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RESUMO
Devido aos diversos acidentes que ocorrem dentro da indústria da construção civil surgiu a
necessidade da implantação de programas de prevenção. No Brasil destaca-se o PCMAT (Programa de
Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção) exigido pela NR18 e na Europa,
o Plano de Segurança e Saúde na Construção. O primeiro tem como objetivo básico garantir a saúde e
a integridade dos trabalhadores pela prevenção dos riscos que derivam do processo de execução de
obras. Já o plano de segurança e de saúde na construção introduz uma nova metodologia de abordagem
da segurança e saúde centrada na figura do dono da obra e no conceito de coordenação de saúde e
segurança. Porém, mesmo com a implantação destes programas os índices de acidentes continuam
elevados. Nesse contexto, este artigo apresenta um novo modelo de PCMAT baseado no plano de
segurança e saúde na construção denominado de Plano Europeu neste artigo. Este novo modelo foi
elaborado com o objetivo de auxiliar as empresas que baseiam a segurança e saúde dos seus
trabalhadores no simples cumprimento das normas regulamentadoras, que atualmente deixam a desejar
em diversos itens, inclusive no PCMAT, a diminuírem a ocorrência de acidentes do trabalho e doenças
profissionais em seus canteiros de obra.
Palavras-chave: Segurança no Trabalho, PCMAT, Plano Europeu.
1 INTRODUÇÃO
A construção civil desempenha um papel importante na economia local, uma vez que através dos seus
investimentos, há geração de empregos, otimização das construções e contribuição para o
desenvolvimento. Entretanto, a indústria da construção carrega outra marca: a dos acidentes do
trabalho (Costella, 1999). Isto ocorre, principalmente, devido às características desta atividade, como
manuseio de materiais pesados e cortantes, trabalhos em alturas e diversos riscos que acarretam
inúmeros acidentes ou lesões. Mediante tal situação, tornou-se necessário pensar em alternativas
eficazes para o seu enfrentamento, dentre elas a implantação de programas de prevenção.
Os programas de prevenção são de suma importância para a indústria da construção civil, pois
determinam ações e atividades que proporcionam o bom desempenho da obra e a neutralização dos
riscos. No caso brasileiro destaca-se o PCMAT exigido pela NR18 (Brasil, 2002). No entanto, sabe-se
que muitos empreendimentos no Brasil aplicam os programas de prevenção apenas para estarem em
conformidade com a legislação obrigatória. Porém, estas leis apresentam requisitos mínimos para a
eliminação dos acidentes, mesmo que as empresas apliquem o programa na sua totalidade ainda
apresentarão riscos de acidentes de trabalho. Percebe-se, que o PCMAT não é utilizado como um
sistema de segurança na maioria das empresas, mas somente é confeccionado para não receber multa
do Ministério do Trabalho, isto devido as grandes deficiências que se apresenta desde a sua elaboração
até a sua implantação. Dentre essas deficiências Saurin (2002) destaca a:
• falta de participação dos trabalhadores da obra na hora da concepção do programa fazendo
com que não ocorra a continuidade do mesmo;
• falta de integração do programa com as atividades rotineiras, tornando-o uma atividade extra
para os coordenadores do empreendimento;
• falta de atualização do mesmo no decorrer da obra, ou quando novos processos construídos
são adotados ou mesmo quando novos riscos são detectados;
• eliminação dos riscos desde a hora da criação do projeto.
De acordo com estes fatores torna-se necessário encontrar as deficiências no planejamento e na
implementação deste programa além de indicar aperfeiçoamentos no seu controle de segurança.
Alguns estudos (Culver, 1993; Costella, 1999) que têm investigado as causas e medidas preventivas de
acidentes reforçam a necessidade de melhoria na prática de planejamento. Assim, este artigo faz
considerações para melhorias no PCMAT, baseado em características do Plano Europeu.
