You are on page 1of 52

CEN – CENTRO EDUCACIONAL NAZARENO

STNB - Seminário Teológico Nazareno do Brasil

História Eclesiástica I

Thiago Mota Estevam


2

HISTÓRIA DA IGREJA
Os cristãos nutrem um interesse especial pela história, porque os
fundamentos da sua fé estão firmados na história. Deus fez-se homem e
viveu no tempo e no espaço na pessoa de Cristo. O Cristianismo tem
sido a mais global e universal de todas as religiões que surgiram no
passado no Oriente Próximo e no Oriente Médio. Além disso, tem sido
cada vez mais influente na história da raça humana. A história da igreja
é, pois, um assunto de enorme relevância para o cristão que deseja
estar informado sobre sua herança espiritual, para imitar os bons
exemplos do passado, e evitar os erros que a igreja freqüentemente
tem cometido.

A Bíblia Contém a História de Cristo


A Igreja Existe Para Contar a História de Cristo
A História da Igreja é a Continuação da História de
Cristo
Para mostrar a relação em que estamos para com a história
bíblica e crendo que o povo da Igreja deve familiarizar-se pelo menos
com os fatos elementares da história da mesma Igreja, apresentamos
aqui breve esboço de suas partes essenciais, seus principais eventos e
personalidades.
É impossível entender as condições atuais da cristandade a não ser à
luz da História. A ignorância da História da Igreja está mais generalizada
do que a ignorância da Bíblia. Um dos principais deveres dos ministros é
ensinar à sua gente os fatos da História da Igreja.

A História Universal é Comumente Dividida em Três


Períodos:

ANTIGA: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma.


MEDIEVAL: Da queda de Roma à Queda de Constantinopla
MODERNA: Do século 15 aos Tempos Atuais.

A História da Igreja é Comumente Dividida em Seis


Períodos:

PERIODO APOSTÓLICO: Desde a Ascensão de Cristo, 30 d.C. até a


morte de João, 100 a.D.
PERÍODO DE PERSEGUIÇÔES: Desde a morte de João, 100 a D. até o
Edito de Constantino, 313 a.D.
PERIODO DA IGREJA IMPERIAL: desde o Edito de Constantino, 313
a.D. até a queda de Roma, 476 a.D.
PERÍODO MEDIEVAL: Desde a queda de Roma, 476 a.D. até a queda
3

de Constantinopla, 1453 a.D.


PERÍODO DA IGREJA REFORMADA: Desde a queda de
Constantinopla, 1453 a.D. até ao fim da Guerra dos trinta anos, 1648
a.D.
PERÍODO MODERNO: Desde o fim da Guerra dos trinta anos, 1648
a.D. até nossos dias.
4

I PERÍODO
A Igreja Apostólica Pentecostal ou Era Apostólica

A igreja “cristã” em todas as épocas, quer na passada, presente ou


futura, é formada por todos aqueles que crêem em Jesus de Nazaré, o
Filho de Deus.
A igreja de Cristo iniciou sua história com um movimento de caráter
mundial, no Dia de Pentecostes, no fim da primavera do ano 30,
cinqüenta dias após a ressurreição do Senhor Jesus, e dez dias depois
de sua ascensão ao céu.
Na manhã do Dia de Pentecostes, enquanto os seguidores de Jesus,
120 ao todo, estavam reunidos, orando, o Espírito Santo veio sobre eles
de forma maravilhosa. Tão real foi aquela manifestação, que foram
vistas, descer do alto, como que línguas de fogo, as quais pousaram
sobre a cabeça de cada um. O efeito deste acontecimento foi tríplice:

1. Iluminou as mentes dos discípulos, dando-lhes um novo conceito do


reino de Deus.

2. Compreenderam que este reino não era um império político mas um


reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado, que governava de
modo invisível a todos aqueles que o aceitavam pela fé.

3. Aquela manifestação revigorou a todos, repartindo com eles o fervor


do Espírito, e o poder de expressão que fazia de cada testemunho
um motivo de convicção naqueles que os ouviam.

O Espírito Santo, desde então, ficou morando permanentemente na


igreja, não em sua organização ou mecanismo, mas como possessão
individual e pessoal do verdadeiro cristão.
A igreja teve seu início na cidade de Jerusalém. Evidentemente, nos
primeiros anos de sua história, as atividades da igreja limitaram-se
àquela cidade e arredores.
Todos os membros da Igreja Pentecostal eram judeus. Os judeus da
época dividiam-se em três classes, e as três estavam representadas na
igreja de Jerusalém. Os hebreus eram aqueles cujos antepassados
haviam habitado a Palestina durante várias gerações, eram eles a
verdadeira raça israelita. Seu idioma era chamado “língua hebraica”,
a qual, no decorrer do tempo, havia mudado de hebraico clássico para
um dialeto que se chamava aramaico ou siro-caldaico. As escrituras
eram lidas nas sinagogas em hebreu antigo, porém eram traduzidas por
um intérprete, frase por frase, em linguagem popular. Os judeus
gregos ou helenistas eram descendentes dos judeus da dispersão,
isto é, judeus cujo lar ou cujos antepassados estavam em terras
estrangeiras. Depois da conquista do Oriente por Alexandre o Grande, o
grego chegou a ser o idioma predominante em muitos países e até
5

mesmo em Roma e por toda a Itália. Por essa razão os judeus de


ascendência estrangeira eram chamados “gregos” ou “helenistas”.

Os prosélitos eram pessoas não descendentes de judeus, as


quais renunciavam ao paganismo, aceitavam a lei judaica e
passavam a pertencer a igreja judaica, recebendo o rito da
circuncisão. Apesar de serem minoria, gozavam de todos privilégios do
povo judeu.
Em uma igreja comparativamente pequena em número, todos da
mesma raça, todos obedientes à vontade do Senhor, todos na
comunhão do Espírito de Deus, portanto, pouco governo humano era
necessário. Este governo era administrado pelos doze apóstolos, os
quais atuavam como um só corpo. Uma frase que se lê em Atos 5:13
indica o alto conceito em que eram tidos os apóstolos, tanto pelos
crentes como pelo povo.
No início a teologia ou crenças da igreja eram simples. A doutrina
sistemática foi desenvolvida mais tarde por meio de Paulo.
Entretanto podemos encontrar nos sermões de Pedro três pontos
doutrinários considerados essenciais:

1. Caráter messiânico de Jesus, isto é, que Jesus de Nazaré era o


Messias, o Cristo esperado durante tanto tempo por Israel, e que
agora reinava no reino invisível do céu, e ao qual todos os membros
da igreja deviam demonstrar lealdade pessoal, reverência e
obediência.

2. A ressurreição de Jesus, ou seja, Jesus foi crucificado, ressuscitado


dos mortos e agora estava vivo, como cabeça da igreja, para nunca
mais morrer.

3. A segunda vinda de Cristo, isto é, o mesmo Jesus que foi elevado


ao céu, no tempo determinado voltaria à terra, para reinar com sua
igreja.

Inicialmente, o grandioso esforço desse punhado de homens de


visão necessitava de auxílio sobrenatural, uma vez que se propunha,
sem armas materiais nem prestígio social, transformar uma nação,
tendo de enfrentar também os poderes da igreja nacional e do Estado.
Esse auxílio sobrenatural manifestou-se na forma de operação de
maravilhas. Os milagres apostólicos foram considerados como “os sinos
que chamavam o povo à adoração” Lemos muitos milagres no livro dos
Atos dos Apóstolos que atraiam a atenção de multidões que motivados
pela curiosidade acabavam ouvindo a palavra e aceitando a Cristo.
Contudo este poder não estava limitado a Pedro nem aos
apóstolos. Está escrito que “prodígios e milagres” eram realizados pelo
diácono Estevão.
Lemos no livro de Atos que os mais ricos davam suas propriedades
6

de forma tão liberal, que leva a sugerir o socialismo radical na


comunhão de bens.
No entanto, é bom notar, que quanto a esse aspecto da Igreja
Pentecostal, tudo era feito voluntariamente, ninguém era compelido
pela lei ou pela exigência dos pobres em tomar as propriedades dos
ricos. Os ricos davam voluntariamente.
De modo geral, a Igreja Pentecostal não tinha faltas. Era poderosa
na fé e no testemunho, pura em seu caráter, e abundante no amor,
entretanto, o seu singular defeito era a falta de zelo missionário.
Permaneceu em seu território, quando deveria ter saído para outras
terras e povos. Foi necessário o surgimento da severa perseguição, para
que se decidisse a ir a outras nações e desempenhar a sua missão
mundial. E assim aconteceu mais tarde.
A EXPANSÃO DA IGREJA
Entramos agora em uma época da história cristã, que foi de alta
significação. Nessa época decidiu-se a importantíssima questão: se o
Cristianismo devia continuar como uma obscura seita judaica, ou se
devia transformar-se em igreja cujas portas permanecessem para
sempre abertas a todo mundo.
Na igreja de Jerusalém surgiu uma queixa contra o critério na
distribuição de auxílios aos pobres, pois as famílias dos judeus-gregos
ou helenistas eram prejudicadas. Os apóstolos convocaram a igreja e
propuseram a escolha de uma comissão de ordem material. Esse plano
foi adotado, e sete homens foram escolhidos, figurando em primeiro
lugar o nome de Estevão, “homem cheio do Espírito Santo”. Apesar de
haver sido escolhido para um trabalho secular, bem depressa atraiu as
atenções de todos para seu trabalho de pregador. Da acusação
levantada contra ele, foi preso pelas autoridades judaicas e da sua
mensagem de defesa, é evidente que Estevão proclamou a Jesus como
Salvador, não somente para os judeus, mas também para os gentios.
Parece que Estevão foi o primeiro membro da igreja a ter a visão do
evangelho para o mundo inteiro, e esse ideal levou-o ao martírio.
Entre os que ouviram a defesa de Estevão, e que se encolerizaram
com as suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade
judaica daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade das costas
da Ásia Menor, chamado Saulo. Esse jovem havia sido educado sob a
orientação do famoso rabino Gamaliel, conhecido e respeitado
intérprete da lei judaica. Saulo participou do apedrejamento de Estevão,
e logo a seguir fez-se chefe de terrível e obstinada perseguição contra
os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres. A
igreja em Jerusalém dissolveu-se nesta ocasião, e seus membros
dispersaram-se por vários lugares. Entretanto, onde quer que
chegassem, a Samaria ou a Damasco, ou mesmo na longínqua
Antioquia da Síria, eles se constituíam em pregadores do evangelho e
estabeleciam igrejas. Dessa forma o ódio feroz de Saulo era um fator
favorável à propagação do evangelho e da igreja.
Alguns fatos significativos que observamos depois disso é o de
7

Filipe começar a pregar o evangelho e estabelecer uma igreja entre os


samaritanos - a primeira igreja fora dos círculos judaicos - e isto
demonstrava que ele havia se libertado do preconceito dos judeus. Mais
tarde encontramos Filipe a pregar e a estabelecer igrejas nas cidades
costeiras de Gaza, Jope e Cesaréia.
Em uma de suas viagens relacionadas com a inspeção da igreja,
Pedro chegou a Jope, cidade situada no litoral. Ali, Tabita ou Dorcas foi
ressuscitada. Nessa cidade Pedro permaneceu por algum tempo em
companhia de outro Simão, o curtidor. O fato de Pedro, sendo judeu,
permanecer em companhia de um curtidor significa que Pedro se
libertara das restritas regras dos costumes judeus, pois todos os que
tinham o ofício de curtidor eram considerados “imundos” pela lei
cerimonial.
Foi em Jope que Pedro teve a visão do que parecia ser um grande
lençol que descia, no qual havia de todos os animais, e foi-lhe dirigida
uma voz que dizia: “não faças tu imundo ao que Deus purificou”. Nessa
ocasião chegaram a Jope mensageiros vindos da Cesaréia, que fica
cerca de quarenta e oito quilômetros ao norte, e pediram a Pedro que
fosse instruir a Cornélio, um oficial romano temente a Deus.
Pedro foi a Cesaréia sob direção do Espírito Santo, pregou o
evangelho a Cornélio e aos que estavam em sua casa, e os recebeu na
igreja mediante o batismo. O Espírito de Deus sendo derramado como
no dia de Pentecostes testificou sua aprovação divina. Dessa forma, foi
divinamente sancionada a pregação do evangelho aos gentios e sua
aceitação na igreja.
Nessa época, possivelmente um pouco antes de Pedro haver
visitado Cesaréia, Saulo, o perseguidor, foi surpreendido no caminho de
Damasco por uma visão de Jesus ressuscitado. Saulo, que fora o mais
temido perseguidor do evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso
defensor. Sua oposição fora dirigida especialmente contra a doutrina
que eliminava a barreira entre judeus e gentios. Entretanto, quando se
converteu, Saulo adotou imediatamente os mesmos conceitos de
Estevão, e tornou-se ainda maior do que ele na ação de fazer prosperar
o movimento de uma igreja universal, cujas portas estivesse abertas a
todos os homens, quer fossem judeus, quer fossem gentios. Em toda a
história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe
resultados tão importantes e fecundos para o mundo inteiro
como a conversão de Saulo, o perseguidor, e mais tarde, o
apóstolo Paulo.
Na perseguição iniciada com a morte de Estevão, a igreja em
Jerusalém dispersou-se por toda a parte. Alguns de seus membros
fugiram para Damasco; outros foram para Antioquia da Síria, distante
cerca de 480 quilômetros. Em Antioquia os fugitivos freqüentavam as
sinagogas judaicas e davam seu testemunho de Jesus, como sendo o
Messias esperado. Em todas as sinagogas havia um local separado para
os adoradores gentios; muitos destes ouviram o evangelho em
Antioquia e aceitaram a fé em Cristo. Dessa forma floresceu uma igreja
8

em Antioquia, na qual judeus e gentios adoravam juntamente e


desfrutavam o mesmo privilégio. Quando as notícias desses fatos
chegaram a Jerusalém, a igreja ficou alarmada e enviou um
representante para examinar as relações dos judeus com os gentios.
Felizmente, e para o bem de todos, a escolha do representante
recaiu sobre Barnabé, homem de idéias liberais, coração grande e
generoso. Barnabé foi a Antioquia, observou as condições, e, em lugar
de condenar a igreja local por sua liberalidade, alegrou-se com essa
circunstância, endossou a atitude dos crentes dali e permaneceu em
Antioquia a fim de participar daquele movimento. Anteriormente
Barnabé havia manifestado sua confiança em Saulo. Desta vez Barnabé
viajou para Tarso, cerca de 160 quilômetros de distância, trouxe consigo
para Antioquia a Paulo, e fê-lo seu companheiro na obra do evangelho.
A igreja em Antioquia, com esses reforços, elevou-se a tal
proeminência, que ali, pela primeira vez, os seguidores de Cristo foram
chamados “cristãos”, nome dado não pelos judeus, mas pelos gregos.
Os discípulos de Antioquia enviaram auxílio aos crentes pobres da
Judéia, no tempo da fome, e seus dirigentes foram figuras eminentes na
igreja primitiva.
Até então, os membros gentios da igreja eram somente aqueles
que espontaneamente a procuravam. Daí em diante, sob a direção do
Espírito Santo e de acordo com os anciãos, os dois dirigentes de maior
destaque na igreja de Antioquia foram enviados em missão
evangelizadora a outras terras, pregando tanto para judeus como para
gentios.

