / D.
Com o desenvolvimento das trocas e o surgimento do sistema bancário, o capital mercantilista
passou a assumir também a forma de capital financeiro (C): o dinheiro D ampliou a sua função de
capital mercantil, usado na aquisição de mercadorias para revenda, para exercer uma função
financeira. Isso foi a reciclagem do capital mercantil em excesso, que passou a ser utilizado no
empréstimo a reis e a grandes empreendedores, a fim de financiar os seus gastos, como no caso das
grandes navegações, ou no tráfico de escravos.
Os lucros obtidos pelo capital financeiro dependem da taxa de juro a que são emprestados, do
volume de dinheiro emprestado e do tempo em que ele ficar de posse do tomador do empréstimo.
Os juros podem ser simples, quando incidem somente sobre o principal, e compostos, ao incidirem
tanto sobre o principal, como sobre os juros vencidos, ainda não pagos. Um capital emprestado a
juros compostos produzem uma quantidade maior de juros, sobre um mesmo capital, do que no caso
dos juros simples.
Os juros simples são iguais à seguinte expressão:
Juros = (capital emprestado x taxa de juro x tempo da aplicação) / 100), ou J = C.i.t / 100
Assim, um capital de R$ 1.000 emprestado a 10% ao ano durante 3 anos gera como juros a
quantia de R$ 300, ou seja: (R$ 1.000 x 10 x 3) / 100 = R$ 300
A lei da usura proíbe os empréstimos a juros muito altos. No Brasil, a Constituição de 1988
limitou a cobrança de juros reais a 12% ao ano. No entanto, esse dispositivo constitucional ainda
necessita de regulamentação, através de lei complementar, pois não define o que se entende por
“juro real”, nem estabelece punições aos infratores. A equipe econômica do Governo Federal é
contra esse dispositivo, pois é através de altas taxas de juro que o Governo pode conter o consumo
interno, lançar títulos públicos no mercado e atrair capitais estrangeiros (ver Souza, 2003, cap. 8).
Na Idade Média, a cobrança de juros constituía um problema ético, sendo considerado usura,
não importando o valor da taxa cobrada. A expansão do comércio mundial e o crescimento dos
excedentes de capitais sem aplicação em alguns segmentos da sociedade, ao mesmo tempo em que
havia carência de recursos em outros setores, levou a Igreja a fazer concessões, passando a proibir
os empréstimos a juros somente para o consumo pessoal.
A Reforma Calvinista do século XVI justificou teologicamente a cobrança de juros, porque
constituía uma renúncia a um investimento lucrativo, enquanto o tomador do empréstimo poderia
obter lucros com os capitais emprestados. Logo, quem emprestasse o seu dinheiro também poderia
participar desses lucros, mediante o recebimento de juros.
O capitalismo propriamente dito somente emergiu na Europa no século XVI, com o
desenvolvimento da produção manufatureira, na esfera produtiva. Este foi o capitalismo
manufatureiro, fase intermediária entre o artesanato e as grandes corporações industriais da
Revolução Industrial. Essa forma de capitalismo começou, de um lado, com os comerciantes
empregando mão-de-obra assalariada na indústria doméstica incipiente; de outro lado, o capitalismo
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A concentração do capital é inerente ao modo de produção capitalista, não apenas porque toda
pequena e média empresa procura crescer e tornar-se grande, como também porque, no mundo dos
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O agricultor que não possuía recursos para o cercamento foi obrigado a vender as suas terras, provocando o aumento do tamanho
médio das propriedades rurais.
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negócios, muitas empresas são absorvidas por outras. No processo de inovação tecnológica,
característico das economias modernas, a tendência é a de que as empresas não inovadoras venham
a fechar as suas portas.
Com a introdução de novos produtos e novos processos produtivos, os preços dos fatores de
produção e das matérias-primas e componentes manufaturados sobem, pela maior procura, o que
eleva os custos de todas as empresas. Como os preços dos novos produtos também sobem, as
empresas inovadoras não apenas suportam os custos maiores, como ainda realizam lucro
extraordinário. A concentração empresarial ocorre tanto na indústria, como no comércio, nos
serviços e no setor financeiro.
A própria concorrência capitalista, como já foi referido, aumenta a necessidade de o capitalista
aumentar o seu estoque de capital, a fim de elevar a produtividade do trabalho e manter a sua taxa
de lucro em crescimento. Desse modo, cada trabalhador possui a sua disposição uma quantidade de
equipamentos cada vez maior. O trabalhador japonês ou americano é bem mais equipado do que o
trabalhador mexicano ou brasileiro. Assim, a relação capital/trabalho é bem maior nos países
desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento, o que favorece a formação de grandes
empresas e a concentração do capital na maioria dos setores industriais.
Por seu turno, com a concentração do capital, os produtos são obtidos com maiores quantidades
de capital e menos trabalho e o número de empresas em cada indústria se reduz ainda mais, gerando
oligopolização. De outra parte, com a centralização do capital em grandes empresas, gera-se uma
concorrência desigual entre estes oligopólios e as empresas de menor porte. Em nível mundial, essa
dicotomia materializa-se entre as grandes empresas multinacionais, dos países desenvolvidos, com
as empresas de capital nacional, dos países em desenvolvimento.
As empresas multinacionais, possuindo uma escala de produção de maior dimensão, de nível
mundial, conseguem custos médios inferiores aos das empresas nacionais atuando no mesmo setor,
o que lhes permite maior competitividade internacional e maior taxa de lucro. A tendência é essas
empresas multinacionais crescerem cada vez mais, ou seja, intensificando a concentração de capital
em detrimento de empresas de menor escala, com mercados restritos e dificuldades de exportação.5
Essas grandes empresas multinacionais controlam também o mercado de capitais em nível
mundial. Exceto poucos casos (Microsoft, Rede CNN etc.), elas não possuem um dono em
particular, mas uma miríade de acionistas, incluindo fundos de pensão e clubes de investimentos. A
propriedade dessas empresas, em pequenas partes, ou na sua totalidade, é transacionada no mercado
de capitais, mediante a venda e a compra de ações, que são títulos emitidos pelas empresas, com
direito a dividendos, que representam participação nos lucros da empresa respectiva.
Os donos das ações são os capitalistas, que hoje em dia se distribuem aos milhões nos países
desenvolvidos, podendo ser um jovem, uma viúva, ou um multimilionário, como Bill Gates, dono
da Microsoft. O capitalista, detentor do dinheiro, poderá aplicá-lo em um fundo de investimentos,
recebendo juros, ou comprar diretamente uma ação de uma empresa. Neste caso, ele assume riscos
de possíveis prejuízos, recebendo dividendos, em caso de lucros. Conforme o tipo da ação, ele
poderá ter direito a voto nas assembléias da empresa, passando a influenciar o seu destino.
Com o desenvolvimento da informática e dos meios de comunicação em geral (Internet,
telefone celular, fibra ótica, transmissão via satélite, redução de tarifas telefônicas etc.) ocorreu um
processo de globalização da produção em nível mundial, aumentando os fluxos de capitais entre
países. Esses capitais podem ser de risco, ou especulativo (volátil). Os capitais de risco são de
longo prazo e correspondem aqueles capitais aplicados diretamente no setor produtivo, quando o
aplicador poderá obter ou prejuízos. Os capitais voláteis são de curto prazo e emigram via Internet
de um país para outro, instantaneamente, em função dos diferenciais das taxas de juro. Esses
investidores podem obter lucros especulativos rápidos, em função de mudanças de curto prazo das
condições econômicas das diferentes economias.