8
Plataformas secundárias
7
4
Plataforma principal 3
0 Nível do terreno
Plataforma terciária -1
Nível da escavação
-2
Figura 1 – Projeto das plataformas de proteção
A memória descritiva é o documento que contém os dados da obra e as necessidades de segurança para
a sua execução, assim como a análise dos riscos provocados pela materialização das premissas
contidas no projeto da obra (Quadro 1). Habitualmente ele contém uma descrição dos riscos nas
diversas etapas da obra e as suas respectivas medidas preventivas, as quais são detalhadas no decorrer
do PCMAT.
As proteções coletivas são ações, equipamentos ou elementos que servem de barreira entre o perigo e
os operários. Numa visão ampla, são todas as medidas de segurança tomadas numa obra para proteger
uma ou mais pessoas. As proteções coletivas são classificadas em três grupos:
Proteções coletivas incorporadas aos equipamentos e máquinas (proteções de transmissões de
força, partes móveis, interruptores em gruas, etc.);
Proteções coletivas incorporadas à obra (pré-fabricadas, realizadas nas áreas de apoio à obra e
a própria da obra);
Proteções coletivas específicas, opcionais ou para determinados trabalhos (utilização de
sistema de comunicação – walk-talk, fechamento total de fachadas, etc.).
O primeiro grupo não deveria ser objeto de estudo no PCMAT, pois todos os dispositivos de proteção
de uma máquina ou equipamento devem conter e precisa ser exigida pela empresa compradora, pois
existe legislação para isso, como por exemplo, uma coifa protetora para a serra circular.
Quadro 1 – Riscos x medidas preventivas para o trabalho na serra circular
Já o segundo e o terceiro tipo de proteções são aquelas exigidas pela NR18 e que normalmente são
construídas na própria obra, como as plataformas de proteção (Figura 1) e os guarda-corpos e rodapé
(Figura 2).
1.20
0.70
0.20
Os equipamentos de proteção individual, preconizados pela NR6, devem ser descritos no PCMAT,
indicando a sua necessidade conforme a atividade e ou profissão do trabalhador conforme a Figura 3.
O cronograma de implantação das medidas é importante como forma de acompanhar o que foi
planejado em relação ao que está sendo efetivamente feito, ainda mais quando a percepção geral é de
que os atuais PCMAT são apenas documentos de gaveta, feitos somente para atender a fiscalização da
DRT, porém nunca são implementados. È imprescindível que o cronograma esteja integrado com o
cronograma físico-financeiro.
O layout do canteiro, ferramenta gerencial de apoio à produção e à segurança, é uma planta baixa
esquemática na qual é definida a localização dos equipamentos, os estoques de materiais, as
instalações provisórias e de apoio e as áreas de fluxo de materiais e de circulação de pessoas.
Finalmente o programa educativo pode ser estendido à empresa e consiste na sistemática educação dos
funcionários para a segurança no trabalho. Normalmente consiste em palestras, teatros e ou dinâmicas
de grupo realizadas a prazos definidos no PCMAT.
Capacete e calçado
Cinto de segurança
limitador de espaço
Cinto de segurança
Capa impermeável
tipo pára-quedista
Luva de borracha
Protetor auricular
Avental de raspa
Luva de raspa
de segurança
Luva de látex
ativado
Função
Administração &
Armador (&) & (&) &
Carpinteiro & (&) & (&)
Eletricista & (&)
Encanador & (&)
Equipe (concretagem) & & (&) & (&) (&)
Operador - serra circular & & & & &
Operador - betoneira & (&) (&) &
Operador - guincho & (&) &
Operador - policorte & & & &
Pedreiro & (&) (&) & (&)
Pintor & (&) (&)
Servente em geral OS MESMOS DA EQUIPE DE TRABALHO
Legenda: & Uso obrigatório (&) Quando necessário
Programa Educativo
Treinamento
Equipamentos de Proteção
Individual Básicos
Memorial Descritivo
Equipamento de Proteção
Coletiva
Equipamentos de Proteção
Individual Específicos
Cronograma de implantação
das medidas preventivas
Após a elaboração do memorial, com a definição dos riscos e as formas de prevenção necessárias, será
aplicado o projeto de proteção coletiva que irá definir o tipo de proteção coletiva a serem utilizadas e
quando devem ser implantadas, de acordo com as etapas de execução da obra, analisando no projeto
de canteiro de obra. Respeitando todas as especificações técnicas, incluindo a de materiais que serão
confrontadas, quando necessário pelo Agente da Inspeção do trabalho. Junto à proteção coletiva será
entregue aos funcionários os equipamentos de proteção individual, ou seja, os equipamentos de acordo
com o risco que o funcionário esteja sujeito.