Entretanto os mestres progressistas, encabeçados por Paulo e


Barnabé, declaravam que o evangelho era para judeus e para os
gentios, sobre a mesma base da fé em Cristo, sem levar em conta as
leis judaicas. Entre esses dois grupos surgiu então uma controvérsia que
ameaçou dividir a igreja. Finalmente, realizou-se um concílio em
Jerusalém para resolver o problema das condições dos membros gentios
e estabelecer regras para a igreja no futuro. Convém registrar que
nesse concílio estiveram representados não somente os apóstolos, mas
também os anciãos e “toda a igreja”. Paulo e Barnabé, Pedro e Tiago,
irmão do Senhor participaram dos debates.
Chegou-se, então, a esta conclusão: “A lei alcançava somente os
judeus e não os gentios crentes em Cristo. Os gentios podiam pertencer
à igreja cristã mediante a fé em Cristo e uma vida reta, sem
submeterem-se às exigências da lei” (Concílio de Jerusalém).
A igreja ficou com a liberdade para iniciar uma obra de maior vulto.
Com essa resolução completou-se o período de transição de todas as
raças e nações. O evangelho podia, agora, avançar em sua constante
expansão.
Na época do Concílio de Jerusalém, no ano 50, não havia sido
escrito nenhum dos livros do Novo Testamento. A igreja, para
conhecimento da vida e dos ensinos do Salvador, dispunha tão somente
9

das memórias dos primitivos discípulos. Entretanto, antes do final


deste período, 68 a.D., grande parte dos livros do Novo
Testamento já estavam circulando, inclusive os evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas e as epístolas de Paulo, Tiago, 1 Pedro
e talvez 2 Pedro, embora questões tenham sido levantadas quanto a
autoria dessa última. Deve-se lembrar que é provável que a epístola aos
Hebreus tenha sido escrita depois da morte de Paulo, não sendo,
portanto, de sua autoria.
À medida que o evangelho ganhava adeptos no mundo pagão, os
judeus se afastavam dele e crescia cada vez mais o seu ódio contra o
Cristianismo. Em quase todos os lugares onde se manifestaram
perseguições contra os cristãos, nesse período, elas eram instigadas
pelos judeus.
Milhares de cristãos foram presos, torturados e mortos, entre os
quais se conta o apóstolo Pedro, que foi crucificado no ano 67, e
bem assim o apóstolo Paulo, que foi decapitado no ano 68. (Essas
datas são aproximadas, pois os apóstolos podem ter sido martirizados um ou
dois anos antes).
Após o desaparecimento de Paulo, durante um período de cerca de
cinqüenta anos uma cortina pende sobre a igreja. Apesar do esforço que
fazemos para olhar através da cortina, nada se observa. Finalmente,
cerca do ano 120, nos registros feitos pelos “Pais da Igreja” deparamos
com uma igreja em vários aspectos, muito diferente da igreja apostólica
dos dias de Pedro e de Paulo.
A queda de Jerusalém no ano 70 impôs grande transformação
nas relações existentes entre cristãos e judeus. De todas as províncias
dominadas pelo governo de Roma, a única descontente e rebelde era a
Judéia.
Por volta do ano 66, os judeus rebelaram-se, abertamente,
apesar de não terem, desde o início condições de vencer. Era
uma das menores províncias, cujos homens desconheciam o
adestramento militar, contra um império de cento e vinte milhões de
habitantes, com duzentos e cinqüenta mil soldados disciplinados em
guerra. Vespasiano, o principal general romano, conduziu um grande
exército até a Palestina. Entretanto, logo depois foi chamado a Roma
para ocupar o trono imperial. Ficou então na Palestina, chefiando o
exército romano, o general Tito, filho de Vespasiano. Depois de
prolongado cerco, agravado pela fome e pela guerra civil dentro dos
muros, a cidade de Jerusalém foi tomada e destruída pelos exércitos
romanos. Milhares e milhares de judeus foram mortos, e outros milhares
foram feitos prisioneiros, isto é, escravos. O famoso Coliseu de Roma foi
construído pelos judeus prisioneiros, os quais foram obrigados a
trabalhar como escravos, e alguns deles trabalharam até morrer. A
nação judaica, depois de treze séculos de existência, foi assim
destruída. Sua restauração deu-se no dia 15 de maio de 1948.
Na queda de Jerusalém morreram poucos cristãos; talvez, nenhum.
Atentos às declarações proféticas de Cristo, os cristãos foram
10

admoestados e escaparam da cidade ameaçada; refugiaram-se em


Pela, no Vale do Jordão.
Entretanto, o efeito produzido na igreja pela destruição da
cidade foi que pôs fim, para sempre, nas relações entre o
Judaísmo e o Cristianismo. Até então, a igreja era considerada pelo
governo romano e pelo povo, em geral, como um ramo da religião
judaica. Mas, dali por diante judeus e cristãos separaram-se
definitivamente.
No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em
todas as nações e em quase todas as cidades, desde o Tibre ao
Eufrates, desde o Mar Negro até ao norte da África, e alguns crêem que
se estendia até a Espanha e Inglaterra, no Ocidente.
No final do primeiro século, as doutrinas ensinadas pelo apóstolo
Paulo na epístola aos Romanos eram aceitas por toda a igreja, como
regra de fé.
O batismo, principalmente por imersão, era o rito de iniciação na
igreja em toda parte. Contudo, no ano 120 aparecem menções do
costume de batismo por aspersão; isso quer dizer que nesse tempo já
estava em uso. O dia do Senhor era observado de modo geral, apesar
de não o ser de forma estrita, como um dia absolutamente separado.
Enquanto a igreja fora composta de maioria judaica, se observava o
sábado; agora o primeiro dia da semana, pouco a pouco, tomava o lugar
do sétimo. Já nos dias de Paulo havia igrejas que se reuniam no primeiro
dia da semana.
O plano das reuniões nas assembléias cristãs era uma derivação
das reuniões das sinagogas judaicas. Liam-se as escrituras do antigo
testamento e porções das cartas apostólicas, os evangelhos, os salmos
da Bíblia e hinos cristãos eram cantados. As orações diferiam das que se
faziam nas sinagogas, porque nas assembléias cristãs eram
espontâneas; e o uso da palavra era oferecido, sem restrições aos
irmãos visitantes. No final das reuniões era freqüente participarem da
Ceia do Senhor.
O último sobrevivente dos apóstolos foi João, que morou na
cidade de Éfeso até ao ano 100.
11

PAIS DA IGREJA

Policarpo. 69-156 d.C. (86 anos). Discípulo do apóstolo João e


bispo de Esmirna. Na perseguição ordenada pelo imperador, foi preso e
levado à presença do governador. Ofereceram-lhe a liberdade, se
amaldiçoasse a Cristo e abandonasse sua fé, mas ele respondeu:
“Oitenta e seis anos faz que sirvo a Cristo e Ele só me tem feito bem;
como podia eu, agora, amaldiçoá-Lo, sendo Ele meu Senhor e Salvador
?“ Foi queimado vivo.

Inácio. 67-110 d.C. (43 anos). Discípulo de João bispo de Antioquia.


O imperador Trajano, visitando essa cidade, mandou prendê-lo; ele
mesmo presidiu o julgamento e sentenciou que Inácio fosse lançado às
feras em Roma. De viagem para esta cidade, escreveu uma carta aos
cristãos romanos, pedindo-lhes que não tentassem conseguir o seu
perdão; ansiava ter a honra de morrer pelo seu Senhor, dizendo: “As
feras atirem-se com avidez sobre mim. Se elas não se dispuserem a
isto, eu as provocarei. Vinde, multidões de feras; vinde, lacerai-me,
estraçalhai-me, quebrai-me os ossos, triturai-me os membros; vinde,
cruéis torturas do demônio; deixai-me apenas que eu me una a Cristo.”
Regozijou-se no martírio.

Papias. Cerca de 70-155 d.C. (85 anos). Outro discípulo do


Apóstolo João e bispo de Hierápolis, uns 160Km a leste de Éfeso. Pode
ter conhecido Filipe, que, segundo uma tradição, morreu em Hierápolís.
Escreveu um livro: “Interpretações dos discursos do Senhor”, onde diz
que se empenhou em inquirir dos presbíteros, as palavras exatas de
Jesus. Sofreu martírio em Pérgamo mais ou menos ao tempo de
Policarpo. Estes, Inácio e Papias, formam o elo de ligação entre a
era apostólica e a posterior.

Flávio Justino, o Mártir. 100-167 d.C. (67 anos). Nasceu em


Neápolis, antiga Siquém, mais ou menos quando João morreu. Estudou
filosofia. Quando moço, assistiu a muita perseguição movida aos
cristãos. Converteu-se. Viajou vestido num manto de filósofo,
procurando ganhar pessoas para Cristo. Escreveu uma defesa do
cristianismo, que endereçou ao imperador. Um dos homens mais
competentes do seu tempo. Morreu mártir em Roma. Mostrando o
crescimento do cristianismo, disse que já no seu tempo não havia “raça
de homens que não fizesse orações em nome de Jesus”. Eis aqui como
Justino, o Mártir, descreveu o culto primitivo dos cristãos: “No domingo
há uma reunião de todos que moram nas cidades e vilas. Lê-se um
trecho das memórias dos Apóstolos e dos escritos dos profetas, tanto
quanto o tempo permita. Terminada a leitura, o presidente, num
discurso, admoesta e exorta à obediência dessas nobres palavras.
Depois disso, todos se levantam e fazem uma oração comum. Finda a
oração, ação de graças é dada por eles e a congregação responde,
12

Amém. Depois os elementos consagrados são distribuídos a cada um e


todos participam deles, e são levados pelos diáconos às casas dos
ausentes. Os ricos e os de boa vontade contribuem conforme seu livre
arbítrio. Esta coleta é entregue ao presidente que, com ela, atende a
órfãos, viúvas, prisioneiros, estrangeiros e todos quantos estão em
necessidade”.
Irineu, 130-200. (70 anos). Criou-se em Esmirna. Discípulo de
Policarpo e Papias. Viajou muito. Veio a ser bispo de Lyon, na Gália
(atual sul da França). Notável principalmente por causa de seus livros
contra os gnósticos. Morreu mártir. Vão aqui suas reminiscências sobre
Policarpo: “Lembro-me bem do lugar onde o santo Policarpo se sentava
e falava. Recordo seus discursos ao povo, e como referia as relações
que tivera com o Apóstolo João, e com outros que estiveram com o
Senhor; como recitava os ditos de Cristo e os milagres que operara;
como recebera sua doutrina de testemunhas oculares que viram o
Verbo da Vida, em tudo de acordo com as Escrituras”.

Orígenes, 185-254. (69 anos). O homem mais ilustrado da igreja


antiga. Muito viajado, escreveu muitos volumes, empregando às vezes
até vinte copistas. Dois terços do Novo Testamento estão citados em
seus escritos. Viveu em Alexandria, onde seu pai, Leônidas, sofreu
martírio, depois na Palestina, onde morreu em conseqüência de ser
preso e torturado, no governo de Décio.

Tertuliano, 160-220, (60 anos) de Cartago; “Pai do Cristianismo


Latino”; advogado romano, pagão; depois de convertido, tornou-se
proeminente defensor do cristianismo.

Eusébio, 264-340, (76 anos) “Pai da História da Igreja”; bispo


de Cesaréia, ao tempo da conversão de Constantino; teve muita
influência junto a este; escreveu uma “História Eclesiástica” — desde
Cristo, até ao Concílio de Nicéia.

João Crisóstomo, 345-407, (62 anos) “o boca-de-ouro”, orador


inigualável; o maior pregador dos seus dias; suas pregações eram
expositivas. Nasceu em Antioquia, veio a ser Patriarca de
Constantinopla; pregou a grandes multidões na Igreja de Santa Sofia.
Como reformador, caiu no desagrado do rei, foi banido e faleceu no
exílio.

Jerônimo, 340-420, (80 anos) Nasceu em Aquiléia (Veneza)


extremo norte do Mar Adriático, na Itália.“O mais ilustrado dos Pais
Latinos”, educou-se em Roma; viveu muitos anos em Belém; traduziu
a Bíblia para o latim, chamada Vulgata, ainda hoje a Bíblia
autorizada da Igreja Católica Romana.

Aurélio Agostinho. 354-430. (76 anos). Nasceu na cidade de


13

Tagaste de Numídia, província romana no norte da África, atual região


da Argélia. Agostinho iniciou seus estudos em sua cidade natal,
seguindo depois para Cartago. Ensinou retórica e gramática, tanto no
norte da África como na Itália. Ficou conhecido como o filósofo e teólogo
de Hipona. Foi o grande teólogo da igreja primitiva. Mais do que outro
moldou as doutrinas da igreja da Idade Média. Quando jovem, brilhou
por sua erudição, mas era dissoluto. Tornou-se cristão por influência de
Mônica, sua mãe, de Ambrósio, de Milão, e das Epístolas de Paulo.
14

II PERÍODO
As Perseguições Imperiais
(duraram aproximadamente 200 anos)

O fato de maior destaque na História da Igreja no 2º e 3º século foi,


sem dúvida, a perseguição ao Cristianismo pelos imperadores Romanos.
Enquanto era vista pelas autoridades como parte do judaísmo, que
era uma religio licita, isto é, uma seita legal, a Igreja sofreu pouco. Mas
logo que foi distinguida do judaísmo como seita separada e ser
classificada como seita secreta, o cristianismo recebeu a interdição do
estado romano que não admitia nenhum rival à obediência por parte de
seus súditos. Tornou-se então, uma religio illicita, uma religião ilegal,
considerada como ameaça à segurança do estado romano. O estado era
o supremo bem em uma união dele com a religião. Não poderia haver
religiões particulares. A religião somente seria tolerada se contribuísse
para a estabilidade do estado.
Apesar de a perseguição não haver sido contínua, contudo ela se
repetia durante anos seguidos, por vezes. Mesmo quando havia paz, a
perseguição podia recomeçar a qualquer momento, cada vez mais
violenta.
Constata-se, pois, que a perseguição, com maior ou menor
intensidade, durou dois séculos e meio e se estendeu por todo Império.
Pode-se estabelecer a seguinte estatística entre os anos 64 a 313, isto
é, ao longo de 249 anos:

Século I – Seis anos de perseguição e 30 de tolerância.


