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Novo Testamento

O Período interbíblico – 2008


Anésio Rodrigues

Introdução

O Período Interbíblico

Período de aproximadamente quatrocentos anos, entre os profetas Malaquias (cujo


livro é o último do cânon do Velho Testamento) e João Batista.

Do Velho testamento ao Novo testamento


Quando o Velho Testamento termina, encontramos os judeus de volta do exílio,
reconstruindo o templo e Jerusalém; não vemos ali nenhuma menção a Roma, ou a
termos tão comuns no Novo Testamento como fariseus, saduceus, zelotes e outros.

Foi nesse Período que se formou diversos conceitos religiosos da época de Jesus.
Vamos ver também como a cultura foi alterada, além da moeda, economia e forma de
governo.

Tudo isso influencia em muito o entendimento do Novo Testamento.

O “Período interbíblico”

Situação Política

 Império Assírio – Rei Ezequias


 Império Assírio é derrotado pela Babilônia – Jeremias
 Cativeiro Babilônico 70 anos – Daniel, Ezequiel

 Império Persa - Saída do cativeiro – Zorobabel (Esdras)


 Reconstrução de Jerusalém e do Templo – Neemias, Ageu, Zacarias
 Nova decadência espiritual – Malaquias

Império Grego
Alexandre, o grande
A helenização do oriente médio
 Ptolomeus (Egito)
 Selêucidas (Síria)

Independência – Período dos Macabeus – Antioco Epifânio e a profanação do Templo.

Império Romano
 Organizado
 Coeso
 Táticas de guerra

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 Acordos políticos

Causas para um período como este:

No final do Velho Testamento, vemos um povo se distanciando de Deus novamente.

A glória de Deus se vai quando...

1. ...Quando não damos o nosso melhor para Deus

Malaquias 1:8-12

2. ... Quando deixamos de ouvir e honrar a Deus

Malaquias 2:1,2

3. ... Quando somos infiéis

Malaquias 2:11-14

Malaquias 3:8-12

Outra causa que gerou um tempo difícil como este foi:

Ausência da palavra profética


Esta é a característica mais marcante do chamado período interbíblico. Foi um tempo
de silêncio profético.

Lucas 3:1,2
“veio a palavra de Deus a João... no deserto”

Algo que não acontecia há quatrocentos anos!


Deus até usou um símbolo perfeito para ilustrar aquele tempo: DESERTO
Ficaram nesse deserto, por falta de Oração e Intercessão.

Marcas do período interbíblico em Judá


(Resultados diretos da falta de intercessão na vida do povo.)

 Dependência política de potências opressoras estrangeiras


 Situação de extrema exploração econômica
 Tensões sociais: tentativas de suprimir os costumes judaicos, acomodando-os a
outras culturas, etc.
 Religiosidade: foi nesse período que se desenvolveram todas as seitas presentes
na vida religiosa judaica durante o Novo Testamento: os fariseus, os saduceus,
os essênios, os zelotes. Todos os livros conhecidos como “apócrifos”, os quais
fazem parte do Velho Testamento nas Bíblias de edição católico romana, e que
não foram inspirados por Deus, foram escritos nesse período de ausência da
palavra profética. As características mais marcantes do judaísmo, como
sobrevive até nossos dias, foram geradas nessa época.

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RELIGIOSIDADE
A Revolta dos Macabeus
As Sinagogas
As Seitas
 Fariseus
 Saduceus
 Essênios

Fariseus: A palavra significa “separados”.

Os fariseus desenvolveram-se após a revolta dos Macebeus, como um


desenvolvimento dos judeus hasidim, que se opuseram ferozmente à helenização da
Palestina.
Extremamente legalista, era a mais numerosa seita do judaísmo à época do Novo
Testamento. Procuravam seguir escrupulosamente, de um ponto de vista literal, tanto
as leis mosaicas como os preceitos rabínicos. Esse desejo levou-os a constituir um
amplo quadro de normas e proibições que ultrapassava, em muito, o rigor natural da
lei mosaica.
 Um fariseu não poderia comer na casa de um “pecador” (alguém que não
praticasse o farisaísmo); poderia, contudo, convidar um pecador para comer
em sua casa, desde que fornecesse roupas ao sujeito, a fim de que suas vestes
não lhe contaminassem a casa.
 Em dia de sábado, não se podia cuspir no chão (isso levantaria poeira, o que
seria como arar o chão e, portanto, constituía trabalho),
 nem olhar num espelho (no caso das mulheres, para não serem tentadas a
arrancar um fio de cabelo branco, o que seria trabalho);
 alguns rabinos proibiam o comer um ovo que fosse posto num dia de sábado.