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No caso brasileiro, há o chamado “custo-Brasil”, devido ao excesso de encargos que as empresas sofrem: pesada legislação
trabalhista, alta carga tributária (incluindo impostos de exportação), altos custo de transporte entre o local de produção aos portos de
exportação (deficiência dos meios de transporte), baixa escolarização da mão-de-obra, altas tarifas portuárias etc.
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empreender, assim como os Fisiocratas, como uma maneira de desenvolver a economia. Com a
presença de uma lei natural regulando a ordem econômica, os homens precisam agir livremente;
qualquer intervenção do Estado inibiria essa ordem, ao criar obstáculos à circulação de pessoas e de
bens. Assim, eles propunham a redução da regulamentação oficial, para aumentar a produtividade
da economia, e a eliminação de barreiras ao comércio interno e a promoção das exportações. Ao se
proibir as exportações de cereais, aumenta a oferta interna e reduz os preços, o que reduz os lucros,
impede novos investimentos e diminui a produção na safra seguinte.
Em relação aos demais setores da economia, para manter baixos os preços das manufaturas e
beneficiar os consumidores, os Fisiocratas propunham o combate aos oligopólios (poucos
vendedores) e o fim das restrições às importações. O pensamento fisiocrático era, portanto, liberal,
traduzindo-se na famosa divisa laissez-faire, laissez passer... (deixai fazer, deixai passar ...).
O principal defeito do pensamento fisiocrático era a premissa de que somente a terra gerava
valor. Com isso, eles se mantinham muito tolerantes em relação à classe dos proprietários e à
nobreza. Este era a diferença fundamental entre os Fisiocratas e Turgot. Para este último, o valor
encontra-se no trabalho e esse pensamento faz dele um precursor da Economia clássica.
o valor pode ser gerado fora da agricultura, toda vez que uma mercadoria for vendida a um preço
superior ao seu custo de produção.
O trabalho fica ainda mais produtivo com o emprego de mais capital; a maior produtividade
resultante incrementa o valor do produto total, por unidade de tempo. São as trocas e a expansão das
áreas de mercado que aumentam a demanda, possibilitando maior volume de produção, com menor
custo (economias de escala), mediante o emprego de trabalho e capitais adicionais. A seqüência
maior escala, menores custos, maior produtividade dos fatores capital e trabalho e maiores lucros
implica em novos investimentos e geração de novos empregos; em suma, implica no crescimento
econômico nacional.
Desse modo, quando os mercados tornam-se nacionais e internacionais, fica possível a
especialização produtiva dos trabalhadores, o que gera a seqüência referida. De outra parte, o
aumento da massa salarial da economia nacional dinamiza o setor de mercado interno. O aumento
da produção desta vez para satisfazer o mercado interno nacional possibilita nova divisão do
trabalho (especialização produtiva) e uma nova seqüência redução de custos médios e crescimento
econômico.
A economia de Adam Smith conhece, portanto, expansão contínua, enquanto for possível
ampliar a dimensão dos mercados e empregar novos trabalhadores produtivos. A acumulação de
capital desempenha também um papel crucial ao aumentar a produtividade dos trabalhadores. O
progresso técnico resultante permite aos empresários o pagamento de salários mais elevados,
enquanto o crescimento demográfico e a concorrência entre os trabalhadores exercem efeito oposto.
O pensamento de Adam Smith foi aperfeiçoado por seu principal discípulo, David Ricardo
(1772-1823), autor de Princípios de economia política e tributação (Ricardo, 1982). Para Ricardo,
o crescimento demográfico exerce efeito nocivo sobre a economia, ao elevar a demanda de
alimentos. Isso ocorre porque o aumento do custo de vida repercute-se sobre a expansão dos
salários industriais, reduzindo a taxa média de lucro do conjunto da economia. Com isso, os
investimentos reduzem-se, afetando o nível de emprego e o produto total.
Desse modo, o grande problema da economia estava na agricultura, pela existência de
rendimentos decrescentes, à medida que ela mostrava-se incapaz de produzir alimentos baratos para
o consumo dos trabalhadores. Como a agricultura constituía mais de dois terços do produto
nacional, o aumento dos custos de produção da agricultura e a conseqüente redução da taxa de lucro
se repercutia automaticamente no conjunto da economia, provocando estagnação econômica.
Ricardo elaborou a teoria da renda da terra, segundo a qual, à medida que a população cresce,
ocupam-se terras cada vez piores, aumentando os custos na margem de cultivo, enquanto a renda da
terra, embolsada pelos proprietários, expande-se nas terras de melhor fertilidade. Por definição, no
início do processo de ocupação de uma área geográfica, a população ocupa as melhores terras (tipo
A). Nessa área, não havendo nenhuma outra terra pior sendo utilizada, não existe renda. A receita
total gerada apenas cobre os custos e os lucros são normais. O valor da produção, ou receita total, é
distribuído somente entre os capitalistas arrendatários e os trabalhadores.
Crescendo a população, aumenta a demanda de alimentos e os preços sobem, o que justifica o
emprego de terras piores, do tipo B. Nessa terra pior não existe renda, pois, da mesma forma, as
receitas apenas cobrem os custos de produção. Nas terras do tipo A, no entanto, o maior rendimento
da produção agrícola por unidade de área gera uma receita maior do que os custos. Essa diferença é
a renda da terra que os proprietários embolsam.
Com o crescimento demográfico persistindo, os preços dos alimentos sobem novamente.
Ocupam-se terras ainda piores, do tipo C, embora nestas terras as receitas apenas cobrem os custos
totais. Os diferenciais de produtividade geram, no entanto, uma renda nas terras do tipo B e uma
renda ainda maior nas terras do tipo A. Essas rendas decorrem, portanto, das diferenças da
produtividade da terra, sendo embolsada pelos proprietários, ficando os capitalistas arrendatários
apenas com o lucro normal.7
Ricardo demonstrou que, com o crescimento demográfico no longo prazo, caem tanto os lucros
dos arrendatários, como os salários reais (salário individual/preço dos alimentos) e a taxa de lucro
(lucro absoluto/capital empregado). Por outro lado, aumentam os preços dos alimentos, os salários
monetários e a renda da terra dos proprietários. A queda da taxa de lucro reduz os investimentos na
agricultura e em toda a economia.
A solução apontada por Ricardo foi o controle da natalidade e a livre importação de alimentos,
para consumo dos trabalhadores. Com a importação de alimentos, evita-se que os preços subam e
que a agricultura se desloque para terras piores, o que evita o aumento dos custos, a deterioração da
taxa de lucro e a queda dos investimentos em toda a economia.
A teoria da população de Thomas Malthus, adotada pelos clássicos, diz que a população
aumenta em proporções geométricas (1, 2, 4, 8...), ao passo que, na melhor das hipóteses, a
produção de alimentos cresce a taxas aritméticas (1, 2, 3, 4...). A população crescerá sempre que os
salários nominais (w) estiverem acima do salário mínimo de subsistência (w*), definido por Ricardo
como aquele salário pago na margem extensiva de cultivo. Nesse caso, haverá incentivo para
casamentos precoces e aumento do tamanho da família. A população irá reduzir-se se os salários
monetários pagos no mercado forem inferiores ao salário mínimo de subsistência (w < w*); a
população permanecerá estacionária quando tais salários forem iguais por um período relativamente
longo (ver Souza, 1999, p. 148).