Século II – 86 anos de perseguição e 14 de tolerância.
Século III – 24 anos de perseguição e 76 de tolerância.
Século IV – 13 anos de perseguição.

A igreja do Senhor Jesus Cristo nos primórdios conheceu 129 anos


de perseguições e usufruiu 120 anos de tranqüilidade.
Alguns dos motivos das perseguições:

• Recusa ao paganismo, à idolatria e ao culto ao imperador (a


adoração ao imperador era considerada como prova de lealdade).

• Os cristãos não participavam de festas cerimoniais, por isso eram


considerados insociáveis.

• Eram considerados ateus que não tinham deuses.

• Tinham péssima reputação entre os pagãos, porque consideravam


todos os homens iguais, sem distinção, e isto era inaceitável entre os
nobres da época.

• As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas. Eles se


15

reuniam antes do nascer do sol, ou então à noite, quase sempre em


cavernas ou nas catacumbas subterrâneas. A esse respeito circulavam
falsos rumores de que entre eles praticavam-se atos imorais e
criminosos.
Nero, Em 64 d.C. ocorreu o grande incêndio de Roma. O povo
suspeitava de Nero; este, para desviar de si tal suspeita, acusou os
cristãos e mandou que fossem punidos. Milhares foram mortos de
maneiras crudelíssimas, entre eles, Paulo e, possivelmente, Pedro.
Tácito diz: “Por conseguinte, Nero, para se livrar dos rumores, acusou
de crime e castigou com torturas exageradas aquelas pessoas, odiosas
devido a práticas vergonhosas, a quem o vulgo chama cristão”. Cristo,
autor desse nome, foi castigado pelo procurador Pôncio Pilatos, no
reinado de Tibério; e a fatal superstição, reprimida por um pouco,
irrompeu novamente, não só na Judéia, sede original desse mal, porém
por toda a cidade (Roma) , para onde de toda parte tudo quanto é
horrível ou vergonhoso aflui e cai na moda”.

Domiciano, 96 d.C. Este organizou uma perseguição aos cristãos


sob a acusação de serem ateus, isto é, talvez por recusarem participar
do culto do imperador. Foi breve, porém violenta em extremo. Muitos
milhares foram mortos em Roma e na Itália, entre eles, Flávio Clemente,
primo do imperador, e sua esposa Flávia Domitila, que foi exilada. O
Apóstolo João foi banido para a ilha de Patmos, no Mar Egeu. Foi em
Patmos que João recebeu a revelação que compõe o livro do Apocalipse.

Trajano, 98-117 d.C. Um dos melhores imperadores, mas achou


que devia manter as leis do império; enquanto que o cristianismo era
considerado religião ilegal, visto os cristãos se recusarem a sacrificar
aos deuses romanos ou tomar parte no culto do imperador, e a Igreja
era havida como sociedade secreta, o que era proibido. Não farejavam
cristãos, porem, quando estes eram acusados, sofriam castigo. Entre os
que pereceram neste reinado estavam, Simão, irmão de Jesus, bispo de
Jerusalém, crucificado em 107 d.C., e Inácio, segundo bispo de
Antioquia, que foi levado preso a Roma e lançado às feras, 110 d.C.

Adriano, 117-138, perseguiu os cristãos, mas com moderação.


Teléforo, pastor da igreja em Roma, e muitos outros sofreram martírio.
Apesar disto, nesse reinado, o cristianismo fez marcado progresso em
número, riqueza, saber e influência social.

Antônio, o Pio, 138-161. Este imperador de certo modo favoreceu


os cristãos, mas sentia que devia manter a lei, havendo, por isso,
muitos mártires entre os quais Policarpo.

Marco Aurélio, 161-180. Também foi considerado um dos


melhores imperadores romanos, e um dos mais eminentes escritores de
ética. Sua estátua eqüestre ainda existe diante as ruínas do Capitólio
16

em Roma. Apesar de possuir tão boas qualidades como homem e


governante justo, contudo foi acérrimo perseguidor dos cristãos. Como
Adriano, considerava a manutenção da religião oficial uma necessidade
política. Foi cruel e bárbaro, o mais severo depois de Nero. Muitos
milhares foram decapitados ou lançados às feras, entre os quais Justino,
o Mártir. Sua ferocidade foi excessiva no Sul da Gália.

Sétimo Severo, 193-211. No ano 202, iniciou uma terrível


perseguição que durou até a sua morte, no ano 211. Severo possuía
uma natureza mórbida e melancólica; era muito rigoroso na execução
da disciplina. Procurou em vão restaurar as religiões decadentes do
passado. Em todos os lugares havia perseguições contra a igreja,
porém, onde ela se manifestou mais intensa foi no Egito e o norte da
África. Em Alexandria “muitos mártires eram diariamente queimados,
crucificados ou degolados” dentre os quais Leônidas, pai de Orígenes.
Em Cartago, Perpetua, senhora nobre, e sua fiel escrava Felicidade,
foram estraçalhadas pelas feras.

Maximino, 235-238. Neste reinado, muitos líderes cristãos


proeminentes foram mortos. Orígenes escapou, escondendo-se.

Décio, 249-251, decidiu-se, resolutamente, a exterminar o


cristianismo. Sua perseguição estendeu-se por todo o império, e foi
muito violenta; multidões pereceram sob as mais cruéis torturas, em
Roma, norte da África, Egito, Ásia Menor. Cipriano disse: “O mundo
inteiro está devastado”.

Valeriano, 253-260. Mais severo do que Décio, visava destruir


completamente o cristianismo. Muitos líderes foram executados, entre
eles Cipriano, bispo de Cartago.

Diocleciano, 284-305. Foi a última perseguição imperial e a mais


severa; estendeu-se por todo o império. Durante dez anos, os cristãos
foram caçados pelas cavernas e florestas; queimados, lançados às
feras, mortos por todas as crueldades imagináveis. Em uma série de
editos determinou-se que todos os exemplares da Bíblia fossem
queimados. Exigiu que todos renunciassem ao cristianismo e a fé.
Aqueles que o não fizessem, perderiam a cidadania romana, e ficariam
sem a proteção da lei. Os imensos Banhos de Diocleciano, em Roma,
foram construídos pelo trabalho forçado de cristãos.
Em alguns lugares os cristãos eram encerrados nos templos, e
depois ateavam-lhes fogo, com todos os membros no seu interior. Foi
um esforço resoluto, determinado e sistemático por abolir o nome
cristão. Diocleciano renunciou ao trono no ano 305, porém seus
subordinados e sucessores, Galério e Constâncio, continuaram a
perseguição durante seis anos.
17

Constantino, 306-337. Promulgou o famoso Edito da Tolerância


em 313, que oficialmente terminou com as perseguições aos cristãos.
Ver mais no III período: A Igreja Imperial.
18

III PERÍODO
A Igreja Imperial

Neste período, o fato mais notável, e também mais influente, tanto


para o bem como para o mal, foi a vitória do Cristianismo.
Logo após a abdicação de Diocleciano e Maximiniano, no dia 01 de
março de 305, quatro co-imperadores, aspirantes à coroa estavam em
guerra. Os dois rivais mais poderosos eram Maxêncio que era filho de
Maximiniano e Constantino que era filho de Constâncío. Constantino era
favorável aos cristãos, apesar de ainda não se confessar como tal. Ele
afirmou ter visto no céu uma cruz luminosa com a seguinte inscrição:
“In Hoc Signo Vinces” (por este sinal vencerás) e mais tarde, adotou
essa inscrição como insígnia do seu exército. A vitória de Constantino
sobre o exército de Maxêncio deu-se na ponte Mílvia sobre o Tibre, a
dezesseis quilômetros de Roma, no ano 312.
Pouco tempo depois, em 313, Constantino e Licínio
promulgaram o famoso Edito da de Milão ou Edito de Tolerância,
que oficialmente terminou com as perseguições. Somente no ano
323 foi que Constantino alcançou o posto supremo de imperador, e o
Cristianismo foi então favorecido. O caráter de Constantino não era
perfeito. Apesar de ser considerado justo, de um modo geral, contudo,
ocasionalmente era cruel e tirano. Dizia-se que “a realidade de seu
Cristianismo era melhor do que sua qualidade”.
Porém, se Constantino não foi um grande cristão, foi sem dúvida,
um grande político, pois teve a idéia de unir-se ao movimento que
dominaria o futuro de seu império.
Cessaram, como já dissemos, todas as perseguições para sempre.
Durante os duzentos anos anteriores, em nenhum momento os cristãos
estiveram livres de perigos, acusações e morte. Entretanto, desde a
publicação do Edito de Tolerância, no ano 313, até ao término do
império a espada da perseguição foi enterrada.
Os templos das igrejas foram restaurados e novamente abertos em
toda parte. No período apostólico celebravam-se reuniões em casas
particulares e em salões alugados. Mais tarde, nos períodos em que
cessaram as perseguições, construíram-se templos para as igrejas. A
partir dessa época os cristãos gozavam de plena liberdade para edificar
templos que começaram a ser erguidos por toda a parte.
Nessa época a adoração pagã ainda era tolerada, porém haviam
cessado os sacrifícios oficiais ao imperador. A palavra “pagão”
originalmente significava “morador do campo”. Mais tarde, porém,
passou a significar, um idólatra, que não pratica a verdadeira adoração.
Em todo o império os templos dos deuses do paganismo eram
mantidos pelo tesouro público, mas, com a mudança que se operara,
esses donativos passaram a ser concedidos às igrejas e ao clero cristão.
Em pequena escala a princípio, mas logo depois de maneira
generalizada e de forma liberal, o dinheiro público foi enriquecendo as
19

igrejas, e os bispos, os ministros, todos os funcionários do culto cristão


eram pagos pelo Estado. Era uma dádiva bem recebida pela igreja,
porém, de benefício duvidoso.
Ao clero foram concedidos muitos privilégios, nem sempre dados
pela lei do império, mas por costume, que pouco tempo depois se
transformava em lei.
Vejamos alguns:

• Os deveres cívicos obrigatórios para todos os cidadãos, não se


exigiam dos clérigos.

• Estavam isentos do pagamento de impostos.

• As causas em que estavam envolvidos os clérigos, eram julgadas por


cortes eclesiásticas e não civis.

Os ministros da igreja formavam uma classe privilegiada acima da


lei do país. Tudo isso foi, também, um bem imediato que se transformou
em prejuízo tanto para o Estado como para a igreja.
O primeiro dia da semana (Domingo) foi proclamado como dia de
descanso e adoração, e a observância em breve se generalizou em todo
o império. No ano de 321, Constantino proibiu o funcionamento das
cortes e tribunais aos domingos, exceto em se tratando de libertar
escravos. Os soldados estavam isentos de exercícios militares aos
domingos. Mas os jogos públicos continuaram a realizar-se aos
domingos o que o tornava mais um feriado do que um dia santo.
Como se vê, do reconhecimento do Cristianismo como religião
preferida, surgiram alguns bons resultados, tanto para o povo como
para a igreja. O espírito da nova religião foi incutido em muitas ordens
decretadas por Constantino e seus sucessores imediatos.
Observe algum desses resultados:

• A crucificação foi abolida. Note-se que a crucificação era uma forma


comum de castigo para criminosos, exceto para os cidadãos romanos,
os únicos que tinham o direito de ser decapitados, se fossem
condenados à morte.

• O infanticídio foi reprimido. Na história de Roma e suas províncias,


era fato comum que qualquer criança que não fosse do agrado do pai,
podia ser asfixiada ou “abandonada” para que morresse. Algumas
pessoas dedicavam-se a recolher crianças abandonadas e criavam-nas
e depois vendiam-nas como escravos. A influência do Cristianismo
imprimiu um sentido sagrado à vida humana.

• Antes do Cristianismo chegar, mais da metade da população era


escrava, sem nenhuma proteção legal e qualquer senhor podia matar os
escravos que possuía, se assim o desejasse. Entretanto a influência do
Cristianismo tornou mais humano o tratamento dado aos escravos.
20

Foram-lhes outorgados direitos legais que não possuíam.

• As lutas dos gladiadores foram proibidas em alguns locais mais


perdurou em outros até o ano 404 quando então cessou a matança de
homens para o prazer de espectadores.

Apesar de os triunfos do Cristianismo haverem proporcionado boas


coisas ao povo, contudo sua aliança com o Estado, inevitavelmente
devia trazer, como de fato trouxe, maus resultados para a igreja. Se o
término da perseguição foi uma benção, a oficialização do Cristianismo
como religião oficial do Estado foi, não há dúvida, uma maldição.
Todos queriam ser membros da igreja e quase todos eram aceitos.
Tanto bons como maus, os que buscavam a Deus e os hipócritas que
buscavam vantagens, todos se apressavam em ingressar na comunhão.
Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos desejavam
postos na igreja, para assim, obterem influência social e política. O nível
moral do Cristianismo no poder era muito mais baixo do que aquele que
destingia os cristãos nos tempos de perseguição.
Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, é certo, porém
eram menos espirituais e menos sinceros do que no passado. Os
costumes e as cerimônias do paganismo foram pouco a pouco se
infiltrando nos cultos de adoração. Algumas das antigas festas pagãs
foram aceitas na igreja com nomes diferentes. Cerca do ano 405 as
imagens dos santos e mártires começaram a aparecer nos
templos, como objetos de reverência, adoração e culto. A
adoração à virgem Maria substituiu a adoração a Vênus e a
Diana. A Ceia do Senhor tornou-se um sacrifício em lugar de
uma recordação da morte do Senhor.
Como resultado da ascensão da igreja ao poder, não se vê os ideais
do Cristianismo transformando o mundo; o que se vê é o mundo
dominando a igreja. A humildade e a santidade da igreja primitiva foram
substituídas pela ambição, pelo orgulho e pela arrogância de seus
membros. Havia, é certo, ainda cristãos de espírito puro, entretanto, a
onda de mundanismo avançou e venceu a muitos que se diziam
discípulos do humilde Senhor Jesus.
Logo após haver sido o Cristianismo elevado à condição de religião
do Império Romano, uma nova capital foi escolhida, como sede da
autoridade do Império, fato que deu motivo a grandes acontecimentos
tanto para a igreja como para o Estado.
O imperador Constantino compreendeu que a cidade de Roma
estava intimamente ligada à adoração pagã, cheia de templos e
estátuas, e o povo inclinado à antiga forma de adoração; enfim, uma
cidade dominada pelas tradições do paganismo. Constantino deseja
uma capital sem os laços da tradição, uma nova capital sob os auspícios
da nova religião. Além disso, a posição geográfica de Roma, em meio a
imensas planícies, deixava-a exposta aos ataques dos inimigos.
Constantino demonstrou sabedoria ao escolher a nova capital. O
21

local escolhido foi Bizâncio1, cidade cuja existência contava cerca de mil
anos, e estava situada no ponto de contato entre a Europa e a Ásia.
Constantino estabeleceu a capital, e planejou a construção da grande
cidade mundialmente conhecida durante muitos anos por
Constantinopla, a cidade de Constantino, atualmente Istambul
(Turquia). Na nova capital não havia templos dedicados aos ídolos,
porém não tardou que se edificassem várias igrejas. A maior de todas
ficou conhecida como a de Santa Sofia, “Sabedoria Sagrada”. Foi
edificada por ordem de Constantino.
Logo depois da fundação da capital, deu-se a divisão do império. As
fronteiras eram demasiado extensas e o perigo de invasão de bárbaros
era tão grande que um imperador sozinho não podia proteger seus
vastos domínios. Constantino deu início e Teodósio no ano de 395
completou a separação. Desde o governo de Teodósio, o mundo romano
foi dividido em Oriental e Ocidental, separado pelo mar Adriático.
O Império Oriental era denominado de grego, ao passo que o
Ocidental era chamado Latino, em razão do idioma que prevalecia em
cada um deles. A divisão do império foi um presságio da futura divisão
da igreja.
Um dos fatos notáveis da História foi a rápida transformação de um
vasto império, de pagão que era, para cristão.
A conversão dos pagãos crescia rapidamente, demasiado
rapidamente, para o bem-estar da igreja. Contudo, os primeiros
imperadores cristãos que sucederam a Constantino procuraram acelerar
ainda mais o movimento de conversões, mediante uma série de leis
drásticas e opressoras. Logo após o reinado de Constantino, seu filho
decretou a pena de morte e o confisco de propriedade, para todos os
adoradores de ídolos.
O crescimento e a expansão da Igreja foi a causa da organização e
da disciplina. A perseguição aproximou as igrejas e exerceu influência
para que elas se unissem e se organizassem. O aparecimento das
heresias impôs, também, a necessidade de se estabelecerem alguns
artigos de fé, e com eles, algumas autoridades para executá-las.
Outra característica que distingue esse período é sem dúvida o
desenvolvimento da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração,
uma entrega pessoal à vontade de Cristo. Entretanto, no período que
agora focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma
fé do intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso e inflexível de
doutrinas. O credo Apostólico, a mais antiga e mais simples declaração
da crença cristã, foi escrita durante esse período2.