Esse legalismo extremo e mecânico, todavia, produziu nos fariseus a maquinação de


evasivas que se prestavam às suas necessidades. Por exemplo:
 Se a casa de um fariseu pegasse fogo num sábado ele não poderia retirar suas
roupas para fora, carregando-as; mas poderia vesti-las, peça sobre peça.
 A distância lícita para um fariseu caminhar no sábado, a partir de sua casa, era
de aproximadamente um quilômetro; se ele percebesse que teria que andar
mais do que isso num sábado, poderia deixar provisões para dois dias em
determinado lugar, e isso constituiria aquele lugar numa extensão de sua casa;
ele poderia, portanto, andar até ali e, a partir dali, mais um quilômetro!

Nesse tipo de religiosidade cheia de artificialismo é que encontramos a raiz das críticas
que o próprio Senhor, tantas vezes, fez aos fariseus (veja, por exemplo, Mt 23:4).

Saduceus: Eram os herdeiros da dinastia hasmoneana, e tinham prestígio porque


controlavam o sacerdócio e o Sinédrio (que era uma espécie de Senado judaico).

Mantinham acordos com os dominadores estrangeiros, sendo extremamente abertos à


helenização. Contrapondo-se frontalmente aos fariseus, defendiam uma teologia que
poderia ser chamada de “liberal”:
 reconheciam autoridade apenas aos livros de Moisés,
 negavam a existência de anjos ou espíritos,
 não acreditavam na imortalidade da alma e negavam a idéia de ressurreição do
corpo (veja Mt 22:23-33).

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Os saduceus eram um partido elitista, e conseqüentemente pouco numeroso; após a
destruição de Jerusalém e do Templo, em 70 d.C., foram exterminados, enquanto os
fariseus sobreviveram e se tornaram a espinha dorsal do judaísmo até nossos dias.

Essênios: Uma seita pequena, com no máximo quatro mil adeptos.

Sua origem, como a dos fariseus, está entre os hasidim do período intertestamentário.
Viviam em comunidades monásticas, como aquela cujas ruínas ainda existem
próximas a Cumrã, nas imediações do Mar Morto, onde foram encontrados os famosos
Rolos.
A admissão a essa seita seguia-se a um período aproximado de três anos, em que o
noviço era posto à prova após doar todos os seus bens à comunidade.

Os membros mais extremos proibiam o casamento, e o legalismo dessa seita


ultrapassava o dos fariseus (esta é uma das razões pelas quais dificilmente Jesus
poderia ter sofrido alguma influência essênia, como foi moda alegar no passado; se ele
foi severo contra o legalismo dos fariseus, o seria ainda mais contra o dos essênios).

Consideravam o templo de Jerusalém corrupto por causa de seu sacerdócio, e em


razão disso não ofereciam sacrifícios ali (outro ponto de discordância com o ensino de
Jesus; veja, por exemplo, João 2:13-17).

Os essênios viam a si próprios como os remanescentes dos eleitos (daí, provavelmente,


o destaque que davam ao livro de Isaías, que menciona com freqüência um
“remanescente” e foi justamente o livro cuja cópia foi encontrada completa e melhor
conservada, dentre os manuscritos do Mar Morto), e esperavam o surgimento de
diversas figuras escatológicas: um grande profeta, um messias político-militar e um
messias sacerdotal.

Os Partidos Políticos
 Zelotes
 Herodianos
 O Sinédrio (o “senado” judaico)
 Os Escribas

(O “povão” não se relacionava com nenhum deles)

Os zelotes: eram revolucionários dedicados ao projeto de derrubar o poderio romano


sobre a Palestina.

Recusavam-se a pagar tributos a Roma, consideravam a lealdade a César um pecado e


foram os iniciadores de diversas revoltas, inclusive a rebelião que culminou com a
destruição de Jerusalém, em 70 d.C.

Um ramo extremista dos zelotes era o dos chamados sicários (“assassinos”), que
costumavam levar consigo adagas escondidas.

Um dos doze discípulos de Jesus fora um zelote (veja Lc 6:15 e At 1:13).

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Os herodianos: uma pequena minoria de judeus influentes, pertencentes em geral à
aristocracia sacerdotal, que apoiavam a dinastia dos Herodes e, conseqüentemente, os
romanos que colocaram Herodes no poder.

Se a preocupação dos zelotes era pela eliminação do poderio romano, os herodianos


estavam no extremo oposto do espectro político, lutando pela manutenção, a todo
custo, do “status quo”.