A igualdade entre o salário nominal de mercado e o salário mínimo de subsistência é uma
característica do estado estacionário, situação de longo prazo em que cessa toda acumulação de
capital. Isso ocorre porque a taxa de lucro de mercado (r) iguala-se à taxa de lucro mínima (r*),
definida como o juro pago pelo capital emprestado (i), mais um pequeno diferencial correspondente
ao risco dos negócios (i*). Desse modo, o produto da economia não cresce mais, assim como o
nível de emprego e a população total.
O estado estacionário foi melhor estudado por Stuart Mill (1806-1873), em sua obra Princípios
de economia política (Mill, 1983). Segundo ele, tanto a concorrência entre os capitalistas por
melhores oportunidades de negócios, como o crescimento demográfico, que leva o cultivo para as
piores terras, aproximam o estado estacionário, enquanto a livre importação de alimentos e as
inovações tecnológicas (recuperação de terras alagadas ou áridas, novos métodos de cultivo,
sementes geneticamente melhoradas, uso de fertilizantes e corretivos do solo) afastam o fantasma
do estado estacionário para épocas futuras.
Quando o progresso técnico deixar de ocorrer, em um futuro muito remoto, o estado
estacionário acabará finalmente acontecendo. Toda a população, porém, apresentará nível de vida
tão elevado, que o objetivo social não seria mais o consumo e o enriquecimento, mas o lazer e a
busca do aperfeiçoamento cultural e espiritual.
Como se percebe, os economistas clássicos enfatizaram a oferta, isto é, o lado da produção. A
idéia era a de que tudo o que fosse produzido seria consumido. Essa suposição foi melhor
explicitada por Jean-Baptiste Say (1767-1832), ao formular a lei dos mercados (lei de Say) em seu
livro Tratado de economia política (Say, 1983). Segundo ele, “a oferta cria a sua própria procura”.
Isso se explica porque os clássicos supunham que a produção realiza-se com proporções fixas, ou
seja, todo acréscimo de produção exige o aumento simultâneo e proporcional de capital e de
trabalho.
Assim, ao aumentar a produção há ao mesmo tempo o pagamento de uma renda na mesma
proporção que irá ser gasta nessa produção adicional. Os economistas clássicos supunham que a
economia encontrava-se em equilíbrio com pleno emprego de fatores, isto é, que ela sempre se
encontrava sobre a fronteira de possibilidades de produção. Uma nova acumulação de capital
retirava trabalhadores subempregados de outros setores e gerava um fluxo de renda correspondente
ao valor dos novos bens levados ao mercado, restabelecendo de imediato o equilíbrio entre oferta
agregada e demanda agregada.
A lei de Say do equilíbrio dos mercados foi criticada por Thomas Robert Malthus (1766-
1834), em sua obra Princípios de economia política. Segundo ele, existem crises no sistema
capitalista resultantes do subconsumo da população, ou seja, do crescimento insuficiente da
15
demanda efetiva8 (YD), definida como a soma do consumo agregado (C), gastos com investimento
(I), gastos do Governo (G) e exportações menos importações (X-M). A demanda efetiva define,
portanto, o nível do produto total doméstico absorvido pela economia, em função de sua capacidade
de pagamento.
O subconsumo decorre da redução gradual dos salários reais, o que impede a população manter
seu consumo em crescimento ou nos mesmos níveis ano após ano. Com estoques não vendidos, as
empresas reduzem a produção no período seguinte. Se a queda do poder de compra da população
for sistemática, a acumulação de capital tende a declinar, assim como a oferta total (YS) e o nível de
emprego. Desse modo, aumentos de oferta não geram demandas adicionais no nível correspondente,
havendo uma tendência de YS manter-se acima de YD.
A lei de Say não se verifica também, segundo Malthus, porque os clássicos não levaram em
conta os gostos e as necessidades dos consumidores e porque os trabalhadores desempregados já
mantém algum nível de consumo prévio. Além disso, a paixão pela acumulação e o receio da
concorrência leva o capitalista a investir acima das necessidades da demanda total.
As idéias marginalistas surgiram por volta de 1870 como reação aos movimentos socialistas
de meados do século XIX, que eclodiram devido à concentração de renda e à intensa migração
rural-urbana decorrentes da industrialização. Os marginalistas ou neoclássicos combatiam a teoria
clássica baseada no valor-trabalho e na idéia de que a renda da terra não era socialmente justa.
Novas teorias foram desenvolvidas para o valor, distribuição e formação dos preços.
Suas suposições são as de que a economia é formada por um grande número de pequenos
produtores e consumidores, incapazes de influenciar isoladamente os preços e as quantidades no
mercado. Os consumidores, de posse de determinada renda, adquirem bens e serviços de acordo
com seus gostos, a fim de maximizarem sua utilidade total, derivada do consumo ou da posse das
mercadorias. Essa é uma concepção hedonista, segundo a qual o homem procura o máximo prazer,
com um mínimo de esforço.
Dados os preços de mercado, os produtores adquirem os fatores de produção necessários a fim
de combiná-los racionalmente e produzir as quantidades que maximizarão seus lucros. Os fatores
têm preços determinados por sua escassez e utilidade no processo produtivo. Não há mais conflito
entre as classes sociais na distribuição do produto, como na Economia clássica, mas harmonia entre
os agentes. Isso se explica porque, no pensamento marginalista, a distribuição do produto efetua-se
segundo as produtividades marginais de cada fator; os salários passaram a ser flexíveis
(determinados pela interação entre a oferta e a demanda de trabalho) e não mais de subsistência
(fixos), como no pensamento clássico.
A essência do pensamento marginalista pode ser sintetizada em 10 pontos (Oser & Blanchfield,
1983, p. 207):
1) raciocínio na margem: a decisão de produzir ou consumir vai depender do custo ou benefício
proporcionado pela última unidade;
2) abordagem microeconômica: o indivíduo e a firma estão no centro da análise, cada bem
levado ao mercado é único ou homogêneo, possuindo um preço que equilibra sua oferta com a
demanda;
3) método abstrato-dedutivo: abstração teórica, argumentação lógica e conclusão;
4) concorrência pura nos mercados, sendo o monopólio uma exceção: muitos vendedores e
compradores concorrem no mercado por bens e serviços; as firmas são pequenas e individualmente
não conseguem influenciar o preço de equilíbrio de mercado;
5) ênfase na demanda como elemento crucial para determinar os preços, ao contrário dos
clássicos que enfocavam a oferta, ou custo de produção;
8
Termo empregado por Keynes em 1936. A demanda efetiva foi definida como sendo o ponto em que, em um determinado
momento, a demanda agregada torna-se igual ao produto total da economia (Keynes, 1990, p. 38).
16
6) teoria da utilidade: a utilidade que as pessoas têm no consumo dos bens, determinada por
seus gostos, influencia as quantidades demandadas de cada bem e, então, seus preços. Há uma
ênfase em aspectos psicológicos, com a consideração da abordagem hedonista de prazer (satisfação)
e sofrimento (custos);
7) teoria do equilíbrio: as variáveis econômicas interagem e o sistema manifesta uma tendência
ao equilíbrio pelo jogo das livres forças de mercado;
8) direitos de propriedade: cada proprietário recebe pela posse de um fator de produção, o que
reabilitou a renda da terra, considerada por Ricardo como um pagamento desnecessário e
improdutivo;
9) racionalidade: as firmas e consumidores maximizam lucro ou satisfação e não agem por
impulso, capricho ou por objetivos humanitários. Embora este último ponto possa ser louvável, ele
não faz parte das suposições econômicas marginalistas;
10) laissez-faire, ou liberdade de mercado: toda e qualquer interferência nos automatismos do
mercado gera custos e reduz o bem-estar social.