1
Cerca de 330
2
Cerca de 390
22

SEITAS E HERESIAS PRIMITIVAS

Juntamente com o desenvolvimento da doutrina teológica,


desenvolviam-se também as seitas, ou como lhes chamavam, as
heresias na igreja cristã. Os cristãos não só lutaram contra as
perseguições, mas contra as heresias e doutrinas corrompidas.

Os Gnósticos - Do grego “Gnósis = Sabedoria, Conhecimento”. Os


gnósticos se transformaram em uma seita que defendia a posse de
conhecimentos secretos. Segundo eles, esses conhecimentos os
tornavam superiores aos cristãos comuns, que não tinham o mesmo
privilégio. Ao combinar filosofia pagã, alguns elementos da astrologia e
mistérios das religiões gregas com as doutrinas apostólicas do
cristianismo, o gnosticismo tornou-se uma forte influência na igreja.

Epicurismo - é o sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos,


filósofo ateniense do século IV a.C., e seguido depois por outros
filósofos, chamados epicuristas. Epicuro propunha uma vida de contínuo
prazer como chave para a felicidade, esse era o objetivo de seus
ensinamentos morais. Para Epicuro, a presença do prazer era sinônimo
de ausência de dor, ou de qualquer tipo de aflição: a fome, a abstenção
sexual, o aborrecimento, etc.
Buscava sobretudo encontrar o sossego necessário para uma vida feliz
e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte
estavam definitivamente eliminados. A idéia que Epicuro tinha era que
para ser feliz o homem necessitava de três coisas: Liberdade, Amizade e
Tempo para meditar.

Estoicismo - A escola estóica foi fundada no século III a.C. por Zenão
de Cítio (de Cittium), e que preconizava a indiferença à dor de ânimo
oposta aos males e agruras da vida, em que reunia seus discípulos sob
pórticos ("stoa", em grego) situados em templos, mercados e ginásios.
Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista. O
estoicismo é uma doutrina filosófica que propõe viver de acordo com a
lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação
a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural
reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do
universo.
O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de
Solis, sendo levada a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes de Babilônia.
Ali seus continuadores foram Marco Aurélio, Séneca, Epiteto e Lucano.

Os Ebionitas - Do hebraico que significa “Pobre” eram judeus-cristãos


que insistiam na observância da lei e dos costumes judaicos. Rejeitavam
as cartas escritas por Paulo. Eram considerados como apostatas pelos
judeus não convertidos.
23

Os Maniqueus - De origem persa foram chamados por esse nome, em


razão de seu fundador ter o nome de Mani. Acreditavam que o universo
compõe-se do reino das trevas e da luz e ambos lutam pelo domínio do
homem. A base do maniqueísmo engloba um Deus teísta (pessoal) que
se revela ao homem. Deus usou diversos servos, como Buda, Zoroastro,
Jesus e finalmente, Mani. Deveriam seus discípulos praticar o ascetismo
e evitar o casamento abraçando o celibato.

Marcion - Nativo de Porto, foi a Roma perto de 138 e se tornou


membro da Igreja de Roma. Não conseguiu levar a igreja a aceitar seu
ponto de vista, e assim organizou os seus seguidores numa igreja
cismática e expandiu a obra até ter congregações em quase todas as
províncias. Embora talvez não seja correto chamar Marcion de gnóstico,
ele compartilhou vários de seus pontos de vista: judaísmo é mau. Jeová
não é o mesmo Deus do NT. Baseou-se quase que exclusivamente em
Paulo. Contrastou a imoralidade e crueldade do AT, com a
espiritualidade, misericórdia, bondade e alta moral do NT. Embora
conceba o nascimento, vida e morte de Jesus como apenas aparente,
Marcion insiste na obra redentora de Cristo como necessária para a
salvação dos homens. O marcionismo achou fácil aceitação na
Mesopotâmia e na Pérsia e sobreviveu lá durante alguns séculos.

Montanismo é um movimento cristão do segundo século fundado por


Montano. Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo
e, por isso, profetizavam. Segundo estas profecias, uma outra era cristã
se iniciava com a chegada da nova revelação concedida a eles.Esse
movimento surgiu na Frígia (Ásia Menor Romana, hoje Turquia), pelos
anos 170 d.C. Havia duas mulheres, Priscila e Maximila, que eram as
porta-vozes proféticas de Montano e dizia que o Espírito Santo falava
através delas. Fez muitas predições proféticas enganosas, pois jamais
foram cumpridas, como a de que a aldeia de Pepuza, na Frígia, seria a
Nova Jerusalém.

O Novacionismo - Foi o montanismo reaparecendo numa outra época,


sem as reivindicações proféticas que desapareceram. Novaciano foi
condenado em 251 por um concílio romano que reunia sessenta bispos.
Após a perseguição de Décio, quando muitos negaram a fé, Novaciano
liderou os que queriam muito rigor para os que caíram. Este movimento
cismático encontrou muita recepção na África e na Ásia Menor, onde
absorveu o que restou dos montanistas. Sua doutrina era igual à das
igrejas católicas. Foi apenas a questão de disciplina que questionavam:
condições para ser membro da igreja e perdão de certos pecados
específicos. Enquanto Cipriano admitia a reconciliação dos caídos "após
uma penitência severa e prolongada”; Novaciano considerava que
"reconciliação alguma lhe pode ser concedida". Para Novaciano a igreja
se identificava com um pequeno grupo de espirituais que estava em
conflito obrigatório com a cidade terrena. Crendo que as igrejas
24

católicas eram apóstatas, os novacianos rejeitaram as ordenanças


delas. A crença na regeneração batismal era quase universal nesta
época. Os novacianos deram tanta importância à necessidade do
batismo ser ministrado por pessoa devidamente qualificada que
rebatizavam os que vieram das igrejas católicas.
25

AS CONTROVÉRSIAS

Logo que o longo conflito do Cristianismo com o paganismo


terminou em vitória daquele, surgiu uma nova luta, uma guerra no
campo do pensamento, uma série de controvérsias dentro da igreja,
acerca de doutrinas.
Enquanto a igreja lutava para a sua própria sobrevivência contra a
perseguição, conservou-se unida, apesar dos rumores de dissensões
doutrinárias. Entretanto, quando a igreja se viu a salvo e no poder,
surgiram acalorados debates acerca de suas doutrinas, e tão fortes de
mostravam que abalavam os fundamentos. A fim de resolver essas
questões, convocavam-se concílios de toda a igreja. Nesses concílios
somente os bispos tinham direito a voto. Todos os demais clérigos e
leigos deviam submeter-se às decisões que aqueles tomassem
A primeira controvérsia apareceu por causa da doutrina da
Trindade, especialmente em relação ao Pai e ao Filho. Ário, presbítero
de Alexandria, mais ou menos no ano 318, defendeu a doutrina que
considera Jesus Cristo como superior à natureza humana, porém,
inferior a Deus; não admitia a existência eterna de Cristo; pregava que
Cristo teve princípio. O principal opositor dessa doutrina foi Atanásio,
também de Alexandria. Atanásio afirmava a unidade de Cristo com o
Pai, a divindade de Cristo e sua existência eterna. A contenda estendeu-
se por toda a igreja. Depois de Constantino, haver feito tudo para
solucionar a questão, sem obter êxito, convocou, então, um concílio de
bispos, o qual se reuniu em Nicéia, Bitínia, no ano 325. Atanásío que era
então apenas diácono, teve o direito a falar, mas não a voto. Apesar
dessa circunstância, conseguiu que a maioria do concílio condenasse as
doutrinas de Ário, no credo de Nicéia.
Posteriormente apareceu outro cisma acerca da natureza de Cristo.
Apolinário, bispo de Laodicéia (ano 360) declarou que a natureza
divina tomou o lugar da natureza humana de Cristo. Que Jesus, na terra,
não era homem, era Deus em forma humana. A maioria dos bispos e
teólogos sustentavam que a Pessoa de Jesus Cristo era uma união de
Deus e homem, divindade e humanidade em uma natureza. A heresia
apolinária foi condenada pelo Concílio de Constantinopla, no ano 381, o
que deu motivo a Apolinário afastar-se da igreja.
O Nestorianismo é uma doutrina cristã, nascida no Século V,
segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana
e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes
independentes. A doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte
influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pela Rosacruz e outras
doutrinas ligadas à gnose. O seu surgimento deu-se dentro das disputas
cristológicas que sacudiram o cristianismo nos séculos III, IV e V, sendo
proposto por Nestório, monge oriundo de Alexandria, que assumiu o
bispado de Constantinopla. Isto o levou a opor-se a Cirilo de Alexandria,
bispo daquela cidade, que defendia a tese da unidade entre a pessoa
26

humana e divina de Cristo.


A única controvérsia prolongada desse período, surgida na igreja
ocidental, foi a que dizia respeito ao pecado e a salvação. Teve origem
com Pelágio, monge que foi da Grã-Bretanha para Roma, cerca do ano
410. Sua doutrina declarava que não herdamos as tendências
pecaminosas de Adão mas que a alma faz a sua própria escolha, seja
para pecar, seja para viver retamente. Que a vontade humana é livre e
cada um é responsável por suas decisões. Contra essa idéia surgiu, o
maior intelecto da história do Cristianismo, depois do apóstolo Paulo, o
poderoso Agostinho, que sustentava que Adão representava toda a raça
humana, que no pecado de Adão todos os homens pecaram e são
pecadores e todo o gênero humano é considerado culpado. Que o
homem não pode aceitar a salvação unicamente por sua própria
escolha, mas somente pela vontade de Deus, o qual é quem escolhe
aqueles que devem ser salvos. A doutrina de Pelágio foi condenada pelo
concílio de Cartago no ano 418, e a teologia de Agostinho tornou-se a
regra ortodoxa da igreja. Somente em tempos mais tarde, nos
tempos modernos, na Holanda, sob a orientação de Armínio
(ano 1600), é que a igreja se afastou do sistema doutrinário
agostiniano.

Concílios Ecumênicos

Nicéia. 325 d.C. Condenou o arianismo.


Constantinopla. 381. Convocado para deliberar sobre o
apolinarianismo.
Éfeso. 431. Convocado para dar fim à controvérsia nestoriana.
Calcedônia. 451. Convocado para resolver a controvérsia eutiquiana.
Constantinopla. 453. Para acabar com a controvérsia dos monofisitas.
Constantinopla. 680. Doutrina das duas vontades em Cristo.
Nicéia. 787. Sancionou o culto das imagens.
Constantinopla. 869. Cisma final entre o Oriente e o Ocidente.

Foi este o último ecumênico. Os posteriores foram apenas


romanos.

Roma. 1123. Decidiu que os bispos seriam nomeados pelos papas.


Roma. 1139. Esforço por remediar o cisma entre o Oriente e o
Ocidente.
Roma. 1179. Para fazer vigorar a disciplina eclesiástica.
Roma. 1215. Para cumprir as ordens de Inocêncio III.
Lion. 1245. Para resolver a contenda entre o papa e o imperador.
Lion. 1311. Suprimiu os templários.
Constança. 1414-18. Para remediar o cisma papal. Queimou Huss.
Basiléia. 1431-49. Para reformar a Igreja.
Roma. 1512-18. Outro esforço pró-reforma.
Trento. 1545-63. Para neutralizar a Reforma Protestante.
27

Vaticano. 1869-70. Declarou a infalibilidade do papa.


Vaticano. Out.1962 — Dez.1965. Para reformar a Igreja. O maior de
todos.

Enquanto esses movimentos de controvérsias se agitavam, iniciava-se


outro grande movimento que alcançou imensas proporções na Idade
Média: o nascimento do espírito monástico3.

