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desenvolvimentistas, veremos que nos últimos 150 anos, os muitos projetos que
tradicionais, para não falar da drástica depopulação que os reduziu a uma fração do que
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Uma versão anterior deste trabalho foi apresentada no Simpósio Globalization in the Amazon:
Exploiting natural resources and the sustainability of the human factor, Universidade de Haifa, Israel, de
26 a 28 de maio de 2010.
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brasileiro iniciou a construção de uma série de linhas telegráficas pelo sertão de Mato
Grosso na tentativa de controlar aquela vasta região que jazia marginal ao domínio do
Estado. Encarregado dos trabalhos, de 1900 a 1915, o jovem Cândido Mariano da Silva
Rondon, futuro herói dos sertões brasileiros (Lima 1995), abriu centenas de quilômetros
de trilhas mata adentro, mapeou o terreno e fez o primeiro contato com dezenas de
floresta ocidental e ficou famoso por ter criado o slogan “morrer se preciso for, matar,
Cuiabá a Santo Antonio do Madeira (mais tarde rebatizado de Porto Velho) coincidiu
contato e consequente dependência de outros tantos povos indígenas. Por sua doutrina
até que, alcançando a maioridade cultural de forma espontânea, optassem por abraçar a
civilização. Ao abrir vastas áreas desconhecidas, sabia-se responsável por expor a vida
desses povos aos azares do contato interétnico, mas estava convencido de que seu
promovidas “não só por pioneiros das indústrias extrativas, como até por exploradores
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Apesar da inclinação humanista de Rondon, suas operações militares pelos sertões
daquela imensa região. No fim de sua longa vida, Rondon reconheceu a falácia de suas
o destino dos índios pacificados. A ironia de tudo isso é que as linhas telegráficas que
1896, fora instalada uma linha subaquática entre Belém e Manaus. Quando Rondon
chegou a Porto Velho, encontrou um telégrafo sem fio em operação entre aquela cidade
e Manaus (Ferreira [1959] 2005: 251). Mesmo assim, persistiu na sua teimosia militar
filme A Ponte do Rio Kuai: não importam os meios, o que conta são os fins.
1907 e 1912 para ligar as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim no que é hoje o
estado de Rondônia. Surgiu das negociações entre o Brasil e a Bolívia sobre a posse de
uma grande área que se tornou mais tarde o estado do Acre. O Tratado de Petrópolis,
assinado em 1903, pôs fim à disputa entre os dois países e imputou ao Brasil a
construção da ferrovia em quatro anos. O objetivo era transportar borracha pelo rio
Amazonas e seus afluentes até o Atlântico. Mais de vinte mil trabalhadores de várias
partes do mundo foram recrutados para construir os 364 quilômetros de via férrea. No
entanto, cerca de dez por cento dessa mão de obra pereceu de doenças tropicais,
principalmente, malária (Ferreira [1959] 2005: 209-301). Nem o Estado brasileiro nem
dos engenheiros afirmando que a ferrovia era inviável. Estes alertavam para o fato de
que o gasto colossal da construção elevaria o preço do frete a um dos mais altos do
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mundo. Além disso, já naquele momento, as exportações de látex não mais justificavam
para chegar ao Pacífico e ao Atlântico via Buenos Aires (Foot Hardman 1988: 137). Em
1972 estava desativada e suas peças vendidas como sucata. A “ferrovia do Diabo”,
como passou a ser chamada, caiu em desuso, reviveu para o turismo em alguns trechos
por um breve período nos anos 1980, depois foi abandonada à ferrugem, até ter
substituída pela rodovia Cuiabá-Porto Velho, aberta no início dos anos 1960 com
chamado Karipuna. Vale a pena assinalar que os membros da Comissão Rondon que
frentes de trabalho da ferrovia e, como estas, sofreram graves surtos de malária e outras
doenças tropicais, além de várias incursões dos índios Nambiquara e Caritiana. Parte
das tropas de Rodon era composta por rebeldes que fugiam de diversas partes do país.