O Sinédrio: também referido no Novo Testamento por expressões como


 “concílio”,
 “principais sacerdotes, anciãos e escribas”,
 “principais sacerdotes e autoridades”
 ou simplesmente “autoridades”,

O Sinédrio era uma espécie de “senado” judaico, sem poder executório capital (ao
julgarem Jesus, dependeram do poder romano para executá-lO), mas que tinha a
permissão romana para lidar com assuntos religiosos e algumas questões domésticas.

Composto por setenta juizes, representantes dos fariseus e dos saduceus, era presidido
pelo sumo sacerdote e reunia-se diariamente, exceto sábados e outros dias
santificados.

Chegava a comandar uma força policial (foi essa milícia que foi ao Getsêmani a fim de
prender a Jesus, veja Mt 26:47; Mc 14:43;Lc 22:52; Jo 18:3).

Os escribas
Não eram nem uma seita, nem um partido, mas na realidade um grupo de
“profissionais” treinados na interpretação da lei e das tradições rabínicas.

Expressões como
 “doutor”,
 “mestre da lei”
 “rabi” (palavra hebraica que significa “meu grande”, com o sentido de “meu
mestre”) são sinônimos para indicar a mesma classe de pessoas.

Com sua origem nos dias de Esdras, os escribas tinham a responsabilidade de


interpretar a lei, aplicando-a ao dia-a-dia das pessoas. Em razão do extremado
legalismo que se apegara à fé judaica, e das muitas tradições dos anciãos que foram se
sobrepondo à lei mosaica, essa tarefa era bastante árdua e requeria um treinamento
específico.

Cada escriba tinha seus discípulos, que o seguiam por toda parte, aprendendo de
memória os preceitos e explicações, à medida que iam sendo ensinados. A fim de
obter seu treinamento teológico, os aspirantes a escriba deviam vincular-se a um rabi,
e o fazê-lo a um rabi proeminente poderia determinar a carreira futura do novo escriba
(Paulo, por exemplo, menciona como algo “digno de nota”, nas circunstâncias do seu
discurso, o fato de ter aprendido “aos pés” de Gamaliel, veja At 22:3).

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Como os escribas não eram remunerados pelo seu trabalho, geralmente aprendiam e
desenvolviam, paralelamente, alguma profissão (foi assim que Paulo, por exemplo,
alcançou experiência como fabricante de tendas; veja At 18:3).

Jesus foi chamado de “rabi”, ainda que não tenha recebido a educação teológica
formal que os escribas recebiam; seu ensino, contudo, era muitas vezes vazado numa
forma mnemônica (ou seja, fácil de memorizar), servindo-se de estruturas rítmicas,
declarações concisas e parábolas vívidas. Em contraste com os escribas, todavia, o
ensino de Jesus era cheio de autoridade, enquanto o daqueles consistia na mera
citação de outras autoridades já falecidas.

Nos dias de Jesus, a maior parte dos escribas pertencia à seita dos fariseus.

O “povo da terra”
É curioso perceber que, entre os judeus palestinos, as massas populares ficavam
geralmente desvinculadas das seitas e dos partidos políticos.

Por caracterizarem-se pela ignorância da lei e por uma certa indiferença para com ela
e para com as disposições rabínicas, eram desprezadas pelos fariseus (veja Jo 7:49).

Constituía-se das populações simples, que sofriam em maior medida a dominação


estrangeira e, também, as desigualdades internas.

Os
O s livros apócrifos do Velho Testamento
Como observamos acima, a ausência da palavra profética nesse tempo foi a causa da
aridez e religiosidade que passaram a caracterizar a vida do povo de Deus. Nesse
contexto foi que surgiram os chamados livros apócrifos (palavra grega que significa
“aquilo que está oculto”, e que passou, na história, a designar escritos falsos e de
procedência dúbia). Existem muitos escritos apócrifos, relacionados tanto ao Velho
como ao Novo Testamento; uma parte deles, todavia, foi aceita pela Igreja Católica
Romana, que os conhece como “deuterocanônicos” (ou “que foram considerados
canônicos posteriormente”, livros cuja autenticidade foi em algum momento discutida
pela igreja; na realidade, livros do Novo Testamento já foram conhecidos como tais,
como é o caso de Tiago, Hebreus e Apocalipse), distinguindo-os dos “protocanônicos”
(ou “canônicos desde o início”, livros cuja autenticidade sempre foi unanimemente
aceita pela igreja).