3
Monástico – Doutrina segundo a qual a melhor maneira de se agradar a Deus é retirar-se do convívio
social para dedicar-se à ascese, à oração e ao estudo dos livros santos. Ascese – Exercícios que tem como
objetivo levar o homem à realização plena da virtude. É a mortificação da carne.
28

O MONASTICISMO

Depois que o Cristianismo se impôs e dominou todo o império, o


mundanismo penetrou na igreja e fez prevalecer seus costumes. Muitos
dos que anelavam uma vida espiritual mais elevada estavam
descontentes com os costumes que os cercavam e afastavam-se para
longe das multidões. Em grupos ou isoladamente, retiravam-se para
cultivar a vida espiritual através da meditação, oração e costumes
ascéticos.
O movimento começou no Egito com Antônio ou Antâo (250-350
d.C.), que vendeu suas propriedades, retirou-se para o deserto e viveu
solitário. Multidões seguiram seu exemplo. Chamavam-se “anacoretas” .
A idéia era ganhar a vida eterna escapando do mundo e mortificando a
carne em práticas ascéticas. O movimento espalhou-se até Palestina,
Síria, Ásia Menor e Europa.
No Oriente cada um vivia em sua própria caverna, ou cabana, ou
em cima de um pilar que era uma forma peculiar de ascetismo. Foi
adotada pelos santos das colunas. O iniciador desse sistema foi Simão,
ou Simeão Estilita, um monge sírio, apelidado “da Coluna”. Ele deixou o
mosteiro no ano 423, e construiu vários pilares em fila; a construção dos
primeiros pilares ou colunas foi seguida de outros mais altos, de modo
que o último tinha dezoito metros de altura, e 1,20m de largura. Nesses
pilares ou colunas viveu Simão cerca de trinta e sete anos.
O movimento monástico na Europa espalhou-se mais lentamente do
que na Ásia e na África. A vida solitária e individual do asceta não
tardou a fazer com que na Europa se fundassem comunidades
chamadas mosteiros, dividindo o tempo entre o trabalho e os exercícios
religiosos. Com o crescimento dessas comunidades, tornava-se
necessária alguma forma de organização ou governo, de modo que
nesse período surgiram quatro grandes ordens:
1. Os Beneditinos, a primeira dessas ordens, foi fundada por S. Bento,
em 529, em Monte Cassino, entre Roma e Nápolis. Essa ordem
tornou-se a maior de todas as ordens monásticas da Europa, e no
início de sua existência promovia a evangelização e a civilização do
Norte.
2. Os Cistercienses surgiram em 1098, com o objetivo de fortalecer a
disciplina dos Beneditinos, que se relaxava. Seu nome deve-se à
cidade francesa de Citeaux, onde a ordem foi fundada Robert de
Molesme. Em 1112 a ordem foi reorganizada e fortalecida por
Bernardo de Clairvaux. Essa ordem deu ênfase às artes, à arquitetura
e especialmente à literatura, copiando livros antigos e escrevendo
outros novos.
3. Os Franciscanos , fundada em 1209 por Francisco de Assis, um dos
homens mais santos, mais devotos e mais amados. Da Itália a ordem
espalhou-se rapidamente por toda a Europa tornando-se muito
numerosa.
29

4. Os Dominicanos formavam uma ordem espanhola, fundada por


Domingos de Gusmão, em 1215, que também se estendeu por toda a
Europa. Os Dominicanos e os Franciscanos diferenciavam-se dos
membros de outras ordens, pois eram pregadores, iam por toda parte
fortalecer a fé dos crentes e opunham-se ás tendências hereges.

Tornaram-se muito numerosos, surgindo muitas ordens de frades e


freiras. Aos mosteiros da Europa coube a realização do melhor trabalho
que a igreja da Idade Média fez, no tocante à filantropia cristã,
literatura, educação e agricultura.
Freqüentemente, os mosteiros e os conventos serviam de abrigo e
proteção aos indefesos, principalmente às mulheres e crianças.
Nas bibliotecas dos mosteiros guardavam-se muitas das mais
antigas obras da literatura clássica e cristã.
Os monges eram os principais professores da juventude, isto é,
praticamente os únicos. Quase a totalidade das universidades e escolas
da Idade Média foram criadas nas abadias e nos mosteiros.
Quando, porém, essas ordens se tornavam ricas, caíam em
grosseira imoralidade. A Reforma, nos países protestantes, deu cabo
dessas ordens, e nos países católicos vão desaparecendo.

O DESENVOLVIMENTO DO PODER NA IGREJA ROMANA E


A
QUEDA DO IMPERIO ROMANO OCIDENTAL.

A Europa inteira sempre olhara para Roma com certa reverência.


Agora a capital do império estava longe; especialmente estando o
próprio império em decadência, o sentimento de lealdade para com o
papa, pouco a pouco, tomou o lugar da lealdade para com o imperador.
Foi assim que em todo o Ocidente o bispo de Roma, ou papa (ver
Mateus 23: 8 a 12), chefe da igreja em Roma, começou a ser
considerado como a autoridade principal de toda a igreja. Foi dessa
forma que no Concílio de Calcedônia, na Ásia Menor, no ano 451, Roma
ocupou o primeiro lugar e Constantinopla o segundo. Preparava-se
dessa forma o caminho para pretensões ainda maiores da parte de
Roma e do papa, nos séculos futuros.
Durante esse período da igreja imperial, entretanto, outro
movimento estava em progresso, isto é, a maior catástrofe de toda a
história — a queda do Império Romano Ocidental.
As riquezas do império eram cobiçadas pelos povos bárbaros, seus
vizinhos. De um lado da fronteira havia cidades opulentas que viviam
despreocupadamente, vastos campos com fartas colheitas, enfim,
pessoas que possuíam tudo quanto as tribos pobres tanto desejavam.
Durante séculos a invasão de povos bárbaros, foi a principal
preocupação dos imperadores romanos.
O Império Romano não muito forte em seus recursos humanos, pois
30

após vários séculos de paz, havia perdido a prática de guerrear. Estava


corroído pela decadência moral e política e pronto para ser
desmoronado por invasores vizinhos que estavam desejosos de invadi-
lo. Também estava enfraquecido pelas guerras civis, que duraram
gerações, provocadas por vários pretendentes ao trono imperial.
Os bárbaros começaram a penetrar por toda a parte nas indefesas
províncias, apoderando-se dos territórios e estabelecendo reinos
independentes. Em menos de cento e quarenta anos, o Império Romano
Ocidental (ano 476), que existiu durante mil anos, foi riscado do quadro
das coisas existentes.

IV PERÍODO
A Igreja Medieval

No período que vamos considerar, que durou quase mil anos, nosso
interesse se dirigirá para a Igreja Ocidental, ou Latina, cuja sede e
autoridade estavam em Roma, que continuava a ser a cidade imperial,
apesar de seu poderio político haver desaparecido.
O fato mais notável nos dez séculos da Idade Média foi o
desenvolvimento do poder papal.
O papa de Roma, que já afirmava ser “bispo universal” e chefe da
igreja, agora o veremos reclamando a posição de governante das
nações, acima de reis e imperadores.
Religiosamente, a eleição do papa Gregório I, chamado o Grande
(590) marcou o início do período da história da Igreja, que chamamos de
Cristianismo Medieval. Seu caráter era irrepreensível, austero, possuía
grande habilidade administrativa e era um verdadeiro estadista;
também foi um grande escritor, marcado pela originalidade e erudição;
interessava-se pela música e pelos rituais eclesiásticos. Sua autoridade
foi reconhecida além das fronteiras de seu patriarcado ocidental.
Gregório divulgou a cultura religiosa, reorganizou a administração
papal, determinou à atuação papal, impulsionou a construção de
hospitais, orfanatos e residências para pobres em Londres.
Uma das razões porque o governo da sede romana era tão
amplamente aceito no início desse período, explica-se pelo fato de que,
a influência dos papas era sentida principalmente no fortalecimento da
justiça. A igreja se pôs entre os príncipes e seus súditos, a fim de
reprimir a tirania e a injustiça, para proteger os fracos e para exigir os
direitos do povo. Nos palácios dos governantes, mais de um governador
foi obrigado a receber a esposa que repudiara sem causa, e a observar
pelo menos as formas exteriores da decência, por imposição dos papas.
Houve é certo, muitas exceções, pois houve papas que cortejavam
reis e príncipes ímpios. Contudo, em sentido geral, o papado, no início
da Idade Média, era favorável aos governos justos e honestos.
Durante esses séculos de instabilidade, a igreja era a única
instituição firme. As reclamações de domínio por parte de Roma eram
31

quase sempre apoiadas pelo clero. A igreja possuía aliados em toda


parte, e jamais falhavam na defesa de seus interesses.

AS FRAUDES PIAS

Ainda que pareça estranho, o fato é que na Idade Média, uma série
de “fraudes pias” foram divulgadas a fim de manter o prestígio e a
autoridade de Roma.
Em uma época científica e de homens inteligentes, essas fraudes
seriam investigadas, desaprovadas e desacreditadas. Entretanto, a
erudição da Idade Média não entrava no terreno da crítica. Ninguém
duvidava dos documentos que circulavam de modo amplo, e eram
aceitos por todos, e por meio deles as afirmações de Roma eram
sustentadas.
Por alguns séculos circulou uma narrativa dando conta de supostos
milagres da cura e conversão de Constantino pelo bispo de Roma.
Agradecido Constantino teria feito generosas concessões de privilégios
e de terras ao bispo. Estes relatos, reunidos num documento conhecido
como “Doação de Constantino” tiveram ampla circulação na Idade
Média. O documento foi usado pelo papa na Idade Média como suporte
às suas reivindicações de posses temporais e poder nos reinos temporal
e espiritual. À formulação do documento parece datar de meados do
século VIII, pois estava em circulação quando Pepino fez sua grande
doação de terras na Itália ao papa.
No documento, Constantino saudava a Silvestre e aos bispos da
igreja e narrava que fora curado de lepra e batizado por Silvestre. Em
troca, afirmava que a igreja de Roma deveria ter proeminência sobre
todas as outras, sendo o seu bispo o bispo supremo da igreja.
Constantino, então, mudou-se para Constantinopla para não interferir
nos direitos imperiais do papa.
Um dos documentos da série fraudulenta foi o que passou a ser
conhecido como “Decretais Pseudo-Isidorianas”, publicado no ano 850.
Afirmava-se que eram decisões adotadas pelos bispos primitivos de
Roma, desde os apóstolos. Nesse documento apresentam as maiores
reivindicações, tais como a supremacia absoluta do papa de Roma
sobre a Igreja Universal; a independência da igreja do Estado, entre
outras coisas absurdas.

Algumas das evidências das fraudes são as seguintes:


• A linguagem empregada não era o latim primitivo dos séculos
primeiro e segundo, e sim uma língua corrompida e mista usada
nos séculos oitavo e nono.
• Os nomes e as condições históricas a que se referiam os
documentos não eram os mesmos usados no império, mas
exatamente iguais aos que eram usados na Idade Média.
32

• As freqüentes citações eram da Vulgata Latina, quando todos


sabem que essa versão somente apareceu depois do ano 400.
• Uma carta que fazia parte desses documentos, dizia que fora
escrita por Vítor, bispo de Roma no ano 220 a Teófilo, bispo de
Alexandria, que viveu no ano 400.
O crescimento do poder papal, apesar de sempre estar em
ascensão, não era constante. Houve alguns príncipes que se opuseram
ao poder papal, assim como houve governantes fracos que se
submeteram por completo, sem reservas. Também houve papas fracos
e papas perversos, principalmente entre os anos 850 a 1050, que
desacreditaram seu posto mesmo durante os tempos de sua mais
elevada supremacia.
O período culminante foi entre os anos 1073-1216, cerca de cento e
cinqüenta anos em que o papado exerceu poder quase absoluto, não
somente na igreja, mas também sobre as nações da Europa.

O APOGEU DO PODER PAPAL


Gregório VII, Esta elevada posição foi conquistada durante o
governo de Hildebrando, o único papa mais conhecido pelo nome de
família do que pelo nome de papa Gregório VII, 1073-85. Seu grande
objetivo foi reformar o clero. Os dois pecados predominantes nos padres
eram imoralidade e simonia4. Para curá-los da imoralidade, Gregório
insistiu, combativamente, no celibato. Para afastá-los da simonia
(compra de cargo eclesiástico por dinheiro) insurgiu-se contra o direito
de o imperador nomear dignitários para a igreja. Praticamente, todos os
bispos e padres compravam os seus cargos, visto que à Igreja pertencia
a metade de todas as propriedades e tinha grandes rendimentos, o que
ensejava uma vida de luxo. Os reis, habitualmente, vendiam os cargos
eclesiásticos a quem mais oferecesse, independente da capacidade e do
caráter do individuo.
Isto levou Gregório a lutar, denodadamente, contra Henrique IV,
Imperador da Alemanha. Este depôs Gregório. Gregório, por sua vez,
excomungou e depôs Henrique. Seguiu-se uma guerra. Durante anos, a
Itália foi devastada pelos exércitos em combate. Gregório, finalmente,
foi expulso de Roma e morreu no exílio. Mas fez, em grande parte, a
independência do papado, do poder imperial. Repetidamente,
denominou-se “soberano dos reis e príncipes”, e provou que o era.
Vitor III, 1086-7.
Urbano II, 1088-99, continuou a guerra contra o imperador;
tornou-se líder do movimento das cruzadas, o que aumentou mais ainda
o prestígio do papado perante a cristandade.
Pascoal II, 1099-1118, continuou a guerra contra o imperador
4
Simonia: Referência ao pecado de Simão, o mago, que ofereceu dinheiro ao apóstolo Pedro para adquirir o
dom de conferir o Espírito santo pela imposição das mãos (At 8:17-21). A simonia nada mais é que o tráfico
das coisas sagradas tais como ordenamento ministerial, benefícios eclesiásticos, direção de igrejas, etc...
33

alemão a propósito do direito das nomeações eclesiásticas.


Gelásio II, 1118-9.
Calixto II, 1119-24, na Cordata de Worms, 1122 chegou a um
acordo com o imperador alemão, do que resultou a paz, depois de 50
anos de guerra.
Honório II, 1124-30.
Inocêncio II, 1130-43, manteve-se no ofício pelas armas contra o
antipapa Anacleto II, que fora escolhido por certas famílias poderosas de
Roma.
Celestino II, 1143-4.
Lúcio II, 1144-5.
Eugênio III, 1145-53.
Anastácio IV, 1153-4.
Adriano IV, 1154-9, o único que foi inglês; deu a Irlanda ao rei
da Inglaterra e autorizou-o a apossar-se dela. Tal autorização foi
renovada pelo papa seguinte, Alexandre III, entrando em execução em
1171.
Alexandre III, 1159-81, o maior papa, de Gregório VII a
Inocêncio III, entrou em conflito com quatro antipapas, reencetou a
guerra pela supremacia contra o imperador alemão, Frederico
Barbaroxa, que, depois de cinco campanhas e muitas batalhas campais
entre seus exércitos e os do papa e seus aliados, havendo terrível
mortandade, fez a Paz de Veneza, 1177. Alexandre foi expulso de Roma,
pelo povo, morrendo no exílio, como aconteceu com muitos outros
papas.
Lúcio III, 1181-5.
Urbano III, 1185-7.
Gregório VIII, 1187.
Clemente III, 1187-91.
Celestino III, 1191-8.