Em sua obra Princípios de Economia, de 1890, o inglês Alfred Marshall (1842-1924) realizou
a chamada primeira síntese neoclássica, tentando conciliar os pensamentos clássico e marginalista,
dando nascimento ao termo neoclássico (Marshall, 1982).
Segundo os economistas neoclássicos, a utilidade de um produto determina o valor dos bens, a
quantidade demandadas e, então, o preço de equilíbrio do mercado de cada bem. Isso foi
representado por Marshall em um gráfico de duas dimensões, determinando o equilíbrio parcial
pela interação da oferta e da demanda de cada bem, segundo os seguintes passos:
1o - quanto maior a utilidade do bem, tanto mais ele será procurado pelas pessoas e tanto maior
será o seu valor e seu preço;
2o - quanto maior for o preço, tanto mais as firmas querem produzir e vender tal produto;
3o - o equilíbrio do mercado é aquele em que há um preço único para vendedores e
compradores, em que a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada, como se pode ver na
Figura 2.1. Nessa figura, observa-se que quando os preços são baixos, as pessoas desejam comprar
maiores quantidades do produto. Assim, quando o preço (P) for igual a 1, as quantidades
demandadas (Q) do bem são iguais a 40; com P = 2, Q = 30; P = 3, Q = 20; P = 4, Q = 10; P = 5, Q
= 0.
Essa relação inversa entre quantidades demandadas e preços gera uma curva de demanda
negativamente inclinada. Para derivar esta curva de demanda negativamente inclinada, Marshall
supôs que, no curto prazo, as utilidades marginais de cada indivíduo permanecem constantes, isto é,
que os consumidores são racionais e que os gostos não mudam.
A oferta apresenta-se regulada pelos custos de produção e uma série de quantidades são
produzidas em função de um conjunto de preços. Quando os preços são altos, as empresas desejam
produzir e vender maiores quantidades. Com o preço igual a 5, as quantidades ofertadas pelas
empresas são iguais a 40 unidades do produto; com P = 4, Q = 30; P = 3, Q = 20; P = 2, Q = 10; P =
1, Q = 0. A relação direta entre quantidades ofertadas e preços gera uma curva de oferta
positivamente inclinada.
17
Em economia, um produto é considerado um bem porque possui um valor, que pode ser
definido pela utilidade, ou pela quantidade de trabalho produtivo incorporado. A primeira definição
é a da teoria do valor-utilidade, proveniente da Escola neoclássica; a segunda é a da teoria do
valor-trabalho, adotada na Escola clássica e na Escola marxista.
Pela teoria do valor-utilidade, um bem possui valor porque apresenta utilidade para o
consumidor, ao mesmo tempo em que lhe proporciona satisfação. O alimento ingerido por uma
pessoa elimina a sua fome e satisfaz uma necessidade, que é a da alimentação. No entanto, as
pessoas têm preferências distintas pelos diferentes alimentos. Embora a carne seja rica em
proteínas, o vegetariano prefere legumes; algumas pessoas contentam-se apenas com arroz, feijão e
carnes; outras “necessitam” ainda de saladas.
Na medida em que os produtos são mais procurados, os seus preços se elevam, porque o seu
“valor” aumenta. Significa dizer que a noção de valor, por essa teoria, é subjetiva: os preços de
alguns produtos sobem mais do que o de outros ao se tornarem mais procurados. Assim, a carne
bovina possui maior preço do que outras carnes; as roupas da estação que se avizinha possui maior
procura e, portanto, maior preço do que as roupas da estação que está chegando ao fim. Um vestido
da moda é mais valorizado do que um vestido fora de moda. Entre os vestidos da moda, o seu preço
dependerá ainda de vários fatores, como qualidade do tecido, desenho, nome da etiqueta que o
desenhou (grife) e outros detalhes, incluindo a cor e a preferência das mulheres.
Através de campanhas publicitárias ativas, determinadas marcas de produtos ampliam seu
espaço no mercado, porque as agências de publicidade conseguem convencer os consumidores de
que o produto em questão possui qualidade superior. Assim, quando essas marcas tornam-se
preferidas e mais procuradas, os preços desses produtos se elevam. Como exemplos, podem ser
citadas determinadas marcas de refrigerantes, de sapão em pó e de outros produtos de limpeza.
Quando algumas marcas de produtos são lançadas no mercado, de forma pioneira, elas chegam a ser
confundidas com o próprio produto. É o caso da Gillette e da Xerox, que chegaram a ser
18
9
O Art. 37 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078 de 11/9/90) define propaganda enganosa ou abusiva qualquer informe
publicitário “capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.” Ao deixar de informar algum dado essencial sobre o produto, a
publicidade ainda é considerada enganosa. O código considera abusiva toda publicidade discriminatória, “que incite a violência,
explore o medo ou a superstição..., desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de
forma prejudicial ou perigosa à sua saúde e segurança.”
19
oferta agregada (YS) maior do que a demanda agregada (YD), com desemprego de trabalhadores.
Essas crises resultam de superprodução (demanda agregada encontra-se em seu nível correto,
estando a oferta acima do nível normal), ou de subconsumo (a oferta agregada encontra-se em seu
nível correto, estando a demanda agregada abaixo de seu nível normal).10
As crises de subconsumo já haviam sido apontadas por Sismonde de Sismondi (1773-1842), em
1819, um pouco antes de Malthus. Afirmava ele que o grande afluxo de trabalhadores irlandeses
para a Inglaterra reduzia os salários, concentrando a renda, fazendo com que a população não
conseguisse comprar toda a produção gerada pela economia. A crise resulta tanto do achatamento
da renda dos trabalhadores, como pelo fato dos empresários empregarem mais máquinas do que
trabalhadores, de modo que a receita das empresas cresce, assim como os lucros, mas essa renda
adicional não fica nas mãos dos trabalhadores que vêem o seu consumo crescer lentamente.
Essa discussão acerca das crises econômicas intensificou-se na França, Alemanha e Rússia
porque, para outros pensadores, pelo contrário, o desnível entre oferta e demanda agregadas (YS >
YD) resultava, não do subconsumo dos trabalhadores, mas de erros de previsão dos capitalistas (crise
de superprodução). Em outras palavras, a partir de um determinado momento, as empresas
passariam a produzir além das necessidades de consumo do conjunto da população do país, levando
em conta apenas considerações do lado da oferta, como produzir as quantidades exigidas pela
maximização de lucro, melhorar a qualidade do produto e reduzir custos, tendo em vista o
acirramento da concorrência no mercado.
As crises de superprodução resultam, segundo os revisionistas como Tugan-Baranowsky, de
erros de avaliação dos capitalistas, uma vez que as decisões de produção são desvinculadas das
decisões de demanda. O planejamento central foi então sugerido para coordenar as ações entre os
agentes econômicos. Segundo ele, a acumulação de capital aumenta a produtividade, o que eleva a
taxa de lucro e estimula novos investimentos. Não importa o quanto o consumo se mantenha baixo,
desde que as empresas coordenem a sua produção no nível da demanda. Desse modo, a oferta
agregada YS se manterá sempre igual à demanda agregada YD sem crise de superprodução ou de
subconsumo.