E, por fim, depois de ter encontrado todos os riscos e a forma de prevenção será planejado a maneira
de colocar em prática essas medidas de acordo com a necessidade da obra, estipulando etapas e
prazos, que se materializa no cronograma de implantação de medidas preventivas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança do trabalho é um elemento muito importante para o desenvolvimento da indústria da
construção civil, entretanto ela é freqüentemente negligenciada. O principal motivo para esta situação
é a falta de conscientização de sua real importância por parte de muitos responsáveis pelo
gerenciamento das obras. Outro fator que impulsiona o debate sobre segurança do trabalho é o alto
índice de acidentes, especialmente na construção civil. Salienta-se que tais acidentes geram prejuízos à
integridade física do trabalhador, tanto para suas atividades laborais quanto para a sua vida fora do
ambiente de trabalho e também implica em diversas obrigações para as empresas.
Através de estudos percebe-se que a melhor maneira de enfrentar essa problemática é a prevenção dos
riscos que existem nos processos da construção. Deve-se, então, dar maior atenção para o projeto e
planejamento das formas de prevenção, visto que as decisões nestas etapas são fundamentais para o
seu sucesso.
E, é na busca da prevenção de acidentes que cresce a tendência de adoção de medidas de cunho
gerencial, ao invés de medida de caráter apenas tecnológico. Deve-se considerar, ainda, que estas
medidas possuem a vantagem de serem, na maioria das vezes, mais eficazes e simples do que aquelas
tomadas apenas como forma de remediar um problema ocorrido.
Para tanto, tem-se na prevenção dos riscos a alternativa mais efetiva no combate aos acidentes de
trabalho na construção civil. Destaca-se o PCMAT, no Brasil desenvolvido a partir de 1995 e o Plano
Europeu publicado em 1996. Analisando comparativamente o programa e o Plano pode-se perceber
que o Plano apresenta-se mais minucioso com diversas características positivas que irão contribuir
para o melhoramento do programa.
Assim o novo modelo de PCMAT contempla medidas de caráter gerencial e apresenta uma
padronização na sua forma de implantação. O mesmo deverá ser aplicado em todas as construções
independente do número de funcionários, porém será elaborado de acordo com as necessidades de
cada uma. Ressalta ainda que a qualificação do profissional é o processo mais eficiente para se mudar
o quadro crítico existente no Brasil, quanto ao número de acidentes do trabalho. Um profissional
realiza seu trabalho com mais eficiência técnica, aumentando, com isto, a produtividade e a qualidade
do produto e melhor aplicando as normas de segurança.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Leis e legislação. Segurança e medicina do trabalho. 51. ed. São Paulo: Atlas,
2002. Série Manuais de Legislação Atlas v. 16.
COSTELLA, M. F. Análise dos acidentes do trabalho e doenças profissionais ocorridos
na atividade de construção civil no Rio Grande do Sul em 1996 e 1997. Porto Alegre,
1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Escola de Engenharia, PPGEC/UFRGS.
CULVER, C. et al. Analysis of construction accidents: the workers' compensation database.
Professional Safety, v. 38, n. 3, p. 22-27, Mar. 1993.
DIAS, L.M. Segurança no trabalho da construção na União Européia. Lisboa: Instituto
Superior Técnico, 2000.
DIAS, L.M.; FONSECA, M.S. Plano de segurança e de saúde na construção. Lisboa:
Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho, 1996.
SAMPAIO, J. C. A. Manual de aplicação da NR 18. São Paulo: PINI, 1998a.
SAMPAIO, J.C.A. PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na
Indústria da Construção. São Paulo: Pini, 1998b.
SAURIN, T. A. Segurança e produção: um modelo para o planejamento e controle
integrado. Porto Alegre, 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção, PPGEP/ UFRGS.