O AUGE DO PODER PAPAL


Inocêncio III, 1198-1216, o papa mais poderoso. Declarou-se
“vigário de Cristo5” , “vigário de Deus”, “soberano supremo da Igreja e
do mundo”, com o direito de depor reis e príncipes; que “todas as coisas
na terra, no céu e no inferno estão sujeitas ao vigário de Cristo.” Levou
a Igreja a sobrepor-se ao Estado. Os reis da Alemanha, França,
Inglaterra, e, praticamente, todos os monarcas da Europa faziam a sua
vontade. Até o Império Bizantino foi por ele dominado, embora a
maneira brutal como tratou Constantinopla resultasse, mais tarde, no
afastamento do Oriente. Nunca, na história, um homem exerceu maior
autoridade do que ele.
Ordenou duas cruzadas. Decretou a transubstanciação6. Confirmou
a confissão auricular. Declarou que o sucessor de Pedro “nunca e de
5
Vigário de Cristo: Substituto de Cristo
6
Doutrina católica romana: no ato do sacramento da eucaristia o pão e o vinho transformavam-se na carne
e sangue de Cristo.
34

modo algum podia apartar-se da fé católica” (infalibilidade papal).


Proibiu a leitura da Bíblia em vernáculo. Ordenou o extermínio dos
hereges.
Instituiu a INQUISIÇÃO. Mandou massacrar os albigenses (ver pág 35).
Mais sangue foi derramado durante seu pontificado e dos seus
imediatos sucessores do que em outro qualquer período da história da
Igreja, salvo no esforço papal por esmagar a Reforma, nos séculos 16 e
17. Dir-se-ia que Nero, a besta, tinha revivido, assumindo o nome de
cordeiro.

MANTIDO PELA INQUISIÇÃO O PODER PAPAL

A inquisição, denominada “SANTO OFÍCIO”, foi instituída por


Inocêncio III e aperfeiçoada sob o segundo papa que se seguiu, Gregório
IX. Era o tribunal eclesiástico, ao qual incumbia prender e castigar os
hereges7. Exigia-se que todos prestassem informação sobre pessoas
heréticas. Todos os suspeitos de heresia estavam sujeitos a torturas,
sem saber quem os havia acusado. O processo corria, secretamente. O
inquisidor pronunciava a sentença e a vítima era entregue às
autoridades civis para ser encarcerada pelo resto da vida, ou ser
queimada. Seus bens eram confiscados e divididos entre a Igreja e o
Estado.
No período que se seguiu imediatamente a Inocêncio III, a
Inquisição executou sua obra mais fatal no sul da França (ver sobre os
albigenses), mas a ela coube a responsabilidade de vastas multidões de
vítimas na Espanha, Itália, Alemanha e Países Baixos. Mais tarde, foi ela
a principal agência do esforço papal por esmagar a Reforma. Afirma-se
que nos 30 anos, entre 1540 e 1570, nada menos de 900.000
protestantes foram mortos, na guerra movida pelo papa com o fim de
exterminar os valdenses (ver pág. 35). Imagine-se o que não era frades
e padres, insensivelmente cruéis e desumanamente brutais a dirigirem
a obra de torturar e queimar vivos homens e mulheres inocentes; e
faziam isto em nome de Cristo, por ordem direta do seu “vigário”. A
INQUISIÇÃO é o FATO MAIS INFAME da História. Foi inventada pelos
papas e usada por eles, durante 500 anos, na mantença do seu poder.
Nenhum, da subseqüente linhagem desses “santos” e “infalíveis”,
jamais se penitenciou disso.

O COMEÇO DO DECLÍNIO PAPAL

Entre 1309 e 1439, a Igreja Romana desceu a um ponto muito baixo


no conceito dos leigos. A organização hierárquica, com suas exigências
de celibato e obediência absoluta ao papa, e a feudalização da igreja
romana provocaram um declínio na moral e na moralidade dos cléricos.
O celibato contrariava os instintos naturais do homem e as afirmações
7
Aquele que professa doutrina contrária aos artigos de fé aceitos pela comunidade.
35

bíblicas em favor do casamento. Muitos sacerdotes tomaram


concubinas ou se perderam em casos de amor ilícito com mulheres de
suas congregações. Alguns tiveram que enfrentar o problema de cuidar
dos filhos nascidos dessas uniões e davam mais atenção a eles que a
suas tarefas clericais.

Bonifácio VIII, 1294-1303, em sua famosa bula “Unam Sanctam”,


disse:
“Declaramos, afirmamos, definimos e pronunciamos que é,
absolutamente, necessário para salvação que toda criatura humana se
sujeite ao Romano Pontífice.” Todavia, Dante, que visitou Roma no
pontificado desse papa, viu-o tão corrupto que chamou ao Vaticano
“semeador de corrupções”, e, ao lado de Nicolau III e Clemente V, pô-lo
nas partes mais baixas do inferno. Bonifácio recebeu o papado quando
este estava no auge do poder, mas encontrou um antagonista à altura,
na pessoa de Filipe, o Belo, rei da França, a cujos pés o papado foi
humilhado até ao pó, começando sua ERA de DECLINIO.

A FRANÇA DOMINA O PAPADO


O papado fora vitorioso em sua luta de 200 anos contra o Império
Germânico. Mas, agora, o rei da França se tornara o monarca-líder da
Europa; um sentimento nacionalista e um espírito de independência
tomava corpo no meio do povo francês (conseqüência, sem dúvida, em
parte do massacre brutal dos albigenses franceses, levado a efeito pelo
papado no século precedente); e Filipe, o Belo, com quem a história da
França começa, assumiu a luta contra o papado. Iniciou-se o conflito
com Bonifácio VIII a propósito do imposto lançado sobre o clero francês.
O papado foi completamente submetido ao Estado; e, depois da morte
de Bento XI,1303-4, a sede pontifícia foi removida de Roma para
Avignon, no limite sul da França, e, durante 70 anos, o papado foi mero
instrumento da corte francesa.

O “CATIVEIRO BABILONICO” DO PAPADO


70 anos (1309-1377), nos quais a sede pontifícia esteve em Avignon.

O Papado de Avignon diz respeito a um período da história da


Igreja Católica Romana, compreendido entre 1309 e 1377, quando a
residência do papa foi alterada de Roma para Avignon. Este período foi
chamado de "Cativeiro Babilônico da igreja" (ou dos papas), uma
designação usada em particular por Martinho Lutero, mas também por
vários escritores. Por coincidência, o "cativeiro" dos papas em Avignon
durou aproximadamente o mesmo tempo que o exílio dos Judeus na
Babilônia tornando a analogia ainda mais conveniente e retoricamente
poderosa.
36

Durante este período, a avareza dos papas de Avinhão não


conheceu limites; taxas pesadas foram impostas; todos os cargos na
Igreja eram vendidos por dinheiro, e muitos cargos novos foram criados,
para serem vendidos, a fim de se encherem os cofres dos papas e ser
mantida assim, sua corte luxuosa e imoral. Petrarca, aos domésticos do
papa, acusou de rapinagem, adultério e toda espécie de imoralidade.
Em muitas paróquias, como medida de proteção às famílias, cidadãos
insistiam em que os padres tivessem concubinas. O “cativeiro” foi um
golpe no prestígio papal.
Clemente V, 1305-14.
João XXII, 1316-34, o homem mais rico da Europa.
Bento XII, 1334-42.
Clemente VI, 1342-52.
Inocêncio VI, 1352-62.
Urbano V, 1362-70.
Gregório XI, 1370-8.

O CISMA PAPAL

40 anos durante os quais houve, simultaneamente, dois papas: um


em Roma e outro em Avignon, cada qual se dizer “vigário de Cristo” e a
proferir anátemas e maldições um ao outro.
O Cisma do Ocidente foi uma ruptura que ocorreu na Igreja Católica
Romana de 1377 a 1417. As motivações deste cisma não foram de
ordem teológica mas sim política, resultado do fim do Papado de
Avignon. O cisma terminou décadas mais tarde no Concílio de
Constança de 1414, com o papado restabelecido em Roma.
Gregório XI, sexto de uma seqüência de papas de origem francesa
sediados em Avingnon, tomou, em 1377 a iniciativa de regressar a
Roma, onde morreu a 27 de Março de 1378. Na altura da eleição do seu
sucessor, a população de Roma exigiu a escolha de um italiano e o
regresso definitivo do papado à cidade. O conclave de cardeais cedeu
às ameaças de revolta e escolheu Bartolomeo Prigano, Arcebispo de
Bari, até então um administrador da chancelaria do Papa em Avingnon.
Prigano, que tomou o título de Urbano VI era uma figura consensual e
prometia a paz no seio da Igreja Católica.
No entanto, o novo papa não respondeu às expectativas e depressa se
mostrou instável, colérico e pouco dado a diplomacia. Os principais
cardeais retiraram-se da capital no verão, supostamente para fugir ao
calor, e começaram a conspirar sob a proteção da Rainha Joana I de
Nápoles. Treze cardeais declararam nula a eleição de Urbano VI. A 20 de
Setembro foi reunido novo conclave e elegeu-se Roberto de Geneva
para substituir Urbano VI, com a corte pontificial em Avignon. Roberto
tomou o nome de Clemente VII (ficou conhecido como Antipapa
Clemente VII) e restabeleceu a sede da Igreja de novo em Avinhão. O
cisma foi assim concretizado e resultou, em primeira instância, em
acusações recíprocas de heresia e excomunhões mútuas.
37

Ao contrário de Urbano VI, Clemente VII era um diplomata e soube


chamar a si o apoio de várias casas reais e personagens da Igreja,
nomeadamente França, Aragão, os Ducados da Borgonha e Ducado de
Sabóia, o Reino de Nápoles e Escócia. Pelo seu lado, Urbano VI contava
com Inglaterra, Sacro Império, norte de Itália e o apoio de Catarina de
Siena. O conflito depressa deixou de ser um assunto da Igreja para se
tornar num incidente diplomático à escala do continente europeu, como
se deixa adivinhar pela lista de apoios a ambas as facções.
Os anos passaram sem que fosse encontrada uma pouco procurada
solução para o conflito. Bonifácio IX sucedeu a Urbano VI e Benedito XIII
a Clemente VII. Mas nem dentro do papado em Avinhão havia consenso
e Benedito XIII acabou por ver o seu pontificado ameaçado por
Alexandre V, sucedido pelo Antipapa João XXIII. Este cisma dentro do
cisma resultou na existência de três papas ao mesmo tempo no
princípio do século XV. A instabilidade política resultante desta situação
inédita acabou por forçar a resolução do conflito.
O Concílio de Constança foi iniciado em 1414 para resolver a questão do
cisma do Ocidente e logo se tornou numa arena de luta política. Depois
de acesa discussão, que incluiu interferência e ameaças dos poderes
seculares, o Concílio recomendou a abdicação dos três papas e a
eleição de um único novo papa de consenso geral. O Papa Gregório XII,
de Roma, acedeu e resignou, mas os antipapas de Avinhão foram
depostos. Finalmente, a 11 de Novembro de 1417, a assembleia do
concílio elegeu Martinho V, pondo fim ao cisma.

Os papas do cisma
• Em Roma
o Papa Urbano VI (r. 1378 - 1389)
o Papa Bonifácio IX (r. 1389 - 1404)
o Papa Inocêncio VII (r. 1404 - 1406)
o Papa Gregório XII (r. 1406 - 1417)
• Em Avingnon
o Antipapa Clemente VII (r. 1378 - 1394)
o Antipapa Benedito XIII (r. 1394 - 1417)
• Em Pisa
o Antipapa Alexandre V (r. 1409 - 1410)
o Antipapa João XXIII (r. 1410 - 1417)

O APARECIMENTO DOS JESUÍTAS

A resposta de Roma à Secessão Luterana foi a INQUISIÇAO, sob a


liderança dos JESUITAS, ordem fundada por Inácio de Loiola (1491-
1556) espanhola, sob o princípio de absoluta e incondicional
OBEDIÊNCIA ao papa, tendo como objetivo a recuperação de territórios
38

perdidos para os protestantes e maometanos, e a conquista de todo o


mundo pagão para a Igreja Católica Romana. Seu alvo supremo era a
destruição da heresia (isto é, pensar algo diferente do que o papa dizia
pensar); para a consecução de que tudo era justificável: a fraude, a
imoralidade, o vício, até o assassinato. O moto deles era: “para maior
glória de Deus”. Seus métodos: escolas, procurando, especialmente,
alcançar os filhos das classes governantes, com o fito de, em todos os
educandários, assenhorear-se dos alunos de modo absoluto; ouvir em
confissão especialmente reis, príncipes e autoridades civis,
satisfazendo-os em toda espécie de vício e crime, com o fim de ganhar-
lhes as boas graças; força, persuadindo as autoridades a executar as
sentenças da Inquisição.
Na França, foram eles os responsáveis pelo massacre da noite de
São Bartolomeu8, pelas guerras de religião, pela perseguição aos
huguenotes9, pela revogação do edito de tolerância de Nantes, e pela
Revolução Francesa. Na Espanha, Países Baixos, Sul da Alemanha,
Boêmia, Áustria, Polônia e outros países, comandaram o massacre de
incontáveis multidões. Com estes métodos, sustaram a Reforma no Sul
da Europa, e virtualmente, salvaram da ruína o papado.

O MAOMETISMO (ISLAMISMO)

Maomé (Muhammed), nasceu em Meca, Arábia, no ano 570 d.C.


Maomé foi durante a primeira parte da sua vida um mercador que
realizou extensas viagens no contexto do seu trabalho. Quando moço,
visitou a Síria, entrou em contato com cristãos e judeus, encheu-se de
horror pela idolatria. Em 610 declarou-se profeta; foi repelido por Meca;
em 622 fugiu para Medina; aí foi recebido; tornou-se guerreiro e
começou a propagar a sua fé pela espada; em 630 tornou a entrar em
Meca à frente de um exército, destruiu 360 ídolos e ficou entusiasmado
com a destruição dessa idolatria. Quando Maomé morreu em 632 ele
era profeta e governador reconhecido por toda a Arábia. Seus
sucessores chamaram-se “Califas”.
Sua religião é conhecida como islamismo “submissão” isto é,
obediência a vontade de Deus; os seguidores de Maomé chamam-se
muçulmanos, pois eles mesmos jamais usam o nome “maometanos”
que lhes foi dado por outros povos.

Rápido Crescimento. Em 634 a Síria foi vencida; em 637,


Jerusalém; em 638, o Egito; em 640, a Pérsia; 689, o norte da África; em
711, a Espanha. Assim, dentro de pouco tempo toda a Ásia Ocidental e
o norte da África, berço do cristianismo, tornaram-se muçulmanos.
Maomé surgiu num tempo em que a Igreja se paganizara com o culto de
imagens, relíquias, mártires, santos e anjos; os deuses da Grécia

8
Nesta noite foram mortos em torno de 20.000 huguenotes.
9
Huguenote: nome dado aos protestantes na França
39

haviam sido substituídos pelas imagens de Maria e dos santos. Em certo


sentido, o Maometismo foi uma revolta contra a idolatria do “Mundo
Cristão”, castigo de uma Igreja corrupta e degenerada. Em si mesmo,
porém, foi um flagelo pior para as nações por ele vencidas. E uma
religião de ódio; foi propagada pela espada; incentivou a escravatura, a
poligamia e a degradação da mulher.