Os marxistas adeptos da teoria do subconsumo, como Rosa Luxemburgo (1870-1919), autora
de A acumulação do capital (Luxembourgo, 1988), criticam a posição dos revisionistas, porque
seria retornar à lei de Say segundo a qual a oferta cria a demanda correspondente. Para os
subconsumistas, as crises resultam do subconsumo dos trabalhadores, em razão do achatamento
salarial e da concorrência entre os capitalistas. Esta concorrência provoca acumulação acelerada de
capital e adoção de tecnologias poupadoras de trabalho. Resulta crescimento maior dos meios de
produção em relação à massa salarial paga aos trabalhadores, futuros consumidores. Desse modo, a
conquista de mercados externos ao país torna-se a salvação do capitalismo, para escoar a produção
excedente através das exportações.
Segundo Karl Marx (1818-1883), autor de Contribuição à crítica da economia política (1857),
o subconsumo dos trabalhadores resulta de sua exploração pelo capitalista, que procura pagar-lhes
salários cada vez menores e a estender a jornada de trabalho. A discussão acerca das crises do
sistema capitalista está intimamente associada com a teoria marxista e com a questão da distribuição
de renda entre as classes sociais, tema das seções seguintes.
4 - REPARTIÇÃO DE RENDA
Existem duas grandes questões em Economia, a saber: como manter o produto nacional em
crescimento contínuo e como repartir os frutos desse crescimento entre as classes sociais. A
primeira questão diz respeito ao emprego dos fatores de crescimento: capital (nacional e
estrangeiro), disponibilidade de mão-de-obra (quantidade, qualidade), gastos em educação (geral e
profissionalizante), investimentos em novas tecnologias (assim como importações de técnicas
10
Distingue-se, ainda, as crises decorrentes da redução da taxa de lucro, mas, no fundo, toda a crise, independente de sua natureza,
resulta na redução da taxa de lucro, definida pela razão entre lucro absoluto e capital aplicado.
20
geradas em outros países), gastos com saúde, investimentos em infra-estruturas etc. Questões
subjacentes ao crescimento, como inflação, crescimento do déficit público, aumento da dívida
pública (interna e externa) e fatores políticos desfavoráveis dificultam a manutenção no tempo de
um crescimento econômico mais acelerado.
A segunda questão, a distribuição da renda, assume um papel primordial porque ela pode inibir
ou entravar a trajetória do crescimento econômico. Se a renda for distribuída em maior proporção
para setores que apenas consomem, o investimento total se reduz ao longo do tempo, o que inibe o
crescimento econômico. No mesmo sentido, se os salários dos trabalhadores crescerem mais do que
a sua produtividade, a taxa de lucro dos empresários irá se reduzir, desestimulando novos
investimentos. Inversamente, se os salários dos trabalhares forem sistematicamente achatados,
haverá redução gradativa de seu consumo, afetando o crescimento do produto no longo prazo.
De modo geral, a distribuição da renda entre as classes sociais determinará uma estrutura
produtiva específica. Assim, se a renda da classe média subir mais rapidamente do que a renda dos
trabalhadores de mais baixa remuneração, então a dinâmica da economia será comandada pela
produção de bens de consumo duráveis, como tem sido o caso no Brasil nas últimas décadas.
Atualmente, o Governo, nas três esferas, consome grande parte do produto social, porque os seus
gastos não param de crescer (pagamentos de juros da dívida interna e externa, previdência social,
funcionalismo público etc.). Esse fato prejudica o investimento global, pois o Governo retira
dinheiro da economia, mediante a emissão de títulos, a fim de poder pagar os seus gastos, o que
reduz o montante que poderia ser destinado ao investimento. Isso ocorre, porque os altos juros
pagos pelo Governo torna mais rentável para os investidores (bancos, particulares, empresas
produtivas) comprar títulos públicos do que investir no setor produtivo.
Como foi visto anteriormente, Ricardo preocupava-se com o problema da distribuição da renda.
No seu modelo, a renda distribuía-se de maneira desigual entre as três classes sociais consideradas
por ele: donos da terra (rentistas), capitalistas (arrendatários) e trabalhadores.
Ao longo do tempo, o volume de renda recebida pelos donos da terra crescia mais rapidamente
do que os lucros e os salários. Isso se devia ao crescimento demográfico acelerado e à proibição de
importar alimentos, que deslocava a produção agrícola para terras piores e mais distantes dos
mercados. Os preços dos alimentos subiam, assim como os salários monetários pagos, o que reduzia
a taxa de lucro dos capitalistas. Os salários reais11 se reduziam, diminuindo o poder de compra dos
trabalhadores. Isso piorava as condições econômicas dos arrendatários e dos trabalhadores,
enquanto a situação dos rentistas melhorava cada vez mais, uma vez que eles passavam a receber
uma renda adicional pelos diferenciais de produtividade das terras melhores e mais próximas dos
mercados.
Ricardo combatia essa situação, porque a redução da taxa de lucro dos capitalistas acabava
afetando a sua propensão a investir, o total dos investimentos e a taxa de crescimento do produto
nacional. Isso era importante, porque a taxa de lucro da produção agrícola afetava a taxa de lucro da
indústria e do setor terciário. Ricardo acabou demonstrando que a taxa de lucro da indústria e da
economia como um todo acabava sendo determinada pelos salários pagos aos trabalhadores rurais
na fronteira agrícola. A solução apontada por ele foi o controle demográfico e a livre importação de
alimentos e matérias-primas mais baratas do resto do mundo. Essa idéia fundamentava o
pensamento liberal dos economistas clássicos.
Mais tarde, Stuart Mill acabou demonstrando que as inovações tecnológicas na agricultura, por
aumentar a produtividade, neutraliza em parte os rendimentos decrescentes da agricultura, viabiliza
terras improdutivas marginais (áreas secas, ou alagadas, terrenos com declives muito acentuados) e
11
Os salários nominais (w) são os valores efetivamente recebidos pelos trabalhadores, enquanto os salários reais são a relação entre
os salários e os preços (w/p), ou seja aquilo que eles podem realmente comprar. Assim, se os salários nominais subirem 10% e os
preços (p) também subirem 10%, ou salário real e o poder de compra dos salários permanecem inalterados.
21
Já na visão marxista, pelo contrário, a distribuição de renda entre os diferentes grupos ocorre
com conflitos entre as diferentes classes sociais. A dicotomia fundamental, por essa visão, ocorre
entre o empresário (confundido com o capitalista) e o trabalhador assalariado. Este produz um
excedente às suas necessidades de consumo, ou seja, ao produzir uma mesa no final de oito horas de
trabalho, ele recebe como salário um valor inferior a essas oito horas; esse excedente corresponde a
uma mais-valia que o capitalista se apropria às custas do trabalhador. A existência de mais-valia
está indicada pelo fato de que o trabalhador não consegue comprar o produto que confecciona pelo
salário correspondente.
A idéia é a de que o valor de um produto seja igual à quantidade de trabalho que ele
incorporado. Assim, o produto líquido de uma economia é igual à soma do trabalho necessário à
reprodução do trabalhador (salários, ou capital variável, V) e o valor extraído dos trabalhadores, ou
mais valia, M, ou seja:
(1) YL = V + M.