Um dos oficiais da Comissão não lhes poupou críticas. Declarou que o exército
(...) uma corja de vagabundos e indisciplinados que infestavam as fileiras com os seus
1988: 161). Esses eram alguns dos homens encarregados de estabelecer os primeiros
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contatos com os índios. A maioria daquela ‘corja’ “morreu em poucos meses, dispersos
dos mega-projetos militares dos anos 1970. Durante os governos Médici e Geisel, a
surpreendidos pela primeira vez com a chegada em massa de não indígenas trazendo
cercavam.
nada menos que 161 povos indígenas, mais de 90 por cento do total na Amazônia. Os
de dois anos, sua população, estimada em 400 pessoas, ficou reduzida a 79 (Arnt et al
Yanomami afetados pela Perimetral Norte tiveram uma redução populacional de 22 por
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cento nas quatro aldeias mais próximas da construção; três anos depois, mais 50 por
seguintes povos indígenas: nove aldeias Apalaí e várias Kaiapó no estado do Pará; os
quase metade da área que lhes fora reservada pelo governo federal. As aldeias do rio
outras aldeias, outros se alojando nas novas cidades que brotavam na área, como Alto
Polonoroeste que ocupava uma vasta área entre os estados de Mato Grosso e Rondônia.
Planejado nos anos 1970, começou a ser implementado em 1982 com a intenção de
afluía à região. A intenção era abrir e pavimentar uma rede de estradas e intensificar a
agricultura através de um programa de colonização maciça, tudo isso mitigado por uma
ecológica e proteção dos povos indígenas, impostas pelos bancos multilaterais que
financiavam aquela aventura. O resultado, porém, ficou muito aquém dessas promessas
(Price 1989).
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Cerca de 30 povos indígenas ̶ aproximadamente 8.000 pessoas em 58 aldeias ̶
20.000 índios no início do século XX, os Nambiquara ficaram reduzidos a 650 pessoas
em 1980 (Price 1981). Nem dez anos haviam passado desde seu primeiro contato com a
inclemente assolava boa parte do Nordeste e a sua pobreza crônica era tratada como
mera conseqüência do clima impiedoso. Para resolver esse problema de gente sem água,
água. Parte desse projeto de colonização da Amazônia foi a criação das frustradas
naquele momento, a década do milagre deixou em sua esteira muitas vidas indígenas
perdas aos Waimiri-Atroari. Sua população caiu de provavelmente 2.000 no século XIX
para 332 em 1983. A exemplo dos Parakanã, tiveram que enfrentar a destrutiva tríade
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afetou os Parakanã, a de Balbina construída em terras Waimiri-Atroari não passa de um
água. O lago cobriu mais de 2.000 hectares, o equivalente de Tucuruí, mas a usina
77).
e muitas vidas, tanto humanas como não humanas, foram devoradas pela ilusão de
PAC incorre nos mesmos erros, ou piores, que no passado deixaram cicatrizes
O Brasil passa agora por uma fase de grande impulso desenvolvimentista, sendo
hidrelétricas. Muita da atenção dos planejadores do PAC está voltada para o “potencial”
Monte no rio Xingu. Conhecido anteriormente como Kararaô, esse projeto tem sido
alvo de constantes críticas por parte das populações afetadas e por diversos especialistas
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em engenharia de barragens, em meio ambiente, entre outros. Em 1989, os índios
de barragens projetadas para o rio Xingu. O encontro foi chamado Primeira Reunião dos
índia Tuíra quando apertou a lâmina de seu terçado contra a face do homem que viria a
no Xingu. Durante os quase vinte anos seguintes, o governo manteve o projeto, se não
Nesse meio tempo, o projeto foi rebatizado de Belo Monte e suas dimensões
Ambiental (EIA) realizado pela estatal foi severamente criticado por um painel de
água num trecho de 100 km da Volta Grande do Xingu que banha muitas comunidades
e serve duas terras indígenas. O barramento altera a dinâmica sazonal da Volta Grande
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“Painel de Especialistas examina viabilidade de Belo Monte”. ISA: Especial Belo Monte
(http://www.socioambiental.org/esp/bm/esp.asp. Acesso em 19/05/2010).