Batalha de Tours, na França, 732 d.C., uma das batalhas que


decidiram a sorte do mundo. Carlos Martelo derrotou o exército islamita
e salvou a Europa do Maometismo que varria o mundo qual enxurrada.
Não fosse essa vitória, o cristianismo teria ficado completamente
submerso.

Os árabes dominaram o mundo muçulmano de 622 a 1058. A


capital mudou-se para Damasco (661); para Bagdá em 750, onde
permaneceu até 1258.

Os turcos dominam o mundo maometano de 1058 até hoje. Foram


muito mais intolerantes e cruéis do que os árabes. O tratamento
bárbaro que infligiram aos cristãos na Palestina deu lugar às Cruzadas.

Os mongóis, do centro da Ásia, detiveram o domínio turco. Sob


Gengis Kan (1206-1227), que, à testa de vastos exércitos, atravessou
a ferro e a fogo grande parte da Ásia; 50.000 cidades e vilas foram
incendiadas; 5.000.000 de pessoas foram massacradas; na Ásia Menor
630.000 cristãos foram chacinados; a Ásia nunca se recuperou; foi “o
mais terrível flagelo que já afligiu a raça humana”. Sob Tamerlão,
1336-1402, um furacão semelhante por toda parte foi deixando campos
talados, vilas incendiadas e sangue. A porta de cada cidade seu
costume era fazer pilhas de milhares de cabeças; em Bagdá, 90.000.

A queda de Constantinopla, 1453, para os turcos, foi o fim do


império romano oriental, e fez estremecer a Europa com uma segunda
ameaça de domínio muçulmano, que, mais tarde, foi contido por João
Sobieski, na Batalha de Viena, 1683.

AS CRUZADAS

Um grande movimento da Idade Média, sob a inspiração e mandado


da igreja, foram as Cruzadas, que se iniciaram no fim do século onze.
Consistiam num esforço da cristandade por recuperar a Terra Santa,
tirando-a de sob o domínio dos muçulmanos. Houve sete cruzadas.

1. A Primeira cruzada foi anunciada pelo papa Urbano II no sínodo


de Clermont, em novembro de 1095 e era composta de 275.000
dos melhores guerreiros, para combater os Sarracenos que
40

tinham invadido Jerusalém. Após grande batalha Jerusalém foi


reconquistada.

2. A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos


Sarracenos às províncias adjacentes ao reino de Jerusalém. Sob a
influência de Luiz VII da França e Conrado III da Alemanha, um
grande exército foi conduzido em socorro dos lugares reconhecido
como santos. Enfrentara grandes dificuldades, mas obtiveram
vitória.

3. A Terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I “Coração de Leão”,


da Inglaterra e outros como; Frederico Barbarroxa, e Filipe
Augusto. Barbarroxa morrera afogado e Filipe desentendeu-se
com Ricardo I e voltou para França. A coragem de Ricardo I,
sozinho, não foi suficiente para conduzir seu exército para
Jerusalém. Contudo fez um acordo para que os cristãos tivessem
direito a visitar o santo sepulcro.

4. - A Quarta Cruzada foi um completo fracasso, porque causou


grande prejuízo a igreja cristã. Os cruzados, se afastaram do
propósito de conquistar a Terra Santa e fizeram guerra a
Constantinopla, conquistaram-na e saquearam-na. Constantinopla
ficou, posteriormente, a mercê dos inimigos.

5. - Na Quinta Cruzada, Frederico II, conduziu um exército até a


Palestina e conseguiu um tratado no qual as cidades de
Jerusalém, Haifa, Belém e Nazaré, eram cedidas aos cristãos.
Porém 16 anos depois a cidade de Jerusalém foi tomada pelos
maometanos.

6. - A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz. Invadiu a


Palestina através do Egito, mas não obteve êxito, foi derrotado
pelos maometanos e libertado por uma grande soma.

7. - A Sétima Cruzada teve também a direção de São Luiz


juntamente com Eduardo I. A rota escolhida foi novamente a
África, porém São Luiz morreu e Eduardo I voltou para ocupar o
trono na Inglaterra e a cruzada teve um fracasso total.

Esta foi considerada a última Cruzada. Houve ainda cruzadas de


menor importância, porém nenhuma dela merece menção especial.
Em verdade, a partir do ano de 1270 qualquer guerra realizada em
favor da igreja era considerada cruzada, ainda mesmo que tais
guerras fossem contra os “hereges” em países cristãos.
As cruzadas fracassaram no propósito de libertar a Terra Santa do
domínio dos maometanos.
A causa maior e mais profunda do fracasso foi, sem dúvida, a falta de
um estadista entre os chefes das Cruzadas. Nenhum deles possuía
41

visão ampla e transcendente. O que eles desejavam era obter


resultados imediatos. Não compreendiam que para fundar e manter
um reino na Palestina, a milhares de quilômetros de distância de
seus países, eram necessárias comunicações constantes com a
Europa Ocidental, e bem assim uma base de provisões e reforço
contínuo.
Contudo, apesar do fracasso em manter um reino cristão na
Palestina, ainda assim a Europa obteve alguns bons resultados das
cruzadas. É que depois cessadas as expedições, os peregrinos
cristãos eram protegidos pelo governo Turco.
As Cruzadas também deram um grande impulso ao comércio. A
procura de mercadorias de todas as espécies tais como, armas,
provisões e navios aumentou a indústria e o comércio.

“O SANTO IMPÉRIO ROMANO”


Estabelecido assim por Carlos Magno e Leão III, declarando, Roma,
independente de Constantinopla e restabelecendo o Império Ocidental
com soberanos germânicos no trono, que usavam o título de “César”,
conferido pelos papas, acreditou-se que isso era a continuação do
Império Romano. Este império deveria estar sob a direção conjunta dos
papas e dos imperadores germânicos, estes gerindo os negócios
temporais, e aqueles os espirituais. Mas, considerando que a Igreja era
uma instituição do Estado, nem sempre foi fácil delimitar a respectiva
jurisdição, daí resultando muitas lutas amargas entre os imperadores e
os papas. O Santo Império Romano, “mais um nome do que um fato
consumado”, durou mil anos, e foi liquidado por Napoleão, 1806. Serviu
ao fim a que se propusera, combinando as civilizações romana e
germânica. “Nesse Império entrou tudo quanto fora do mundo antigo; dele
emergiu o mundo moderno” —Bryce.

Estêvão IV, 816-7.


Pascoal I, 817-24.
Eugênio II, 824-7.
Valentino, 827.
Gregório IV, 827-44.
Sérgio II, 844-7.
Leão IV, 847-55.
Bento III, 855-8.

Estas histórias do papado foram aqui incluídas para servir de


pano de fundo à Reforma, na persuasão de que devemos familiarizar-
nos com os motivos do movimento protestante e com os fundamentos
históricos de nossa fé reformada. Alguns fatos aí mencionados parecem
inacreditáveis. Afigura-se inconcebível que homens tomassem a religião
42

de Cristo e dela fizessem uma inescrupulosa máquina política para a


conquista do poder mundial. Entretanto, todas as declarações feitas
aqui podem ser verificadas, consultando-se qualquer História
Eclesiástica completa.

PRECURSORES DA REFORMA

Pedro Abelardo, (1079 — 1142, 63 anos). Como filósofo e teólogo,


foi o pensador mais ousado da Idade Média. Pode ser considerado o
fundador da Universidade de Paris, que foi a mãe das Universidades
Européias. A fama de Abelardo como professor atraiu milhares de
estudantes de todas as partes da Europa, influenciou muitos com seus
pensamentos. Suas especulações e opiniões independentes o colocaram
sob a expulsão da igreja. Deixou a vida monástica por causa de Eloisa,
casaram-se mas foram obrigados a separar-se e a entrar para
conventos. Abelardo morreu no posto de abade, e Eloisa quando era
abadessa.

Petrobrussianos, (1110). Fundados por Pedro de Bruys, discípulo


de Abelardo, na França; rejeitavam a missa, sustentavam que a
comunhão era um memorial, e que os ministros deviam casar-se.

Arnaldo de Bréscia, (1155), discípulo de Abelardo, pregava que a


Igreja não devia ter propriedades; que o governo civil pertencia ao
povo; que Roma devia ser liberta do domínio do papa. Foi enforcado, a
pedido do Papa Adriano IV.

Albigenses, ou Cártaros. No sul da França, norte da Espanha e da


Itália. Pregavam contra as imoralidades do clero, contra as
peregrinações, o culto dos santos e imagens; rejeitavam
completamente o clero e sua pretensões; criticavam as condições da
Igreja; opunham-se às pretensões da Igreja de Roma; faziam largo uso
das Escrituras; viviam abnegadamente e eram muito zelosos da pureza
moral. Em 1167, constituíam, talvez, a maioria da população do sul da
França; em 1200, eram muito numerosos no norte da Itália. Em 1208, o
Papa Inocêncio III ordenou uma cruzada; seguiu-se uma guerra
sangrenta; dificilmente houve outra igual na História; cidade após
cidade foi passada ao fio da espada; massacraram o povo, sem poupar
idade nem sexo; em 1229, foi estabelecida a Inquisição e dentro de cem
anos os albigenses foram, completamente, desarraigados.

Valdenses. (1176). Sul da França e norte da Itália. Pareciam-se


com os albigenses, mas não eram os mesmos. Valdo, rico negociante de
43

Lyon, ao Sul da França, deu suas propriedades aos pobres e saiu a


pregar; opunha-se à usurpação e ao desregramento do clero; negava, a
este, o direito exclusivo de pregar o Evangelho; rejeitava missas,
orações pelos mortos e o purgatório; ensinava que a Bíblia era a única
regra de fé e de conduta. Sua pregação despertou, no povo, grande
desejo de ler a Bíblia. Foram sendo reprimidos, aos poucos, pela
Inquisição, exceto nos Vales Alpinos, a sudoeste de Turim, onde, ainda
hoje, existem. São eles a única seita medieval que sobreviveu, tendo
para contar uma história de heróica resistência sob perseguições. São
hoje a principal denominação protestante da Itália.

John Wycliffe. (1324-1384, 60 anos). Iniciou um movimento na


Inglaterra a favor da libertação do domínio do poder romano e da
reforma da igreja. Educou-se na Universidade de Oxford, onde alcançou
o lugar de doutor em teologia e chefe do conselho que dirigia aquela
instituição. Pregava contra a dominação espiritual do clero e a
autoridade do papa; opunha-se à existência de papas, cardeais,
patriarcas e frades; atacou a transubstanciação e a confissão auricular.
Defendeu o direito, que o povo tinha, de ler a Bíblia. Traduziu esta para
o inglês. Seus adeptos chamaram-se Lolardos.

João Huss. (1369-1415, 46 anos). Reitor da Universidade de Praga,


Boêmia. Foi um estudante de Wyclif, cujos escritos haviam penetrado
nesse país . Tornou-se pregador destemido; atacava os vícios do clero e
as corrupções da Igreja; com veemência arrebatada, condenava a
venda de indulgências; rejeitava o purgatório, o culto dos santos e o uso
de uma língua estrangeira na liturgia; exaltava as Escrituras acima dos
dogmas e ordenanças da Igreja. Foi queimado vivo, e seus adeptos,
grande parte da população boêmia, quase que foram extirpados por
uma cruzada ordenada pelo papa.

Savanarola. (1452-1498, 46 anos). Em Florença, Itália. Pregava


como um dos profetas hebreus, a vastas multidões que enchiam sua
catedral, contra a sensualidade e o pecado da cidade, e contra os vícios
do papa. A cidade penitenciou-se e se reformou. Mas o Papa Alexandre
VI procurou, de todos os modos, silenciar o virtuoso pregador; tentou
até suborná-lo com o chapéu cardinalício; mas em vão. Foi enforcado e
queimado na grande praça de Florença, 19 anos antes das 95 Teses de
Lutero.

Os anabatistas, que apareceram através da Idade Média, em


vários países europeus, sob diferentes nomes, em grupos
independentes, representavam uma variedade de doutrinas, mas, de
ordinário, eram, fortemente anticlericais; rejeitavam o batismo de
crianças, dedicavam-se às Escrituras, e pugnavam pela absoluta
separação entre a Igreja e o Estado. Muito numerosos na Alemanha,
Holanda e Suíça ao tempo da Reforma, perpetuavam idéias recebidas
44

de gerações anteriores. Em regra, era um povo calmo e genuinamente


piedoso, mas foram rudemente perseguidos, especialmente nos Países
Baixos.

A Renascença, ou Reavivamento da Cultura, resultado em


parte das cruzadas, da pressão dos turcos e da queda de
Constantinopla, ajudou o movimento da Reforma. Surgiu uma paixão
pelos clássicos antigos. Vastas somas foram gastas no colecionamento
de manuscritos e na fundação de bibliotecas. Exatamente nesse tempo,
a invenção da imprensa veio a ser um arauto e aliado da Reforma que
se aproximava. Essa descoberta foi realizada por Gutemberg por volta
do ano 1450-1455, em Mogúncia, no Reno, e consistia em imprimir
livros com tipos móveis, fazendo-os circular, facilmente aos milhares.
Antes de se inventar a imprensa os livros eram copiados a mão. Seguiu-
se uma abundância de dicionários, gramáticas, versões e comentários.
Estudavam-se as Escrituras nas línguas originais. “Um conhecimento
novo das fontes da doutrina cristã revelou a grande diferença que havia
entre a singeleza nativa do Evangelho e a estrutura eclesiástica que se
dizia fundada sobre ele.” “A REFORMA VEIO A REALIZAR-SE DEVIDO
AO CONTATO DA MENTE HUMANA COM AS ESCRITURAS”, e o
resultado foi que a mente humana se emancipou da autoridade clerical
e papal.

Erasmo de Rotterdam, 1466-1536, 70 anos, homem de


vastíssima cultura e autor muito popular da Reforma. Sua grande
ambição foi libertar os homens de idéias falsas a respeito de religião; e
achou que o melhor meio para isso era voltarem eles às Escrituras. A
edição que fez do Novo Testamento Grego forneceu aos tradutores um
texto acurado com que pudessem trabalhar. Crítico implacável da Igreja
Romana deleitava-se, especialmente, em ridicularizar os “homens
profanos de ordens sacras”. Ajudou muita a Reforma, mas nunca aderiu
a ela por discordar de Lutero quanto a questão do livre-arbítrio..

Condições. Havia um descontentamento geral com a corrupção da


igreja e do clero. O povo inquietava-se com as crueldades da Inquisição.
As autoridades civis ficaram cansadas com a ingerência do papa nos
negócios do governo. A Europa Ocidental irritava-se com o sistema
eclesiástico que a mantinha escravizada.
Enquanto o espírito de reforma e de independência despertava a
Europa, a chama desse movimento começou a arder primeiramente na
Alemanha, no eleitorado da Saxônia, sob a direção de Martinho Lutero,
monge e professor da Universidade de Wittemberg.