Acrescentando-se em (1) os valores necessários para a reposição do maquinário e as compras de
materiais produtivos (capital constante, C), tem-se o produto bruto da economia:
(2) Y = V + M + C.
Os conflitos sociais, que geram a luta de classes, segundo Karl Marx, ocorre entre os
capitalistas e trabalhadores para obterem as suas respectivas fatias V e M do produto social líquido,
YL. A participação de cada classe na repartição do produto não depende das produtividades
marginais, ou seja, não possui um caráter técnico como postulam os economistas neoclássicos, mas
12
Para maiores detalhes acerca desse assunto, ver Souza (1999, cap. 3).
22
Desemprego e distribuição de renda estão associados, pois quanto mais um país cresce
poupando trabalho e desempregando pessoas, tanto mais a renda nacional se concentra . Em agosto
de 1999, mais de 4,7 milhões de pessoas estavam desempregadas no Brasil, valor que se reduziu
para 4,4 milhões em 2000.
A taxa de desemprego é igual ao número de desempregados x 100, divido pela população
economicamente ativa. Essa taxa foi igual a 7,6% em 1999 (4.714.213 x 100 / 62.029.120 = 8,7%) e
a 7% em 2000 (4.439.308 x 100 / 63.418.686 = 7,0%). Em junho de 2001, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa taxa se reduziu para 6,8%.
A população economicamente ativa (PEA) é formada pelas pessoas empregadas e
desempregadas, em um dado momento. A PEA é um subconjunto da população em idade ativa
23
(PIA), que no Brasil compreende as pessoas com 10 anos e mais. A PIA é composta, portanto, da
PEA, mais os indivíduos que não trabalham (estudantes, inválidos, rentistas, idosos, réus,
aposentados, pensionistas, donas de casa, outros).
O desemprego existente na economia brasileira se deve:
a) à redução do crescimento econômico, provocado pela crise da Argentina e do menor ritmo de
crescimento da economia dos Estados Unidos, o que provoca redução das exportações e
elevação da taxa de juro interna, o que desacelera os investimentos produtivos;
b) à abertura econômica promovida pelo Brasil desde o Governo Collor, em 1990, que aumenta as
importações de produtos agrícolas e manufaturados, reduzindo a produção interna e o emprego;
c) à modernização tecnológica da indústria, que, devido à globalização, necessita acelerar a troca
de máquinas mais antigas, tornadas obsoletas prematuramente pelo aumento da concorrência,
por máquinas mais produtivas, poupadoras de mão-de-obra;
d) ao uso de robôs e tecnologias intensivas em capital e poupadoras de trabalho;
Em alguns países, a taxa de desemprego encontra-se em níveis superiores à que vigora no Brasil
em 2001, como Alemanha (9,3%) e França (8,8%). Em outros países, neste mesmo ano, a taxa de
desemprego é menor, como no Japão e Reino Unido (4,9%), Estados Unidos (4,5%). Neste último
país, a taxa de desemprego era de apenas 4% em 2000. O menor ritmo do crescimento econômico e
o conseqüente aumento do desemprego na economia mais importante do mundo, tem reflexos
mundiais, pela redução de suas importações.
Na Grande São Paulo, o maior centro industrial do Brasil, a taxa de desemprego é mais alta do
que no conjunto do País: 10,2% em 2000 e 10,7% em junho de 2001. O desemprego formal é
portanto maior nas áreas mais industrializadas (em 1999, a taxa de desemprego era de 10,6% na
França, 10,2% na Alemanha e 9,4% para o conjunto da União Européia).
O desemprego aumenta quando a economia deixa de crescer, se moderniza, trocando máquinas
e quando o crescimento econômico ocorre concentrando a renda. Para medir o grau de
concentração da renda de uma economia, costuma-se utilizar o Coeficiente de Gini, que é um
índice de desigualdade de distribuição inventado pelo estatístico italiano Conrado Gini (1884-
1965); trata-se de uma das medidas de concentração de renda mais utilizadas.
O coeficiente de Gini é derivado da curva de Lorenz,13 como mostra a Figura 2.1, construída a
partir dos dados da Tabela 2.1, que mostra a distribuição de renda para dois períodos diferentes de
tempo, com o respectivo coeficiente de Gini, segundo cinco estratos diferentes (dados fictícios). Na
primeira linha da tabela, percebe-se que a população 25% mais pobre recebia, em 1970, 10% da
renda nacional; e os 25% menos pobres 20% da renda; enquanto os 25% mais ricos detinham 45% e
os 25% menos ricos 25%.
Tabela 2.1 - Estrutura de distribuição de renda de uma economia em dois períodos de tempo
Classes da população Renda recebida Classes da Renda recebida por classe
Segundo os níveis de por classe (%) população (% acumulado)
renda (%) 1970 1990 (% acumulado) 1970 1990
0 – 25 (mais pobres) 10 5 0 - 25 10 5
25 – 50 (menos pobres) 20 10 0 - 50 30 15
50 – 75 (menos ricos) 25 20 0 - 75 55 35
75 – 100 (mais ricos) 45 65 0 - 100 100 100
Coeficiente de Gini (CG) 0,275 0,475
Em 1990, percebe-se que aumentou a concentração da renda nacional: os 25% mais pobres
passaram a receber um percentual menor da renda total (5%); enquanto os 25% mais ricos passaram
a ser contemplados com 65%. Houve igualmente uma piora na distribuição de renda para as faixas
13
Uma curva de Lorenz, aplicada pela primeira vez em 1905 por M. C. Lorenz, representam duas distribuições (como a renda), para
períodos ou países diferentes.
24
intermediárias.
As três últimas colunas da Tabela 2.1 apresentam os percentuais acumulados das classes da
população segundo os níveis de renda e os percentuais acumulados da renda nacional recebida em
cada classe da população. As duas últimas colunas fornecem duas curvas de Lorenz e estão
representadas na Figura 2.1.
No eixo vertical do gráfico estão representados os percentuais acumulados das rendas recebidas
pela população e, no eixo horizontal, os percentuais acumulados da população. A curva de Lorenz
para o período 1 é y1 (Renda 1970) e, para o período 2, é y2 (renda 1990).
100
80
% Acumulado da Renda
60 Reta y
y1=Renda 70
40
y2=Renda 90
20
0
0 25 50 75 100
% Acumulado da População
Unindo-se os pontos extremos dessa curva [(0, 0) e (100, 100)], obtém-se a reta y, de 45o,
representando a perfeita igualdade na distribuição da renda: o mesmo percentual da população, em
cada classe, recebe o mesmo percentual da renda, ou seja: 25% da população mais pobre, receberia
25% da renda nacional; os 25% menos pobres, mais 25%; e, assim, sucessivamente, culminando-se
com os 25% mais ricos recebendo também 25% da renda nacional. À medida em que a curva de
Lorenz afasta-se da reta y, da perfeita igualdade, a distribuição de renda nacional piora, como y2
(Renda 90), cuja distribuição é pior em 1990 do que a distribuição representada por y1, em 1970.
O coeficiente de Gini (CG) pode ser calculado dividindo-se a área entre a reta y e a curva de
Lorenz y1, (para 1970) ou entre a reta y e a curva de Lorenz y2 (para 1990), pela área do triângulo
formado pela reta y, o eixo horizontal e o eixo vertical do lado direito da figura, como segue:14
14
A área do triângulo entre a diagonal e os eixos horizontal e vertical da direita é igual a: (base * altura) / 2 = (1 * 1) / 2 = 0,5. A
área C entre a Curva de Lorenz e os eixos pode ser calculada, aproximadamente, dividindo-se essa área em triângulos e quadriláteros.
