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É razoável que assim seja, quando se tem em conta que consagrado o Estado
Democrático de Direito como o modelo mais disseminado de organização das
sociedades ocidentais; expandem-se as fronteiras de interesse e investigação em relação
aos fundamentos do agir do poder, que é de se apresentar orientado ao atingimento dos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, traduzidos no art. 3º da
Constituição Federal. Introduz-se então a idéia de governança, que se contrapõe à
concepção anterior de que as instituições públicas se identifiquem como meramente
detentoras do monopólio da constrição legítima, para introduzir a percepção de que de
outras organizações humanas, de outros atores, se possa construir um consenso cidadão
para, através da regulação econômica e social, alcançar o bem comum[2].
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complexa é a ação do Estado; é presumível que também mais herméticos sejam os
elementos de que ele, Estado, se vale para orientar esse seu agir. Nesse sentido, é
imperativo que não se permita o comprometimento da transparência em nome da
tecnocracia, ou pior ainda, do paternalismo, contido nas velhas fórmulas que sustentam
que há temas que jamais serão alcançados, na sua complexidade, pelo cidadão ordinário.
Inteligibilidade da informação há de envolver engenho e arte em enunciar minimamente
as variáveis que estão a determinar o agir da Administração de forma compreensível à
cidadania – sem prejuízo do acesso às informações técnicas, na plenitude de sua
dificuldade, àqueles que detenham a expertise necessária à sua compreensão direta.
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ele possa manter com outras decisões administrativas anteriores. Afinal, uma escolha
pública isoladamente considerada pode se reputar inadequada, insuficiente ou
inoportuna – ao passo que, vista nas suas relações matriciais com outras, ela se tem por
justificável e legítima.
A verdade é que o terreno é novo – e como tudo aquilo que é pouco conhecido,
desperta estranhamento e negativa. A função administrativa, até bem pouco tempo se
exercia sob o signa da imperatividade, por uma estrutura de poder que, prepotente, se
arvorava como a única conhecedora do que pudesse traduzir o interesse público.
Transitar desse cenário, para a governança pautada pela transparência, é incorporar uma
dimensão democrática nova, que não contém limites objetivos à sua observância, mas
que confia no direcionamento através da vasta pauta de princípios que a Constituição
enunciou, princípios esses cuja aplicação guardará sempre as necessárias relações de
acomodação e ponderação.
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Importante destacar que o terreno, por excelência, para o desenvolvimento e
aprendizado da prática da transparência instrumental ao bom governo, é justamente o
das administrações locais – como de resto já o indica o expressivo elenco de
experiências concretas experimentadas em municípios de todo o país[7]. É natural que
assim o seja, vez que é no plano local que se conjuga a proximidade, seja da sociedade
para com as autoridades e instituições do poder, seja com o problema em si ao qual se
endereça a ação pública. É essa proximidade – e portanto, conhecimento, ou ao menos,
ambiente que favoreça a aproximação cognitiva – que favorecerá o desenvolvimento de
uma prática transparente que congregue os elementos que já se explanou nesse trabalho.
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[5] VALLE, Vanice Lírio do. Dever constitucional de enunciação de políticas públicas e
autovinculação: caminhos possíveis de controle jurisdicional. Fórum Administrativo – Direito
Público – FA. Belo Horizonte, ano 7, nº 82, dez. 2007, p. 7-19.
[6] RODRÍGUEZ-ARANA, Jaime. El derecho fundamental al buen gobierno y a la buena
administración de instituciones públicas. Texto de la intervención del autor en el seminario que
sobre el derecho a la buena administración pública organizó en Avila los días 19 y 20 de marzo
de 2007 la Escuela de Administración Pública de Castilla-León. Disponível em <http://
www.ciberjure.com.pe/index.php?option=com_content&task=view&id=2232&Itemid=9> ,
última consulta em 10 de fevereiro de 2008.
[7] O terreno das decisões e da gestão financeira das administrações municipais em verdade se
constituiu celeiro do desenvolvimento de prática transparente, como a construção do orçamento
participativo, e a instituição de outras esferas de análise e controle.
VALLE, Vanice Lírio do. Transparência e Governança: novas vertentes legitimadoras do agir do
poder. Direito Administrativo em Debate. Rio de Janeiro, abril, 2010. Disponível na internet:
<http://direitoadministrativoemdebate.wordpress.com> Acesso em : xx de xxxxxxxxxx de xxxx.