O estopim para a Reforma.


45

A faísca veio em 1517, ocasião em que por ordem do papa reinante


Leão X a campanha das indulgências para a terminar a basílica de São
Pedro em Roma estava a todo vapor. Tetzel, um padre dominicano,
percorreu a Alemanha vendendo bulas, assinadas pelo papa, as quais
dizia, possuíam a virtude de conceder perdão de todos os pecados, não
só aos possuidores da bula, mas também aos amigos, mortos ou vivos,
em cujo nome fossem as bulas compradas, sem necessidade de
confissão, nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel dizia ao povo: “Tão
depressa o vosso dinheiro caia no cofre, a alma de vossos amigos subirá
do purgatório ao céu”.
Diante disso, Lutero resolveu protestar. Fixou suas 95 teses
condenando o uso das indulgências. A resposta do papa Leão X veio na
bula Exsurge Domine, ameaçando Lutero de excomunhão. Mas já era
tarde demais, pois as teses de Lutero já haviam sido distribuídas por
toda a Alemanha. Lutero então foi chamado a comparecer à dieta de
Worms para se retratar, ao que respondeu que não iria, pois não abriria
mão de nada do que dissera. Na dieta de Spira, em 1529, os cristãos
reformistas foram pela primeira vez apelidados de “protestantes”,
devido ao protesto que os príncipes alemães fizeram ante o
autoritarismo do catolicismo.

A data exata fixada pelos historiadores como início da


grande Reforma foi registrada como 31 de outubro de 1517.
46

ANEXO I

O Edito de Milão – março de 313

Lactâncio, De mort. Persec. XLVIII

Nós, Constantino e Licínio, Imperadores, encontramo-nos em


Milão para conferenciar a respeito do bem e da segurança do império,
decidimos que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto
divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos
justo que todos, cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto
e a religião de sua preferência. Desta forma o Deus, que mora no céu,
ser-nos-á propício a nós e a todos os nossos súditos. Decretamos,
portanto, que, não obstante a existência de instruções anteriores
relativas aos cristãos, aos que optarem pela religião de Cristo estão
autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho, e que ninguém
absolutamente os impeça ou moleste. Observai, outrossim, que também
todos os demais terão garantida a livre e irrestrita prática de suas
respectivas religiões, pois, está de acordo com a estrutura estatal e com
a paz vigente que asseguramos a cada cidadão a liberdade de culto,
segundo sua consciência e eleição. Não pretendemos negar a honra
devida a qualquer religião e a seus adeptos. Outrossim, com referência
aos cristãos, ampliando normas já estabelecidas sobre os lugares de
seus cultos, é-nos grato ordenar, pela presente, que todos que
compraram esses locais os restituam aos cristão sem qualquer
pretensão a pagamento.
Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a
favor dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para se
possibilitar a realização de nosso propósito de instaurar a tranqüilidade
pública. Assim continue o favor divino, já experimentado em
empreendimentos momentosíssimos, outorgando-nos o sucesso,
garantia do bem comum.

Fonte: BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã, p. 49


47

ANEXO II

CREDO APOSTÓLICO

Dir-se-á o Credo Apostólico: Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador


do céu e da terra. E em Jesus Cristo. Seu único Filho nosso Senhor. O
qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu
sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno,
no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e está sentado à
direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e
mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja católica (universal) na
comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da
carne e na vida eterna. Amém.
Note-se que a palavra católica não deve ser confundida com a igreja
romana.

Comentário:
Apesar de receber o nome de Apostólico, não temos nenhuma
evidência de que foi escrito pelos próprios apóstolos ou por alguns
deles. O título "Credo Apostólico" foi usado pela primeira vez em 390,
no Sínodo de Milão. Em 404, Tirano Rufino escreveu um comentário do
credo, contando a história de sua provável origem (de que no dia de
Pentecostes os apóstolos, antes de cumprir a ordem de ir aos confins da
terra, teriam se reunido e cada um contribuído com alguma parte do
credo). Há evidência, no entanto, de que um credo muito semelhante a
este já era usado no ano 150.
A verdade, talvez, nunca se saberá. Entretanto, ninguém de sã
consciência negará que esse credo reproduz autenticamente o ensino
dos apóstolos, fundamentado nas verdades das Escrituras (1 Co 8.6;
12.13; Fp 2.5-11; 1 Tm 2.4-6; 1 Tm 3.16).

Fonte: icp.com.br e http://www.ielb.org.br/cremos/credos.htm


48

ANEXO III

1- Fariseus

Os fariseus formavam um grupo ativo, numeroso e influente na


Palestina desde o século II a.C.. O termo Fariseu provavelmente
significa, em hebreu, separado e se refere à observância rígida das leis
e tradições por parte dos membros do grupo (Lc. 18:10-12). Seus líderes
eram chamados de rabinos ou professores, tal como Gamaliel, já que se
dedicavam a estudar e comentar as escrituras (Atos 5:34; 22:3).

Os Fariseus aderiram e defendiam a observância rígida do sábado


sagrado, dos rituais de pureza, do dízimo, das restrições alimentares,
baseando-se nas Escrituras hebraicas e em tradições orais mais
recentes (Mc. 7:1-13; Mt. 15:1-20). Se opunham à romanização e à
helenização. Seus maiores rivais políticos e religiosos foram, durante
muito tempo, os Saduceus, principalmente devido a postura pró-roma
deste grupo. Esta rivalidade, contudo, não os impedia de unirem-se em
alguns momentos em que os objetivos faziam-se comuns.

Em sua maioria, os fariseus eram leigos, ainda que entre eles fossem
encontrados alguns levitas e membros do Sinédrio (Atos 5:34).
Consideravam-se sucessores de Esdras e dos primeiros escribas. Eram
os freqüentadores das sinagogas e buscavam divulgar a interpretação
da Lei escrita e oral.

Em contraste com os Saduceus (Mc. 12:18-27), os Fariseus acreditavam


na ressurreição dos mortos, no livre arbítrio do homem, na onipresença
de Deus, no papel da Lei como um freio para os impulsos negativos dos
homens (Atos 23:1-8). Os Evangelhos os retratam como os principais
oponentes de Jesus (Mc. 8:11; 10:2) e que teriam conspirado junto com
os herodianos para matá-lo (Mc. 3:6). Por outro lado, Jesus dirige
algumas críticas severas contra a hipocrisia e cegueira do Fariseus (Mt.
23; Jo. 9). Contudo, em termos teológicos, cristãos e fariseus
concordavam em alguns aspectos, o que explica o grande número de
fariseus que acabaram por tornar-se cristãos (Atos 15:5). Paulo, antes
de converter-se ao cristianismo, era um fariseu (Fil. 3:5; Atos 23:6;
26:5).

Mesmo após a Guerra Judaica, os fariseus permaneceram ativos. Como,


dentre as seitas de então, não foi eliminado, passou a dirigir o Judaísmo
e a rivalizar com os cristãos.
49

2- Saduceus

Os saduceus formavam outro grupo proeminente de judeus na Palestina


entre os séculos II a.C. ao I d.C. . Não se sabe ao certo a origem da
palavra Saduceus. Alguns crêem que vem do hebreu saddiqim, que
significa íntegro ou derivado de Zadok, nome do mais importante
sacerdote durante o reinado de Davi (1 Reis 1:26). Organizaram-se no
período da dinastia asmonéia, momento de prosperidade política e
econômica. Eles eram um grupo formado pela elite, principalmente
proveniente das famílias da alta hierarquia sacerdotal. Provavelmente
era menor, mas mais influente que os Fariseus. Sua influência, porém,
era sentida sobretudo entre os grupos governantes ricos.

Seguiam somente as leis escritas, presentes na Bíblia hebraica (a


Torah), e rejeitavam as tradições mais novas. não acreditavam em vida
depois de morte (Mc. 12:18-27; C. 20:27); em anjos ou espíritos (Atos
23:8) ena Providência Divina. Eram altamente ritualistas e só aceitavam
os cultos realizados no Templo onde, acreditavam, Deus estava.
Possuíam um papel preponderante no Sinédrio e controlavam as
atividades e riquezas do Templo (Atos 4:1; 5:17; 23:6).

Rejeitaram os ensinos do Fariseus, especialmente as tradições orais e


as tradições mais novas. Além dos fariseus, rivalizavam com os
Herodianos, porém, eram simpáticos à romanização e à helenização. Os
Evangelhos os retratam freqüentemente junto com o Fariseus como
oponentes de Jesus (Mt. 16:1-12; Mc. 18:12-27). Com a destruição do
templo e a efetivo domínio romano, esta seita acabou por desaparecer.

3- Essênios

Os essênios formavam um grupo minoritário que estava organizado


como uma comunidade monástica em Qumram, área localizada perto
do Mar Morto, desde o século II a.C. até o século I d.C, quando em 68
foram eliminados pelos romanos durante a Guerra Judaica. Alguns
crêem que o nome essênios deriva do grego hosios, santo, ou isos,
igual, ou ainda do hebraico hasidim, piedoso. Ou seja, não há consenso.
Sua origem pode estar associada à era macabéia, quando um grupo,
liderado por um sacerdote, teria fundado a comunidade. Eles rejeitaram
a validez da adoração de Templo, e assim recusavam-se a assistir os
festivais ou apoiar o Templo de Jerusalém. Eles consideraram os
sacerdotes de Jerusalém ilegítimos, desde que não fossem Zadokites, ou
seja, descentes de Zadok, dos quais eles próprios se viam como
descendentes.

Eles viviam em regime comunitário com exigências rígidas, regras, e


rituais. Provavelmente também praticavam o celibato. Esperaram que
Deus enviasse um grande profeta e dois Messias diferentes, um rei e
50

um sacerdote. O objetivo dos essênios era manterem-se puros e


observar a lei. Praticavam um culto espiritualizado e sem sacrifícios e
possuíam uma teologia de caráter escatológico. Dentre os ritos
observados, estava a prática do batismo por imersão periódico, como
forma de purificação. Eles interpretavam a Lei de forma literal e
produziram diversos textos que foram considerados, posteriormente,
apócrifos, como a Regra da Comunidade.

Os essênios não são mencionados no Novo Testamento. Contudo,


alguns estudiosos pensam que João Batista e o próprio Jesus estavam
associados a este grupo, mas uma conexão direta é improvável.

4- Herodianos

Os herodianos formaram a facção que apoiou a política e o governo da


família dos Herodianos, especialmente durante o reinado de Herodes
Antipas, que governou a Galiléia e Peréia durante as vidas de João
Batista e de Jesus.
No Novo Testamento são mencionados só duas vezes em Marcos e uma
vez em Mateus. Em Marcos 3:6, como já assinalamos, eles conspiram
com os Fariseus para matar Jesus, quando este iniciava o seu ministério
na Galiléia. Em Marcos 12:13-17 e Mateus 22:16 eles figuram,
novamente unidos a alguns Fariseus, tentando apanhar Jesus com uma
pergunta sobre o pagamento de impostos ao César. Alguns autores
acreditam que as referências neotestamentárias aos amigos e
funcionários do tribunal de Herodes também estão relacionadas aos
herodianos (Mc. 6:21, 26; Mt. 14:1-12; 23:7-12). Esta seita desapareceu
com o efetivo domínio romano na região palestina.

5- Zelotes

Os zelotes eram um grupo religioso com marcado caráter militarista e


revolucionário que se organizou no I século d.C. opondo-se a ocupação
romana de Israel. Também foram conhecidos como sicários, devido ao
punhal que levavam escondido e com o qual atacavam aos inimigos.

Seus adeptos provinham das camadas mais pobres da sociedade. À


princípio, foram confundidos com ladrões. Atuaram primeiro na Galiléia,
mas durante a Guerra Judaica tiveram um papel ativo na Judéia.

Os zelotes se recusavam a reconhecer o domínio romano. Respeitavam


o Templo e a Lei. Opunham-se ao helenismo. Professavam um
messianismo radical e só acreditavam em um governo teocrático,
ocupado por judeus. Viam na luta armada o único caminho para
enfrentar aos inimigos e acelerar a instauração do Reino de Deus.

Um de discípulos de Jesus é chamado de Simão, o Zelote em Lucas 6:15


e Atos 1:13. Alguns autores apontam que ele poderia ter pertencido a
51

um grupo revolucionário antes de se unir a Jesus, mas o sentido mais


provável era de “zeloso” na sua acepção mais antiga.

6- Outros grupos

Além dos grupos político-religiosos aqui representados, não podemos


deixar de mencionar os outros segmentos que participavam do cenário
religiosos judaico no I século: os levitas, como vimos no estudo anterior,
que formavam o clero do Templo de Jerusalém e que eram os
responsáveis pelos sacrifícios e pelos cultos; os escribas, hábeis
conhecedores e comentadores da Lei; os movimentos batistas, seitas
populares que mantinham as práticas de batismo de João Batista,
dentre outros.

Quando Jesus Cristo iniciou sua pregação foi visto como mais um dentre
os diversos grupos que já possuíam interpretações próprias da lei.
Contudo, a mensagem de Cristo mostrou-se revolucionária, chegando a
formar uma nova religião. Jesus soube colocar o homem acima da Lei e
das tradições e proclamou que qualquer mudança só poderia se iniciar a
partir do coração do homem que, pela fé em seu sacrifício salvador, era
restaurado.
52

BIBLIOGRAFIA

HURLBUT, JESSE LYMAN - HISTÓRIA DA IGREJA CRISTA, 11ª edição.


São Paulo / SP, Editora Vida, 1999, 15 - 138 págs.

CAIRNS, EARLE E. - O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS, 2ª


edição.
São Paulo / SP, Edições Vida Nova, 2001, - 494 págs.

LEITE FILHO, TÁCITO DA GAMA – HISTÓRIA DA IGREJA, 1ª edição.


Goiânia / GO, Gráfica e Editora Renascer Ltda, 2002, 191
págs.

LEITE FILHO, TÁCITO DA GAMA – GEOGRAFIA BÍBLICA, 1ª edição.


Goiânia / GO, kerygma Gráfica e Editora Ltda, 2002, 134
págs.

HALLEY, H.H. — MANUAL BÍBLICO, 4ª edição. São Paulo / SP,


Edições Vida Nova, 1994, 670 — 698 págs.

FOX, JOHN – O LIVRO DOS MÁRTIRES, 8ª edição.


Rio de Janeiro / RJ, Casa Publicadora das Assembléias de
Deus, 2005, 449 págs.

JOSEFO, FLÁVIO – HISTÓRIA DOS HEBREUS, 5ª edição.


Rio de Janeiro / RJ, Casa Publicadora das Assembléias de
Deus, 1999, 782 págs.

AAVV. — AS CRUZADAS, Lisboa / Portugal, Editora Pergaminho, 2001,

You might also like