Somando-se as áreas desses triângulos e quadriláteros tem-se a área C. A área entre a diagonal e a curva de Lorenz é igual a: 0,5 – C.
Aplicando-se a fórmula (1) acima, tem-se que CG = (0,5 – C) / 0,5.
25
0,275 em 1970, passando para 0,475 em 1990. A concentração da renda aumentou: a participação
dos mais ricos na renda nacional cresceu e a participação dos mais pobres se reduziu. A piora na
distribuição de renda pode ser constatada pelo fato de que a curva de Lorenz y2 está em 1990 mais
distante da diagonal da perfeita igualdade.
No Brasil, a distribuição de renda piorou entre 1960 e 1985 e melhorou entre 1985 e 1993. O
índice de Gini do Brasil passou de 0,50, em 1960, para 0,66, em 1985, caindo para 0,60 em 1993.
Com o advento do Plano Real, estudos recentes mostram que a distribuição de renda melhorou entre
1994 e 1997, mas piorou nos últimos anos, pelo aumento do desemprego.
A população brasileira de menor renda, entretanto, empobreceu. Em 1960, os 10% mais pobres
detinham 1,9% da renda, percentual que caiu para 0,7% em 1993; enquanto 1% da população mais
rica, que detinha 12,1% da renda nacional, em 1960, passou para 15,5%, em 1993 (cfe. IBGE).
O mesmo fenômeno ocorreu nos Estados Unidos: em 1973, os 20% mais pobres recebiam 5,5%
da renda nacional, passando para 4,2%, em 1991; enquanto os 20% mais ricos aumentaram sua
participação de 41,1%, para 44,2%, no mesmo período (Miller, 1994, p.711).
No longo prazo, a visão otimista da economia afirma que o progresso tecnológico aumentará
o bem-estar do conjunto da população, alimentando e vestindo a todos e ofertando um conjunto de
bens variados, incluindo novos medicamentos para a cura de doenças, como câncer e AIDS. No
entanto, os novos produtos, que estimulam o capitalismo por serem ofertados a altos preços,
requerem aumento do poder de compra do conjunto da população.
Isso leva os economistas a acreditar que, em um determinado momento do tempo, todas as
necessidades estarão saciadas e as inovações tecnológicas deixarão de ocorrer. A sociedade estará
então em um estado estacionário de crescimento nulo tanto para a população como para a renda.
Esse estado estacionário, sem acumulação de capital, seria o socialismo.
5 - SOCIALISMO
desaparecimento dos capitalistas. A economia socialista seria “superior” à economia capitalista por
três razões (Singer, 1990, p. 158):
a) sendo a economia planificada, ela não estaria mais sujeita às crises, ao desemprego e ao
desperdício de recursos;
b) com o desaparecimento das classes sociais, todos seriam proletários e desapareceria a
propriedade privada dos meios de produção;
c) aumentaria o bem-estar dos mais pobres, com a supressão dos ricos, implicando na
substancial redução das desigualdades econômicas entre as pessoas.
Contudo, existem controvérsias acerca das possibilidades do sistema de economia planificada
manter-se em crescimento contínuo ao longo do tempo. Ocorrem conquistas sociais, mas o
crescimento econômico não é suficiente para elevar o bem estar do conjunto da população. Isso
explica o atraso de economias como a albanesa e a cubana, dependente no passado da ajuda russa.
A dissolução da União-Soviética e o surgimento do modo de produção capitalista nos países
desmembrados resultantes, assim como na China e nos demais países do Leste Europeu, contradiz a
suposição marxista da superioridade do socialismo.
Na teoria marxista, o capitalismo constitui uma etapa para a economia alcançar o socialismo. A
Rússia e os demais países do Leste Europeu adotaram o comunismo sem estarem industrializados.
Através da planificação central, o Estado procurou implantar infra-estruturas e desenvolver a
indústria. Controlando centralmente os preços e as quantidades a serem produzidas em cada região,
produto por produto, o sistema gerou uma enorme burocracia, o que dificultou o desenvolvimento
econômico.
O resultado foi o fim da União Soviética em dezembro de 1991, sendo substituída pela
Comunidade dos Estados Independentes, um simples fórum de coordenação das repúblicas, sem um
governo central. Em 1992, o Presidente Yeltsin anunciou um programa de desestatização da
economia e liberalização de preços. A transição para o capitalismo, rota inversa preconizada por
Marx, trouxe aos russos inflação, recessão, desemprego e o crime organizado.
Na Alemanha, caiu o muro de Berlim em novembro de 1989, abrindo o caminho para a
reunificação das duas Alemanhas. A unificação monetária ocorreu em julho de 1990 e a unificação
política em outubro do mesmo ano. A Alemanha ocidental gastou bilhões de dólares com a
reunificação, mas o desemprego ainda é elevado, principalmente do lado oriental.
Cuba e a Albânia ainda resistem em retornar ao sistema de livre mercado e o isolamento
internacional tem restringido o desenvolvimento desses dois países. Cuba vem sofrendo pressões
dos líderes russos, desde 1985, para promover uma abertura econômica e política. O fim da União
Soviética, em 1991, implicou no fim da ajuda econômica que Cuba vinha recebendo, o que causou
um grande colapso financeiro no país. Sua situação econômica piorou ainda mais com o aumento do
embargo econômico norte-americano, após 1992. Privado do petróleo russo e com as exportações
em queda, a partir de 1995, Cuba promoveu o ingresso do capital estrangeiro em vários setores,
exceto na saúde, educação e defesa. A pálida abertura econômica não foi seguida pela abertura
política, pois Fidel Castro ainda insiste em permanecer no poder.
A Albânia, no entanto, embora fechada ao exterior, promoveu algumas concessões, após as
primeiras greves e manifestações em 1990. Ela permitiu a formação de partidos de oposição e
reintroduziu a liberdade religiosa (o ateísmo era a religião oficial). Em 1991, diante de novas
manifestações e da fuga de 15 mil refugiados albaneses para a Itália, o Governo albanês convocou
eleições diretas. Nessa transição para o capitalismo, a economia albanesa encontra-se desmantelada,
com dois terços da indústria desativados e queda da produção de cereais, necessitando a população
da ajuda de organismos internacionais. Em 1997, a taxa de desemprego chegava a 25% da
população em idade economicamente ativa.
Apesar das dificuldades da implantação de uma economia socialista, as economias liberais têm
sido criticadas pela persistência do desemprego, dando surgimento a chamada terceira via, sob a
liderança do Tony Blair, exercendo o cargo de Primeiro Ministro da Inglaterra desde 1997. Blair
27
chegou ao poder depois de convencer o Partido Trabalhista a substituir o quarto parágrafo de seus
estatutos, de 1918, em que propugnava pela “propriedade comum dos meios de produção,
distribuição e comércio”, pela intenção de criar uma sociedade “em que o poder, a riqueza e as
oportunidades estejam em mãos de muitos e não de poucos”.