Podemos classificar os apócrifos aceitos na versão católica romana da Bíblia, pelo seu
gênero literário:

a) história: alguns desses livros possuem caráter histórico, podendo inclusive ser
consultados como fontes de referência para o período que abordam. É o caso de
1 Macabeus, que narra os acontecimentos principais da história de Judá entre 175
e 135 a.C., com uma ênfase especial na luta pela libertação do domínio sírio,
encabeçada por Matatias e seus filhos Judas, Jônatas e Simão. Escrito, talvez, entre
135 e 106 a.C., foi composto originalmente em hebraico e traduzido quase que
imediatamente para o grego. Já 2 Macabeus, escrito bem depois, tem um estilo
bastante inferior do ponto de vista histórico, além de sustentar ensinos
desconhecidos do restante do Velho Testamento, como a validade da oração pelos
mortos (veja 2 Mb 12:42-46) e a prática da intercessão dos santos já mortos em
favor dos vivos (veja 2 Mb 15:12-14);

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2 Macabeus 12: 42-46
42 Pusera-se em oração para pedir que o pecado cometido fosse completamente
cancelado.
E o nobre Judas exortou a multidão a se conservar isenta de pecado, tendo com os
propósitos olhos visto o que acontecera por causa do pecado dos que haviam
tombado.
43 Depois, tendo organizado uma coleta individual, enviou a Jerusalém cerca de duas
mil dracmas de prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado:
agiu assim absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição.
44 De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos.
45 Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que
adormecem na piedade, então era santo e piedoso seu modo de pensar.
Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a
fim de que fossem absolvidos do seu pecado

2 Macabeus 15: 12-14


12 Ora, este foi o espetáculo que lhe coube apreciar:
Onias, que tinha sido sumo sacerdote, homem honesto e bom, modesto no trato e de
caráter manso, expressando-se convenientemente no falar,
e desde a infância exercitado em todas as práticas da virtude, estava com as mãos
estendidas, intercedendo por toda a comunidade dos judeus.
13 Apareceu a seguir, da mesma forma, um homem notável pelos cabelos brancos e
pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima a superioridade que circundava.
14 Tomando então a palavra, disse Onias: “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que
muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”.

b) narrativa: Tobias, ambientado no cativeiro assírio das dez tribos do norte, mas que
apresenta um ambiente místico totalmente desconhecido da época; Judite, também
ambientado nessa época, mas que revela uma clara influência do farisaísmo;
acréscimos a Ester, que vão de Ester 10:4 a 16:24 e foram incluídos por volta de
114 a.C.; acréscimos a Daniel, que foram introduzidos por Jerônimo em sua
tradução (Vulgata), tomados não do hebraico mas da edição feita por Teodócio.
Esses acréscimos estão em Daniel 3:24-90 e 13:1-14:42.

c) profecia: há apenas um livro nesta categoria, o de Baruque, que pretende ter sido
escrito após a queda de Jerusalém mas que, segundo alguns estudiosos, pode ter
surgido somente entre 75 e 80 d.C. Neste caso, sua referência à destruição de
Jerusalém por Nabucodonosor seria apenas uma referência velada à destruição
praticada pelos romanos no ano 70 de nossa era. Seu estilo procura imitar o do
profeta Jeremias, mas o faz de modo pálido.

d) sabedoria: nesta categoria encontram-se os mais conhecidos dentre os apócrifos


aceitos pelos católicos romanos. Escrito por volta de 180 a.C., o Eclesiástico adota
um estilo bastante semelhante ao de Provérbios; foi composto em hebraico, e tem
alto valor do ponto de vista literário. No entanto, apresenta fortes influências da
filosofia panteísta grega. O livro conhecido como Sabedoria de Salomão não foi
composto por Salomão, mas escrito diretamente em grego, entre os anos de 150 e
130 a.C. Seu estilo é esmerado e seu conteúdo, no geral, é um forte libelo contra a

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penetração de filosofias estranhas (principalmente o epicurismo) no ambiente
judaico.

Tais livros defendem ensinos estranhos ao testemunho completo das Escrituras, e


manifestam em sua composição, eventualmente, influências alheias aos ensinos da
Palavra.

Além disso, o consenso dos rabinos judeus sempre foi contrário à sua canonicidade,
sendo seguidos nisso por parte expressiva dos chamados “pais da Igreja” (autoridades
dos primeiros séculos) e também pela totalidade dos reformadores a partir do século
XVI.

Se alguém questiona esse posicionamento, basta uma leitura desses textos para
verificar como se distanciam da clareza e simplicidade das Escrituras canônicas.

O uso correto de tais livros:

Eles podem ser considerados como livros auxiliares, como literatura da época.

Podemos encontrar algumas referências deles no Novo Testamento, por exemplo:

 Judas 14 – I Enoque 6:8, 1:9


 Efésios 6:13-17 – Sabedoria 5:17-20

Além disso, encontramos outras citações, cujas referências são desconhecidas:


Lucas 11:49 e Atos 20;35 (Documento Q – a ser explicado na aula sobre o evangelho
de Lucas)

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