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Xingu exatamente nos seus pontos mais ricos (a Volta Grande), construir dois canais em
cada seção com 12 quilômetros de comprimento e até 500 metros de largura, mais outro
comprimento com ramificações de até 80 a 100 metros. Essa complexa rede de concreto
ictiofauna. Esse trecho do rio Xingu é formado por uma série de canais, corredeiras e
habitats únicos que terão sua funcionalidade perdida. A vazão reduzida irá provocar a
imprensa, para produzir 11.200 MW dos quais apenas 4.400 são permanentes devido ao
que dizem as fontes oficiais, os índios que vivem na região do Xingu sofrerão
Paraguai! Como está hoje planejada, Belo Monte mudará o fluxo do rio Xingu e seus
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perda de terras e fauna fluvial. Ao contrário do que afirma o EIA, tais consequências
não são meramente indiretas. Elas afetarão seriamente os indígenas. Além disso, a
Monte”. Com tantos problemas técnicos, ambientais e sociais, o projeto inteiro deveria
Segundo Encontro de Povos Indígenas do Xingu, quando foi criada uma nova
organização, o Movimento Xingu Vivo Para Sempre. Sua líder, Antônia Melo, de
Acesso 19/05/2010).
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Antônia Melo critica ainda o governo Lula por utilizar recursos públicos do BNDES
Todos esses problemas se refletiram no tortuoso leilão que envolveu uma série
projeto. Por três vezes, a Justiça Federal de Altamira conseguiu sustar o leilão antes que,
por fim, ele fosse levado a efeito em abril de 2010. Na ocasião, o Presidente Lula
declarou que seria loucura abandonar Belo Monte e assegurou que, se tudo mais
Petróleo externou sua preocupação sobre esse assunto, dizendo que a conta de Belo
Monte não pode ser paga pelo governo se os custos excederem o que foi proposto
inicialmente. Concluiu dizendo: “Não se pode repetir o que ocorreu com a construção
Enquanto isso, o Ministério Público Federal do estado do Pará entrou com nada
menos que 13 processos junto ao Tribunal Federal Regional em Brasília contra o projeto
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Belo Monte. O CIMI também solicitou judicialmente a anulação do leilão e até mesmo
Para piorar ainda mais a questão, sabe-se que a empresa privada vencedora do
leilão, Queiroz Galvão, está envolvida numa série de investigações for transações
Em suma, como outros tantos fiascos no passado, Belo Monte brota como mais
moucos.
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Referências citadas
Arnt, Ricardo, Lúcio Flávio Pinto, Raimundo Pinto e Pedro Martinelli. 1998. Panará. A Volta
Ferreira, Manoel Rodrigues [1959] 2005. A ferrovia do diabo. São Paulo: Melhoramentos.
Foot Hardman, Francisco. 1988. Trem fantasma: A modernidade na selva. São Paulo:
Lima, Antonio Carlos de Souza. 1995. Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade
Price, David. 1981. The Nambiquara. In In the path of the Polonoroeste: Endangered
peoples of western Brazil. Occasional Paper 6, pp. 23-27. Cambridge, Mass: Cultural
Survival.
Price, David. 1989. Before the bulldozer: The Nambiquara Indians & The World Bank.
Ramos, Alcida Rita (ed.). 1979. Yanoama Indians in northern Brazil threatened by
Ramos, Alcida Rita. 1998. Indigenism: Ethnic politics in Brazil. Madison: The University
of Wisconsin Press.
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Schaden, Egon. 1960. O problema indígena. Revista de História 11: 455-460.
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