Essa mudança de postura afastou o Partido Trabalhista inglês da ideologia socialista e o
aproximou da economia de mercado e pela condução coerente da política econômica por parte do
Governo. Por exemplo, como medidas de saneamento econômico do Estado, em janeiro de 1998
Blair anunciou cortes em determinados gastos sociais, como redução das despesas da previdência
social, e estímulo a setores industriais dinâmicos. Com isso, a economia cresceu e a taxa de
desemprego se reduziu para cerca de 5%.
Em sua obra Teoria geral do emprego, juro e da moeda, John Maynard Keynes (1883-1946)
procurou apontar soluções para a crise do mundo capitalista (Keynes, 1990). Ele explicou que o
valor dos bens e serviços produzidos pelas empresas tem uma contrapartida de renda, que são os
salários, juros, aluguéis, impostos e lucros; que essas rendas, encaradas como custos pelas firmas,
28
na verdade vão ser gastas em novos bens e serviços. O mesmo raciocínio vale para a economia em
seu conjunto. Se parte da população não pode gastar, por não ter um emprego, a economia estará
impossibilitada de produzir em níveis mais altos.
Esse é o fluxo circular de produto e renda, cujo funcionamento não é automático e possui
vazamentos: parte do dinheiro não gasto permanece entesourado em casa ou nos bancos. Em outras
palavras, o problema existe porque parte da poupança não é emprestada e, portanto, não participa
dos gastos. Desse modo, a demanda efetiva (YD) tende a ficar aquém das possibilidades de produção
da economia (YS). Keynes identificou outros vazamentos, que ocorrem com as importações e com o
pagamento de impostos.
Para que esses vazamentos sejam compensados, em caso de recessão (YD < YS) é preciso que:
(a) os bancos elevem seus empréstimos para consumo e investimento;
(b) as exportações sejam estimuladas; e,
(c) o Governo aumente seus gastos.
O maior fluxo de renda resultante estimulará a demanda agregada (YD), retomando-se o caminho
da prosperidade. No entanto, é necessário que os gastos com investimento (I) sejam iguais às
poupanças (S) realizadas em cada período. Como as rendas aumentam com a prosperidade geral da
economia e o consumo não cresce na mesma proporção, haverá uma tendência de S expandir-se de
modo mais acelerado. Assim, o investimento precisa crescer cada vez mais para absorver esse
excesso de poupança e manter o equilíbrio entre demanda agregada e oferta agregada (YD = YS).
Contudo, as oportunidades de negócios rentáveis nem sempre são suficientes para manter esse ritmo
acelerado de crescimento do investimento.
Sendo S > I, o Governo precisa aumentar seus gastos para compensar o excesso de poupança.
Keynes preferia que os gastos do Governo fossem investimentos em áreas sociais, como escolas,
estradas e hospitais, que acabariam beneficiando também o setor produtivo. Esses preceitos
keynesianos tornaram-se aceitos, ao ponto do Congresso norte-americano aprovar, em 1946, a Lei
do Emprego, segundo a qual o Governo passou a ter obrigação de utilizar impostos na preservação
do nível do emprego.
Keynes baseou sua teoria na rigidez de salários (w), devido à existência de contratos. Como os
preços (P) também são relativamente inflexíveis, pela concorrência e a própria recessão, o ajuste,
para evitar maiores quedas do nível de lucro (π), é feito pela demissão de trabalhadores (L). Isso
pode ser demonstrado como segue: supondo que os custos das empresas sejam predominantemente
com salários (wL), então o lucro será a receita total (PQ) - wL. Com a recessão, as quantidades Q se
reduzem, assim como os preços; para evitar maiores reduções dos lucros, os salários w precisariam
se reduzir, como eles são inflexíveis, então as empresas demitem trabalhadores (L se reduz).
Este é o desemprego keynesiano, ou desemprego involuntário, situação em que a pessoa não
encontra trabalho aos salários vigentes. Os economistas clássicos só admitiam o desemprego
voluntário (as pessoas não aceitam trabalhar aos salários oferecidos) e o desemprego temporário,
existente enquanto as pessoas trocam de emprego, ao passarem de uma atividade para outra.
Com a grande crise econômica dos anos de 1930, os economistas liberais passaram a dividir-se
em neoclássicos conservadores e em neoclássicos liberais. Estes últimos começaram a aceitar
alguma participação do Estado na vida econômica. Para eles, a concorrência não existe em sua
forma pura e irrestrita liberdade de mercado gera muita instabilidade. Argumentam que o Governo
pode reduzir essa instabilidade mediante políticas monetárias e fiscais apropriadas (Hunt, 1982:
479).
Seguindo a linha de Pigou, reconhecem a existência de externalidades e recomendam a ação do
Governo. Da mesma forma, no caso dos bens públicos (segurança, estradas, escolas, saúde pública),
o Governo participa de sua produção, ou a delega a particulares, mediante contratos de concessão
de serviços públicos. Portanto, concordam que apenas a ação da “mão invisível” não se mostra
29
15
Samuelson nasceu em 1915 e recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1970; foi professor do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, autor da importante obra Fundamentos da análise econômica, publicada em inglês, em 1947, e em português, em
1983 (Samuelson, 1983).
16
Ver Glossário.
30
Outras correntes do pensamento econômico tem se destacado desde a segunda metade do século
passado. Com relação à inflação, a maioria concorda que ela tem tanto causas reais do lado dos
custos (inflação de custos), como causas monetárias do lado da demanda (inflação de demanda).
Pressões de custos (aumento de salários e de preços de matérias-primas importadas, por exemplo)
elevam a inflação porque as firmas tendem a repassar esses aumentos para os preços de seus
produtos. Aumento dos meios de pagamentos (maior volume de dinheiro em circulação) e
facilidades de crédito (como juros mais baratos), estimula a demanda por parte dos consumidores o
que sanciona as elevações de preços.
Com a globalização, aumentou a interação entre os países e cresceu o comércio mundial. Está
se tornando também mais difícil para o Brasil aumentar rapidamente as suas exportações de
produtos manufaturados, tendo em vista a grande concorrência existente por parte dos novos países
industrializados e com níveis de desenvolvimento similares. Exportar mais exige maior volume de
crédito e os recursos financeiros são escassos. É preciso também reduzir a carga tributária das
empresas exportadoras, o que não pode ser feito na intensidade desejada porque o Governo não
pode abrir mão de receitas, a fim de cobrir suas despesas.
Outro ponto que precisa ser levado em conta, para aumentar a competitividade dos produtos
brasileiros no exterior, é aumentar a qualidade e reduzir os custos médios de produção. Isso requer
novos investimentos em novos equipamentos e em treinamento de pessoal e em educação geral.
Nesse sentido, as novas teorias do crescimento econômico tem apontado que o capital e o trabalho
não são os únicos fatores de crescimento, cabendo especial destaque ao capital humano e às novas
tecnologias. O progresso técnico passa a ter um papel ativo, determinado por investimentos em
novas tecnologias e em capital humano, o que gera aumentos de produtividade e rendimentos
crescentes à escala.
BIBLIOGRAFIA
HUGON, Paul. História das Doutrinas Econômicas. São Paulo : Atlas, 1988.
HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico : uma perspectiva crítica. Rio de Janeiro:
Campus, 1982.
OSER, Jacob, BLANCHFIELD, William C. História do Pensamento Econômico. São Paulo : Atlas,
1983.
SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. 4 ed., São Paulo : Atlas, 1999.
SOUZA, Nali de Jesus. Curso de Economia. 2 ed., São Paulo : Atlas, 2003.